Plantear catálogo

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PLANTEAR


Plantear. Plantear jardins. Plantear é desenhar ou fazer a planta de uma construção. Plantear é propor problemas ou questões para se buscar soluções. Caminhar e semear. Caminhar ciente da força da gravidade, física e dos fatos. Semear ciente da matéria e dos materiais. 2


PLANTEAR COLÓQUIO E EXPOSIÇÃO Andrea Lanna Anna Karina Bartolomeu Armando Queiroz Bárbara Mol Bruno Amarante Daisy Turrer Elisa Campos Hélio Fervenza

Isadora Bellavinha José Lara Liliza Mendes Lou de Resende Marcelo Cintra do Amaral Maria Ivone dos Santos Marina Câmara Mário Azevedo


Patricia Azevedo Patricia Franca-Huchet Roberto Bethônico Rodrigo Borges Rosa Maria Unda Souki Simone Cortesão Stéphane Huchet Thálita Motta Melo

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Plantear é o Colóquio e a Exposição, idealizados pelo grupo GRASSAR*, no Campus Cultural UFMG | Tiradentes e no SESI MINAS - Centro Cultural Yves Alves, na cidade de Tiradentes | MG. Colóquio: dias 01, 02 e 03 de junho de 2017 Exposição: de 01 a 30 de junho de 2017 O colóquio propõe o intercâmbio institucional e artístico como mote condutor do evento, através do compartilhamento das pesquisas dos participantes, com suas potenciais derivações e modalidades de reflexão e conhecimento. A ideia é promover diálogos e neste contexto, conviver é a palavra-chave. O que se deseja é constituir, na lida com a arte, um instigante espaço que advenha dessas interações, constatando e construindo vozes e escutas.


Anna Karina Bartolomeu Mestrado em Artes (1997) e Doutorado em Comunicação Social (2008), ambos pela UFMG. Atua como professora na área da Fotografia, no Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema, da Escola de Belas Artes da UFMG. Integra o grupo de pesquisa Poéticas da Experiência (PPG-COM/FAFICH/UFMG), onde desenvolve pesquisa sobre a potência poética e política do vestígio nos domínios da fotografia e do cinema. É uma das editoras da revista Devires – Cinema e Humanidades. Atualmente coordena o Campus Cultural UFMG em Tiradentes e é Superintendente Cultural da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade. Do vestígio ao avesso da imagem Quando sentimos o momento do perigo se aproximar, não podemos rejeitar impunemente o apelo que nos fazem as imagens do passado, como nos ensina Walter Benjamin. Pretendemos investigar como certa modalidade de imagem de arquivo – os retratos de identidade/identificação retomados na obra Imemorial, de Rosângela Rennó, e no filme 48, de Susana de Sousa Dias – pode acionar uma outra experiência para além de seu caráter funcional, fazendo ressurgir uma história dos vencidos. Por um lado, essas fotografias carregam os vestígios de uma cena produzida sob as regras do poder disciplinar; por outro, tais vestígios são retrabalhados na tessitura das obras e concorrem para uma maior ou menor abertura das imagens, que possa trazer à luz o seu avesso. 6


Armando Queiroz [Belém do Pará, 1968]. Mestrando da Escola de Belas Artes da UFMG. Detém-se conceitualmente às questões sociais, políticas, patrimoniais e às questões relacionadas à arte e à vida, tendo como referência a cidade e o outro. Em 2014, participou da 31ª Bienal de São Paulo. Em 2015, participa de exibição de videoarte no Pompidou-Metz (França) e do 19º Festival de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil e, em 2016, do AmazonianVideoArt em Glasgow (Escócia - UK). Vive e trabalha entre Belém e Belo Horizonte. Grassar-Perambular Grassar, alastrar-se, é também o que faz o andarilho. De ponta-cabeça, as coordenadas geográficas. O que procura aquele que perambula, um lagoinha para o café? Café preto, preto. Fonte de experiências esta comunicação caminha desejosa de encontros. Grassar, expandir-se. Ouvir o murmúrio suave de nossos pares ao pé do ouvido. Todos. Todos que partem e partilham sua parte, o comungar do sensível. Ainda penso em Serra Pelada e sua gente. As balas insistem em cair flamejantes, tocaias e perigos. Tiradentes. O ontem tão distante não se estabelece, o hoje-agora prestes a ser o amanhã se desfaz inconcluso. Faz-se mais do que necessário a escuta, a interlocução; suspensa manhã entre viadutos que passam e pessoas sonolentas encasacadas, vidros-vitrines de ônibus. Penso em Serra Pelada e sua gente. Penso na bruma cerrada que une e anula diferenças ente o oco do norte e o vazio do Curral del Rei.


Bárbara Mol [Ouro Preto, 1986]. Artista e pesquisadora. Doutoranda (2016-) e Mestre (2012-2014) em Artes pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA – UFMG), graduada pela mesma instituição, com habilitação em Desenho (2006-2010). Pesquisa o trabalho do artista atual e sua singularidade em relação às forças do passado e do futuro, em especial as manifestadas pela história da arte em ressonância aos acontecimentos globais, e ainda o trabalho do pesquisador em arte, do núcleo artístico, em conjunto com a história, filosofia, teoria de arte e práticas teorizadas. Poder e poder não: entre os interstícios das imagens. A partir da pesquisa do filósofo italiano Giorgio Agamben sobre a potência do pensamento, busca-se trabalhar essa noção redirecionando-a para os estudos acerca das imagens e dos objetos da arte, em sua atividade/passividade pensatividade/indeterminação, ou seja, articular a questão da potência e da ambivalência. Pretende-se,ainda, apresentar dois recentes trabalhos: Pressentimento n°1: Cultivar o emudecimento; Pressentimento n°2: Enxugar a espera, com os quais propõe-se pensar sobre um grande desastre sócio-ambiental brasileiro e as questões de poder e de poder não. O que significaria hoje vincular potência e imagem? Como o artista usa tal potência? Saberíamos colocá-las em questão, de modo crítico e atual? 8


Bruno Amarante Natural de Belo Horizonte, é professor do Curso de Artes Aplicadas com Ênfase em Cerâmica da Universidade Federal de São João del Rei UFSJ. Doutorando do Programa de Pós Graduação da Escola de Belas Artes da UFMG, Mestre em artes visuais (2013) e bacharel em escultura (2009) também pela Escola de Belas Artes da UFMG. Artista plástico, tem a cerâmica e suas extensões como suporte. Participou de salões nacionais e internacionais e exposições coletivas e individuais. Do objeto ao objeto: processos da pesquisa em arte. Proponho explanar sobre o processo criativo vinculado à pesquisa acadêmica, tendo como referência meus próprios estudos teóricos e trabalhos plásticos. Por uma visada metodológica,discutir os caminhos tomados no desenvolvimento da dissertação, quando o trabalho plástico era preexistente ao teórico, e analisar o atual momento, de doutoramento, no qual os motivos que levaram ao projeto surgiram anteriormente ao trabalho plástico. Tensões, diálogos, derivações e caminhos. Hélio Fervenza Artista visual, graduou-se na École des Arts Decoratifs de Strasbourg/França, Departamento de Artes (1989). Mestrado em Artes Plásticas na Université de Sciences Humaines de Strasbourg (1990) e doutorado em Artes Plásticas na Université de


Paris 1 Panthéon-Sorbonne, França (1995). É professor do Instituto de Artes da UFRGS e pesquisador do CNPq. Desenvolve propostas e atividades artísticas junto ao programa FPES - Perdidos no Espaço. Autor do livro O + é deserto, Documento Areal 3. Realiza regularmente exposições individuais e coletivas em diversos países desde o início dos anos oitenta: Central Galeria de Arte (São Paulo, exposição individual em 2015), Bienal de Yakutsk (Rússia, 2014) em parceria com Maria Ivone Dos Santos, Bienal de Veneza (Itália, 2013), Bienal de São Paulo (sala retrospectiva 1990-2012), Bienal do Mercosul, Museu da Gravura de Curitiba, Museu Victor Meirelles (Florianópolis), Pinacoteca de São Paulo, Bienal de Amsterdã (Holanda), Université de Paris I (França), Instituto Itaú Cultural (São Paulo, Belo Horizonte, Brasília), Centro Cultural del Ministerio de Educación y Cultura (Uruguai), FUNARTE (Rio de Janeiro), MARGS (Porto Alegre), Fundación DANAE (França, Espanha), Musée des Beaux-Arts de Verviers (Bélgica), Centro Cultural Recoleta (Argentina), MAC (São Paulo), Centro de Extension PUC (Chile), University of Wisconsin (EUA), Sociedade Nacional de Belas Artes (Portugal), Paço das Artes (São Paulo), Galeria Sztuki BWA (Polônia), Grand Palais (França), Biennale Internationale de Gravure (Eslovênia). Página pessoal: http://www.heliofervenza.net Formas da Apresentação: ruaquintal, dentrofora, pertolonge

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Em março de 2016, Maria Ivone dos Santos e eu realizamos em Porto Alegre uma exposiçãoinstalação chamada Local extremo. Nessa ocasião, apresentei o trabalho que venho realizando há alguns anos, intitulado ruaquintal (2005-2016), decorrente da pesquisa e do mapeamento das numerosas árvores frutíferas que se encontram nas calçadas do entor-


no de onde moro. Maria Ivone dos Santos chama de local extremo a ênfase no contato e na experiência do próximo, na qual se abrem e reverberam as conexões com o distante, experiência essa vivenciada como um espaçamento do pensamento. Local extremo pode ser então aquilo oriundo de um lugar extremamente distante que se revela no extremamente local, como uma árvore originária da China na esquina de nossa casa em Porto Alegre. Isadora Bellavinha Pesquisadora nas áreas de Literatura e Artes formada pela UNIRIO. Desenvolve investigações em torno da tradução intersemiótica, educação alternativa e desdobramentos do poético nas artes performáticas. Escreveu e dirigiu o espetáculo Antes que você parta pro teu baile, baseado na obra de Ana Cristina Cesar, e o curta Por onde se entra, a partir do estudo da paisagem na obra de Maria Gabriela Llansol. “se sou, por natureza, um nómada, por que planto árvores e arbustos mal chegar a um lugar, e depois desejo levantá-los do jardim, para levar comigo quem tem raízes ? ” Maria Gabriela Llansol

Maria Gabriela Llansol: por uma poética da clorofila Maria Gabriela Llansol, no risco de uma linguagem que se propõe a mudar a forma do romance “para que o romance não morra”, desafiando a “impostura da língua”, abre caminho para, no lugar da narratividade própria à escrita ocidental, se armar a


rebeldia da textualidade. Seu gesto quer descentrar o romance do “humano consumidor de social e poder”, e também, por essa via, aproximá-lo da natureza, da “clorofila – a matéria prima do poema”. Afastando-se da civilização da narrativa europeia, a escritora portuguesa, penetra o jardim – espaço revelador que celebra uma construção simultaneamente humana e natural. A presente pesquisa tem como objetivo percorrer essa simbiose entre homem, natureza e escrita manifesta pelas imagens llansonianas que alastram-se do papel-à tela-à cena-à voz. José Lara Itaúna, 1990, MG. Vive e trabalha em Belo Horizonte. Mestrando do Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFMG. Graduado em Artes Visuais, com habilitação em Pintura, pela mesma instituição. Participou de diversas mostras coletivas e apresentou três exposições individuais em Belo Horizonte: O que existe por dentro (ou por trás), 2013, Galeria de Arte da CEMIG / Incursões, 2015 - Museu Inimá de Paula / Diante da Matéria, 2015 - Galeria de Arte da COPASA. Saberes Ambientais na Obra de Robert Smithson

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As artes plásticas vêm sendo um local privilegiado para a experimentação e conjugação de saberes ambientais e metodologias provenientes de diversos outros campos do saber. Nesse sentido, a obra do artista norte americano Robert Smithson, realizada entre as décadas de 60 e 70, é bastante significativa, na medida em que incorpora procedimen-


tos científicos variados. Compreendendo seu processo artístico, é possível formular respostas possíveis para questionamentos de Cássio Hissa, referentes à forma pro­­­ blemática com a qual a ciência lida com o tema meio ambiente. Lou de Resende Maria Lúcia de Resende Chaves possui graduação em Psicologia (1975-1981), mestrado em Estudos Literários (1994-1996) e doutorado em Literatura Comparada (1997-2001) pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estágio na Université Paris VIII. Atua no exercício da escrita, psicanálise, literatura, dança e estética contemporânea. Criou, organizou e editou a revista Asa-Palavra de 2004 a 2013. Tem livro e vários ensaios publicados; apresentou diversos trabalhos cênicos. Em 2016, com o apoio da CAPES, finalizou seu estágio pós-doutoral no exterior em torno da obra de Maria Gabriela Llansol. Corpo Cidadão: ocupacão etistética de mundo [Uma estética enlaçada a uma ética, compondo um ambo facultador de ações, individuais e coletivas, vivificantes]. Diante do profundo mal-estar experienciado pelos seres vivos, faz-se necessário nos apropriarmos da ‘maleabilidade’, da ‘plasticidade’, inerentes à vida, presentes em nós e nos espaços que ocupamos. Somos esculpíveis, capazes de metamorfoses transformantes. Essa potência, esse ’dom’, penso, pode ‘fulgorizar’ o labor em prol de condições e conjunturas dignas, sustentáveis,


libertárias; gestos alternativos de nos habitarmos e ao planeta. Maria Gabriela Llansol atribui o sofrimento moderno à perda do anel entre “a liberdade de consciência e o dom poético”. Luis Fuganti, a partir de Nietzsche, propõe a “criação de si mesmo como obra de arte”. Artistas, pensadores, mundo afora, movimentam-se fundantes de ações nãoviciadas de organização social, cidadã, ecológica, consciente. Como ter clareza de qual participação nos cabe? Marcelo Cintra do Amaral Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (2015), tendo como tema a relação entre Produção do Espaço Urbano e Mobilidade Urbana. Recebeu o Prêmio UFMG de Teses 2016 na área de geografia. Possui graduação em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo/USP (1986) e especialização em Administração Pública (Fundação Santo André, 1992) e Desenvolvimento Gerencial (Faculdade de Economia e Administração/USP, 2000). Como pesquisador, realizou estudos em Paris, tendo como tema os ecobairros e políticas temporais. Possui variada produção bibliográfica, ministrou cursos de especialização na FUMEC e PUC Minas e trabalhou na Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S.A. – BHTRANS entre 1993 e 2017, em gestão e assessoria em planejamento de mobilidade urbana. Desde 2013, atua de forma voluntária nos movimentos sociais ligados à mobilidade urbana, especialmente à ciclopolítica e, recentemente, na criação da rede de ativismo mimético denominada desvelocidades. 14


Sonhemos outras Fedoras: a cidade contendo a velocidade Se o deslocamento de nosso corpo através do espaço-tempo da cidade é um gesto tendencialmente repetitivo e desprovido de desejo, atravessando o que Marc Augé denomina de não-lugares, não estaríamos cotidianamente vivendo um não-tempo? A experiência humana (e urbana) vem sendo fortemente marcada por espaços velozes, planteados para o automóvel e urdidos em complexos processos que afetaram nosso espaço e nosso imaginário. Como resultado, a rapidez dos deslocamentos nos aproximou de nossos destinos e nos afastou da cidade e da vida. Toda cidade, como a invisível Fedora de Ítalo Calvino, guarda em si as formas que teria podido tomar, se por uma razão ou outra, não tivesse se tornado o que é atualmente. Da mesma forma, o ato de se deslocar guarda temporalidades e o simples gesto de deambular sobrevive latente. A cidade pode e deve conter a velocidade, limitando-a! Assim, caminhar e pedalar podem (res)surgir ciclicamente nas cidades como ‘novas’ formas de rebeldia, recuperando os lugares e, consequentemente, o tempo e a convivialidade de Ivan Illich. Sonhemos outras Fedoras! Maria Ivone dos Santos Artista, professora e pesquisadora no Departamento de Artes Visuais e no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS, RS, Brasil. Doutora em Artes pela Universidade de Paris I Panthéon-Sorbonne, França (2003). Em sua prática artística explora distintas modalidades e âmbitos de recepção, através da elaboração de ins-


talações e intervenções, utilizando texto, fotografia e vídeo. O trabalho investigativo e artístico se desenvolve também em artigos, ensaios visuais e obras gráficas, publicadas em livros, revistas e jornais, assim como através da organização de plataformas, oficinas, encontros e seminários que problematizam a cidade, o espaço público e a memória. Coordena, desde 2002, o Programa Formas de Pensar a Escultura (FPES) – Perdidos no Espaço (UFRGS) e, desde 2003, a pesquisa As Extensões da Memória: a experiência artística e outros espaços. Codirige o grupo de pesquisa Veículos da Arte (CNPq). Outros extremos: encontros Encontrei o escultor Fedor I. Markov em 2014, em Yakutsk na Sibéria. Ele ta­lhava pequenas e delicadas figuras em presas de mamute, material raro que pertenceu a animais que existiam naquela região há 5.600 anos. Nossa comunicação era media da por Tamara, que traduzia as perguntas que fazíamos em francês para o yakut e vice-versa. A conversa truncada ia sendo suplementada por outras informações que colhíamos naquele lugar. Sabe-se que manadas inteiras de mamute jazem no subsolo gelado da Sibéria, que abriga também muitas outras riquezas, como os diamantes mais puros do mundo. Ao relatar esse encontro, exponho paradoxos da ocupação humana nesses contextos ambientais extremos: a aceleração das atividades de mineração, que contribui para as eminentes catástrofes anunciadas pelas transformações visíveis na paisagem; a manutenção de uma grande austeridade dos modos de vida de comunidades isoladas colabora de certa forma para a sobrevivência daquele frágil ecossistema. 16


Marina Câmara Pós-Doutoranda em Letras Modernas (USP); Doutora em Artes (EBA UFMG); Mestre em Comunicação e Artes (PUC MG); Pesquisadora, crítica e curadora independente. Tradutora de textos do italiano como o catálogo Marino Marini, do arcaísmo ao fim da forma (Fund. Iberê Camargo e Pinacoteca São Paulo), e Inobedientia, de Emanuele Coccia. Analista e parecerista em Artes Visuais do Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC MINC. Oggetti in meno, de Michelangelo Pistoletto, e a perda dispendiosa inerente aos processos Oggetti in meno foi uma profusão de obras realizadas e expostas por Michelangelo Pistoletto em seu próprio ateliê. O título, Objetos a menos, diz daqueles objetos que conseguimos subtrair da ordem do ideal, do possível. Eles são a infinidade de possibilidades, subtraídas da sua realização: Infinito menos 1, como resumiu o artista. Propomos pensar este trabalho de Pistoletto nos valendo na noção de dispêndio desenvolvida por Georges Bataille: se a arte é uma operação dispendiosa por excelência, por não fazer parte do grupo de atividades humanas que falseiam a ideia de acúmulo, queremos debater os Objetos a menos, de Pistoletto, enquanto um dispêndio dentro da lógica do dispêndio. Ou ainda: enquanto a parte maldita da arte que, por sua vez, já é, ela mesma, parte da parte maldita batailleana.


Mário Azevedo Artista plástico/visual e professor da Escola de Belas Artes da UFMG desde 1993, onde também fez Graduação e Mestrado em Poéticas Visuais; Doutorado em Teoria, História e Crítica de Arte pelo Instituto de Artes da UFRGS, com estágio na Université de Picardie Jules Verne, em Amiens, na França. Atualmente, está em Pós-Doutoamento na Escola de Belas Artes da UFRJ. Expõe suas obras desde o início dos anos 80, em individuais e coletivas, com várias premiações e aquisições importantes no Brasil. A pesquisa em arte como arte A arte possui formas específicas de discurso, que inclui teorizações ligadas às experimentações plástico-visuais de sua origem e às questões mais prementes que nos cercam, quando o processo é, muitas vezes, a própria obra em trabalho. Atravessamos uma alternância entre saber e não-saber, às voltas com códigos que se inventam à medida que se enunciam, estabelecendo uma ideia (vital) de jogo, cujas regras são inventadas enquanto decorre. A grande diferença da atividade artística é sua liberdade intrínseca: ela cria a si mesma, se desdobrando e se reconfigurando, indefinida e definidamente. A invenção transcorre com uma autonomia natural, desde o criador com seus materiais – sua produção – até o espectador, na preciosa fruição que assim comunga.

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Patricia Azevedo Artista, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve projetos audiovisuais colaborativos em diferentes mídias – fotografia, áudio, vídeo, performances – equacionando relações de linguagem, território e poder, trabalhando no espaço público da cidade ou da própria mídia. Localiza seus próprios trabalhos não somente nos artefatos | imagens que realiza, mas nas relações que se estabelecem entre as pessoas e no ato comunicativo em si. Jogos de distância e proximidade A pesquisa compreende uma prática artística colaborativa junto à artista inglesa Clare Charnley. Uma prática flexível que ocorre quando as artistas estão geograficamente à distância, ou juntas, presencialmente, considerando as duas situações espaciais como propulsoras de ações, obras e pesquisa. Ao mesmo tempo, essa prática é tomada como dispositivo disparador de reflexão crítica sobre a construção de espaços dialógicos na arte performativa, observando em particular o gesto de performar para a câmera. Rodrigo Borges [1974] Artista e professor da EBA-UFMG. Sua pesquisa plástica, nos campos do desenho e da instalação, tem como premissa o exercício de uma geometria que, em


sua frágil rigidez, pretende revelar um ambiente e envolver corpos. Doutorado em Artes — em conclusão — investiga a produção abstrata e geométrica, espacialmente ativa, envolvente e participativa, presente na obra de artistas brasileiros e sul-americanos de meados do século XX. Vive e trabalha em Belo Horizonte (MG). Bárbaro, selvagem e moderno O Brasil é selvagem. A Rússia é bárbara. As impressões de Euclides da Cunha sobre a Rússia do início do século XX configuram-se, aqui, como possibilidades de ampliar a compreensão das afinidades entre as manifestações construtivas na arte brasileira e na arte russa. Como o termo selvagem, a palavra ‘bárbaro’ guarda em si a ideia de resistência, força e coragem no embate do homem com a natureza, e também com a civilização ocidental. Tomando a marca bárbara e rude do povo eslavo como dado positivo, Euclides da Cunha afirma, em 1907, que os russos conseguiram transfigurar essa ‘barbárie’ de origem, em energia moderna através da arte. Tese audaciosa que, supomos, tomando a Rússia como modelo, Euclides sonhava para o Brasil. A Rússia também é selvagem. O Brasil também é bárbaro. Rosa Maria Unda Souki

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Caracas 1977. 1999: Instituto Universitario de Estudios Superiores de Artes Plásticas “Armando Reverón” Caracas. Mestrado EBA-UFMG [bolsa CAPES]. 2004 Premio Signatures, Paris. 2010 realiza a exposição individual Las casas de Federico . 2011 56° Salão de Arte


Contemporânea de Montrouge, obtém o Prêmio Especial do Júri. Apresentou a exposição Expropriation no Palais de Tokyo e participa como artista representante da França na I Biennale Itinérante de la Jeune Création Européenne 2011-2013. Em 2013 obtêm o prêmio de aquisição da Fondation Colas e é indicada para o prêmio Fonds Canson® pour l’Art et le Papier. Em 2013 o Institut Français de España apresenta a primeira parte de seu trabalho Esquina de Londres y Allende sobre a Casa Azul de Frida Kahlo, exposição individual auspiciada pelo Museu Frida Kahlo no México e pelo Ministério de Relações Exteriores da França. Em 2014 assina contrato com a Galerie Dukan e participa em diversas feiras de arte contemporânea em nível europeu: Pinta-Londres; Art-up-Lille, Just Mad-Madrid, YIA-Paris. Em 2016 é selecionada para o FID Prize. Em março de 2017 se apresenta com o projeto Song of the simple things na Feira Volta de Nova York. Mora em Belo Horizonte desde 2011, onde fixou sua residência e onde continua desenvolvendo seu trabalho plástico. Esquina de Londres e Allende: Uma metodologia de pesquisa e de criação na pintura A casa, a cotidianidade e a memória são temas centrais nas minhas obras, através das quais questiono a permanência dos espaços e dos objetos e a fugacidade da presença humana. Meu trabalho nasce de uma pesquisa plástica, iconográfica e histórica que se traduz numa elaboração contemporânea da pintura e no desenvolvimento de uma metodologia de criação própria inserida no contexto atual das artes visuais. O projeto Esquina de Londres e Allende, título que provém do endereço em Coyoacán (México) onde se encontrava a casa de Frida Kahlo, consiste num conjun-


to de obras criadas entre 2012 e 2017 composta por fichas, esboços, anotações, caderno de pesquisa, desenhos preparatórios e óleos. Estas obras constroem uma poética do espaço através da cronologia da casa e da vida de Frida Kahlo (1907 – 1954), a partir de uma pesquisa inédita sobre a história da residência da pintora. Para o Colóquio Plantear proponho uma apresentação sobre a metodologia de pesquisa e de criação utilizada neste projeto. Simone Cortesão Cineasta e pesquisadora. Doutora em Artes Visuais pela UERJ; Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG. Leciona e pesquisa teoria urbana, artes visuais, cinema e áreas tangenciais. Entre o cinema e as artes visuais, desenvolve trabalhos próprios com as interfaces no urbanismo,trabalhando principalmente com a criação de narrativas documentário-ficcionais e suas articulações entre memória e amnésia das cidades; história e ficção; paisagens entrópicas, geografia, geologia e economia. Exibiu filmes em festivais e mostras nacionais e internacionais como: Festival del Nuevo Cine Latinoamericano-Havana/Cuba, Festival Internacional de Cine de Viña del Mar – Chile, Mostra de Cinema de Tiradentes, Festival de Cinema de Gramado, FestCurtasBH, entre outros. Terras remotas

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As escavações e as travessias marítimas são processos formadores e deformadores do território,resultado das informações geológicas que rearranjam toda a superfície terres-


tre. Assim, a decomposição desses territórios ‘minados’, produzem um refluxo, as zonas de ressaca como sobras desses movimentos e da materialidade da economia. Nas travessias marítimas, os descobridores formaram o desenho das fronteiras. Os navios foram avançando e delimitando os mapas e territórios. Hoje, no intenso trânsito, os navios são por vezes imperceptíveis. Entre as partidas e chegadas em portos distantes são transpostas paisagens inteiras em alto mar. Assim, como processo metodológico de pensar, conhecer e infiltrar esses lugares blindados, proponho uma pesquisa em movimento que transita em diferentes níveis de informações, memórias, narrativas e imagens, das escatologias e ficções produzidas por uma ideia moderna de desenvolvimento e economia. Stéphane Huchet Professor Titular da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisador do CNPq. Membro do Comitê Brasileiro de História da Arte. Publicou vários livros e artigos. No prelo, na Editora 34, um ensaio crítico sobre a arte ativista e a perspectiva moral na tradição artística. Imagens do (re)começo: A pesquisa como “música ricercata” Problematizarei as possíveis manifestações do começar ou do recomeçar a partir de algumas imagens (plásticas e/ou musicais) que, enquanto crítico de arte, me parecem apresentar a complexidade dessa questão.


Artista e pesquisadora das artes cênicas, colabora enquanto diretora e performer no Coletivos Transborda, Quando Coisa e Temo Cia. Mestre em Artes pela UFMG, onde elabora sua pesquisa de doutoramento sobre carnavalização e performatividade. Desenvolve projetos de criação de figurino e cenografia para dança e teatro. Foi professora (20152016) das disciplinas de Cenografia, Figurino e Caracterização Cênica, nos cursos de Teatro e Dança do CEFART (FCS) e, atualmente, é professora na Universidade Federal de Ouro Preto, responsável pelas disciplinas de Cenografia, Figurino e Materiais Expressivos. e participante da equipe A-mostra.Lab e também do LEVE (UFMG/CNPQ) – Laboratório de Estudos e Vivências da Espacialidade. Sobrevivências, performance e carnavalização

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“Os vaga-lumes desapareceram todos ou eles sobrevivem apesar de tudo?” É a partir da retórica proposta por Didi-Huberman em A sobrevivência dos Vaga-lumes, que se desenvolve a articulação entre a teoria das sobrevivências, junto às práticas performativas coletivas de caráter emancipatório, festivo e de resistência aos poderes hegemônicos, em Belo Horizonte. Insurgências estético-políticas, movimentam e questionam as relações entre o global e o local, entre corpo e cidade e levantam outras ativações no modo de ser e estar no cotidiano urbano: a micro cartografia das intervenções infiltrações do movimento “Praia da Estação” e o subsequente processo de mobilização coletiva de carnavalização do espaço urbano e dos poderes ali instituídos.

Fotos : Patricia Franca-Huchet / Obra: Daisy Turrer - Decalques da Biblioteca Para-Luz, 2016/17

Thálita Motta Melo



PROGRAMA Dia 01 de junho de 2017 TARDE 14:00 ABERTURA 14:30 Rodrigo Borges 15:00 Marina Câmara 15:30 Bruno Amarante 16:00 Rosa Souki 16:30 Mário Azevedo 17:00 Discussões DIA 02 de junho MANHÃ 09:30 Maria Ivone dos Santos 10:00 Simone Cortesão 10:30 José Lara

11:00 Isadora Belavinha Comitê Científico e de Organização 11:30 Discussões Andrea Lanna Daisy Turrer Elisa Campos 14:00 Thálita Motta Melo Fernanda Goulart 14:30 Hélio Fervenza Liliza Mendes 15:00 Bárbara Mol 15:30 Marcelo Cintra do Amaral Patricia Franca-Huchet Roberto Bethônico 16:00 Lou de Resende Rodrigo Borges Coelho 16:30 Discussões TARDE

Dia 03 de junho MANHÃ 09:30 Patricia Azevedo 10:00 Armando Queiroz 10:30 Anna Karina Bartolomeu 11:00 Stéphane Huchet 11:30 Discussões


GRASSAR


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