unicaphoto Revista do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap - #3, ago 2014 www.unicap.br/unicaphoto
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EDITORIAL
Ser fotógrafo, nos dias de hoje, é bem mais simples, não só por não ser necessário esperar a revelação e a ampliação para saber da qualidade das imagens, mas por todas as inovações tecnológicas dos equipamentos, pelos cursos universitários de fotografia e pelas inúmeras literaturas voltadas à fotografia e áreas afins. Pensando dessa forma, percebemos o quanto devemos respeito e gratidão às gerações passadas, que abriram os caminhos para a realidade que hoje vivenciamos. Assim, criamos o prêmio Alcir Lacerda para homenagear os profissionais pernambucanos da imagem. Um evento colaborativo que, pelo 3º ano consecutivo, acontecerá no dia 19 de agosto, dia mundial da Fotografia, no auditório da Livraria Cultura Paço Alfândega. Os homenageados desse ano são Edvaldo Rodrigues, repórter fotográfico há 52 anos, o fotógrafo e empresário Rivaldo Varela e o fotógrafo Alexandre Severo, que faleceu quando estava a trabalho na campanha eleitoral do Governador Eduardo Campos à presidência da República.
Na web
www.unicap.br/unicaphoto /fotografiaunicap
Expediente: Coordenação: Renata Victor. Edição: Carolina Monteiro. Diagramação: Arline Lins. Textos: Arline Lins, Carolina Monteiro, Dario Brito, Fabiana Bruce, Germana Soares, Juliana Nascimento Torezzani, Karina Galvão, Leonardo Castro Gomes, Niedja Dias, Paulo Souza, Rebeca Patrício, Rodrigo Silva, Sollon Filho, Thaís Carvalho. Fotos: Alunos do Curso de Fotografia da Unicap, Adelson Alves, Renata Victor, Rafaela Melo. A UnicaPhoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (ISSN 2357-8793). Foto da capa: Edvaldo Rodrigues
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Para comemorar o dia mundial da Fotografia, trazemos para esta 3ª edição da Unicaphoto uma série de matérias, entre elas o perfil dos agraciados com o Prêmio Alcir Lacerda. Na sequência, uma matéria que aborda a revolução da produção de vídeo com equipamento HDSLR e o projeto do Prof. Dario Brito e seus alunos, que discute o poder da representação nas intervenções urbanas no Recife. Na seção de entrevista, temos o fotógrafo Edvaldo Rodrigues, enquanto que a coluna de Direito Autoral aborda a legislação nacional pertinente ao tema, em especial a Lei nº 9.610/1998. Os ensaios fotográficos irão nos levar ao Uruguai, Grécia e aos clássicos filmes representados por imagens gastronômicas. É com grande saudade que relembramos em páginas gráficas os momentos felizes que compartilhamos com o nosso ex-aluno, o talentoso Alexandre Severo. Até o último dia 15 de agosto, a primeira edição da Unicaphoto teve 40.275 visualizações, enquanto que a segunda, 40.902. Esses números sinalizam que o nosso objetivo de aproximar a produção acadêmica do mercado de trabalho tem logrado êxito e nos motivam ainda mais para a continuidade desse e de outros projetos. Renata Victor Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
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Mais de meio século Edvaldo Rodrigues, 73 anos, é o entrevistado da professora Niedja Dias nesta edição da UnicaPhoto. Com nada menos do que 52 anos de fotojornalismo, ele é um dos homenageados da terceira edição do prêmio anual Alcir Lacerda, que celebra o trabalho deste profissional que integra a equipe de fotojornalismo do Diario de Pernambuco. Nesta entrevista, ele conta um pouco sobre sua vivência na profissão e sobre a adaptação à tecnologia, além das curiosidades da sua trajetória jornalística.
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UNICAPHOTO - Como a fotografia entrou em sua vida? EDVALDO RODRIGUES - Trabalhava numa construtora, ainda bem jovem, quando um irmão inventou de fotografar e me chamou para aprender. Compramos livros, equipamentos, material químico e, em um quarto no fundo do quintal, fizemos um laboratório e aprendemos a fotografar e a revelar filmes. UP - Quando percebeu que gostaria de ser um repórter fotográfico? E.R - Costumava comprar o Jornal do Commercio nos finais de semana. Até porque o dinheiro era pouco e não dava pra comprar diariamente, mas lia com frequência. Lá, um dia, tinha uma nota: ´Precisa-se de repórter fotográfico´. Conversei com meu irmão e ele me disse: “Rapaz, isso é negócio pra gente grande... Repórter fotográfico não é pra gente. A gente é um ´retratistazinho´ de bairro”. Arrisquei e fui aprovado. Pedi demissão do emprego e comecei. Me mandaram para rua e eu sem nenhuma experiência, mas a primeira matéria que fiz – lembro como se fosse hoje – foi um acidente de um caminhão com uma bicicleta, em Olinda. A foto foi publicada e fui bastante elogiado. UP – Como foi a sua adaptação à tecnologia, já que começou a sua carreira na década de 60, com a fotografia analógica? E.R - A tecnologia me fascina, mas tenho certa dificuldade ainda de absorver tudo. Aproveito os colegas mais jovens do jornal, com a cabeça mais fresca e eles me dão dicas. Também pesquiso
Foto: Adelson Alves
de fotojornalismo
na internet e fiz alguns cursos rápidos, tanto de iluminação, como de Photoshop, entre outros. UP - Como foi trabalhar em plena ditadura? E.R - Foi um período difícil, viu? Fui preso algumas vezes, espancado na rua. Foi uma situação muito dramática. UP- Você conseguiu driblar a censura e publicar alguma imagem polêmica? E.R – Isto era muito difícil porque a censura estava dentro do jornal. Havia um coronel do Exército lá dentro fiscalizando toda matéria que chegava. Nunca consegui colocar nenhuma foto censurada, mas alguns fotógrafos criaram na época agências de fotografia e mandaram suas fotos para o exterior, onde foram publicadas. UP- Você chegou a ser agredido em pleno exercício da profissão. Qual o limite que um profissional deve ter para conseguir uma boa imagem? E.R - Para uma boa imagem – como dizia o grande fotógrafo [Robert] Capa - você tem que estar dentro do assunto. Você tem que estar bem perto para trazer a grande foto. Mas eu ainda advogo uma precaução porque a nossa polícia tem uma cultura muito violenta e até as pessoas mesmo. Algumas vezes nós já fomos atacados por manifestantes que confundem as coisas, pensam que a gente está de outro lado. Já fui atacado e foi grave, fiquei desmaiado no meio da rua e quando acordei estava no hospital. UP - Como lida com a emoção dos fatos que aparecem diante da sua lente? E.R - Ainda sou uma pessoa muito sensível a tudo,
sabe? Então tudo me comove. Tenho me deparado com situações difíceis de pessoas muito pobres e em determinados lugares ou com pessoas que são muito mal tratadas, violentadas tanto pela polícia como por outras pessoas que têm o interesse em fazer aquilo. Isso tudo me comove. UP - Quando considera que é hora de esquecer o fotógrafo e dar espaço ao seu lado mais humano? Quando é hora de abaixar a câmera para Edvaldo? E.R - Quando está havendo alguma injustiça com alguém, evito determinadas fotos e às vezes até questiono com o repórter ao meu lado. Fui fazer um trabalho na polícia e estava preso um cidadão acusado de cometer um crime, mas não havia provas. O repórter que estava comigo mandou que eu o fotografasse e senti que o repórter estava com certo interesse junto aos policiais e me neguei a fotografar. Disse a ele que não tinha prova e que a pessoa era um suspeito. UP - Fotografar esportes sempre foi a sua paixão. Como foi participar de três Copas do Mundo consecutivas? E.R - Foi muito emocionante. Lembro como se fosse hoje. Estava na Espanha, em 1982, cobrindo a primeira Copa da minha vida em Madri. Aquela cidade, muita gente bonita, uma coisa diferente da minha cidade e eu disse pra mim mesmo: “meu Deus, estou aqui na Europa. Vim lá de um bairro pobre e me encontro aqui num lugar desse”. Foi muito emocionante . UP - De que forma vê o ambiente do jornal? E.R - O ambiente do jornal hoje não é mais
como antigamente. Eu e meus contemporâneos tínhamos uma amizade muito grande, éramos uma família. Tinha amigos que eu frequentava a casa constantemente e eles a minha. Hoje não, cada um terminou o seu trabalho “puxa o carro”. Não há mais essa relação de amizade. UP - Como vê a função de repórter fotográfico com o advento de registros fotográficos feitos por pessoas que não são fotógrafos? E.R - Estou com medo que desapareça. Em alguns jornais até o repórter fotográfico já desapareceu. Os jornais hoje não buscam mais qualidade, buscam informação rápida. Então hoje usam imagens de leitores enviadas através do Whatsapp, sem qualidade técnica, nem olhar de jornalista. O repórter fotográfico, mesmo que não tenha estudado, quando entra é como um escritor. Ele tem no sangue, tem no olhar um lado crítico que vai buscar através da foto uma mensagem. UP - Existe muito jogo de ego entre os fotógrafos nas redações? E.R - Tem muitos fotógrafos que se acham o “rei da cocada” e se acham melhores até do que os repórteres de texto porque acredita que “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Acho que uma imagem é muito importante, mas se vale mais que mil palavras, depende muito da imagem, não é? UP - Já se viu numa situação absolutamente embaraçosa, numa pauta onde o suporte fotográfico ainda era o filme? Onde não havia essa possibilidade de apagar e refazer. E.R - Já me vi, mas consegui recuperar. Em 1968
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Foto: Luana Alencar
Foto: Adelson Alves
a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, veio ao Recife e eu fui o fotógrafo escalado para fazer a chegada dela. Na época, para economizar, os jornais não compravam o filme na caixinha pronta, mas rolos que colavam em laboratório com uma fita ao rebobinar. Então eu já tinha feito um bom número de fotos, quando o filme se soltou da máquina. Com isso fiquei sem poder fotografar mais porque tinha que trocar o filme e fiquei na dúvida se abria a câmera para tirar e arriscar queimar várias fotos ou se voltava para o jornal. Fiquei naquele impasse mas, como trabalhávamos de paletó naquela época, tirei o paletó, enrolei a máquina nele e por dentro consegui tirar o filme e colocar dentro da caixinha. A maioria se salvou. E rendeu capa (rindo). UP - Alguns fotógrafos já foram contemplados com verdadeiros furos por conta da chegada tardia e/ou má localização na pauta. Você tem alguma situação que legitima isso? E.R - Sim. Cheguei atrasado ao aeroporto militar para cobrir a vinda do Papa João Paulo II ao Recife. Os colegas já estavam posicionados e um Coronel comandando a imprensa disse que não poderia mais entrar. Disse a ele que se não fizesse a foto perderia meu emprego e ele terminou me colocando em um local diferente dos outros. De repente, quando o avião chegou, fiquei só e o tapete vermelho foi colocado na minha frente. Esta foi a foto que rodou o mundo (foto ilustrativa de capa da UnicaPhoto). Todos fizeram, mas estavam num ângulo distante, diagonal, e eu num frontal. Fiz o Papa descendo do avião, acenando para mim. Respondi com uma mão e fotografei com a outra. Essa foto foi premiada, muito vendida para vários países. Dom Helder Câmara levou essa foto para o Vaticano e eu dei a ele de presente. Foi uma foto que considero o momento certo no lugar incerto. UP – Que a dica que você deixa para quem está começando e deseja deixar sua marca no Fotojornalismo? E.R - O Fotojornalismo é uma coisa muito dinâmica, muito bonita e as pessoas que estão começando devem se entregar mesmo e buscar sempre se aperfeiçoar cada vez porque esta é uma atividade que participa da história no seu país. Acredito que dei a minha contribuição histórica para o país porque venho de um período antes da revolução de 1964, num período em que este país estava em efervescência com as Ligas Camponesas e o regime muito rígido da Ditadura Militar. Eu documentei tudo isso e esta é uma parte da história do Brasil.
Prêmio Alcir Lacerda homenageia profissionais pernambucanos Por Arline Lins Edvaldo Rodrigues e Rivaldo Varela são os fotógrafos homenageados na 3ª edição do Prêmio Alcir Lacerda, oferecido sempre em 19 de agosto, Dia Mundial da Fotografia. O tributo foi criado por Renata Victor, coordenadora do curso superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap. “O prêmio é uma forma de agradecer aos que abriram os caminhos da fotografia para as novas gerações”, ressaltou Renata, que fotografa há 32 anos. Em 2012, na primeira edição, quem levou a estatueta para casa foi o próprio Alcir Lacerda. A filha dele e historiadora Betty Lacerda contou que o pai ficou tomado de emoção com a homenagem: “ele ficou muito feliz porque encontrou os amigos e porque adorava estar em qualquer evento que tivesse relação com a fotografia.” No ano seguinte, os premiados foram os Pedro Luiz e Gilberto Marcelino. Cada um, com seu trabalho em jornalismo e publicidade, respectivamente, escreveu o nome na história da fotografia em Pernambuco. “O prêmio é importante porque lembra o valor dos profissio-
nais mais antigos, que já estavam um pouco esquecidos, e traz inspiração para quem está começando agora”, disse Pedro Luiz, que, em 50 anos de carreira, já passou por veículos como a revista O Cruzeiro, o Jornal do Commercio, Diario de Pernambuco e O Globo. O prêmio é simbolizado por estatuetas, que nos dois primeiros anos foram elaboradas pela professora e artista plástica Niedja Dias. A do primeiro foi especial: uma escultura do próprio Lacerda. Este ano, Mano Victor é o responsável pelas peças de madeira, que vêm em formato de câmera fotográfica. LACERDA - Alcir Lacerda, que começou a fotografar em 1942 e inspirou Renata Victor a nomear o prêmio, faleceu em setembro de 2012, pouco depois de receber a homenagem. Foi-se o artista, ficou a obra. “Se papai estivesse vivo, ficaria muito feliz de homenagear pessoas com o nome dele. Ele tinha honra de pertencer à classe dos fotógrafos. Estaria muito honrado”, completou Betty Lacerda.
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Acervo unicap “VOLTA NA PRAIA” Equipamento: iPhone 4 Ano: 2012
* A coluna Acervo Unicap é organizada pelo professor Dario Brito, professor da instituição
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“Era novembro e eu aproveitei um feriado prolongado para esticar até o Rio de Janeiro e curtir uma cervejinha na praia. Sempre tive essa relação muito forte e intensa com o mar, tanto que considero a praia meu segundo escritório. Gosto de correr na areia fofa, mergulhar, pescar e surfar. Acho que nas minhas veias, além de sangue, corre também água salgada. Há um tempo vinha desenvolvendo séries de imagens com essa temática de praia nos seus mais diferentes aspectos, desde as atividades de lazer até o comércio ambulante, por exemplo, e, nesse dia em especial, estava em Copacabana quando vi alguns atletas de ginástica olímpica treinando na areia. Aquela imagem era muito forte pela beleza dos movimentos e chamava a atenção de quem estava ali perto. Puxei o celular e comecei a clicar, fui me aproximando e fazendo varias imagens até que essa saiu”. Rodrigo Lobo, fotógrafo e diretor de fotografia.
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Karina Galvão, Paulo Souza, Rodrigo Silva, Sollon Filho, Thaís Carvalho
O advento do daguerreótipo, em no século XIX, teve grande repercussão na Europa, sendo levado rapidamente para os Estados Unidos. Em poucos anos já havia um grande quantitativo de pessoas que dominavam sua técnica, sendo mais que uma ferramenta artística. O invento criou um novo mercado de comercialização de imagens e se manteve soberano por vários anos. Os daguerreotipistas chegam ao Brasil e a Pernambuco quase que como colonizadores e circulam dentro do território nacional com grande frequência. Alguns com interesses comerciais, outros movidos pelo espírito documental, buscando retratar uma sociedade até então desconhecida. As fotos do Recife geralmente eram grandes planos abertos, mostrando as belezas e o cotidiano da cidade. Eram um convite ao estabelecimento de empreendimentos comerciais ligados à fotografia, e isso contribuiu para o surgimento dos primeiros estúdios fotográficos da cidade. A colonização fotográfica pernambucana seguiu os moldes da nacional. Os equipamentos e os fotógrafos desembarcavam carregados de toda influência e visão de mundo trazidas da Europa. Se o pensamento político, as condutas sociais e os mais variados elementos eram adotados no país sob influência do que acontecia além do oceano, era de se esperar que a fotografia pernambucana nascesse com sangue europeu, e isto,
é claro, na adoção dos retratos como modelo comercial, com trajes e objetos de cena tipicamente importados do velho continente. A construção de uma fotografia local passou pela exploração de elementos e características que eram próprios de Pernambuco. Os registros do Recife e sua relação com o mar e o Rio Capibaribe, as edificações, estradas, engenhos, alguns dos elementos que registravam uma cidade em construção, a chegada do desenvolvimento. Talvez essas imagens carregassem uma bagagem ideológica muito própria dos europeus, mas ainda assim contribuíram para a construção da representação visual de Pernambuco. Os europeus deixaram seu legado, participaram da formação de novos fotógrafos e, ainda no século XIX, alguns brasileiros passaram a dominar o oficio fotográfico. Falar sobre a fotografia de Pernambuco no século XIX é falar sobre esses homens que assumiram a fotografia como oficio e deram uma contribuição sem precedentes na construção da representação do povo e do território de Pernambuco. Dessa forma, é fundamental entender como cada um desses fotógrafos pode contribuir para formação da produção visual pernambucana e de que forma seu legado foi passado aos profissionais locais. Para isso será feita aqui uma abordagem da vida e obra deles, com ênfase na atuação em Pernambuco de alguns dos principais nomes do período.
Foto: Marc Ferrez
Filho de pais franceses que moravam no Brasil, Marc Ferrez nasceu no Rio de Janeiro em 1843. Aos oito anos ficou órfão e viveu parte de sua infância com a família de Joseph Eugene Dubois, gravador de medalhas, com quem foi morar em Paris em 1855. Em 1860, retorna ao Rio de Janeiro e trabalha na Casa Leuzinger, estabelecimento fotográfico de George Leuzinger. No mesmo ano, Ferrez conhece o engenheiro Franz Keller-Leuzinger, com quem aprende a técnica fotográfica. Aos 22 anos, em 1865, estabeleceu-se por conta própria sob a razão comercial Marc Ferrez & Cia., no Centro do Rio de Janeiro, exercendo a profissão de fotógrafo. Em 1870, torna-se fotógrafo da Marinha Imperial. Em 1875, Ferrez recebe um convite para integrar a expedição financiada pela Comissão Geológica do Império. Nesta expedição, chefiada pelo cientista norte-americano Charles Frederick Hartt, que tinha como objetivo pesquisar as formações rochosas das diferentes províncias do país, Ferrez percorreu os atuais Estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e parte da Região Amazônica, fotografando as vistas das províncias visitadas, os recifes de Pernambuco, a cachoeira de Paulo Afonso, corais e paisagens, fazendo retratos etnográficos dos índios da tribo Botocudo, da Bahia, nunca antes fotografados. As imagens do fotógrafo Marc Ferrez podem ser encontradas no Instituto Moreira Salles, no Arquivo Nacional, na Biblioteca Nacional, na Casa Rui Barbosa, na Biblioteca Nacional de Caracas (Venezuela) e na Biblioteca Nacional de Paris, França (INSTITUTO MOREIRA SALLES; ITAÚ CULTURAL, 2013). Foto: Francisco Labadie
A Fotografia em Pernambuco no Século XIX
MARC FERREZ
FRANCISCO LABADIE Nasceu na França no século XIX. Era fotógrafo e proprietário da Photographie Française, estúdio com nome que homenageava seu país de origem e que funcionou entre os anos de 1870 e 1880. Era um dos mais concorridos estúdios de retratos do Recife, que oferecia inclusive cópias pelo processo de carvão, que tem penetração restrita no Brasil apesar de garantir um acabamento singular e grande durabilidade. Labadie morreu em Pernambuco, em 1883. Seu acervo se encontra na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, e na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.
Magalhães atuou como fotógrafo em Recife, Pernambuco, entre os anos de 1886 e 1887, na Rua do Barão da Victoria, n. 14, e depois, no ano de 1898, na Rua da Imperatriz, n. 54. A título de especulação, podemos supor que tenha havido uma relação de parceria ou sociedade entre os fotógrafos Mattos e Flósculo de Magalhães. Magalhães produziu uma interessante documentação fotográfica das paisagens urbanas de Ribeirão Preto e parte da sua obra encontra-se sob a custódia do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto.
JOÃO FERREIRA VILLELA Pernambucano, pintor e fotógrafo, Villela produziu imagens entre 1850 e 1870 e se estabeleceu em um estúdio na Rua do Cabugá, no Recife entre 1855 e 1870. Foi um importante nome do século XIX, sobreviveu comercialmente como retratista, mas produziu imagens com paisagens da capital pernambucana. Registrou fatos importantes na vida social, com a visita do Imperador Dom Pedro II ao Recife, no ano de 1859, tendo, inclusive, o presenteado com seis vistas da cidade, sendo agraciado com o título de Photographo da Casa Imperial no ano seguinte. A trajetória de João Ferreira Villela foi marcada por ter trabalhado com diferentes processos fotográficos, apresentados em formatos diversificados e sobre suportes variados.
Fotógrafo suíço, nascido em Wilhelm Gänsli, no ano de 1843, reconhecido principalmente pelo grande registro que fez da cidade de São Paulo entre os anos de 1890 e 1920. Gaensly imigrou para o Brasil em 1871 com sua família e trouxe a tradição de retratos da Europa, abrindo inicialmente um estúdio chamado Photographia Premiada, na cidade de Salvador, onde realizou trabalhos mais comerciais. Fotografou também em algumas cidades do Nordeste, incluindo Recife, em trabalhos que deixavam de lado o oficio de retratista e abordavam vistas da cidade. A região central da cidade foi registrada com suas ruas, construções e monumentos.
ALBERTO HENSCHEL Nasceu em Berlim, Alemanha, no ano de 1827, e é considerado talvez o maior empresário da fotografia no Brasil no século XIX, tendo criado uma verdadeira cadeia de estúdios de fotografia, mantendo escritórios em Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Foi premiado com o título de Photographo da Casa Imperial, honraria que abriu portas para que ele retratasse o cotidiano da monarquia brasileira no Segundo Reinado. Chegou ao Recife em 1866, abriu um estabelecimento no Largo da Matriz de Santo Antônio, em parceria com o compatriota Karl Heinrich Gutzlaff, o Alberto Henschel & Cia., que em seguida passa a se chamar Photographia Allemã. Em seu acervo existe grande quantidade de fotos produzidas em Pernambuco, retratos em engenhos, usinas, na capital e no interior, abordando a alta sociedade e também os escravos. O fotógrafo Constantino Barza, assistente de Henschel, deu continuidade aos serviços da Alberto Henschel & Cia., seguindo a mesma linha de fotografias que seu mentor produzia.
THEOPHILE AUGUSTE STAHL
Foto: Guilherme Gaensly
GUILHERME GAENSLY
Foto: Alberto Henschel
Foto: Flósculo de Magalhães
FLÓSCULO DE MAGALHÃES
Foto: João Ferreira Villela
Nasceu em 23 de maio de 1824 na França. Chegou ao Recife em 1853 e iniciou sua atuação como fotógrafo em 1854, quando abriu seu primeiro estabelecimento na capital pernambucana. Fez o registro da chegada da família imperial à cidade pernambucana, quando o imperador, Dom Pedro II, e a imperatriz, Dona Teresa Cristina, visitaram o Recife pela primeira vez, em 22 de novembro de 1854. Autorizado a fotografar o casal imperial, seu trabalho chamou a atenção do imperador, que o agraciou com o título de Photographo da Casa Imperial em 1862. Desde então, passou a deter o monopólio da imagem dos monarcas na província de Pernambuco. Documenta ainda a construção da segunda estrada de ferro brasileira, a Recife and S. Francisco Railway, que liga Recife à cidade do Cabo, em 1858, além de ter fotografado negros escravos e alforriados, realizando belos retratos. Stahl permaneceu em atividade no Recife por oito anos, quando então se mudou para o Rio de Janeiro, no início de 1862.
Foto: Charles Fredricks
CHARLES DEFOREST FREDRICKS Nasceu em 1823 na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, e faleceu no mesmo país, em Nova Jersey, em 1894. Foi estudante da técnica de daguerreotipia com Jeremiah Gurney, um popular daguerreotipista da Broadway, que inclusive lhe vendeu seu primeiro equipamento. Aos 20 anos partiu em uma viagem para Venezuela, para visitar seu irmão, que trabalhava no país, em seguida se deslocando para o Brasil através da fronteira amazônica, onde fotografou povos indígenas em plena selva, que fugiram com todo seu equipamento, relato do ocorrido é contado por Pedro Vasquez. Após sua recuperação, retornou ao Brasil com novo equipamento e atuou em várias cidades, como Belém, São Luís, Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Explorou a fotografia como um artigo de luxo, com cenários que simulavam um modelo de vida burguês, valorizando a busca pela aparência e culto a imagem. Na sua passagem pelo território Pernambucano realizou alguns registros do Recife, em daguerreótipo, tendo se destacado por fazer alguns dos primeiros registros conhecidos da cidade, ainda no ano de 1851. Sua foto do Fonte de São Francisco da Barra é provavelmente o registro mais antigo da cidade.
A produção fotográfica no século XIX sofreu uma clara bipartição entre os objetos fotografados. De um lado, se enfileiravam os profissionais com viés comercial, dedicados quase que totalmente aos retratos, em forma de cartão de visita, seguindo a moda que se popularizava na Europa. De outro, seguiam os artistas dedicados a fotografar paisagens, retratar o cotidiano da vida social e as belezas naturais, principalmente da cidade capital, Recife. Talvez não existisse entre os fotógrafos que se estabeleceram em Pernambuco, e mesmo entre os que passaram pelo Estado, uma identidade visual que os vinculasse ao povo e território fotografado, mas ainda assim os registros do período são elementos fundamentais para estudo das transformações sociais e históricas da época, sendo ainda pouco exploradas diante de sua relevância histórica. Sem dúvidas, a identidade visual de Pernambuco foi concebida a partir dos registros do século XIX, e algumas daquelas imagens permanecem como cartões-postais e locais de grande apelo turístico até os dias de hoje. É fundamental estabelecer elos e procurar entender de que forma a fotografia foi utilizada, as relações de uma sociedade escravocrata, o apogeu e o declínio dos engenhos e da sociedade do açúcar, a preocupação já existente com a imagem, que já mostrava distorções entre a imagem do sujeito fotografado e sua posição real na sociedade, sendo a fotografia o momento de exaltar e exibir uma imagem geralmente maquiada. A fotografia em Pernambuco é um campo aberto para pesquisa, de grande importância para a história do Estado. Os acervos históricos institucionais e pessoais são ricos e possuem vasto material, que precisa ser explorado e conservado, preservando uma memória que é recente, quando pensamos no tempo da história, mas que já sofre com as limitações físicas impostas pela deterioração dos materiais e ação dos processos químicos e biológicos, tornando cada vez mais necessária uma célere intervenção para preservação desse patrimônio histórico e imagético da sociedade pernambucana.
Este trabalho foi desenvolvido na disciplina de História da Fotografia ministrada pela Profª. Ms. Julianna Torezani em 2014.1. Karina Galvão, Paulo Souza, Rodrigo Silva, Sollon Filho e Thaís Carvalho foram alunos do 1º período do Curso de Fotografia da UNICAP em 2014.1. REFERÊNCIAS BORGES, Maria Elízia. A fotografia: seu aparecimento e expansão na capital do café no período da Primeira República. Revista Comunicação e Artes, São Paulo, n. 17, p. 119131. 1986. HEYNEMANN, Cláudia Beatriz. A fotografia imperial de Albert Henschel. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA CULTURAL, VII, 2012, Teresina. A fotografia imperial de Albert Henschel. Teresina: UFPI, 2012. p. 1 - 12. INSTITUTO MOREIRA SALLES. Acervo – Fotografia. 2013. Disponível em: <http://www. ims. com.br/ims/explore/acervo/fotografia >. Acesso em: 15 maio 2014. ITAÚ CULTURAL. Enciclopédia Itaú Cultural – Artes Visuais. 2013. Disponível em: <http://w ww.itaucultural.org.br/aplicexternas/ enciclopedia_ic/index.cfm>. Acesso em: 14 maio 2014. KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2000. 405p. KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia – São Paulo: Ateliê Editorial, 2002. 149p. LEE-MEDDI, Jeocaz. Os fotógrafos do Império do Brasil. 2009. Disponível em: <http:// virtualiao manifesto.blogspot.com.br/2009/09/ os-fotografos-do-imperio-do-brasil.html>. Acesso em: 16 maio 2014. MANESCHY, Orlando. Cartografias da história da fotografia no Pará. 2003. In: ANPUH – SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, XXII, 2003, João Pessoa. Cartografias da história da fotografia no Pará. João Pessoa. p. 1 - 8.
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tesouros de um império Por Paulo Souza*
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Foto: Paulo Souza
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FED TSVVS Nº 441 de 1949 Fonte: sovietcams.com
Existe uma aura de mistério que cobre o continental território russo. O fechamento político e econômico por muitos anos gerou curiosidade sobre o modo de vida daquele país, e é intrigante imaginar que condições propiciaram o surgimento de uma indústria de fotografia soviética, produto do esforço de um país que até o início do século XX não detinha qualquer domínio da tecnologia, mas que assumiu a missão de recriar sem qualquer colaboração técnica os equipamentos da clássica indústria alemã. A engenharia comunista se mostrou surpreendentemente capaz, produziu câmeras indiferentes à passagem do tempo. Com um acervo que varia de primorosos equipamentos com qualidade ótica e mecânica comparável as das melhores câmeras alemãs, até produtos de qualidade questionável, conhecidos por vazamentos de luz e aberrações cromáticas, as analógicas do império soviético vêm ganhando adeptos e colecionadores ao redor do mundo, são incrivelmente baratas e produzem encantadores resultados. Entre as grandes fábricas de câmeras destacaram-se a LOMO, a Empresa Estatal Arsenal de Kiev, a KMZ e a Belomo. Outras dedicaram-se à produção de lentes, emulsão fotossensível, rolos, papel fotográfico, filme para cinema e químicos de revelação. Poucas delas se mantém em atividade no mercado fotográfico, algumas migraram para outros setores e outras simplesmente desapareceram. Nesse artigo é abordada um pouco da história de uma das mais significativas marcas do mercado soviético, a ucraniana FED.
FED pré-série N°58 Fonte: sovietcams.com
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A história da FED remonta ao ano de 1927, quando por iniciativa de Felix Edmundovich Dzerzhinsky (polonês criador do serviço
secreto da URSS), nos arredores de Kharkiv, atual território da Ucrânia, foi iniciada a construção de várias casas para moradia de crianças de rua, onde poderiam viver , estudar e se formar como aprendizes em trabalhos técnicos. A comuna, inaugurada em 29 de dezembro de 1927, tinha grande viés industrial e foi batizada homenageando seu idealizador, sendo chamada FE Dzerzhinsky. Cinco anos se passaram, até que em 1932 foi organizada a planta da fábrica da FED, tendo como primeiros produtos produzidos uma linha de furadeiras elétricas, item escasso na União Soviética no período. Estima-se que nessa mesma época foram produzidos os primeiros modelos experimentais da FED, buscando reproduzir com tecnologia nacional as câmeras alemãs, Leica I. Em apenas dois anos, a tecnologia de produção das Leica havia sido dominada pelos soviéticos. Em 1934 são lançadas as FED-1, cópias quase que idênticas das câmeras Leica II, com uma pequena diferença na rosca de encaixe, equipadas com lente de fabricação própria f3.5/50mm. Durante a 2a Guerra Mundial, com o avanço dos nazistas, a fábrica foi transferida para Berdsk, na Sibéria, em 1941. Após o término do conflito as câmeras FED passaram algumas sutis alterações e assumiram total compatibilidade com o sistema de rosca M39 da Leica e, a partir do “antepassado” comum, evoluíram paralelamente modelo a modelo com as FED 2, 3, 4, 5, 5B, 5C. Enquanto os oficiais nazistas carregavam suas Leicas, os espiões da KGB e oficiais do exército vermelho faziam uso das FED, devidamente personalizadas com insígnias militares. Há uma série especial sem nome específico, montada entre 1949 e 1950, conhecida pelas iniciais TSVVS e desenhada para serviço topográfico da força área, produzidas em uma planta militar de Moscou. Esse modelo é especialmente bem construído, tem o corpo revestido em couro e consiste basicamente em um corpo tipo Leica com uma lente Zeiss Sonnar, montada em baioneta Contax, ficou conhecida como a “FED dos Generais”. O primeiro modelo das “ФЭД”, em alfabeto cirílico, foi produzido até o ano de 1955,
com várias melhorias e pequenas evoluções em sua tecnologia, entre as séries clássicas se destaca um lote de câmeras falsificadas produzida com o logotipo da Leica em substituição a logomarca soviética e uma edição comemorativa de 1954, que celebrava os 300 anos da união entre Ucrânia e Rússia. Segundo o site sovietcams.com, maior banco de dados sobre câmeras da URSS, o último modelo da FED-1 conhecido tem número de série 712.834, mas há relatos que a produção tenha chegado até a casa dos 800.000. A partir de 1955 surgem as primeiras FED2, completamente redesenhadas e recheadas de novos recursos. Introduzem um corpo com traseira removível que trava a câmera com duas chaves na parte inferior. O conjunto do telêmetro também foi redesenhado. Agora com uma base de maior comprimento, combinando o telêmetro com o visor. Conta ainda com uma alavanca de ajuste de dioptria sob o botão de rebobinar e também um novo obturador. Foram produzidas mais de 1.600.000 unidades da câmera, ainda hoje largamente comercializada no mercado analógico. Ironicamente as FED e demais “Leicas soviéticas” foram produzidas em quantidade bem maior que a original, e não seria leviano afirmar que são soberanas em quantidade quando se fala no tipo de montagem M39. As FED-3 abandonam o desenho idêntico ao das Leica, o que representa uma perda estética, mas que de alguma forma deu vida própria as câmeras da empresa. As mudanças tecnológicas foram adotadas com o passar dos anos, como em 1964 onde o fotômetro é incorporado, primeiro em uma adaptação do corpo da FED-3, conhecida como FED-4a, e logo em seguida redesenhado e lançado como FED-4b. Ao longo dos anos foram lançados modelos fora da série convencional, como a FED MICRON, MICRON2, FED-35 e FED-50. Fabricaram objetivas, câmeras
estereoscópicas e outros acessórios fotográficos, como tripés e telêmetros externos. A divisão fotográfica da empresa parou de produzir máquinas e lentes em 1997, sendo o modelo de visor direto, FED 50, o último produzido, encerrando uma notável história na indústria fotográfica. A FED existe até hoje atuando em outros ramos, como na fabricação e desenvolvimento de componentes para indústria aeronáutica, sistemas hidráulicos, navios e veículos terrestres. Ainda que a qualidade ótica e mecânica, principalmente dos modelos mais recentes, não seja comparável com a das câmeras produzidas na Alemanha, hoje as FED se conso-
FED 5c comemorativa dos Jogos Olímpicos de Moscou - 1980, Nº64.360 Fonte: sovietcams.com
lidam como excelente opção para fotografia analógica de baixo custo, sendo um grande salto para os fotógrafos que buscam mergulhar no universo analógico sem desembolsar grandes somas de dinheiro. São excelentes opções de câmera rangefinder, completamente mecânica, com visual incrível. As FED possuem um charme próprio e cativam os apaixonados por fotografia e, assim como os demais equipamentos soviéticos, são dotadas de robusta mecânica e construídas para durar. A possibilidade de utilizar lentes M39 é uma outra grande vantagem, pois além da própria Leica, Voigtländer e outros fabricantes alemães, há compatibilidade com verdadeiras pérolas de construção ótica, como a lendária Jupiter-3 50mm f1.5 fabricada pela KMZ, também na União Soviética. É possível montar um conjunto de corpo e lente por um valor infinitamente inferior ao que se pagaria por uma Leica, Voigtländer, Konica Hexar, ou alguma das câmeras telemétricas clássicas. *Paulo Souza é aluno do Curso de Fotografia da Unicap.
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E VOCÊ,
FOTOGRAFA PRA QUÊ? Por Germana Soares*
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Com a chegada da máquina digital, a fotografia faz parte do nosso dia a dia quase como um ato involuntário. Seja na câmera, no celular ou no tablet, milhões de imagens são produzidas diariamente, algumas sendo compartilhadas nas redes sociais, como o Facebook e o Instagram, outras servindo de conteúdo para sites, blogs e afins. E essa produção desenfreada me leva a um questionamento: as pessoas fotografam para quê? Claro que cada um tem seus motivos, suas preferências e eu não estou aqui para julgar, mas, às vezes, deveríamos parar um pouco para pensar a real função que a fotografia pode ter na nossa vida. Aos poucos, esse ato tão definitivo que é o registro de milésimos de segundos da nossa história se torna efêmero e a função de eternizar se perde entre uma curtida e outra. Então quer dizer que só devemos fotografar o essencial? Não. O que podemos fazer é unir essa ferramenta tão poderosa que é a fotografia para nos auxiliar na documentação da nossa história. *Germana Soares é professora do Curso de Fotografia da Unicap
E se você pudesse reviver sua infância através de fotografias feitas pelos dos olhos da pessoa que mais amor pode transmitir? Quando Tomé crescer ele vai poder aproveitar um presente desses. Manu, mãe de Tomé e Nina e esposa de Hugo, decidiu deixar para seus filhos um registro diário da família. O crescimento das crianças fotografado sem muitas regras e com muito amor. Para que as imagens não se percam, Manu decidiu criar uma caixinha de lembranças virtual. As imagens estão salvas no Tumblr que diariamente é alimentado com pedacinhos da história de Tomé. Com curadoria de Georgia Quintas, a infância de Tomé construiu a exposição “Plenitude” no Festival de Fotografia de Tiradentes, 26 a 30 de março de 2014. E sobre o crescimento, pessoal e familiar, Manu segue escrevendo um diário sobre a escolha de sair de cidade grande e descobrir um novo universo, com pés no chão e cheiro de mato. Para quem quiser acompanhar através de relatos divertidos o dia a dia dessa família linda, segue o link: http://notasobreumaescolha.wordpress.com/
Plenitude Por Georgia Quintas
Algumas imagens são para sempre. Ao menos, nascem assim. Para deixarem de estar no passado ao encontrarem o afago do futuro. A exposição Plenitude, da fotógrafa mineira Manu Melo Franco, percorre parte de seu arquivo contemporâneo, pessoal-familiar. Através do exercício cotidiano, a fotógrafa narra um discurso sensível sobre a infância, um modo de viver e experimentar valores autênticos de escolha para sua família. Estar no campo surge nas imagens como prosa que enfronha-se nas descobertas do protagonista genuíno dessa história: Tomé. Divisou o tempo, plantou a seiva do futuro. Porque as coisas vistas são mais profundas, conseguem içar a plenitude dos afetos, da sinceridade das relações com o mundo.
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Porque acessar a memória pela imagem é a chance cabível a todos de compreender sua identidade. Da possibilidade de encontrar o imaginário sensível ao adentrar nas ranhuras impressas na história da alma. Plenitude expressa o esforço íntimo do afeto, do cuidado em amansar, através da fotografia, a passagem dos acontecimentos, do crescimento de Tomé. Todo dia, Manu “guarda” na web uma imagem de seu filho. Ela intenta assim apaziguar o esquecimento. Vontades de mãe. Diz querer guardar esse “instante de tempo na memória do futuro”. Captura coisas vividas, achadas, desencantadas por ele. São fotografias que possuem narração cuidadosa, sentidos porosos, atmosfera diáfana. Imagens de terra, muita terra. Quase que como a esperar a chuva, por saber que o sol será ainda mais amparador.
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Comidas Trabalho realizado durante a disciplina de Anatomia da Câmera Fotográfica se inspira no livro Cozinha Pop, de Mariane Lorente e Laura Salaberry, que traz receitas das 100 melhores cenas gastronômicas do cinema e séries de TV, para revelar 30 imagens de dar água na boca, cuidadosamente recriadas para reproduzir o clima, a luz e, claro, as delícias de cada um dos filmes retratados. Uma delícia para os olhos e para o paladar. Trabalho dos alunos Jefferson Paulino, Karina Galvão, Paulo Souza, Rodrigo Silva, Sollon Filho e Thais Carvalho..
A Dama e o Vagabundo
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Volver
Um Beijo Roubado
V de Vingança
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Como Água para Chocolate
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O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
Harry Potter (cerveja amanteigada)
Pulp Fiction
Psicose
[500] Djas Com Ela
Tomates Verdes e Fritos
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Forrest Gump
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fragmentos do uruguai Por Renata Victor Ratatouille
Bonequinha de Luxo
A Fantástica Fábrica de Chocolate
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Alunos da disciplina Poética da Imagem desenvolvem projeto para discutir o poder da representação nas intervenções urbanas e envolvem todo o Recife nessa jornada
Foto: Simony Rodrigues
Isso não é um simples trabalho universitário Por Dario Brito Às vezes a urgência do cotidiano faz com que utilizemos os espaços urbanos da cidade como “seres anestesiados”. A dinâmica voraz, a pressão imposta pela competitividade e o fôlego ligeiro acabam nos afastando da relação natural do homem com aquele ambiente que ele ocupa. Diante desse ponto de partida - que é tão revelador do nosso cotidiano - os alunos do 3º Módulo do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco lançaram exposições itinerantes que atingiram pessoas de diversos pontos do Recife.
O desenho final do projeto - baseado na obra “A traição das Imagens”, de René Magritte, na qual se lê a frase “Isso não é um cachimbo” - foi assinado pelas estudantes Elysangela Freitas, Mariana Gallindo, Marina Feldhues e Rebeca Patrício e absorvido por todos os alunos da disciplina. A turma se dividiu em nove equipes e explorou imageticamente diversos locais emblemáticos da cidade: Ponte da Boa Vista, mercados públicos de São José e da Encruzilhada, Poço da Panela, Parque da Jaqueira, Rua da Aurora, Praça do Derby, Casa da Cultura e, por fim, o Recife Antigo. Nestes locais, a intervenção consistia em expor as imagens feitas dias atrás nesses mesmos locais e estimular a interação do público passante, bem como a reflexão sobre o poder da imagem, sobre aquilo que vemos na fotografia e sobre o que é real, o nosso dia a dia.
Foto: Maria Xavier
Durante os quatro meses letivos da disciplina de Poética da Imagem eles estiveram envolvidos com dois grandes temas da atualidade: o poder da representação e o impacto da intervenção urbana. Após pesquisar e debater algumas experiências nacionais e internacionais de intervenção, assim como explorar a bibliografia recente sobre a narrativa visual, nasceu o projeto “Isso Não É”, totalmente idealizado, produzido e coordenado pelos alunos, com supervisão do titular da disciplina.
O trabalho, que esteve vinculado à disciplina durante o período letivo 2014.1, ganhou autonomia, pois devido ao grande impacto, alguns fotógrafos externos procuraram saber como se engajar para participar das intervenções. Ou seja, o futuro do projeto “Isso não é” ainda está sendo escrito, certamente de maneira empolgante.
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Foto: Marquinhos Atg
O resultado foi parar na página do projeto no Facebook (há centenas de imagens clicadas pelos alunos no www.facebook.com/issonaoe), que sugerem uma outra visão desses ambientes urbanos justamente para chamar a atenção dos “seres anestesiados” pela pressa cotidiana. Como desdobramento, houve a “redescoberta” desses espaços “in loco” e, na web, uma página com várias curtidas e compartilhamentos.
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Foto: Raquel Northfleet
Foto: Marina Feldhues
Foto: Deborah Barros
Foto: Eva Feitosa
Foto: Gilberto Vieira
Foto: Anchieta Américo
Presente dos deuses Aluna do curso de fotografia da Unicap, Rafaela Melo revela a beleza e a emoção que sentiu na ilha grega de Mykonos Mykonos (ilha branca), uma das mais belas ilhas gregas, foi descoberta em 1950 por um grupo de jovens gregos, mas parece que foi criada pelos deuses, com suas belas praias, cerca de 360 igrejas e ótima infraestrutura para o turismo. Quando fui a Mykonos pela primeira vez pude sentir na pele tudo que tinha ouvido falar sobre o lugar, sua tranquilidade e emoção sem fim. Já desfrutei de muitos pores do sol, mas nenhum que se comparasse ao espetáculo que assisti em Mykonos. Lugar onde se presencia o amor, a beleza, a alegria e os moinhos, além do grande mascote da ilha, Petrus, o pelicano. A também chamada “Veneza grega” encanta os olhos que quem chega por lá, como dizem, quem pisa em Mykonos jamais esquece.
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Abrace a novidade multimídia
Ilustração: Arline Lins
Por Carolina Monteiro*
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mia os melhores trabalhos nas categorias de edição linear (narrativa editada com começo, meio e fim, sem possibilidade de interação por parte do espectador) e interativa, onde é possível interagir com a narrativa ou consumi-la em diferentes plataformas. Aliás, o endereço www.worldpressphoto.org deve ser o ponto de partida para quem ainda não entendeu muito bem as novidades trazidas pela revolução digital para área da fotografia e pode conferir trabalhos como Prision Valley, primeiro vencedor do prêmio, ainda em 2011. Realizado por David Dufresne e Philippe Brault, o trabalho conta a história da indústria dos presídios americanos, a partir da cidade de Cañon City, onde estão localizadas nada menos do que 13 unidades prisionais abrigando 36 mil detentos.
documentário completo pelo iTunes ou ainda instalar o aplicativo para iPhone, que traz conteúdo extra. Em 2013, o vencedor da categoria interativa foi Alma: a tale of violence (http://alma. arte.tv), que conta a história da integrante de uma gangue da Guatemala com um incrível recurso que permite interagir com a janela do vídeo, oferecendo outra narrativa visual que se desenvolve dentro da mesma janela, quando o espectador move o cursor dentro da imagem. Inovação que deixa o observador intrigado sobre como é possível desenvolver e editar dois materiais diferentes no mesmo ambiente. Este ano, a surpresa é o formato de A short history of the highrise (http://www.nytimes. com/projects/2013/high-rise), um documen-
Foto: www. prisonvalley.arte.tv
Um novo desafio se apresenta para quem escolhe hoje em dia a profissão de fotógrafo. Se antes os domínios técnicos e estéticos recaíam sobre a imagem estática, a fotografia agora abarca também o campo da multimídia e suas infinitas possibilidades de formatos obtidos através da mistura entre a foto, o audiovisual, a animação e as linguagens de programação. Em comum entre todos eles está a visualidade e a necessidade do profissional conhecer não apenas os novos equipamentos e softwares disponíveis, mas as diferentes linguagens na hora de criar suas narrativas visuais. O uso das câmeras DSLRs para captura de vídeo é apenas a faceta mais comum desta chamada fotografia multimídia e requer uma percepção macro da imagem que se espera obter, uma vez que a preocupação deixa de ser a captura de um instante decisivo, suficiente para a fotografia estática, mas passa a ser a concepção de takes ou sequências que precisam ter começo, meio e fim. Outro desafio da realização de vídeos com câmeras fotográficas é a utilização do foco, que tem que ser sempre manual, e o cuidado com a profundidade de campo, o que costuma confundir muito fotógrafo que inicia a sua trajetória com o audiovisual. Vencidos os desafios da captura, passa a ser uma habilidade a mais requerida do profissional da área o conhecimento dos recursos de edição. Mesmo que o fotógrafo opte por não editar seus próprios vídeos, contratando terceiros para realizar a tarefa ou usando as equipes de edição de vídeo para a web, comuns nas grandes redações de sites e produtoras que trabalham com o formato, ainda assim, é preciso ou indicado que o autor das imagens se envolva no processo, sugerindo formatos de edição (linear, não-linear etc), as imagens mais adequadas para o roteiro ou os recursos que sugere para enriquecer a narrativa. Desta forma, é importante pelo menos ter uma noção básica dos programas mais usados, Adobe Premiere e Final Cut, entre outros. Para se ter uma ideia da penetração do vídeo no campo da fotografia, desde 2011, o prestigiado concurso WordPress Photo criou a categoria fotografia multimídia, onde pre-
O formato se apresenta como um web-documentário, como vem sendo comum chamar as produções audiovisuais feitas para a internet. É possível acessar seu conteúdo pelo endereço http://prisonvalley.arte.tv, em uma plataforma que combina fotos, vídeos, texto, integração com as redes sociais e recursos de personalização da navegação pelo extenso conteúdo. Outra opção é baixar e assistir o
tário do NYTimes sobre a verticalização da cidade de Nova York em uma narrativa interativa inspirada nas possibilidades de interação trazidas pelo iPad e criada com ilustrações e fotos históricas da cidade e seu inconfundível skyline. O que os três trabalhos citados até aqui tem em comum é a capacidade de surpreender e fornecer aos profissionais da imagem um novo mundo de possibilidades criativas.
Foto: www. alma.arte.tv
Foto: www.nytimes.com
Entre os novos formatos de fotografia multimídia, outro que vem despertando o interesse e parece ter caído nas graças dos fotógrafos é o timelapse, recurso que permite juntar várias fotos tiradas com intervalos regulares de segundos entre elas, montadas como se fossem um vídeo mas com o efeito de fotos estáticas em movimento. Ideais para cenas de nascer e por do sol, cenas urbanas e de natureza, o timelapse já foi integrado como recurso de alguns modelos de câmera (Nikon D800, Canon 5D e 7D e GoPro Hero 3, entre outras). Basta posicionar a câmera em um tripé, definir o intervalo entre os disparos e esperar para montar resultados impressionantes como em Time of Rio (http://vimeo.com/55945051) e Mar de Luz (http://vimeo.com/65395616), ambos feitos pelo pernambucano Marcos Michael e pelo paulista Gustavo Pellizzon. Em mais ou menos três minutos de vídeo, mais de
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com a fotografia, apostar na multimídia e em novos formatos é mais do uma “instigação”. Ser criativo, inovador e lançar mão de todos os recursos disponíveis pode e deve ser um diferencial no seu trabalho, tornando-se uma nova área de expertise e prestação de serviços. Experimente!
Foto: Reprodução do vídeo Time Of Rio
35 mil imagens de tirar o fôlego. O recurso do timelapse também está disponível para quem vem se apostando nas fotografias feitas com smartphones e pode ser feito facilmente com aplicativos como Lapse It, iMotion, oSnap e Miniatures, entre outros. Para quem trabalha profissionalmente
*Carolina Monteiro é jornalista e professora das disciplinas de Semiótica e Fotografia e de Mídias Digitais do Curso Superior de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
Já estabelecidas no mercado audiovisual, as câmeras DSLRs ampliaram as oportunidades de atuação profissional para o fotógrafo. O mercado prepara novidades que devem elevar a captura das imagens a outro patamar Por Leonardo Castro Gomes*
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Próximos passos da revolução do vídeo na fotografia
As câmeras DSLR (Digital Single Lens Reflex) promoveram uma revolução no segmento do vídeo prosumer (termo que designa equipamentos de baixo custo voltado a usuários avançados e possibilita ambições profissionais) e, simultaneamente, trouxeram uma ampliação das oportunidades de atuação profissional para o fotógrafo. Desde 2008, ano de lançamento da já lendária câmera Canon 5D Mark II, o debate em torno do potencial desses equipamentos para o audiovisual independente celebra qualidades como a ótima relação custo-benefício, a versatilidade (funciona como máquina fotográfica e câmera de vídeo), o acervo de objetivas disponíveis, o bom desempenho em situações de baixa luminosidade e o dito “look cinematográfico”. O entusiasmo inicial que marcou esse debate trouxe uma certa mistificação, potencializada pelos impressionantes exemplos de séries de televisão, vídeoclipes e filmes realizados com câmeras HDSLR, e o lançamento de novos equipamentos para concorrer nesse segmento dificultou ainda mais a compreensão das limitações e cuidados exigidos para obtenção dos melhores resultados que esse tipo de equipamento proporciona. Uma reflexão sobre os aspectos técnicos do modo vídeo nas câmeras HDSLR ajuda a compreender a dimensão dessa revolução. Parte da “revolução” HDSLR começa a se definir em 2003 quando a primeira versão das normas de padronização do codec (conjunto
de instruções utilizados para representar um sinal de vídeo em um código numérico binário) H.264/Mpeg-4 AVC é concluída pelo grupo de trabalho formado por especialistas do ITU-T Video Coding Expert Group e do ISO/IEC JTC1 Motion Picture Expert Group (MPEG). O codec H.264/Mpeg4 AVC inovou na solução do problema da codificação do sinal vídeo aplicando eficientes técnicas de compressão, o que permitia obter uma codificação de qualidade superior utilizando a mesma quantidade de dados ou a utilização de menos dados para obter a mesma qualidade de codificação que os codecs anteriores. No quadro evolutivo das câmeras DSLR para aplicações profissionais ou semi-profissionais (fotojornalismo, eventos, publicidade, fine art etc), a exigência de processamento de imagem em formatos raw, com alta velocidade de obturação, suporte a múltiplos disparos e modos “inteligentes” de auto-focus, bem como a utilização de uma geração de cartões de memória com desempenho superior a 50Mb/s, promoveram o desenvolvimento de um hardware que também era capaz de codificar o sinal eletrônico gerado pelo sensor da câmera em H.264/Mpeg4 AVC, com diferentes resoluções em HD, trazendo uma nova perspectiva para o modo vídeo em equipamentos fotográficos. Atualmente, as câmeras DSLR são hegemônicas no que se refere ao segmento da produção independente. A cada dia obras
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fotograficamente bem elaboradas são postadas no Vimeo ou no Youtube junto a uma quantidade ainda maior de trabalhos fotograficamente medíocres, evidenciando que uma direção de fotografia destacável exige o domínio da linguagem, pois a própria ergonomia e os aspectos relacionados à arquitetura dessas câmeras delineiam as melhores abordagens para a produção de um vídeo. Nessas circunstâncias, o realizador de vídeo se diferencia do fotógrafo still, pois está habituado ao pensar a gravação como conjunto de imagens e eventos que se relacionam. Assim, ele coleciona planos, pois sabe que é na montagem que o projeto adquire sua forma ideal. Em todo caso as propriedades das DSLR exigem um aprendizado para quem é habituado ao uso de câmeras de vídeo.
“O ano de 2014 marca o amadurecimento do que foi considerada a revolução do vídeo em equipamento DSLR” Uma das principais vantagens das DSLR em relação às câmeras de vídeo semi-profissionais é o tamanho do sensor. Os sensores empregados na maioria das DSLR são APS-C ou 35 mm (full-frame), que possuem área maior do que os sensores de 1/4 à 3/4 de polegada utilizados nas câmeras de vídeo semi-profissionais do período pré-DSLR. A consequência prática é que os sensores
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maiores possuem densidade de pixels e sensibilidade à luz superiores, que qualificam o sinal eletrônico e favorecem uma codificação ótima em condições adequadas de exposição. Aliando os recursos oferecidos por objetivas rápidas (com abertura de diafragma abaixo de f2.8) e as possibilidades de ajuste de sensibilidade ISO (sensibilidade acima de ISO1600, frequentemente ISO6400 ou maior) chegaremos ao celebrado desempenho das DLSR em situações de pouca luminosidade. Tal desempenho encoraja metodologias criativas que consideram a luz natural como opção conceitual, o que há princípio não configura um erro, mas impõe restrições devido a características do modo vídeo em DSLR. Fotógrafos habituados ao fluxo de trabalho baseado em formatos raw e pós-produção em suítes como Adobe Lightroom e que iniciam experiências no modo vídeo já devem ter percebido a dificuldade de obter vídeo com a mesma qualidade visual obtida no modo foto. No modo vídeo a exposição é muito mais crítica, pois os vídeos codificados em H.264/ Mpeg4 AVC possuem uma relação de contraste próxima a 6-stops (no mesmo sentido utilizado pela escala de cinzas descrito por Ansel Adams) entre o preto e o limite de branco, enquanto no modo raw essa relação alcança 14-stops. Com isso, o modo vídeo encontrará maior dificuldade em obter boas imagens em situações de alto contraste do que no modo foto. Essa dificuldade não é tão percebida pelo cinegrafista, pois mesmo limitado em comparação ao modo foto, o contraste suportado pelo modo vídeo nas câmeras DSLR é dramaticamente superior ao da maioria das câmeras de vídeo pré-DSLR. Outra característica relacionada a esse aspecto é a reduzida profundidade de campo nas imagens produzidas com objetivas rápidas (aberturas abaixo de f2.8), que definitivamente não é um problema na fotografia still (sobretudo com os eficientes modos semi-automatizados de auto-focus), pode se converter um transtorno quando o motivo se movimenta no enquadramento. O efeito bokeh pode ser explorado criativamente ou se converter
em incômodo/estranhamento a depender da abordagem. Resolver o problema do foco em situações de baixas luzes exige trabalhar com diafragmas mais fechados (abertura acima de f3.5), entretanto, com essas aberturas a qualidade fotográfica será preservada apenas utilizando técnicas de iluminação adicional, empregadas para preservar o efeito de penumbra, mas com luminosidade mínima para garantir um bom nível de vídeo. A opção alternativa seria trabalhar com velocidade de shutter mais baixa (limitado ao mínimo de 1/30s, o que torna essa função quase irrelevante em situações de baixas luzes) ou aumentar a sensibilidade ISO, com o inconveniente de incidência de ruídos (grão eletrônico) nas áreas de sombra e dificuldade de reprodução de cores, sobretudo de tons de pele. Se essas observações alertam para os riscos de situações de sub-exposição no modo vídeo em DSLRs, o inverso também resulta em inconvenientes, pois em situações de superexposição as áreas acima do limite de luminosidade suportada pelo sensor serão codificadas “clipadas em branco” não permitindo ajustes de exposição mais radicais na pós-produção, exigindo do diretor de fotografia rigores e segurança conceitual para determinar a exposição mais adequada. Chegamos, portanto, ao aspecto chave para enfrentar a mistificação em torno dos recursos técnico-expressivos oferecidos pela função vídeo nas câmeras DSLRs. A questão chave para o diretor de fotografia, entre outras questões também relevantes (como composição de quadro e movimento de câmera), continua sendo determinar a exposição correta para produzir uma imagem adequada ao conceito fotográfico do vídeo ou filme. A possibilidade de controle sobre as luzes incidentes na cena e sobre os parâmetros da câmera determinam as circunstâncias em que se dá o processo criativo. Isso justifica a disparidade de resultados obtidos nos melhores filmes publicitários, curtas ou longas metragens, videoclipes ou séries de TV rodados em Canon 5D Mark III, Panasonic DMC GH4 ou Nikon D600 e a realidade de produção dos segmentos de
eventos, de produção de conteúdo pra web, de produções acadêmicas ou experimentais, pois enquanto em produções profissionalmente estruturadas a câmera é apenas parte de um sistema de aquisição de vídeo em um complexo aparato (que envolve acessórios como follow focus, matte box, suportes, tripés, grua, travelling, steadycam, monitores, drones, equipamento pesado de iluminação, rebatedores, modificadores, lentes, filtros, etc.), nas produções precárias o improviso acaba restringindo a capacidade de ação no que se refere à direção de fotografia. Em todo caso, para a realização, seja em condições técnicas favoráveis, mas ainda mais em situações precárias, uma sólida compreensão dos fundamentos da fotografia permite a adoção de soluções criativas que valorizam o trabalho. O ano de 2014 marca o amadurecimento do que foi considerada a revolução do vídeo em equipamento DSLR. A iminência do lançamento do codec H.265/HEVC, as pressões em torno de resoluções UHD e 4K DCI e o lançamento de diversos equipamentos de cinema digital na faixa de preço das versáteis DSLR, configuram o que é conhecido como período pós-DSLR. Isso não significa a obsolescência dessa tecnologia, mas a estabilização de uma maneira de pensar e conceber a produção audiovisual a partir das circunstâncias colocadas por essa tecnologia. A implementação de funcionalidades a partir de modificações de sistema operacional, como o desenvolvido pela comunidade Magic Lantern para as câmeras Canon, habilitam funcionalidades como a gravação de vídeo no formato raw CinemaDNG e em resoluções superiores a Full HD exigem o aprendizado e desenvolvimento de fluxos de trabalho que elevam as câmeras DSLR a outro patamar. Precisamos estar abertos para assimilar essas transformações, pois a evolução da técnica é um caminho irreversível. *Leonardo Castro Gomes é mestre em Comunicação Social pela UFPE e professor da disciplina de Captura e Edição de Vídeos DSLR no Curso de Fotografia da Unicap.
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Foto: Manuel Álvarez Bravo
ANALISE DE IMAGEM
Para esta edição da Unicaphoto selecionamos a análise de imagem da aluna Rebeca Patrício feita durante a disciplina Linguagem Fotográfica I, em 2013.2, ministrada pelo professor Leonardo Ariel. O fotógrafo homenageado desta vez é o Mexicano Manuel Álvarez Bravo. Figura importantíssima da história da foto na América Latina, cuja trajetória imagética eternizou o povo de sua terra em cliques singelos carregados de poesia.
Sobre o fotógrafo Considerado um dos artistas fotográficos mexicanos mais renomados do século 20, Manuel Álvarez Bravo possui um trabalho fotográfico singular que se destaca do comum pela sua irreverência e ironia. Ele transformou o normal e aparentemente banal em algo extraordinário e monumental. Nascido e criado na Cidade do México, ele estudou Artes na Academia de São Carlos, contudo sua fotografia é autodidata. Sua carreira teve início nos anos 1920 até o apogeu nos anos 1990. Seus trabalhos apresentam influência europeia, uso do pictorialismo e da estética; fotos de paisagens, retratos, nus e reportagens fazem parte do seu portfólio. Descrito como “misterioso” pelos críticos, Bravo não estava preocupado em contar uma história através de suas fotos, simplesmente sentia o anseio em expressar a essência do seu país através de suas lentes. Análise da imagem De costas para a câmera, uma menina usando uma saia branca espreita por uma janela redonda em uma parede estampada com a pintura descascada. Sua cabeça não está totalmente à mostra, pois foi ofuscada por um sombreiro (chapéu de abas largas, símbolo da cultura mexicana) que tem forma semelhante à janela redonda. Descalços, seus pés estão sobrepostos e parecem simular a criação de uma escada, mostrando que ela quer conseguir enxergar melhor o que há por trás da janela redonda. Sua mão direita desaparece na escuridão da janela ao querer investigar o seu conteúdo, invisível aos olhos do fotógrafo. Seu corpo reflete uma sombra suave na parede, indicativo da luz provavelmente filtrada por nuvens, revelando o horário em que a fotografia foi feita. O jogo do claro/escuro brinca com a imaginação do observador. A foto encenada busca provocar curiosidade. O contraste entre a luz intensa do lado de fora e da escuridão total revelada através da janela causa inúmeras interpretações. Uma delas se refere à inocência da menina, que usa uma saia de cor branca, símbolo de pureza e ingenuidade. Em contrapartida está o interior da janela, totalmente escuro, com seu conteúdo invisível aos olhos, representando o fim dessa inocência em um futuro próximo.
Embora não se tenha ideia do que a garota olha dentro da janela, há um sentimento de que é algo sinistro, amedrontador, mas exige coragem da parte dela. Tal interpretação pode ser relacionada com a época em que a foto foi produzida, visto que desde a década de 1910 os mexicanos passaram por uma revolução político-social no país, incluindo revoltas e conflitos civis. Quanto à estética da foto, pode-se dizer que o jogo de formas foi bastante pensado. A forma da janela refletida na forma circular do chapéu e o desenho de quadrados e retângulos dispostos na parede ajudam a criar um arranjo visual, causando uma composição e enquadramento equilibrados. O plano médio (que aproxima o personagem em meio ao ambiente retratado, proporcionando valor descritivo e harmonia entre os elementos) consegue direcionar o olhar do observador e o situa através de toda a foto, levando-o a observar a situação de cima para baixo, simulando um triângulo (da janela obscurecida, passando pela sombra refletida na parede até os pés da menina). Conhecido por suas fotos poéticas, Bravo demonstra nesta foto boa parte da sua essência literária. A utilização dos elementos de significação torna essa poesia bastante clara. O chapéu, utilizado pela menina, é indicativo da sua nacionalidade. Típicos da cultura mexicana, o sombreiro é um dos grandes símbolos da cultura do país. Além disso, pode-se enfatizar a questão dos pés descalços, representativo de humildade e baixo poder aquisitivo, situação em que muitos mexicanos se encontravam na época. Elementos da linguagem fotográfica Jogo do claro/escuro, luz suave, formas, composição e equilíbrio, elementos de significação, enquadramento, plano médio, geometria. Referências de pesquisa Masters of Photography – Manuel Alvarez Bravo. Acesso dia 29/09/13. MARNHA, Patrick. Photopoetry, por Manuel Alvarez Bravo. Acesso dia 29/09/13. Manuel Álvarez Bravo. Acesso dia 29/09/13.
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DIREITO AUTORAL E DIREITO DE IMAGEM Julianna Nascimento Torezani*
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITO AUTORAL Assim como existe uma legislação internacional para proteção das obras intelectuais através da Declaração Universal de Direitos Humanas e das Convenções de Berna e de Genebra, no que confere a legislação nacional sobre o direito autoral é contemplado no Artigo 5 da Constituição Federal de 1988: ARTIGO 5 - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar. XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas. A atual Lei de Direito Autoral (Lei nº 9.610/1998) trata do direito moral e do direito patrimonial dos criadores de obras intelectuais. O direito moral consiste na autoria da obra em que o autor tem titularidade da obra, assina a criação e é um direito intransferível. O direito patrimonial permite a negociação da obra para exibição, publicação e comercialização, em que obra intelectual só pode ser difundida com a autorização prévia e expressa do autor ou pelos herdeiros. As obras intelectuais protegidas pela lei brasileira só ficam em domínio público após 70 anos da morte do autor e, mesmo assim, continua a valer o direito moral do autor, toda vez que esta a obra
for utilizada deve indicar o nome do criador. Quanto às obras fotográficas ficam protegidas por 70 anos, a contar de 1º de janeiro do ano após sua divulgação. Art.7. São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: VII – as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia. Art. 12. Para se identificar como autor, poderá o criador da obra literária, artística ou científica usar de seu nome civil, completo ou abreviado até por suas iniciais, de pseudônimo ou qualquer outro sinal convencional. Art. 79. O autor de obra fotográfica tem direito a reproduzi-la e colocá-la à venda, observadas as restrições à exposição, reprodução e venda de retratos, e sem prejuízo dos direitos de autor sobre a obra fotografada, se de artes plásticas protegidas. Para Manuella Santos (2009, 87), autora da obra Direito autoral na era digital: impactos, controvérsias e possíveis soluções, “a função social do direito autoral é a difusão cultural em prol da coletividade e do meio ambiente social, elemento essencial no processo evolutivo das civilizações. [...] Cremos que quanto mais protegido for a obra do intelecto, mais incentivado será o seu criador, mais conhecimento produzirá e mais desenvolvida será a sociedade”. Assim, a Lei de Direito Autoral tem por função a questão social, para manter a integridade da obra e proteger o conhecimento cultural criado por gerações, o que contribui para o crescimento do país. Portanto, as obras intelectuais devem ser protegidas tanto para o devido uso de quem as criou, quanto para valorização cultural do patrimônio do país.
* Julianna Nascimento Torezani é formada em Comunicação Social (UESC) e professora do Curso de Fotografia da UNICAP onde ministra a disciplina de Legislação para o uso da Imagem
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DICAS
Caminhando numa cidade de luz e sombras: um convite à pesquisa histórica da fotografia Por Fabiana Bruce Caminhando numa cidade de luz e sombras: a fotografia moderna no Recife na década de 1950, Bruce, 2013
A
Lixo Extraordinário Diretor: Lucy Walker, 2010
B
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain Diretor: Jean-Pierre Jeunet, 2001
Foco: A atenção e seu papel fundamental para o sucesso Daniel Goleman, 2013
C
Muito Além do Jardim Diretor: Hal Ashby, 1989
Contexto e Narrativa em Fotografia Maria Short, 2013
D
A fotografia dentro da cozinha Diretor: Mauro Holanda, Editora Photos
E
O Grande Mestre (Yut doi jung si) Diretor: Wong KarWai, 2013
Estúdio: Fotografia‚ Arte‚ Publicidade e Splashes Tony Genérico
http://blogs.estadao. com.br/olhar-sobreo-mundo/
http://olhares.uol. com.br/
http:// tramafotografica. wordpress.com/
http://www. walterfirmo.com.br/ home/galeria.php
Expor uma história: a fotografia do cinema Ricardo Aronovich, 2004 Dicas de: A - Julianna Torezani B - Germana Soares C - Renata Victor D - Leonardo Ariel E - Leonardo Castro
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http://www. artofthetitle.com/
Não sabemos qual é a fotografia que vai ficar para as gerações seguintes, para nossos filhos e netos. A fotografia, como um dado do real, está hoje, cada vez mais, em toda a parte. Só que em um suporte distinto que nem mais queremos manusear, basta que a compartilhemos nas redes sociais. Talvez estejamos um tanto dessensibilizados diante das imagens fotográficas. Se procuramos a novidade, fica parecendo também que não mais nos surpreendemos com o que é fotografado e mostrado como imagem. Se, há algumas décadas, perdemos o processo molhado, como dizia Jeff Wall (Milk), e não temos mais a espera necessária para “ver o resultado”, como os fotógrafos “mais antigos” bem o sabem, com o tempo também parecemos ter perdido a noção de que quem está por trás da fotografia é o fotógrafo. Talvez esteja exagerando um tanto, mas muito me afeta a banalização da imagem fotográfica em seu pedestal natural. É preciso desnaturaliza-la e, com isso, aprender a ver e não ficar passivo diante de uma fotografia, principalmente quando ela é legendada. Neste ponto a fotografia e a história convergem. Uma história que, além do fato acontecido, é reflexão, critica e criação. É isso que a pesquisa, que resultou no livro Caminhando numa cidade de luz e sombras. A fotografia moderna no Recife de 1950, que não tinha a pretensão de ser um livro, quis mostrar, pois é o resultado de um trabalho de pesquisa em arquivos fotográficos do Recife transformada numa tese de doutorado em História, e sabemos que a maioria das teses não encontra canais de publicação. Acabou sendo publicada porque resolvi, de última hora, envia-la pelos Correios,
com pseudônimo, para participar de um concurso recém-lançado na época, em 2010: o 1° Concurso do Cehibra Fonte de Memória, da Fundação Joaquim Nabuco. Assim, o trabalho passou por uma Comissão de Avaliação e foi selecionado, considerando-se que a documentação utilizada na pesquisa e para a escrita da tese pertence ao Cehibra: condição para a premiação. A ideia de moderno que o livro acentua considera presente e passado ao mesmo tempo, simultaneamente, e busca a especificidade da fotografia praticada no Recife sob esse sentimento. Reconhecida como fotografia moderna, essa prática está igualmente vinculada a um projeto construtivista, cuja entrada no Brasil o olhar pernambucano adiciona mais um evento para além do eixo Rio de Janeiro - São Paulo, através do fotógrafo Alexandre Guilherme Berzin (Riga, 1903 – Recife, 1979). Berzin que chegou ao Recife em 1928 argumentava sobre a importância de “aprender a olhar” e “ensinar a ver”, como exercícios do fazer fotografia. O livro diz que ele foi o aglutinador desse grupo de fotógrafos que se autodenominavam camera conscious, interessados em pensar fotografia e em participar de Salões, onde compartilhavam suas experiências e concorriam com outros fotógrafos do Brasil e de fora do país, como os da França e da Argentina. Na parte inicial o livro trata do Foto Cine Clube do Recife, de seus personagens na década de 1950, de sua organização, de seu funcionamento, de sua produção fotográfica, de sua escola. Na sequência vai expondo, como numa caminhada, alguns referenciais que, embora não sejam literalmente assinalados pelos entrevistados, antigos integrantes do FCCR, puderam ser identificados em suas práticas e na documentação da Coleção AB/ FCCR, em confronto com os estudos disponíveis em 2005. Na parte final, o livro pode ser considerado como uma legenda extensa, contando uma história não linear. Essas pequenas histórias contadas (short cuts) a partir da experiência do Foto Cine Clube do Recife, têm a intenção de refletir a fotografia como montagem (metodologia, narrativa, memória) e como campo do saber. Aqueles « fotógrafos do Recife » nos mostraram isso.
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Fotógrafos têm canal de TV gratuito na Web
Foto: www.tvescambo.com.br
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A TV Escambo oferece, desde março, programas para enriquecer o conhecimento dos interessados no mercado fotográfico Por Arline Lins
“Com o intuito de mostrar as novas tendências do mercado, a TV Escambo foi criada para trazer aos profissionais e amantes da fotografia conselhos, trocas de ideias, um novo conceito de TV interativa, ampliando sua bagagem de conhecimentos no ramo fotográfico. Dicas sobre moda, gastronomia, edições fotográficas e outras atividades que serão reveladas sob um olhar aprofundado.” Isso é o que diz o parágrafo de apresentação da web TV do Escambo Fotográfico. A marca, já conhecida pelos fotógrafos em Pernambuco, lançou em março deste ano um canal de televisão online para divulgar informações gratuitas sobre o mundo da fotografia. “A nossa única intenção é passar conhecimento de graça para os fotógrafos. Todo mundo vê TV o tempo inteiro, mas nem sempre encontramos assuntos que nos interessam diretamente. A Escambo oferece isso aos profissionais da área”, explicou Henrique Leite, diretor comercial da Escambo Fotográfico. Por enquanto, o público pode assistir a dois programas. O primeiro é o Fotogastrô, apresentado pelo fotógrafo Rafael Medeiros. Ele passa por restaurantes da Região Metropolitana do Recife e, em cada programa, mostra o passo a passo para fazer um prato diferente. Enquanto o chef prepara o prato, Medeiros se preocupa com a luz e vai pensando nos enquadramentos e imagens que poderá capturar, uma vez que a comida estiver pronta. “Para tirar fotos de comidas, é preciso saber como funciona a gastronomia”, explicou Leite. O segundo programa é conduzido pela jornalista Vitória Pirro. O Fotoprosando é um espaço de bate-papo sobre fotografia, com pessoas de várias áreas profissionais ligados ao tema. Entre os já entrevistados, estão nomes como Renata Victor, Francisco Cribari e Fernando Azevedo. O vídeo deste último já teve mais de cinco mil visualizações. Cada programa é postado semanalmente. O Fotoprosando aos sábados, 14h, e o Fotogastrô aos domingos, ao meio-dia. No site também é possível assistir aos programas anteriores. Henrique Leite tem projetos de acrescentar outros programas à grade, sendo um deles voltado para a fotografia no mundo da moda. O diretor aguarda apenas a chegada de um novo cinegrafista para dar início às filmagens.
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Alexandre Severo Um dia, um rapaz, estudante de uma instituição que lecionei durante curto período, me procurou dizendo que gostava de fotografia e que queria saber o que fazer para conhecer melhor as técnicas que envolvem a criação de uma imagem fotográfica. Costumo dizer que quem gosta da fotografia já é meu amigo, e com aquele jovem curioso não foi diferente - logo me afeiçoei a ele. Assim, trouxe-o para o meu convívio e tive a felicidade de acompanhar sua trajetória. Outras características suas me fizeram ter ainda mais orgulho, pois era um rapaz educado, determinado, sensível e que demonstrava um carinho especial pela família. Anos depois, ainda tive a oportunidade de ser mais uma vez a sua professora, pois ele fez parte da primeira turma do Curso de Fotografia da UNICAP. Infelizmente, quis o destino nos privar do imenso talento de Alexandre. Aquele jovem do início aprendeu rapidamente a técnica de fotografar, e fotografar muito bem. Severo partiu muito cedo, mas o pequeno consolo é saber que ela era feliz e morreu fazendo o que mais gostava, trabalhando com fotografia. Você está eternizado pelo seu trabalho, em cada imagem de sua autoria estará você. Ao apreciar suas fotos iremos amenizar a enorme saudade gerada pela sua ausência. Querido Alexandre, agradeço o privilégio de ter sido sua professora, amiga e madrinha de casamento e da fotografia. Vai em paz. Renata Victor
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Foto: Alexandre Severo Foto: Alexandre Severo
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Foto: Alexandre Severo