unicaphoto Revista do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap - #4, mar 2015 www.unicap.br/unicaphoto
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Na web
www.unicap.br/unicaphoto /fotografiaunicap
Expediente: Coordenação: Renata Victor. Edição: Carolina Monteiro. Diagramação: Arline Lins. Textos: Amanda Melo, Carolina Monteiro, Germana Soares, Renata Victor, Dario Brito, Juliana Nascimento Torezani, Carolina Figueiredo, Ana Thamires Tenório, Luara Olívia S. de Oliveira, Niedja Dias, Amanda Melo e Paulo Souza. Fotos: Helia Scheppa, Gabriel Ferreira, Rebeca Patrício, Ivan Melo, Roberta Menezes, Rafa Melo, Paloma Arquino, Anchieta Américo, Elysangela Freitas, Marquinhpo ATG, Drailton Gomes, Jeyza Rodrigues, Deborah Barros, Francisco Bitu, Simony Rodrigues, Lindomar Oliveira, Zito Barbosa, Rodrigo Silva, Kezya Souza e Renata Victor. A UnicaPhoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (ISSN 2357-8793). Foto da capa: Hélia Scheppa Foto da contra-capa: Paloma Arquino
Editorial Em 19 de agosto de 2013, publicamos a primeira edição da revista UNICAPHOTO. Durante todo este período, procuramos acompanhar os avanços tecnológicos aplicados à Fotografia e também resgatar a história e os valores da fotografia analógica - características herdadas da matriz curricular do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap. Ao estudar a história da Fotografia e os seus artefatos, podemos compreender e fazer o presente e o futuro da imagem fotográfica. Nesta quarta edição, a Fotografia Analógica será discutida em vários momentos: Preservação dos Acervos Fotográficos, abordada pela Professora Julianna Torezani; na entrevista feita pela Professora Niedja Dias com o fotógrafo paulistano Roger H. Sassaki, que trabalha com captura de imagens da cidade de São Paulo, através de processos fotográficos do século XIX; e na análise de uma imagem do fotógrafo Robert Doisneau, feita pela aluna Amanda Cavalcanti Santana de Melo, fruto de uma atividade para a disciplina Linguagem Fotográfica, ministrada no semestre letivo de 2014.2 pelo professor Leonardo Ariel. Não menos importante são as matérias ligadas às novas tecnologias: Doze aplicativos de fotografia indispensáveis, da Professora Carolina Monteiro e O ISO na fotografia digital, do aluno Paulo Souza. E mais: a coluna Direito Autoral e Direito de Imagem, da Professora Julianna Nascimento Torezani; o livro “Inquietações fotográficas”, da curadora e antropóloga pernambucana Georgia Quintas, o curso de extensão “Produção de Documentário com câmeras DSLR”, ministrado pela documentarista Maria Eduarda Andrade, o prêmio da ex-aluna Juliana Galvão, os ensaios fotográficos dos alunos Rodrigo Silva e Keyza Souza, respectivamente “Antigo Pós-Moderno” e “ Chapada Diamantina” e o ensaio “Dia e noite em Fernando Noronha”, de minha autoria e as fotos da exposição “Frei Caneca”, dos alunos concluintes 2014.2. Uma boa leitura a todos. Renata Victor Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
SUMÁRIO Aconteceu p.6
Vendo além Acervo Unicap da câmera p.14 p.24
Entrevista p.8 Novos olhares sobre Frei Caneca p.16
Acervos fotográficos: dicas de preservação p.28
Ensaios p.33
Doze aplicativos de fotografia indispensáveis p.62
Dicas de iluminação p.68
Análise de imagem p.70
Direito autoral e direito de imagem p. 72
O ISO na fotografia digital p. 73
Reflexões e inquietações sobre a fotografia p. 79
Dicas p. 72
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ENTREVISTA
Universo Analógico e Digital – Espaço Aberto A UnicaPhoto continua de olho nos profissionais que – apesar da Era Digital – ativamente revivem os processos da Fotografia Analógica e se utilizam de ambos em sua realidade profissional. Sendo assim, nesta edição, Niedja Dias entrevista o fotógrafo paulistano Roger H. Sassaki, um explorador visual, que trabalha em estúdio e na captura de imagens da cidade de São Paulo, registrando-a através de processos fotográficos do século XIX. Dedica-se ao jornalismo documental e registro de espetáculos musicais de artistas nacionais e internacionais. Ministrou vários cursos pelo Senac-SP e participou de diversas exposições no Brasil e na Europa.
Foto: Daniela Coen
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UNICAPHOTO - Como a Fotografia surgiu na sua vida? ROGER - O interesse surgiu naturalmente, desde pequeno, com as câmeras compactas. Fotografava principalmente as viagens da escola, amigos e família. Depois, peguei as câmeras SLR de meus pais e passei a explorar mais assuntos e o interesse pela fotografia se solidificou. UNICAPHOTO - Quais os seguimentos do universo fotográfico você atua? ROGER – Atualmente tenho um trabalho autoral de registro da cidade de SP e também de retratos. Ambos são relacionados a uma pesquisa pessoal em processos históricos como calotipia e placa úmida. Gosto de registrar comunidades pelo Brasil. Fiz bastante em Minas Gerais e espero poder fazer uma releitura em algum processo de captura histórico. Tenho também um trabalho longo de fotografia de espetáculos, principalmente shows musicais. Isso começou na faculdade e ficou mais constante em 2000. UNICAPHOTO - Como é trabalhar na Bourbon Street Music Club por tanto tempo, fotografando grandes artistas nacionais e internacionais? ROGER - Gosto muito de música e conseguir fotografar os primeiros shows no Bourbon Street foi ótimo. Tanto pelas excelentes oportunidades de artistas que lá se apresentam quanto pelo apoio da casa ao meu trabalho. Ainda adoro ir lá registrar os shows, encontrar os amigos da casa e ter uma ótima noite. Somando-se a isso, encontrar pessoalmente grandes músicos. Fiz grandes amizades com vários. Lembro-me de uma rápida conversa a sós no trailer do B.B. King, uma ótima pessoa. UNICAPHOTO - E sua paixão pela Fotografia de arquitetura? ROGER - Nunca foi uma atividade comercial forte. Fiz algumas obras que foram pra livros e exposições. Quando se faz para um cliente, é um tanto parecido com reprodução de obra de arte, porém a tridimensionalidade e o jogo de luzes interiores e exteriores dão mais espaço para uma interferência pessoal do fotógrafo. É um desafio interessante. UNICAPHOTO - Você também trabalha com impressão Fine-art. Conte-nos sobre transitar neste contraponto de atmosfera tão contemporânea? ROGER - Eu transito pelas tecnologias atuais e históricas. Eu ampliava bastante cópias em processo PB químico e acabei sendo da primeira geração de impressores aqui no Brasil. Creio que você tem que usar a tecnologia adequada para o que você quer fazer. A impressão de jato de tinta pigmentada é ótima. Principalmente para a fotografia colorida foi um grande avanço, já que o método colorido químico tem limitações de suporte e problemas de longevidaFoto: Roger H. Sassaki
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de. Acho que esses conhecimentos se somam. Ao aprender a fazer uma boa cópia em processos químicos, você melhora também a cópia feita em impressão jato de tinta pois aguça o olhar e a interpretação das imagens. UNICAPHOTO - O que vem a ser o Imagineiro? ROGER - No começo foi só o nome do blog em que eu publico meu diário de pesquisas de processos fotográficos (www.imagineiro.com.br). Com o tempo virou a identidade desta iniciativa fotográfica. Existe também o Fernando Fortes que colabora com as pesquisas e aulas. Alguns outros artistas se juntam para projetos pontuais. O Imagineiro faz parte e está fisicamente sediado na Casa Ranzini, que é um centro cultural voltado a imagem. UNICAPHOTO - De onde vem seu interesse em pesquisar sobre um processo criado no século XIX? ROGER - Minha formação fotográfica foi analógica e, apesar de ter migrado sem problemas para o digital, depois de um tempo fiquei um pouco entediado em trabalhar exclusivamente com este. Senti falta de lidar com matéria fotográfica. Resolvi tentar capturar imagens de outras formas, e os inúmeros processos históricos foram o caminho. Estes processos veem o mundo de outra forma e lhe forçam a seguir caminhos interpretativos interessantes. Eles geram objetos fotográficos que não podem ser completamente emulados pelo digital. A graça está em usar cada processo para aquilo em que ele é único e neste aspecto, nenhum é obsoleto. UNICAPHOTO - Como é ser um dos poucos no Brasil a dedicar-se as pesquisas sobre o Colódio Úmido? ROGER - É uma comunidade pequena mesmo no mundo, não pela dificuldade mas pelo tempo que é necessário se dedicar para conseguir poucas e boas imagens. Fico contente de ter conseguido um bom resultado e espero que, com o tempo, a comunidade brasileira se forme. UNICAPHOTO - Por que uma ênfase nos processos químicos em tempos de digital? ROGER - Como instrumento de educação, é enriquecedor mas não necessário para ser um bom fotógrafo. Para algumas pessoas, tirar o elemento “computador” do meio do ato fotográfico pode ser criativamente libertador. No mais, acho que o artista tem que ter a liberdade de utilizar e mixar todas as técnicas fotográficas, no que lhe são únicas, a fim de criar sua obra. Porém esse “menu” de possibilidades não é facilmente acessado no Brasil. UNICAPHOTO - Nos fale sobre a ideia do laboratório móvel de placa úmida, numa bicicleta. Como funciona?
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ROGER - Laboratórios móveis já eram utilizados no século XIX. A placa úmida exige que você tenha a mão muitos químicos para preparar e processar na hora, enquanto ainda está úmida dos químicos sensibilizantes, daí o nome. A bicicleta cargueira que uso é um jeito prático de carregar um pequeno kit pela cidade. A grande vantagem desse tipo de bicicleta é que ela se torna uma bancada quando estacionada. Carrego uma caixa escura desmontável para os processamentos e mais uma cesta com diversas outras coisas. Eu preciso sempre sair com mais alguém para me ajudar. Mas é um passeio muito divertido, pelo menos pra quem compartilha desta loucura. UNICAPHOTO - Você comercializa a solução de preparação das placas ou se resume à fabricá-las para atender as necessidades e dos seus cursos? Caso venda, onde o leitor interessado no processo pode encontrar? ROGER - Por hora tudo o que preparo é pra uso próprio. Durante o curso o aluno é orientado sobre os fornecedores de reagente e preparo de fórmulas. Não descarto no futuro ter algum jeito de fornecer kits para alguns processos. UNICAPHOTO - Com uma atuação tão extensa e segura da linguagem fotográfica, você acha que ainda pode existir alguma possibilidade de equilíbrio no mercado de insumos para o analógico. Algo que atenda a demanda, assim como as inúmeras opções para o digital na atualidade? ROGER - Existe a fotografia analógica pré-industrial. Esta vai sempre existir enquanto houver interessados pois os insumos são os mesmos de outras atividades, como reagentes químicos e coisas de supermercado e papelaria. A dúvida é quanto à foto analógica industrial. O lucro de vendas caiu vertiginosamente e deixou de valer a pena para muitos empresários, mas ainda existe um pequeno mercado que vale a pena para outros. Este mercado vai sobreviver com menos opções enquanto o lucro atual valer a pena pra alguém. Espero que por um bom tempo. UNICAPHOTO - Deixe seu recado para os jovens que estão buscando, na contramão da fotografia, redescobrir o prazer de construção da imagem, seja com Pinhole, Negativos em vidro, Cianótipo, Ferrótipo ou qualquer outra técnica experimental, se assim podemos denominá-las. ROGER - A fotografia é uma imagem formada por luz. Todos os processos são capazes de fazer isso. Tente pensar qual é o mais adequado para o tipo de imagem que quer produzir, pode ser o digital ou não. Não são contramão e nem técnicas experimentais, pois já foram muito experimentadas ao longo da história, bem mais que o digital. Os processos históricos mais antigos são mais demorados e trabalhosos, se quantidade e rapidez não são demandas do seu trabalho, pode ser uma ótima viagem de linguagem.
Foto: Waldir Salvadore
Contato: www.rogerhs.com www.imagineiro.com.br
Foto: Daniela Coen
Foto: Simone Wicca
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Foto: Roger H. Sassaki
Foto: Anna Silveira
Foto: Anna Silveira
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ACERVO UNICAP * A coluna Acervo Unicap é organizada pelo professor Dario Brito, professor da instituição
AVE MARIA Fotógrafa: HELIA SCHEPPA Câmera: Canon 7D Lente: 24mm ISO: 1000 Abertura: 4.5 Velocidade: 80 Luz: Natural Data: 6 de março de 2013, às 12h38
“Essa imagem foi feita em 2013 para o caderno especial Ave Maria, publicado no Jornal do Commercio. A repórter especial Fabiana Moraes me convidou para fotografar histórias de mulheres que foram vítimas de violência doméstica. Todas com o nome de Maria, pois o caderno foi publicado em maio, em homenagem ao mês das mães, o mês de Maria. Conversamos sobre a fotografia do trabalho, sobre como contar essas histórias em imagens através dos parentes das vítimas, que seriam os personagens do especial. Decidimos que a Santa, referente ao nome da vítima, seria entregue à família, no momento da entrevista. A primeira personagem do caderno que visitamos foi dona Maria Janete (a da foto), que havia perdido a filha Maria Aparecida, de 24 anos, morta pelo marido. No momento em que chegamos ela estava com outros filhos e netos pequenos em casa. Dona Maria Janete contou como era o relacionamento de Maria Aparecida com o marido, o dia do assassinato e a falta que a filha fazia na vida dela. Após uma hora e meia de conversa, enquanto eu já fazia algumas fotos, decidimos pegar a imagem de Nossa Senhora, que estava no carro. Entreguei a Fabiana e continuei fotografando, sempre de uma forma respeitosa e tranquila. Fabiana abriu a embalagem que cobria a Santa, enquanto explicava que aquele presente era a imagem de Nossa Senhora Aparecida, referente ao nome que dona Janete batizou a filha, Maria Aparecida. Nesse momento, que até hoje não sai da minha cabeça por tamanha emoção, dona Maria Janete recebeu a imagem das mãos de Fabiana, lágrimas corriam de seu rosto e ela começou a beijar e ninar, como quem coloca um bebê para dormir. Naquele instante a minha máquina fotográfica não era apenas um equipamento que eterniza situações, era também uma cortina, uma parede onde eu me escondi e apoiei minha testa para chorar junto à mulher, que inconscientemente transferiu a carência de sua filha para a imagem de Maria. Ela abraçava e chorava ao mesmo tempo, agradecendo o presente e que, de certa forma, consolava a dor. Essa foi uma das fotos mais silenciosas e dolorosas que fiz, porque ali só cabiam lembranças, choro e muito amor. Uma das coisas que mais me fascinam na foto é que ela justifica o amor pelo que faço: a fotografia me emociona.” - em depoimento a Dario Brito 15
Foto: Gabriel Ferreira
Novos olhares sobre Frei Caneca Um nome muito conhecido mas muitos não sabem ao certo sobre quem estamos falando. Frei Caneca, nome de shopping, rua e até de bar foi de fato um importante personagem na história de Pernambuco. Joaquim da Silva Rabelo nasceu no Recife no ano de 1779. Teve educação cristã e, em 1796, tornou-se noviço do convento de Nossa Senhora do Carmo. Em 1801 foi ordenado e em homenagem a seu pai, fabricante de vasilhames, adotou o nome de Joaquim do Amor Divino Caneca ou, como todos conhecemos, Frei Caneca. Depois de ordenado tornou-se professor de matérias como: Retórica, Geometria, Filosofia. Mas o que destaca Frei Caneca na nossa história eram seus ideais liberais, pensamentos revolucionários e republicanos que iam contra do governo monárquico da época. 16
Participou ativamente da chamada Revolução de 1917, que proclamou uma República e organizou o primeiro governo independente na região Nordeste. Era conselheiro do exército republicano do sul, comandado pelo coronel Suassuna. Com a derrota do movimento, foi preso e enviado para Salvador. Ali passou quatro anos, dedicando-se à redação de uma gramática da língua portuguesa. De volta ao Recife é nomeado no dia 1 de janeiro de 1822 para lecionar Geometria elementar. Mas não deixou de lado os movimentos que lutavam pela Independência e pela República. Em 1824, uma nova revolução estava se formando, A Confederação do Equador, que para muitos foi o prolongamento da Revolução Pernambucana de 1917. O jornal Typhis Pernambucano, que fundou e dirigiu desde 25 de dezembro de 1823 até agosto de 1824, alimen-
Foto: Zito Barbosa
Germana Soares
tava as ideias revolucionárias. “Quem bebe da minha caneca tem sede de Liberdade”, dizia. Foi detido pelas tropas imperiais de 29 de novembro de 1924, no exercício de suas funções de Secretário das tropas sublevadas, das quais era também orientador espiritual, sendo conduzido para o Recife. Em 18 de dezembro de 1824 foi julgado. Nos autos do processo, Frei Caneca é indiciado como um dos chefes da rebelião e condenado ao enforcamento. Em 13 de janeiro de 1825, foi armado o enforcamento diante dos muros do Forte das Cinco Pontas. Despido de suas vestes religiosas, foi preparado para o enforcamento, porém três carrascos recusaram-se a enforcá-lo. Frei Caneca foi então amarrado a uma das hastes da forca e fuzilado. Seu corpo foi deixado à porta da Igreja do Carmo onde foi recolhido e enterrado pelos religiosos.
Em homenagem a esse que tanto defendeu seu ideais e um melhor governo para o povo, anualmente no dia 13 de janeiro, o Museu da Cidade do Recife promove atividades que relembrem a luta e a importância de Frei Caneca. Em 2015, o Museu da Cidade em parceria com o Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco propuseram aos alunos concluintes da turma de 2014.2 uma produção fotográfica que remetesse a quem foi Frei Caneca e sua importância. A exposição Novos olhares sobre Frei Caneca conta com 20 imagens impressas em papel fineart, curadoria de Betânia Correia, do Museu da Cidade e das professoras Renata Victor e Germana Soares. Aberta ao público do dia 14 de janeiro a 31 de março, no Museu da Cidade do Recife, de terça a sexta das 9h às 17h. 17
Foto: Rebeca Patrúcio
Foto: Everson Verdiu
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Foto: Ivan Melo
Foto: Paloma Arquino
Foto: Roberta Menezes
Foto: Anchieta Américo
Foto: Rafa Melo
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Foto: Paloma Arquino
Foto: Elysangela Freitas
Foto: Drailton Gomes
Foto: Marquinhos ATG
Foto: Jeysa Rodrigues
Foto: Drailton Gomes
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Foto: Marquinhos ATG
Foto: Deborah Barros
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Foto: Francisco Bitu
Foto: Simony Rodrigues
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Foto: Lindomar Oliveira
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Vendo além da câmera Curso de produção vídeo-documental inspirou alunos como Juliana Galvão a dar mais um passo na produção cinematográfica Amanda Melo Fotos: Niedja Dias
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Contar uma história. O que pode parecer uma atividade simples e corriqueira, pode ser transformar-se numa atividade de profundo autoconhecimento. Esse foi o objetivo do Curso de Extensão em produção Vídeo-Documental, realizado em 2014, pelo Curso Superior Tecnológico em Fotografia da Unicap. Ministrado pela documentarista Maria Eduarda Andrade, as aulas consistiam em debates e troca de conhecimentos sobre a produção áudio visual com as câmeras DSLR. “A aula era o lugar de trocar ideias, conhecimentos e mostrar referências aos participantes, tudo com o objetivo de fazê-los, ao final do curso, contar uma história por meio de filmagens documentais”, comenta Maria Eduarda. Durante os encontros, a parte técnica era aprofundada através de atividades práticas de produção e edição com filmagens realizadas no próprio campus da Universidade. Os participantes também eram encorajados a, semanalmente, trazer pequenos trechos da filmagem, para discussão e análise colaborativa do projeto final. A prática incentivava os alunos a criarem seus próprios repertórios, desafiados por conteúdos e linguagens no decorrer do curso. A iniciativa não demorou para dar seus frutos. Juliana Galvão, ex-aluna do Curso de
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Fotografia e participante do curso de extensão, teve seu projeto final premiado na categoria “formação” do FestCine. “Quando mostrei o meu trabalho final para Duda, numa quarta-feira, ela me disse que eu deveria inscrevê-lo em festivais. E na quinta, ela me manda uma mensagem dizendo que na sexta se encerravam as inscrições para o FestCine e que eu “corresse” para fazer a inscrição. Duda é uma grande incentivadora dos alunos, tanto para que concluam os seus trabalhos, quanto para que os divulguem. Então eu superei uma certa vergonha pela possibilidade de ver o meu curta, que trata de assunto tão pessoal, exibido para um grande público e inscrevi “Amentas”. E para a minha surpresa, ele não apenas foi selecionado, como ganhou o prêmio de melhor curta de formação do festival”, afirma Juliana. Segundo a aluna, a experiência foi enriquecedora. “Muito além das questões técnicas de fazer vídeos, acredito que o grande diferencial desse curso foi o de nos mostrar linguagens tão ricas e surpreendentes, que nos estimularam a tentar fazer algo diferente. É como se a delicadeza, a poesia e a força presentes tanto no trabalho de Duda, quanto nos que eram mostrados em sala, nos tocassem de forma tão significativa que saíamos das aulas querendo produzir algo sensível também.”
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Acervos Fotográficos: dicas de preservação Julianna Nascimento Torezani
“Diz-me o que vês, eu te direi por que vives e como pensas”. Régis Debray (1994)
A fotografia guarda importantes momentos da história desde meados do século 19. Com diferentes processos e técnicas como o uso da albumina, do colódio úmido, da gelatina com o nitrato de prata, além de diversos equipamentos como câmaras portáteis, lentes mais luminosas e flashes eletrônicos, foi possível obter imagens das pessoas, da arquitetura, das paisagens, das guerras, de todos os acontecimentos. Em função dos produtos químicos utilizados ao longo dos tempos, é importante conservar corretamente as imagens fotográficas por conta das questões climáticas, em especial a temperatura e a umidade relativa do ar, além do acondicionamento. No Brasil, a FUNARTE (Fundação Nacional de Artes) através do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica (CCPF) criou técnicas de preservação de imagens, treinamento de equipes técnicas e age na recuperação de acervos fotográficos brasileiros públicos e privados. O CCPF criou os Cadernos Técnicos, disponibilizados no portal na Internet, que orientam todas as etapas de preservação de fotos, da aquisição do acervo ao correto arquivamento. O site também explica a sua função: “O CCPF tem como missão: a preservação da memória fotográfica brasileira; a formação de pessoal técnico especializado; a pesquisa de soluções; 28
a adaptação de materiais acessórios; e a difusão de informações em conservação e preservação fotográfica através de publicações, cursos e oficinas”. As fases de tratamento de fotografias constam de diagnóstico para análise das imagens em processos, fatores de deterioração e formatos diferentes, que servem para planejar o tempo de execução, o material necessário, o local e a equipe adequada. Nesta fase também é importante preencher a ficha com as características dos registros e as condições ambientais encontradas. Na fase de tratamento, cada foto deve analisada para que seja escolhida a técnica mais apropriada de limpeza, que pode ser a higienização mecânica e, se necessária, a higienização química e o acondicionamento. Para Sandra Baruki e Nazareth Coury, no Caderno Técnico 1 (2004, p. 3): “Os materiais acessórios (papéis, plásticos e adesivos) para a produção de embalagens devem seguir normas de conservação fotográfica, especialmente os invólucros primários que estarão em contato direto com a imagem e o com o suporte”. Ao planejar a sala para guardar as fotografias, deve-se controlar a temperatura em cerca de 18° C, umidade relativa do ar em 40%, com lâmpadas de baixa intensidade de luz, uma vez que os raios ultravioletas causam esmaecimento na emulsão química utilizadas nas cópias.
De acordo com Peter Mustardo e Nora Kennedy, “o uso de luz ultravioleta pode auxiliar a determinar se as colônias de fungos estão ativas ou latentes” (2004, p. 20). Além de guardar as imagens originais, deve-se também digitalizar as fotografias para fazer um arquivo de segurança. Assim como a equipe deve planejar uma ação de emergência se houver incêndio ou inundação, inclusive com detectores de fumaça e contato com o Corpo de Bombeiros da cidade. Em função de muitas fotografias, bem como negativos, terem se deteriorado nas últimas décadas é importante preservar tais registros como patrimônio identitário. Segundo a pesquisadora Dulcília Buitoni, “talvez estejamos começando a enfrentar uma crise de memória. Talvez a imagem fotográfica complexa e jornalismo possam ainda continuar desenhando linhas do tempo. Por mais que critiquemos o simulacro das imagens, um resíduo de indicialidade pode trazer pontos para a memória. E para a nossa identidade” (2011, p. 190). Daí a importância da preservação de tais acervos. No Recife existem vários acervos fotográficos importantes que guardam a história e a memória da cidade através de imagens, como
o do IPHAN, da FUNDAJ e do Museu da Cidade. O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão do governo federal que cuida do patrimônio material, imaterial, dos museus e dos centros culturais possui um acervo do patrimônio arquitetônico da cidade. Na FUNDAJ (Fundação Joaquim Nabuco), que tem como missão “gerar conhecimento no campo das humanidades com a finalidade de atender a demandas e necessidades relacionadas a educação e cultura, compreendidas de forma interdependente, com vistas ao desenvolvimento justo e sustentável da sociedade brasileira”, entre os projetos realizados está a manutenção de um grande acervo fotográfico com imagens de várias épocas históricas, em destaque para a Coleção Francisco Rodrigues. No Museu da Cidade, que funciona no Forte São Tiago das Cinco Pontas, encontram-se milhares de fotografias da cidade que também conta a sua história, mostrando as pessoas, os lugares e as paisagens. Estes são, portanto, alguns dos principais lugares que guardam a iconografia do Recife, mostrando em imagens todo o legado cultural da capital e demais municípios pernambucanos. referências
Dicas
de sites
BUITONI, Dulcilia Schroeder. Fotografia e jornalismo: a informação pela imagem. São Paulo: Saraiva, 2011. (Coleção Introdução ao Jornalismo; v. 6).
- FUNARTE - FUNDAJ - IPHAN - Museu
da
Cidade
do
BARUKI, Sandra; COURY, Nazareth. Treinamento em conservação fotográfica: a orientação do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Funarte. 3 ed. rev. Rio de Janeiro: Funarte, 2004. (Cadernos técnicos de conservação fotográfica, 1). [Organização do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Funarte].
Recife -
DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no Ocidente. Tradução de Guilherme Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. Título original: Viet et mort de l’image – Une histoire du regard en Occident. MUSTARDO, Peter; KENNEDY, Nora. Preservação de fotografias: métodos básicos para salvaguardar suas coleções. 3 ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Funarte, 2004. (Cadernos técnicos de conservação fotográfica, 2). [Organização do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Funarte].
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Dicas de Preservação de Fotografia 1. Utilize luvas para manusear as fotografias. As mãos contém sujeira, perfume, gordura, cosméticos que podem deteriorar a emulsão fotográfica. 2. Observe se há presença de fungos, insetos ou microorganismos, pois estes podem deteriorar as imagens causando ataque biológico. Também não se deve ter alimentos e bebidas próximos ao local de manuseio de imagem. 3. Acondicione as fotografias em pastas de papel de pH neutro ou plástico de poliéster, dentro de caixas de papelão também de pH neutro e em armários de aço. 4. Guarde as imagens em local seco (sem nenhuma indicação de umidade, como mofo), com a temperatura em torno de 18° C, umidade relativa em torno de 40%, com filtragem do ar e iluminação de baixa intensidade. 5. Digitalize as imagens e guarde em dois ambientes de arquivos digitais (como computadores, HD’s externos, ‘nuvens/ clouds’, pen drives). As empresas que ofertam armazenamento em nuvens/clouds são Google (Google Drive), Apple (iCloud), Dropbox, Microsoft (Sky Drive), entre outras.
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Conheça mais sobre os acervos fotográficos do Recife na pesquisa realizada pelas alunas do curso de Fotografia da Unicap IPHAN Carolina Figueiredo Com sede no Recife desde 1937, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) possui 9.466 fotografias, a grande maioria em preto e branco, e pouquíssimas coloridas da década de 1980. As fotos são acondicionadas em pastas, subdivididas por Estados/Cidades/Bens culturais. No momento está havendo uma migração de base de dados e, por isso, a busca é realizada através de uma lista impressa em ordem alfabética, sendo permitida fotografá-las sem o uso do flash. Os responsáveis pelo acervo são: Patrícia Rêgo (bibliotecária), Maria Cristine Oliveira (conservadora), Raquel Viana Florêncio (especialista em arquivo) e Everaldo Mello (auxiliar técnico). Em entrevista, Patrícia Rêgo conta que “atualmente estamos realizando o serviço
Sede do Iphan no Recife
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO Anna Thamires Tenório A Fundação Joaquim Nabuco conta com um acervo em torno de 170.000 imagens em papel, negativos e slides, além de outras técnicas pioneiras do século 19. Com um patrimônio predominantemente analógico, pois são fotografias impressas em papel, a preservação ocorre num amplo sistema. O acervo é preservado fisicamente e, posteriormente, é digitalizado através do scanner de mesa ou da fotografia com câmera de digital. Para esta tarefa são utilizadas câmeras de alta qualidade, feitas dentro de um
de conservação preventiva em 3.372 fotografias com as seguintes etapas: higienização, estabilização, integração e acondicionamento das fotos em passe-partout confeccionado com papel de qualidade arquivística e filme de poliéster”. O processo de digitalização ainda teve início, pois o instituto aguarda as diretrizes da sede do órgão, em Brasília. Em 2005, foram digitalizadas todas as fotos das pastas do estado de Alagoas, do Conjunto Arquitetônico do Pátio de São Pedro e do Recife (vistas e paisagens). Contato: O horário de visita é de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h, não sendo necessário marcar horário. Para mais informações, é possível ligar para (81) 3228.3011. E ainda ter contato via e-mail, através do endereço biblioteca.pe@iphan.gov.br. O IPHAN fica na Av. Oliveira Lima, 824, no Bairro de Boa Vista, Recife, Pernambuco.
Fotos: Carolina Figueiredo
sistema de coluna, onde é posta a câmera. A fotografia impressa é colocada em uma mesa, para evitar o manuseio, e o fotógrafo tem toda técnica apropriada, sendo fotografa com a luz adequada. A responsável para coordenar a área de pesquisa e documentação é a historiadora Cibely Barbosa, que conta com uma equipe de três pessoas, além de outros colaboradores, como Betty Lacerda, que atualmente está lotada no Setor de Iconografia da fundação e reflete sobre a importância de se preservar para as gerações futuras: “São uma fonte de informação extraordinária para preservação da 31
O Museu da Cidade funciona no Forte São Tiago das Cinco Pontas Sede do Centro de Estudos da História Brasileira no Recife
MUSEU DA CIDADE DO RECIFE Por Luara Olívia S. de Oliveira O Museu da Cidade do Recife funciona no Forte São Tiago das Cinco Pontas, no Bairro de São José. Foi construído em 1630 pelos holandeses e tombado em 1938, como patrimônio nacional. Em 1980, foi restaurado e dois anos depois passou a sediar o museu, que possui um importante acervo iconográfico sobre a história social e urbana da cidade. A equipe que trabalha na parte de preservação, conservação e pesquisa do acervo do museu é composta por dois grupos, totalizando sete pessoas. Um dos responsáveis em coordenar os trabalhos é Sandro Vasconcelos, que explicou as fases do processo: “primeiro fazemos uma limpeza mecânica, depois o acondicionamento. Quando o negativo se encontra em boas condições, não fazemos restauro, mas o que chamamos de conservação. Se necessitar restauro, segue para a segunda etapa, que inclui a limpeza, o acondicionamento, a identificação e a digitalização”. O acervo possui cerca de 200 mil fotografias, valor estimado por conta de uma doação recen32
o levantamento, seguindo as regras de direitos autorais. A depender do tamanho da cópia, ela pode ser enviada por e-mail, arquivo em nuvem (Dropbox), DVD ou por correspondência impressa (Correios). Contato: A fundação fica localizada na Avenida Dois Irmãos no Bairro de Apipucos, no Recife. O horário de visita é das 8h às 12h e das 14h às 16h, de segunda à sexta. Para mais informações, é possível ligar para (81) 30736548, telefone do CEHIBRA. E ainda ter contato via e-mail, através do endereço albertina.malta@ fundaj.gov.br
Sandro Vasconcelos e Jadson Barros cuidam da preservação de fotografia do Museu da Cidade
Fotos: Luara Olívia S de Oliveira
Fotos: Acervo da Fundaj
memória, da cultura, da história de um lugar, da história das pessoas, da história da cidade, da história da vida de um país, de um povo. Acho que temos obrigação como instituição pública que guarda acervos fotográficos, de preservá-los para as outras gerações, não só para as gerações atuais”. Através do setor de iconografia, a pesquisa pode ser feita pela Internet (através do site www.fundaj.gov.br) pela base de dados da foto ou pelo item “Acervo Digital”. Por e-mail, os interessados podem solicitar imagens sobre as quais os pesquisadores da fundação farão
te em 2014 de fotografias que ainda não foram contabilizadas. Além de doação de fotografias das pessoas, o acervo conta com imagens dos arquivos da prefeitura que foram transferidos para o museu na época do seu surgimento. Atualmente 70% do acervo já está digitalizado e disponível para consulta no próprio museu. Para fazer uma pesquisa é preciso explicitar o tema para que se possa conferir se o material solicitado está disponível e, assim, os responsáveis pelo acervo saberão localizar a fotografia. Não é possível a obtenção dessas imagens a partir de foto da foto, por exemplo, mas no caso de uma pesquisa é possível solicitar o material diretamente com a equipe, que pode enviar a fotografia via e-mail. Contato: O museu fica no Forte São Tiago das Cinco Pontas, na Praça das Cinco Pontas, no Bairro São José, no Recife, Pernambuco. O horário de visita para pesquisa é das 9h às 12h e de 14h às 16h, de terça a sexta. Para mais informações, é possível ligar para (81) 33559556, telefone do setor de pesquisa. E ainda ter contato via e-mail, através do endereço biblios. museudacidadedorecife@gmail.com ou conservmuseudacidadedorecife@gmail.com
ensaios fotográficos antigo pós-moderno p. 34 chapada diamantina p. 42 dia e noite em fernando de noronha p. 50 33
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Antigo pós-moderno Antigo Pós-Moderno é um projeto fotográfico realizado pelo aluno do curso de Fotografia da Unicap, Rodrigo Silva, que pretende resgatar a pop arte expressa nas paredes das ruas do Recife Antigo. Inspirada no artista britânico Banksy, a proposta enfatiza as intervenções visuais que passam despercebidas durante o cotidiano. Abaixo, o fotógrafo explica suas intenções: “Em busca de provocações artísticas, as fotografias pouco identificam o bairro, forçando-nos a associar as imagens às ruas de Recife. O universo imagético caminha ao nosso lado, enxergar uma nova cidade é o grande desafio. A necessidade de expressão é muito constante na sociedade atual. Com a tecnologia cada dia mais avançada, a comunicação visual torna-se acessível ao maior número de pessoas. O compulsivo desejo de registro parece ser instantâneo. Dialogar com as imagens é dar significação a sua produção: pura semiótica imprescindível da arte. A fotografia nasce da nossa primeira realidade, é a imaginação que nos acompanha. Traduzir isto em imagens e dar sentido a elas é uma complexa tarefa. Talvez não existam limites teóricos que as definam. Por isso que meu olhar manifesta-se sobre o que não consigo traduzir em palavras. Capturar as obras dos artistas de tamanha pluralidade não é uma cópia fiel da realidade, mas uma nova interpretação sobre ela”.
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Chapada Diamantina Neste ensaio fotográfico, a aluna do curso de fotografia da Unicap, Kezya Souza, revela as belezas da Chapada Diamantina, na Bahia.
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Doze aplicativos de fotografia indispensáveis! Carolina Monteiro
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Há muito os smartphones deixaram de ser aparelhos para fazer e receber ligações e se transformaram em uma espécie de “canivete suíço” eletrônico, substituindo vários outros equipamentos como telefone, calculadora, relógio, despertador, agenda e câmera fotográfica. As funções de fotografia estão entre as mais populares e os recursos de imagem disponíveis nos aparelhos costumam ser definitivos para a decisão de compra por um ou outro aparelho. Porém, mais do que uma boa resolução ou conjunto de lentes, um “fotógrafo de celular” que se preze deve ter também uma boa biblioteca de aplicativos para captar, editar e tratar as imagens. Nesta edição da UnicaPhoto listamos os melhores apps para fotógrafos profissionais e amadores incrementarem a sua produção usando estes equipamentos que mudaram a forma como nos relacionamos com a fotografia no nosso dia a dia.
VSCO Cam Queridinho entre os fotógrafos profissionais, oferece recursos básicos de tratamento e edição, como ajustes de luz, temperatura e contraste. Também oferece o recurso de adicionar vários filtros às imagens, permitindo ainda controlar a intensidade deles. Disponível para iOs e Android.
Rookie Os filtros, recursos popularizados pelo Instagram, definitivamente fazem parte da linguagem da fotografia feita com o celular. Neste app é possível aplicar os filtros em tempo real, se você optar por capturar a imagem através do aplicativo e não da câmera nativa do celular, com opções que vão desde a simulação de câmeras antigas até opções mais ousadas. Também permite tratar e editar as imagens. Disponível para iOs e Android.
Adobe Photoshop Express Dispensa apresentações. É a versão em app do famoso editor de imagens, só que desenvolvido especificamente para os dispositivos móveis. Traz os principais recursos da sua versão para PC, ideal para quem já conhece e costuma usar a sua interface. Disponível para iOs e Android. 64
Afterlight Considerado por m melhor editor de ima rece recursos de filtr aplicação de texturas simulam a estética d analógicas. Um de s mais positivos é a in e intuitiva, facilitando quem não tem muita com os recursos de nível para iOs e And
muitos o agens. Oferos, ajustes e s que também das câmeras seus pontos nterface clara o a vida de a familiaridade edição. Dispodroid.
Snapseed Também é um dos mais poderosos editores de imagem, muito popular entre os profissionais de fotografia. Permite ajustes finos de luz, cores, foco e ângulo, além de oferecer filtros que podem ser regulados pelo usuário. Uma dica dos profissionais que adoram o app é o filtro Drama, que como no nome sugere, acrescenta uma certa dramaticidade às imagens, deixando-as parecidas com a estética do cinema. Disponível para iOs e Android.
Frontback Este app usa as duas câmeras do celular para criar uma só imagem, mostrando dois ângulos de uma mesma situação: o ambiente a ser fotografado e o fotógrafo por trás da imagem. Uma boa sacada em tempos de febre de selfie. O primeiro disparo é o da câmera traseira. O segundo é o da câmera frontal. O usuário pode escolher se os dois disparos acontecem em ao mesmo tempo ou se ele quer fazer o click depois (o que permite ajeitar o cabelo ou caprichar no carão!). Disponível para iOs e Android. 65
Lenka Este aqui é para os amantes das fotografias em preto e branco. O app foi desenvolvido com o suporte do famoso fotógrafo Kevin Abosch, especialmente para criar e editar imagens P&B. Permite ajustar contraste e temperatura com mais qualidade do que os demais. Disponível apenas para iOs.
Camera FV-5 Desenvolvido para profissionais, este app promete trazer os recursos de controles profissionais de uma DSLR para dentro do seu celular. Permite capturar imagens em formato RAW e ajustar parâmetros como exposição, ISO, luz, foco e balanço de branco. Disponível apenas para Android.
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Câmera + Um dos pioneiros, este app traz recursos de edição potentes mas se diferencia dos demais por também facilitar a captura da imagem, acrescentando recursos como o burst mode, que permite tirar várias fotografias em sequência para depois escolher a melhor, e o anti-shake, que informa quando a câmera está estável para evitar que você tire uma foto tremida. Disponível para iOs e Android.
A Better Camera Este app promete modo HDR avançado com qualidade igual ou superior à imagem captada com uma câmera DSLR. Ainda oferece vários modos de fotografia (360 graus, panorama, noturna etc), além de recursos rápidos de edição. Disponível apenas para Android.
Camera Zoom FX Bastante popular, este aplicativo incrementa algumas funções da câmera nativa do celular, permitindo fazer fotos em sequência, estabilizar a imagem e ativar o click por voz. Também conta com recursos de edição e tratamento, com boas opções de filtros. Disponível para iOs e Android.
Instagram Qualquer lista de apps de fotografia não pode deixar de mencionar um dos grandes responsáveis pela popularização do compartilhamento de imagens. Seus filtros conquistaram literalmente milhões de usuários e seus recursos dispensam apresentações. Na verdade, o Insta entrou na lista só para não recebermos e-mails insinuando que esquecemos dele. Mas se nós realmente esquecemos de algum app incrível, mande um email para revistaunicaphoto@gmail.com com a sua dica que publicaremos uma atualização desta lista em futuras edições!
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Victor Muzzi dá dicas de como criou o esquema de luz para um ensaio sobre gastronomia realizado como atividade da disciplina de Iluminação do curso de Fotografia da Unicap.
O Esquema padrão com três luzes é muito utilizado e confere um efeito agradável. Ele é composto dos seguintes itens: Uma luz principal colocada à direita do prato com um difusor do tipo Softbox, tamanho 40 x 60 cm, num ângulo de 45º. Uma segunda luz, chamada de contra-luz, colocada do lado oposto, também à 45º, com um Snoot e colméia . Esse contra-luz deve ter o dobro da potência da luz principal e serve para destacar o objeto do fundo. Por fim, uma terceira luz é colocada como luz de fundo com um bandoor e gelatina verde. Um espelho foi utilizado como preenchimento para suavizar as sombras mais duras e dar mais brilho.
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ANALISE DE IMAGEM Amanda Cavalcanti Santana de Melo Análise feita pela aluna do terceiro módulo do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) dentro das atividades da disciplina Linguagem Fotográfica, ministrada no semestre letivo de 2014.2 pelo professor Leonardo Ariel.
Robert Doisneau, fotógrafo francês, nascido em 14 de abril de 1912 na cidade de Gentilly, inicia como assistente no estúdio do fotógrafo modernista André Vigneu e, logo em 1932, vende sua primeira matéria de fotojornalismo, campo da fotografia do qual foi um dos pioneiros. Trabalhou por cinco anos como fotógrafo da Renault e em 1939 foi contratado por uma agência para viajar pela França em busca de matérias fotográficas interessantes. Doisneau orienta sua carreira por várias vertentes da fotografia, passando pelo campo social, publicitário e pela reportagem gráfica. Um entusiasta das fotografias de rua, sua principal temática está centrada na vida social da cidade das luzes. O fotógrafo registra Paris do final da II Guerra Mundial até os anos 50. Conhecido pela sua modéstia e pelo choque conceitual presente em suas imagens, misturando o irônico e o cômico, Doisneau captura o cotidiano dos parisienses, nas ruas e nos cafés, sem distinção de raça e classe social. Robert Doisneau, usando uma Leica, chegou a ser nomeado como Cavaleiro pela Ordem Nacional da Legião d’honneur, no ano de 1984. Morre aos 82 anos, de pancreatite aguda. A Imagem Em uma famosa fotografia P&B (preto e branco), datada de 1951, os dançarinos Claude 70
Mocquery e James Campbell são encontrados pelas lentes de Doisneau. A fotografia ressalta a leveza do casal em plena noite parisiense, no que parece uma taberna com garrafas de vinho e outras bebidas penduradas no teto, além de um papel de parede escurecido, provavelmente, pelo seu longo tempo de vida. O contraste do branco e do preto se faz presente não só pela própria imagem, mas também pelas cores das peles, das roupas e no jogo das luzes com as sombras no recinto, este último facilitado pelo flash do fotógrafo. Claude, com seu olhar suave e ao mesmo tempo fixante, parece ser levada pelos braços de seu parceiro, com passos ternos, os quais são vistos no movimento congelado da sua saia e cabelo. Doisneau inclusive parece perder-se nos passos da bailarina e, encantado talvez, corta a ponta do seu pé e do seu parceiro, configurando assim um erro no enquadramento da fotografia. Já James parece não conseguir parar de admirá-la. Com seu traje, um terno meio acinzentado com uma gravata desnivelada, seus sapatos já desgastados, além de um anel de ouro em sua mão esquerda, aparenta não perceber (ou não querer perceber) os olhares, talvez até críticos, das outras nove pessoas registradas. E mesmo com todos os preconceitos e estigmas associados à cena de uma mulher
branca com um homem negro em plenos anos 50, o dançarino admira sua parceira com um olhar paciente, quase que ignorando o resto do ambiente. Ele não olha diretamente para o fotógrafo, nos dando a ideia de que ele só, de fato, percebeu estar sendo registrado depois de alguns instantes. Sua preocupação naquele momento não nada além de dançar e viver aquele (possivelmente) raro momento com Claude. Não é à toa que uma mulher branca acompanhada de um homem negro chamou a atenção do fotógrafo. Todos que estão no local, mesmo (imagino eu) os que não estão na fotografia, provavelmente se perguntam o que ela faz com ele. Uma imagem, certamente, icônica, que nos leva a lembrar o preconceito sofrido pelos negros na época, não só na Europa, mas em todo o mundo. Quando passamos a analisar mais profundamente a fotografia, conseguimos perceber diferentes elementos refletindo a linguagem do fotógrafo e a mensagem pretendida por ele. Doisneau utiliza-se de um plano médio, a fim de captar todos os movimentos do casal e conferir um grande valor descritivo a cena. Além de explorar um pouco do ambiente em que estão, ele congela e foca praticamente todos os elementos da imagem - perceba que as pessoas que estão ao fundo, estão levemente desfoca-
das , o que parece ser uma clara intenção do fotógrafo trabalhando com o foco seletivo, de um diafragma intermediário, para compensar a pouca luz do local e concentrar as atenções em Claude e James. Robert Doisneau registra o momento com um ângulo normal, permitindo-nos estar “na altura” dos olhos da dançarina, os quais refletem um sentimento sincero, de aproximação com quem a vê. E são, justamente, as escolhas de Doisneau no momento do clique criando uma fotografia harmônica, numa espécie de equilíbrio temático e conceitual. Acredito ser essa a intenção do fotógrafo quando expressa seu trabalho pela frase: “Eu não fotografo a vida como ela é, mas a vida como eu gostaria que fosse”. Elementos da Imagem Plano de Tomada, foco, movimento, forma, ângulo, cor e iluminação.
Referências http://www.artnet.com/auctions/artists/robert-doisneau/claude-mocquery-et-james-campbell http://www.artvalue.com/auctionresult--doisneau-robert-1912-1994-fran-claude-mocquery-et-james-campb-2659507.htm 71
DIREITO AUTORAL E DIREITO DE IMAGEM Julianna Nascimento Torezani*
DIREITO À IMAGEM De acordo com o Artigo 5 da Constituição Federal de 1988, todos são iguais perante a lei e tem direito à vida, à liberdade, à igualdade, bem como: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. A imagem das pessoas é assim protegida por lei, que preza pelo cuidado e pelo respeito à representação visual e sonora, integrando nessa proteção o corpo e a voz. Enquanto direito à imagem, as pessoas têm direito à privacidade, de estar só, de não terem sua vida mostrada ao grande público, em suas atividades particulares, profissionais e de seus parentes. Para a advogada e pesquisadora Maria Cecília Naréssi Munhoz Affornalli, em sua obra Direito à própria imagem (Editora Juruá, 2012), “a imagem interessa ao Direito como sendo toda e qualquer forma de representação da figura humana, não sendo possível limitar e nem enumerar os meios técnicos pelos quais ela se apresenta, vez que, com o avanço da tecnologia, a cada momento surgem novas maneiras e mecanismos capazes de exibir a imagem das pessoas”. Nos últimos anos foram lançados inúmeros dispositivos de captura de imagens através de câmaras digitais, aparelhos celulares e computadores, que além da produção possibilitam a publicação destas nas redes sociais. No entanto, ao fotografar um indivíduo este deve autorizar ou consentir a utilização da imagem, sobretudo para a edição pela imprensa. A imagem das pessoas é uma entidade privada, só com a autorização prévia e expressa que pode ser capturada e publicada por outras. No caso de atletas, artistas e personalidades podem ser fotografados e videografados em locais de acordo com o exercício da sua profissão, em outros ambientes devem autorizar a produção imagética. Quanto aos políticos, estes ao exercerem um cargo público, tem,
durante o mandato, sua imagem ligada ao exercício do cargo público, colocando uma limitação no seu direito à imagem em que esta vincula-se ligada ao direito à informação. Para Erivam Oliveira e Ari Vicentini, na obra Fotojornalismo: uma viagem entre o analógico e o digital (Editora Cengage Learning, 2009), “a imagem ganha proteção legal por ser decorrência da personalidade do ser humano. Por meio de nossa imagem, o mundo nos conhece, ao lado do nome, da dignidade e da honra, constitui nosso cartão de visitas, um patrimônio pessoal que construímos ao longo da vida, atribuindo-lhe um valor só por nós quantificável”. Se houver alguma afronta à imagem de alguém, que venha atingir sua honra, algo que desvalorize a pessoa, cabe reparação por dano moral causado. Se a imagem for utilizada fora do contexto no qual ela foi criada e esta descontextualização gerar prejuízo moral à honra também merece reparação. Como esclarece Maria Cecília Naréssi Munhoz Affornalli (2012), “por mais que a imagem de alguém seja utilizada sem sua autorização, se não resultar em prejuízo à honra, não haverá motivo justificável para se acionar a tutela jurídica. Honra é conceito que diz respeito tanto ao valor que uma pessoa tem de si própria, quanto à estima da sociedade; é a consideração social, o bom nome, o sentimento de dignidade pessoal, refletidos na consideração alheia e na própria valoração de si mesmo”. Portanto, todos os fotógrafos devem estar sempre atentos ao fotografarem as pessoas e, ainda mais, na utilização destas imagens. É importante conversar sobre a produção e publicação fotográfica e pedir autorização. Para o repórter fotográfico existe a autorização tácita, em que as pessoas devem consentir a obtenção da imagem antes da publicação, no entanto deve analisar cada situação em relação também ao direito à informação, quando o fato interessa a população, assunto da nossa próxima coluna.
*Juliana Nascimento Torezani é professora do Curso de Fotografia da Unicap. Doutorando em Comunicação pela UFPE. Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em Comunicação Social pela UESC. Email: juliannatorezani@yahoo.com.br.
ISO, abertura do diafragma e velocidade do obturador, formam o trinômio que determina uma boa exposição. Dos três elementos, o ISO é o único que mudou substancialmente na fotografia digital, além de ser certamente o mais negligenciado. Atualmente seu uso como ferramenta criativa tem perdido espaço, sendo muitas vezes tratado como configuração meramente utilitária. Nos rolos de filme, o valor do ISO vem estampado no lado de fora de cada caixa, indicando a sensibilidade daquela película à luz, e sendo assim, todas as exposições daquele filme terão de ser realizadas de acordo com aquele ISO escolhido previamente. A fotografia digital traz uma nova possibilidade, a de modificar a configuração a cada clique, o que certamente trouxe uma desejada flexibilidade. O ISO de um sensor ou de um filme é definido pelo fabricante. A Organização Internacional de Normalização (International Organization for Standardization – ISO) criou um conjunto de critérios e parâmetros para normatizar a determinação dos valores de ISO de cada filme ou sensor digital. O uso de normas é também uma ferramenta para estabelecer a equivalência de comportamento entre um mesmo ISO, ainda que em suportes diferentes, de forma que os efeitos produzidos pelo sensor digital sejam semelhantes ao de um filme correspondente.
ISO e ISO alcance dinâmico No contexto da sensibilidade à luz, há na verdade duas ISOs: a velocidade ISO e a ISO alcance dinâmico. O primeiro se refere à sensibilidade específica à luz, e o conhecemos simplesmente como “ISO”. O segundo trata da amplitude de velocidades de ISO em que o sensor/filme irá produzir imagens “aceitáveis”. Do conceito de alcance dinâmico surge a possibilidade de alterar velocidade do ISO dentro de um determinado intervalo de tolerância. No filme, o valor do ISO pode ser modificado por uma alteração química do revelador, a velocidade de agitação, na temperatura, ou mesmo o tempo de revelação. Quando alteramos o ISO na revelação acontece o processo conhecido por “puxar” o filme, normalmente elevando o ISO, mas também é possível “puxar” no sentido contrário, processo chamado halting. Na fotografia digital, a velocidade ISO é alterada por amplificação analógica ou digital. Esta amplificação e as suas consequências será discutida a seguir. ISO Digital Para determinar velocidade ISO de um filme podemos expô-lo à luz e após a revelação, teremos uma imagem velada que poderá ser lida com um densitômetro para mensurar sua sensibilidade dentro dos parâmetros padronizados. 73
Ocorre que este método não pode ser usado para determinar a velocidade ISO de um sensor digital, o que obrigou os fabricantes a desenvolverem métodos de mensuração diferentes. Como nos filmes, os sensores digitais têm uma velocidade base nativa, uma espécie de “ISO real”, que chamarei de ISO nativo. O valor do ISO nativo, para os sensores atuais, é geralmente 100 ou 200. Esse é o valor onde se espera que o desempenho do sensor seja ideal, ou seja, ISO com alcance dinâmico máximo e ruído mínimo. A Canon nunca publicou a velocidade ISO nativa dos sensores usados em suas DSLRs. Testes, no entanto, indicam em suas primeiras câmeras esse número seja ISO 100, enquanto os modelos posteriores têm o desempenho ótimo no ISO 200, o que nos levar a concluir que esse seja seu ISO nativo. Já a Nikon costumava publicar a velocidade ISO nativa do sensor como parte das especificações de suas câmeras. Para a maioria dos modelos, a Nikon indicou que a velocidade nativa era ISO 200. Para alcançar valores menores a empresa adotava multiplicadores em suas configurações, chamados de L0.3, L0.7, L1.0, que correspondiam aos ISO 160, 125, 100. Nos modelos recentes, a Nikon já não utiliza mais tais configurações e simplesmente atribuiu ISO 100 como sua menor velocidade ISO. Olhando para o alcance dinâmico dessas câmeras, ele é menor em ISO 100 do que em ISO 200. O que leva a crer que a Nikon não modificou o ISO nativo de seus sensores, apenas seguiu a Canon e já não atribui a verdadeira velocidade ISO nativo como o valor mínimo da câmera, uma provável preocupação comercial, já que a fórmula anterior se tornava complexa e menos atrativa. Nas câmeras digitais, a captura da luz funciona da seguinte forma: O sensor eletrônico coleta os fotoelétrons (produzidos pela colisão dos fótons com o sensor e perda de elétrons da camada de valência) em poços de fótons. Esse processo acumula os fótons de que se compõe a luz, para depois tentar definir a quantidade de fótons que caíram em cada um dos poços. A quantidade de carga acumulada em um poço de fótons indica a quantidade de luz que o iluminou desde que o sensor foi resetado. A carga acumulada em cada poço pode ser convertida em uma voltagem. Essa voltagem alimenta um conversor analógico digital (conversor A/D) 74
para produzir os bits de dados digitais em RAW que vão resultar em pixels digitais para formar a imagem. O gráfico apresentado mostra como uma saída digital a partir de um conversor A/D de 12 bits pode se parecer com uma função que relaciona: número de fótons que atinge um poço x tempo de exposição. O lado esquerdo do diagrama mostra a saída quando não há luz (não tá fótons atingindo o sensor), o lado direito mostra uma situação oposta, com muita luz alcançando o sensor. A área azul mostra o sinal digital e a vermelha o ruído desse sinal. Os poços de fótons têm uma capacidade de acumulação linear, mas que é limitada. Quando atinge seu máximo, indicado pela linha verde, estender a exposição e permitir a entrada de mais luz apenas resulta em uma superexposição, provocando um “estouro” que vai inclusive afetar os pixels adjacentes. É a chamada eficiência quântica nativa (o intervalo de tempo que um fóton realmente resulta em um fotoelétron) e a capacidade de carga dos poços que determinam o chamado ISO nativo do sensor. O processo de produção do sinal tem como consequência a produção de ruído. Em uma combinação gerada pelo ruído inerente ao processo, pelo ruído da leitura de dados e pelo ruído térmico. Isso é indicado pela área vermelha. Nas sombras mais escuras (parte esquerda do gráfico), o ruído é mais presente e mascara o sinal. Conforme o sinal se torna mais forte, ele se sobressai em relação ao ruído. Os valores de saída em que o ruído mascara completamente o sinal são chamados de abaixo do piso de ruído. É possível notar no gráfico que o comportamento linear do poço de fótons é interrompido nas suas duas extremidades. É interrompido pelo piso de ruído na esquerda, e pela superexposição ou “estouro”, no lado direito. Esse é um comportamento muito diferente do filme. Os filmes respondem a incidência de luz em uma curva em “S”, isso se traduz em uma tolerância muito maior a sobre ou superexposição (alcance dinâmico) que o sensor digital, por essa característica peculiar sempre ouviremos saudosos comentários sobre a latitude dos filmes analógicos, uma época em que HDR (High-dynamic-range) não era um efeito acessório, mas uma característica natural. Os conversores RAW normalmente usam como padrão uma curva de mapeamento em “S” para emular a resposta de um filme, mas
esse mapeamento não consegue trazer de volta o sinal que se perde nas áreas não lineares
da curva (abaixo do piso de ruído e acima da superexposição).
Ajuste do ISO digital Uma das maiores flexibilidades trazidas pela fotografia digital é a possibilidade de ajuste do ISO a cada disparo, mas como isso funciona? Na verdade, na maioria das câmeras, o fotógrafo pode definir valores maiores ou menos que o ISO nativo ou nativo da câmera. Quando isso ocorre, o processamento interno da câmera é ajustado para se adequar à nova velocidade ISO. Quando o fotógrafo define um ISO mais elevado, o fotômetro utilizará esse valor para fazer suas medições, e também os dados RAW serão ajustados. Normalmente os amplificadores do circuito do sensor vão elevar o ganho (antes de enviar a leitura analógica dos poços de fótons realizada para o conversor Analógico/ Digital) do sinal. Por exemplo, se em um sensor com ISO nativo de 100 é gerado um sinal de 100 mV, para um ajuste de ISO 200 o amplificador vai aumentar o sinal para 200 mV, para um ISO 1600, vai multiplicar o sinal original por
quatro, chegando a 400 mV, e assim por diante. Ou seja, a sensibilidade do sensor não aumenta realmente, há apenas uma amplificação do sinal, produzida em seu circuito elétrico. Amplificar o sinal tem como consequência a ampliação do ruído, e a consequente perda de qualidade da imagem. Apesar de ser um processo totalmente distinto, podemos comparar com a degradação que os grãos produzem quando “puxamos” um filme na revelação. Mas o processo tem uma grande vantagem: apesar de não elevar o ISO nativo do sensor, o aumento da velocidade ISO impacta diretamente os arquivos RAW gerados pelo conversor A/D. O comportamento varia de acordo com cada modelo de câmera. Alguns fabricantes têm sido extremamente bem sucedidos no processo de escrita dos arquivos RAW com seus novos sensores e processadores. Uma coisa é clara e quase universal: aumentar o ISO na câmera, pela otimização de sinal elétrico, resulta em uma qualidade bastante superior à simples ele75
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vação de exposição por meio de software. O grão gerado no processo analógico é certamente mais agradável aos olhos do que o ruído digital, mas as mais recentes gerações de sensores digitais têm lidado bem com a questão do ruído e hoje é possível fotografar imagens plenamente utilizáveis com ISO na casa de 6400, o que seria impensável, mesmo com filme, onde o ISO 3200 já apresentava granulação excessiva e inapropriada para determinados usos. Diminuir o ISO nativo do sensor é um problema não muito prático, mas há uma demanda
popular que tem como crença uma herança da era analógica o conceito de que ISO menor é sinônimo de maior qualidade, o que certamente era verdade quando falávamos de filmes praticamente sem granulação, como os cromos de ISO 50 por exemplo. Para atender aos anseios do mercado a maioria das câmeras conta com a opção de reduzir o ISO nativo, o que não representa ganho algum, e inclusive gera perdas. Explicando, quando reduzimos o ISO na configuração estamos apenas diminuindo o alcance dinâmico, sem mudar em nada o nível de ruído, ou seja, não há ganho algum, apenas alguma perda no sinal adquirido.
Chuva de fótons Para finalizar este artigo, gostaria de propor um exercício intuitivo: vamos pensar em um sensor onde cada pixel é representado por um balde e que irá capturar água no lugar de luz. Para um sensor de 10 megapixels, teremos 10 milhões de baldes dispostos lado a lado em uma área retangular. Vamos pensar em nossa chuva imaginária e chegar a algumas conclusões. Em primeiro lugar, é óbvio que os lugares com mais chuva deixarão os baldes mais cheios, ou seja, nossa carga de água será maior. Mas esse aumento não é ilimitado, ele acaba quando o balde transborda. Podemos pensar que se o balde estiver sujo, arranhado, com alguma impureza indesejável, quanto mais
água, menos importância terão esses detritos (ruídos) na mensuração do meu sinal e isso nos leva a outra conclusão importante sobre o tamanho de nosso sensor e densidade de pixels. Se nossos baldes tem um diâmetro de 40cm ou 20cm, isso não fará diferença no nível de água. A altura da coluna será a mesma e a carga acumulada terá mesmo valor. Mas é lógico que o balde de diâmetro maior irá capturar mais água, fornecendo uma informação mais precisa, pois a quantidade de dados será maior. Portanto, ter um sensor com maior quantidade de pixels minúsculos não traz vantagem substancial, pois eles serão demasiadamente pequenos, produzindo informação de má qua-
lidade, e com uma densidade de ocupação espacial muito elevada, gerando espaço quase nulo entre um pixel e outro, o que favorece a interferência. Ou seja, as câmeras de celular, com sensores minúsculos podem acumular 20 ou 40 megapixels em seus sensores, mas jamais terão qualidade de captura equivalente a câmeras maiores com sensor de quadro inteiro (35mm) por exemplo. Bem, se no final da captura de nossa chuva temos um balde 50% cheio, o processador da câmera atribuirá um tom de cinza 50% aquele pixel, que será na verdade azul, verde ou vermelho (de acordo com o filtro de cor atribuído ao pixel) e fará parte da composição da imagem. Se o balde tiver pouquíssima água, teremos um percentual bem baixo, uma cor próxima do preto e uma influência maior do ruído. Já se o balde transbordar teremos um pixel estourado, 100% branco, com perda de preci-
são sobre a informação daquela área. Diante do exposto, é fácil deduzir a relação entre sinal e ruído, sendo claro que o aumento do sinal implica numa menor influência do ruído, enquanto um sinal pobre é muito afetado pela incidência de ruído. Uma foto em ISO 6400 feita durante o dia terá qualidade de sinal e consequentemente de imagem bastante superior a outra realizada com pouca luz, pois amplificar o sinal que já é forte trará bem menos prejuízo que tentar resgatar uma onda de sinal fraco por meio de amplificação. O pós processamento da imagem realizado na própria câmera é outro dos segredos que os fabricantes têm aplicado. Existem câmeras especialmente bem sucedidas, como a Canon 6D, onde o software da câmera aplica redução de ruído na geração de arquivos JPEG muitas vezes com eficácia superior aos conversores RAW utilizados no tratamento.
Referências http://thelivingimage.hamamatsu.com/resources/which-camera-technology-is-right-for-me/ http://dpanswers.com/content/tech_iso.php http://blackerphotography.blogpot.com/2008_05_01_archive.html#6632100713477916419 www.xdcam-user.com/2013/11/whats-the-difference-between-latitude-and-dynamic-range/+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk http://www.ronbigelow.com/articles/bits-1/bits-1.htm
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Reflexões e inquietações sobre a fotografia Antropóloga e pesquisadora, Geórgia Quintas lança livro que traz análises da poética fotográfica Amanda Melo Foto: Adelson Alves
A partir da compilação de textos escritos desde 2009, o livro “Inquietações Fotográficas – narrativas poéticas e crítica visual” provoca uma abordagem filosófica na própria atividade fotográfica. A autora Geórgia Quintas reuniu artigos produzidos ao longo desses anos, com o objetivo de materializar suas ideias. Segundo Geórgia, o livro se propõe a ampliar o horizonte no que diz respeito à crítica fotográfica. “Fotografia é pensamento, construção de sentido; uma discussão sobre o fazer e o olhar fotográfico”, comenta. A narrativa é formada pela construção de pensamentos da autora, a partir de provocações e referências do trabalho de fotógrafos renomados e teóricos do estudo da imagem. “Inquietações Fotográficas” recebeu o Prêmio Marc Ferrez, da Funarte, que permitiu concretizar o projeto. Mesmo após a finalização deste trabalho, a autora pretende continuar escrevendo e descrevendo sua relação coma fotografia. “Se pararmos para pensar, as imagens fotográficas narram nossas vidas. [...] As imagens se configuram como relação íntima de pertencimento, identidade e sentidos, desde o surgimento da linguagem fotográfica no século XIX”. (trecho da página 25).
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DICAS
Uma
viagem pela história da
fotografia através da obra de
Jorge Pedro Sousa Julianna Nascimento Torezani
O livro Uma história crítica do fotojornalismo ocidental, uma viagem pela história da fotografia, foi escrito pelo pesquisador português Jorge Pedro Sousa como tese de doutoramento em 1997, lançado em 1998 em Portugal e editado no Brasil em 2004. Conta desde a invenção e o desenvolvimento desta, no século 19 na França e na Inglaterra, até o início do século 21. Com foco no fotojornalismo, o livro narra os grandes acontecimentos registrados indicando os nomes dos principais fotógrafos. Também historia os equipamentos surgidos ao longo dos séculos 19 e 20 (como as câmaras Leica e Ermanox, lentes mais luminosas e filmes mais sensíveis), bem como o lançamento de flashes até as câmaras digitais. Trata também dos processos fotográficos criados para diminuir o tempo de exposição à luz e melhorar a qualidade da imagem (como o uso de albumina, colódio úmido e gelatina). O autor relata os primórdios do desenvolvimento da fotografia no século 19 e depois divide o século 20 em três períodos que ele chama de “revolução”, pelas mudanças que cada momento apresentou. A primeira ‘revolução’ ocorreu nas décadas de 1920 a 1950. A segunda compreende as décadas de 1960 e 1970 e a terceira os anos 1980 e 1990. Quanto ao fotojornalismo, o primeiro tabloide fotográfico foi Daily Mirror, lançado em 1904, com o processo de autocromia criado pelos Irmãos Lumiére. Os jornais (como The Illustrated London News, Illustrated Daily News, The Sunday Times), as revistas (como a Vu, Regards, Vogue, Picture Post e Life) e as agências de notícias e de fotografias (como a Associated Press, Reuters, Magnum, Gamma, Sygma, Sipa, Viva, Vu) que iniciaram as publicações na imprensa são apresentados neste livro, relatando inclusive as histórias e as modificações editoriais, tecnológicas e econômicas que ocorreram em diversas fases. A publicação destaca ainda as imagens de 80
conflito, iniciando com as fotografias de Roger Fenton da Guerra da Criméia e as de Mathew Brady, Alexander Gardner, George Barnard e Timothy O’Sullivan da Guerra de Secessão Americana, ambas no século 19. Na Primeira Guerra Mundial, a fotografia serviu de manipulação, de propaganda e para o reconhecimento aéreo. A Guerra Civil Espanhola traz a famosa fotografia de Robert Capa intitulada Morte de um Soldado Miliciano em 1936 e a Segunda Guerra Mundial marcou imageticamente com fortes registros de vários fotógrafos, entre eles George Rodger, Joe Rosenthal, Lee Miller, Alfred Eisenstaedt, além do próprio Capa. A Guerra do Vietnã traz as mais importantes fotografias do século 20, como a da menina de 9 anos nua e gravemente queimada, correndo para fugir de um ataque de napalm feita por Huynh Cong Ut, que ganhou o Prêmio Pulitzer do ano 1973 e se transformou no símbolo do conflito. Para Sousa, “depois da fotografia, a guerra nunca mais seria a mesma”. Sousa aponta que nos anos 1990 surgiram novas tendências gráficas, com fotografias ilustrativas, ao invés de fotojornalísticas, além da geração computacional de imagens e controle sobre a movimentação dos fotojornalistas em cenários bélicos. No século 21 em função do atentado terrorista em Nova York, muitas edições especiais foram feitas de jornais e revistas para publicação em 12 de setembro repletas de imagens do acontecimento. “As pessoas compraram os jornais de 12 de Setembro não só para ler as análises e as notícias, mas também para rever as imagens e guardá-las religiosamente (os jornais desta vez não foram deitados no lixo)”, de acordo com Sousa. Vale a pena ler esta obra de Jorge Pedro Sousa pesquisando em outros livros, revistas e na Internet as imagens apresentadas. Assim, este livro abre os caminhos para o conhecimento da fotografia de maneira profunda, clara e objetiva.
Confira
outras dicas de livros, filmes
e sites dos professores do curso de
Fotografia
da
Unicap
A Arte da da Iphonografia - Um Guia Sobre Criatividade Móvel. Stephanie C. Roberts, 2011.
A
Annie Leibovitz: Life Through a Lens. Diretora: Barbara Leibovitz, 2007.
B
7 Caixas (7 Cajas, Paraguai). Diretores: Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori, 2012.
Terra Avulsa. Altair Martins, 2014.
Thiago Santos Photography
C
A Pele. Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus. Diretor: Steven Shainberg, 2007.
Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Jorge Pedro Sousa, 2004.
Enciclopédia Itaú Cultural
D
Visual Acoustics: The Modernism of Julius Shulman. Julius Shulman – Fotógrafo da Arquitetura Moderna. Diretor: Eric Bricker, 2008.
Fotografia de Espetáculo. Emídio Luisi, 2011.
Collection Appareils
E
Sentença de Um Assassino. Sobre o fotógrafo Philippe Halsman. Diretor: Joshua Sinclair, 2007.
Da minha terra à Terra. Sebastião Salgado, 2014.
Dicas de Fotografia
World Press Photo
Dicas de: A - Carolina Monteiro B - Dario Brito C - Julianna Torezani D - Niedja Dias E - Renata Victor 81
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