Teodora [n. 02] : editada por Tony Queiroga

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TEODORA revista de fotografia nº

TEODORA nº 02

Editada por Tony Queiroga

julho de 2024

TEODORA é uma revista de fotografia vinculada aos projetos de extensão Teodora (DAV/Ufes) e Campo Experimental da Imagem (ART/Uerj), em parceria com o Laboratório ProDesign (DD/ Ufes). De caráter interuniversitário, a publicação pretende comentar os potentes diálogos entre a imagem fotográfica e o campo das Artes Visuais. Os artistas-fotógrafos Tom Boechat e Tony Queiroga, professores dos Cursos de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj, respectivamente, produzem e editam a revista. Ricardo Esteves, professor do curso de Design da Ufes, supervisiona o projeto gráfico e a diagramação do periódico. É também o criador do logotipo e de todas as fontes tipográficas utilizadas na publicação, além de responder pelo desenvolvimento do site.

A proposta é apresentar trabalhos de discentes da área da fotografia e imagem técnica em geral, resultado das disciplinas lecionadas por esses professores, de modo que o material, ao ser editado, crie uma obra autônoma. Uma publicação que vá além da simples organização de amostras dos trabalhos produzidos durante determinado período acadêmico. A cada número, os editores apresentam uma pré-seleção de imagens produzidas por estudantes da Ufes e da Uerj, criando assim um banco de imagens comum, a partir do qual, cada editor constrói sua edição final. Assim, semestralmente, TEODORA é disponibilizada em formato digital com duas versões a cada número.

Um dos pontos de partida para o projeto foi perceber a qualidade da produção fotográfica do corpo discente da gradua-

ção, e acreditar que essas obras poderiam ganhar potência e registro duradouro com a publicação na forma de revista. Entretanto, o objetivo não é apresentar cada trabalho separadamente, mas propor diálogos e trocas capazes de permitir uma nova dimensão de sentidos, resultado da reunião dos trabalhos originais.

É importante evidenciar que a revista não pretende manter a integridade dos projetos originais, mas sintetizar, no encontro das fotografias, em movimento subliminar, determinado estado geral das imagens contemporâneas – sua miscigenação e imbricamento crescentes. A proposta aqui é a síntese de certo universo, não o escrutínio de uma análise detalhada. Esse é o foco do trabalho dos editores.

A cada número, a chegada a uma edição final assume contornos de labirinto, de desafio, uma vez que inúmeros caminhos se apresentam na organização das imagens. Tantas são as formas de editar as fotografias selecionadas, e seus infinitos resultados, que fala alto a sensação de que a montagem alcançada sempre será provisória, apesar de final. Além disso, não há garantia de que cada edição final seja mais bem-sucedida do que qualquer outra versão deixada para trás.

Esse sentimento de possibilidades infinitas, de objeto de conhecimento que nunca se dá por inteiro, guarda relação direta com o estado das imagens entre nós. E talvez a única atitude possível, em meio a esse fluxo frenético de imagens – nas páginas da revista e na vida, seja se perder e se achar, em cada um dos percursos escolhidos.

O corpo e o retrato e as outras coisas

Entendo que uma marca dos tempos atuais seja a procura de referências sólidas e confiáveis para as nossas vidas cotidianas. Os grandes relatos, nos quais baseamos muito da experiência moderna, foram desgastados por obra da História. Os sujeitos do século XXI, individualidades que habitam um mundo hiperconectado, atravessado por infinitas imagens e afogado em consumo materialista desenfreado, estão perdidos, desorientados. Embora as crenças religiosas ainda demostrem força e a ciência continue a apresentar razões para o mundo, hoje tudo é posto em dúvida.

Em tempos nos quais, cada vez mais, tudo o que é sólido desmancha no ar (Marx/Engels) - tempos que diluíram a ideia de verdade, que servia de base para toda e qualquer troca social -, nesse momento histórico, procuramos nos agarrar às coisas que possam oferecer uma concretude, alguma solidez; os corpos, por exemplo. Essa fronteira física que temos com o mundo e as sensações.

Lyotard, já na segunda metade do século passado, definiu que a condição histórica da pós-modernidade era aquela que colocava em dúvida tudo que havia norteado nossa cultura ocidental até então. Agora sem chão, no limite, chegamos hoje às “Fake News” e ao negacionismo bárbaro. Pois, afinal, se a ordem interessa a certas forças políticas, a total desordem também é útil a outras.

A desorientação que nos assombra parece resultar dessa perda de referências que sofremos nas últimas décadas. Esse vazio existencial necessita ser ocupado, ou cairemos de vez nas pa-

tologias sociais, um profundo mal-estar na civilização (Freud). Por ora, na falta de uma nova forma de existência, diversa da que construímos até aqui, nos resta encontrar possíveis soluções provisórias. Os corpos parecem oferecer algum tipo de recurso mínimo para continuarmos a viver. Se o controle social opera especialmente nos níveis corporais, natural que seja nessa fronteira que muitas batalhas aconteçam e deixem suas marcas mais visíveis –portanto, fotografáveis.

Essa segunda edição da REVISTA TEODORA , mais do que o número inaugural, traz essa presença destacada das substâncias humanas, dos corpos como última fronteira da qual nunca poderemos desistir, pelo menos durante a vida. Os corpos aparecem como campo de luta, como um limite final nesse momento histórico único, de rupturas profundas, tanto no campo das tecnologias, quanto nas questões ambientais. Ameaças existenciais que se juntam ao cada vez mais presente risco da destruição nuclear total. Perigos e oportunidades para uma outra civilização possível. Os corpos têm marcas, carregam dores e vontades, como um livro da vida inscrito na carne de todos nós. Corpos deformados pela sua condição de imagem, voluntária ou involuntariamente. Corpo gestual, corpo-livro, sobre o qual se pode escrever desejos e confissões. Ou enunciar perguntas sem respostas.

Corpos que, quando livres nos espaços, interagem entre si numa dança social cotidiana. Os corpos, por fim, perdem a sua própria

identidade. Corpos sem rostos, que apontam para a instabilidade dos sujeitos hoje, ou, ainda mais grave, provam mesmo a impossibilidade de se construir uma subjetividade.

Nesse ponto, podemos pensar em um tipo de imagem corporal específica, o retrato. Ele está presente nessa edição como caso particular, e mais sensível, da disciplina com os corpos. Pois, se esses genericamente nos remetem à nossa relação com o mundo físico, os rostos, e, consequentemente, os retratos, apontam para a fundamental questão das nossas identidades. Retornamos à pergunta elementar nesse mundo sem referências: afinal, quem somos nós?

Um tema secundário que podemos identificar é o espaço, pensado genericamente. Mas, assim como os corpos e os retratos respiram incertezas, os espaços aqui não são concretos e seguros.

Eles são fugidios, confusos, espirais sem fundo, labirintos estranhos e desorganizados, sombras. Em uma outra chave: espaços que não protegem, mas sim sugerem perigos e cuidados.

Essa leitura do conjunto de imagens aqui apresentado talvez reflita as instabilidades que o ser humano navega, especialmente no século XXI; turbilhão da aventura humana hoje, tornada mais instável, perigosa, e ao mesmo tempo potente. O dilema existencial contemporâneo, a ele os artistas, antenas da raça (Erza Pound), são mais sensíveis. Mas, não é esse o papel da arte? Antever e sentir, antecipar e encontrar caminhos de sobrevivência, de mais futuro, por mais que esse possa parecer um perigo ameaçador?

TONY QUEIROGA

João Costa História Cicatrizada 2023 @joaocostai

Mari SINHÁ 2023 @porcel4inn mo8213187@gmail.com

Samy OM Máscara 2022 @samylla_om

Victoria Shintomi A mulher cabeluda 2021 @victoriashintomi victoriashintomi8@gmail.com

Lou Sky Casulo 2014 @louskyart

G!SLANE Negrometro 2022 @gislaneart gislanearies@gmail.com

Isabella Maria Emanon 2023 @i.sabellamvp

Otaner La Cumbuca Espolíotica 2023 @otanerlacumbuca

João Coser

Série plastic filme - esse produto contém 2016 @joaovcoser artistjoaocoser@gmail.com

Gabriela Reolon Conversas 2023 @reolon_gabriela gabireoloncs@gmail.com

Luiza Fragoso Cicatrizes 2023 @luiza

Carolina Repetto Matéria Aquosa 2023 @carolrepetto

Giselly Costa Pesquisas de si 2023

@giselly_mc mc.giselly@gmail.com

Ev3rmind Investigação 2023 @ev3mind ev3rmind.art2@gmail.com

Handerson Apelfeler Puxada 2020 @handerson.apelfeler

Moraes Suco de Vitória 2023 @moraeseailusao

Valentina Bernardino Campos Ágora 2023 @valentina.bernardino

Giulia Guimarães Ressaca 2023 @giuliaraes carreira.giulia@gmail.com

Camila Feidman Há estes dias em que sabemos que madeira é só aquilo que existe antes das cinzas 2023 @milasorj camilafeidman@outlook.com

Vania Saraiva Espaços e memórias 2023 @lovezvanii vaniisaraiva@hotmail.com

Fe Lima Da natureza de nossos corpos outros 2023 @felimartes fernandalimagr@gmail.com

Nannan Cardoso Sem título 2022 @nannancardoso

Jô Rodrigues Sem título 2023 @jo.rodrigues_arts

Marcos Graminha Ensaio sobre a velhice - Série “balões” 2020 @emegrama marcos.graminha@gmail.com

Bruna Carvalho Somos passageiros 2023 @carvalho_brus brunas.carvalho99@gmail.com

Lyvia Nathalia Mapa 2023 @lyvia_nathalia borgeslyvia@gmail.com

Maria Rita Sem título 2022 @maroutir

Ana Raquel Reis Não é o mesmo dia 2023 @anarte98 @raquel_ana98

Cooper Refúgio 2023 @cooper_artes

Angela Santos Vão 2023 angis.alves@gmail.com

Deni Godiva Cotidiano 2023

@deni_godiva denigodiva@gmail.com

Suellen Motta Impermanências 2023

@sullimotta sullimotta@gmail.com

Ana Inacio

Sobre planos 2022

@atelier.ametista_sz

Viviane Carramaschi

Catálogo do espaço limiar 2023

@carramaschi.art

Amanda Nimsay

Sem título 2023

@amanda_nimsay

TEODORA é uma publicação dos projetos de extensão Teodora –Revista de Fotografia (DAV/Ufes) e Campo Experimental da Imagem (ART-UERJ), em parceria com o Laboratório ProDesign (DDI/Ufes).

Teodora – Revista de Fotografia

Projeto de extensão nº 3703

Pró-Reitoria de Extensão

Universidade Federal do Espírito Santo Departamento de Artes Visuais

Av. Fernando Ferrari, 514, Vitória, ES, 29075-910

Campo Experimental da Imagem

Projeto de extensão nº 5762

Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PR-3)

Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Instituto de Artes

Rua São Francisco Xavier, 524, 11º andar, bloco E Rio de Janeiro, RJ, 20550-013

ProDesign Ufes – Laboratório de Projetos de Design

Programa de extensão nº 3703

Pró-Reitoria de Extensão

Universidade Federal do Espírito Santo Departamento de Design

Av. Fernando Ferrari, 514

Vitória, ES, 29075-910 prodesign.ufes.br

Editores

Tom Boechat

Tony Queiroga

Projeto Gráfico

Ricardo Esteves

Assistente de edição Maria Catarina Atoé Capa Isabella Maria

Diagramação Jhonatan Medeiros

Esta revista foi composta com a família tipográfica Janone, projetada por Ricardo Esteves.

Impressa em papel Polem Natural 90g e Cartão Triplex 300g no segundo semestre de 2024.

www.revistateodora.com.br

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