O Rio e a República a cidade nas imagens da Agência Nacional
Vista do Pão de Açúcar e da enseada da Urca. 5 de abril de 1943. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15747_mp0004
Sumário
Arquitetura das imagens: o Rio de Janeiro pelas lentes da Agência Nacional | Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro
Fotografia pública e a Agência Nacional | Ana Maria Mauad Arquitetura das transformações Arquitetura da moradia Arquitetura do trabalho e do poder Arquitetura da participação Bibliografia Créditos
Presidente Vargas no alto do Corcovado. 4 de agosto de 1945. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_01781_mp0006
Arquitetura das imagens: o Rio de Janeiro pelas lentes da Agência Nacional
Claudia Beatriz Heynemann
Doutora em história, pesquisadora no Arquivo Nacional
Maria Elizabeth Brêa Monteiro
Mestre em história, pesquisadora no Arquivo Nacional
As cidades desenvolvem suntuosamente uma linguagem mediante duas redes diferentes e superpostas: a física, que o viajante comum percorre até perder-se na sua multiplicidade e fragmentação, e a simbólica, que a ordena e interpreta, ainda que somente para aqueles espíritos afins, capazes de ler como significações o que não são nada mais que significantes sensíveis para os demais, e, graças a essa leitura, reconstruir a ordem. Ángel Rama, A cidade das letras
Conjunto residencial do Pedregulho. 12 de maio de 1952. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_02374_mp0005
A capital dos anos 1930, uma das mais fotografadas do mundo desde o século XIX, exibia naquelas décadas intervenções impactantes no tecido urbano, a começar pelas reformas empreendidas pelo prefeito Pereira Passos, entre 1903 e 1906, que resultaram na conhecida abertura da avenida Central e, na década posterior, a derrubada efetiva do morro do Castelo. Ostentava, ainda, o seu renitente passado colonial e as marcas daquela cidade imperial de poucos monumentos públicos, a emergência da orla, os circuitos elegantes do centro e, simultaneamente, as políticas de remoção das moradias pobres do Centro e da Zona Sul. A história visual da cidade foi construída ainda pelas lentes da agência oficial do governo, em reportagens sobre o Rio de Janeiro nas quais, importa destacar, as novas configurações urbanas e a arquitetura contemporânea são o objeto do fotógrafo, mesmo que incluam eventos políticos, também indissociáveis do espaço público. Mais do que aspectos “desconhecidos”, esses registros apresentam perspectivas que privilegiam a arquitetura e as configurações urbanísticas, como solução ou conflito. Ainda que se encontrem tomadas da paisagem natural em si mesma, pode-se dizer que, predominantemente, estas se associam à massa de edifícios, às construções, fachadas, às linhas e
formas do concreto. Os registros, coincidentes com o tempo de sua construção, propaganda de obras públicas e de características privilegiadas da capital, ou, por vezes, um comentário posterior, são documentos também de uma história da fotografia no Brasil contemporâneo. A prática da fotografia no início do século XX era numerosa em estabelecimentos comerciais, bem mais reduzida na imprensa e escassa entre os representantes da burguesia e camadas médias em ascensão, sendo exercida em foto-clubes amadores a exemplo dos europeus e norte-americanos, comenta Maria Beatriz Coelho (2006). Os anos 1930 são um marco no crescente número de fotógrafos profissionais, com as contratações do governo Vargas para os novos órgãos da administração e a leva de imigrantes que chegam ao país, expulsos pela chegada ao poder do nazifascismo e que predominariam nesse campo naqueles anos. Além de órgãos como o Serviço de Proteção ao Índio e o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a autora menciona o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP): “Foi na produção de bens culturais e na promoção da cultura nacional que a fotografia foi mais utilizada [...]. A instituição enviava os textos e imagens para serem reproduzidas pela imprensa nacional. Além disso,
possuía um serviço telegráfico de notícias de interesse nacional, um serviço de artigos assinados por autores nacionais e um serviço de clichês e fotografias para distribuir à imprensa brasileira e estrangeira. O DIP promovia exposições, mostras de arte, concertos, conferências e palestras (para a elite erudita), patrocinava festas populares, festejos cívicos, excursões turísticas a sítios históricos e pitorescos (para a massa popular); produzia filmes, livros, cartazes, folhetos, programas de rádio. Foi assim que uma nova imagem do país começou a ser delineada, e a fotografia foi parte ativa desta construção (Coelho, 2006, p. 83).” Herdeira dos registros do Departamento de Imprensa e Propaganda e do Departamento de Propaganda e Difusão Cultural da década de 1930, a Agência Nacional (1935-1982) reúne, segundo a base de dados Sian, do Arquivo Nacional, 5.530 fotografias, além de filmes, gravações, documentos textuais. O fundo Agência Nacional foi nominado Memória do Mundo Brasil em 2010, em candidatura apresentada juntamente com a Fundação Cinemateca Brasileira. Por sua história, importância, dimensões e composição do acervo, a Agência Nacional se impõe, assim, em sua organicidade arquivística e formal, apresentando um padrão fotográfico, uma determinada apreen-
são do espaço urbano, sobretudo do Rio de Janeiro. A produção fotográfica da agência, desde os seus primórdios, convive com uma diversidade política – as lentes oficiais estiveram atreladas a diferentes tendências e regimes na história republicana – e social, percorrendo bairros e regiões da cidade, e demonstrando a qualidade técnica e artística dos fotógrafos, principalmente nas décadas de 1930 a 1970. Com amplas vistas, valendo-se com frequência de reportagens realizadas do alto, em uma série construída ao longo dos trajetos, a cobertura da cidade também pousa nas calçadas, se aproxima da população nas ruas do Rio, menos ao acaso, dando preferência aos comícios, festas, inaugurações, quase sempre emolduradas pela linha esmaecida dos morros, prédios históricos do centro, imponentes obras de engenharia, como a avenida presidente Vargas. Explorando o contraste entre os grandes acidentes naturais e a célere ocupação das áreas mais tradicionais da cidade, os fotógrafos da Agência Nacional, além de estarem imbuídos da missão inerente ao órgão, dialogaram com a tradição de registro de obras arquitetônicas, que está na gênese da fotografia. Logo em seus primórdios, dados os longos períodos de exposição necessários, os temas da arquitetura e da paisagem mostraram-se adequados à nova técnica, satis-
fazendo também a inclinação burguesa por um mundo que ultrapassava as fronteiras do cotidiano enquanto crescia o movimento das viagens. A fotografia cumpriria a função de documentar as construções, revelando muitos aspectos de difícil captura e memorização, uma operação realizada a partir das representações gráficas preexistentes, transitando entre registro e arte, ao passo que as escolhas de fotógrafos e seus empregadores, diz James S. Ackerman, de determinadas construções em detrimento de outras, e do modo como essas edificações seriam mostradas, poderiam nos conduzir aos temas do nacionalismo, imperialismo e colonialismo (Ackerman, 2002). A relação entre arquitetura e fotografia aprofunda-se ainda mais nas primeiras décadas do século XX, sendo inegável uma verdadeira “simbiose entre arquitetos e fotógrafos modernos”, como escreve Anat Falbel (2007, p. 7), para quem a fotografia torna-se, afinal, um “paradigma da representação da modernidade arquitetônica”. A decisão do fotógrafo e seu comprometimento com as organizações a que serve, adquire outros matizes se considerado seu vínculo com o Estado e a indispensável leitura de inspirações mais ou menos evidentes, como nas imagens em que sobressaem o senso de limites e de simetria, o investimento nas luzes e sombras, aprimorado com
a sofisticação dos equipamentos, a exemplo de fotografias de Alfred Stieglitz da cidade de Nova York, de 1935, em paralelo com fachadas de edifícios do centro do Rio de Janeiro. Ou de Berenice Abbott, de 1936, “trem elevado, linhas da Segunda e Terceira Avenidas”, que nos remete às plataformas do edifício da Central do Brasil, de 1942, conquanto não se possa deixar de notar uma luz característica, solar, a imposição da paisagem natural em muitas sequências. Uma história da fotografia escrita também no Brasil, com os corpos dos trabalhadores das construções, o discurso social que atravessa a ideia de progresso, das grandes obras, dos planos de desenvolvimento, nos anos 1950 ou na década de 1980, da Perimetral à abertura do túnel Acústico da Gávea. Emerge, portanto, desta publicação uma relação estreita e de longa data: arquitetura e fotografia. Arquitetos e fotógrafos são protagonistas de dois momentos criativos, a concepção e execução da obra arquitetônica e a concepção e execução da obra fotográfica. Duas possibilidades concretas de construção de sistemas simbólicos através dos quais, constantemente, nos comunicamos e criamos “realidades”. As imagens reunidas procuram refletir a ideia da cidade como documento de um dado processo social e histórico, em paralelo a uma cidade que procura representar
a nação e emana seus valores de unidade e identidade; registro das transformações, dos impasses e soluções possíveis, traduzidos pelos bens edificados representativos da história da cidade, da arquitetura, da habitação, do urbanismo, das relações de poder ou, simplesmente, dos processos históricos.
da imagem é, assim, resultado das possibilidades de ver e compreender que pertencem à época na qual o sujeito que a realiza está inserido. Em paralelo, as fotografias podem também produzir sentidos que não se esgotam na descrição dos fatos, na veiculação de conteúdos.
Os registros, do final de década de 1930 até os anos 1970, percorrem governos de diferentes colorações – populista, democrática, autoritária –, refletidos em concepções e soluções diversas para as questões urbanísticas, sociais, econômicas que uma cidade como o Rio de Janeiro exige. Percebe-se também, ao longo desse período, que a fotografia é resultado não só da ação de um autor, de um sujeito individual, mas de um contexto que dirige o fotógrafo para diferentes ângulos e percepções, gerando uma estilística fotográfica. “A posição escolhida pelo fotógrafo à câmera, em relação ao referente, é decisiva na composição final; esta escolha determina a disposição das massas, a organização espacial dos elementos, a posição da luz e das sombras presentes” (Gonçalves, 2009, p. 235).
Nessa perspectiva, esse conjunto de imagens testemunha um período de dinamismo demográfico e econômico, caracterizado por uma mudança no perfil de natureza rural para uma população urbana, e decorrente de um forte processo de migração para as cidades e de um incremento no processo de industrialização iniciado no início do século, a exemplo das primeiras fábricas de tecidos e produtos farmacêuticos que se instalaram na Gávea e que demandaram, além de largos terrenos, mão de obra próxima acomodada em vilas operárias.
Como menciona Ana Maria Mauad, “as imagens são históricas e dependem das variáveis técnicas e estéticas do contexto que as produziram e das diferentes visões de mundo que concorrem no jogo das relações sociais” (Mauad, 2005, p. 143). A construção
A moradia tornou-se uma questão fundamental nos planos e realizações políticas, do Estado Novo aos demais governos que se sucederam, atribuindo-se à esfera federal prerrogativa e competência para o desenvolvimento de ações nessa área por meio de organismos como a Fundação da Casa Popular, os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP), o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional da Habitação (BNH). Essa ligação entre a moradia e a garantia de preservação e crescimento
da mão de obra, aliada a um discurso de valorização do trabalhador por parte Estado, foi captada nos registros da presença, física ou simbólica, de presidentes e outras autoridades de governo em eventos de inauguração de conjuntos habitacionais, imprimindo um perfil personalista a essas cerimônias de exaltação do poder público, característico de governos populistas. Esses aspectos podem também ser identificados nas imagens que registram as festividades comemorativas das datas cívicas, com forte apelo nacionalista, na intenção de promover o contato de líderes políticos com as massas, a exemplo do Dia da Raça, da Parada da Juventude ou dos desfiles de Sete de Setembro. Observa-se que diferentes influências e estilos de alguma maneira induziram a maneira de viver a cidade, já que o espaço é um produto social. Transformações espaciais significam também mudanças nas relações e práticas sociais. As ideias modernistas na produção arquitetônica brasileira, representadas pelas obras de Lúcio Costa, Afonso Reidy, Oscar Niemeyer, difundiram a otimização dos métodos construtivos e novas tecnologias foram incorporadas aos processos visando, principalmente, a construção de moradias em larga escala. Essas fotografias são, igualmente, evidências não só das transformações arquitetônicas e urbanísticas erguidas na esteira do
aumento da densidade populacional, em bairros como Copacabana, Ipanema e Botafogo, acarretando a construção de inúmeros edifícios ou a abertura da avenida Presidente Vargas e suprimindo ruas e prédios. Constituem também testemunho de mudanças na esfera política, de um Rio de Janeiro distrito federal, de sede do estado da Guanabara que desaparece após um processo de fusão com outro Rio do lado oposto da baía, de capital de um estado que guarda ainda símbolos e marcas de um tempo, tomando o conceito de Giulio Carlo Argan, de cidade capital, “uma construção moderna e, de alguma maneira, uma alegoria do poder” (Neves, 1992, p. 58). Em uma alusão a Andreas Huyssen (2000), para quem a cidade poderia ser percebida como um texto, um conglomerado de signos, a ser lido, escrito e reescrito, procuramos,
por meio das imagens captadas pelos fotógrafos da Agência Nacional, desvelar a cidade do Rio de Janeiro como identidade, conhecimento e história. Não esquecendo, todavia, de Boris Kossoy, quando afirma que a fotografia é “apenas o ponto de partida, a pista para tentarmos desvendar o passado. Elas nos mostram um fragmento selecionado da aparência das coisas, das pessoas, dos fatos, tal como foram (estética/ideologicamente) congelados num dado momento de sua existência/ocorrência” (Kossoy, 2002, p. 21). Assim, convidamos o leitor a depositar um olhar lento na observação das fotografias que compõem este livro, uma atenção com o objetivo de descobrir outros significados que não os mais imediatamente identificados, construindo, quem sabe, uma outra narrativa para esse Rio de Janeiro retratado pelas lentes da Agência Nacional.
Ministério da Educação e Cultura. 23 de maio de 1941. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_10403_016
Avenida Presidente Vargas. 20 de março de 1963. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15762_mp0003
Fotografia pública e a Agência Nacional
A prática fotográfica no século XX orientou-se segundo uma nova experiência social de ver e ser visto. O regime visual vigente, desde fins do século XIX, democratizou o retrato e pluralizou as formas de representação do sujeito nos espaços públicos e privados. Dos recônditos da intimidade às praças públicas, a fotografia enquadrou memórias, registrou acontecimentos, capturou imagens de significativa beleza, flagrou personalidades, encampou as lutas sociais, dimensionando a história contemporânea em seus múltiplos sentidos. Não se busca mais apenas a história por detrás das imagens, mas a história das imagens e dos sujeitos que, atentos às transformações do mundo, produziram essas mesmas imagens. A forma como elas foram elaboradas e o envolvimento dessa prática fotográfica com os acontecimentos e vivências que registrava definem um lugar social para o fotógrafo ou fotógrafa que as produziu e, ao mesmo tempo, apontam para o pertencimento destes ao seu grupo ou sua geração (Sirinelli, 1996). A fotografia se torna pública, porque publicada, sem dúvida, mas, acima de tudo,
Ana Maria Mauad
Doutora em história social, professora titular do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense
porque se associa às funções de representação de diferentes formas de poder na cena pública; são, ainda, suportes da memória pública sancionada pelas diferentes culturas políticas. Entretanto, é nas formas de agenciamento da fotografia pública que se deflagra o seu potencial de mobilizar as memórias concorrentes e de acionar representações históricas sobre acontecimentos e eventos passados. É na qualidade de memória-arquivo e memória-patrimônio que a fotografia pública revela a memória pública como espaço de disputa e abre caminho para a operação histórica analisá-la como experiência social passada (Ricouer, 2004). Associada à noção de documento, a fotografia pública fornece visibilidade à experiência social de sujeitos históricos – por detrás e diante da câmera, destaca-se tanto como fonte quanto como objeto de estudo da história visual do poder e das culturas políticas. É a imagem das instituições estatais e da ação do Estado, mas também da produção dos estúdios fotográficos, que, ao longo do século XX, serviram a um público variado. O consumidor de fotografias se habituou a
visualizar as cidades em transformação, e a ver e ser visto por meio dos retratos, assim como a registrar e guardar um pedaço desse espaço comum – quer por meio de cartões-postais, de vistas urbanas publicadas em pôsteres ou nos semanários ilustrados. A fotografia pública, portanto, provém do espaço comum, do common space, no qual as manifestações comunitárias, populares, coletivas se revelam. É a imagem que dá rosto à multidão e que distingue o sujeito comum; mas é também a imagem do controle social e da vigilância. A produção de imagens fotográficas associadas ao registro do mundo social, por agentes históricos – os fotógrafos e fotógrafas – de forma independente ou associada a algum vínculo institucional, compõe os temas e repertórios visuais da fotografia pública. Em ambos os casos, a forma de envolvimento com a causa fotografada orientará escolhas e, portanto, delineará a forma que a imagem vai assumir. Assim, o engajamento político a uma causa, princípio ou as regras institucionais definem a dimensão au-
toral da fotografia pública. Nos diferentes casos, quer seja atuando no fotojornalismo, comissionado por uma agência de Estado, ou, ainda, atuando nos mundos da arte, fotógrafos e fotógrafas acabaram por delimitar em suas imagens a formação de um espaço público. Pública, não somente por ser a fotografia publicada, mas aquela que se refere ao espaço público como tema e que tem nele o seu lugar de referência política. No Brasil, o circuito social da fotografia pública, desde final do século XIX e ao longo do século XX, foi caracterizado pela forte presença do Estado e da grande imprensa. Somente no final dos anos 1970, percebem-se circuitos sociais mais autônomos em relação a esses dois atores, dentre estes, o movimento das agências independentes. No século XIX, o imperador d. Pedro II, ele próprio um fotógrafo aficionado, foi responsável pela introdução e disseminação da prática fotográfica na corte. Incentivava os fotógrafos, por meio da concessão de comendas e recursos financeiros, a registrarem as riquezas e belezas do Império, e a representarem o Brasil nas exposições universais (Turazzi, 1995). Pelas lentes desses mesmos fotógrafos a imagem do imperador foi difundida dentro e fora do Brasil, garantindo ao poder público uma face moderna e civilizada. Ao longo do século XX, a presença do registro fotográfico se diversifica, mas se mantém constante
e dotada de certa ubiquidade, devido à sua presença em diferentes arquivos de órgãos variados do governo, nas instâncias federais, estaduais e municipais. As grandes coleções fotográficas depositadas em arquivos das instituições públicas dão prova disso. A Agência Nacional foi criada em 1945, momento em que se afirmava a tendência de produzir e disseminar informações sintonizadas às agências de notícias das democracias liberais, vencedoras da Segunda Guerra Mundial. As agências fotográficas, a par dos serviços fotográficos das agências de notícias, foram crescendo em importância após a guerra. As agências organizaram a cobertura de guerra coordenando o envio de fotojornalistas para todas as frentes de batalha. Já neste conflito, contaram com a telefoto, que permitia a rapidez de transmissão, embora também levasse à repetição de imagens entre os jornais e revistas clientes. Em linhas gerais, afirma Jorge Pedro de Sousa: “Os fotojornalistas na 2ª Guerra Mundial – tal como na Guerra Civil de Espanha –, integrados ou não em organismos governamentais, alinharam por um lado e contribuíram para o triunfo ideológico dos Aliados nesta Guerra, afirmando a liberdade e a democracia política e também a instauração de uma nova ordem internacional” (Sousa, 2000, p. 122). Subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, a Agência Nacional tinha por
competência distribuir à imprensa o noticiário e o serviço fotográfico de eventos ligados ao governo, voltando-se para a difusão das ações governamentais por meio dos recursos da imprensa moderna. Destaca-se na atividade fotográfica da Agência Nacional a afirmação de uma fotografia pública de governo, que emulava a linguagem do fotojornalismo então consolidado na imprensa semanal, que tinha nas revistas ilustradas a expressão mais completa dos enredos da vida moderna nas grande cidades do país e do mundo. No espaço da grande imprensa, a fotografia assumiu a sua feição pública, remetendo à formação de um espaço público visual e à elaboração dos sentidos compartilhados pela cultura da mídia, que já se configurava nas décadas iniciais do século XX, com a publicação das primeiras fotografias nos semanários ilustrados. Esses veículos, pelo uso extensivo da fotografia, foram fundamentais para a configuração da ideia de acontecimento moderno – visual, instantâneo e replicável. A cobertura fotográfica de eventos, como, por exemplo, a pandemia de gripe em 1918, nos principais semanários da capital, Fon-Fon, Revista da Semana, Careta e O Malho, foi responsável pelo encapsulamento do fato em notícia, criando uma narrativa visual sobre o acontecimento. Em suas reportagens ilustradas, identificavam os personagens – médicos, enfermeiras, po-
líticos, doentes, a população; os lugares – o centro da cidade, os bairros nobres e os subúrbios; e os tempos da narrativa pandêmica, com início, meio e fim (Mauad, 2020). Ao longo do século XX, a fotografia serviria de documento dos acontecimentos e de atestado de presença da imprensa na construção da história. As fotorreportagens, estilo introduzido pela revista O Cruzeiro, em 1928, que se destacava pelas imagens em grande formato, apoiadas em texto escrito por um repórter, atribuíram à fotografia uma função narrativa dos acontecimentos e prescritiva da opinião a se ter sobre os fatos. Nesse caso, a fotografia se torna pública pois tanto agencia os sentidos que podem ser atribuídos aos acontecimentos vividos no espaço público, como veicula imagens de fatos que foram avaliados pelos editores da revista como de interesse do grande público. Essa perspectiva predominou nas publicações semanais ilustradas até final dos anos 1950, quando a fotografia passou a circular de forma regular nos jornais diários, dentre os mais importantes: Jornal do Brasil e Correio da Manhã. Entretanto, o que se obser-
vou desde a reforma gráfica do Jornal do Brasil, nos anos 1950, e, posteriormente, com a criação do prêmio Esso para fotojornalismo, em 1962, foi a gradual tomada de consciência do papel da imagem fotográfica na elaboração do sentido da notícia. Essa consciência foi incentivada pela ação de editores de fotografia provenientes do fotojornalismo, como foi o caso de Erno Schneider, no jornal Correio da Manhã, e serviu de base à elaboração de uma nova experiência fotográfica, que alimentaria a luta pela direito do fotojornalista à imagem. A partir de então, nas redações dos grandes jornais se desenvolveria uma nova forma de incorporar a prática fotográfica e de considerar o fotógrafo de imprensa não somente como um apoio do jornalista, mas dotado de alguma autonomia na cobertura de acontecimentos políticos. Essa geração de fotógrafos iria fomentar uma nova prática fotográfica nas redações. Foram eles, em grande medida, que abriram caminho para a renovação dessa experiência no espaço público (Mauad; Louzada; Gomes, 2021).
se torna pública para cumprir uma função
Em vista de uma experiência que se atualiza no tempo, afirma-se que a fotografia
associa e em sintonia com a historicidade
política. Por um lado, garante a transmissão de uma mensagem para dar visibilidade às estratégias de poder, ou, ainda, às disputas de poder; por outro, contemporaneamente, assume papéis estratégicos na afirmação de pautas identitárias, no registro da ação social e nas lutas pelos direitos humanos. As fotografias são, portanto, o suporte de agenciamento de uma memória pública que registra, retém e projeta no tempo histórico uma versão dos acontecimentos. Essa versão é construída por uma narrativa visual e verbal, ou seja, intertextual, mas também pluritemporal: o tempo do acontecimento, o tempo da sua transcrição pelo modo narrativo; o tempo da sua recepção no marco histórico da sua publicação, dimensionado pelas formas de sua exibição – na imprensa, em museus, livros, projetos. A fotografia pública produz um espaço público visual nas sociedades contemporâneas, em compasso com as visões de mundo às quais se de cada época.
Arquitetura das transformações
A cidade, que seguiu, desde o início, o traçado sinuoso e acidentado de sua geografia, conheceu, no século XX, suas maiores intervenções urbanísticas: aterros, demolições, abertura de grandes avenidas, a cidade na vertical, a opção pelo automóvel.
Cartão-postal, eterno suvenir. Desde o século XIX, a fruição da floresta, os passeios, piqueniques e a possibilidade de admirar a cidade em ângulo aberto foram descobertos como roteiros de lazer,
atraindo viajantes e fotógrafos. A inauguração da estátua art déco do Cristo Redentor no Corcovado, em outubro de 1931, e sua circulação em incontáveis fotografias e filmes consolidam o cami-
nho e o panorama na memória visual do Rio de Janeiro. Reportagem sobre o Cristo Redentor. 5 de abril de 1943. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_ 15747_mp0027
Plataformas da estação Central do Brasil. 23 de março de 1942 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_06229_mp0003
Com a eletrificação do sistema de trens suburbanos iniciada no final dos anos 1930, o avanço dos trilhos da Central do Brasil representava um modelo de transporte de massa moderno e eficiente em expansão. 23 de março de 1942 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_06229_ mp0004
Embora previsto desde 1928 no Plano Agache, foi somente em 1948 que se iniciou a perfuração do túnel que liga os bairros de Laranjeiras, na Zona Sul, ao Catumbi, situado na interseção entre a Zona Portuária e a Zona Norte. Ainda se passariam quase vinte anos até a inauguração no governo de Carlos Lacerda (1960-1965), passando ainda pela sua retomada na gestão Negrão de Lima, prefeito indicado por Juscelino Kubitschek.
Presidente Eurico Gaspar Dutra visita as obras do túnel do Catumbi. 30 de outubro de 1950 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ PRP_04531_mp0003
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira visita as obras do túnel Santa Bárbara. 16 de junho de 1956 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_06521_mp0005
Parte importante do plano de obras da Superintendência de Urbanização e Saneamento, o desmonte do morro de Santo Antônio viria alterar radicalmente o Centro da cidade. A obra começou no início dos anos 1950 e se acelerou em meados da década com
Demolição do morro de Santo Antônio. 4 de novembro de 1954 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_09276_mp0008
um projeto modificado. Em terrenos que se tornaram supervalorizados surgiram novas edificações, enquanto do arrasamento do morro vinha a matéria-prima para o enorme aterro por onde passariam as pistas de conexão entre o Centro e Copacabana.
Vista parcial do Centro com o morro de Santo Antônio. 10 de dezembro de 1958 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_15757_mp0001
A avenida Perimetral começou a ser construída na administração do prefeito Negrão de Lima (1956-58), embora os primeiros esboços sejam dos anos 1940 e sua conclusão tenha se dado em 1978. O primeiro trecho, conectando as avenidas General Justo e Presidente Vargas no Centro, foi finalizado pelo último prefeito do Distrito Federal, Sá Freire Alvim, em 1960. Correspondia a uma concepção urbana que privilegiava o transporte automobilístico, e foi visto como uma solução para o trânsito cada vez mais intenso. A obra fez ruir parte da memória do Centro, como o Mercado Municipal, que se distingue na imagem. O elevado foi demolido entre 2013 e 2015. Obras da Superintendência de Urbanização e Saneamento na praça XV de Novembro. 31 de janeiro de 1959 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_09284_ mp0005
Obras da Superintendência de Urbanização e Saneamento na praça XV de Novembro. 31 de janeiro de 1959 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_09284_mp0009
É a partir da década de 1920 que se assiste ao fenômeno de verticalização iniciado no Centro da cidade e que eclode nos anos 1950 no bairro de Copacabana, tanto na orla quanto nas ruas internas. O Rio de Janeiro, catalizador de mão de obra migrante, recebeu mais 1 milhão de novos habitantes nessa década, e no início da seguinte passou de 3 milhões de moradores. Apesar dos bairros da Zona Sul alcançarem crescimento demográfico inferior ao dos subúrbios, tiveram uma expansão significativa na qual se destacava
Copacabana e todo o charme do bairro, com seu ideal de vida elegante, a noite sofisticada, além, é claro, de sua orla celebrizada no cinema e na música. Nesse cenário, e diante da escassez de áreas de construção, os novos edifícios formavam um bloco maciço de prédios com gabaritos de oito, dez ou doze andares, autorizados pela prefeitura carioca desde 1946. Vista da zona sul da cidade. 10 de dezembro de 1958 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15757_mp0009
O calçamento em pedras portuguesas, no estilo lisboeta do século XIX, foi denominado “mar largo” e, apesar de não ser exclusivo da cidade, iria assumir uma identidade carioca, tendo sido aplicado, primeiramente, em Manaus e depois no Rio de Janeiro do prefeito Pereira Passos. Uma referência à antiga metrópole, as ondas foram dispostas em sentidos diferentes, alternadamente, em relação à praia, até a obra definitiva de remodelamento da avenida Atlântica, empreendida por Roberto Burle Marx no fim da década de 1960. Além de triplicar o tamanho da calçada, o paisagista posicionou as famosas ondas em continuidade ao movimento do mar. Calçada da praia de Copacabana. [1940-1950] BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_04942_mp0007
Prestigiado pelo presidente Juscelino Kubitschek, o plano de obras anunciado em 1957 incluía a Zona Sul e previa, para sanar “as mais prementes necessidades urbanísticas da cidade”, a abertura de túneis, entre eles o que ligava os trechos Barata Ribeiro-Raul Pompeia, concluído em 1960, e Tonelero-Pompeu Loureiro, inaugurado em 1962. Ampliação da praia e da avenida Atlântica, na reportagem sobre obras da Superintendência de Urbanização e Saneamento, túnel Barata Ribeiro-Raul Pompeia. 28 de janeiro de 1960 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_09288_mp0011
Obras da Superintendência de Urbanização e Saneamento, túnel Barata Ribeiro-Raul Pompeia. 28 de janeiro de 1960 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_09288_mp0012
Vista aérea do centro da cidade na chegada do presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, recepcionado por Juscelino Kubitschek. O Rio de Janeiro vivia seus últimos meses como capital e a área do aterro era um canteiro de obras. 24 de fevereiro de 1960 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ PRP_07052_mp0027
Construído entre os anos 1961-1965, o parque do Flamengo constituiu-se com o produto do arrasamento dos morros do Castelo (anos 1920) e de Santo Antônio (década de 1950). Situado entre o aeroporto Santos Dumont e o morro da Viúva, próximo aos bairros da Glória e do Flamengo, tem uma área de 120 hectares e é o maior parque à beira-mar do mundo. O projeto urbanístico e arquitetônico foi elaborado por uma equipe coordenada por Afonso Eduardo Reidy, do escritório Arquitetos Associados, enquanto sua construção foi liderada por Lota de Macedo Soares, do Grupo de
Trabalho para a Urbanização do Aterrado Glória-Flamengo. O projeto paisagístico é de autoria do artista plástico e paisagista Roberto Burle Marx, da equipe de Reidy, ambos representantes da chamada escola carioca de arquitetura. Em 1965, o parque do Flamengo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e, em julho de 2012, recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco, na categoria Paisagem Urbana. O Museu de Arte Moderna (MAM) nasceu em 1948 com a assinatura da ata
inaugural, funcionando em outras instalações enquanto a construção do Bloco Escola, entre 1954 e 1958, não se concluía. O MAM, a primeira construção da área, com projeto de Afonso Eduardo Reidy e colaboração de Carmem Portinho e Emílio Baumgart, voltou-se ao experimentalismo e abrigou movimentos artísticos de vanguarda, incluindo-se a fundação da Cinemateca, em 1955. Em 1967, foi inaugurado o Bloco de Exposições. O museu sofreu um incêndio de grandes proporções em 1978, perdendo noventa por cento de seu acervo, e foi reaberto em 1982.
Museu de Arte Moderna. 15 de março de 1973 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_15767_mp0021
Vista da Gamboa, Zona Portuária do Rio de Janeiro, na qual se destacam a igreja de Nossa Senhora do Livramento e o Moinho Fluminense, erguido em 1927. O porto foi construído no início do século XX, seus armazéns datam de 1911. Outras edificações na área dão conta da arquitetura dos anos 1940, de que são exemplos as sedes da Polícia Federal e da Alfândega, além de exemplares da arquitetura moderna, como a vila operária da Gamboa, obra de Lúcio Costa e Gregori Warchavchik, de 1931. A descoberta do cemitério dos Pretos Novos é um marco na memória da escravidão: o cais do Valongo foi o porto que mais recebeu africanos escravizados nas Américas e foi inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, em 2017. A fotografia da Agência Nacional é um retrato involuntário do longo período de esquecimento do bairro. Vistas aéreas da cidade do Rio de Janeiro. 31 de janeiro de 1969 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15764_ mp0001
A Barra da Tijuca foi uma das preocupações da administração do prefeito Negrão de Lima, responsável pela encomenda ao arquiteto Lúcio Costa de um plano para a ocupação da área, que logo seria ligada à Zona Sul pelo sistema que integra o elevado do Joá (1970) e a autoestrada Lagoa-Barra. O plano entregue pelo urbanista em 1969 guarda muitas semelhanças com o plano-piloto de Brasília. A ausência de ruas
Reportagem no túnel LagoaBarra da Tijuca, na Zona Sul. 12 de janeiro de 1982 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15596_ mp0013
comuns às cidades tradicionais é atrelada à valorização do automóvel e atendia à pressão, sobretudo, dos moradores da Zona Sul, um dos eixos do projeto, enquanto o outro sinalizava para os subúrbios. Parte do anel rodoviário do Rio de Janeiro, a autoestrada Lagoa-Barra foi construída nos anos 1970, sendo inaugurada, oficialmente, com a conclusão do atual túnel Acústico Rafael Mascarenhas em 1982.
Reunidas em reportagens de março e abril de 1973, as vistas do alto renovavam o clássico contraste entre o mar e a montanha, e evidenciavam o crescimento daquela área da cidade, definido no caráter ainda mais uniforme da mancha de edifícios por toda a Zona Sul. A valorização desses bairros levou, ao longo das décadas de 1960 e 1970, à remoção de diversas favelas, processo facilitado pela instauração da ditadura militar (1964-1985). O mesmo regime decretou, no ano seguinte, a extinção do estado da Guanabara e sua fusão com o estado do Rio, regulamentada em 1975, sem consulta popular. Enseada de Botafogo, vista do Corcovado. Vistas do Pão de Açúcar, aterro, largo do Boticário, Cristo Redentor, Jóquei Clube, lagoa Rodrigo de Freitas e Vista Chinesa. 15 de março de 1973 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15767_mp0002
Vistas do Pão de Açúcar, aterro, largo do Boticário, Cristo Redentor, Jóquei Clube, lagoa Rodrigo de Freitas e Vista Chinesa. 15 de março de 1973 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_15767_mp0013
Vistas do Rio de Janeiro. 20 de abril de 1973 BR_RJANRIO_EH_0_ FOT_EVE_15768_ mp0024
Vistas do Rio de Janeiro. 20 de abril de 1973 BR_RJANRIO_EH_0_ FOT_EVE_15768_ mp0019
Arquitetura da moradia
A moradia como uma questão social significou a formulação de uma nova proposta de arquitetura e urbanismo e um caminho para projetos políticos de variados matizes
As favelas, no Rio de Janeiro, há muito são percebidas muito mais como um problema do que como uma solução. Apesar de o IBGE, com base no censo de 1950, apontar que as favelas representavam uma solução de emergência, imposta às pessoas desprovidas de recursos, para suas dificuldades crescentes de trânsito acessível ou moradia próxima aos locais de trabalho, reconhecendo, assim, que o movimento demográfico em direção às favelas não foi um produto do acaso, mas de causas e fatores que o impeliram num sentido determinado, a maioria das administrações encarava essas moradias como problema urbanístico e social. Nas décadas de 1950 e 1960, estudos e levantamentos sobre favelas e seus habitantes, realizados por diferentes organismos brasileiros, além de pesquisas promovidas por instituições internacionais, demonstraram, em sua maioria, a inadequação da população favelada e sua presença em determinadas áreas, suas habitações, formas de se Vista aérea da cidade do Rio de Janeiro. 31 de janeiro de 1969 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15764_mp0006
relacionar e de se organizar, justificando, assim, a adoção de medidas nas quais esses moradores e suas residências “ilegais”, “irregulares”, “precárias”, “anti-higiênicas”, “subnormais” deveriam se tornar alvo de políticas das áreas de saúde, assistência social, trabalho ou segurança pública. Muitos desses estudos, ao não contribuírem para uma nova percepção de favela, reforçaram estigmas relacionados a desordem, precariedade, promiscuidade.
A favela da praia do Pinto, localizada em frente à lagoa Rodrigo de Freitas, foi uma das muitas da Zona Sul do Rio de Janeiro a serem alvo de processo de remoção BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_06889_mp0002
Visita de Miguel Couto Filho, ministro da Saúde, à favela da Praia do Pinto. 15 de janeiro de 1954 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ PPU_02638_mp0002
A remoção de favelas quase sempre norteou, com maior ou menor vigor, as políticas urbanas voltadas para seus moradores em boa parte do século XX, amparada pela produção de estigmas que contribuíram para dar respaldo às intervenções do Estado. Esses processos em geral eram marcados por ações violentas por parte do poder público. O deslocamento forçado dos atingidos para bairros periféricos resultou, em alguns casos, na eliminação completa de muitas favelas localizadas, principalmente, nos bairros da Zona Sul da cidade. Remoção de favelas pela prefeitura do Distrito Federal. 20 de maio de 1942 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_02343_ mp0008
Primeiro conjunto habitacional moderno, promovido pelo setor público, construído em uma vila da Estação Moça Bonita, no bairro de Realengo. 30 de julho de 1941 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_02338_mp0005
O Parque Proletário da Gávea foi inaugurado em 1942 e recebeu moradores das favelas do Cantagalo, Praia do Pinto, Sacopã e Catacumba. As moradias eram organizadas em blocos com várias residências de madeira, acima do nível do chão. À parte ficavam as instalações sanitárias e de banho, também de madeira. O título desses parques era “provisório” pois a ideia era construir casas de alvenaria, o que não aconteceu. Para morar nesse parque, o candidato deveria pagar aluguel, trabalhar em área próxima, ter carteira de trabalho assinada, ser registrado no posto de polícia. Os portões eram fechados às 22 horas e seus moradores ouviam, à noite, o “chá das nove”, que eram lições morais dadas ao microfone pelo administrador do parque. Não eram aceitos nessa nova habitação “desordeiros”, “vadios”, nem tampouco admitidos batuques, capoeiras, práticas de feitiçaria e outros costumes considerados antiurbanos. Note-se, assim, a presença de uma política marcada pelo trabalhismo e por uma ideologia higienista de correção de hábitos pessoais e estruturação de família convencional. Parque Proletário da Gávea. 28 de fevereiro de 1942 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_02342_mp0002
Casas do Parque Proletário da Gávea. 28 de fevereiro de 1942 BR_RJANRIO_EH_0vFOT_EVE_02342_mp0012
A construção dos parques proletários estava alinhada à política de controle e ao paternalismo social que denotaram o governo Vargas. A marca civilizadora do Estado Novo, entendida pelas ações de reeducar e reajustar os cidadãos, e prepará-los para o mundo do trabalho formal, também perpassa as condições de moradia. A família beneficiada por uma casa nos parques proletários se comprometia a zelar pela casa, lavando o assoalho pelo menos uma vez por semana; não cuspir nem consentir cuspir no assoalho ou nas paredes; trazer sempre asseados os terrenos em torno e debaixo da casa, não permitindo juntar lixo nem formar lama; não usar ferro elétrico nem luz que não fosse elétrica, mudando as lâmpadas queimadas por conta própria, bem como só cozinhar com carvão.
Presidente Getúlio Dorneles Vargas visita o Parque Proletário da Gávea. 17 de julho de 1943 BR_RJANRIO_EH_0vFOT_ PRP_01653_mp0008
Interior de moradias do Parque Proletário da Gávea e do Lar Proletário, em São Cristóvão. 13 de agosto e 28 de fevereiro e de 1942 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_02346_mp0004 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_02342_mp0008
Inauguração do bairro proletário de Irajá, que teve a presença de Henrique de Toledo Dodsworth Filho, prefeito do Distrito Federal. 1º de maio de 1944 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_02351_mp0007
Vila dos bancários é inaugurada no bairro do Méier, em comemoração do aniversário do presidente Getúlio Dorneles Vargas. 19 de abril de 1942 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_02699_mp0005
Os governos populistas de Vargas e Dutra pretenderam, como solução para a habitação social, produzir, em larga escala, conjuntos habitacionais por meio das carteiras prediais dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP), na década de 1930, e com a instituição, em 1946, da Fundação da Casa Popular. A produção estatal de moradias para os trabalhadores representou o reconhecimento oficial de que a questão habitacional não seria equacionada apenas através do investimento privado, requerendo, necessariamente, intervenção do poder público. De acordo com o arquiteto Nabil Bonduki, apesar da ausência de uma política eficiente, a produção habitacional no período, em termos de qualidade, não foi irrisória, como comprovam os conjuntos do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários, com qualidade arquitetônica, urbanística e social.
Presidente Getúlio Dorneles Vargas inaugura casas para operários da Estrada de Ferro Central do Brasil. 15 de julho de 1944 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_01705_mp0003
Entrega das primeiras casas da Fundação da Casa Popular, que contou com a presença do presidente Eurico Gaspar Dutra, em Marechal Hermes. 1º de maio de 1947 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_04100_mp0001
Vistas de uma vila de casas em Marechal Hermes. 9 de maio de 1947 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_02358_mp0001
Inauguração de casas proletárias do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), em Senador Camará. 9 de setembro de 1948 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_02362_mp0010
A implantação dos conjuntos habitacionais concorreu de maneira significativa para a transformação dos subúrbios cariocas, nos anos 1940 e 1950. A presença do Estado, que implantava também os equipamentos de serviços públicos, levou um aspecto de urbanidade aos bairros que tinham se originado das freguesias rurais e eram, até então, habitados em condições de precariedade extrema. A população das zonas suburbanas do Rio de Janeiro teve um incremento de
cerca de 380 mil moradores na década de 1940. Os institutos de previdência construíram em torno de vinte mil unidades habitacionais nessas áreas durante aquele período, sendo responsáveis por cerca de vinte por cento da ocupação desses territórios. A oferta dessas residências atendia ao objetivo não só de incrementar a indústria da construção civil, como de aproximar o governo das massas de trabalhadores urbanos visando à sustentação política.
Inauguração, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, de conjunto residencial no Méier construído pelo Instituto dos Marítimos. 29 de junho de 1948 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ PRP_04240_mp0006
Presidente Eurico Gaspar Dutra inaugura conjunto de casas do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI) na Penha. 29 de outubro de 1949 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_04409_mp0007
A obra de Afonso Eduardo Reidy propunha uma arquitetura com responsabilidade social. Seus projetos trouxeram uma nova concepção para a arquitetura popular e tornaram-se ícones do modernismo brasileiro. O projeto do conjunto residencial do Pedregulho, elaborado entre 1946 e 1948 para um terreno na Zona Norte, integra-
Vista das obras de construção do bloco A do conjunto residencial Prefeito Mendes de Moraes – Pedregulho, no bairro de São Cristóvão. Em primeiro plano, posto de saúde com painéis de Anísio Medeiros. 12 de maio de 1952 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_02374_mp0002
va-se à proposta de habitação social para a cidade do Rio de Janeiro como forma de combater os crescentes problemas de moradia da então capital federal, onde favelas e residências precárias cresciam. O conjunto residencial Marquês de São Vicente, construído entre 1952 e 1954, seguiu as linhas de uma arquitetura que buscava soluções plásticas e estruturais
para a habitação social. Reidy empregou uma forma serpenteante para o edifício residencial, acompanhando o perfil da topografia do morro Dois Irmãos. Além dos apartamentos, foram projetados para ambos os conjuntos residenciais equipamentos urbanos como escola, playground, lavanderia, posto de saúde, quadras de esporte.
O conjunto residencial Marquês de São Vicente, na Gávea, projetado pelo arquiteto Afonso Eduardo Reidy, foi cortado para a construção do túnel Lagoa-Barra da Tijuca, na Zona Sul do Rio de Janeiro. 12 de janeiro de 1982 BR_RJANRIOvEHv0_FOT_EVE_15596_mp0015
A remoção das favelas como solução para a questão da moradia popular sempre esteve presente no cenário político, sendo empreendida com maior ou menor intensidade em diferentes governos. Durante o período da ditadura militar, a prática das remoções determinou a retirada de milhares de pessoas de suas casas e seu deslocamento para lugares distantes do Centro, sem qualquer tipo de infraestrutura urbana adequada. Muitos dos conjuntos habitacionais construídos nas décadas de 1960 e 1970 transformaram-se em outras favelas e diversos moradores acabaram retornando para regiões próximas às áreas centrais da cidade, criando novos espaços precarizados.
Inauguração do conjunto residencial IV Centenário, em Inhaúma, que teve a participação do presidente Artur da Costa e Silva. 4 de agosto de 1967 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_09022_mp0013
Vista do conjunto residencial do Engenho de Dentro, inaugurado pelo ministro dos Transportes, Mário David Andreazza. 6 de novembro de 1969 BR_RJANRIO_EH_0vFOT_ PPU_00610_mp0009
A favela da Maré data dos anos 1930 e encerra estreita relação com a construção da avenida Brasil. Muitos dos seus primeiros moradores trabalharam nas obras, outros foram desalojados quando da demolição das casas de cômodos existentes na região. Para a Maré também foram levadas pessoas retiradas à força de suas casas nas favelas erradicadas da Zona Sul BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_14562_mp0031
Visita do ministro do Interior Mário Andreazza à favela da Maré na avenida Brasil, por ocasião do lançamento do Projeto Rio, do Programa de Erradicação de Favelas (Promorar), que previa, entre outras iniciativas, obras de saneamento na orla da baía de Guanabara. O ministro se fazia acompanhar do então governador Antônio Chagas Freitas. 8 de outubro de 1979 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_14562_mp0009
O governo Vargas, com seu projeto de reforma e modernização do país, propiciou a adoção dos princípios modernistas, especialmente nos projetos das edificações públicas e dos conjuntos habitacionais, influenciando, subsidiariamente, os traçados urbanos de cidades capitais. O período de 1930-1950 testemunhou na cidade uma série de transformações, conduzida, em grande medida, pelo setor da construção civil, que realizou, na Zona Sul, a substituição de unidades unifamiliares por edifícios de vários pavimentos. No final da década de 1930 e primeiros anos de 1940, o processo de verticalização da moradia se fazia sentir, principalmente, no bairro de Copacabana, com a construção de edifícios de oito e doze andares.
Na década da 1940, a Zona Sul estava se tornando o novo destino das classes médias e altas. Vultuosos investimentos em infraestrutura passaram a ser dirigidos para essa região da cidade, com o governo baixando novas normas para impedir casebres e casas de madeira. [1940] BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_04942_mp0022
Conjunto dos Jornalistas, erguido na década de 1950 com três blocos de prédios, na época os mais altos do bairro do Leblon, ladeado por casebres remanescentes da favela da Praia do Pinto, que havia sido removida parcialmente para a construção do Parque Proletário Provisório da Gávea. 28 de abril de 1959 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_06889_mp0003
Fachadas de edifícios residenciais do Rio de Janeiro, construídos na década 1940. 24 de junho de 1958 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_04942_mp0026
Os novos traçados das edificações modernas, que se erguiam no cenário carioca, foram capturados também pelas lentes dos fotógrafos que registravam uma nova arquitetura a partir de novos ângulos BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_04942_mp0019
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Arquitetura do trabalho e do poder
O discurso político e as concepções sociais do Brasil contemporâneo se inscrevem em fachadas de empresas, fábricas, prédios públicos, escolas, universidades, monumentos, estações.
Vista da avenida Rio Branco, a partir da praça Mauá, tendo ao fundo a enseada de Botafogo. Reportagem sobre o túnel do Pasmado, enseada da Glória, avenidas Niemeyer, Presidente Wilson, Presidente Vargas e Rio Branco. 3 de abril de 1958 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15754_mp0016
Avenida Rio Branco. 3 de abril de 1958 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15754_mp0004
A construção do terminal de passageiros do aeroporto Santos Dumont foi iniciativa de Getúlio Vargas e teve início em 1938, atendendo ao crescente número de passageiros de viagens aéreas que se verifica a partir de 1930. Embora na década anterior o plano Agache localizasse o aeroporto do Rio de Janeiro em Manguinhos, prevaleceu a ideia de implantá-lo na Ponta do Calabouço, uma área próxima ao centro e beneficiada pelo desmonte do morro do Castelo. Após um concurso público de grandes proporções, a proposta vencedora foi a dos irmãos Marcelo e Milton Roberto, responsáveis também pelo projeto da Associação Brasileira de Imprensa. As obras foram suspensas, dada a conjuntura de guerra, e retomadas em 1944 com um projeto modificado. O hall com pilotis e o saguão envidraçado de onde se avistam a pista e a baía de Guanabara favorecem uma ideia de sociabilidade e distinção dos que passam pelo aeroporto, que exibe mural de azulejos de Cadmo Fausto e, em frente, uma praça com projeto paisagístico de Burle Marx.
Hall do aeroporto Santos Dumont, praça Senador Salgado Filho. 1939-1945 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_00656_mp0008
Aeroporto Santos Dumont, praça Senador Salgado Filho. 1939-1945 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_00656_mp0012
Projeto de Marcos Konder Neto e Hélio Ribas Marinho, de 1956. Integrado ao projeto paisagístico do Aterro, com jardins e espelhos de água, o conhecido monumento aos pracinhas homenageia as três armas: uma escultura de Júlio Castelli é dedicada à Aeronáutica, um grupo escultórico em granito, de Alfredo Ceschiatti, ao Exército, e um painel de azulejaria, de Anísio Medeiros, à Marinha. Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial, 1960 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_06212_mp0012
Entre 1925 e 1960, o palácio Monroe foi a sede do Senado federal no Rio de Janeiro, à exceção do período da ditadura estado-novista, quando o Congresso Nacional foi dissolvido e o Monroe recebeu as instalações do Ministério da Justiça por oito anos. A estrutura metálica da construção foi, inicialmente, um pavilhão na Exposição Universal de St. Louis, nos Estados Unidos, em 1904, transplantada depois para o Brasil. Situado na Cinelândia, junto à elegante avenida Beira-Mar, era próximo de construções e vias que davam o tom dos projetos arquitetônicos e urbanísticos do início do século XX. Em 1976, foi demolido para dar passagem às obras do metrô. Edifício do Senado Federal (Monroe). 1º de outubro de 1959 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_04953_mp0005
Vista para o edifício art déco localizado na rua João Neves da Fontoura, entre as avenidas Beira-Mar e Presidente Wilson. À esquerda, a “estátua da amizade”, presente norte-americano aos brasileiros nos anos 1930, situada na atual praça 4 de julho. [1940-1950] BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_04942_mp0030
Edifício Castelo Petrobras (antigo Raldia e Nilomex), situado à rua Nilo Peçanha. Comporta três prédios para escritórios, articulados com uma torre cilíndrica, com galerias para pedestres e pátios internos. Projeto de 1930, de autoria de Robert Prentice, adquiriu, em 1935, mais três pavimentos, com a mudança de legislação. 18 de junho de 1940. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_04943_mp0002
O edifício Serrador, projeto de Stélio Alves de Sousa, de 1945, foi construído entre os anos de 1945 e 1949, levando o nome de seu proprietário Francisco Serrador, que também deu nome ao hotel, na época famoso como o mais alto da América Latina, com seu formato arredondado, 23 andares de altura e um pórtico de entrada de quinze metros, em plena Cinelândia. [1940-1950] BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_04942_mp0005
Projeto de 1927-1929, do arquiteto francês Joseph Gire e do arquiteto carioca Elisário Cunha Baiana, chegou a ser o edifício mais alto da América Latina, com 22 andares. Construído para ser a sede do jornal A Noite, foi um marco nos projetos arquitetônicos do centro do Rio de Janeiro, por seguir o padrão norte-americano de arranha-céus, divergindo do estilo francês até ali predominante. Com inspiração de art déco, empregou concreto armado, o material que viria ser a alma da arquitetura moderna brasileira a partir dos anos 1930. O edifício iria se notabilizar por ter abrigado a Rádio Nacional desde 1936. Avenida Rio Branco e praça Mauá. 13 de março de 1960 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_15759_mp0001
Projeto de Luís de Moura, de 1939, e concluído em 1943, a construção da sede do Ministério da Fazenda, na esplanada do Castelo, não respeitou a proposta original dos arquitetos vencedores do concurso público, de matiz moderno. A construção seguiu uma técnica moderna, com uso de concreto armado, observação das normas preconizadas de higiene e conforto, enquanto uma série de elementos clássicos, como sua entrada principal, com as amplas escadas, colunata de mármore, vasos de granito e outros recursos remissivos ao estilo greco-romano, se alinha à arquitetura típica dos regimes fascistas na Europa. Edifício sede do Ministério da Fazenda, na rua Antônio Carlos BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_10405_mp0001
Ministério da Fazenda, rua Antônio Carlos. [1940-1950] BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_04942_ mp0008
O edifício do Ministério da Educação e Saúde, na mesma esplanada que se abriu após a derrubada do morro do Castelo, foi um dos principais acontecimentos da arquitetura moderna no Rio de Janeiro dos anos 1930. As normas preestabelecidas para ocupação da área central da cidade constavam do plano do arquiteto francês Alfred-Donat Agache e exigiam um bloco perimetral com pátio interno, o que foi atendido no projeto do arquiteto Archimedes Memoria. No entanto, Gustavo Capanema, ministro do recém-criado órgão da era getulista, rejeitou a proposta, convidando o arquiteto Lúcio Costa para a empreitada, em 1935. Este convocou outros arquitetos que haviam concorrido com projetos modernos para formar uma equipe, com Afonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira, Oscar Niemeyer, Ernani Vasconcelos. Um convite especial foi destinado ao arquiteto e urbanista franco-suíço Le Corbusier, pseudônimo de Charles-Edouard Jeanneret-Gris, inspiração para o projeto apresentado pela equipe de Costa. A partir da proposta deixada por Le Corbusier chegou-se, afinal, ao traçado definitivo: a marca dos arquitetos brasileiros com os princípios da chamada “arquitetura nova”, em tudo diferente do preconizado pelo plano Agache. Construído entre 1937 e 1944, o edifício conta ainda com murais e azulejos desenhados por Cândido Portinari, esculturas de Bruno Giorgi, Celso Antônio e Jacques Lipchitz, e jardins de Roberto Burle Marx.
Fachada norte do Ministério da Educação e Saúde Pública. Palácio Capanema, rua da Imprensa. [1940-50] BR_RJANRIO_EH_0_ FOT_EVE_04942_ mp0012
Monumento à Juventude Brasileira, de Bruno Giorgio, no Ministério da Educação e Saúde Pública. Palácio Capanema, rua da Imprensa. 1947 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_06196_mp0003
Projeto do arquiteto Mário Santos Maia, de 1936, um dos edifícios públicos da esplanada do Castelo, tem o formato em H. Um exemplar da arquitetura racionalista, a proposta, vencedora de um concurso público, foi desenvolvida por uma equipe formada por nomes como Afonso Eduardo Reidy e Antônio de Almeida, entre outros, e o edifício seria inaugurado por Vargas no Dia do Trabalho. Prédio do Tribunal Regional do Trabalho (antigo Ministério do Trabalho), na avenida Presidente Antônio Carlos. 23 de maio de 1941 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_10403_mp0005
A construção inicial, Quartel do Campo, do século XIX, passou por uma reforma em estilo eclético, entre 1908 e 1913, e seus traços ainda se fazem presentes em algumas alas. O projeto de 1935, executado nos anos 1937-1941, é do arquiteto Cristiano Stockler das Neves e obedece aos anseios de uma monumentalidade que incorpora elementos clássicos, ao gosto de regimes autoritários. Sua inauguração coincidiu com a da avenida Presidente Vargas.
Palácio Duque de Caxias, praça Duque de Caxias. 17 de abril de 1952 BR_RJANRIO_EH_0_ FOT_EVE_10406_ mp0016
Construído entre os anos 1937-1943, com projeto de Roberto Magno de Carvalho e do escritório Robert Prentice (Geza Heller e Adalberto Szilard), substituiu a estrada de ferro D. Pedro II, demolida nos anos 1930 com o processo de eletrificação das linhas. Além da torre de inspiração art déco e dos 28 pavimentos, o saguão de embarque se destaca pela sua amplitude, uma iluminação que percorre toda a parte superior das paredes e a abóbada em ferro. Edifício da Central do Brasil. 23 de março de 1942 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_06229_mp0002
Projeto de Pedro de Farias Rosthan, de 1953, incorporava, no plano da arquitetura, o debate educacional que culminaria, em 1959, no manifesto “Mais uma vez convocados”, de Fernando Azevedo, Anísio Teixeira e outros. A escola apresenta materiais característicos da arquitetura moderna, como o cobogó cerâmico, painel de azulejos, tijolos de vidro brise-soleil e janelas basculantes de ferro.
Inauguração da escola municipal Anita Garibaldi, estrada de Maracajá, 1.294, Ilha do Governador. 19 de abril de 1954 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ PPU_01993_mp0005
Entre os anos de 1949 e 1962, o Escritório Técnico da Universidade do Brasil, coordenado por Jorge Machado Moreira, foi responsável pelo projeto e construção de alguns edifícios erguidos, sobretudo, nos anos 1950, da Universidade do Brasil, depois Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre um aterro sanitário. Os prédios, isolados entre si, ecoavam os princípios da arquitetura moderna brasileira, da qual Brasília era o exemplo mais eloquente. Cidade Universitária, registrada durante visita do presidente Juscelino Kubitschek. 23 de janeiro de 1957 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_06630_mp0004
Arquitetura da participação
A presença do povo é fator significativo para a conformação e construção dos espaços – quer públicos ou privados – conferindo diferentes aspectos identitários e de pertencimento à cidade
O nacionalismo foi um elemento fundamental para a construção de um imaginário do poder nas décadas de 1930 e 1940, entendendo nação como Estado, e nacionalismo como a conjugação de uma ideia de nação e pertencimento. O processo de “abrasileiramento” passava por ações cívico-patrióticas e pela instituição de datas comemorativas. O Dia da Raça e o Dia da Juventude são algumas dessas manifestações, instituídas em abril de 1939 e março de 1940. O Dia da Raça era a data que marcava a integração dos cidadãos, independentemente de sua origem, cor, religião, unificando todo o “povo” brasileiro em torno de uma mesma pátria e nação. O Dia da Juventude Brasileira, de viés eugenista e inspirado no movimento da Mocidade Portuguesa do regime salazarista, divulgava a importância da educação cívica, moral e física, e da formação familiar como valores essenciais para a geração da consciência patriótica. As festividades escolares, os desfiles em ruas importantes da capital, a exemplo das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, constituíam momentos de exaltação à figura do presidente expressos em diferentes símbolos, como estandartes, músicas, monumentos.
Comemoração do Dia da Raça, na avenida Rio Branco. 30 de maio de 1939 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_02600_mp0006
Durante o Estado Novo, grandes comemorações cívicas tomavam as largas vias da cidade, como a avenida Rio Branco, que tem como marco o obelisco inaugurado em novembro de 1906, cujo projeto foi organizado pelo escritório da Comissão Construtora da Avenida Central. 3 de abril de 1958 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15754_ mp0020
Desfile estudantil na Parada da Juventude, em frente ao Ministério da Guerra, na avenida Presidente Vargas, que teve a presença do presidente Getúlio Dorneles Vargas. 6 de setembro de 1941 BR_RJANRIO_EHv0_FOT_EVE_02673_ mp0038
O cenário político surgido após o golpe do Estado Novo, com o fechamento do Legislativo e o cerceamento das forças de oposição, favoreceu a construção da avenida Presidente Vargas, que implicou a derrubada de mais de quinhentas construções, parte da praça Onze, bairro de habitação popular e reduto do samba, um trecho do Campo de Santana, entre outras severas mudanças no perfil dessa região do Centro da cidade. Adalberto Szilard, engenheiro húngaro e responsável pelo projeto de adaptação da estação D. Pedro II, registra a violência do processo de desapropriação que não instituiu ações de indenização ou amparo aos inquilinos das casas demolidas. Onde antes havia residências, estabelecimentos comerciais e intensa circulação de pessoas, atravessou uma extensa via concebida como um corredor para automóveis e cenário para grandes festividades cívicas, de onde a população assistia a desfiles de forças militares, de corporações profissionais e grupos estudantis, e recepcionava autoridades em visita à capital.
Presidente Getúlio Dorneles Vargas inaugura o segundo trecho da avenida Presidente Vargas. 10 de novembro de 1942 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_01624_mp0007
Desfile de Sete de Setembro, que teve a presença do presidente Eurico Gaspar Dutra. 7 de setembro de 1946 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_04043_mp0016
As comemorações de datas cívicas, que contavam com significativa afluência de público, constituíam-se em oportunidade para a transmissão dos valores caros aos regimes de natureza populista, como a exaltação ao nacionalismo.
Desfile de Sete de Setembro, na avenida Rio Branco. 7 de setembro de 1946 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_04043_mp0026 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_04043_mp0027
A comitiva do presidente dos Estados Unidos, Dwight David Eisenhower, em visita ao Brasil, acompanhado do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, percorreu as principais avenidas do Centro do Rio de Janeiro, como Presidente Vargas e Rio Branco. 24 de fevereiro de 1960 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ PRP_07052_mp0004
No cenário de renovação urbana e construção de obras grandiosas insere-se a nova estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, instalada às margens da grande avenida Presidente Vargas. O edifício da Central do Brasil foi pensado em suas grandes dimensões para atender a um intenso fluxo de passageiros, possibilitado pela eletrificação das linhas ferroviárias. A facilidade de acesso permitiu que a estação se tornasse também ponto de concentração para as pessoas que afluíam às comemorações de datas nacionais, realizadas, em grande número, na avenida Presidente Vargas, nas proximidades do então Ministério da Guerra. Parada de Sete de Setembro na avenida Presidente Vargas, em frente ao Ministério da Guerra, em comemoração ao Dia da Independência, com presença do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. 7 de setembro de 1956 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_06566_mp0021
Os parques proletários e conjuntos habitacionais tornam-se palco de festas e eventos políticos, através dos quais os seus moradores teriam a oportunidade de expressar sua gratidão aos presidentes da República e demais autoridades que, não raro, se faziam presentes em inaugurações,
Desfile de crianças durante a visita do presidente Eurico Gaspar Dutra a Rocha Miranda. 18 de agosto de 1946 BR_RJANRIO_EH_0_ FOT_PRP_04034_ mp0005
comemorações de natureza religiosa e visitas organizadas. Era a oportunidade, para inúmeros políticos, em busca de apoio entre as massas populares, fazerem discursos e promessas eivadas de valores de caráter supraclassista, visando sempre a conciliação de interesses divergentes.
Presidente Eurico Gaspar Dutra inaugura o Centro de Ação Social do Morro de São Carlos, com a presença do prefeito Hildebrando de Araújo Góes e do cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro dom Jaime de Barros Câmara. 14 de dezembro de 1946 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_04074_mp0004
Presidente Getúlio Dorneles Vargas entrega chaves aos sargentos e operários da Fábrica do Galeão sorteados com a casa própria. 20 de janeiro de 1953 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_03237_mp0007
Os mercados públicos constituem elemento estruturante, organizativo e integrador da vida urbana, consolidando laços sociais ao atrair e acolher diferentes grupos – moradores, visitantes, comerciantes, produtores. Responsáveis, assim como as feiras livres, pela distribuição e comercialização de alimentos junto à população urbana, conferem vitalidade ao espaço urbano imediato à sua implantação, tornando-se lugar de convergência, de encontro, de troca e de vivência coletiva. O primeiro mercado municipal edificado na área urbana do Centro da cidade do Rio de Janeiro foi o da Candelária, projetado pelo arquiteto Grandjean de Montigny e inaugurado em 1841. O aumento da demanda por produtos e reformas modernizantes da cidade levou à construção de um novo mercado municipal, o mercado da Praça XV, um prédio com estrutura metálica, construído na Inglaterra e na Bélgica. Voltado, fundamentalmente, para o comércio de alimentos, o mercado da praça XV se tornaria o maior entreposto do gênero durante boa parte do século passado, dinamizando a atividade comercial nas ruas próximas. Nele era vendido todo tipo de mercadoria, com destaque para gêneros alimentícios, como carne, peixe, frutas, verduras. Mercado do Méier. 30 de agosto de 1944 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_07900_mp0005
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira visita o Mercado Municipal na praça XV, derrubado em 1956 para a construção do elevado da Perimetral. 26 de maio de 1956 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ PRP_06511_mp0003
Situado à avenida Rio Branco, n. 174, o Café Nice, frequentado por artistas e jornalistas, era ponto de encontro da boemia carioca. Acompanhando o estilo parisiense que caracterizou a urbanização da avenida Central do início do século XX, possuía três ambientes: parte externa com mesas e cadeiras de vime, e dois espaços internos distintos, um onde eram servidos chás e bebidas finas, e outro, mais simples, onde se tomava café com leite e pão na manteiga, bebidas baratas e o café propriamente. Café Nice. 1940 BR_RJANRIOvEH_0_FOT_
Nas primeiras décadas do século XX, o Rio de Janeiro era não só a capital, mas o principal centro cultural, comercial e financeiro do país. Nesse contexto, algumas ruas se destacam, a exemplo da rua do Ouvidor, reverenciada por sua elegância e luxo, segundo o médico e escritor Joaquim Manuel de Macedo. Os cafés e confeitarias, além das livrarias e gabinetes de leitura, localizavam-se, majoritariamente, na rua do Ouvidor ou nas suas proximidades, fazendo com que a vida literária se constituísse e se animasse, sobretudo, nesse ponto da capital do país. As livrarias Garnier e José Olímpio eram ponto de encontro de escritores e homens do mundo das letras. Nas palavras do historiador Luiz Edmundo Pereira da Costa, o coração da capital ficava no cruzamento das ruas do Ouvidor e Gonçalves Dias. Nesta se situava um outro símbolo da sociabilidade carioca: a confeitaria Colombo, inaugurada em 1894 pelos portugueses Manoel José Lebrão e Joaquim Borges Meireles. Centro de reunião e palestras, principalmente de rodas de literatos, configurava-se como ambiente apropriado à presença feminina, ao contrário dos cafés. Vista da rua do Ouvidor. 5 de maio de 1942
Os armazéns, cafés, bares, padarias, açougues, leiterias, quitandas, papelarias, armarinhos estabeleceramse desde o século XIX pelas mãos, em sua maioria, dos imigrantes portugueses, que os administravam juntamente com seus familiares mais próximos. Espaço de reunião dos mais diferentes públicos, as confeitarias e bares ofereciam artigos característicos, como doces finos, sorvetes, bebidas quentes, e funcionavam também como armazéns de comestíveis. 1º de novembro de 1947 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_08986_mp0002
A partir da década de 1930, a praça Floriano, hoje mais conhecida como Cinelândia, recebeu edificações em estilo eclético e art déco, onde empresários – Francisco Serrador, os irmãos Vivaldi, Ademar Leite Ribeiro, a família Ferrez – instalaram cinemas como Império, Glória, Odeon, Pathé, além de teatros e outros locais de entretenimento, inaugurando um tipo de empreendimento com vistas a integrar a comunidade urbana por meio da diversão e da convivência.
A Cinelândia simbolizou, no Rio de Janeiro, o local de diversão e sociabilidade cultural e política, sendo palco, por exemplo, da campanha a favor da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. 3 de abril de 1958 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15754_ mp0002
Em 1952, a cidade do Rio de Janeiro contava com 168 salas de exibição cinematográfica, habitando as calçadas de suas vias públicas, ruas, praças e avenidas, a exemplo da Rio Branco. 3 de abril de 1958 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ EVE_15754_mp0006
Nas primeiras décadas do século XX, o bairro de Copacabana já despontava como símbolo da sociabilidade republicana, concentrando a aristocracia moderna com seus hábitos de luxo e requinte, e deixando para atrás a imagem de um areal cercado de pescadores. Nesse cenário modernizante, a avenida Atlântica figurava com destaque. A calçada junto à areia, resultado da reforma realizada na gestão do prefeito Paulo de Frontin, convidava moradores e visitantes ao footing sobre as pedras portuguesas de seu calçamento que se tornou marca registrada do bairro. A construção do Copacabana Palace, hotel de luxo à beira-mar, acompanhou os planos urbanísticos do presidente Epitácio Pessoa, que almejava vê-lo em funcionamento para a Exposição do Centenário da Independência, o que não se concretizou. O hotel ficou famoso por hospedar artistas, chefes de Estado e, durante o governo de Getúlio Vargas, um cassino sofisticado. Além dos ares glamourosos da avenida Atlântica, essa paisagem também se apresenta como palco de expressão política, a exemplo da revolta do Forte de Copacabana, desfiles militares e movimentos de protesto de múltiplas perspectivas. 3 de dezembro de 1954 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15752_mp0008
Do camarote na varanda do hotel Copacabana Palace, presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira assiste ao desfile militar em homenagem a Francisco Higino Craveiro Lopes, presidente de Portugal. Avenida Atlântica, Copacabana. 10 de junho de 1957 BR_RJANRIO_EH_0_ FOT_PRP_06680_ mp0005
Em março de 1941, o primeiro navio de comércio brasileiro foi torpedeado pelos nazistas, dando início a uma série de mais de vinte embarcações brasileiras afundadas no oceano Atlântico e à morte de milhares de pessoas. A imobilidade do governo Vargas a esses ataques gerou um sentimento de
Manifestação popular na avenida Beira-Mar. O povo do Rio de Janeiro saiu à rua em um comício em protesto aos traiçoeiros crimes sofridos pelos brasileiros em águas nacionais e contra o Eixo. 18 de agosto de 1942 BR_RJANRIO_EH_0vFOT_ EVE_07804_mp0003
indignação e diversas manifestações populares e comícios tomaram as ruas do Rio de Janeiro, cobrando do governo uma reação às ofensivas do Eixo. Essa mobilização, aliada a pressões dos Estados Unidos, levou Vargas a declarar estado beligerante contra o nazifascismo em 22 de agosto de 1942.
A demolição da Praça Onze, para abrir espaço à avenida Presidente Vargas, foi uma medida radical do ponto de vista social e cultural. A Praça Onze era um bairro formado por fábricas, casas de cômodos, cortiços e barracos, onde viviam imigrantes, em grande parte judeus, negros e uma massa da população pobre deslocada de outros pontos do Centro da cidade por intervenções anteriores. Centro da música e ritmo da cultura de matriz africana, foi nesse local que aconteceram os primeiros desfiles de escolas de samba. Bloco carnavalesco desfila pelas ruas do Centro. Rio de Janeiro. 17 de fevereiro de 1953 BR_RJANRIO_EHv0_FOT_ EVE_02182_d0011de0022
A Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão, passou por inúmeras transformações tanto na sua estrutura física quanto em sua função social. Parcela de uma antiga fazenda dos jesuítas, a Quinta foi residência de representantes da Monar-
Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira comparece à missa campal mandada rezar em favor da Fundação Pioneiras Sociais, iniciativa da primeira-dama Sarah Kubitschek, voltada para o controle dos cânceres femininos e a promoção da saúde e estratégias de prevenção. Quinta da Boa Vista. 17 de março de 1957 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_ PRP_06654_mp0018
quia e do Império até se tornar um local público, espaço de manifestação da esfera coletiva, de realização da cidadania. Os jardins da Quinta da Boa Vista eram destino para o lazer, assim como para manifestações de caráter sociopolítico.
Os ideais modernistas trouxeram novidades para as composições dos espaços públicos acompanhadas de outras concepções estéticas, higienistas e comportamentais. As praças públicas passaram a se apresentar como espaços verdes, ajardinados, que contribuíam para a criação de outros cenários para a cidade, permitindo também o passeio livre e a contemplação da paisagem. Reconhecidas com a função de integração e sociabilidade, as praças foram se constituindo como equipamento central na construção do espaço urbano e da vida públi-
ca, dando acesso a diferentes pessoas e grupos que partilham espaços comuns, promovendo assim o diálogo e a criação ou reconhecimento de pontos de interesse coletivo. Em 1938, foi criado o Jardim de Alá, margeando o canal que liga a lagoa Rodrigo de Freitas ao mar. O projeto, de José da Silva Azevedo Neto, incluía estações de embarque e desembarque no canal, visando proporcionar passeios de gôndola pela lagoa. 5 de abril de 1943 BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE 15747_mp0005
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Créditos REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Projeto
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Ana Maria Mauad Claudia Beatriz Heynemann Maria Elizabeth Brêa Monteiro
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Legendas e seleção de imagens
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Giselle Teixeira
Fundação Dorina Nowill para Cegos Leticia dos Santos Grativol Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Maria Beatriz Nascimento – Arquivo Nacional
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O Rio e a República: a cidade nas imagens da Agência Nacional [recurso eletrônico] / Curadoria de Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro – Dados eletrônicos (1 arquivo : 34.954 Kb). – Rio de Janeiro : Arquivo Nacional, 2021. – (Publicações Históricas ; 117) Formato: PDF Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web ISBN: 978-65-995573-7-8 1. Rio de Janeiro (RJ) - História. 2. República, 1889 - Brasil. 3. Agência Nacional – arquivos fotográficos. I. Heynemann, Claudia Beatriz. II. Monteiro, Maria Elizabeth Brêa. III. Título. IV. Série.
ARQUIVO NACIONAL
CDD 981.53
Ficha catalográfica elaborada por Elisangela Guimarães de Oliveira (CRB 7/5563)