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Revista OLD Número 22
Junho de 2013
Equipe Editorial
Direção de Arte
Texto e Entrevista
Felipe Abreu e Paula Hayasaki
Felipe Abreu
Camila Martins, Felipe Abreu, Juliana
Biscalquin, Luciana Dal Ri e Tito
Ferradans
Capa
Carolina Arantes
Fotografias
Aisa Araújo, Caio Braga, Carolina
Arantes e Jonas Tucci
Entrevista Email Facebook Twitter Tumblr
Pedro David revista.old@gmail.com
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mês passado foi muito bom para a OLD. Lançamos a edição de aniversário, a mais vista de todos os tempos, com mais de 700.000 visualizações, começamos a campanha da OLD impressa, que está indo muito bem por sinal, com um terço da meta alcançada e preparamos essa bela edição que você está lendo agora.
Conversamos com André Liohn e Pedro David em São Paulo, visitamos a exposição de Armando Prado na Fauna, com a presença do gente finíssima fotógrafo e preparamos nossos tão queridos portfolios e colunas.
Pedro David, aliás, aparece duas vezes nessa edição: em entrevista concedida durante um café da manhã na vila madalena, em seu último dia em São Paulo antes de voltar paras as Minas Gerais e na nossa resenha de livros fotográficos. O trabalho do Pedro é muito marcante, tem uma contemplação bonita, que te transporta à tranquilidade mineira, ao seu jeito específicio de contar histórias. Seu novo livro, Rota Raiz, deve continuar traçando a história de sucesso começada com Paisagem Submersa. Outro personagem marcante, que nos deu uma entrevista na DOC Galeria, também na Vila Madalena, é André Liohn. Um dos fotojornalistas brasileiros mais premiados da atualidade mostra a total consciência do seu trabalho, de suas responsabilidades e de seus objetivos. Foi uma aula de fotografia. O perfil feito pela OLD apresenta um pouco dessa aura, que você também vai poder conferir em um mini doc que será lançado em breve. Nossos portfolios apresentam caminhos sortidos pela fotografia, do jeito que a gente mais gosta! Temos uma imersão fotográfica em uma comunidade ecologista radical na França, experimentação em fotografia analógica, com Lomo, dípticos e muito mais, temos também um trabalho em que a fotógrafa se reconstrói em diversos personagens célebres, como Frida Kahlo e Maria Antonieta. Fechando nossa seleção do mês, a coleção de nus de Jonas Tucci, que explora os limites e as opções estéticas desse tão importante ramo da fotografia
Nossos colunistas continuam suas investigações técnicas e criativas nesta edição da OLD. Tito Ferradans vai investigar o Magic Latern, software que permite novos controles e comandos na linha digital da Canon. É graças a esse software que essas câmera agora filmam em RAW, uma das grandes alegrias do nosso colunista. As meninas do Ágata aproveitaram as férias coletivas na Europa para visitar o espaço expositivo da revista FOAM, na Holanda. Lá encontraram a exposição “Ti” que apresenta retratos dos habitantes da ilha de mesmo nome, que nunca haviam sido fotografados. É com esse dois extremos de tecnologia e de relação com a fotografia que encerramos a nossa vigésima segunda edição.
ROTA RAIZ, DE PEDRO DAVID
Pedro David é fotógrafo, mineiro e está rapidamente escrevendo seu nome na fotografia contemporânea brasileira, em especial por conta de seus livros. Seu 1º trabalho de destaque foi Paisagem Submersa produzido em parceira com os fotógrafos João Castilho e Pedro Motta. Em Maio, Pedro lançou seu terceiro livro, chamado Rota Raiz. O trabalho se debruça sobre a produção do fotógrafo durante 10 anos de viagens ao interior de Minas Gerais, em uma busca para produzir e encontrar as imagens que habitam seu imaginário desde a infância, imagens construídas pelas histórias e pelos presentes de seu pai, que sempre viajava pela região. O livro conta 70 fotografias, desenhos do autor e reproduções de objetos, construindo um diário do imaginário do fotógrafo, que facilmente te levam pelos caminhos que o fotógrafo percorreu. Rota Raiz foi lançado pela
Tempo D’Imagem, em parceria com o Estúdio Madalena, junto com uma pequena exposição do trabalho, em São Paulo.
Disponível nas principais livrarias do país.
Valor médio: R$ 80,00
128 páginas.
ENTRE MORROS, DE CLÁUDIA JAGUARIBE
Entre Morros foi lançado em Setembro do ano passado, pela Cosac Naify, mas, apesar do certo tempo de seu lançamento, ainda merece estar aqui nos nossos destaques. Cláudia Jaguaribe busca em seu trabalho esticar os limites da fotografia o do que entendemos por realidade. Em Entre Morros ela atinge o ápice dessa busca. As fotografias reconstroem a paisagem do Rio de Janeiro, criando novas e inacreditáveis perspectivas, que te levam a um mergulho na imagem, tentando entender sua construção e a sua nova realidade. As fotografias de Cláudia Jaguaribe unem o morro ao asfalto, à praia, ao mar.
O livro, em seu formato bastante vertical, com 34x20cm, apresenta 19 paisagens criadas pelas artista, retratando as tensões e as permanências da topografia do Rio de Janeiro de maneira única e brilhante.
Disponível nas principais livrarias do país.
Valor Médio: R$ 75,00
96 páginas
AS POLAROIDS DE ARMANDO PRADO
a Fauna Galeria recebe a série de 12 imagens do grande produtor de fotografias instantâneas
Armando Prado é um dos grandes entusiastas e produtores de fotografia instantânea do Brasil. Em um momento em que vemos o Impossible Project ainda arriscando, às vezes acertando, às vezes errando, na volta da produção de filmes e câmeras Polaroid, Armando organiza uma retrospectiva dos seus 38 anos de produção fotográfica. A exposição, que está na Fauna Galeria, em São Paulo apresenta 12 imagens em grande formato, 110x110cm, escaneadas e ampliadas impecavelmente.
Coisas como elas são conta com imagens icônicas do fotógrafo, presentes na coleção Pirelli MASP, como Antonio pulando, Bola e Electra e trabalhos inéditos editados pelo próprio fotógrafo, de seu acervo de mais de 2 mil imagens. A exposição, pequena e aconchegante, é um passeio pela estética ímpar da Polaroid, suas cores, formato e composição. Armando soube muito bem construir um caminho leve e interessante pelo seu trabalho, com pouco auxílio de texto, deixando somente o essencial transparecer. O título da exposição, Coisas como elas são, vem de um aforismo de Francis Bacon, que norteou a edição do fotógrafo: “A contemplação das coisas como elas são, sem substituição ou impostura, sem erro ou confusão, é em si uma coisa mais nobre do que uma colheita inteira de invenção”.
Armando Prado estabelece uma relação interessante entre o Daguerreótipo e a Polaroid, que seria sua versão moderna: “desde que a fotografia foi inventada havia o sonho de ver na hora uma imagem positiva direta. A Polaroid proporcionava uma experiência única, pois era um clique certeiro, sem substituição, que não permitia erro, nem manipulação posterior”. Dessa experiência única pode se perceber a grande qualidade do olhar de Armando, que produziu diversas imagens memoráveis com sua famosa SX-70. Armando já foi um dos entrevistados de nossa série de documentários fotográficos e sempre deixou claro seu amor pela Polaroid e sua desconfiança na produção dos novos filmes, que ainda não garantem um resultado duradouro e de qualidade. Assim como ele, muitos fotógrafos esperam a consolidação da produção do Impossible Project, para poder voltar a produzir belos e ágeis instantâneos fotográficos.
Coisas como elas são fica na Fauna Galeria até o dia 29 de Junho, com entrada gratuita, de terça à sábado. A galeria fica na Al. Gabriel Monteiro da Silva, 470, em São Paulo.
Um interlocutor dentro da Guerra
Muitos fotógrafos acreditam que nasceram para a profissão, que produzir fotografias é um chamado. Não é o caso de André Liohn. Nascido em Botucatu, no interior de São Paulo, André não pensava de maneira nenhuma nessa possibilidade enquanto crescia “no lugar onde eu nasci, ninguém poderia sonhar em ser fotógrafo, ninguém poderia sonhar ali em ser praticamente nada. Não era parte do sonho de ninguém ser fotógrafo”. Essa situação pouco favorável moldou o começo da sua vida “a maioria das pessoas com que eu cresci já morreu, por tráfico de drogas, acidentes de carro, sempre mortes violentas” e talvez tenha sido o início do desejo de cobrir e jogar luz sobre conflitos violentos ao redor do mundo.
A sua produção começou por acaso, já na casa do 30 anos. Trabalhando como diretor comercial na Noruega, se viu em um momento ruim em sua vida pessoal e, ao passar por uma loja comprou sua primeira câmera fotográfica e começou a experimentar com a fotografia. Algum tempo depois descobriu que seria pai “ali eu percebi que era a hora de decidir realmente eu que eu seria na
minha vida”. Foi neste momento que André se tornou fotojornalista. Assim, com um filho à caminho André Liohn começou a cobrir conflitos ao redor do mundo. Liohn acredita muito na força da fotografia como ferramenta de elucidação, de apresentar pontos de vista próximos e individuais de um tema tão complexo quanto é uma guerra, especialmente contando com a internet “a fotografia tem um alcance muito maior, pela internet, pela possibilidade de auto gestão e publicação de conteúdo você pode fazer com que as pessoas conheçam um pouco mais daqueles problemas”. Ter uma visão crítica e política é essencial neste tipo de situação, para garantir um diálogo engajado e plural sobre o tema e não só reforçar o óbvio “eu entendi que a fotografia é uma ferramenta, muito séria, de polemizar e transformar uma questão em política. Eu só vou ali porque eu tenho alguma coisa para dizer. Eu quero refletir sobre aquele problema.
E a fotografia serve como uma desculpa e como uma ferramenta para que isso aconteça. Falta envolvimento político do fotógrafo com aquilo que ele está fotografando, acaba virando uma conversa da
André Liohn conta como sua experiência na cobertura de conflitos mudou sua percepção como indivíduo e definiu seu caminho fotográfico.
fotografia per se, se torna uma discussão estética, que a mim não interessa.”
Assim como o fotógrafo Lalo de Almeida, da Folha de S. Paulo, André Lioh também sente a crise criada pelas agências dentro do fotojornalismo “o uso de fotografias de agência está destruindo com todas as possibilidades de um fotógrafo de guerra.” As agências não dão apoio aos fotógrafos, pagam um preço baixo pela sua produção e ainda exigem um número mínimo diário de fotografias. Sendo que, se desse número mínimo, algumas imagens forem rejeitadas, o fotógrafo recebe a menos, agora, se um número maior for aproveitado, ele não receberá a mais. “Temos uma geração de fotógrafos que vai chegar no final da carreira sem nada. Sem previdência, sem seguros, nada.” Os grandes jornais do mundo costumam utilizar fotografias de agência em seus blogs, além da sua produção impressa. Um caso clássico é o Lens Blog, do NY Times. Com isso, um número cada vez maior de imagens é publicado, o que pode levar os fotógrafos a uma falsa noção de interesse dos veículos pelo seu trabalho. “Eles publicam essas imagens porque não pagam praticamente nada. Agora, se você vê sua foto publicada e entra em contato com o jornal para apresentar um projeto de maior fôlego, eles raramente terão interesse, porque isso representa custos e riscos para o jornal”. O fotojornalismo está se tornando cada vez mais instantâneo por conta do largo uso das agências e os fotógrafos e a fotografia em nada ganham com isso. “É uma coisa desonesta, até. Eu sou extremamente contra isso.”Dentro deste novo caminho forçado, André também aposta na produção de histórias mais densas e pessoais, valorizando a técnica e a visão do fotógrafo. “Eu acho que o caminho do fotojornalista sempre foi esse, de buscar histórias próprias, de maior fôlego e interesse e tem que sempre ser assim. Quanto mais o fotógrafo se individualizar, se respeitar como indivíduo e se politizar, mais a gente vai conseguir criar, conseguiremos melhorar até a sociedade como um todo, se não melhorar, pelo
menos mudar.” É um caminho complexo, que luta contra a lógica que o mercado editorial tenta estabelecer há algum tempo, mas que premia os fotógrafos que nele acreditam e premia a fotografia, que ganha trabalhos cada vez mais completos. “A gente sobrevive assim: empurrando um elefante com uma mão e puxando mais um com a outra. Economicamente é super difícil.”André Liohn tem uma visão muito clara sobre o fotojornalismo. Ele entende muito bem sua missão na fotografia e parte disso se deve a um momento marcante na cobertura de um terremoto no Haiti. Uma menina de dois anos estava com a perna semi amputada e recebia cuidados médicos em um hospital improvisado. Seu pai, que a segurava, já tinha duas alianças na mão esquerda, indicando a morte da sua esposa. Ao ver essa cena André não sabia como registrá-la. Ao observar os médicos, percebeu que nenhum estava nervoso ou apressado, mesmo sabendo que um erro poderia tirar a vida daquela criança. Neste momento André teve certeza da sua missão no fotojornalismo “os médicos estavam conversando muito calmamente, ninguém corria, ninguém tinha medo. As pessoas estavam ali trabalhando. Ali eu poderia ser o pior fotógrafo do mundo, mas qualquer foto que eu fizesse daquela criança não conseguiria tirar a vida dela. Mas qualquer erro desses médicos poderia comprometer a vida dela. Então eu, como profissional que decidiu estar ali, não tenho o direito de amarelar. Não é direito meu. Eu estou aqui e tenho que fazer o meu trabalho. Nesse momento eu entendi que a minha fotografia não poderia nunca tirar a vida daquela criança, mas ela poderia tirar a sua dignidade.” É com essa missão que André Liohn cobre os principais conflitos da Terra.
Carolina Arantes Archi-Ecologistes
Camila Arantes é uma fotógrafa brasileira que atualmente vive e trabalha na França. Na OLD ela apresenta seu ensaio
Archi-Ecologistes, produzido durantes uma estada em uma fazenda habitada por ecologistas franceses radicais. As fotos apresentam a vida tranquila e simples deste grupo de pessoas.
Archi-ecologistes apresenta uma comunidade e um meio de vida bastante específicos. Como você conheceu esse grupo?
Eu estava procurando informações para uma outra pauta, também ligada à ecologia, e acabei descobrindo que na França muitas pessoas optaram por este modo de vida. É importante dizer que não são grupos ou coletivos, não ha nenhuma reivindicação política ou social. São indivíduos que tomaram decisões pessoais e que se freqüentam por terem as mesmas ideologias. Moram cada um em sua casa e, ainda que não estejam separados por muros, guardas e segurança, diferenciam ainda seus espaços, pelas árvores, arbustos ou trilhas, o que é uma limitação real e organiza o que poderíamos chamar de “bairro”.
Você ficou imersa na rotina deste grupo para a produção do ensaio? Como foi essa experiência?
Eu fui várias vezes na floresta. Digo “ir na floresta” por que estas pessoas vivem próximo à uma antiga floresta no norte da França. A primeira vez que fui, a pessoa que me conduzia decidiu parar o carro para ver uma árvore que ele dizia ser muito bonita. E realmente era, um velho Carvalho muito bonito. Depois descobri que a pessoa havia feito este desvio para me colocar em contato com a natureza, como que para me « limpar » da minha rapidez, da minha ansiedade urbana. E foi assim. Ver a tal árvore, respirar o ar puro, sentir o barulho dos meus passos nas folhas secas, me permitiu chegar à estas pessoas com mais abertura, com mais calma e mais escuta. E foi por isso que, uma vez lá, nos entendemos bem.
Eu passei quase 10 dias vivendo ali, numa cabana rústica, lavando louça com cinzas, à luz de velas. E mesmo trabalhando bastante, no final destes dez dias eu me senti como se houvesse passado um mês de férias. Tudo era calmo e eu me senti muito bem. Na volta, na estrada, eu olhava a rodovia, o McDonald’s, os carros e a velocidade, tudo me parecia muito agressivo e estranho. Foi uma primeira experiência muito interessante e bonita. Digo primeira, porque esta reportagem esta em curso. Tenho buscado financiamento com instituições e via Kikstarter para poder realizá-la. Acho importante as pessoas saberem e refletirem sobre o assunto.
Após a produção dessas imagens e do conhecimento mais profundo deste pensamento, como você avalia a opção deste grupo? Você acha que é uma opção viável para grandes grupos?
Na verdade eu não senti a necessidade de julgamento. Eu achei, sobretudo, algo muito interessante e me indaguei muitas vezes sobre as razões que levam o indivíduo a sair do conforto da água encanada, quente, do acesso à informação e à produtos, da tecnologia… enfim, do ambiente urbano e de classe média, para viver de modo rústico e rural como se fazia ha 100, 150 anos. Algo nesta sociedade urbana, ultra informada, global e de consumo em que vivemos incomoda à ponto da pessoa optar por se afastar dela.
E eu acho que este algo propulsor é relativo à atual desconexão do ser humano à natureza, tanto no que diz respeito a natureza do meio ambiente, da alimentação, quanto à natureza humana mesmo, a humanidade do individuo em relação ao próximo, a empatia e o tempo que se pode dedicar.
Eu penso que na história em geral os radicalismos serviram para chamar atenção, para sinalizar a mudança que estava latente, à caminho. Talvez o que esteja acontecendo, observando a realidade cotidiana destas pessoas ,seja também o início de uma reinvenção do nosso modo de vida. Não creio que seja possível hoje em dia vivermos todos, ou muitos, num modo de vida ecológico radical. Mas acho que será imprescindível repensarmos a maneira como estamos construindo nossa sociedade. O imediatismo acaba não dando espaço para pensarmos o ser humano enquanto Humanidade, ou seja, pensarmos o legado que deixamos para as gerações futuras, o
que construímos. É como se disséssemos : “se a terra vai acabar, eu, pelo menos, aproveito enquanto estiver vivo”. É um sentimento egoísta, e esta reportagem serve, penso eu, para mostrar que existem pessoas que não estão satisfeitas com esta opção. Imagine se os egípcios, os gregos ou os nossos avós se tivessem pensado como nós?
Como você pensa o processo de edição dentro do conjunto de imagens produzidas? Quais, para você, são os pontos chave desta narrativa?
Eu sofro com a edição das minhas imagens. Acho uma das partes mais difíceis - ainda que também uma das mais bonitas - do trabalho do fotógrafo. Eu penso que a imagem documental não necessita mais ser didática, mas sim passar o sentimento, a sensação do espaço, do tema ou do assunto. Você não precisa mostrar o morto, nem as armas, nem o soldado para falar da Guerra. A ausência também é presença. Tenho observado que o fotojornalismo, ainda que imagem de fatos noticiosos, ou o foto-documentário, está cada vez mais livre, mais embebido da emoção, do criativo e, quase, do abstrato. Me sinto ainda e cada vez mais aprendiz, mas acredito que este é um bom caminho e gostaria de chegar cada vez mais próximo desta liberdade. Nem sempre é possível…Este trabalho ainda esta sendo construído, então é uma pré edição. Mas editei como faço normalmente, buscando imagens que levem à informação, à reflexão e à novas experiências. Sobre os pontos chave, acho que a grande importância narrativa archi-ecologistas é o fato de que no fundo, com ou sem todas as necessidades de consumo do nosso mundo contemporâneo, encontramos a estrutura de valores que nos é importante, à todos nos: o trabalho, a família, a administração da casa e do cotidiano, a afetividade.
Caio Braga Analog Moments
Caio Braga é um fotógrafo paulistano, que apresenta na OLD sua produção analógica. São imagens que apresentam diversas técnicas e opções estéticas. Temos dípticos, múltiplas exposições e muito mais.
Como começou sua relação com a fotografia analógica? Qual o papel dela dentro da sua produção?
Na verdade meu primeiro contato com a fotografia já foi com uma câmera analógica. Desde criança a câmera fotográfica sempre foi um objeto muito presente e acho que a primeira foto que me lembro de ter feito na vida foi com uma Olympus PEN EES-2. Câmera essa que acabei herdando dos meus pais há poucos anos, o que aliás foi um momento muito emocionante. Mas foi em 2002 que eu fiz meu primeiro curso básico de fotografia. Foi complicado na época bancar os gastos com filme, revelação, a compra da primeira câmera, e por conta disso aconteceu um gap enorme até 2010 quando retomei os estudos como autodidata, e mergulhei mais profundamente no assunto. E quanto mais eu estudo, mais percebo que ainda tenho muito que aprender. A fotografia analógica ainda me inspira pela textura única, orgânica, pelas tonalidades, o grão, e me influencia pelo ritmo mais lento de fotografar, pela quantidade mais reduzida de imagens, além do próprio ritual da revelação – ou da espera pela revelação e o contato com o laboratorista – e o pensamento anterior ao clique. Tudo isso acaba ditando meu comportamento na hora de produzir imagens mesmo quando estou trabalhando com a digital. No fundo, acho que esse ainda é o principal papel da fotografia analógica dentro da minha produção.
Seu trabalho conta com uma série de dípticos. Você busca construir nessas duplas sentidos de associação, soma ou contraponto? As imagens são associadas no clique ou na edição?
Essa série de dípticos começou como uma espécie de treino particular para descondicionar o olhar, experimentar filmes que eu ainda não havia experimentado e matar a saudade dos filmes prediletos. Acho que dá pra notar que essa série é bem despretensiosa. O que começou como um simples clicar sem tanta preocupação com composições clássicas – e até com uma fuga proposital das regrinhas preestabelecidas – acabou no meio do caminho tomando esse rumo de brincar com significados, ou contar micro-histórias. Então, os primeiros rolos não foram feitos pensando em gerar dípticos no momento do clique, isso veio depois. E acho que tem um pouco de tudo em termos de sentido. Não quis impor uma linha tão rígida na associação. Por isso algumas são simplesmente causa e efeito, outras são pretensamente non sense e outras parecem contar uma história. Outras ainda têm uma associação mais aberta, ou seja, se você quiser fazer a sua interpretação do que está acontecendo ali, é possível. E essa interação que acontece do expectador com a imagem, a possibilidade de causar uma reflexão foi o que me motivou a continuar o projeto pensando em forma de dípticos já no momento do clique.
Você vê na fotografia analógica uma importante forma de aprendizado de técnica e linguagem fotográfica?
Essa é uma boa pergunta. Tem gente que acha obrigatório aprender primeiro a fotografar analogicamente. Pode soar meio polêmico isso, mas sinceramente hoje em dia eu não acho obrigatório. Agora, sem dúvida nenhuma eu acho um caminho bastante interessante a se trilhar simplesmente porque é a raiz de tudo, foi praticamente como tudo começou e foi durante muito tempo o único jeito de produzir fotografia. Além do mais, é bacana vivenciar esse processo de repetir as etapas dos primórdios da fotografia por várias razões. Para citar uma bem básica, os softwares mais modernos utilizam termos e símbolos que foram herança do analógico. Então conhecer o processo só vai ajudar. Várias pessoas já me perguntaram se eu sabia porque a ferramenta Dodge do Photoshop era um “pirulito preto” (risos). Nada de errado mesmo com a pergunta, contanto que o cara saiba usar a ferramenta, mas isso já denota um certo desconhecimento do processo como um todo. Provavelmente são as mesmas pessoas que diminuem o valor de uma fotografia porque ela foi “photoshopada” sem saber que Henri Cartier-Bresson, Ansel Adams, Robert Doisneau e outros tantos mestres se valiam do “pirulito preto” e de todo o arsenal de instrumentos para fazer retoques em laboratório, como vinhetar, “cropar”, um dodge aqui –burn ali, entre outros mecanismos analógicos que o Photoshop hoje
em dia apenas reproduz digitalmente.
O filme me parece ter ficado muito mais na praia dos trabalhos autorais do que dentro do fluxo de trabalho por questões óbvias, como custo, tempo de execução e margem de manobra quando falamos de tratamento e fusão de imagens.
Longe de querer colocar aqui como se deve formar um profissional, penso que as escolas de fotografia, na sua busca por inserir o fotógrafo no mercado, não precisariam necessariamente abordar o laboratório PB, o C41, o E6, a teoria e a prática da química toda envolvida no processo. Poderiam tranquilamente ater-se à matemática e à física da luz, aos diversos tipos de sensores (com suas características e aplicações), lentes, flashes, ao aprendizado de softwares de processamento, composição e por aí vai. Esse é o dia a dia de praticamente todo fotógrafo atualmente, seja no fotojornalismo, moda, interiores, publicidade, eventos sociais, etc.
Ninguém mais precisa obrigatoriamente sentir o cheiro do nitrato de prata, a menos que queira. Eu adoro. (risos)
Como foi seu contato com a Lomography? Você busca seguir as regras da Lomo quando está fotografando? Essa volta de força da produção analógica é importante para a fotografia como um todo?
Quem me apresentou a lomografia foi um amigo diretor de cinema que fotografava colocando sobras de película de cinema na Diana F+ 120mm. Eu não me considero um lomógrafo – muito longe disso. Lomografia pra mim é pura diversão. A regra que eu mais sigo é a última: esqueça todas as anteriores (risos). Na verdade quando o assunto é lomografia é justamente esse descompromisso que me atrai. Esquecer um pouco a composição, o quadro perfeito. É bem esse espírito irreverente da lomografia, juntamente com as duplas exposições não premeditadas, os processos experimentais, as gambiarras, que tudo isso muito divertido. A lomografia na minha modesta opinião é um território neutro, experimental, onde nada é certo e nada é errado: é somente o que você quer, e o que você não quer. E dá pra produzir arte com isso, o que é maravilhoso.Algumas pessoas – fotógrafos inclusive – encaram a lomografia com maus olhos, ridicularizam as câmeras, rotulam quem está começando na lomografia como um bando de hipsters entrando numa modinha –embora isso também aconteça. Enfim, uma avalanche de bobagem que denota certa cretinice, uma coisa meio tapada. Puro preconceito: acho que as pessoas têm que fazer o que as deixam felizes. Seja na fotografia, no trabalho, na vida. O resto é o resto.Acho muito positivo esse resgate, as pessoas estão redescobrindo a fotografia analógica. Eu vejo essa “volta do filme” como algo tão importante quanto a popularização das câmeras fotográficas digitais, quanto o aumento estrondoso do celular como meio de expressão fotográfica. Sou totalmente a favor dessa diversidade de linguagem, de meios. É a fotografia ganhando novos contornos e mudando o jeito das pessoas se relacionarem com ela. Acho que daria para fazer um entrevista inteira dedicada a esse assunto. Posso participar? (risos)
OLD ENTREVISTA
PEDRO DAVID
Pedro David é um das apostas da fotografia contemporânea brasileira. Premiado neste ano com o Conrado Wessel, Pedro lançou em Maio, em São Paulo, o livro e a exposição Rota Raiz, no Madalena Centro de Estudos da Imagem. Você já leu um pouquinho sobre o livro no começo desta edição, agora vai descobrir muito mais sobre o projeto e sobre a trajetória de Pedro David, no papo que batemos em sua passagem por São Paulo no lançamento de seu novo livro.
Você acabou de lançar o livro e a exposição Rota Raiz aqui em São Paulo. Conte um pouco sobre esse projeto.
O livro está sendo lançado em 2013, mas o Rota Raiz é um trabalho que eu fiz entre 2002 e 2008, ele é como um primeiro trabalho meu, mais profundo, sozinho. Quando eu estava fotografando para ele eu também estava fotografando para o Paisagem Submersa, que acabou sendo lançado antes [em 2008, em parceira com os fotógrafos Pedro Motta e João Castilho], que eu também comecei a produzir antes. Eu ia fotografar para o Paisagem Submersa e comecei a perceber que eu tinha também um trabalho diferente ali, que não era exatamente o Paisagem Submersa, que era uma questão mais específica, de locais específicos, do Vale do Jequitinhonha. Então eu já estava prestando atenção nesta área, já tinha começado a trabalhar nela, antes de chegar nas comunidades que eu iria fotografar para o Paisagem eu já estava fazendo outras fotos, durante a viagem, na estrada, hotel, boteco de noite, então foi aparecendo esta outra coleção, que não servia para um trabalho mais definido, como era o Paisagem Submersa, e logo eu comecei a editar este trabalho, em uma época muito de início, em que eu estava começando a trabalhar, feliz porque tinha uma estrutura legal, com filme à vontade, então eu fotografava muito, querendo mesmo desenvolver um novo trabalho, que não fosse aquele no qual eu já estava envolvido, que era específico e coletivo, eu queria me
desenvolver, ter uma produção própria também. Logo eu comecei a editar as fotos, a perceber que havia um sentido ali, logo identifiquei a motivação anterior, a primeira motivação de ir para esses lugares, comecei a analisar isso, o porque de ter escolhido junto com os colegas e o motivo de ir para aquela região e que isso tinha uma ligação muito forte com a minha infância, com as viagens que meus pais faziam, minha mãe contava histórias das fazendas, dos tios, das viagens que ela fazia para o interior, meu pai trabalhou muito tempo nessa região, então ele saia, ficava fora um tempo e voltava com novidades, presentes, histórias. Isso também está relacionado com as minhas leituras, de Lampião, depois Guimarães Rosa, então isso tudo foi formando imagens na minha cabeça, eu cresci com essas imagens, com esse gosto pelo interior. Na hora que eu vou me tornar fotógrafo, essas imagens estão ali, para serem feitas, realizadas, então a primeira ideia é ir para essa região. Mas o que eu encontro ali é outra coisa, lógico. Aquele meu imaginário não existia e já com uma intenção contemporânea, que para fazer algo que interesse ela deva ser do mundo atual, ao encontrar esse sertão modificado, transitivo, essa coisa toda mexida, não romântica, eu não me decepciono, eu entendo que é esse o meu interesse. Se eu fosse falar de sertão normal eu tava ferrado, porque já tem gente demais falando disso, já é de outra época, mas tem esse: novo, modificado. É esse que eu vou fazer. Então o Rota Raiz tem essas duas partes andando juntas: uma visão pessoal da infância e um certo documental de um sertão em mudança.
Falando um pouco da exposição: as imagens são sobras de papel da gráfica que imprimiu seu livro. Porque você fez essa escolha? Porque essas sobras te fascinaram tanto?
Desde a primeira vez que eu fui imprimir um livro, indo na gráfica, que eu entendi como funcionava o processo, que é, em grande parte, muito automatizado, não faz parte da criação, é uma questão técnica
mesmo, de gráfica. Você edita o livro da maneira como vai ser lido mesmo, depois, na gráfica, alguém pega esse material e transforma nesse processo de criação dos cadernos mesmo, em outra ordem. Isso muda totalmente a cara do trabalho, você sabe que o livro vai sair da forma que você editou, mas naquele momento, tudo está diferente, isso promove uma quebra no pensamento de quem está editando e ao mesmo tempo, a edição é sempre muito minuciosa, você quer escrever com as fotos, você quer que faça um sentido na leitura das imagens e ali, por alguns instantes, está tudo trocado e isso também pode fazer algum sentido. Eu quis lidar com isso, com essa quebra de rigor, de ver como o livro poderia ser organizado de outra maneira, experimentar o material. Além disso, o livro foi produzido em um papel muito bom, com processos gráficos muito bons também, então isso me deu vontade de usar essa impressão como fotografia também, já que não estamos mais na era da emulsão de prata, usamos tinta sobre papel, isso é a mesma coisa: tinta muito boa, sobre um papel muito bom.
O livro Rota Raiz conta com anotações, desenhos, imagens desconstruídas. O quanto foi importante para esse projeto trazer mais do que o que foi produzido fotograficamente?
É muito importante, como uma experimentação para mim , uma vontade de abrir o leque de opções, de não ficar preso na fotografia, de experimentar outras coisas. E os desenhos e objetos fazem parte do trabalho mesmo, quando eu estava viajando alguém riscava um mapa para mim e eu já guardava, pensando em usar, veio esse clique na hora, foi um processo que apareceu junto com as fotos e a coleção de objetos é muito importante. Ela é um registro de tudo o que eu falo da infância, muito deles vem de lá e no livro eles se misturam com os objetos que vem da adolescência e também com os que eu peguei durante a produção do ensaio. É uma vontade de extrapolar os limites da fotografia, de ter desenho, escultura, tudo
isso junto, e a maneira com que isso entrou no livro, como um recorte, é legal porque, como o livro foi feito cinco anos depois do trabalho terminado, eu fiquei afim que ele tivesse uma cara atual, que contasse também com idéias de agora. Alguns dos objetos tem até fotos em seu contexto, na paisagem, no dia em que eu os peguei, mas eu quis dar esse destaque, fazer o recorte de cada um desses objetos, para marcar essa distância temporal, descolados mesmo. Sobre o desenho: eu não desenho, mas queria muito desenhar. Então eu me forço muitas vezes, durante as viagens a desenhar, fazer pequenas anotações, tento fazer diários, então eu tenho uma vontade de desenhar. Antes de fotografar eu desenhava. Até achei que eu seguiria um caminho pela pintura, pelo desenho, mas abandonei por causa da fotografia, então às vezes eu quero voltar um pouco para esse caminho abandonado.
Você foi o grande premiado do Conrado Wessel deste ano, com o trabalho Sufocamento. Como foi desenvolvido este projeto?
Desde a primeira vez que eu fui para o Vale do Jequitinhonha em 2002 eu me impressionei muito com o eucalipto, porque é uma característica muito forte do norte de Minais Gerais, que está sendo completamente substituído pelo eucalipto, muito rapidamente. Todas as siderúrgicas que estão na periferia de Belo Horizonte tem terras no vale do Jequitinhonha, cobertas de eucalipto. Isso sempre me impressionou, sempre fotografei muito no eucalipto, muitas vezes o caminho para chegar a uma comunidade passa por uma plantação de eucalipto, eu me perdia em plantações, que são tão grandes e tão iguais que você não sabe mais para onde ir. Isso sempre me impressionou, pensando não só na chatice da paisagem, mas também no impacto ambiental que essa mudança causa. Antes de chegar à edição final do Rota Raiz eu tinha diversas idéias de como pontuar o tema usando o eucalipto, separando capítulos, ao final do livro com uma pequena série, agora, em 2012, já terminando o
processo de feitura do livro, já com tudo encaminhado, eu fui convidado para fazer um trabalho no norte de Minas sobre o Guimarães Rosa e nessa viagem eu fui buscando mais alguma coisinha para entrar no Rota Raiz, encontrei mais umas cinco ou seis imagens, que entraram no livro. Durante um desses deslocamentos eu vi essa cena: uma árvore nativa “aprisionada” entre a imensa plantação de eucaliptos. Era uma coisa que eu nunca tinha visto, durante todos os anos que eu interpretei o eucalipto, nunca tinha encontrado nada assim. As indústrias sempre desmatam tudo e depois plantam o eucalipto, não costumam deixar algumas árvores para trás. Na hora em que me deparei com essa cena eu percebi que aquilo resolvia a imagem do eucalipto que a tanto tempo eu tentava construir, isso fala do passado, do futuro e tudo que há entre os dois. Parei o carro e fiz a foto. Vi mais algumas árvores, fiz mais algumas fotos, mas como estava anoitecendo, anotei o lugar em que estava e voltei no dia seguinte, interrompendo todo o meu trajeto para me dedicar a esse encontro. Fiz as imagens e percebi que formava uma série, já tracei todo um plano na minha cabeça: vou fazer uma série bem fechada, com o mesmo enquadramento, equipamento, tudo. Passei o dia fazendo isso, registrei todas as árvores que eu encontrei, já pensei no formato de exposição também, no tamanho das ampliações, já percebi que o projeto era forte e já decidi que essa seria minha bala na agulha, que iria inscrever esse ensaio em prêmios durante o ano. Tive muita sorte, fiquei muito feliz com o retorno que o ensaio recebeu, foram cinco prêmios no total, de muito mais do que 10 inscrições, então ele tem muito sucesso, mas não é 100% [risos]. Gosto sempre de falar isso: todo mundo vê o que eu ganho, mas ninguém vê o que eu deixei de ganhar, que é tanto quanto ou mais, sempre.
Como você vê a fotografia contemporânea no Brasil? Você acredita que ocupamos um espaço importante dentro do cenário mundial?
Com certeza o panorama cresceu demais. Eu comecei a tentar me inserir em 99, consegui participar de uma exposição aqui no MIS, bem no início mesmo, era uma coletiva e eu entrei nela para ser o sangue novo. De lá pra cá a coisa se transformou completamente, eram eventos muito esporádicos, em poucas cidades do país, hoje são tantos eventos que é impossível acompanhar todos. Hoje tem um por ano em metade dos estados dos país. Em alguns mais do que um grande evento de fotografia por ano, então o cenário melhorou demais, com prêmios, bolsas e uma certa inserção na arte contemporânea, que está começando a aceitar mais a fotografia e nós também estamos aprendendo a ser mais contemporâneos. Mas, apesar de tudo isso, eu ainda acho fraco o topo desse caminho. A gente ainda tem pouca representação em número, não em qualidade. Os nossos poucos “super”, são “super” no mundo inteiro. Você tem o Miguel Rio Branco, a Cláudia Andujar, que são o topo do topo, representando o que há de melhor em fotografia no mundo. Mas não são muitos mais que estão representando, logo abaixo tem mais alguns de importância, mas depois disso a coisa raleia. Acho que a gente tem que estudar muito ainda, com certeza, estudar e se libertar muito.
Aisa Araújo
Je est un autre
Aisa Araújo é uma fotógrafa portuguesa, especializada em fine art. Ela apresenta na OLD seu ensaio em que encarna grandes figuras da história e da literatura. Vamos ao papo!
Seu trabalho tem uma forte relação com o autorretrato. Quando começou essa relação? Para você, qual a importância de estar de corpo presente em suas fotografias?
Na realidade posso dizer que a relação com o autorretrato começou com o “Je est un autre”. Comecei a fotografar muito tarde. A minha formação acadêmica e profissional foi teatral, e como sou um bocado obsessiva no que diz respeito a paixões, estive absolutamente imersa no teatro até 2009/2010, altura em que comprei a minha primeira câmera analógica e comecei a ir para a rua com ela “colada” aos olhos. Era a primeira vez que conseguia capturar e fixar no tempo imagens e momentos irrepetíveis, era fascinante, novo, único. Claro que é a reação natural de descoberta muito inocente, mas para mim representava exatamente o oposto do teatro, onde tudo é efêmero, e por isso teve muita força. Passei muito tempo a perambular pela cidade, assumi o papel de espectador e isso erame muito confortável até que comecei a sentir falta de manipular e controlar mais o resultado. Tinha em mim todas estas imagens de histórias e ideias que queria contar e que normalmente resultariam
em performances, então de forma natural comecei a virar a câmera do exterior para o interior, do acontecimento para o sujeito, do cândido para o encenado que requer uma preparação quase ritualística que me fascina.
Em relação ao corpo presente. Mesmo quando fazia teatro - apesar de ter um grande respeito pela palavra - o corpo, o movimento, a força simbólica, a carga emocional do gesto, sempre foram o que mais me desafiava e talvez por isso, necessito que ele esteja sempre presente. Adoro trabalhar com modelos porque consegues observar, em tempo real, a transformação do sujeito quando colocado em frente da lente. No autorretrato perdes esse momento específico, não vês a magia do corpo em mutação a acontecer imediatamente, apenas podes ver o resultado final da imagem fixa, mas ganhas o poder de deixares de ser o espectador dessa transformação para seres tu próprio a transformação, passas de dirigir atrás da câmera, para dirigires em frente desta, observador e observado numa pessoa só. Há ainda a questão da comunicação, e apesar de ser sempre um desafio transmitir a intenção desejada a um modelo, no autorretrato essa luta existe na mesma, entre a imagem na cabeça e aquilo que o corpo consegue produzir, entre tentar criar um resultado específico e aceitar o erro, explorar o acaso. O autorretrato provoca-me em vários níveis e por isso é que acabo por voltar sempre a ele.
Conte um pouco sobre o desenvolvimento de je est un autre. Como foi feita a escolha dos personagens que estão nas imagens?
Como era o meu primeiro ensaio em autorretrato, meti na cabeça que teria de fazer tudo sozinha. Felizmente, na fase de captura de imagens, acabei por ter ajuda de um “voluntário”, Cláudio Sousa, um artista plástico português que desde então tem estado presente em todos os projetos que requerem este tipo de preparação, como o “Lost Souls” e o “A Ritual in 3 Acts”. Agora percebo que se tivesse tido a colaboração de outros criativos desde o início, no que diz respeito a áreas mais técnicas e que me eram completamente desconhecidas, o resultado teria ficado mais próximo do que tinha imaginado. Por outro lado, o facto de ter de fazer tudo por mim, também me deu bagagem para agora ter a vontade de me atirar de cabeça para outros projetos que estão fora da minha zona de conforto. Entre aprender maquiagem, cabelos, criar/adquirir os adereços e roupas, desdobrar as personagens, desenvolver o conceito, planificar o plano de ação e tratar de todos os detalhes de produção, demorei aproximadamente 3 meses, e uma semana para fotografar. A escolha dos locais foi relativamente fácil. Tudo foi fotografado em Trás-os-montes, uma das zonas mais remotas e agrestes de Portugal onde se encontram as aldeias onde nasceram o meu pai e a minha mãe. Para além do sentimento de origem que atribuo a esse local, ele também é responsável pela relação que
tenho com a natureza, com o espaço exterior. Foi Trás-os-Montes e quem lá vive, que me ensinou a dependência do Homem do espaço natural, a dureza do mesmo e a recompensa proveniente de horas de trabalho, luta e cooperação com este, a beleza e a força que tem produzir alimento e sobrevivência com as próprias mãos. A Tia Luisa, a personagem envolta em farinha com o pão nas mãos, é uma irmã do meu pai que ainda lá vive e que continua a tradição ancestral de produzir pão caseiro inteiramente à mão para toda a aldeia. Tanto ela como a minha mãe tinham lugar cativo na lista das personagens, assim como a Frida Kahlo por ter sido através dela que o projeto surgiu. Queria fazer um retrato, ou um estudo em torno da idéia Frida Kahlo, mas quando comecei o processo de criação do conceito e a escrever os textos de apoio, o projeto foi-se expandindo e senti a necessidade de trabalhar também com outras personagens. Toda a seleção à partir daí foi ocorrendo naturalmente, com algumas exceções. Uma delas foi a Simone de Beauvoir, a escritora quecom a ajuda da minha mãe, pois eu era muito nova para perceber certas coisas - me fez questionar pela primeira vez o que é o feminino, o que é a Mulher. Talvez por ter uma carga tão significativa, quando chegou a altura de transmitir isso numa imagem, senti-me completamente dividida, sem conseguir encontrar uma única forma que me satisfizesse. Acabei por a retirar do ensaio. De fora ficaram também, propositadamente, todas as fotógrafas que admiro.
Como os personagens que estampam as imagens são responsáveis pela construção do fio narrativo deste ensaio?
O ensaio tornou-se num estudo autobiográfico. Sabemos que muito no Eu é construído a partir de impulsos exteriores. Ok. Mas quanto desse Eu? E onde no Eu é que vivem esses impulsos? Como coloco no texto que acompanha o ensaio “Quanto da personagem de um livro vive comigo depois de o ler? Quanto da própria autora? E se cresci com a voz da Edith Piaf a ecoar pela casa, quanto dela há em mim?” E onde? E como se manifesta? Era isso que queria explorar e é esse o ponto comum em todas as personagens, qual o seu grau de influência que carrego comigo e em que sub-camadas já se infiltraram. Daí ter sentido a necessidade de escrever bastante e de me deixar explorar no ato fotográfico. Precisava de ver até onde elas me iam levar. Nesse sentido penso que é muito pessoal mas também geral. Tudo é autobiográfico, e tudo é universal.
Além da técnica fotográfica há também um peso muito forte da direção de arte e do figurino dentro deste trabalho. Que outras linguagens e técnicas influenciaram essa produção? Como foi desenvolver o pensamento visual por trás deste ensaio?
Sou sempre influenciada por outras duas linguagens em específico, o teatro e o cinema, e utilizo sempre técnicas características de ambas. Neste caso específico tiveram um grande peso quer na preparação
das personagens e a atenção dada às mesmas, desde a criação dos diálogos internos às técnicas de improvisação/experimentação, a escrita de um roteiro, de um story board e da call sheet, a organização gráfica dos quadros de referências, o estudo do figurino em relação direta com cabelos, maquiagem e adereços. O pensamento visual foi desenvolvido de forma majoritariamente cinematográfica, mas também com fortes influências da fotografia de moda, mais especificamente de editoriais, a fotografia de retrato criativo, a fotografia performativa e a pintura. Em relação às duas linguagens de maior referência que mencionei, o teatro e o cinema, estas estão sempre presentes. O teatro, pelo óbvio, como comecei com 13 anos e apenas parei, profissionalmente falando, há dois anos, todo o pensamento criativo que desenvolvia tinha como fim o teatro, a forma como vejo as imagens, como construo cada fotografia tem sempre carga teatral. O cinema é, sem dúvida, a arte que mais me estimula. Também não sou indiferente à literatura e à música mas, por exemplo, não trabalho com a segunda em plano de fundo. Prefiro colocar um filme que já conheça e que por isso não me distrai, pelo contrário, graças à banda sonora, aos diálogos, à cinematografia em geral, ajuda-me a entrar no estado de espírito e ambiente pretendidos. Só não vejo filmes para ler, escrever e durante sessões fotográficas que não de autorretrato, de resto, o cinema acompanhame para todo o lado e como tal, influencia todas as minhas criações.
Jonas Tucci Nude
Jonas Tucci é um fotógrafo paulistano, que concentra sua produção em retratos, sejam eles nus, de moda ou de rua. Jonas foi um dos selecionados do programa MIS Nova Fotografia e apresenta na OLD uma seleção de sua produção de nus.
Qual a importância do nu dentro da sua produção fotográfica?
Ele é essencial dentro da sua produção?
Há pouco tempo tenho feito nus com frequencia, nem 2 anos. Ainda estou aprendendo, alias sempre, mas com o nu, é muito recente, estou aprendendo a entender o corpo humano, não só feminino. Essencial não é, mas sempre que possível introduzo porque te aproxima da pessoa, intimidade é algo sagrado e tem que ser muito bem cuidado. O nu me intriga por que não há nada, além da verdade, da pele, não há subterfúgios, o corpo fala.
Há em muitas das imagens uma fuga do comum quando se pensa em fotografia de nu. Como você desenvolve a estética dos seus ensaios? Fugir do comum é uma de suas preocupações quando fotografa?
Quando se fotografa nu, o segundo passo mais provável é buscar o sensual. Eu procuro sempre encontrar, ornar, criar o belo, não necessariamente o sensual.
Você tem um trabalho de iluminação muito bem desenvolvido aqui, com técnicas e abordagens diferentes entre as imagens. O estudo da técnica fotográfica é muito importante para você?
Obrigado! A aplicação da técnica é necessária mas tem que ser experimentalmente variada, ainda mais quando se é autodidata. Aprendo fazendo. Cada momento ou situação pede uma luz diferente. O estudo é feito sempre, como objetos encima da mesa num café da manha, e suas sombras na toalha. Toda hora meu cérebro está enxergando foto. É uma mania.
As mulheres que você fotografa são modelos profissionais?
É mais simples e mais produtivo trabalhar com modelos já acostumadas ao nu?
Algumas sim, quando se trata de revistas. Na maioria das vezes não, são amigas ou apenas pessoas (homens e mulheres) que conheço e cruzo os caminhos da vida. Toda prática leva ao aprimoramento em qualquer que seja a ação, prática, então é mais simples trabalhar com quem já tem alguma experiência. Fotografar pela primeira vez alguém é incrível também, é uma intimidade pré estabelecida, é uma troca de energia e confiança.
Quais os desafios de fotografar o primeiro nu de uma mulher? Como desenvolver a confiança entre o fotógrafo e a modelo?
A mulher tem que confiar nos seus trabalhos anteriores, gostar. Assim ela acredita e se solta. Começo sempre com o corpo todo nu, nada de ficar tirando as poucos.
Como é construída a narrativa dos seus ensaios? Você a desenvolve em parceria com a modelo ou já costuma chegar com uma ideia pré-concebida?
A narrativa é sempre a mesma, retratar, sou retratista. As vezes brincar, inventar uma historinha é legal, mas nada como a pessoa de verdade na foto. A verdade é a alma do Retrato.
Ultrapassagem
por Tito FerradansImagine que você esteja comprando um projetor. Você lê a lista de recursos oferecidos pelo aparelho, fuça todos os menus, configura a máquina de acordo com sua preferência e fica feliz com o resultado.
Dali a duas semanas, um amigo te convida para dar uma olhada em um projetor novo que ele também comprou. Chegando lá, você percebe que o aparato está em outro nível. Imagens mais definidas, menor consumo de energia, muitas outras configurações, o diabo do aparelho consegue até projetar hologramas no ar! Espantado, você comenta com seu amigo: “Deve ter sido uma nota! Qual o modelo?”. Nessa parte, seu queixo vai até o chão: o modelo é exatamente igual ao seu. “Qual a diferença então?” Seu amigo explica que instalou um programa alternativo, que roda por cima do original da fábrica, habilitando muitas melhorias ocultas.
É mais ou menos isso o que o firmware alternativo Magic Lantern faz com muitas câmeras Canon. Um grupo de hackers e programadores começou a fuçar o código fonte das máquinas em meados de 2009 e rapidamente conquistaram algumas vantagens sobre o firmware original. De 2009 para cá, aumentou o número de desenvolvedores e de usuários, e os recursos estão bem mais trabalhados. Nas últimas semanas o Magic Lantern apareceu em inúmeros blogs e
sites de tecnologia, por ter habilitado vídeo RAW em boa parte das Canon disponíveis.
Mas como funciona essa coisa? Seguindo as diretrizes legais da internet, todo o código usado no programa é original e completamente aberto para quem quiser estudar ou propor alterações. Os criadores não utilizam qualquer programação da Canon justamente por ser código proprietário – que poderia colocá-los em maus lençóis de processos por pirataria e roubo de informação. O que é utilizado, na realidade, são funções que a própria Canon colocou nas câmeras, mas não constam nos menus do aparelho.
Muitas vezes, funções são combinadas em uma única aplicação, simplificando bastante processos, como por exemplo timelapses. Graças ao Magic Lantern, a própria câmera define os intervalos entre as imagens, o tempo de exposição adequado, além do número de fotos a serem feitas – sem gastar o mecanismo do obturador – e oferece playback do resultado em vídeo. Sem o programinha, são necessários acessórios extras, muitos cálculos elaborados e algum tempo no computador para conseguir visualizar decentemente as imagens sequenciadas.
O grupo é bastante responsável e só lança versões novas depois que todos os recursos foram testados exaustivamente por voluntários e quaisquer errinhos de programação tenham sido corrigidos. Sem esse cuidado, aumentam as chances de usuários menos experientes danificarem suas câmeras, ou mesmo as margens para publicidade negativa, justamente por conta de bugs.
O software é gratuito, e pode ser encontrado em seu site oficial (www.magiclantern.fm). Vale lembrar que mesmo sendo bastante testado, é sempre possível que algum erro aconteça, ou a câmera faça algo estranho de vez em quando, devido ao programa. A garantia da Canon não cobre máquinas danificadas pelo uso da modificação (ainda assim, não há casos de dano permanente),
e já anunciou que vai ativar sua equipe de advogados caso os programadores tentem mexer nos modelos do topo da linha, a série 1D e EOS Cinema. No site do programa é possível encontrar uma lista com os modelos compatíveis e recursos habilitados em cada câmera. Encontra-se também a versão oficial para download e instalação, versões de teste para alguns modelos e versões ainda menos estáveis, com as novidades diárias da equipe. Um dos maiores méritos da comunidade é que todos aqueles que encontram uma forma de contribuir, contribuem: sugestões, testes, boletins automáticos gerados pela câmera ou mesmo funções originais no formato de código. Tudo é lido e respondido com prontidão, por uma equipe que não ganha dinheiro com esse projeto.
Se você já dominou tudo que sua Canon tem a oferecer e quer ultrapassar esse limite, recomendo fortemente a experiência com o firmware alternativo. É saudável seguir os passos indicados durante a instalação, e depois disso, acessar o fórum para tirar dúvidas, ler a documentação de cada recurso (todos aqueles presentes nos lançamentos oficiais são bem explicadinhos) e ficar por dentro das novidades. A modificação traz grandes vantagens para ambos os modos, de foto e de vídeo!
Tito é fotógrafo de vídeo e vive a testar todas as (im) possibilidades que câmeras e lentes lhe oferecem. Você pode saber um pouco mais de suas peripécias em tferradans.com/ blog
Fissuras por Ágata
Sob quatro alfinetes
Uma visita à Foam, em Amsterdã, era um dos momentos mais esperados durante a viagem de férias que tivemos a oportunidade de fazer juntas. E demos sorte. Em um mesmo dia pegamos a abertura de três exposições, “Best before end”, de Stephen Gill, “Look at me and tell me if you have known me before”, de Monica Nouwens, e “Momento”, de Lara Dhondt, além de conferir “Tí”, de Koos Breukel e Roy Villevoye que já estava em cartaz. Entre elas, a última despertou a nossa curiosidade. Não pela qualidade ou provocação do trabalho, mas por encontrarmos em um lugar dedicado à fotografia contemporânea imagens com uma estética tradicional e tema recorrente.
O que chamamos aqui de tradicional e recorrente está diretamente ligado à abordagem documental que envolvem os retratos, os recortes, a composição das cenas, enfim, elementos que referenciam uma estética já muito trabalhada dentro desse segmento.
Tí é uma ilha da Nova Guiné que está ameaçada pela exploração comercial. Antes dos artistas, que montaram um estúdio móvel para realizar o trabalho, seus 120 habitantes nunca tinham se visto em uma fotografia, sendo os pares com quem convivem o único
referencial de imagem que tinham de si mesmos. Esse confronto com o estranho está refletido através do olhar vago, mas ao mesmo tempo penetrante e perturbador de um povo com traços primitivos em uma condição anacrônica.
Em um mundo que vive os efeitos da globalização e o trânsito constante de imagens é interessante perceber que a isolada ilha de Tí e seu povo ainda sejam apresentados ao mundo sob o olhar tradicional do foto documentário e que, ademais, sejam vistos dentro de um espaço onde se costuma encontrar trabalhos contemporâneos, como é o caso da Foam.
Uma possível resposta para o trabalho estar exposto ali, entretanto, se mostrou ao repararmos na maneira nada óbvia da montagem, que mesmo lidando com as ressalvas temáticas e estéticas que destacamos, nos fazia sentir completamente imersas naquele ambiente.
As prints em grande formato e presas por apenas quatro alfinetes pretos, sem a mediação da moldura ou de qualquer artifício que separasse a imagem do mundo, nos convidava a encarar aquelas pessoas como iguais, travando um diálogo sobre a causa ao invés da pura contemplação do que poderia ser tratado como exótico. Dessa forma, o trabalho ganhou um sentido de universalidade necessária para que pudéssemos traçar correspondências com outros grupos de experiência similar a de Tí.
Os pequenos objetos pontiagudos também servem como metáfora da situação de vulnerabilidade que vivem comunidades como essas. Afinal, por mais que eles possam sustentar as imagens na parede, qualquer ato mais enérgico pode dar fim a sua existência, como os interesses econômicos que ameaçam Tí.
Ágata é um coletivo multidisciplinar em construção. Um encontro de afinidades que tem na fotografia um campo fértil para o exercício crítico e da expressão artística.
http://www.iif.com.br