Revista do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap - #7, ago 2016 www.unicap.br/unicaphoto
Na web www.unicap.br/unicaphoto /fotografiaunicap
Expediente Coordenação: Renata Victor Edição: Carolina Monteiro Diagramação: Arline Lins Textos: Dario Brito, Suann Medeiros, Augusto Cataldi, Germana Soares, Frederico Paulo de Barros e Rafaela Bôaviagem Cavalcanti da Silva, Marcos D´Rua, Paulo Souza, Juliana Nascimento Torezani, Rafael Martins, Diego Araújo, Rautemberg Nóbrega, Ãngela Grangeiro Fotos: Ivan Alecrim, Hélia Scheppa, Marcela Freire, Renata Victor, Marcos D´Rua, Rafael Martins, Diego Araújo, Rautemberg Nóbrega, Suann Medeiros A UnicaPhoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (ISSN 2357-8793). Fotos da capa: Yêda Bezerra de Melo
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Foto: Daniel Guimarães
EDITORIA L
Renata Victor
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap
Viva a fotografia! Apesar da fotografia ser uma jovem senhora de 190 anos, não para de surpreender e se reinventar. Ela muda de artefato, amplia as suas funções sociais e se afirma como importante instrumento para história, memória e cultura mundial. Ao longo da minha vida profissional, trabalhando e lecionando na área da fotografia, tenho me encantado com o poder que ela tem de agregar pessoas, aumentar a autoestima e ser um forte instrumento de inclusão social. Tempos atrás, trabalhando em um jornal local, fui escalada para uma pauta com uma médica que havia voltado de uma residência em um hospital francês que desenvolvia uma pesquisa com mães e filhos separados após o nascimento porque os bebês necessitavam de maiores cuidados e permaneciam no hospital enquanto as mães recebiam alta médica. Para amenizar o sofrimento deles, mães e filhos eram fotografados. Uma foto era dada à mãe e outra ficava na incubadora do filho. Os resultados foram extraordinários, pois as mães demostravam mais tranquilidade e os bebês apresentavam melhoras e levavam menos tempo no hospital. O objetivo maior da UNICAPHOTO é ampliar e compartilhar conhecimentos imagéticos. Hoje, trazemos a 7ª edição da UNICAPHOTO para comemorar o Dia Mundial da Fotografia, 19 de agosto. A seleção temática desta edição contém estudos e ensaios fotográficos desenvolvidos por alunos do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia e da especialização As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual, entrevista com os agraciados com o prêmio Alcir Lacerda 2016, os fotógrafos Yeda Bezerra de Mello e Fernando Neves, o lançamento da Coleção ADI de fotografia, as tradicionais colunas e seções e, as novas seções fotossíntese e tutoriais. Por fim, agradeço aos alunos, professores, colaboradores que contribuem para a existência da UNICAPHOTO, em especial às professoras/editoras Carolina Monteiro e Julianna Torezani e à jornalista e diagramadora Arline Lins. Boa leitura!
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Sumario Aconteceu no Curso de Fotografia da Unicap
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Entrevista
com Fernando Menezes
ADI lança coleção de imagens artísticas.
Florscience De Marcela Freire
Edward Weston: do lugar comum ao incomum
Reportagem
As narrativas contemporâneas da fotografia e do audiovisual
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Reportagem
Entrevista com Yêda Bezerra de Mello
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Ensaio
com Ivan Alecrim
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Reportagem
Acervo Unicap
Reportagem
Sobre o fluxo de gerenciamento de cor
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Ensaio
Ciclo da vida De Renata Victor
Coluna
Foto _Síntese com Marcos Jr.
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Coluna
Direito autoral e direito de imagem com Julianna Torezani
Foto_Síntese com Diego Araújo
Expedição Endurance: a incrível
O fotógrafo, a fotografia e a história
Reportagem
Revelação caseira de filme fotográfico diapositivo chromo
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Reportagem
Photografo Ergo Sum De Rafael Martins
Ensaio
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Reportagem viagem à Antárdida completa 100 anos
A fotografia de Cinema, Aspirinas e Urubus
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Coluna
Reportagem
Ensaio
Quem é você nas cores? De Suann Medeiros
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Coluna
Dicas de filmes, livros e sites com Juliana Torezani
ACONTECEU
MAIO 1. Lançamento da 6ª edição da UnicaPhoto 2. Fotografia na Gastronomia é tema de aula 3. 1ª Gincana do Saber Fotográfico (foto) 4. Aluno Rautemberg Nóbrega visita a Exposição Genesis de Sebastião Salgado
JUNHO 1. Início das 2ª e 3ª etapas da especialização As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual 2. Exposição Interdisciplinar 3. Ex-estagiária Ashley Melo tem foto selecionada para final do Prêmio Cristina Tavares (foto) 4. Ex-aluna Vanessa Dias é eleita para o hanking do Bride Association 5. Aniversário da professora Carolina Monteiro
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MAI-AGO 2016
JULHO 1. Colação de Grau 2016.1 (foto) 2. Parabéns aos alunos que participaram do Intercom NE 2016 3. Exposição do Pernambuco Foto Clube “Tributo a Sebastião Salgado” 4. Último dia do estagiário Augusto Cataldi 5. Vestibular Portas Abertas 6. Workshop de Fotografia de Gastronomia com Rafael Medeiros
AGOSTO 1. Abertura do 2º semestre (foto) 2. Exposição da aluna Amanda Pietra em Garanhuns 3. Lançamento da Coleção Fineart da ADI
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O ACERV P UNICA
Adeus
a
Coluna organizada pelo professor Dario Brito
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Dom Miguel
o ultimo dos idealistas FOTÓGRAFO - Ivan Alecrim CAMERA - Canon EOS LENTE - 50mm ISO - 100 LUZ - Natural DATA - 14 de agosto de 2005
“No dia da morte Miguel Arraes eu estava de folga do jornal. Era agosto de 2005, eu estagiava na Folha de Pernambuco havia uns oito meses e, entre outras coisas, era o plantonista dele nas últimas semanas, cobrindo o hospital onde ele estava internado. O telefone tocou e me avisaram: “Arraes faleceu, venha para a redação”. Quando cheguei lá, estavam escalando quem ia para o velório e quem não ia, quem ficaria dando suporte ao restante da equipe. Vi que eles separaram uma time peso pesado para a cobertura. Tinha Daniela, Clemilson, Bobby, Betini... e de estagiário apenas eu. Quando me disseram “Você também vai”, eu gelei. Hoje, penso que foi ótimo, mas na hora foi tenebroso. Na divisão das atribuições, teve gente que foi para
o aeropoto, para o Palácio do Campo das Princesas, registrando quem visitava o caixão, enfim, e eu fiquei no entorno do Palácio sozinho. Essa era a minha missão. Me coloquei ali na frente da praça e o choque foi maior ainda quando cheguei porque os outros jornais só mandaram gente de renome também e muitos deles lá fora comigo. Pensei: “Vou ser comido pelos leões aqui, mas bem, se não tem o que fazer, o que eu vou fazer é nada”. Tudo foi acontecendo bem naturalmente e, para mim, foi muito marcante porque apesar de não ter militância ou formação política alguma, lembrava sempre dos meus pais falando de Miguel Arraes e da força dele diante do povo. Ele sempre foi uma figura muito comentada dentro de casa. Depois eu percebi a sorte que eu tive de ficar do lado de fora porque via as pessoas chegando e, principalmente, como estavam chegando, tanto os oficiais, políticos, artistas, quanto as pessoas reais chegando também. E essas eram as mais interessantes. De repente, chega um caminhão carregado de ex-eleitores de Arraes, todos de chapéu de palha, cantando jingles antigos de campanha. Fiquei ali no melhor lugar, no camarote, sem saber. Via pessoas chorando e toda aquela energia do momento. Depois de um tempo, gritaram: “Vai sair”, e percebi que estavam falando do caixão. Vi, então, que eu estava na melhor das posições. Subi numa estrutura de ao vivo de uma TV local e veio aquela história gigante na minha cabeça: Arraes havia saído do Palácio na época do Golpe para o exílio, pelo mangue, depois voltou ao Brasil logo que eu nasci. Foi eleito e entrou de novo no Palácio pela porta da frente, assim como saiu quando acabou o mandato. Então ele entrou e saiu diversas vezes daquele local. Mas aquela era a última vez que ele saía do Palácio e certamente era a mais emblemática: no caixão, pelos braços do povo. Consegui registrar isso de frente, toda essa manifestação, todos os eleitores ali, de chapéu de palha. Sei que não é a minha foto mais bonita, mas é a mais incrível e a história depois dela também me enche de orgulho. Cheguei muito cansado naquele dia em casa e umas horas depois, o telefone toca. Era alguém do jornal. Eu, estagiário, já pensei: “Deu alguma bronca, fiz algo de errado”. Mas era o pessoal da minha editoria me dando parabéns. Eu havia ganho a minha primeira capa: “Ivan, essa sua foto é sensacional, vai abrir o jornal de amanhã”. Só tive a real noção do que havia feito no dia seguinte, quando cheguei na redação e os meus colegas estavam lá, vibrando e me parabenizando. Ainda teria uma outra alegria imensa: meses depois, essa foto me renderia o primeiro prêmio da carreira, o Cristina Tavares de Fotografia na categoria estudante”. [9]
Entrevista
Com a palavra, os homenageados A 7ª edição da UnicaPhoto traz uma conversa com duas das grandes personalidades da fotografia brasileira. Yêda Bezerra de Melo e Fernando Neves, homenageados no 5º Prêmio Alcir Lacerda, falam de suas histórias, a relação com a fotografia e contam sobre fatos inusitados e ainda, dão dicas e conselhos para quem começa a aventura na área da escrita da luz. Quem proseou com eles foi a aluna do Curso de Fotografia, Suann Medeiros. Deleitem-se!
Fernando Neves (centro) com Simonetta Persichetti e Thomaz Farkas.
fernando neves Fotos: Arquivo ADI
UnicaPhoto: Fernando, como a fotografia entrou na sua vida? Fernando Neves: Acho que foi a curiosidade. Meu pai fotografava, porém pouco. Tínhamos pouca convivência com ele, por ser Jornalista e Advogado. Mas a fotografia sempre esteve presente nos cantos da casa. Na época de jovem, comecei a mexer na máquina Olympus Trip. Em seguida, quando nasceu
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meu primeiro filho, descobri que da curiosidade passou a ser uma paixão. Então, iniciei a consumir rolos e rolos de filmes. Por semana, eram de três a quatro rolos de 36 mm. Fotografei muito a infância dos meus filhos. UnicaPhoto: Qual é a sua formação profissional? Fernando Neves: Sou formado em Economia, pela Universidade Católica de Pernambuco. Trabalhei
Entrevista inicialmente no Banorte, uma grande escola para todos da área da minha geração. Depois passei para área financeira na administração dos Shoppings Centers durante 15 anos e por último, no projeto de implantação do Paço Alfândega. Até que “paquerando” o prédio em frente a esse último emprego, resolvi mudar de vida e assumir o que seria uma aposentadoria compulsória, um plano B de vida, a Arte Plural Galeria. No fundo é só uma mudança de profissão, porque o trabalho é o mesmo e até maior. UnicaPhoto: Você está com quanto tempo de Arte Plural Galeria? E quais são as maiores dificuldades? Fernando Neves: Fizemos onze anos em maio deste ano (2016). A dificuldade que temos na galeria são bem típicas das áreas que exigem uma certa insistência. O consumidor, a pessoa que curte a arte hoje, tem uma certa dificuldade por uma questão de mercado. Até os anos 80, nós víamos que o grande curtidor de arte era o profissional liberal que gostavam e curtiam artes. Após os anos 90, começamos a sentir uma nova realidade no país. Temos uma ascendência de uma classe média que não tem uma base de educação voltada para arte, que nos exige um certo “jogo” para poder convencer a conviver com ela, a dar valor a arte como um elemento não apenas decorativo, mas como um produto de experiência, de prazer, querer colecionar. UnicaPhoto: Durante esses 11 anos você promoveu várias exposições, nos destaque algumas, por favor. Fernando Neves: É difícil. Pois já ocorreram, até recentemente, 72 exposições. Na realidade, tivemos várias exposições interessantes, como a de Walter Filho e de Thomas Farkas, que foi uma oportunidade incrível não só pela mostra e, sim, por conviver com ele durante uma semana, além de nomes como Raul Córdoba e César Romero. E também tem os pernambucanos, sempre tivemos boas exposições, como a do Maurício Arraes, de Dantas Suassuna e do Carlos Pragana. UnicaPhoto: Existe o Fernando colecionador, galerista e o fotógrafo. Parece que você é um pouco tímido quando falamos do Fernando fotógrafo…. Fernando Neves: Acho que a questão é mais de saber até onde vai o hobby e o prazer de fotografar e até onde pode ir o mostrar fotografia. Sou muito crítico, não sou tímido. Acho que sou crítico em mostrar o que faço. O valor da fotografia que realizo é algo mais pessoal. E tem outro ponto que é não colocar fotografias minhas na galeria. Isso seria o cúmulo. Se o meu papel é de galerista, preciso priorizar as imagens dos profissionais. UnicaPhoto: Mas como é a sua relação com a fotografia? Fernando Neves: Gosto de sair para fotografar. Quando viajo, levo sempre meus equipamentos.
No cotidiano uso mais o celular. Mas nas viagens carrego minhas câmeras e gosto de fotografar paisagens, pessoas nas ruas. Me dá prazer ficar sentado num café ou em algum ponto que haja um trafego de pessoas para ficar observando de longe. Como diz o professor Walter Filho, roubando as imagens. Ser o ladrão da fotografia. UnicaPhoto: Como fotógrafo, galerista, colecionador… Quem são os fotógrafos que você admira e gostaria de trazer para a Arte Plural e ainda não teve essa oportunidade? Fernando Neves: A lista é enorme. Quando comecei a Arte Plural, sempre brinquei dizendo que gostaria de trazer o Thomas Farkas, Evandro Teixeira e Sebastião Salgado. Os dois primeiros eu já cumpri, o Salgado é mais salgado (risos), é outra história. Mas admiro muito o trabalho do Sebastião Salgado e dos outros fotógrafos também. Lembrar assim no Brasil tem nomes novos surgindo e grandes nomes da fotografia nascendo. O Walter Carvalho, na minha opinião, é um dos grandes fotógrafos do Brasil que se dedica muito ao cinema mas faz fotografia como ninguém. UnicaPhoto: Sem sombras de dúvidas, com o surgimento da galeria, tivemos um fortalecimento na fotografia pernambucana. Como é que você vê a galeria dentro deste contexto? Fernando Neves: Acho que só estava faltando o lugar. As relações já estavam maduras entre os fotógrafos para se encontrarem e saberem das necessidades e procurarem estabelecer seus laços e buscar um caminho para o crescimento da fotografia pernambucana. Neste momento, quando a galeria estava apenas começando, decidimos realizar uma exposição com o grupo ‘Vixe Marias’. E isso marcou como ponto de encontro dos fotógrafos. Porque a partir dessa primeira mostra, trouxemos, na medida do possível, uma conversa com o Alcir Lacerda - que até sua morte, era o grande nome que tínhamos na cidade. Como fotógrafo, professor, ser humano, incentivador. E essa prosa foi muito bonita, forte e agradável. Ele mostrando com a simplicidade que tinha do seu trabalho e a partir disso, vários fotógrafos começaram a querer mostrar também seus trabalhos para os amigos, colegas, e até mesmo os desconhecidos. E isso foi gerando uma demanda de encontros que nós apelidamos de Terça Foto.Com isso, a galeria foi crescendo. Em seguida, já veio o Atelier de Impressão (ADI) completando esse trabalho da galeria com impressões de qualidade. UnicaPhoto: Como você enxerga o mercado? O que você projeta para o futuro da galeria e como você acha que o mercado da fotografia está sendo conduzido? Fernando Neves: Acho que toda vez que falamos de mercado, temos que ter um certo cuidado
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Entrevista
porque essa palavra tem várias conotações. A parte comercial de retorno é algo lento que demanda tempo. A parte de investimento que cada artista precisa fazer, não só o fotógrafo, mas o próprio artista de uma forma geral, é importante porque está investindo na sua carreira. Muitas vezes a galeria é um elemento, um caminho, uma forma de empurrar. Mas que o trabalho já está pronto para ser apresentado ao público. Atualmente, nós estamos investindo na Coleção ADI de Fotografias buscando uma forma de incentivar o colecionismo. Temos que procurar meios e caminhos para as pessoas entenderem que a fotografia é uma arte e vai além de uma decoração. UnicaPhoto: Qual conselho você daria para as pessoas que estão começando agora na fotografia? Fernando Neves: Diria para as pessoas terem foco. Depois, saber que isso requer não só aprendizado, mas requer também investimento próprio na sua carreira. Você precisa saber como elaborar, planejar aquilo que estás fazendo para que tenha retorno no futuro. E isso demanda trabalho e dedicação. UnicaPhoto: Nesta sua jornada de fotografia, houve algum momento de fortes emoções? Fernando Neves: Sempre tem. A vida sempre nos emociona. A vinda do Thomas Farkas para a galeria foi carregada de emoções pela própria história dele, pelo fato da idade avançada, pela lucidez e debilidade da saúde dele. Ouvimos histórias riquíssimas e trocamos muitas informações. Mas outras figuras também trouxeram emoções para a galeria, como o próprio Evandro Teixeira e suas histórias fantásticas no fotojornalismo, o Walter Filho. Todos eles tiveram coisas para nos acrescentar e nos
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emocionar. Foram bons e ainda está tendo vários momentos ótimos que continuem se reproduzindo. UnicaPhoto: E o fotógrafo Fernando Neves, lembra de alguma emoção ao fazer uma fotografia? Fernando Neves: Eu acho que a cada fotografia ela tem uma história própria. Minha encanta muito as nuances. Você trabalhar com camadas. Eu me emociono mais com as imagens dos outros. Mas certa coias que fazemos, nos dá prazer. Eu fiz umas fotografias na cabeceira do rio Capibaribe que remontaram a água e que depois até renderam uma exposição em um sobrado em Olinda. Aquele momento mágico que passei de carro, parei e comecei a fotografar. As fotos saíram legais e que gosto muito. Como também tem a fotografia que fiz no ateliê de um amigo que me dá uma sensação de tranquilidade e prazer toda vez que a vejo. UnicaPhoto: Fernando, você citou Alcir Lacerda como um profissional que agregou conhecimento não só a ele como a muitos de uma determinada geração. Você está sendo agraciado com o prêmio Alcir Lacerda, o que isso significa para você? Fernando Neves: Acho que isso é de um peso muito grande e ao mesmo tempo de uma satisfação forte. Mas eu não me vejo merecedor disso. Tudo que fazemos aqui na galeria, sem nenhuma demagogia, é juntar as pessoas. Damos espaço para as pessoas conversarem, discutirem e olharem a fotografia. É um peso bom, porém ao mesmo tempo é um peso receber esse prêmio com o nome do mestre Alcir Lacerda que tanto frequentou nosso espaço. UnicaPhoto: Em uma frase, Fernando, o que é a fotografia para você? Fernando Neves: Vou ser meio que clichê, mas fotografia é luz, paixão e realidade.
Entrevista
YÊDA BEZERRA DE MELLO Fotos: Renata Victor
UnicaPhoto: Como a fotografia surgiu na sua vida? Yêda Bezerra de Melo: A lembrança mais antiga que tenho é de uma viagem que fiz para a Amazônia. Acredito que tinha 11 ou 12 anos e levei uma Olympus Pen EE-2. Essa câmera, na verdade, duplicava as imagens. Se o filme tinha 36 poses, depois da revelação você tinha 72 fotos. E eu lembro que me encantei com a floresta e fiz muitas fotos. Voltei e ficava olhando as imagens após a revelação. Elas ficaram na minha lembrança. Essa foi a primeira vez que olhei para fotografia como forma de contar algo. Depois comecei a fotografar teatro, devido à influência da minha família nesta área. Foi a partir deste momento que a luz começou a ter uma certa importância. É quando começo a observar a grandeza da luz na construção da imagem, tentando através também da luz contar e falar história. Depois de um tempo, na época em que cursava Educação Artística, na UFPE, participei de um concurso de fotografia pela Prefeitura do Recife e acabei ganhando o primeiro lugar. A partir disso, resolvi largar a graduação e estudar fotografia, de fato, na Escola Panamerica de Artes, em São Paulo. Após o término do curso, fui convidada a lecionar no próprio estabelecimento de ensino. Depois, voltei para o
Recife e recebi o convite para trabalhar como repórter fotográfica no Jornal do Commercio. Em seguida, exerci o cargo de editora de fotografia na Folha de Pernambuco - outro tipo de lição e escola na área da imagem - e, hoje, trabalho na área independente, mas autoral. Ah, sem esquecer que lecionei na Universidade Católica de Pernambuco, no curso de Fotografia, na disciplina de Curadoria e Montagem de Portfólio, em 2011. Foi outra experiência onde retomei a aulas e trocar e compartilhar com os alunos as informações de fotografia. UnicaPhoto: Você vivenciou a transição do analógico para o digital. Como foi isso para você? Yêda Bezerra de Melo: A minha geração fez parte de um momento de transição da fotografia analógica para a digital. Para mim foi um pouco dolorido. Tive uma certa resistência, até porque fiz um caminho longo até entender, de fato, a fotografia analógica. Cada filme, como ele respondia. Como eu podia trabalhar filme X em determinado momento. E de repente, me vejo sem filme e com a máquina digital tendo que aprender tudo de novo. No começo, a resolução não era muito boa. então, não tinha a resposta como nas películas. O resultado, às vezes, não correspondia para mim. Só que depois
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Entrevista
de um tempo comecei a relaxar, me entregar… e a resolver tudo de novo, no ato de fotografar. Foi quando comecei a aprender e a trabalhar neste novo caminho. Hoje trabalho com o digital, mas sempre digo que trabalho pensando analogicamente. Pois ainda continuo pensando em obturador e diafragma. Depois de passar por tudo isso, percebo que a transição foi muito boa e tivemos muitos ganhos. UnicaPhoto: Como é seu trabalho autoral, hoje? E como é o seu processo de criação? Yêda Bezerra de Melo: Após sair do trabalho fixo do jornal e seguir sozinha, foi um momento difícil se lançar para um lugar onde você não sabe bem
o que vai acontecer. Porém, com o tempo tudo foi acontecendo. E, ao mesmo tempo, voltei a frequentar os grupos de exposições, como Vixe Marias - grupo só de mulheres fotógrafas. Foi quando surgiu a Arte Plural Galeria que apostou e incentivou o trabalho fotográfico na cidade do Recife e abriu as portas para as mostras. A Arte Plural nos proporcionou essa mudança. Foi um momento bem importante não só para mim mas para a fotografia de Pernambuco. UnicaPhoto: O que a fotografia lhe trouxe após o fotojornalismo? Yêda Bezerra de Melo: Em meados dos anos 2000, meu trabalho fotográfico começa a sofrer uma transformação. Porque até então ele estava ligado ao Fotojornalismo. Comecei a contar histórias não só dos outros, mas minhas também. Foi quando Fernando Neves me convidou para realizar a minha primeira exposição autoral, na Arte Plural, intitulada ‘A saudade que sinto de você’ que nasce da minha intimidade com meu marido e acaba extrapolando para o público. Em seguida, surge também outro trabalho autoral muito interior que foiquando minha mãe faleceu chamado ‘Para poder te olhar’ com fotografias dela onde eu fiz tela para trabalhos artesanais como pintura, crochê e sobreposição das imagens. E acabou virando uma exposição e livro. Em seguida, virei os olhos para nossa cidade, o Recife, que gosto tanto e sinto que está abandonada. Então, resgatei um trabalho de 2009 que foi quando eu comecei a retratar a cidade tentando trazer uma relação da cidade com a fotografia. Pensando a fotografia tida como um instante, como um momento e tentando reverter isso. Com esse ensaio, estou repensando e dando um novo olhar sobre ela que em breve irei divulgar. UnicaPhoto: Qual conselho você dá para quem está começando? Yêda Bezerra de Melo: A fotografia para mim sempre foi uma forma de estar no mundo. Eu acho
Foto: Yêda Bezerra de Mello
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Entrevista Sobre a fotografia da capa da UnicaPhoto UnicaPhoto: Fale-nos sobre o projeto e sobre as fotografias que serão expostas. Yêda Bezerra de Melo: Na verdade, essa imagem são fotos de Recife que estou fazendo, que é desse novo ensaio, esse novo projeto que estou empenhada. A ideia é fotografar a cidade e tentar fazer uma relação e questionar a respeito da fotografia e da cidade também. Ao mesmo tempo que eu quero questionar a fotografia enquanto instante único, momento único, também questionar essa cidade que é tão bonita e está tão abandonada. Então, as imagens são formadas por muitas imagens e o título de cada foto remete ao número de fotogramas que a qual é formada. As fotos se chamam assim: ‘427’, ‘328’, ‘284’... UnicaPhoto: Este projeto é inédito? Yêda Bezerra de Melo: Na verdade, eu comecei a fotografá-lo em 2009 e fiz três fotografias, aí, o projeto ficou guardado e estou retomando agora.
Ele te três fotos que já foram expostas e estou retomando agora, fazendo outras fotos e ampliando muito mais. UnicaPhoto: Como é ter uma foto do projeto na capa da revista UnicaPhoto, que será lançada no dia em que receberá o prêmio Alcir Lacerda? Yêda Bezerra de Melo: É um privilégio, eu fiquei muito feliz com o convite e com a homenagem. A foto que vai sair na capa da revista, é uma foto que fiz do Marco Zero, vem pelo chão e passa por toda calçada, até a Rosa dos Ventos, feita pelo Cícero Dias. Na verdade, descobri depois que ele tem um trabalho enorme sobre Recife e o título desse trabalho é ‘Eu vi o mundo e ele começa em Recife’. Estou pensando em usar isso em alguma coisa desse meu projeto. UnicaPhoto: Como começou o seu interesse por colagens? Yêda Bezerra de Melo: Comecei a trabalhar assim por conta das possibilidades de juntar mais de uma imagem para dar um significado só. Gostei e estou explorando. Uso o photoshop para isso, mas de uma forma bem básica.
Foto: Yêda Bezerra de Mello
que sou uma pessoa privilegiada por ter a sorte de descobrir uma profissão que me dá tanto prazer. O meu conselho para quem está começando é olhar e fotografar bastante. E pensar o que está fotografando e porque está fotografando. UnicaPhoto: O que é para você receber o prêmio Alcir Lacerda? Yêda Bezerra de Melo: O fato de estar recebendo o prêmio Alcir Lacerda é de uma honra sem tamanho. Eu iniciei na fotografia sempre levando e revelando filmes no laboratório de Alcir. Ele sempre muito atento e prestativo. Chegava até ceder o laboratório para ensinar como revelar os filmes. E isso sempre foi muito encantador. Alcir nos revelar sempre o que a gente estava fazendo. Guardo sempre boas lembranças dele. Ele foi uma grande escola. E estou muito feliz em estar recebendo um prêmio no nome dele.
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ADI lança coleção de imagens artísticas Projeto tem como ideia incentivar o colecionismo e valorizar a arte fotográfica Texto de Suann Medeiros Fotos: Hélia Scheppa O Atelier de Impressão (ADI) acaba de lançar o projeto itinerante “Coleção ADI de Fotografias” composto por 50 fotografias de 30 reconhecidos fotógrafos brasileiros. As imagens têm tamanho A3, com tiragem limitada, assinadas pelos autores e estão sendo apresentadas dentro de uma caixa, que mescla o design de uma maleta e de um móvel dos anos 50.“Como o Atelier é formado por fotógrafos, a gente pensou em fazer algo que promovesse a fotografia e ajudasse a formar o mercado atento a essa fotografia de qualidade com longevidade, fidelidade e conservação e ao mesmo tempo que fossem acessíveis e as pessoas pudessem colecionar. Com isso, começamos a pensar em um produto final onde tivesse os padrões de qualidade de impressão e convidamos os fotógrafos”, explicou um dos sócios Gustavo Bettini. Participam do projeto os fotógrafos Amélia Córdula, Ana Araújo, Arnaldo Carvalho, Cristiana Dias, Evandro Teixeira, Fred Jordão, Geral[16]
do Pestalozzi, Gustavo Bettini, Hélia Scheppa, Hesíodo Góes, João Urban, Juliana Leitão, Mateus Sá, Miva Filho, Nando Chiappetta, Priscilla Buhr, Renata Victor, Renato Vale, Ricardo Labastier, Roberta Guimarães, Rodrigo Lobo, Teresa Maia e Yêda Bezerra de Melo entre outros profissionais. Com intuito de incentivar o colecionismo e valorizar a arte fotográfica, as imagens têm tiragem máxima de 50 impressões e são acompanhadas de certificado, nota técnica com recomendações de manuseio e conservação, além de vir dentro de uma caixa, com design assinado por Marcos Pinheiro, da Pick Image. “Essa é a primeira caixa e já estamos produzindo mais três maletas. A ideia é que essas caixas percorram vários estabelecimentos, como pontos culturais da cidade. Não queremos que a fotografia de qualidade esteja só na galeria e, sim, em diversos ambientes da cidade do Recife - como cafés, lojas de decoração, livrarias, festivais de artes”, afirmou Bettini.
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O Projeto “Coleção ADI de Fotografias” se encontra na Arte Plural Galeria, no Bairro do Recife Antigo, no Recife, e fica até o final de agosto. Todas as fotos são impressas em altíssima qualidade, montadas em passe-partout, entregues em uma embalagem especial de PH neutro, assegurando durabilidade às imagens e os preços variam a partir R$ 400.
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Pós
As narrativas contemporâneas da fotografia e do audiovisual Texto de Augusto Cataldi Fotos de Pedro Pereira, Renata Victor, Karina Rocha e Suann Medeiros
O mundo hoje é mediado pelas imagens. A cultura visual se impôs sobre os processos narrativos da Comunicação, principalmente no ambiente das mídias digitais e o contexto previsto pelo fotógrafo húngaro Lázló Moholy-Nagy, na década de 20, quando disse que o analfabeto do futuro não será quem não souber ler e escrever, mas aquele que não souber se comunicar através das imagens já chegou. Neste sentido, não apenas os profissionais de Fotografia mas de outras áreas da comunicação precisam estar preparados para atuar neste campo de maneira aprofundada e conectada com as formas narrativas da contemporaneidade. No primeiro semestre de 2016, a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) lançou uma oportunidade para buscar esta formação ampliada através do curso de Especialização sobre As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual. Pioneiro na região, o curso teve sua aula inaugural no último dia 20 de maio, ministrada pela Profª Dra. Simonetta
Persichetti no primeiro módulo sobre Fotografia: Crítica e Curadoria. Ao longo de 16 meses, as demais disciplinas oferecidas serão Direção de Fotografia, Narrativas Poéticas da Imagem, Literatura, Fotografia e Audiovisual, História e Estética do Audiovisual, Gêneros do Audiovisual, Produção de Audiovisual, Processos Criativos e Gestão de Projetos em Fotografia e AudiovisualMetodologia da Pesquisa e Edição de vídeo e finalização. A pós-graduação lato sensu trouxe de volta à casa ex-alunos que hoje atuam no mercado da fotografia e atraiu também outros profissionais, inclusive de outros estados do Nordeste. É o caso de Rafael Martins. Baiano, fotojornalista, Rafael veio ao Recife em busca de novas oportunidades e encontrou no curso a proposta de aprofundamento que buscava. “Fazer um curso focado em Narrativas é uma possibilidade para um profissional, com algum tempo de mercado como eu, de aprofundar meu trabalho enquanto identidade, focando no sujeito que o constrói”, reforça o fotógrafo. [19]
A proposta de ampliar o debate crítico sobre o processo fotográfico e ampliar as possibilidades narrativas para o campo do Audiovisual tem promovido incursões dos alunos nas áreas de cinema, do documentário e da fotografia multimídia, em perspectivas quem passam pelos estudos da cultura, da poética e da estética, além de fornecer também um instrumental técnico que habilita os futuros pós-graduados a também praticarem os conhecimentos adquiridos em atividades de análise e leitura de imagens, bem como de produção de produtos audiovisuais como curtas metragens de ficção e documentários. “A pós em fotografia e audiovisual oferece uma nova dimensão dos estudos da imagem. Temos construído relações entre as linguagens da fotografia, do vídeo e da literatura, abordando elementos narrativos, estéticos e de produção de sentido. Há um nítido estímulo à criação de textos acadêmicos, assim como a pesquisa e à criação de fotografia e cinema. O espaço dado às análises e produções no campo audiovisual tem me despertado especial interesse e apreço pelo curso. Certamente é um processo de aprofundamento teórico e analítico em relação ao curso de graduação, contribuindo para a consistência e relevâncias de nossas produções”, comenta o aluno Paulo Souza, graduado em Fotografia pela Unicap. A coordenadora Renata Victor, explica a proposta que originou o curso. “A especialização foi criada baseada na solicitação constante dos graduados do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap e em uma demanda de mercado também. Embora Pernambuco tenha uma grande produção visual, pouco se aborda isso na academia. Então, esperamos que essa especialização venha a suprir esta necessidade. A base do nosso curso é comunhão da fotografia, audiovisual e literatura”.
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Ensaios
Florscience
A aluna do quarto módulo do curso de Fotografia da Unicap, Marcela Freire, é a autora do ensaio que ilustra estas páginas. O trabalho, chamado de Florscience, foi desenvolvido como atividade de Fotografia Mobile da disciplina de Mídias Digitais. Marcela comenta o trabalho: “Feito com ediçāo em aplicativos mobile, o Florscience, foi fruto de um trabalho de faculdade que se deu de forma
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bastante intuitiva, receio de fotografar rua, centros do Recife, simplesmente retratos, a ideia foi ir um pouco mais além. Criatividade, sensibilidade e o ingrediente principal: intuiçāo. Foi preciso plantar, cuidar, e de várias tentativas sairam algumas dessas artes. Feitas com dupla exposiçāo, unindo flores, vegetais e cores. Pretendo dar continuidade ao projeto e criar uma exposiçāo!”
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Ensaios
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Foto: XRite
Sobre o fluxo de gerenciamento de cor Primeiro passo: CALIBRAÇÃO DE MONITOR Texto de Germana Soares
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Quando o assunto é o gerenciamento das cores, infelizmente alguns profissionais não dão a devida importância ou até mesmo desconhecem o que estamos tratando. Por isso, decidi trazer um pouco do conteúdo abordado na disciplina de Gerenciamento de cor e Impressão para mostrar que, na verdade, esse processo não é o monstro que parece ser. Podemos dividir o fluxo do gerenciamento em três etapas: - Calibração de monitor;
- Calibração de câmera; - Criação de perfil de Impressão. Nesta edição vou falar sobre a calibração dos monitores: a importância do processo, os instrumentos disponíveis e como ocorre na prática. Vamos lá? Imagine: depois de horas, você fez aquela foto incrível e conferiu no visor da câmera. Ficou tudo como planejou: foco, brilho e contraste do jeito que queria. Aí quando você vai passar para o computador, abre o arquivo e.......... Bate aquele desespero!!! A sua foto maravilhosa aparece toda verde ou magenta. Totalmente diferente daquilo que você fez, com as cores todas alteradas. E agora? O que aconteceu de errado? Como você fará as edições necessárias na foto se as cores não são aquelas capturadas? A resposta é bem simples: o monitor que você está utilizando está com os canais RGB descalibrados. Não precisa se apavorar. Seu arquivo continuar preservando as cores e ajustes maravilhosos, basta você calibrar seu monitor para iniciar o processo de tratamento da forma correta. De forma grosseira e simples a calibração de cor do monitor significa fazer com que ele apresente as cores da forma que mais se aproxime do real, dentro da sua capacidade de reprodução. (Apenas abrindo um parênteses: quando falamos de fotografia digital, devemos saber que os equipamentos que utilizamos (câmera, monitores e impressoras) possuem capacidades de reprodução de cor diferentes um dos outros. E a função do gerenciamento é justamente fazer com que as cores capturadas sejam preservadas ao máximo durante
todo o processo de tratamento, até chegar a fase da impressão.) Então depois de toda essa historinha que contei, já sabemos qual importância da calibração do monitor, não é?! Como você fará ajustes nos canais, exposição, contraste e baixas luzes se a imagem apresentada não é a real? A calibração de monitor é nosso primeiro passo para que possamos garantir estar visualizando o arquivo da melhor forma possível, sem a influência excessiva de qualquer um dos canais do RGB (vermelho, verde ou azul) e com o ponto de brilho balanceado. E como faremos isso? Os próprios sistemas operacionais, tanto da apple quanto Windows trazem utilitário que permitem uma “calibração” da tela. Mas é claro que não iremos tratar esse assunto de forma tão resumida e subjetiva, então vou apresentar os instrumentos indicados para esse processo. Os colorímetros são equipamentos que caracterizam amostras coloridas para obter uma medida objetiva das características da cor. No mercado encontramos os modelos: colormunky display, i1 display, Spyder 5 pro entre outros.
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Todos eles funcionam com softwares específicos que acompanham o aparelho ou podem ser baixados na internet. O processo é muito simples e intuitivo. Como cada aparelho possui interfaces diferentes, vou abordar alguns pontos que não devem ser esquecidos:
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Antes de iniciar a calibração, o monitor deve estar ligado por pelo menos 30 minutos para que esteja em sua máxima capacidade de luminância e garantir a estabilidade. Desative qualquer proteção de tela.
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O fundo da área de trabalho deve ser cinza médio. Isso facilita o equilibro entre os canais RGB.
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O colormunky display e o i1 display, citados acima, tem a função de fazer a medição da luminância ambiente. Isso é importante para que o ponto de brilho do monitor seja ajustado de acordo com a intensidade da luz. Caso você esteja trabalhando com notebook ou não tem como manter o colorímetro sempre conectado ao computador, o ideal é ajustar o ponto de branco para 120 cd/m2. E para fazer a medição corretamente ele deve estar posicionado próximo à tela.
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Após a criação do perfil, ele é salvo no diretório correto automaticamente. Sendo assim, todas as vezes que o sistema operacional for inicializado o último perfil criado automaticamente será carregado.
E é isso. Espero que esses primeiros passos possam auxiliar quem está iniciando nesse mundo colorido do gerenciamento. Na próxima edição da revista, falaremos sobre a criação do perfil de câmera.
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Edward Weston: do “lugar comum” ao incomum Texto de Frederico Paulo de Barros e Rafaela Bôaviagem Cavalcanti da Silva Fotos: Met Museum, ESPM, Artnet, The Getty e Socially Curated Lists Edward Weston é uma inspiração para os artistas modernistas. Foi um dos mais importantes fotógrafos do século XX, pela sua fotografia artística, com um olhar diferente sobre os objetos comuns, unindo o simples e o real com a abstração. Nasceu em Hilland Park, Illinois, em 24 de março de 1886, e foi criado em Chicago, maior cidade do Estado. Era filho de Edward Burbank Weston e Alice Jeanette Brett, que morreu quando ele tinha apenas cinco anos. Seu pai era médico, mas ele foi criado pela sua irmã Mary Jeanette-May. Em sua juventude era retraído, inquieto e melancólico. Estava sempre de mau humor.
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Armco, Middletown, Ohio
Copyright: © 1981 Arizona Board of Regents, Center for Creative Photography
Sua primeira câmera fotográfica foi uma Edward Weston começou a escrever diáNot currently on view Kodak, que ganhou de seu pai aos 16 anos rios em 1915 que ficaram conhecidos como de idade. Autodidata, começou a fotografar seus Daybooks, crônicas de sua vida e deObject Details em seus tempos livres e foi trabalhar porta a senvolvimento fotográfico feitas até meados porta comoTitle: fotógrafo retratista ao se mudar dos anos 1930. Em 1912, conhece a mulher para morar na Califórnia, em 1906. Publicou que ele dizia ser a mais importante da sua Armco, Middletown, Ohio livros, ganhou vários prêmios importantes na vida, Margrethe Mather. Ela passa a ser a Artist/Maker: área fotográfica e realizou exposições. sua assistente de estúdio e modelo por dez Edward Weston (/art/collection/artists/1641/edward-weston-american-1886-1958/) (American, Ao sentir a necessidade de se aperfeianos. Mather era uma forte influência para 1886 - 1958) çoar, retornou para Effingham, Illinois, para Weston. estudar na Culture: Illinois College of Photography, Em 1922, viajou para Middletown, Ohio, em 1908. Seis meses após a conclusão do onde fotografou a indústria ARMCO. Foi curso, Weston retorna para a Califórnia. Em um marco na mudança de estilo fotográfico http://www.getty.edu/art/collection/objects/37716/edward-weston-armco-middletown-ohio-american-1941/?dz=0.5000,0.4165,0.67 Página 1 de 3 Los Angeles foi contratado no George Stede Weston. Durante esse período ele deu ckel Portrait Studio. Mudou para o estúdio novas características ao seu trabalho, enfaLouis A. Mojoiner, em 1909, para trabalhar tizando formas abstratas e mais nítidas, com como fotógrafo, onde se destacou pela sua ângulos retos, fiel à realidade. luz e seus retratos. No mesmo ano viajou para Nova York, Em 1911, abriu seu próprio estúdio, locaonde conheceu Alfred Stieglitz, Charles lizado em Trópico, Califórnia. Seus retratos Sheeler e Paul Strand, fotógrafos da Straight de estilo pictorialista, com foco suave, gaPhotography, uma vanguarda moderna que nharam vários prêmios profissionais, incluinnasceu no começo do século XX, nos Esdo prêmios internacionais. As fotos foram tados Unidos, que se opunha ao tradicional publicadas em várias revistas especializadas pictorialismo e buscava a objetividade na da época, como a American Photography. imagem. Produziu retratos com estilo pictorialista em Edward Weston, com sua veia repleta de seu estúdio até 1919, quando migrou para vontade de inovação, se permitiu fotografar uma fotografia mais abstrata, retratando paruma série linda de nus, de Tina Modotti, com tes do corpo humano em ângulos incomuns. quem viajou, em 1923, para o México, onde [30]
morou por cinco anos. Nessa época ele também registrou o cotidiano do país, os seus agregados familiares, fauna, flora, formações rochosas e as nuvens. Nasce, então, uma nova estética apoiada pelos artistas da Renascença Mexicana como Rivera, Siqueiro e Orozco. É durante a estada de Weston e Tina Modotti no México que ele inicia suas experiências fotográficas de natureza-morta. Momento de mudança do estilo fotográfico pictorialista para o modernista, o qual deu muito certo. Fotografava objetos da sua coleção de arte folclórica e brinquedos enquanto esperava seus clientes para retratá-los. Em 1926, ele retorna para Califórnia onde inicia um novo estudo, desta vez valorizando detalhes do inusitado, como árvores retorcidas pelo vento, couve, conchas, cactos, dunas. Das suas fotografias ricas em detalhes, a mais famosa é a Pimentão nº 30, a qual faz parte de uma amostra fotográfica de pimentões verdes. São mais de 40 fotografias de pimentões feitas entre os anos de 1927 e 1930, utilizando luz natural. Através do enquadramento e da composição da luz, Weston consegue chamar a atenção para as curvas do pimentão e o re-
mete diretamente ao corpo humano. Dessa forma, com essas novas experiências, ele consegue unir o simples e real do comum com a abstração e amplia a imaginação do espectador. De acordo com a filósofa americana Susan Sontag: “...um dos êxitos mais duradouros da fotografia foi sua estratégia de transformar seres vivos em coisas, e coisas em seres vivos. As pimentas que Weston fotografou em 1929 e 1930 são voluptuosas de um modo que raramente acontece em suas fotos de mulheres nuas. Tanto os corpos nus como as pimentas são fotografados pelo jogo de formas — mas o corpo é mostrado, caracteristicamente, curvado sobre si mesmo, todas as extremidades cortadas, a carne tão opaca quanto o permitem a iluminação e o foco, reduzindo assim sua sensualidade e elevando o caráter abstrato da forma do corpo; a pimenta é vista em close mas em sua inteireza, a pele lustrosa ou oleosa, e o resultado é uma descoberta da sugestão erótica de uma forma ostensivamente neutra, uma ampliação de sua palpabilidade aparente” (SONTAG, 2004, p. 58). Na década de 1930, Edward Weston também produziu nus fotográficos de Charlis Wilson, que na época era sua assistente e [31]
tinha apenas 19 anos de idade. Segundo Carol King, no livro Tudo sobre Fotografia: “... a precisão que empregava fotografando objetos inanimados se transferiu ao estudo da nudez... as fotografias estão cheias de uma carga erótica baseada não na passividade do nu tradicional, mas na excitação da mulher moderna sexualmente liberada”. (KING, 2012, p.254) Seu primeiro livro foi o The Art of Edward Weston, publicado em 1932, com imagens fotografadas por ele. Dois anos antes, havia realizado sua primeira exposição individual, em Nova York. Edward Weston, como pioneiro em fotografia direta, sem intervenções durante o processo, em 1932, juntamente com os fotógrafos Ansel Adams, Imogen Cunningham, John Paul Edwards, Sonya Noskowiak, Henry Swift e Willard Van Dyke fundou o Grupo f/64. O grupo, que durou apenas até o ano de 1935, tinha como características fotográfica, além da ampla profundidade de campo, excelentes composições, temáticas cotidianas, manejo e controle da exposição [32]
e o caráter realista. A primeira exposição do grupo f/64 foi realizada em 15 de novembro do mesmo ano no Museu Memorial H. M. Young, em San Francisco. Após o grupo f/64 se desfazer, Weston foi residir em Santa Mônica, onde encontrou lugares que o inspiraram fotograficamente. No ano seguinte inicia um trabalho de fotografias de nus e dunas, que para alguns foi sua melhor fase. Ele foi o primeiro fotógrafo a receber, em 1937, por um trabalho experimental, a bolsa da Fundação Guggenheim. Passou dois anos seguintes viajando pela Califórnia, sudoeste e oeste americano, com Charis Wilson. Em 1941, usa suas fotos realizadas durante sua viagem em uma nova edição de Walt Whitman, Folhas de Relva. Em 1946, foi apresentada a maior exposição de todo seu repertório fotográfico, no Museu de Arte Moderna, em Nova York. Após dois anos, fotografou pela última vez, já com sintomas de Síndrome de Parkinson, em Point Lobos, Califórnia. Brett e Cole, seus filhos, continuaram a ampliar fotos de seus negativos, com a supervisão de Edward Weston até sua morte em 1958.
Referências: DIAS, Mariana. Edward Weston: o mestre das curvas, [s.d.]. Disponível em: <http://lounge.obviousmag.org/semiotizando/2012/04/edward-weston-o-mestre-das-curvas.html>. Acesso em: 14 de abril de 2016. FIGUEREDO, Hernâni de Lemos. Recensão critica da obra de Edward Weston, “Seeing Photographically”, 2011. Disponível em: <https://saladainquietacao.wordpress.com/2011/05/03/recensao-critica-da-obra-de-edward-weston-seeing-photographically/>. Acesso em: 18 de abril de 2016. KING, Carol. O corpo moderno. In: HACKING, Juliet (editora geral). Tudo sobre fotografia. Tradução de Fabiano Morais, Fernanda Abreu e Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. MARTINS, Eloise. O olhar direto de Edward Weston, 2013. Disponível em: < http://www.ideafixa.com/o-olhar-direto-de-edward-weston/ >. Acesso em: 10 de abril de 2016. O´HAGAN, Sean. Edward Weston: the greatest American photographer of his generation?, 2010. Disponível em: < http://www.theguardian.com/artanddesign/2010/aug/18/edward-weston-photography>. Acesso em: 07 de abril de 2016. PEUTER, Luisa de. Un acercamiento a la vida y obra del que aún hoy es considerado “el fotógrafo americano más influyente del siglo XX, 2001. Disponível em: <http://www.avizora.com/publicaciones/biografias/textos/textos_w/0011_weston_edward.htm>. Acesso em: 31 de março de 2016. SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Tradução de Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia de Letras, 2004. TRAVELLI, María Marcela. Grupo f/64: la belleza de la fotografía directa, 2013. Disponível em: <http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/publicacionesdc/vista/detalle_articulo.php?id_articulo=9465&id_libro=473>. Acesso em: 18 de abril de 2016.
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CICLO DA VIDA | Fotos de Renata Victor
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Foto_Síntese Uma cadela que como tanto outros animais foi levada para o lixão pelo seu “dono” para se livrar de um “peso”. Para mim, esta fotografia, além de um toque poético também faz uma denúncia sobre os maus tratos do homem contra os animais e o meio ambiente. O que vemos é um registro de um ser com um olhar misterioso como se quisesse dizer algo. Ao me ver em meio aos entulhos do lixão onde vive e disputa espaço e comida com outros animais, a cadela parou por alguns segundos me olhando, deixando assim que eu fizesse o registro. O fato da imagem está monocromática é uma opção para que o observador percorra toda a imagem sem influência das cores. Texto e foto: Marcos D`’Rua
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A fotografia de Cinema, aspirinas e urubus Texto de Paulo Souza Fotos: still do filme
O presente trabalho se propõe a analisar a fotografia em Cinema, aspirinas e urubus (2005), do diretor Marcelo Gomes, através de elementos de linguagem como luz, planos, ângulos e composições. O filme insere dois personagens de pensamentos e sentimentos delicados, em busca de superar vidas difíceis, em um encontro na árida e dura paisagem do agreste paraibano. Assim que a primeira imagem surge na tela é impossível não associar a paisagem ao padrão estético do Cinema Novo, que explora a luz tropical brasileira sem disfarçá-la ou escondê-la. A luz que castiga a vegetação da caatinga é também elemento de significação, dura e seca, se contrapondo a Johann e Ranulpho, com suas inquietações, sonhos e planos. “Em primeiro lugar, é preciso dizer que a proposição de reconhecer traços do Cinema Novo numa obra contemporânea parte de pressupostos mais estéticos do que políticos. É sobretudo a textura visual do filme de Marcelo Gomes que remete a certos filmes do Cinema Novo, sobretudo à tríade Vidas secas /Os fuzis /Deus e o diabo na terra do sol. Em parte, essa textura é fruto da própria locação em que foi filmado (o agreste paraibano), em parte das condições de produção. Sabemos que o diretor usou técnicas de produção que em muito lembram aquelas utilizadas por Glauber Rocha ou Nelson Pereira dos Santos: filmagem em locação; câmera 16mm, na maior parte do filme fora do tripé́; poucos recursos de iluminação; figurantes da própria região onde se filmou. Independentemente da história que se conta, esse esquema de produção por si só leva a uma série de identificações com o Cinema Novo e até́ mesmo com o Neo-Realismo” (MULLER, 2016, pg. 22). [44]
Cor A direção de fotografia é de Mauro Pinheiro Jr, que nos apresenta uma paisagem de tonalidade sépia, um tanto amarronzada, tanto nas cenas externas quanto nas internas. Em uma das cenas Johann faz um elogio ao casaco que a mulher está usando, rosa, observando que ela fica bem com essa cor (figura 01). Acontece que o que vemos na tela é uma cor quase que imperceptível, pois prevalecem tons pastéis e não há cenas com grande saturação ao longo da película. O céu na tela não é azul como vemos, as poucas folhas verdes se apresentam tão secas e sem vida quanto os galhos da vegetação (figura 02). A paleta de cores reforça a criação de um universo quente e seco, que é comum a Ranulpho, mas que conflita com o conhecido pelo imigrante Johann.
Luz A primeira cena do filme é um anúncio de uma escolha, uma aderência as propostas de fotógrafos como Waldemar Lima e Luiz Carlos Barreto, que no cinema novo decidiram assumir as singularidades da luz brasileira, sobretudo da luz nordestina, uma luz forte, que produz sobras duras, se afastando da estética europeia e americana do belo. Logo após os créditos iniciais o espectador é lançado a uma tela totalmente branca, como se estivesse em um quarto escuro e subitamente todas as paredes fossem derrubadas (figura 03). O sol incandesce nossas vistas ao ponto de não identificarmos nada para além do branco total. Aos poucos a fotometria vai sendo ajustada e nossa “retina fotográfica” vai passando a reconhecer o ambiente, como se estivéssemos nos adaptando e sendo convidados a integrar o universo fílmico (figuras 04 e 05). A fotografia fala: aqui é o agreste do Brasil, aqui não há luz difusa e suave quando estamos com o sol a pino. Só depois de alguns longos segundos reconhecemos os elementos da cena, um homem dirige um caminhão em um cenário desértico. [45]
O momento final da cena, de iluminação mais balanceada, nos revela um desafio da luz tropical, não é possível expor céu e terra, interior e exterior, sem perder detalhes. Não há como evitar o estouro da luz e nem a dureza negra das sombras (figura 06). No quadro observamos que as margens da estrada apresentam detalhes, o céu não está totalmente estourado, ainda conseguimos ver uma gradação do azul ao branco, já o centro da entrada está claramente superexposto em alguns pontos e o interior do caminhão, refletido no espelho, apresenta uma subexposição. É evidente, o fotógrafo estará sempre diante de escolhas sobre suas prioridades diante de uma situação limite como essa.
É fundamental discutir o papel dessa escolha de representação sócio-política herdada do Cinema Novo. Não se trata de uma escolha puramente estética, mas de um compromisso histórico e cultural, de valorização de nossa regionalidade e brasilidade, da rejeição a uma colonização visual e cinematográfica. É a defesa de um cinema coerente e original. Waldemar Lima, diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Bebel, Garota Propaganda (1968), é talvez um dos maiores defensores e estudiosos da luz tropical brasileira. O cinema é uma arte cuja leitura é feita através de imagens, uma arte que se manifesta através de fotografia. Se o filme conta uma história em uma determinada região, a fotografia deve fazer parte da história, as luzes e as cores da região estão lá. Caso isso não aconteça, de que valeria ir a uma região fotografar os seus habitantes, os seus costumes, as suas danças, sua arquitetura? Não estaríamos descaracterizando a textura da luz? A luz que é também uma característica daquela região (LIMA, 2013, pg. 330)?”” [46]
Em Cinema, aspirinas e urubus, a caatinga não é mera locação escolhida ao acaso ou disponibilidade, ainda que não carregue caráter alegórico de crítica social ou política, de denúncia da fome e miséria. É em um viés humano e afetivo que o agreste se faz presente, em sua textura, monotonia e aridez. Os contrastes de luz poderiam ser atenuados pelo uso de iluminação das cenas, refletores, espelhos, rebatedores. Mas seria um ataque cruel ao real efeito desejado. Por isso observamos um de viés natural, onde viajamos com os personagens em uma cabine de caminhão cheia de sombras com uma paisagem seca e estourada ao fundo.
Câmera e planos A câmera na mão é mais uma peça do conjunto de uma obra que preza pela naturalidade e humanidade, a câmera vai tremer nas estradas de barro, vai estar próxima aos atores e vai revelar imperfeições de movimento, que nada mais são que um espelho do real. Na cena em que Jovelina pede carona e entra no caminhão temos uma belíssima composição planos, um enquadramento os há um verdadeiro balé de cabeças, em disputa pela atenção da moça. A mulher entre no caminhão visivelmente triste e passa a ser consolada por Johann e Ranulpho. A câmera mostra a cabine do caminhão com os personagens em um plano médio, que enfatiza as expressões faciais dos atores (figura 08). Em um primeiro momento Johann e Jovelina são colocados em planos distintos, mas a comunicação visual se dá no extra plano. Quando Johann pega um cantil e o direciona para fora do quadro (figura 09), não há dúvidas quanto a sua destinatária, há uma comunicação visual no extracampo, seu olhar para fora do quadro indubitavelmente fita aquela estranha que acabara de chegar. [47]
Considerações finais O resultado apresentado no filme representa o domínio da técnica colocado a serviço da intencionalidade criativa. Cinema, aspirinas e urubus é um marco no cinema brasileiro. O filme transita entre o potencial crítico e criativo de seus autores e o diálogo com o público, apresentando uma obra que trata de emoções universais, mas que constrói um universo particular, representado fortemente por suas escolhas estéticas de imagem e de som, sendo a fotografia, talvez a mais evidente delas. Referências LIMA, Waldemar. Luz Tropical Brasileira. Rebeca: revista brasileira de estudos de cinema e audiovisual, São Paulo, ano 2, n. 3, p.327-332, jun. 2013. MÜLLER, Adalberto. Cinema (de) novo, estrada, sertão: notas para (se) pensar Cinema, aspirinas e urubus. Logos: cinema, imagens e imaginário, Rio de Janeiro: UERJ, Faculdade de Comunicação Social, Vol. 1, n. 24, p. 21-27, 2006. Semestral. Disponível em: <http://www.logos.uerj.br/PDFS/24/logos24. pdf>. Acesso em: 05/07/2016. [48]
Aos poucos a comunicação entre Johann e Jovelina dá sinais de evolução, parece haver um interesse mútuo, mas Ranulpho insiste em evidenciar sua posição, ele não está entre os dois apenas fisicamente, é também um elemento de interrupção das tentativas de diálogo. Conforme a afinidade vai se tornando mais evidente, Ranulpho termina perdendo espaço e sai de cena, se recolhendo e afundando no banco do caminhão (figura 13). A câmera é posicionada muito perto dos atores, o que torna inevitável o desfoque no rosto de Jovelina em primeiro plano, ainda assim suas expressões são facilmente identificáveis, elementos essenciais para evolução da cena. O resto da cena está em foco, o que certamente mostra o uso de uma boa profundidade de campo. Provavelmente veríamos os detalhes da vegetação, se não houvesse uma gritante diferença de luz entre interior e exterior da cabine.
A cena se encerra com um grande plano geral (figura 14), mostrando o caminhão em meio a caatinga, contrastando com os planos próximos que precederam toda a construção anterior.
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DIREITO AUTORAL E DIREITO DE IMAGEM Julianna Nascimento Torezani, professora do Curso de Fotografia da Unicap. Email: juliannatorezani@yahoo.com.br.
PROJETO CREATIVE COMMONS Como uma alternativa do direito autoral, que requer autorização prévia e expressa de obras intelectuais, surge o Projeto Creative Commons em 2011, criado por Lawrence Lessing, professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos para garantir maior flexibilização na utilização de obras protegidas por direitos autorais. O projeto é colaborativo e tem por finalidade expandir a quantidade de obras criativas disponíveis ao público, já autorizadas pelos autores para o uso respeitando os limites que o criador indica a cada obra, permitindo assim, criar outras obras sobre a original e compatilhá-las. Trata-se do processo de licenciamento de obras, ou seja, autorização de uso, mas não há transferência de patrimônio como nos casos de cessão e concessão (a Lei de Direito Autoral, Lei n. 9.610/1998, trata de licenciamento no Artigo 49). Vale ressaltar que quem viola uma licença Creative Commons viola os direitos autorais. No Brasil, o projeto é coordenado pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro com apoio do Ministério da Cultura. Para Manuella Santos (2009, p. 140), na obra Direito autoral na era digital: impactos, controvérsias e possíveis soluções, “o Creative Commons oferece licenças que abrangem possibilidades entre a proibição total dos usos sobre uma obra (todos os direitos reservados) e o domínio público (nenhum direito reservado). Trata-se, pois, de um meio-termo (alguns direitos reservados). Assim, o autor que optar por alguma licença Creative Commons conserva seu direito autoral ao mesmo tempo em que permite certos usos de sua obra”. O projeto indica a possibilidade dos usos através de quatro tipos de licença que devem estar explícitas na exibição das obras através dos ícones a seguir: • Atribuição: O autor permite que outras pessoas copiem, distribuam e utilizem sua obra [50]
contanto que seja dado crédito ao autor da criação original. Pode criar obras derivadas mesmo que para uso com fins comerciais. É a licença menos restritiva.
• Uso não comercial: O autor permite que outras pessoas copiem, distribuam e utilizem sua obra e obras derivadas criadas a partir dela, mas somente para fins não comerciais.
• Não a obras derivadas: O autor permite que outras pessoas copiem, distribuam e utilizem somente cópias exatas da sua obra, ou seja, não permite que sejam criadas obras derivadas a partir da sua.
• Compartilhamento pela mesma licença: O autor pode permitir que outras pessoas distribuam obras derivadas somente com a mesma licença que sua obra possui. Convém ressaltar que a condição do compartilhamento pela mesma licença só se aplica a obras derivadas, o que implica dizer que uma licença não pode conter as opções Compartilhamento pela mesma licença e Não a obras derivadas.
Mais informações podem ser encontradas no endereço <www.creativecommons.org>. Pelo site é feito um contrato entre o titular do direito autoral e os que desejam utilizar a obra.
Sua fotografia merece esta ampliação Fotografias: Gustavo Bettini
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Ensaios Photografo Ergo Sun Salvador, BA - Brasil | 2013
O jogo de luz e sombra é um convite ao diálogo com o universo da mulher. A partir do contraste entre o olhar externo e o mirar-se a si mesma se desenha um corpo fragmentado que se expande e se contrai. Um corpo de afetos. Photografo Ergo Sum é um elogio à dúvida. Aponta mais para indagação e menos para respostas. Texto e fotos de Rafael Martins
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Ensaios
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Foto_Síntese O Projeto Hiatos Urbanos (http://hiatosurbanos. wix.com/projeto) foi criado a partir de inquietações referentes aos espaços urbanos ociosos na cidade do Recife e da necessidade de estudar e conhecer cada um deles. Tomou-se então como primeira amostra destes espaços os baixios sob alguns dos viadutos espalhados pela cidade, registrados e mapeados através de recursos multimídia. Com esse primeiro material é possível ter uma
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amostra do alvo das nossas investigações e submetê-las à interação com o público em geral, ouvindo suas opiniões, experiências e sugestões sobre o projeto e sobre as ações que devem ou não ser tomadas para a melhoria de cada local. A ideia é que o site se torne uma ferramenta de interação entre profissionais de arquitetura e cidadãos interessados na construção de uma cidade melhor. Texto e foto: Diego Araújo
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Revelação caseira de filme fotográfico diapositivo chromo O universo fotográfico vem se expandido para o digital, mas existe um mundo inteiro que ainda vive de forma analógica e encara como algo mágico. Fotografar com filmes, revelar, aguardar cada imagem, fascina esses seres apaixonados pelo analógico. Mesmo com toda a escassez do material no território brasileiro, muitos acabaram adaptando e fazendo da sua casa seu próprio laboratório. É o caso do nosso aluno Rautemberg Nóbrega. Atualmente estudando no quarto módulo, ele é um apaixonado por esse mundo e resolveu relatar um pouco da experiência com revelação caseira tanto em P&B quanto em Chromo.
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Sempre fui entusiasta por filme fotográfico e câmeras analógicas manuais. Além de fotografar procuro ser o mais completo e envolvo as várias etapas da fotografia analógica desde sua revelação. No inicio dos meus estudos minha pretensão era aprender a revelar filmes 35mm negativo preto & branco. Com a dificuldade de encontrar lojas específicas para revelações e comprar materiais químicos, precisei tornar-me o próprio laboratorista. Tenho produzido reveladores energéticos, banhos interruptores ácidos, estabilizadores e outros. Não possuo nenhum estudo avançado no campo da química, mas tudo isso foi possível através de pesquisas em
livros antigos de fotografia com suas receitas caseiras. Hoje, depois de inúmeras tentativas e erros de revelação preto & branco, posso afirmar que produzo uma revelação limpa e contrastante por meio de banhos interruptores precisos e longa fixação ressaltando a importância da lavagem para a remoção de resíduos. Isso não quer dizer que cheguei na perfeição da revelação de um filme negativo preto & branco, mas que posso transpor esses conhecimentos para revelar as cores de um filme cromo, diapositivo. Diferente dos químicos que produzem o revelador de filme preto & branco, os químicos
ficha técnica:
- Praia de Tamandaré - Filme 35mm Fuji Chrome Provia 100F - Nikkor 80-200mm
para originar os reveladores de filmes cromo estão escassos e alguns deles com venda restrita no território nacional. Contornei essa dificuldade importando um kit de revelação cromo de 1 litro já vencido dos EUA. Esse kit acompanha garrafas com soluções de revelador, fixador e estabilizador. O rendimento esperado é de revelar 12 rolos de filmes 35mm ou 120mm no período de até 6 meses. O processo de revelação do filme cromo é bem parecido com o preto & branco, após enrolar seu filme
no quarto escuro e colocar no tanque de revelação, basta seguir as recomendações descritas no manual. Através de banho-maria, mantendo a temperatura da água em constantes 38ºC, é feito um banho inicial de 5 minutos para aquecer o tanque de revelação e as 3 soluções (First Developer, Color Developer e Bleach + Fix) diluídas em água. A quarta solução chamada de STAB também diluída em água deverá ser mantida na temperatura entre 20ºC e 25ºC. A agitação é [59]
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constante nos primeiros 15 segundos e depois a cada 15 segundos em todas as etapas. Nota: A temperatura é algo primordial durante o processo. Qualquer diferença na temperatura trará resultados não satisfatórios. Tempos utilizados na revelação: • Primeiro revelador (First Developer): 6 minutos e 30 segundos. • Banho de interrupção: 2 minutos. • Revelador de cor (Color Developer): 6 minutos. • Banho de interrupção: 2 minutos. • Branqueador e Fixador (Bleach + Fix): 6 minutos. • Banho de interrupção: 4 minutos. • Estabilizador (STAB): 1 minuto.
Foto: Karina Rocha
O resultado desta primeira tentativa vindo de uma solução química vencida e de todo processo ter sido feito em casa me surpreendeu. Acredito que com a compra de um kit de revelação cromo dentro da validade as cores fiquem mais marcantes com transparência e um contraste profundo sem manchas. Continuarei a pesquisa com os mesmos químicos em novas revelações com tempos e diluições diferentes... é assim com a fotografia analógica, tentar e tentar até chegar no resultado desejado. Sempre há algo para melhorar e, com esse propósito adoto o campo da fotografia analógica praticando esse assunto fascinante. Creio que desse rito é que surge a qualidade e a técnica do processo.
Meu nome é Rautemberg Nóbrega e estou no 4º módulo do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap. Busco investir meus esforços em carreira acadêmica e em projetos de fotografia autoral. Agradeço ao ensino dos professores, colaboração dos laboratoristas e do apoio imprescindível da coordenadora Renata Victor pela oportunidade de contribuir com a revista UnicaPhoto. [61]
Expedição Endurance a incrível viagem para a Antártida completa 100 anos
Capitão Sir Ernest Shackleton
Fotógrafo Frank Hurley
“A fotografia documental tem o mérito de registrar um momento de tempo real que não mais se repetirá, e que será sempre lembrado, como é o caso da Expedição de Sir Ernest Shakleton à Antártida em 1912, que foi extensivamente registrada pelo fotógrafo australiano Frank Hurley, e que ficou conhecida como uma das maiores aventuras do homem na luta pela sobrevivência no século XX”. Eduardo Masami Kitahara (2007, p. 127) Texto de Julianna Nascimento Torezani
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Viagem! Aventura! Desafio! Sobrevivência! Essas palavras ajudam a definir a viagem realizada no início do século XX da Europa para a Antártida. O capitão Sir Ernest Henry Shackleton (1874-1922) tinha por objetivo cruzar o continente antártico a pé e de trenó, além de desenvolver pesquisas no Pólo Sul, mas essa aventura resultou também em um marco na fotografia documental e ambiental. O plano era cruzar o Círculo Polar Antártico, atravessar o traiçoeiro Mar de Weddell e aportar na Baía de Vahsel, uma caminhada de 3300 quilômetros onde uma parte da tripulação desembarcaria para a travessia por terra até o Mar de Ross, para isso levou 69 cães canadenses treinados para puxar trenós. No entanto, essa viagem teve outra percurso. A viagem teve diversos financiadores sob a venda de todos os direitos sobre notícias e imagens da expedição, visto que esse tipo de fotografia teve grande apelo popular desde a expedição de Robert Falcon Scott, em 1902, no qual Shackleton também participou. Assim, Shackleton colocou no jornal um anúncio com o seguinte texto: “Procura-se homens para jornada perigosa, salário baixo, frio cortante, retorno seguro duvidoso”. A Expedição Transatlântica Imperial de Shackleton partiu no navio Endurance (uma embarcação de madeira preparada para enfrentar o gelo) de Londres em 1º de agosto de 1914, dias antes do início da Primeira Grande Guerra. Mesmo com a guerra recebeu autorização de Winston Churchill para continuar a
viagem. A equipe comandada pelo explorador irlandês Shackleton (que já tinha participado de duas expedições à Antártida) tinha 27 pessoas, entre marinheiros, pesquisadores e o fotógrafo australiano Frank Hurley (18851962). Levou como equipamento fotográfico: câmeras Graflex; câmera de fole para negativos de vidro; Kodak’s de vários tamanhos, inclusive uma V. P. K. (Vest Pocket Kodak), número 3 e 3A F.P.K.; filme N. C. da Kodak; chapas Austral Standard; chapas Austral Lantern para preparer diapositivos; lentes Cooke de foco e aberturas variáveis, inclusive a conhecida Portrait, de doze polegadas f/3.5; lente Ross Telecentric de dezesseis polegadas f/5.4.
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Em 7 de dezembro de 2014, a expedição chegou ao banco de gelo na Antártida, as banquisas. Shackleton resolveu esperar o inverno passar e o gelo derreter para seguir viagem, neste momento já registrava quase 15 graus negativos. Neste período mantém toda tripulação ocupada em atividades de pesquisa (como a coleta de plâncton), cuidados com o navio ou atividade de lazer como ouvir gramofone, jogar xadrez e futebol. Em 27 de outubro de 1915, o Endurance é esmagado pelo gelo e a tripulação abandona o navio. Shakleton permite que cada tripulante recolha cerca de um quilo de pertences e monta um acampamento oceânico. O naufrágio completo do navio ocorreu em 21 de novembro de 1915. Hurley teve que abandonar o equipamento fotográfico mais pesado, das 500 fotografias feitas guardou 120 imagens e quebrou as demais placas de vidro. Shakleton temia que Hurley colocasse sua vida em risco, tentando recuperar as chapas posteriormente, por isso que as imagens foram quebradas. Para o resto da viagem, Hurley ficou com uma Kodak V. P. K. e 3 rolos de filmes.Os homens foram divididos em três botes pequenos e passaram sete dias no oceano Atlântico Sul até chegar a Ilha Elefant em 15 de abril de 1916. Desta forma, a tripulação passou 497 dias no gelo e no mar para chegar a Terra firme. O problema que a ilha estava fora da rota dos navios baleeiros, por isso em 24 de abril Shackleton resolveu seguir com cinco pessoas da tripulação no bote James Caird que tinha 6,6 metros de comprimento para tentar chegar à Ilha
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Georgia do Sul habitada por noruegueses, há 1300 quilômetros de distância. Durante a viagem no bote poderiam enfrentar ventos de 130 km/h e ondas de até 20 metros. Após 17 dias no mar em condições precárias, enfrentaram um furacão até chegar a estação baleeira da Ilha Georgia do Sul em 10 de maio de 1916. Lá desembarcam no lado contrário da estação, não tiveram como seguir navegando porque o bote estava muito avariado. Sheckleton com dois homens atravessaram a pé as geleiras no interior da ilha, um percurso de 37 quilômetros, onde tiveram que escalar montanhas, glaciais e picos nevados, até alcançar a Vila Stromness após 36 horas de caminhada. Foram resgatados por um navio, que deu uma volta na ilha e resgataram os demais tripulantes do outro lado. No entanto, ainda faltavam buscar os integrantes da expedição na Ilha Elephant, por conta da guerra a Inglaterra não tinha navio para o resgate, assim Shackleton teve que buscar apoio na Argentina, Uruguai e Chile para encontrar uma embarcação que suportasse a viagem de volta. Shackleton só conseguiu chegar à Ilha Elefant apenas na terceira tentativa. Dentro do navio, ainda no mar ele contou quantas pessoas estavam na ilha e observou que todos estavam vivos. O resgate ocorreu em 30 de agosto de 1916 pelo navio chileno Yelcho, comandado por Luis Pardo Villalón. Todos retornaram à Inglaterra. Shackleton foi recebido como um herói pois lutou pela sobrevivência de todos da equipe da sua expedição. Em 1922, Shackleton voltou para a quarta experdição à Antártida, ao chegar na Ilha Geórgia
do Sul sofreu um ataque cardíaco e faleceu aos 47 anos, foi sepultado na própria ilha. Essa emocionante história de sobrevivência foi contada no documentário A Lendária Expedição Antártica de Shackleton dirigido por George Butler, em 2001. É até hoje considerada uma das grandes aventuras de todos os tempos.
Referências: KITAHARA, Eduardo Masami. O uso da fotografia e da imagem digital em pesquisas oceanográficas: novos rumos proporcionados pela evolução do processo digital. In: Conexão – Revista de Comunicação e Cultura da Universidade de Caxias do Sul, UCS. Caixas do Sul, v. 6, n. 12, jul./dez. 2007. Dicas de livros: ALEXANDER, Caroline. Endurance. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. LANSING, Alfred. A incrível viagem de Shackleton. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.
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Ensaios
Quem é você nas cores? Cada um de nós somos formados por cores, somos representados por uma ou várias delas. Essa é a tradução de nossa essência e é justamente a essência a protagonista dos ensaios do projeto “Você nas cores”, de Suann Medeiros, jornalista formada, estudante de fotografia e, acima de tudo, uma pessoa que usa suas cores para colorir o mundo de todos ao seu redor: uma apaixonada. O projeto vem da vontade da autora de evidenciar as nossas cores interiores, em composições que são mistos de cenário original, olhar poético e técnico e principalmente, a beleza única de quem está sendo fotografado. Além disso, a pessoa fotografada também é entrevistada e instigada a refletir sobre o papel das cores em sua vida.
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Ensaios
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O FOTÓGRAFO, A FOTOGRAFIA E A HISTÓRIA Texto de Angela Grangeiro Fotografia e restauração (segunda imagem): José Nunes
Formar um fotógrafo demanda mais que ensinar a técnica do manuseio da câmera, da utilização do flash, do conhecimento das regras básicas de enquadramento e aproveitamento da luz. O curso de fotografia estimula o fotógrafo a compreender, através da história, como a fotografia vem mudando conceitos e se estabelecendo como uma arte, que como qualquer outra, exige cada vez mais o aperfeiçoamento dos seus adeptos. Sob essa perspectiva, vem sendo agregada, ao fotógrafo contemporâneo, mais uma competência: a recuperação da fotografia, que para ser bem desempenhada, exige grande conhecimento, não apenas da técnica, mas da história e principalmente do domínio do software atualmente utilizado para o exercício dessa atividade. Quando se recupera uma fotografia se garante que a história de uma família, uma cidade, um país, da humanidade, seja resgatada e preservada. Nessa matéria conheceremos um pouco sobre um processo fotográfico muito utilizado em meados dos século XIX, a ferrotipia. Ferrotipia (em inglês, tintype ou ferrotype), consiste em uma fotografia feita sobre uma chapa fina de metal revestida de colódio úmido (uma substância formada por álcool, éter, algodão e pólvora permitia que a foto ficasse pronta em 30 segundos) e banhada em sal de prata. Datada da década de 1850, mais de 160 anos atrás. O processo surgiu como alternativa mais barata em relação à daguerreotipia, firmando-se nas duas décadas seguintes especialmente entre fotógrafos itinerantes. Esse foi o método usado nos registros de Mathew B. Brady na Guerra Civil Americana. Marie Loup Sougez na obra História da Fotografia (2001, p. 110) afirma que “o ferrótipo era muito econômico e tinha a vantagem de poder enviar-se pelo correio, sem risco de partir: foi o meio ideal para os retratos dos pioneiros do Oeste, ou dos [70]
pesquisadores de ouro que podiam, assim, mandar o seu retrato ou receber o de uma pessoa querida. Essa matéria é ilustrada pelo ferrótipo de Fiel Grangeiro, nascido em 1844 em Catolé do Rocha. Formou-se na Faculdade de Direito do Recife e estabeleceu residência em Palmares, onde adquiriu dois engenhos e constituiu família. Faleceu em 1897, aos 53 anos, deixando quatro filhos, sendo um deles o meu avô. A família doou os seus livros à Biblioteca Pública de Palmares. O processo de desgaste do ferrótipo, em questão, ainda não foi estabilizado, sabemos que não poderemos reverter o dano causado pelo tempo e mau acondicionamento, porém como já citado anteriormente, é possível recuperar a informação. José Nunes, fotojornalista e aluno do Curso de
Fotografia da UNICAP, após fotografar o ferrótipo, tratou-o no Photoshop, recuperando não apenas as características físicas do personagem assim como a indumentária e a tendência da época, pois no século XIX, quando foi feito, era habitual posar em estúdios com cenários devidamente construídos para esse fim. Graças a esse trabalho, o registro não apenas foi perpetuado, mas também compartilhado, agora a imagem virou informação, que pode ser disponibilizada na internet e acessada por qualquer pessoa ou entidade interessadas no assunto. Assim desde 1826, data atribuída a primeira fotografia conhecida, até os dias atuais, a fotografia vem se consolidando como um efetivo meio de perpetuação e disseminação da história da humanidade.
Fontes: SALLABERRY, Diogo. App TinType simula processo fotográfico de ferrotipia, mas sem a magia analógica. Disponível em: <http://wp.clicrbs.com.br/spot/2015/08/25/app-tintype-simula-processo-fotografico-de-ferrotipia-mas-sem-a-magia-analogica/?topo=87,1,1,,,e186>. Acesso em: 03/08/2016 às 10:51 SOUGEZ, Marie-Loup. História da Fotografia. Lisboa: Dinalivro, 2001. [71]
FOTOGRAFIA: MÁQUINA DO TEMPO Texto de Julianna Nascimento Torezani A imagem fotográfica como elemento do processo cultural, estético, técnico e ideológico é o tema da obra Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo de Boris Kossoy. Neste livro o autor também apresenta pesquisas sobre fotógrafos do passado e a censura na imprensa brasileira no século XX. Como o título indica os tempos da fotografia, Kossoy apresenta o tempo da criação como a primeira realidade, ato de registro e momento efêmero e o tempo da representação como a segunda realidade, foto documental, momento perpétuo. A primeira parte da obra trata da “Teoria e metodologia: conceitos, proposições, abordagens”, nesta são apresentadas as fases de construção e desmontagem da fotografia. O autor expõe uma importante lista de autores e obras que serviram como referencial teórico de suas pesquisas, etapa extremamente importante no desenvolvimento de uma investigação, ou seja, a revisão de literatura sobre o tema que se deseja analisar. Kossoy apresenta as ideias de Erwin Panofsky que elabora três fases de investigação de imagens: descrição pré-iconográfica da cena, os elementos visíveis; análise iconográfica, para identificação de tais elementos; interpretação iconológica para buscar significados e sentidos a cada imagem criada. Após essa explanação, o autor indica o estudo da codificação formal (captura de luz, equipamentos, produção e pósprodução) e da codificação cultural (elementos explícitos e implícitos) das cenas são essências para encontrar os significados destas. A partir de tais elementos pode chegar a estética de representação das fotografias, já que “toda fotografia tem atrás de si uma história” (KOSSOY, 2007, p. 52). “Imprensa e história” é o título que abre a segunda parte do livro, inicialmente Kossoy conta a trajetória de vida da fotógrafa suíça Hildegard Rosenthal que deixou a Alemanha nos anos 30 por conta do seu futuro marido Walter Rosenthal ser judeu. No Brasil, registrou a cidade de São Paulo como metrópole durante o Estado Novo trabalhando para a agência Press Information. Durante dez anos (entre final da década de
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1930 e final da década de 1940) Rosenthal criou imagens utilizando fotomontagens e foi pioneira no fotojornalismo brasileiro. Kossoy também relata como era a imprensa na Era Vargas, tendo o jornal O Estado de São Paulo, no período de 1933 a 1938, publicações antissemitas e anticomunistas, na maioria das vezes eram textos sem imagens, caracterizando um imprensa controlada, o que ocorre também a partir do Golpe de 1964 com a instauração da ditadura militar no país. Na terceira parte do livro chamada de “Imaginário e memória”, o autor afirma que fotografia é memória, é o assunto retirado do seu contexto de criação, que há a memória coletiva nacional (documentação fotográfica oficial) e a memória individual (retratos e álbuns de família). Volta a tratar do tempo da criação e o tempo da representação, lembrando que este segundo é perpétuo se as imagens forem preservadas. Segundo Kossoy (2007, p. 147), “através da fotografia dialogamos com o passado”. E, ainda, a questão do tratamento digital de cena, chamando de reciclagem das imagens. Como máquina do tempo, a imagem preservada é o ‘frigorífico’ da memória, através principalmente dos bancos informatizados, que pela pesquisa fazendo a leitura dos diálogos e dos silêncios, o aparente e o oculto se relacionam. Por fim, o autor indica que sem a fotografia o século XIX seria outro. O mundo portátil e ilustrado trouxe uma referência mental ao indivíduo acerca do mundo real, assim conhecemos o mundo também pelas representações que são feitas dele. A imagem como o ‘ópio da imaginação’. Assim, as imagens são “espelhos que guardam memórias” (KOSSOY, 2007, p. 163).
Confira
outras dicas de livros, filmes
e sites dos professores do curso de
Fotografia
A Lendária Expedição Antártica de Shackleton. Diretor: George Butler, 2001.
da
Unicap
Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. Boris Kossoy, 2007.
Portal Photos
A ilusão especular: uma teoria da fotografia. Arlindo Machado, 2015.
Icônica
C
Grande Hotel Budapeste. Diretor: Wes Anderson, 2014.
Índia. Steve McCurry, 2015.
Hypeness
D
Mia madre. Diretor: Nanni Moretti, 2015.
Os gestos. Osman Lins, 1957.
Porto das Letras
E
A Insustentável Leveza do Ser. Diretor: Philip Kaufman, 1988.
Pensamento crítico em fotografia: Antologia Brasil, 1890-1930. Ricardo Mendes, 2013.
Marketing para fotográfos
A B
A história da eternidade. Diretor: Camilo Cavalcante, 2015.
Dicas de: A - Julianna Torezani B - Sofia Queiroga (aluna do curso) C - Marcela Freire (aluna do curso) D - Robson Teles Gomes E - Carolina Monteiro [73]