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junto a _53 Perspectivas de circulação (caminhos concretos e utopias)
entre _11 Sobre a necessidade de se fazer este Encontro de publicadores e divulgação da pesquisa sobre o cenário da publicação independente na América Latina interlocutores Tenda de Livros Edições Aurora Zerocentos Publicações relatorias Nathanael Araujo Julia Moraes (foto) Rafael Moralez (foto) Vânia Medeiros (desenho)
interlocutores Feira Baronesa Mueve Pão de Forma
à maneira de _27
relatorias Amelia Santana Carolina Sinhoreli Paola Fabres Melina Resende (foto) Vânia Medeiros (desenho)
Publicações de artista e pesquisa interlocutores Ana Luiza Fonseca José de Souza Muniz Jr. Paulo Silveira Regina Melim relatorias Marcio Sno Walter Costa Julia Moraes (foto) Rafael Moralez (foto) Vânia Medeiros (desenho)
créditos _74
sobre
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A presente publicação é resultado do que se chamou de Projeto Publicadores. Idealizado por Tenda de Livros – que convidou Edições Aurora e Zerocentos Publicações para caminhar junto – o projeto surgiu de um desejo de promover um encontro entre editores, artistas, pesquisadores, quem produz, edita e circula arte impressa em diferentes países latino-americanos e regiões do Brasil, para tratar sobre os temas que tangem à edição independente e que, muitas vezes, não são discutidos por falta de ocasião. Por isso, aproveitou-se a presença de diferentes publicadores em São Paulo por conta da Feira Tijuana para realizar o encontro, que ocorreu no dia 2 de setembro (um dia antes da feira) na Oficina Cultural Oswald de Andrade, instituição que, desde o início, demonstrou interesse e abertura para acolher o projeto. Foram realizadas três mesas, com a presença de catorze interlocutores, nove relatores e muitos participantes. Antes de o encontro acontecer, quando iniciamos o projeto e levantamos nossos anseios, questionamos o quanto sabíamos sobre aqueles que faziam o universo da publicação independente. Surgiu a ideia de realizar uma pesquisa que mapeasse um pouco esse cenário de publicadores que vem se fortalecendo na última década na América Latina. Assim, foi formulado um questionário, em espanhol e em português, proposto por nós, publicadores, e cujo foco era atingir outros publicadores (artistas, editores e pesquisadores em arte impressa). As perguntas partiam de uma identificação e perfil do publicador, indo para sua atuação, a sustentabilidade de seu trabalho, junto da circulação e distribuição. Também foram realizados um trecho voltado para pesquisadores e um campo aberto para reflexão.
Todas essas questões tinham como fundo um desejo de conhecer melhor esse cenário (em números e formas de existir) e contribuir para possíveis estratégias e novas práticas de circulação e formação de público. Soltamos a pesquisa na internet, que ficou disponível nos meses de julho e agosto, e alcançou 310 publicadores, que pacientemente responderam às inúmeras perguntas. Parte do resultado foi discutida em uma das mesas no encontro, e para este livro geramos gráficos e reflexões sobre a pesquisa. Da difícil responsabilidade de oferecer um livro para publicadores, podemos dizer que foi uma imensa alegria trabalhar com inquietações, desejos e conflitos de uma cena diversa, crescente, generosa e fundamental para nossa época, e esperamos ter feito jus à tarefa. Boa leitura. Edições são bem-vindas.
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entre
A primeira mesa do dia, intitulada “Sobre a necessidade de se fazer este Encontro de Publicadores e divulgação da pesquisa sobre o cenário da publicação independente na América Latina”, teve como interlocutores os três organizadores do encontro. Ali, foi debatido o sentido de se reunir naquele dia para discutir publicação independente e também compartilhar alguns resultados da pesquisa, questionando o público presente sobre seu resultado.
Tenda de Livros > interlocutora 13
alguns tópicos frasais (2/9/2016. Encontro de publicadores) plataformas políticas e novas formações de público: reflexão, proposição e crítica. contraesfera pública: sustentação de ações políticas, horizontais e na rua. feminismos e combate ao racismo: transformação e fim de espaços de privilégios. empatia: realização conflitiva, pública e afetiva. resistência: produção, edição e circulação de publicações. contramercado: a publicação é uso, não é fetiche.
Um encontro de publicadores para publicadores. Ou talvez publicadores que querem conhecer outros publicadores. O que são publicadores? São os publicadores um grupo que se identifica? E os artistas, também o são? O que é entender-se como grupo? O que é entender-se como grupo em 2016? São questões gigantes, mas que emergem a cada momento. Neste ano creio que todos se questionaram em como agir frente a uma realidade política-institucional achatadora, perigosa e apocalíptica. Vou sozinho, vou com partido, vou com os próximos, quem é o outro, quem são os meus, somos iguais? Operamos da mesma forma? Como entendemos as estruturas que nos oprimem? Num sentido mais micro, foi um pouco esse o tom da pesquisa e do Encontro de Publicadores. Ao mesmo tempo em que parecemos nos reconhecer como classe pelo simples ato de publicar de forma independente – e isso é notável quando 310 pessoas respondem uma pesquisa para publicadores pelo fato de se entenderem como um –, existe muito dissenso. E isso não é negativo. Foi interessante ver que muito se discutiu sobre o sistema da publicação e pouco sobre a prática da publicação. Não estava muito em questão formalismos, experimentações e processos, mas sim lugares de poder, lugares de privilégio, exclusão e dificuldade. Foi um embate importante. Ficou claro que todos estamos fragilizados, desesperados, mas tentando dialogar. Ficou claro também que há muita força, que se movem em sentidos diversos. Temos que estar atentos ao tempo e ao movimento das coisas. Que venham os próximos encontros.
Edições Aurora > interlocutora 17
Uma reunião de publicadoras para publicadoras. Ou talvez publicadoras que querem conhecer outras publicadoras. O que são publicadoras? São as publicadoras uma coletividade que se identifica? E as artistas, também o são? O que é entender-se como coletividade? O que é entender-se como coletividade em 2016? São questões gigantes, que emergem a toa hora. Neste ano creio que todas se questionaram em como agir frente a uma realidade política-institucional achatadora, perigosa e apocalíptica. Vou sozinha, vou com partido, vou com as próximas, quem é a outra, quem são as minhas, somos iguais? Operamos da mesma forma? Como entendemos as estruturas que nos oprimem? Numa perspectiva mais micro, foi um pouco essa a particularidade da pesquisa e da Reunião de Publicadoras. Ao mesmo tempo em que parecemos nos reconhecer como classe pelo simples ato de publicar de forma independente – e isso é notável quando 310 pessoas respondem uma pesquisa para publicadoras pelo fato de se entenderem como uma –, existe muita discordância. E isso não é ruim. Foi interessante ver que muito se discutiu sobre a sistemática da publicação e pouco sobre a prática da publicação. Não estava muito em questão a forma, a experimentação e a fatura, mas sim esferas de poder, exclusividade, seleção e dificuldade. Criou-se uma adversidade importante. Ficou claro que todas estamos fragilizadas, desesperadas, mas tentando dialogar. Ficou claro também que há muita força, que se move em direções diversas. Temos que estar atentas à temporalidade e à movimentação das coisas. Que venham as próximas reuniões.
Zerocentos Publicações > interlocutora
N ath anael A r auj o > rel a t or 21
Em contraste com nossa forma ocidental ritualizada de contar o tempo, janeiro expressa o início daquilo que ainda não começou. Se nosso modelo cronológico aponta para este como o primeiro mês do ano, já diz o ditado há muito difundido que “o ano realmente só principia após o carnaval”. Mas janeiro comporta gestações, e o Projeto Publicadores inserese nesse âmbito. Ao longo do ano de 2016, três etapas conformaram o que fora gestado em ideias no último verão: uma Pesquisa, desenvolvida com o propósito de mapear o cenário contemporâneo de arte impressa e sua disseminação pela América Latina por meio de seus produtores; um Encontro, cujas personagens foram alguns destes produtores; e uma Publicação, desdobramento das etapas anteriores da qual faz parte este relato. O palco do Encontro foram as dependências da Oficina Cultural Oswald de Andrade, localizada na rua Três Rios, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Durante todo o dia 2 de setembro, vislumbrou-se uma inversão onde o foco não se concentrou nas artes gráficas, mas na busca de diálogo com quem a produz. Nomes e endereços eletrônicos foram ganhando contornos em uma tentativa de burlar o pretensamente sabido. O desejo de conhecer mais e melhor a si e aos
outros abriu espaço para a percepção de corpos, cores, sexos, gêneros, lugares, idades, cheiros e vozes que, pela presença ou pela ausência, foram compondo um cenário. Principiando por elementos contidos na Pesquisa, tópicos como identidade de gênero, orientação sexual e raça/etnia abriram franco território já na primeira mesa do evento para uma reflexão política sobre o fazer artístico, devolvendo-o à sua dimensão social, portanto, contextual ou historicamente localizado. É neste intento que a ausência de uma maior pluralidade de pessoas implicou o embate das razões desta lacuna, visível não apenas durante a primeira mesa e em todo o Encontro, como também nas feiras e eventos nos quais os produtores de arte presentes se encontram inseridos. Tais elementos, ao terem sua relevância questionada, reafirmaram o embaraço de pensá-las. Os dados da Pesquisa e o debate por ela proporcionado, nesta ótica, registraram e explicitaram de modo salutar as dificuldades de entendimento das manifestações artísticas como fruto de experiências sociais atravessadas por marcas. Não à toa esta tópica reverberou ao longo de todo o dia. “Trabalhar com o conflito e com a diversidade”, elementos assinalados pelas organizadoras do Projeto logo na abertura, aponta para o reconhecimento da necessidade do embate e do contraste bem como para a ausência da própria “diversidade” como
artifício subsumido em prol das obras de arte. As “diferenças” não eliminam o medo de fabricação das desigualdades. Ao permanecerem apagadas, as reforçam justamente por mascará-las. Assumi-las como constituintes das trajetórias pessoais situadas daqueles que participam deste universo é refletir sobre como (por que, por quem, por quais mecanismos) processos de diferenciação ocorrem. Dadas em termos relacionais, tais problematizações podem ajudar a pensarmo-nos enquanto um grupo, foco da mesa e do próprio Projeto Publicadores, desnudando as posições de inúmeros sujeitos e reverberando as muitas subjetividades encobertas pelos meandros das produções simbólicas. Mas fazê-lo requer comprometimento, gosto pelo risco e audácia.
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à maneira de
A pesquisa em publicações é ampla: pode ser prática, para realizar uma feira, ou vinculada ao mundo acadêmico. Na academia, ela pode ser uma atividade que olha para o mercado editorial ou para as publicações independentes; pode também ser uma prática da arte contemporânea, que ultrapassa as fronteiras acadêmicas para circular em feiras e exposições. Esses foram os temas da segunda mesa, “Publicações de artista e pesquisa”, que teve a presença de pesquisadores pertencentes a diversas gerações e com diferentes atuações.
“O formato de feira é um tanto simbólico, porque eu acho que é uma grande exposição. O Tijuana tem uma pesquisa constante em torno da América Latina.” Ana Luiza Fonseca
Ana Luiza Fonseca > interlocutora 29
Queridxs Publicadores, A tarde de conversas que vocês proporcionaram e que antecedeu a 11ª Feira Tijuana despertou muitos sentimentos, inquietações, surpresas. Para mim, foi um dos debates mais interessantes (e intensos!) de que já participei. Não bastassem as emoções ao vivo, o cuidado de vocês em documentar essa tarde é, na minha opinião, de um profissionalismo ímpar. No entanto, o pedido de relatos me pegou num momento atípico. Há um ano, eu fiz uma curva brusca, e esse é justo o momento de engatar outra marcha e aumentar a velocidade em uma nova direção. Confesso que ideias de depoimentos e formas de fazê-lo não faltaram, e sinto muito não ter apresentado nenhuma delas até agora. Na verdade, nenhuma dessas ideias foi completamente satisfatória, tamanha a intensidade das sensações que eu gostaria de relatar. E minha autocrítica e falta de tempo se aliaram contra qualquer avanço. Pensei em desistir. O prazo passou. E aqui estou eu, num domingo à noite, escrevendo no formato ao qual recorro quando preciso me expressar com naturalidade: uma carta. Perdoem-me a demora de resposta e, por fim, a falta de entrega de um texto. Eu não sei como resolver esse enigma. Saí da mesa de conversa com mais dúvidas do que certezas. Naquela tarde, fui surpreendida com uma imagem do Tijuana que jamais imaginei que pudesse existir. Se isso é bom ou ruim? Não sei. Produtivo, sem dúvida. Mas aí está a dúvida, que ainda estou digerindo.
Ainda é cedo para relatar qualquer coisa. Já no cronograma, é tarde para entregar um texto. Mais um desencontro! Meu relato agora é esta carta, e, se quiserem, podem publicá-la. Sinceramente, eu preferia que minha contribuição fosse um enorme ponto de interrogação, corpo 500, fonte Helvetica, centralizado em uma página, que envio em anexo. Feedbacks são bem-vindos, ainda mais de vocês. Espero poder contribuir mais nas próximas vezes. Admiro demais o trabalho que vocês estão fazendo.
Beijos, boa semana! Com carinho, Ana
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"Não há um consenso sobre o que são os publicadores independentes. Não é um grupo homogêneo, ele engloba um conjunto de práticas editoriais. Independente é uma palavra vaga, polissêmica, por isso eu falo de Girafas e Bonsais. Girafa é aquele editor com a cabeça no alto e pés no chão, empreendedor, está consolidado editorialmente e é filiado da Libre: está na livraria, na Amazon etc. Já o editor Bonsai é o pequeno, não pretende crescer e trabalha muito, não vive disso, é o editor que está nas feiras." José de Souza Muniz Júnior
José de Souza Muniz Júnior > interlocutor 33
Filhos de papel
Tem um chavão que diz o seguinte: o verbo editar vem do latim editoris, que significa “aquele que gera, que produz”, e guarda relação direta com o verbo edere, que pode significar, entre outras coisas, “parir”. Que isto seja repetido infinitamente nos manuais e nos cursos de editoração, deve ser porque a etimologia serve como luva às metáforas, sobretudo as cafonas. Mas, mesmo destas, algo se aproveita. Quando saí do Encontro de Publicadores, fiquei pensando, entre outras coisas, no tempo de gestação das coisas, das pessoas e dos livros. Porque há livros que rastejam pelo mundo como larvas, destinados a durar quase nada, mas que deixam lá sua marca, ainda que imperceptível a olho nu. E há livros que são como elefantes, que vivem décadas, ocupam espaços e incomodam muita gente. Cada qual tem um habitat e um modo de vida próprio. Cada qual, na origem, demanda uma gestação singular. (Outra analogia muito gostosa é essa aí, que compara os livros aos seres da natureza, a diversidade cultural à biodiversidade. Pensar a cultura como ecossistema; assumir-se guardião de sua riqueza; contrapor a monótona plantação de eucaliptos à densa e inesperada floresta tropical, e os extensos campos de soja aos sabores da agricultura familiar. A gente nunca quis só comida...) Mas eu fiquei pensando também na entrega individual de cada paridora de publicações, na agrura da espera, na dedicação, na consciência dos limites, na doideira que é ter trigêmeos, no trabalho de parto, na dor e na delícia. Fiquei pensando nessa gente maluca que sai por aí colocando filhos de papel no mundo; e nessa
esperança maluca que depositamos em cada um deles; e nessa vontade de sair adotando, apadrinhando, brincando com eles; e também nessa vontade estranha que uns têm de sair parindo mais e mais, e outros não. Fiquei pensando na decisão soberana de parir ou não parir. No gesto de resistência que é, em tempos tão estranhos como estes em que vivemos, ter de fazer esta escolha. No fim, acho que fico com essa: a gestação de um livro menos como gestão e mais como gesto. Um gesto torto que a gente agarra no ar, guarda e cuida.
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Paulo Silveira > interlocutor 35
Impressões numa hora dessas? De minha parte, totalmente mergulhado na intersecção entra a arte e a pesquisa, tenho muito boas percepções sobre o Encontro de Publicadores, em São Paulo. Aconteceu numa bonita sexta-feira, 2 de setembro de 2016. Portanto, escrevo um pouco tarde, final de outubro, quase dois meses depois. Gostaria de fazer um relato mais crítico, já que tenho claras na memória as emoções sentidas, mas infelizmente não pude estar presente nas primeiras discussões, pois cheguei a São Paulo no mesmo dia, no final da manhã. Ainda foi possível almoçar com algumas amigas, trocar ideias. À tarde, acompanhei as conversas, atentamente, curioso sobre que dificuldades e situações seriam postas em discussão. Participei da mesa sobre relações com a investigação acadêmica, assunto que toca diretamente meus afetos e convicções. Não tenho certeza que tenha sido um tema universal. Talvez a pesquisa tivesse um interesse menor do público, se comparada a outras questões. É compreensível (embora não desejável). Se o debate não era novo, parecia novo, com cara de primeira vez. Talvez a maioria dos presentes até já tivesse participado de atividades críticas como essa, um encontro organizado com método e propósito, mas, de fato, parecia uma primeira vez. Acho que a intuição era o conselheiro dominante nas decisões e relatos de produção e venda, o que para o campo artístico não causaria surpresa. Além da identificação desses primeiros passos gerenciais, vi, consternado, que muitos de nós, muitos, prosseguíamos aparvalhados com o sumidouro político em andamento no país. Em muitos momentos, perdíamos o foco nos nossos temas específicos, o que não poderia acontecer. Ficava difícil buscar
uma objetividade que pudesse dar conta do gerenciamento dos problemas de... gerenciamento. Empreendedorismo é necessário para quem produz, editora, publica, estoca, divulga, comercializa, faz circular sua produção. Enfim, é disso que se trata, mesmo que o empreendedorismo reivindicado se proponha a ser alternativo e independente, se é que isto existe. Disposição e iniciativa precisam de ânimo, motivo pelo qual a troca solidária de informações se reveste numa meta imediata. Que informações? Financeiras, comerciais, logísticas, trabalhistas, teóricas, artísticas, estéticas, éticas... e o que mais for necessário. A pergunta prossegue: com tanto espaço livre e recursos multimídia na rede, por que tanta gente se mantém interessada na publicação impressa? Dúvida saborosa, sobretudo para quem gosta do papel. O que está acontecendo justifica reflexões e, mais do que antes, demanda cooperação entre aqueles que compartilham ideais parecidos. O Encontro de Publicadores terá sido um sucesso se houver um novo no futuro, talvez em setembro de 2017, um ano após o que acabou de ocorrer. Se não houver outro, este terá sido um caso isolado, um evento falho, talvez uma frustração. 36
"Minha pesquisa de mestrado foi realizada a partir da relação conflituosa que os artistas tinham com o formato livro, ora aceitando o livro como uma possibilidade comunicacional, estratégica, ou relacional, ora atacando esse livro (destruindo ou negando). No doutorado, numa aproximação com a estética e a retórica, estudei a obra de arte a partir de um ponto de vista narrativo" Paulo Silveira
"A parentesis se confunde com uma prática artística e curatorial minha. Me interessa fazer livros/impressos. A parentesis é um encontro bastante produtivo. Na universidade há um formato de apresentar a pesquisa muito rígido. A parentesis é uma maneira de realizar outra prática, de extrapolar as paredes da sala de aula." Regina Melim
Regina Melim > interlocutora *Esta é a reprodução do editorial da HAY 5, revista produzida na disciplina Outros Espaços da Arte, ministrada por Regina Melim, no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Centro de Artes, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, no primeiro semestre de 2016. O cartaz espero tua (re) volta integra a série escritório, do artista Leto William
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ESPERO TUA (RE)VOLTA*
Advertência Pese ao fato da semelhança sonora, entre AI5 (1968) e Hay 5 (2016) não há coincidência, mas combate e repúdio. Dada a situação atual, não mais de golpe militar, mas político e jurídico, a presente edição propõe uma revisão de sete projetos artísticos, editoriais e curatoriais criados entre 1968 a 2002, todos com a clara noção de que o lugar da transformação artística é, também, o da transformação política. Entre conversas, textos, proposições fictícias, tradução, transcrição e reprodução, esta Hay propõe a retomada de aspectos políticos, estéticos e críticos do I Ciclo de Debates da Cultura Brasileira, do espaço Capacete Entretenimentos e das revistas Arte em São Paulo, Gávea, item, Número e Recibo. A questão fundamental para todos esses projetos é a criação de outros meios de circulação da arte, dos artistas, da crítica e da história da arte – daqui e de lá. Ainda que possa parecer ambíguo, é preciso considerar que são muitos os fatores que limitam a continuidade de projetos autônomos como os citados acima, mas é também por seu caráter efêmero que é possível travar batalhas importantes: dizer coisas até então pouco ditas, não ditas ou “malditas”.
Em 1981, Luiz Paulo Baravelli comprou uma pequena impressora offset. Em 1985, Carlos Zílio se apropriou da identidade gráfica da revista October. Em 1995, Ricardo Basbaum escreve Escultura Carioca / Debate. No início de 2000, Afonso Luz, Carla Zaccagnini, Cauê Alves, Daniela Labra, Fernanda Pita, Fernando Oliva, Guy Amado, João Bandeira, José Augusto Ribeiro, José Bento, Juliana Monachesi, Paulo Martins Werneck, Taisa Palhares, Tatiana Blass, Tatiana Ferraz e Thaís Rivitti, cruzando funções “da zaga à ponta esquerda”, discutem como buscar lugares para mostrar suas pesquisas e colocar em prática suas experiências em arte. Em 2002, Traplev inicia um projeto de uma publicação experimental para circular projetos e dispersar ideias relacionadas às práticas de artistas. Nasciam, respectivamente, as revistas Arte em São Paulo, Gávea, item, Número e Recibo. Movidas pelo desejo de “criar e reforçar os canais de manifestação e debate”,
“desarticular a tradição dominante na História da Arte Brasileira que era baseada em uma visão centrada no levantamento e sistematização de informações empíricas”, “construir um espaço de intervenção”, “pensar a circulação e quais eram os (novos) lugares, os (novos) agentes, os (novos) públicos”, “provocar, criar e questionar o circuito”, essas revistas reforçaram os próprios espaços de manifestação e debate no país. Nas suas páginas, jovens artistas e pesquisadores independentes afiaram os seus instrumentos e desafiaram os esquemas conceituais vigentes. Destas, apenas Recibo continua. Em 1998 Helmut Batista cria o Espaço P, hoje Capacete Entretenimentos, “a vida pós-apocalíptica, pós-antropocena, depois do fim da eletricidade, da internet, da água”. Para o Capacete interessa o percurso como estratégia para criar realidades diferentes, ou modificar as já existentes. Define seu modo de operação com o slogan: “o agenciamento é seu próprio conteúdo”. Como lugar de encontro – não hierárquico e coletivo – o Capacete funde espaços e tempos. O lastro é parte de sua ideologia, de suas estratégias de produção de conhecimento por vias empíricas. Para Helmut, ou para o Capacete, não há distinção entre a vida de cada dia e os programas culturais por eles desenvolvidos: domingo com crianças; jantares; palestras; residências; exposições; publicações; escolas; grupos de estudos, isso porque o Capacete “parte do princípio de que os momentos mais importantes acontecem nos entre-espaços e entre-tempos e de formas flutuantes e instáveis e, portanto, de forma imprevisível e incontrolável”. Exatamente três décadas antes, em 1968, irrompiam no Brasil, após um golpe de estado, os anos mais duros da ditadura militar e, paradoxalmente, um dos mais experimentais da produção cultural brasileira.
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Vivia-se em estado latente de “apocalipopótese”! No Rio de Janeiro – palco da vanguarda brasileira, segundo Frederico Morais –, entre o desbunde e a militância, uma série de programas e intervenções artísticas passaram a ocupar os espaços públicos da cidade no período. Principalmente, de 1969, com o Arte no Aterro, a 1971, com os Domingos da Criação, o que se viu foi uma estridente “força-tarefa” por parte de artistas e profissionais da cultura, primeiro, e dos cidadãos-públicos-participantes, por conseguinte, em discutir e reinventar o sentido de arte e de espaço público. Mas se os primeiros anos de chumbo, como ficou conhecido o período mais repressivo da ditadura militar (1968-74), produziram respostas críticas que foram definitivas para a história da arte brasileira, e que alimentam o nosso imaginário até hoje, os anos finais, que precederam a chamada ‘Distensão’, foram de total apatia, ou de um longo e insuportável “silêncio coletivo”. Durante oito semanas, toda segunda-feira, entre os dias 7 de abril e 26 de maio de 1975, o Teatro Casa Grande do Rio realizou o I Ciclo de Debates da Cultura Brasileira. Com o intuito de sair do estado de letargia e debater sobre a situação e as problemáticas da cultura no Brasil naquele momento, o encontro reuniu mais de trinta convidados – entre artistas, músicos, escritores, jornalistas, diretores de teatro, atores, etc. – e cerca de 1400 pessoas por sessão. A iniciativa, que acabou se espalhando por várias cidades do país, e sobre a qual pouco se sabe, embora tenha sido sediada num teatro, era “a própria negação do espetáculo”. O que ali estava presente eram apenas “duas velhas e surradas atrações - as palavras e as ideias”. E uma pergunta que permeava todas as sessões e que não conseguia silenciar: “O que fazer?”. Um ano depois, em 1976, quando as conversas do Ciclo deram origem a uma publicação, a resposta veio à tona: fazer.
Juntamente ao material aqui reunido: conversas, fragmentos, textos etc., outro enredo se desenrola. Recentemente, 2013, ano do Amarildo, uma emissora revelou sua participação no golpe de 1964. Coincidências à parte, nesse mesmo ano o povo foi para a rua (abaixo a rede globo!). No Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, um ano depois do golpe de 1964, acontecia Opinião 65. Confirmava-se o refrão, “o morro não tem vez”. Parangolé, Hélio Oiticica e passistas da Mangueira, (fora daqui!). Impossível lembrar-se do MAM-RJ de fora, o outro MAM, sem mencionar Frederico Morais e os Domingos (1971). A cidade a cantar: “incorporo a revolta” – parangolé. Em São José dos Campos/SP, 2012, moradores da ocupação Pinheirinho para defender seus corpos e suas residências improvisam armaduras: tambor de plástico como escudo, pedaços de tubos como caneleiras e capacetes de motociclistas como elmo. Também em 2013, nossa tão incorruptível, imparcial e ultimamente elogiada Polícia Federal e Justiça Federal (braço forte do poder da propriedade, dos “donos da terra”) assassinou a tiros o índio terena Osiel em uma desocupação da fazenda Buriti (leia-se Terra Indígena Buriti) em Sidrolândia no Mato Grosso do Sul. Por tudo isso, diria Millôr Fernandes, “o mundo nunca foi tão pouco violento; a gente é que nunca foi tão bem informado”. Enfim, no mundo do espetáculo, no qual áudios vazados estão em voga, “a ausência de imagens lhe incomoda?”. Em 2015 temos mais três episódios: o rompimento no dia 05 de novembro da barragem de rejeitos da mineradora Samarco localizada no município de Mariana em Minas Gerais; o início da ocupação das escolas estaduais em São Paulo no dia 10 de novembro pelos estudantes da rede de ensino público em protesto ao projeto de reestruturação do ensino
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público estadual que previa o fechamento de escolas estaduais; a abertura, no dia 02 de dezembro, de processo de afastamento da presidenta Dilma Rousseff autorizado pelo então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (canalha). O primeiro episódio é o resultado do descaso dos seres viventes (espécie humana) com o meio ambiente. Em todos os pontos cardeais a pedra de torque da humanidade continua sendo o desenvolvimentismo. O segundo episódio um alento, uma fagulha de resistência provocada pelos corpos em ação de desobediência. O terceiro episódio, o pedido de impeachment (leia-se golpe ), está mais próximo do desastre. #ForaTemer (golpista), “escândalos por toda parte”. Uma vez mais a ideia não é outra, qual seja: indicar, “criar e reforçar os canais de manifestação e debate”, extrapolando jargões, da arte na arte, da vida na vida, da arte na vida, da vida na arte e além. Para os dias do presente, reiteramos: espero tua ( re ) volta .
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Márcio Sno > relator 45
A arte de falar com os nativos
Pesquisar publicadores independentes no Brasil ainda é para poucos, principalmente porque há poucos candidatos enveredando nessa missão. A princípio, parece um trabalho simples, mas, em campo, a coisa pega. Isso porque os personagens estão vivos. E lidar com pessoas vivas não é fácil. Ainda mais quando muitas interrogações se fazem presentes. É preciso de alguém com coragem, disposição e muita paciência. Quando estava pesquisando e produzindo o documentário Fanzineiros do século passado, quase desisti por conta do assédio de pessoas que queriam, de alguma forma, palpitar: “deveria falar sobre tal assunto”, “deveria entrevistar fulano, cicrano e beltrano” e, ainda, “você deveria me entrevistar”. Difícil. Ainda mais pelo fato de ter sido uma pesquisa independente e sem patrocínio: era câmera debaixo do braço e gravando! Foram 82 entrevistas, horas decupando e editando, escolhendo trilha sonora... Muita gente reclamou que não tinha isso, faltou aquilo. Até aí, tudo bem. O fato é que ninguém ousou fazer algo para complementar ou contestar o que foi feito. Paciência. Esse documentário surgiu no meio das pesquisas que eu fazia para o livro O universo paralelo dos zines, que foi feito de forma também autônoma: vasculhei a internet, aprendi inglês para adquirir dezenas de livros importados (o que abriu muito meu campo de visão e um rombo no orçamento) e a vivência de mais de vinte anos com zines. Foram várias escritas
e reescritas. Encerrei o texto no final de 2013 e só lancei o livro dois anos depois, com verba de uma rescisão. Obviamente muita coisa mudou nesse ínterim, mas se eu revisasse uma vez mais, teria que mexer em muitas coisas. Ficou como estava. Até que reclamaram menos dessa vez. Em um meio que está em constante formação e transformação, cada dia surgem mais questões a conclusões no estudo sobre publicadores e publicações independentes. É quase um labirinto no qual o pesquisador sempre encontrará caminhos diferentes, pode voltar ao início, ficar preso em um canto, andar em círculos. Talvez precise de alguém que pesquise os pesquisadores. O que deve ser um desafio bem maior: imagina pesquisar gente viva que pesquisa gente viva... Não, não será fácil.
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Walter Costa > relator 47
Cubo branco
Hoje decidi visitar uma exposição. Avisaram-me que seria bem diferente, então, saio de casa levando igual dose de curiosidade e ceticismo. Escutar Paulinho da Viola no metrô vai me ajudar a abrir a cabeça; melhor salvar para escutar off-line, não vai ter sinal. Chegando ao prédio ninguém me cobra entrada nem pede para deixar a mochila no guarda-volumes. Pego um folheto e começo a passear pelas salas. Tem muita gente, mas não tem linhas nem fios de contenção. Nenhum alarme apita se me aproximo das obras, nem tenho que encarar o olhar severo de algum vigia. Com grande surpresa, não encontro apenas obras, mas também os artistas interagindo com os visitantes. Eles contam anedotas, compartilham dores e felicidades que todo processo criativo tem, mas que normalmente ficam escondidos e calados por detrás da obra, quase como se estivessem materializando-se assim de repente. O barulho é burburinho vivo de ideias sendo trocadas, do nascimento de amizades e talvez amores. Os rebanhos de visitantes correm soltos pelos pastos de papel. Livres do silêncio austero, das audioguias e do medo de não entender o que se supõe que deveria ser entendido. Todo mundo deixa suas digitais sobre as obras que estão aí justamente para isso. Folheadas por entusiastas, analisadas por outros artistas e pesquisadas por investigadores, que, por algumas horas, se livram da solidão das bibliotecas e escrevem anotações para teses enquanto marcam brejas para depois. Somos todos cachorros felizes que cheiram papel e traseiros, pulam, vagam, descobrem. Poucos notam que sim, não é um cubo branco, mas o cubo está cheio de brancos. Muitos estão mais ocupados olhando
tamanho abanar de rabos que não reparam que tem pouca cauda preta. Acaso todos os cachorros são iguais mas os cachorros brancos são mais iguais que os outros? Quem e por que ficou para fora? Pela primeira vez posso levar para casa as obras de que mais gostei. Obras que outros amigos também podem ter e que sobrevivem às montagens e desmontagens ditadas pelos inexoráveis calendários dos museus e das galerias. Amor, hoje fui ver uma exposição!
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Para fechar o encontro, propusemos um tema muito discutido atualmente: as feiras. Convidamos diferentes organizadores de feiras para trazerem suas experiências e refletir sobre os formatos de circulação de publicações, possibilidades de sustentabilidade, modelos de gestão e curadoria.
junto a
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Luana Navarro > interlocutora 55
Para ler em voz alta dentro de uma feira Feira de roupas Feira de roupas de inverno Feira de roupas de verão Feira de cursos e profissões Feira de artesanato Feira de oportunidades Feira de turismo Feira de arte impressa Feira de noivas Feira de energia Feira de arte indígena Feira de fotografia Feira de negócios Feira de arte contemporânea Feira de legumes, frutas e verduras Feira de carros Feira de moda Feira de móveis Feira de franquias Feira de arte autoral Feira do mundo animal Feira do camarão Feira de bijuterias Feira da gestante Feira de café Feira de nutrição Feira de carnes Feira de cabelos Feira de tubos Feira de máquinas Feira de chocolates Feira de orgânicos Feira de piscinas Feira de spas
Feira de música Feira literária Feira de produtos cristãos Feira de meias Feira de publicações de artista Feira de gastronomia Feira de imóveis Feira anarquista Feira de natal Feira de páscoa Feira LGBT Feira de cervejas Feira de tecnologia Feira de flores Feira da beleza Feira de jogos Feira de instrumentos Feira de calçados Feira da saúde Feira de quadrinhos Feira de doces Feira de decoração Feira agropecuária Feira do poeta Feira de vinhos Feira de artes marciais Feira de brinquedos Feira do mármore Feira de livros Feira erótica Feira de feiras
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Valeria Mata > interlocutora
CREAR MÁS ESPACIOS DE POSIBILIDAD ACTIVISMO CREATIVO // CIRCUITOS ALTERNATIVOS // ENSAYAR NUEVAS PRÁCTICAS PROVOCAR IMAGINARIOS MÚLTIPLES // ABRIR EN VEZ DE CERRAR
GENERAR UNA MAYOR VISIBILIDAD DE MINORÍAS SOCIALES
¿ES EL PROCESO CURATORIAL REDUCTOR Y EXCLUYENTE? BUSCAR UNA MAYOR TRANSPARENCIA Y DINÁMICAS QUE PROPICEN LA INCLUSIÓN
IN-DIS-PEN-SA-BE: CONSTRUIR PARCERÍAS Y REDES TODOS INTERDEPENDEMOS
¿PUEDEN LOS PROYECTOS RESPONDER A LOS INTERESES DE LA POBLACIÓN? // ¿EXISTE UNA POBLACIÓN EN GENERAL?
¿CÓMO CONSTRUIR PLATAFORMAS DE DIÁLOGO HORIZONTAL?
¿CÓMO SALIR DE LOS ESPACIOS CONSAGRADOS DEL ARTE? // ¿CÓMO CONSTRUIR NUEVAS FORMAS DE HACER POLÍTICA DESDE EL ARTE Y LA CULTURA?
¿PARA QUIÉN PRODUCIMOS Y DESDE DÓNDE?
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“El artista no es un tipo determinado de persona, cada persona es un tipo determinado de artista”. A.K. Coomaraswamy
Rachel Gontijo > interlocutora
Pão de Forma é um projeto e uma de suas manifestações é a feira. Tem também a Fatia, a Margarina... enfim, várias ações. A Fatia é um verdadeiro diálogo de quem está publicando e fazendo. Ela é mensal. Margarina é um ciclo de conversas ao vivo e um ciclo de entrevistas via Skype com fazedores de arte impressa. Em uma feira Pão de Forma, ocupamos uma casa em Botafogo que não estava sendo usada havia um bom tempo, e que tinha uma piscina no meio. Essa piscina foi a possibilidade de uma desconstrução de uma geografia do que a gente geralmente imagina quando pensa em feira. Achamos (A Bolha + Comuna) que era uma boa oportunidade. A esperança era que não tivéssemos prejuízo.
Transcrição de parte da fala da interlocutora no dia do encontro.
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As feiras não solucionam, não estão aí para solucionar problemas de distribuição dos editores, estão para fortificar o diálogo entre os fazedores, catalisar outras movimentações. E essas movimentações não são de mercados tradicionais. Temos que começar a pensar ao contrário, não habitar o mercado existente, descontruir, pensar constantemente... Não formar um novo mercado, mas dialogar continuamente uma forma de trabalharmos juntos. Não existe uma questão de competição. As feiras não são centros de poder, e a parceria qualitativa é uma das suas funções. Sabemos a luta que é. Precisamos humanizar. Este é um ano de questionamento, e decidimos não fazer a feira, a Pão de Forma existe conforme a necessidade. A feira tem um processo de escolha sim, não aceita todas as inscrições mas possibilita
o acesso de muita gente. O nosso papel é abrir espaço. É uma movimentação de resistência. É extraordinário. Existe uma série de possibilidades que a gente ainda nem pensou. Quando uma pessoa não é chamada para uma feira, não deve se preocupar, nem tomar isso como uma rejeição do trabalho que vem desenvolvendo. Há uma série de movimentações acontecendo em todos os estados do Brasil. Temos que abrir espaço constantemente.
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Amelia Santana > relatora 63
Sobre las perspectivas de circulación Cuando llegué a la Oficina Cultural Oswald de Andrade acababa de bajarme del avión. Había pronunciado mis primeras palabras en “portuñol” cuando me encontré con el inicio de la charla Perspectivas de circulación (caminos concretos y utopías) y pude rápidamente conectar con la pasión de las distintas propuestas. Allí estaban los representantes de Feira Baronesa (Curitiba, Brasil), Feira Tijuana (São Paulo, Brasil), Mueve (Ciudad de México, México) y Feira Pão de Forma (Rio de Janeiro, Brasil). Conocí la propuesta de Mueve, un proyecto itinerante, alternativo, independiente y rebelde de circulación de libros de artista en México. Con una especie de carretilla viajan por distintas ciudades del país y se instalan en azoteas, restaurantes y otros espacios, mostrando libros de artistas independientes y generando un diálogo alrededor de los mismos. La carretilla, pensé, es como un libro de artista, un espacio de conexión, de creación de vínculos. Una propuesta vital de construcción de comunidad que necesitamos con urgencia en toda Latinoamérica. Luego escuché las experiencias de las ferias brasileras en Curitiba, São Paulo y Rio de Janeiro. Pude entender que estas ferias, que nacieron también como plataformas alternativas de circulación, se encuentran ahora en un proceso de transformación. Están creciendo y descentralizándose, y se vuelve un reto mantenerlas año a año cuando aumenta el público y la producción, y no necesariamente los presupuestos (si es que los hubiese). Están en un punto de inflexión donde el enfoque en la formación y mantenimiento de públicos y el trabajar a través de redes adquiere mucha relevancia. Este es un trabajo de todos y no solo de los gestores de ferias, pienso.
No cualquiera puede crear y manejar una feria de libro de artista. Hay que tener una sensibilidad especial no solo para crear y gestionar sino también para conectar. Otro de los retos planteados en la charla fue la necesidad de democratización y de transparencia de estas ferias. ¿Es la curaduría antidemocrática? ¿La curaduría convierte a una feria en una galería? En términos generales cada feria tiene su propio espíritu y, por ende, busca visibilizar proyectos que estén alineados con ese espíritu; cada feria tiene una capacidad, y eso también genera la necesidad de una curaduría. Por ello, el que haya curaduría no debería desmerecer la razón de ser de la feria ni su independencia, por el contrario, tiene que ver con un enfoque y una consistencia. Pero si surgen estas preguntas, es señal de que hay artistas o proyectos que se están sintiendo al margen. Y es crucial tomar nota de esto y buscar los mecanismos para una comunicación abierta y clara con estos actores sobre los procesos y criterios de selección. Finalmente, mientras no se pierda de vista el espíritu y la razón de ser de las ferias, seguirán siendo una fuente invaluable para este sector editorial. Me llevo de esta experiencia la necesidad de una búsqueda de conexión y movilización. Desde la experiencia local y comunitaria de Mueve que recorre las calles promoviendo el libro de artista, hasta las ferias y cada uno de los que actuamos en ellas y en este sector por amor y pasión por los libros de artista.
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Carolina Sinhorelli > relatora 65
Você aqui, de novo. Que bom.
Os livros são apenas uma performance teatral que você pode levar para o banheiro com você. Não há nenhum lugar em que você não possa ler um livro.— Lawrence Weiner
As situações são tão múltiplas, ainda assim, parece impossível que todos os encontros não desviem para um relato pessoal, além da (ou bem junto à) situação atual de pesquisadora. Estou voltando para Porto Alegre, depois de sair da Flamboiã II, em Florianópolis, onde fui encontrar amigos que fiz em São Paulo (em duas outras feiras ou em um programa de encontros sobre publicação), e de carona com outros amigos que lá expuseram. Dolorida por carregar tapumes quando ajudava a fechar a feira, mas com algumas certezas de que duvidava. Mais uma vez, tinha presenciado um movimento intenso de gente que está apostando muito seu tempo, acreditando e segurando peso, nesses breves, porém bastante intensos, espaços de encontro que têm sido as feiras de publicação. São recorrentes os relatos dos participantes sobre a criação de novas amizades, parcerias, publicações amigas, parcerias publicadas, novas feiras, feiras fantasmas. Seja de Recife, da Cidade do México, da Colômbia, ou meus amigos da faculdade em Porto Alegre mesmo. Por um prédio gigante de uma arquitetura singular em um bairro pacato ou residencial ou misto ou tradicional, seja coreano ou seja judeu, ou uma casa com uma piscina no meio, um museu com oficinas de gravura, máquinas antigas de trabalho e um teatro, um museu chamado de palácio ou um centro cultural chamado de Casa do Povo, ou mesmo um carrinho que estabelece uma condição móvel para o lugar. São circuitos de conflitos e congregações: o
que parece muito feito para estar disperso se mostra cada vez mais baseado no contato. Seja nas condições de aperto ou na festa que se faz durante e depois, novos afetos sempre são mencionados. Fala-se muito sobre a utopia. Talvez um pouco pareça, talvez esteja um pouco mais próximo do real. Ouve um dizer: não faço mais isso sem dinheiro. Outro: fui para trabalhar e me diverti muito. Ou escuta o Itamar: viver somente de amor é tão lindo quanto precário.
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Paola Fabres > relatora 69
Utopia quase impressa
“O ato de publicar é um ato de resistência.” Foi uma das primeiras frases que eu escutei quando começou o encontro. Acho que todo mundo concordava com essa ideia. Ou, pelo menos, queria concordar. O elo que ligava quem estava ali era essa vontade de resistir. Era, também, o interesse pelo impresso independente e por esse formato de criação simbólica, mas, principalmente, era a crença na publicação como um canal político de comunicação. Como ativar esse canal? Não bastava o juízo de consciência social na página impressa. Não se tratava apenas de defender uma pauta progressista ou uma linha ideológica coerente na eleição de conteúdo. Todo o pensamento embutido, todo o encadeamento metodológico, toda a criação e produção que fazia parte da prática editorial haveriam de estar de acordo com premissas da resistência. Foi um pouco sobre isso que se deteve o debate. Isso, e tudo o que isso implica. Como publicar? Como encarar a experiência da publicação a partir de um ângulo que repense não apenas o discurso, mas o próprio laboratório? Como apagar a hierarquia e organizar processos de forma plana, horizontal – e não reproduzir padrões normativos, ainda que nós mesmos façamos parte deles? Queríamos ressoar esse valor e lograr o trânsito dessa voz coletiva. Sobreviver à opressão mercadológica, à frieza coorporativa, à ditadura institucional. Queríamos solucionar a insuficiência orçamentária e desenhar caminhos concretos de circulação a partir de utopias que eram por nós compartilhadas. Queríamos nos sentir mais independentes do que de fato éramos, e saber o que fazer com a autonomia que nos restava. Que independência era essa? Poderíamos nós promover espaços livres de ideias itinerantes? Vasos
comunicantes que tentam – pelo menos tentam – aproximar o que é segregado? A publicação pode ser um decreto. Um decreto de ocupação pública. Queríamos isso. Estávamos ali para articular essa ocupação e repensar as regras, propor outras manobras; mas reconhecíamos nossa miudeza. Éramos ingênuos porque queríamos vencer sem nem querer entrar no jogo. Sair da fronteira, acessar o bairro, a rua, o banco. Sair do contorno urbano e chegar aonde ninguém lembra de ir. O que a gente queria mesmo era um outro jogo. Mas idealizar faz parte e pode ser o primeiro passo. Foi uma tarde de idealização, como todas as que enfrentamos. Foi uma tarde de exercitar o esforço de conciliar nossas próprias quimeras com o impasse que nos atravessa todo dia.
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encontro de publicadores
2.9.2016 Oficina Cultural Oswald de Andrade pré - projeto Tenda de Livros organização Tenda de Livros, Edições Aurora e Zerocentos Publicações produção Julia Moraes e Marcelo Heleno facilitadores Fernanda Grigolin, Júlia Ayerbe, Laura Daviña, Luana Minari e Sebastião Oliveira Neto interlocutores Ana Luiza Fonseca, Edições Aurora, Feira Baronesa, Feira Tijuana, Mueve, José de Souza Muniz Júnior, Paulo Silveira, Pão de Forma, Regina Melim, Tenda de Livros e Zerocentos Publicações foto e som Julia Moraes entre, à maneira de, junto a publicadores
Fernanda Grigolin e Júlia Ayerbe Júlia Ayerbe metodologia e transcrição Fernanda Grigolin projeto gráfico Laura Daviña relatoria texto Amelia Santana, Carolina Sinhoreli, Marcio Sno, Nathanael Araújo, Paola Fabres e Walter Costa relatoria visual Melina Resende, Rafael Moralez e Vânia Medeiros relatoria on - line Heloisa Angeli, Jéssica Andrade, Joyce Melguiso Toth, Marina Feldhues e Silvana Beraldo [www.projetopublicadores.wordpress.com] suporte relatoria Arte Contexto revisão Rodrigo Jorge e Ieda Lebensztayn desenhos Vânia Medeiros; trechos selecionados com textos de Fernanda Grigolin pp. 14-15, 58-59, 67 fotografias Julia Moraes pp. 21-23, 40-42, 45, 76-77; Melina Resende pp. 72-73, 77; Rafael Moralez pp. 24-25, 50-51, 76-77 encadernação e sobrecapa Zerocentos Publicações impressão Edições Aurora / Publication Studio São Paulo assistente Marina Marchesan organização edição
pesquisa publicadores
Tenda de Livros, Edições Aurora e Zerocentos Publicações Júlia Ayerbe Fernanda Grigolin e Júlia Ayerbe
elaboração de questionário tradução análise
isbn
978-85-5688-005-5
Entre, à maneira de, junto a publicadores é resultado do Projeto Publicadores, uma iniciativa da Tenda de Livros, Edições Aurora e Zerocentos Publicações, e realizado graças ao apoio da Oficina Cultural Oswald de Andrade. Gostaríamos de agradecer primeiramente à Oficina Cultural Oswald de Andrade, especialmente a Michelle Gonçalves, Nina Knutson e Marcelo Heleno de Oliveira, por todo o suporte, a abertura e o apoio. Aos interlocutores, relatores e participantes do Encontro de Publicadores pelo empenho e presença. Aos 310 publicadoras e publicadores espalhados pelo mundo que responderam nosso questionário; a Laerte Andrade pelo suporte técnico na realização dos gráficos. Leia mais em: www.projetopublicadores.wordpress.com
apoio
Este livro foi composto em Stanley e impresso em risografia pela Edição Aurora / Publication Studio São Paulo sobre papel alta alvura 75g/m2. A sobrecapa foi realizada em serigrafia sobre papel alta alvura 120 g/m2. São Paulo, dezembro de 2016.
Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Argentina Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil
Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil
Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil
Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil
Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil
Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia
Espanha Espanha EUA México México México México México México México México México México México México México México México México Paraguai Peru Peru Peru Portugal Portugal Uruguai Venezuela Venezuela
pesquisa
Esta pesquisa foi uma realização autônoma de Tenda de Livros, Edições Aurora e Zerocentos Publicações, e sua principal motivação foi conhecer o cenário dos publicadores independentes da América Latina, desde o seu perfil, até como distribuem, como sustentam sua produção, o que pesquisam etc. A formulação do questionário foi um processo experimental em grupo e de não especialistas. Após muitas discussões, fechamos um longo questionário e fizemos uma chamada online por um mês, divulgando por nossas redes. Recebemos 310 participações, entre elas, 46 de outros países da América Latina. Olhando para os resultados percebemos o quanto é importante trocar e dialogar entre quem produz, edita e circula arte impressa. O retorno foi enriquecedor e gratificante e temos certeza que é o começo de algo. Entendemos também que houve falhas, e que apesar de uma grande quantidade de respostas, não conseguimos abraçar completamente a diversidade. Quais seriam as soluções para atingir um panorama mais diverso? Questões como essa são, no fim, o intuito deste impresso, que oferece gráficos e uma pequena análise. Não fomos em direção a verdades ou explicações, mas na abertura de problemas, tentando no fim nos conhecer melhor e criar novas possibilidades de conexão.
identificação A pesquisa iniciou com questões sobre o que seriam os dados pessoais dx publicadorx. Decidimos incluir, além de questões comuns como nome, local e idade, perguntas sobre gênero, questões étnico-raciais e de orientação sexual e afetiva. Essa decisão foi tomada por entender que, em um mapeamento, seja ele qual for, é importante entender o lugar de fala de cada entrevistadx, principalmente num contexto latino-americano, onde há, de forma evidente, desigualdades sociais e segregações relacionadas a questões étnico-raciais, de gênero e orientação sexual. A inclusão dessas questões na pesquisa gerou desacordos entre os que responderam. Muitos se pronunciaram surpresos com as perguntas e questionaram sua pertinência, como no caso da questão sobre orientação sexual: “No aplica; privado; achei curiosa, a pergunta realmente importa??; isso interfere na atividade profissional?; isso muda a qualidade da minha publicação????; não te interessa prefiro não responder.” No caso de etnia, uma pessoa questiona: “Por que seu interesse nessa pergunta????” O que podemos inferir é que, para certo grupo, a orientação sexual é tema de âmbito privado que não deve ser conectado à prática da publicação. Questionar se isso altera a qualidade da publicação ou se interfere na atividade profissional mostra que esse tipo de questão precisa ser
melhor trabalhado numa pesquisa, e que, mesmo que a intenção seja entender se um circuito, como o de publicações, é diverso, ficou claro que parte desse circuito acha que isso deve ser considerado. Com relação a Estados e regiões, percebemos no Brasil que a concentração de publicadores está em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Pernambuco. Em sétimo lugar, vêm empatados Paraná e Brasília. Apesar da regionalização, São Paulo contou com 140 respostas, o que já são 54%. É importante salientar que esse resultado fala sobre uma concentração na região Sul e Sudeste já conhecida, mas não quer dizer que exista uma falta de publicadores em outras regiões do Brasil. A pesquisa foi organizada por publicadores pertencentes a essas regiões e talvez não tenhamos conseguido chegar a um público que resida em outras áreas do país. Com relação aos publicadores internacionais, foi interessante notar que, mesmo o foco sendo para publicadores latino-americanos, houve respostas da Espanha, de Portugal e dos Estados Unidos. Não sabemos se são cidadãos latino-americanos que vivem em outros países ou não.
1.identificação 120
idade
0.6%
0.3%
100
0.6%
80 5.2%
60
0.6%
40
1.6%
20 0
20-30
30-40
40-50
50-60
60-70
1.0%
70-80
82.6%
país de origem
0.8%
0.3%
0.3% 6.8%
0.4%
0.4%
0.4%
1.1%
0.4%
0.4% 1.6% 3.9%
1.6% 2.7%
estado de origem
0.4%
6.2% 8.6%
2.7% 9.4%
gênero
54.9% 3.9%
masculino (45%) outros (4%) feminino (51%)
heterossexual (70%)
orientação sexual
brancx (68%)
etnia/raça
outros (7%)
outros (9%)
bissexual (12%)
indígena (1%) oriental (3%) negrx (5%)
homossexual (14%)
pardx (14%)
perfil Ainda em relação a gênero, etnia e orientação sexual, repetimos essas questões para entender o perfil da editora ou coletivo. Questão: “Caso você represente um coletivo ou editora, informe o número e etnia dos integrantes mulheres; homens; transgêneros”, sendo elxs classificadxs como “brancx, negrx, pardx, indígenx, migrantes”. Como podemos ver no gráfico, a maioria que respondeu é artista, mulher, branca e atua sozinha. Vimos, ao contrário das respostas negativas, que esses questionamentos são importantes para outrxs publicadores: Hola, respecto a la encuesta me parecio bastante sorprendente de que exista y las preguntas realizadas, creo que pone en evidencia problematicas muy claras y falencias que personalmente me gustaria ir revirtiendo (ejemplo de ello es que de mas de 10 publicaciones realizadas 2 son mujeres, 10 son hombres, 0 trans). Tambien respecto a la diversidad racial, quizas es buenos aires no hay tanta como en ciudades de Brasil, pero tambien creo que es interesante el planteo de la encuesta.
atuação Condizente com o perfil, as produções da maioria dos publicadores são “publicações de artista” e o eixo
temático, “artes visuais”. Chama a atenção que a porcentagem de cinema seja a mais baixa. É interessante ver que existem publicadores que produzem 20 a 30 ou mais por ano, um número muito elevado, tendo em vista a sustentabilidade dos editores independentes.
sustentabilidade Não foi um espanto perceber que a grande maioria dos publicadores viabilizam financeiramente suas publicações, e que em “outros meios de viabilização” os editais aparecem, junto de trabalho em rede, como o maior fomentador. Além disso, é muito interessante ver que a maioria dos publicadores possuem seus próprios meios de produção, algo que, sem dúvida, torna mais viável economicamente a publicação. No momento estou me debatendo com algumas questões: quão democráticos somos em nosso dia a dia, quão democráticos são os editais e leis de fomento para artistas que estão iniciando sua carreira e como fazer para quebrar a barreira entre a falsa ideia de democratização da nossa sociedade e um contexto mais humano e decente.
Há um dado interessante no cruzamento das respostas de “você se dedica integralmente às suas publicações”
2.perfil artista (47%)
sozinhx (53%)
outros (12%)
editorx (35%)
coletivo (20%) editorx (27%)
pesquisadorx 6%
perfil dos integrantes de coletivo ou editora (por gênero) 400
perfil dos integrantes de coletivo ou editora (por raça/ etnia) 500
indígenas migrantes
300
negrxs pardxs
200
branxs 100
0
transgênero 400
mulheres homens
300 200 100
homens
mulheres
transgênero
0
branxs
pardxs
negrxs
migrantes
indígenas
3.atuação categoria das publicações
número de publicações em média por ano
outros quadrinhos 1a5 (76%)
cartaz 10 a 20 (7%)
fotolivro fanzine
até 10 (14%) 20 a 30 ou mais (3%)
livro publicação de de artista 0
50
100
150
outros teatro cinema arquit. e urbanismo artes do corpo ciências sociais política crítica e hist. da arte ativismo poesia design literatura poéticas visuais fotografia artes visuais
eixos temáticos
0
50
100
150
200
sustentabilidade outros meios de viabilização
Porcentagem de publicações viabilizada financeiramente por conta própria
outros 50% a 70% (11%) 30% a 50% (7%) 70% a 100%
10% a 30% (5%)
(64%)
políticas públicas leis de incentivo patrocício informal trabalho em rede
menos de 10% (12%)
edital 0
meios de produção não /tercerização (36%) sim /total (32%)
você possui meios próprios de produção? outros (14%)
sim /encadernação (11%)
40
60
80
100
sustentação não (44%)
sim (56%)
sim /impressão (7%)
20
você pensa em estratégias de sustentação (para além da venda) a longo prazo para sua editora?
e “você consegue se sustentar com seu trabalho de publicador”. Se na primeira questão aproximadamente 30% diz que sim, na segunda, menos de 30% se sustenta com o seu trabalho como publicador. Provavelmente existe uma porcentagem de pessoas que não precisam se sustentar e se dedicam integralmente à edição. La gestión de una publicación o de un proyecto independiente vinculado a las artes plásticas y visuales, requiere una formación en aspectos relativos a la gestión cultural. El desconocimiento de factores relativos a la administración, dificultan que los artistas puedan sostener o llevar a cabo sus proyectos. Es necesario crear espacios colaborativos para capacitar a los miembros del sector. Las academias y universidades muchas veces descartan este aspecto, sin embargo cuando los artistas se encaminan al desarrollo de proyectos deben aprender empiricamente a través de la aplicación a convocatorias. Esta formación no debe ser empírica, ya que es necesario para el desarrollo profesional. El campo editorial es una de las ramas a las cuales los artistas se vinculan. Este espacio debe ofrecer herramientas para el sustento y desarrollo de proyectos. Uma questão que acredito ser necessária à reflexão é a questão dos custos para se publicar
atualmente. Sempre me posicionei como defensor da prática do fanzine, não apenas como uma plataforma de publicações, mas principalmente como um meio de comunicação direto e acessível. Esse tema dos custos para se publicar, para além do âmbito dos incentivos públicos e das plataformas colaborativas, acredito eu, deve ser mais trabalhado pelos artistas e publicadores.
Ainda sobre sustentabilidade, pedimos para os publicadores citarem estratégias de sustentação ao longo prazo. Entre elas, foram citadas: Tenho tentado articular uma rede de produtores independentes que trabalham de forma colaborativa, de modo a tornar os custos de produção mais justos para todos os envolvidos. Tenho pesquisado estratégias de circulação no norte/nordeste e conexões na América Latina que podem ser potencialmente parceiras na criação/distribuição dos trabalhos, insumos e matérias-primas, bem como parques gráficos subutilizados (nas gráficas antigas do centro de Recife) que podem oferecer bons serviços a custos menos exorbitantes. Tenho investigado modos de circulação/distribuição que saiam do circuito das livrarias que cobram metade do preço do livro para divulgação. Tenho investido na criação de um mailing
de interessados em publicações e na circulação/ideias por meio de cursos. CC Catalogo busca generar vínculos con agentes creativos, artistas, curadores y personajes inmersos dentro del ámbito artístico y cultural contemporáneo ya sea a través de listas de lectura comisionadas, sedes en México y al exterior, o como embajadores y patrocinadores. CC también busca generar el catálogo online más extensivo sobre publicaciones, editoriales y librerías independientes por tanto, el proyecto se encuentra abierto a todo tipo de participación e invitación a promover espacios de reflexión, diálogo y colaboración.
Outros publicadores acham urgente a criação de acervos especializados e com visibilidade em Centros Culturais e livrarias. Um editor cita isso como uma estratégia que deve ser de cunho nacional. Outro cita a iniciativa inglesa Banner Repeater: “eles ocuparam uma sala em uma estação de metrô e articulam ações para aproximar o público de livros de artista e publicadores independentes. É uma sala de leitura que recebe diversas atividades”. Uma artista acha que uma saída interessante seria a criação de cooperativas entre publicadores para pleitear espaços coletivos em grandes livrarias.
Circulação e distribuição A grande maioria distribui sua produção em feiras. Porém, quando vemos a pergunta “de quantas feiras de publicação participa por ano”, percebemos que existe uma porcentagem alta que não participa de nenhuma. Quando nos deparamos com esse dado, inferimos que era por falta de interesse dx publicadxr, porém, quando isso foi colocado no Encontro de Publicadores, notamos que essa porcentagem corresponde a pessoas que são excluídas nos processos curatoriais das feiras. Isso nos leva a perceber que as feiras existentes não dão mais conta, ou que são muito fechadas a novos participantes. De qualquer forma, uma das conclusões do Encontro de Publicadores foi sobre a importância da criação dos próprios meios de distribuição. Acho que as feiras abriram espaço para as publicações e há um público cada vez maior e mais atento a elas. Participei desde a primeira Tijuana e de lá para cá muitas mudanças ocorreram. Com um número também maior de pessoas que procuram mostrar seus trabalhos nas feiras, naturalmente as publicações tendem a ampliar seu espaço, a se firmar no mercado. Em termos de circulação, falta a absorção das publicações em espaços culturais e também em bibliotecas.
trabalho você se dedica integralmente às suas publicações?
você consegue se sustentar com seu trabalho de publicador?
não (81%) sim
não (95%)
(19%) sim (5%)
5.circulação e distribuição locais
feiras
onde seu trabalho mais circula?
de quantas feiras de publicação participa por ano em média?
outros espaço próprio
1 (14%) 2 (18%)
biblioteca 3 (18%)
livraria festival museus/centros
0 (20%)
5+ (22%) 4 (8%)
culturais universidade espaço público acervos especializados coleções particulares feira de publicação 0
50
100
150
200
distribuição
articulação
você procura criar seus próprios meios de distribuição?
sua rede de articulação vai além do seu círculo de amigos/ parceiros?
não (26%)
não (24%)
sim
sim
(74%)
(76%)
estratégias você acha importante uma articulação internacional?
quais tipos de estratégias você acha que seriam interessantes para um trabalho nacional?
sim (97%)
outros espaço receptor1
não (3%)
bibliotecas públicas2 campanha coletiva3 plataforma virtual encontros periódicos de publicadores 0
50
100
150
200
1. Com publicações da região, independente do gosto ou da moda 2. Organizada por publicadores 3. Promovida de forma colaborativa (entre vários publicadores)
formação de público
cite algumas estratégias usadas para a formação de público outros
você vê relação entre o ato de publicar e a formação de público?
propostas para além das feiras palestras / bate-papos mídias sociais internet feiras
sim
não (2%)
(98%)
debates cursos/oficinas fora do circuito cursos/oficinas espaços de arte ações na rua/ efêmeras 0
50
100
150
política você vê o ato de publicar como uma atuação política?
sim (91%)
não (9%)
além da publicação em si, você atua politicamente em algum âmbito?
não (48%)
sim (52%)
200
Mas temos acompanhado a formação de acervos no Brasil. São esses acervos que garantirão a circulação. Talvez o mais difícil ainda seja a garantia de sustentabilidade daqueles que fazem das publicações independentes sua atividade principal...
A criação dos próprios meios de distribuição também se relaciona com as estratégias de sustentabilidade para além das vendas. Há muitas ações de cooperação e articulação sendo desenhadas. Alguns acham que a autonomia gráfica é uma ação, outros acreditam importante ter sua própria loja ou espaço de venda. Há um aumento de projetos de circulações realizados por editores ou grupo de editores. Práticas e iniciativas na rua como Mueve e Tenda de Livros são comuns e almejadas. Estoy tomando un poco de la idea de Damián Ortega y su proyecto editorial alias y creando un carrito de zines con el que pueda pasear en la mi universidad y así expander un poco el conocimiento a la comunidad vivan los fans! vivan los zines! saludos! Creo que en el caso peruano, a diferencia de Chile, Argentina y Colombia donde las ferias de fanzines y publicaciones independientes suelen ser más grandes, al igual que en Brasil, acá aún falta mucho por hacer. Las ferias acá aún son chicas y/o
medianas, y el público en general aún no conoce mucho sobre fanzines ni publicaciones independientes, y eso origina que las instituciones públicas y privadas no apuesten por apoyar propuestas independientes fuera de los circuitos libreros tradicionales. Y eso limita mucho el campo de acción, ya que hacen falta locales de difusión y aptos para eventos como ferias, festivales y talleres. Tal vez el tema de los locales para eventos es un punto que ha faltado en esta encuesta.
Sobre a criação de articulação, a grande maioria acredita ser importante uma articulação internacional, e o contexto latino-americano é muito citado, há muito desejo de uma aliança entre o continente. Essas são algumas ideias: En estos últimos años, con el completo auge del internet, los lazos de editores fanzineros en la latinoamerica se han hecho más estrechos. Es momento de que la virtualidad pase a un lado y se convierta en un encuentro más real, en donde los fanzines puedan traspasar fronteras junto a sus editores de manera más activa. Participei de um primeiro seminário internacional organizado por Amir Brito pela ufmg em 2009. Estes seminários deveriam ocorrer anualmente, numa associação organizada e que circulasse, cada
ano, em uma diferente capital do Brasil, como forma de descentralizar, seguida de publicação das palestras, atividades e mesas redondas! Forma de catalogar a produção e pensamento sobre este campo poético! Plataformas web que contengan las publicaciones por región. Eventos anuales- semestrales que posibiliten el acceso al material impresio y el vinculo directo entre publicadores independientes y oficiales. Creo que es fundamental que creemos una red de publicadores latinoamericanos. Y que involucremos a los gobiernos en políticas de distribución y circulación entre los países. Fiquei refletindo que a iniciativa de propor este questionário é um passo fundamental para que os editores independentes comecem a se movimentar para construir um fórum de trocas de experiências, de conhecimento e de proposições para ações coletivas que envolvam a forma de pensar e operar, tanto os projetos editoriais quanto os canais de distribuição e venda. Para pensar em questões básicas: uso de equipamentos e compartilhamento de saberes e espaços físicos que mostrem e vendam as publicações, promovam lançamentos e abriguem oficinas e cursos.
Por enquanto é isso! Agradeço a oportunidade de participar. Pienso que una red de circulación, intercambio y colaboración entre artistas, investigadores y publicadores de América Latina debería existir, además de construir puentes empaticos entre la ferias ya existentes como la de Paraguay, Argentina, Brasil y México por citar algunas, y que entren en contacto a través una especie de Bienal de América Latina de Arte Impresa que muestre un panorama diverso e incluyente en cada edición. Um anuário das publicações é uma ferramenta útil para as instituições interessadas em adquirir livros e zines. Pode ser em formato eletrônico mesmo. La mejor divulgación es hacer ferias, exposiciones, simposios y hacer una red de colaboración con las personas que se dedican a lo mismo en otros países. A formação de redes de publicadores é algo que nos interessa muita, pela sua potência de proporcionar uma cadeia colaborativa cada vez maior de ações que atuem num âmbito independente e autogestionário.
6.pesquisa Caso pesquisador, de qual(is) dos seguintes lugares: pesquisador independente espaços independentes universidade pública grupo informal de pesquisa grupo de pesquisa de instituição instituição pública de arte universidade particular instituição privada de arte 0
20
40
60
150
200
em quais lugares você divulga sua pesquisa sites e blogs disciplinas/oficinas feiras de publicação congressos acadêmicos eventos revistas especializadas 0
50
100
80
O ato de publicar e a formação de público
qualidade. Precisamos debater e consolidar o meio independente de publicação. Essa pesquisa colabora nesse sentido. Parabéns pela iniciativa.
Existe uma forte conexão entre o ato de publicar e a formação de público, e a feira é citada como o principal mecanismo para isso. Isso se mostrou uma preocupação por parte dos entrevistados, que questionam o que é produzido e como é consumido:
Acredito que se faz necessário nesse momento o debate e aproximação cada vez maior dos publicadores interessados na pesquisa, pois faltam reflexão e conhecimento histórico de muitos atores da área.
Meu campo não é o da circulação, nem da sustentabilidade. Da formação de público, sim. E, mais ainda, ou totalmente, da produção artística. Só posso responder neste campo. Gosto e acho fundamental o atual excesso de feiras e publicadores. Para mim, quanto mais melhor. Sempre melhor. Porém, acho que falta coragem experimental no que tenho visto. Coragem de se perguntar “por que estou publicando isto já que o que estou publicando é quase igual a tudo o que se está publicando?” Acredito que exista uma banalização do que é se publicar. O que por um lado é bom, muita gente produzindo muita coisa. Mas produz-se sem critério algum. Acredito que falta algum tipo de amadurecimento desse meio, ainda estamos vivendo um boom onde o que importa é fazer qualquer coisa, porém quantidade não resulta necessariamente em
Como editora tengo la preocupación por el espacio de formación de público, algo que se encuentra conjugado con mi experiencia como lectora: a veces la propia preocupación por editar y publicar pone en un segundo plano el momento de la lectura, la comunicación entre autoras/ es, entre lectoras/es y editoras/es, etc. Creo que siempre he aspirado a madurar una conversación como público y con el público de las publicaciones independientes, y el eso resulte una tarea siempre postergada me resulta un tanto frustrante. La participación en ferias me resultó muy motivadora y creo que sí tiene que ver con la construcción de un público para las ediciones, pero esa acepción de “público” tiene que ver con personas que llegan a la feria, reconocen el espacio, o el trabajo colectivo, e interactúan con las publicaciones; pero no tanto con interlocutoras/es que
tomen la palabra en respuesta a lo publicado. Es decir, también es necesario pensar en un encuentro con las/os lectoras/es luego de que conozcan los objetos que encontraron alguna vez en la feria. Es lo más difícil, el reencuentro, la discusión madura de ideas que se publicaron tiempo atrás... Fue el punto de la encuesta que más me dejó pensando. Acho que é muito, muito importante falarmos de formação de público - seja através das próprias feiras, ou ainda através de premiações, vídeos que apresentem o processo e as editoras, ou oficinas práticas que mostrem as técnicas, enfim, tudo o que sirva para ampliar a informação que o leitor - ou potencial leitor - tenha sobre o objeto livro e seus satélites. Uma boa referência neste aspecto é o que a Lote 42 tem feito através de seus 1242 canais: banca, prêmio, feira, vídeos, site, tinta fresca etc etc etc. Acho que com mais uns 3 desses esta questão estaria resolvida =) Sinto que a cultura de impressos é pouco valorizada, tanto como arte como também no sentido de mídia. É uma luta, tem tudo a ver com formação de público e com formação de quem produz também. Algumxs artistas da minha cidade, no que reparei, não refletem profundamente sobre o que fazem, mesmo que produzam
zines, posters ou afins, não veem isso como mídia. Sei lá, comecei a organizar uma feira de publicações independentes aqui, com o objetivo de refletir sobre isso e unir o pessoal que produz, mas é foda engajar as pessoas. E sobre o público, o impresso é consumido mais como objeto do que como mídia (no que eu percebo), é visto mais como algo bonitinho para deixar guardado do que como um veículo de informação (não que ser algo bonitinho seja um problema, mas acho que falta ver de outra forma também). Sin un diálogo real con los espacios de recepción de las publicaciones, nos enfrentamos a una práctica fetichista destinada a contar sus días de existencia. Es en los diálogos y en la conformación de espacios de resistencia discursiva; en el enriquecimiento de la vida en dónde las publicaciones tienen un sentido más allá de su carácter de mercancías. Infelizmente, o meio das publicações independentes ainda é selecionado e introspectivo. É preciso penetrar mais em espaços públicos diversos e menos em galerias e espaços culturais privados. Também se faz necessário dar mais oportunidades a diferentes classes sociais e faixas etárias. Só assim, será possível sustentar o futuro das publicações.
O futuro das publicações será o que nós fizermos dela. No caso do recibo, em seu 19º número beirando 15 anos de projetos editoriais, nós chegamos em um limite justamente pensando nesses paradigmas não só do século xxi, mas do conteúdo e da forma mesmo, o que pode ser imprescindível ainda hoje em termos de publicação de arte e projetos editoriais específicos? Ainda tenho intenção de dar continuidade aos recibos, mas estou estudando quais formas ainda explorar que tentem fugir um pouco dos códigos estabelecidos no campo editorial de arte etc. Apesar de ser impossível fugir dos códigos, acho que ainda dá pra explorar no século xxi alguns gatilhos implantados no início do século xx com as referências dos autores russos como El Lissitzky, Moholy-Nagy, entre outros.
O ato de publicar e atuação política Sim, o ato de publicar é uma atuação política para a maioria. Muitos destacam que as publicações independentes garantem a liberdade de discurso, sem necessidade de passar por aval de ninguém. Alguns vinculam a atuação política pelo simples fato de publicarem, outros pelo conteúdo da publicação em si.
Persistir na produção de algo que está à margem do sistema de arte mainstrean é um ato político. Investir no múltiplo de grande tiragem é um ato político. Publicar (autopublicar, publicação independente, pequena escala, etc) é criar ativamente e de maneira orgânica um tipo de mundo: de relações, de cidade, de visão. Publicar es un acto político por definición. Es aportar a la construcción y difusión del pensamiento y la cultura de un época y una región. O ato de publicar, de maneira geral, seja publicações de artista ou publicações de cunho anarquista, de cultura de resistência, etc., dão visibilidade e trazem à tona outras questões e visualidades que, em geral, em espaços mais tradicionais ou estabelecidos, não são vistas/lidas/publicadas/ discutidas. Vejo assim a política nesse ato quando essas publicações não estão à serviço de uma lógica já estabelecida de consumo, de propaganda, de lucro, mas buscam abrir um espaço com muitas outras possibilidades para quem publica e para quem lê/ vê/compra/xeroca/troca que não existem no mainstream por não serem vendáveis ou não servirem à propósitos mais empresariais, entre outras razões.
Al autopublicarse y autogestionarse de manera sustentable, demuestra que no necesita de los canales y medios tradicionales para poder existir, tanto él/ella como artista así como sus publicaciones. Esa es también una actitud política, porque marca y descubre nuevos caminos para hacer las cosas. Publicar é criar sua própria plataforma de debate e exercitar o fazer político, reafirmar identidades individuais e valores democráticos como a liberdade de expressão e a autonomia discursiva, abrir canais de diálogo com o outro, abrir-se também ao outro, e abdicar de controle ao lançar ideias para além do próprio quintal, para germinarem indepentemente da nossa atuação.
barrios carenciados o escuelas publicas que no tienen mucho presupuesto para invertir en educación artística. Hicimos murales trabajando en conjunto con la gente. Uno fue hecho con pintura sintética en el Penal Nro 48 de Jose León Suarez, otro fue armado con grabados pegados en la pared en el edificio de la Residencia Cambridge.
Lo personal es político: autopublicando y autoeditando nuestros propios libros nos alejamos del sistema económico que no nos permite crecer. Así, estamos manifestando nuestra postura de existir al margen de las instituciones privadas o gubernamentales, y seguir sobreviviendo.
Trabalho dentro de uma cooperativa de catadores. Procuro levar esses catadores para eventos, feiras, oficinas e palestras em instituições que nos convidam. Dessa forma, estabelecemos o contato e trocas entre pessoas de segmentos diferentes. Esses contatos e conversas permitem que se reavalie os preconceitos para com os catadores (pessoas vagabundas, burras, incapazes, mal educadas, agressivas etc). Desenvolvo projetos em favelas, que têm como resultado livros que tratam de reivindicações dos moradores. Estes projetos têm inserção no circuito da arte, com a presença dos participantes, promovendo, mais uma vez, o contato deles com outros segmentos e a entrada deles nesses espaços.
Hacemos afiches de xilografía para marchas como fue la del día de la mujer, junto con el movimiento Vivas nos queremos. Hacemos talleres de grabado gratuitos para carceles,
O mais efetivo para mim são os projetos educativos de que faço parte. Para mim a forma que mais funciona, na atuação política, é quando me coloco em contato com pessoas que não
conheço, de outros contextos, em diálogos múltiplos sobre a cidade, sobre processos pessoais. O corpo a corpo e as construções coletivas desse trabalho me deixam mais próxima de algumas ideias que acredito, mas que tendem a parecer muito utópicas.
Pesquisa A grande maioria dos pesquisadores (quase metade) que respondeu o questionário é independente. É muito interessante notar essa falta de vínculo institucional para a pesquisa, e isso se vê na prática quando a maioria responde que suas publicações se dão em sites e em blogs.
Referências Pedimos aos entrevistados que mencionassem suas referências e reunimos aqui por ordem alfabética.
pesquisas e livros
A fotografia no livro de artista em três ações: produzir editar circular Fernanda Grigolin A página violada > Paulo Silveira Ainda: o livro como performance Amir Brito Cadôr A nova arte de fazer livros Ulises Carrion
Anuário da Ugra Press Artecorreo: artistas invisibles en la red postal > Graciela Gutiérrez Marx Behind the Zines: Self Publishing Culture > Robert Klanten, Adeline Mollard, Matthias Hubner Editoras independentes > Revista Usina El arte postal en Argentina Fernando Garcia Delgado, Juan Carlos Romero Entre ser um e ser mil: o objeto livro e suas poéticas > Edith Derdyk Estratégias expansivas: publicações de artistas e seus espaços moventes Michel Zózimo Experiências de artistas: aproximações entre a fotografia e o livro Fernanda Grigolin Fanzine punk como mídia alternativa Regina Rossetti Fanzines e posicionamentos discursivos: entre o antigo e o moderno Celina Rodrigues Muniz Fotolivros Latino-Americanos Horacio Fernández Girafas e bonsais: editores “independentes” no Brasil e Argentina José de Souza Muniz Júnior Hay em português > Regina Melim Indie Publishing: A Pocket Guide to Publishing Your Own Content Ellen Lupton Jornal de Borda > Tenda de Livros La revista ensamblada, una respuesta más > Antonio Gómez Literatura expandida: arquivo e citação na obra de Dominique Gonzalez-Foerster > Ana Pato Livro de artista como lugar tátil Márcia Sousa
Livro de artista e ambiente acadêmico: relações sistêmicas e estéticas na universidade > Paulo Silveira Livro de artista: ao alcance das mãos Ludmila Britto Mallarmé, Magritte, Broodthaers: jogos entre palavra imagem e objeto Bernadette Panek Miguel Rio Branco: imaterialidades do objeto, materialidades da imagem Mariano Klautau Filho Notes from Underground Stephen Duncomb O livro de artista e a enciclopédia visual Amir Brito Cadôr O livro como forma de arte Julio Plaza O rebuliço apaixonante dos zines Henrique Magalhães O universo paralelo dos zines Marcio Sno Otra forma de circulación del arte impreso > Cristina Arraga, Alejandra Bocquel, Norberto José Martinez Panorama do setor editorial brasileiro Felipe Lindoso Perspectivas do livro de artista (seminariolivrodeartista.wordpress.com) Poetas de rua: outro eixo em circulação das artes > Maria Candida Vargas Frederico Primeros encuentros de tarjetas artísticas de intercambio - ATC’s en Argentina > Cristina Arraga, Alejandra Bocquel, Norberto José Martinez Publishing as Artistic Practice Annette Gilbert Retratos da leitura no Brasil Pró-livro
Revista Livro > Núcleo de Estudos do Livro e da Edição Sobre empreendedores e sonhadores: coletivos editoriais no século XXI Anderson da Mata Tortografia > Eliana Borges e Ricardo Corona Tramas comunicacionais e procedimentos de criação: por uma gramática do livro de artista > Galciani Neves Tres ensayos sobre Arte Correo John Jr. Held
Instituições e Pessoas citadas Acervo Associação Cultural Videobrasil (São Paulo) Acervo de livro de artistas da Universidade Federal de Minas Gerais Acervo de Paulo Bruscky sobre Fluxus (Recife) Aeromoto (Cidade do México) Alex Sweetman Alias (Damian Ortega) Amir Brito Cadôr Ana Longoni Andrew Roth Anne Moeglin Anne Rorimer Armazém (Florianópolis) Arraia Pajeurbe Artistas postais e os artistas dos anos 60 e 70 Bacanas Books (Fábio Moraes) Banca Tatuí (São Paulo) Banca Tijuana (São Paulo) Banner Repeater (Londres) Cabinet du Livre d’Artiste (Rennes) Carolina Sinhoreli Casa da Imagem (São Paulo)
Casa Plana (São Paulo) Cedinci (Buenos Aires) Circulação Gráfica (São Paulo) Clemente Padin Cristina Freire Daniela Bracchi Edições Aurora (São Paulo) Edith Derdik Editora Senac (São Paulo) Editores Artesanais Brasileiros Ellen Lupton Encontros Gráfico no Estudio Ipojuca (São Paulo) Espaço SAO (Walter Costa) Fabio Morais Faculdade de Arte de Lisboa Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Feira Independente Publique-se (Recife) Feira Miolos (São Paulo) Feira Tijuana (São Paulo) Felipe Ehrenberg Fernanda Grigolin Fundação Joaquim Nabuco (Recife) Galciani Neves Geisler Luisa Germano Celant Gerry Badger Géza Perneczky Glória Ferreira Grafatório (Londrina) Grupo de Estudos de Livro de Artista da Casa Contemporânea (São Paulo) Guilherme Cunha Lima Gwen Allen Hélio Fervenza Horácio Fernandez Imprensa Feminista Pós-1974 João Cabral de Melo Neto
Johanna Drucker Jorge Bucksdricker Jornadas Internacionais de HQ da Universidade de São Paulo Juan Carlos Romero Juliana Crispe Júlio Plaza Leszek Brogowski Letícia Lampert Livraria Madalena (São Paulo) Lucy Lippard Luise Weiss Marca de Fantasia (João Pessoa) Marcio Sno Maria do Carmo de Freitas Veneroso Mariano Klatau Marie Boivent Martha Hellion Martin Parr Mascate Barraco/Estúdio (Porto Alegre) Michel Zózimo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo Paola Fabres Patrizia Di Bello Paulo Bruscky Paulo Silveira Philip Aarons Plataforma par(ent)esis (Florianópolis) Projecto Multiplo (São Paulo) Projeto Lastro Proyecto Culturas Interiores (Córdoba) Rafaela Jemmene Raquel Stolf Regina Melim Rrreplica (Cidade do México) Smithsonian Library (Washington) Sofia Gonçalves
Stephen Perkins Textando (Fabio Morais) The New York Public Library Thomas Dugan Trama Ulises Carrion Universidade do Porto Universidade Federal de Minas Gerais Vittore Baronni Walter Zanini
Este volume é parte do livro Entre, à maneira de, junto a publicadores, resultante do Projeto Publicadores, uma iniciativa da Tenda de Livros, Edições Aurora e Zerocentos Publicações.
projetopublicadores. wordpress.com