DiĂĄrio do Nordeste
¤ FORTALEZA, CEARà ¤ quarta-feira, 11 DE FEVEREIRO DE 2015 ¤
o qUiNzE {1915+2015}
LEMBRANÇAS
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Antes , nĂŁo apenas os animais morriam nas secas prolongadas. Hoje, apenas eles morrem, mas as marcas ficaram na memĂłria {FOTO: FABIANE DE PAULA}
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seca. Mesmo morando no Rio de Janeiro, pelo menos uma ntramos no que promete ser o quarto ano de seca vez por ano, enquanto viveu, Rachel passava uma boa temseguido. Cem anos depois d’O Quinze, nĂŁo se vĂŞ porada na fazenda, sempre no “BĂŞ-erre-o brĂłâ€?, como enfamais gente deixar suas casas no sertĂŁo para viajar de passar pelo Campo de Concentração do Alagadiço, que aglome- tiza Manoel Dias Tavares, de 71 anos, morador de “NĂŁo me atrĂĄs de sustento no Norte ou Sudeste do PaĂs. Ain- rava retirantes sem garantir-lhes o mĂnimo ao mesmo tempo que deixesâ€? desde 1954, quando foi construĂda. IrmĂŁ mais nova e da assim, a comparação entre os quinzes ĂŠ inevitĂĄ- escondia a misĂŠria dos habitantes da Capital. herdeira de Rachel, Maria Luiza, a Izinha, ainda mantĂŠm essa vel na voz do sertanejo que pinça da memĂłria qualquer Rachel dĂĄ visibilidade Ă realidade do povo nordestino, tradição, aos 88 anos, e nos fala sobre isso, por telefone, de histĂłria ouvida dos pais ou avĂłs sobre aquele tempo. De que ainda hoje guarda vestĂgios de descaso e opressĂŁo. A prin- sua casa, no Rio de Janeiro, sem esconder a ansiedade pela tĂŁo grande, uma dor de ausĂŞncia deixou 1915 para po- cipal medida de entĂŁo para evitar o ĂŞxodo rural ĂŠ a construção prĂłxima visita. “‘NĂŁo me deixes’ ĂŠ a minha casa do coração, voar o imaginĂĄrio e virar comparação para as secas se- de açudes e barragens, que reĂşne a população nas chamadas ĂŠ onde eu me sinto bem, tanto faz se estĂĄ seco ou chovendoâ€?. guintes. HĂĄ quem diga que secura como a de hoje nunca “frentes de trabalhoâ€?, nas quais o ex-vaqueiro Chico Bento vai Seu sentimento em relação Ă Seca do Quinze? “Irritação! Pasviu. AtĂŠ os olhos d’ågua que esperançavam os retirantes parar na tentativa desesperada de dar de comer Ă famĂlia. A saram cem anos e as condiçþes dos sertanejos sĂŁo as mesmas. ďŹ ndaram, e mesmo as açþes de convivĂŞncia com a estia- obra transmite a ideia do incĂ´modo da migração nordestina. SĂł nĂŁo tem mais os retirantesâ€?. gem esbarram na devastação e nas mudanças climĂĄticas. O sofrimento da famĂlia de Chico Bento ĂŠ o de todas as faMas o mundo mudou nestes cem anos. O pequeno proO verbo do sertĂŁo em tempo de seca continua o mesmo mĂlias de retirantes que encontram no deslocamento a Ăşnica dutor rural que permanece em sua terra nĂŁo deixa de ter antede cem anos atrĂĄs: escapar. Da fome, da falta de polĂticas saĂda para a situação de penĂşria em que vivem. A dor por na parabĂłlica, TV, telefone celular, acesso Ă Internet. O cavalo efetivas, da invisibilidade. deixar parentes evidencia a força dos personagens, mesmo foi substituĂdo pela moto e quase jĂĄ nĂŁo ĂŠ necessĂĄrio percorrer A Seca do Quinze ganhou projeção na literatura de em momentos de extremo sofrimento. A hostilidade da seca quilĂ´metros com uma lata d’ågua na cabeça. A cisterna estĂĄ ĂŠ mostrada em contraste com os fortes laços de afeto ao serRachel de Queiroz. A obra mostra a agonia de quem quer lĂĄ, nĂŁo sĂł para as necessidades bĂĄsicas, mas para a pequena tĂŁo, que provocam saudade nos que partem porque quem produção que garanta comida no prato. O Bolsa FamĂlia e apolutar e nĂŁo pode. É ver gado emagrecer e roça nĂŁo segurar para saber que a melhor decisĂŁo ĂŠ se retirar. Essa mideixa a terra, o faz com o pensamento no retorno. sentadoria rural, tambĂŠm. Algumas paisagens, porĂŠm, contigração como destino possĂvel se aproxima da prĂłpria vida NĂŁo a toa, “NĂŁo me deixesâ€? - fazenda herdada por nuam as mesmas, como o chĂŁo rachado e a Caatinga que perde de Rachel, cuja famĂlia foi obrigada a deixar a terra em Rachel de Queiroz, em QuixadĂĄ - simboliza o desejo do as folhas. Uma coisa ĂŠ fato: as memĂłrias 1917, rumo ao Rio de Janeiro. Com a linguagem simples das secas insistem no pensamento do do sertanejo, “O Quinzeâ€? expĂľe a tumultuada relação dos sertanejo, que valoriza o que tem primos Conceição e Vicente e a saga da famĂlia de Chico e nunca perde a esperança. É o Bento na viagem de QuixadĂĄ a Fortaleza. Ao ďŹ nal, a espeque nos traz essa trilogia, que rança de um futuro melhor leva a famĂlia de Chico Bento a começa hoje e vai atĂŠ a prĂłxiSĂŁo Paulo, nĂŁo sem antes sofrer de fome e viver a tristeza ma sexta-feira.
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