Evandro Teixeira: exercício

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Evandro Teixeira Imagens que marcaram ĂŠpoca

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Grandes fotĂłgrafos nacionais


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ários foram os momentos históricos da vida brasileira capturados pelas lentes do fotojornalista Evandro Teixeira. São de sua autoria imagens icônicas de protestos contra o Regime Militar, em especial, a Passeata dos 100 Mil, em 1968. Mas se suas câmeras estavam voltadas para as manifestações de resistência à Ditadura, também estiveram apontadas para os generais. Ele registrou o velório de todos os ditadores. Pelo mundo, cobriu guerras, Olimpíadas, Copas do Mundo, a queda da Ditadura Militar chilena, o funeral do poeta Pablo Neruda – apontado pelo fotógrafo como o momento mais marcante dos quase 60 anos de carreira do fotógrafo baiano, nascido em 1935.

Versátil, capaz de transitar por diversos campos da cobertura jornalística, Evandro foi fotógrafo do Jornal do Brasil durante 47 anos. Conquistou prêmios nacionais e internacionais e suas imagens integram acervos de importantes instituições de arte (Masp e Belas Artes de Zurique). Publicou livros de fotografia e realizou exposições no Brasil e no exterior. O fotógrafo estará em Natal nesta semana para abrir o seminário “História e Memória da Fotografia Potiguar”, que acontece entre os dias 18 e 20 de agosto, no Teatro de Cultura Popular (Tirol). Na ocasião, o fotojornalista ministrará a palestra “A fotografia no contexto da história”. O papo começa às 19h e a entrada é gratuita.

Policiais perseguindo manifestante durante Regime militar.

Evandro Teixeira

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Segundo o Evandro, o papo será informal, com cerca de duas horas de duração e exibição de bastantes imagens. “Vou conversar sobre a trajetória da fotografia no decorrer da história. Mostrarei algumas das minhas fotos mostrando o contexto em que elas foram feitas”, diz Teixeira por telefone ao VIVER. Dentre as imagens que serão exibidas, estão os registros do golpe militar no Chile, no Brasil, a guerra no Vietnã, a visita a Canudos depois de 100 anos da revolta. “Cheguei a morar quatro anos em Canudos para concretizar o ensaio sobre a região”. O trabalho com os sobreviventes de Canudos aconteceu durante os anos 1990 e resultou no livro “Canudos, 100 anos”, publicado em 1999.

Ainda em excursões pelo Nordeste, em 2010 Evandro visitou o sertão potiguar para cobrir a “Pega de Boi no Mato”, à convite de Canindé Soares. A visita resultou no ensaio “Missa do Vaqueiro”. “Vou mostrar em Natal algumas imagens desse ensaio que fiz em Acari. Nunca expus esse trabalho no país”, conta. “O RN é muito rico de assuntos para fotografar. É um lugar bonito para fazer imagens”. Entre os momentos marcantes da carreira do fotojornalista figuram a chegada do general Castello Branco ao Forte de Copacabana, durante o golpe militar de 1964, 4

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Nordestino alimenta cabras na região de Canudos.


Chico, Tom e Vinicius, 1979.

a repressão aos movimentos de resistência, a queda do governo Salvador Allende, no Chile, além de muitos outros acontecimentos histórico no campo esportivo e cultural – é dele as imagens de Carlos Drummond de Andrade sentado no chão de casa, o do encontro descontraído dos amigos Tom Jobim, Vinícius de Morais e Chico Buarque deitados no chão lado a lado. Mas se for para apontar sua a cobertura mais especial, esta é a do velório do poeta chileno, prêmio Nobel de literatura, Pablo Neruda, em 1973. “Era um homem muito importante, querido. As circunstâncias era muito perigosas. Foi algo muito chocante pra mim. Aquilo me emocionou. Fui o único a fotografar seu corpo”, lembra o Teixeira, que para conseguir acompanhar a família no velório, precisou driblar um pelotão de soldados armados de um dos regimes militares mais sangrentos da América Latina. Atento as mudanças tecnológicas que afetaram o trabalho fotojornalístico, Evandro vê com bons olhos as transformações em seu campo de atuação. O que o preocupa é o fechamento de tantos jornais. “O mundo está mais moderno. Em 2000, para mandar uma foto para o jornal eu levava nove horas. Hoje não levo um minuto”, conta.

Evandro Teixeira

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“O trabalho do fotógrafo é o mesmo. O problema que vejo é que muitos jornais fecharam. Hoje são poucas publicações para investir na cobertura de acontecimentos políticos, culturais, de relevância histórica para o país. Temos a internet. A mídia está lá. Mas a imprensa não é mais aquela”, comenta Teixeira, que, octogenário, segue inquieto e firme, observando a vida brasileira e pronto para o próximo clique.

A piscada de Ayrton Senna.

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Evandro Teixeira

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