Vamos falar sobre gênero?

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vamos falar sobre identidade de gĂŞnero?


OS PAPÉIS DE GÊNERO SÃO DETERMINADOS POR NORMAS CULTURAIS Entenda a diferença entre gênero e sexo! O termo sexo se refere a diferenças biológicas entre os indivíduos machos e fêmeas. As diferenças biológicas são: 1. Órgãos genitais. 2. Presença ou ausência do cromossomo Y.

Pessoas com diferentes combinações desses fatores, que têm características pertencentes aos dois sexos chamam-se intersexos.

Já o termo gênero refere-se às diferenças socialmente e culturalmente construídas entre homens e mulheres. Ou seja, noções como as de que existem profissões, roupas, trejeitos masculinos ou femininos que dizem respeito a uma representação sociocultural do que é ser um homem ou uma mulher. Digamos que uma menina de cinco anos vá à loja de brinquedos com os pais. Chegando lá, interessa-se por um brinquedo designado como ‘de menino’. Por um carrinho azul, por exemplo.

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Os pais, ao saberem do desejo da filha, passam a tentar convencer ela a gostar, e de pedir, um brinquedo ‘feminino’, no fim a obrigando a levar uma boneca. Ou então, digamos que você, ao visitar uma padaria para comprar algo, ouça de outro cliente que seu filho chora como uma ‘menininha’, ou que sua filha, por utilizar roupas culturalmente determinadas como masculinas, ‘parece um homem’. Todas essas situações apresentadas dizem respeito a noção de gênero no que atribuem características específicas a um determinado sexo. Os casos acima denotam também situações de discriminação de gênero nas quais um sujeito contrai prejuízos por pertencer a um gênero específico, ou ainda, por não corresponder em gênero ao sexo da maneira estipulada pela comunidade. Esse tipo de discriminação pode causar grande sofrimento à criança, sendo necessário, com fins de promoção de saúde e de direitos humanos, enfrentá-lo nos diferentes contextos em que ela se insere.

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A orientação sexual diz respeito a atração sexual e/ou afetiva que uma determinada pessoa sente, involuntariamente, com relação a outra(s) pessoas. Comumente nos referimos a três orientações sexuais: A pessoa que sente-se atraída afetivo-sexualmente por pessoas do sexo/gênero oposto é chamada de heterossexual. Alguém que sinta-se atraída por alguém do mesmo sexo/gênero é chamada de homossexual. E, por fim, a quem sente-se atraído tanto pelo sexo e/ou gênero masculino e feminino se convencionou a chamar de bissexual.

CURIOSIDADE! Até 1990, a comunidade médica utilizava o termo ‘homossexualismo’, cujo sufixo -ismo, nesse caso, denota doença. Após muita pressão social, a OMS retirou da Classificação Internacional de Doenças (CID) o termo, retificando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) em 1999 na sua resolução nº 001/99, resolve que o profissional de psicologia não pode ofertar entre os seus serviços a preconceituosa “cura gay”, o que é um avanço na legislação garantindo os direitos da comunidade LGBT. No entanto, em 2014, a psicóloga Marisa Lobo teve seu registro cassado pelo Conselho Regional de Psicologia do 3


Paraná, por, na ilegalidade, promover a “cura gay”. O CFP, em resposta, de maneira corporativista, julgou o registro da psicóloga como não passível de cassação, o que gerou grande indignação.

O QUE É IDENTIDADE DE GÊNERO? É a percepção que a pessoa tem de si mesma sobre o gênero (masculino, feminino ou a combinação dos dois) independentemente do sexo biológico. Ou seja, é como a pessoa se identifica e como deseja ser reconhecida. Explicando... Transexual é a pessoa que em determinado momento da vida percebe que sua identidade de gênero não é a mesma que o sexo biológico. Ela pode recorrer à medicina para fazer mudanças corporais de acordo com o gênero ao qual ela se identifica. Travesti é a pessoa que nasce com o sexo biológico masculino, mas assume papel de gênero diferente daquele imposto pela sociedade, se identificando como mulher. Em geral não desejam fazer a mudança de sexo. Cisgênero são aquelas pessoas que têm a identidade de gênero correspondente ao sexo biológico. Ou seja, uma pessoa do sexo feminino que se identifica com o gênero feminino e uma pessoa do sexo masculino que se identifica com o gênero masculino. 4


Transgênero são as pessoas que não se identificam com o sexo biológico e decidem viver de acordo com a sua identidade de gênero. Podem transitar entre os gêneros como travestis, drag queens/kings, crossdressers e não necessariamente querem fazer modificações corporais ou se identificam como transexuais. Drag Queen é a pessoa do sexo masculino que se apresenta de forma artística e /ou profissional com roupas do gênero feminino. Drag King é a pessoa do sexo feminino que se apresenta de forma artística e/ou profisional com roupas do gênero masculino. Crossdresser é a pessoa que quer vivenciar momentaneamente a experiência da troca de papéis de gênero e faz isso vestindo-se com roupas do gênero oposto ao seu.

Mulher trans ou transmulher é a pessoa que nasceu com o sexo biológico masculino, mas se identifica como mulher, ou seja, sua identidade de gênero é feminina. Homen trans ou transhomem é a pessoa que nasceu com o sexo biológico feminino, mas se identifica como homem, ou seja, sua identidade de gênero é masculina.

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Retomando... É muito importante ressaltar que ser trans não é o mesmo que ser gay ou lésbica. Ser trans está relacionado com a identidade de gênero da pessoa, ou seja, a forma como ela se identifica com o mundo e como ela se sente. Ser homossexual está relacionado com a orientação sexual, que é com quem a pessoa escolhe para namorar e se relacionar de forma afetiva e/ou sexual. Uma coisa é completamente diferente da outra. Orientação sexual ≠ identidade de gênero

Transexual é o mesmo que transgênero? Transexuais são trangêneros, mas não são todas as pessoas transgêneras que se identificam como transexuais ou modificam o nome ou o corpo. Transgêneros não desejam necessariamente que o corpo ou que a forma de se vestir se pareça com o gênero ao qual elas se identificam.

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Identidade de Gênero Como você, na sua mente, pensa sobre você mesmo e se identifica, independentemente do sexo biológico.

Orientação Afetivo-sexual Refere-se a quem você é fisicamente e emocionamente atraído, baseado na relação entre o seu sexo/gênero e o da outra pessoa.

Sexo Biológico Refere-se as características físicas sexuais com as quais você nasce, incluindo genitais, formato do corpo, voz, hormônios, cromossomos, etc.

Expressão de Gênero É a maneira como você demonstra seu gênero, através da sua forma de agir. vestir, se comportar e interagir.

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Cisgênero - Transgênero Não-binário

Heterossexual Bissexual - Homossexual Assexual

Gênero não é binário. E na maioria dos casos, ninguém é 100% uma coisa só. Somos um pouquinho disso e daquilo. O gráfico não é capaz de definir todas as possibilidades que a sexualidade humana oferece. A melhor forma de definir alguém é perguntando como a pessa se sente. É isso que conta.

Fêmea - Intersex - Macho

Feminino - Andrógino Masculino

* Baseado no The Genderbread itspronouncedmetrosexual.com

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VOCÊ SABIA? O Brasil é o país com mais mortes de transexuais no mundo! Entre 2008 e 2013 ocorreram 486 mortes, o que é quatro vezes mais do que o segundo lugar (México). Para piorar, esse número retrata apenas os casos reportados, ou seja, o número de mortes deve ser ainda maior considerando, também, que em alguns países não existem dados sobre esse tipo de crime. Dessa forma, a excpectativa de vida de uma pessoa trans é de 30 anos, enquanto que do resto da população é de 74,6 anos!

IMPORTANTE! Travesti é um termo feminino, portanto usa-se o artigo A antes de travesti. A Travesti

O Travesti

O termo Opção Sexual não é correto por não se tratar de uma escolha. O certo é dizer Orientação Sexual. Orientação Sexual

Opção Sexual

Você não deve se referir a uma mulher trans como ELE e nem a um homem trans como ELA!!! 9


PROCESSO TRANSEXUALIZADOR, NOME SOCIAL, REGISTRO CIVIL O Processo Transexualizador Processo transexualizador não é simplesmente a realização de uma cirurgia. Existem vários critérios a serem seguidos. A finalidade do processo é conseguir permissão para realizar a Cirurgia de Redesignação Sexual (termo médico) ou, recentemente chamada de, Cirurgia de Afirmação de Sexo. Esta é uma cirurgia plástica onde transforma-se o pênis em vagina ou a vagina em pênis para que o indivíduo sinta-se confortável com sua genitália, uma vez que não se identifica com seu sexo biológico. Em 1997 o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamenta que estas cirurgias podem ser realizadas de forma experimental em Hospitais Universitários. Além disso, o SUS (Sistema Único de Saúde) oferece suporte para as travestis e os/as transexuais desde agosto de 2008. A idade mínima estabelecida pelo Ministério da Saúde é de 18 anos para procedimentos ambulatoriais e de 21 anos para procedimentos cirúrgicos. Já as requisições legais para acontecer o processo, além da maioridade, é o acompanhamento psicoterápico de no mínimo 2 anos, um laudo psicológico ou psiquiátrico favorável e também um diagnóstico médico de transexualidade. Existem também tratamentos hormonais que são necessários principalmente para homens transexuais e muitas vezes os médicos

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solicitam que a pessoa viva um período de teste em seu papel social de gênero, ou seja, se a pessoa é uma mulher transexual, ela tem que viver socialmente como mulher para que os médicos possam avaliar e decidir se o laudo será favorável ou não. Quando todos os pré-requisitos foram cumpridos, logo antes da cirurgia a equipe multiprofissional do SUS acompanha a pessoa e realiza uma avaliação, oferecendo uma assistência integral durante o processo. Felizmente, a portaria de agosto de 2008 garante o atendimento especializado reconhecido pelo SUS para a população trans para que ocorra uma melhoria de sua qualidade de vida.

A cirurgia é procurada não só pelo desconforto com a genitália como para que o registro civil possa ser alterado, como veremos a seguir. Na prática, o processo é extremamente burocrático e apenas 4 hospitais no Brasil realizam a cirurgia, o que gera filas de espera de até seis anos! De agosto de 2008 a setembro de 2014 foram realizados 186 procedimentos de Redesignação Sexual 1º Tempo (a troca de genitais) e 45 cirurgias de Redesignação Sexual 2º Tempo, que são procedimentos para o alongamento das cordas vocais e redução do pomo de adão.

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O longo processo burocrático para a concessão da transgenitalização, por envolver um laudo psiquiátrico de transtorno de identidade de gênero, causa muito desgaste emocional. O relato de Israel, mulher trans, nos permite perceber a frustração causada pelo processo: “‘Você faz o acompanhamento por dois anos, e no final eles vão dizer que você é uma pessoa louca, que você precisa disso para viver’, Israel explica. ‘Aqui no Brasil, eles é que decidem se você faz a cirurgia.’” (“Desvairadas”, 2014, escrito por Red Nedel, p. 25)

Por conta desse entrave, quem tem condições de pagar pelo procedimento em hospitais privados, geralmente o faz, por preços altíssimos. Nome Social e Registro Civil "Quem não é trans talvez não consiga entender o constrangimento de ter que responder pelo nome de batismo no meio de toda a gente, levantar da cadeira da sala de espera e acompanhar a enfermeira para a consulta, sob olhares de deboche e estranhamento. Por medo de situações como esta, algumas amigas de Kelly evitaram ir ao posto de saúde – e, dessa forma, morreram." (Red Nedel, 2014, p.18)

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Sabe-se que o nome é a principal identificação de uma pessoa juntamente com sua aparência. As pessoas travestis e transexuais, por possuírem uma identidade de gênero diferente daquela que lhes foi atribuída quando nasceu, optam por serem chamadas ou até trocar seus nomes para um nome que corresponda a sua identidade. No Brasil ainda não há uma lei que permita a troca de nome e de sexo no registro civil, sendo assim, muitas dessas pessoas têm de entrar na justiça para poder realizar a alteração e a decisão depende do(a) juiz(a). Muitas vezes a decisão é realizada com base num laudo médico, terapia hormonal ou cirurgia (processo transexualizador). Em alguns municípios e estados existem leis que permitem a troca do nome sem complicações.

NOTÍCIAS! Neste ano (2015), foi aprovada uma resolução (Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos LGBT) que determina regras para o registro de travestis e transexuais em cursos e escolas. A partir desta resolução todos os documentos e formulários das instituições educacionais devem registrar a pessoa por seu nome social. O que é um grande avanço para a comunidade LGBT.

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CURIOSIDADES - No ENEM de 2014 candidatos transexuais e travestis puderam solicitar o uso do nome social para a realização da prova e 102 pessoas se inscreveram! Já em 2015 esse número cresceu para 278, tendo um aumento de 172%. - O dia 29 de Janeiro é o dia da visibilidade Trans. - Em 2015 o ministério da saúde anunciou que pessoas trans poderiam emitir o cartão do SUS com o nome social, garantindo maior acesso à rede pública de saúde! - Infelizmente, pelo SUS, a cirurgia de afirmação de sexo está disponível apenas para mulheres trans.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES Para Freud, os sujeitos ao nascerem não têm como um destino uma orientação sexual específica pré-configurada, como, por exemplo a heterossexualidade. Para ele a mente tem um ponto de partida bissexual que é modelado através da repressão. Tanto o sexo quanto o gênero, para a psicanálise, são plásticos, ou seja, podem tomar várias formas e são sempre singulares, únicos na sua performance.

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Para o psicanalista Erik Erikson, é em torno de 3 a 5 anos em que as crianças começam experimentar papéis de gênero, através do faz-de-conta. Nessa fase é importante que se deixe a criança imaginar. A repressão da criatividade pode levar a sentimentos de vergonha para com suas aspirações, prejudicando o desenvolvimento saudável, causando sofrimento e confusão. Este autor, defende em sua teoria psicossocial do desenvolvimento, que o ser humano passa por oito fases no seu desenvolvimento, marcadas por conflitos que culminam em uma crise cuja a superação proporciona uma progressão psicológica. Caso o progresso não aconteça, o desenvolvimento psicossocial ficaria afetado negativamente. Na quarta fase do desenvolvimento, que seria dos 5 aos 13 anos, é chamado o período de latência. Este é o período escolar, onde a criança começa a sedimentar a confiança, autonomia e iniciativa, por conta disso e da demanda escolar a criança começa a ser responsável, esforçada e a ter a capacidade de prever uma gratificação. Se os pais e professores não reforçarem as posturas de responsabilidade e esforço da criança estabelecem-se sentimentos de inferioridade e inadequação nesta criança.

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Na teoria psicossexual de Freud esta idade também é chamada de período de latência, onde o indivíduo começa a investir sua libido na escola e menos em si mesmo, sendo uma fase muito importante na constituição da identidade (vide "transfobia na escola"). É aproximadamente, a partir dos 13 anos (e até o fim da adolescência), com a puberdade e suas grandes mudanças corporais que a identidade de gênero assume um caráter mais estável, na teoria de Erikson. O preconceito que muitas pessoas sofrem ao se identificarem a um gênero diferente do seu sexo causa grande impacto negativo na autoestima, podendo levar a pessoa a um sofrimento agudo. É importante o apoio de sua comunidade e de pessoas próximas nesse processo. O acolhimento da diferença e o reconhecimento da identidade (ver também Nome Social) é crucial nesse momento, como em todos os outros.

“Se um pai ou mãe percebe que a criança é assim, tem que oferecer apoio. Eu já tentei suicídio. Meus pais sabiam, mas não tiveram a sabedoria de conversar comigo e dizer que era normal. Então se tu tens um filho gay, apoia ele, ajuda ele. Tem que ter uma proteção em cima dele.” (“Desvairadas”, 2014, escrito por Red Nedel, p. 27)

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Transfobia na escola Quando falamos sobre transgeneridade na infância, não podemos deixar de perceber que essa criança, ao passar pelo processo de formação de identidade, está frequentando uma escola que, na maioria das vezes, não possibilita esse desenvolvimento. Mesmo quando as escolas como um todo tentam praticar a inclusão, elas são atravessadas por pensamentos que não possibilitam a pluralidade na escola, o preconceito. Ou seja, quando os pressupostos cognitivos e afetivos criados pelo preconceito não são avaliados e reconsiderados, a exclusão pode ocorrer da mesma forma impedindo a liberdade de gênero e sexual que a escola com as melhores intenções tenta garantir. Visto que, são os profissionais da educação que são os responsáveis por dar condições de qualidade ao processo ensino-aprendizagem, a transfobia na escola torna-se uma violência institucional. Dessa forma, é de extrema importância que este profissional entenda sobre gênero e não pratique a transfobia, pois esses atos poderão perpetuar na criança traumas que dificilmente serão esquecidos já que é nessa fase do desenvolvimento psicossocial que, se os sentimentos e esforços da criança forem desvalorizados, poderão provocar sentimentos de inferioridade inapropriados a qualquer criança.

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Esta cartilha foi desenvolvida por estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina, do Curso de Graduação em Psicologia para a disciplina de Processos Psicológicos Básicos na Infância, ministrada pela Professora Doutora Carolina Baptista Menezes. Autores: André Luís Lahorgue Lopes Beatris Cristina Badia Luana Trevisan Luiz Carlos Espindola Reginaldo Martins Referências* * Para acessar as Referências você deve baixar o aplicativo "QR Code Reader" no seu celular. Abra o aplicativo e aponte o leitor para o código. Ele perguntará se você permite baixar um arquivo. Aceite! As referências estarão em formato PDF, onde você pode simplesmente clicar nos links para abri-los!

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