Pseudônimo — Beatriz Interaminense
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense
Vacilei segurando o pedaço de papel em minhas mãos. De repente, uma onda de vertigem me atingiu. Quem colocou isso no meu armário? Ele estava ali, em cima do meu livro de biologia quando fui pegar os materiais da próxima aula. Um pequeno papel de caderno dobrado em duas partes. Abri, curiosa para saber do que se tratava. Será que, acidentalmente, eu mesma teria deixado ele ali? Não... meu armário era impecavelmente organizado, sabia exatamente tudo que havia ali, inclusive o muffin que eu escondia atrás da pilha de livros para comer antes da aula de educação física. Abri o papel e me deparei com versos escritos à mão.
— Ei, Vic! — Alguém me chamou. Amassei rapidamente o papel e joguei dentro do armário junto ao bolinho de muffin escondido. — Oi? — virei-me e dei de cara com Alê, minha amiga mais próxima da escola, ou melhor, minha amiga mais próxima da vida. — Vamos entregar nossas confirmações da viagem na coordenação? 3
Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Ah... S-sim! Vamos sim. — eu disse ainda meio confusa, enquanto pegava o documento que meus pais assinaram na noite anterior (depois de uma semana de chantagem emocional aguda). Qual é! Era a viagem mais importante do ano, era o momento mais esperado por todo mundo! Era a única oportunidade de sair daquela prisão e conhecer o famoso Camping Park Hotel. A maioria dos alunos iam àquele passeio. Era como um rito de passagem para o último ano do colégio e iria acontecer na semana seguinte. Mas eu não conseguia pensar naquilo agora... queria ler aquele bilhete de novo, estudar a caligrafia e investigar quem havia escrito, porque, modéstia à parte, eu sou uma ótima investigadora. Além de ser extremamente curiosa, vale lembrar. — Ihhhh. Te conheço! Desembucha logo. — disse Alê enquanto caminhávamos em direção à coordenação. Eu perdi a seriedade e comecei a rir. De fato, ela me conhecia melhor do que eu mesma, era impossível esconder algo daquela garota por mais de um minuto! O bolinho de muffin, por sinal, era a única coisa que eu conseguia esconder do seu estômago inquieto. — Alê, você tem que me prometer que não vai gritar, nem vai fazer nenhum alarde! — Eu prometo! — Promete...? — ela sabia do que eu estava falando. — Prometo sob os olhos de J.K. Rowling! — falou enquanto fazia a cortesia dos duelos da saga Harry Potter, a qual, inquestionavelmente, éramos fãs. — Agora sim! — eu disse puxando ela para o canto do corredor — Alguém colocou um bilhete no meu armário, com uns versos escritos e apenas as iniciais C.K. na assinatura. — OH. MY. GOD! Você tem um admirador secreto, Vic! — Parece que sim... — Uhh... será que ele é mais velho? Uhh... será que ele é do time de basquete? — Hm... não acho que os garotos do basquete teriam sensibilidade pra escrever aquilo — pelo pouco que eu notava, os rapazes que curtiam esportes sempre usavam uma abordagem mais prática (se é que me entendem). — Mas eu sei exatamente o que fazer. Entregue nossos formulários da viagem, preciso correr na sala de estudos! — falei entregando o papel em suas mãos e partindo em direção oposta. — Mas Vic... Eu já estava virando o corredor quando ela falou. — Alê, confie em mim! Vou descobrir quem é esse C.K. ainda hoje! 4
Pseudônimo — Beatriz Interaminense Me virei e continuei meu trajeto até a sala de estudos. Chegando lá, me sentei em uma das cabines e retirei o notebook da mochila. Acessei a página online do colégio, fiz o login com a minha conta-estudante e cliquei na opção Dados da Escola. Em seguida, acessei o banco de dados de todas as turmas cadastradas no sistema e selecionei o semestre atual, lá estavam todos os nomes dos alunos matriculados regularmente no colégio, em ordem alfabética. Selecionei o filtro de pesquisa para apenas alunos do sexo masculino e pesquisei pela letra C. 19 resultados. Percorri rapidamente a tela procurando algum com as iniciais C.K.
Pesquisa: C Caio Roberto Mendonça Teles Calebe Afonso Braga Freire Carlos Germano Soares Prado Carlos Henrique Duarte Farias Cauã Jonathan Alencar Feitosa Filho César Felipe Lima da Costa Cláudio Pereira Vasconcelos Júnior ... Fracassei na minha primeira tentativa de desvendar o autor do bilhete. Não havia nenhum aluno na escola com as iniciais C.K. (o que me levava a acreditar que aquelas iniciais poderiam ser um pseudônimo). Bem, seria mais difícil assim, mas em breve eu pensaria em algo... Agora tinha que me apressar, pois o sinal sonoro para a próxima aula já havia tocado e se eu perdesse a segunda chamada não poderia mais entrar na sala (normas da escola). Saí pela porta da sala de estudos quase voando. Mas, fui surpreendentemente interrompida quando esbarrei de cara com alguém. — Vic! — Hã... Jon! — eu esbarrei no Jonas, amigo meu e da Alê. — Foi mal! É que eu estou apressada pra aula. — Não tem problema, só vai com calma pra não acabar levando um tombo. — Disse ele ajeitando meu capuz do casaco que havia caído. — Okay! — eu disse, já me apressando para sair dali — Você não vem pra aula? 5
Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Hã... — disse passando a mão na cabeça. — eu estou com um pouco de dor de cabeça, pedi um remédio na enfermaria e a moça me mandou descansar durante esta próxima aula. — Ahh! Melhoras, Jon! Passa lá em casa à tarde pra pegar a matéria, pode copiar do meu caderno. Eu e Alê vamos fazer aquele trabalho chato de Inglês. — Então vejo vocês mais tarde — disse um pouco mais animado. — Obrigado por me salvar, Vic! — Eu joguei um beijo no ar e saí correndo, ignorando totalmente seu alerta para andar devagar. Jon era um garoto muito legal e tranquilo, havia se mudado para o nosso colégio há 2 anos e, desde então, se tornou um verdadeiro irmão para mim e para Alê. Ele sempre estava entre a gente, embora fosse querido por todo mundo. Algumas meninas até se apaixonaram perdidamente por ele (e elas não estavam erradas, ele era um verdadeiro sonho de garoto, lindo, educado, gentil e muito inteligente). Mas, eu e Alê nunca o enxergamos como pretendente, seria impossível! Temos aquele tipo de amizade que transborda o superficial. Eles dois são minhas pessoas favoritas no mundo. Pensar em Jon me faz lembrar de algo que — preciso ser sincera — me deixa tonta. O irmão mais velho dele: George. Preciso dizer que George tem sido a minha paixão desde o dia que eles pisaram os pés neste colégio. Ele é apenas um ano mais velho que Jonas e está no último ano, portanto este seria seu último semestre de aulas e, o passeio (aquele para o Camping Park Hotel que eu mencionei) se tornava cada vez mais interessante por causa da sua presença. Eu sei, sou uma covarde por nunca ter conversado com ele sobre isso. George gosta muito de mim, dá pra notar, mas é sempre de um jeito meio protetor, como se eu, por ser amiga do Jonas, me tornasse um tipo de irmã caçula. Isso me faz perder a coragem de falar alguma coisa e estragar todo esse vínculo. Não preciso nem mencionar que eu e Alê vivíamos enfiadas na casa de Jon. Quase todos os dias íamos responder as tarefas lá e era uma verdadeira emoção quando George chegava da academia e passava pela sala ainda suado e ofegante. Eu, maravilhada com aquela visão dos deuses (e pode acreditar, era dos deuses), sempre perdia o foco e Alê precisava me beliscar. Se o Jon notava alguma coisa? Não sei ao certo, mas se notava, conseguia ser muito discreto sobre o assunto. Cheguei na sala e corri para me sentar ao lado de Alê. — E aí, conseguiu descobrir alguma coisa? — perguntou. 6
Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Nada! — disse frustrada. — Eu vi o bilhete no seu armário. Garota! Aquilo é poético! — Eu sei! — respondi com uma leve risada. — Você não vai desistir né? — perguntou Alê. — Não mesmo! — respondi diretamente. — Você é impossível, Vic! — Alê falou se divertindo. — Ah, esbarrei com o Jon na sala de estudos, ele está com dor de cabeça e vai ficar lá por um tempo. Disse pra ele ir lá em casa hoje copiar a matéria enquanto fazemos aquele trabalho de Inglês. — Aquele trabalho insuportavelmente ridículo! Quase me esqueci. Obrigada por lembrar. — Ela olhou rapidamente em seu relógio e concluiu. — Posso ir direto da aula pra sua casa? — Quando é que você não vai, Alê? — disse sarcasticamente. — É verdade, mas não custa manter os bons modos e pedir.
— Sei... — Vamos assistir algum filme depois do trabalho? — ela perguntou. — Pode ser. A gente pede pizza. — Victória, eu amo você de todo o meu coração, já te disse isso? Ri do comentário bobo e esfomeado. — Mas ainda temos que trabalhar na investigação — alertei. — Aliás, o que você foi fazer naquela hora? Me deixou sozinha na coordenação. — Fui na sala de estudos consultar o site do colégio. Pesquisei os alunos com as iniciais C.K., mas não encontrei nada. — Será que as iniciais são reais? — perguntou Alê. — Minha teoria é que a pessoa que escreveu usou um pseudônimo. — Hmmmm... boa sacada! Mas isso torna tudo mais difícil, não é? — É sim, mas até amanhã eu pensarei em mais alguma coisa. Mais tarde, na minha casa... — Você já terminou Jon? — perguntou Alê. — Tô quase acabando! O professor escreveu bastante hoje, hein? — Vem logo Jon, a pizza tá esfriando! — eu disse. — E... pronto! Terminei. — disse fechando o caderno e o jogando dentro da bolsa. — Sobrou alguma coisa pra mim? — disse se jogando em um dos gigantes e macios puffs do meu quarto.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Vou dar play no filme. — afirmei enquanto Jon comia o pedaço de pizza e Alê se acomodava entre eu e ele com a terceira fatia de pizza na mão. Assistimos a uma comédia romântica sensacional, que, por ironia do destino, envolvia cartas e pseudônimos. Eu e Alê trocamos olhares irônicos o tempo todo.
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No dia seguinte, eu abri meu armário assim que cheguei na escola e lá estava outro papel de caderno dobrado. Não é possível!
C.K. aprontou mais uma vez comigo. Meu Deus, mas olha essas palavras... quanta profundidade em apenas uma estrofe... Ele realmente me conhecia... Tudo bem que, qualquer pessoa que me conhecesse de vista sabia que eu gostava de Harry Potter, por causa da minha mochila preta com o brasão de Hogwarts, mas, me conhecer a este nível, saber que eu gosto de poesia, saber o tipo de poesia que eu gosto... Tive instantaneamente uma ideia. — Alê — sussurrei quando estávamos no meio da primeira aula de Inglês. — Oi? — ela sussurrou de volta. — Recebi outra poesia do meu suposto admirador secreto. — Uau! Esse rapaz está se arriscando...
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense — A questão é que — eu disse inclinando a cabeça para baixo para que a professora não nos visse — É impossível que a pessoa que escreve isto não me conheça, ou pelo menos tenha algum contato comigo. Ele me conhece bem. — Então, provavelmente, fica mais fácil pra você pensar nos caras que já te deram bola. — disse pensativa. — Aí é que tá! É muito contraditório que alguém que me deu bola esteja se escondendo de mim, entende? — Faz sentido... e o que você quer fazer à respeito? — disse comprometida com o caso. — Eu pensei que nós poderíamos listar pelo menos 10 nomes prováveis, o que você acha? — Acho um bom começo, mas quando a gente descobrir quem é esse cara, eu vou perguntar o que foi que deu na cabeça dele pra soltar essas pistas e sumir para o além. Mais tarde na minha casa, eu e Alê estávamos sentadas na mesa de escrivaninha no meu quarto, com uma folha de papel em branco em nossa frente. — Vai, Vic... eu sei que você quer colocar o nome do George. — Você acha impossível que tenha sido ele? — perguntei. — Na verdade, faz sentido que seja ele porque, primeiro, ele te trata com o maior cuidado do mundo, segundo, ele é muito próximo de você e, bem, terceiro, acho que ele já percebeu que você fica meio idiota quando ele está por perto. Empurrei Alê do banquinho que estava sentada e ela se espatifou em meio aos puffs do meu quarto. — Eiii! Isso é agressão. — Você mereceu, sua palhaça! — eu falei entre risadas. — Tudo bem, vamos fazer isso direito! Ela tornou a sentar-se no banquinho, pegou a folha e a caneta e começou a escrever. — Who is C.K.? Primeiro nome, George. Segundo nome...? — Olhou para mim. — Eu não sei — ergui meus ombros. — Hmm... O único menino que eu sei que te conhece é o Jon. — ela falou. — O Jon? Você acha que ele...? — Por que não? — Sei lá, acho impossível, ele é nosso melhor amigo. — eu disse sinceramente.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense — É... também acho que isso não combina com ele, e, mesmo se combinasse, acho que o Jonas falaria com uma de nós sobre isso. Além de que eu acho que ele nota que você gosta do irmão dele. — Também acho que ele nota, só é educado demais para falar alguma coisa e entrar em meus devaneios românticos pelo irmão dele. — Já sei! O Louis da equipe da orquestra. Ele vive atrás de você. — Alê soltou. — É verdade, coitado! Semana passada eu dei um sumiço horrível nele. Mas ele queria que eu o ajudasse a tirar os lodos dos saxofones da escola, disse que seria um bom tempo para passarmos juntos. Rimos. — Ok, já temos nosso segundo nome da lista, Sr. Lodo — escreveu Alê. — Não seja malvada! — eu disse recuperando o fôlego da risada. — Também tem os três nerds esquisitões da nossa sala. Acho que eles têm uma queda cientifica por você. — disse Alê. — Queda científica? — perguntei. — É quando a pessoa gosta de você porque você é inteligente. — Essa é nova... Marcos, David e Rob? É sério? — Preocupantemente sério! Continuamos escrevendo a lista e nos divertindo horrores com os nomes que nos vinham à mente. Depois de uma seleção rigorosa, decidimos adicionar também Félix, o chefe da monitoria da escola, que, segundo Alê, me encarava sempre que estávamos lanchando no refeitório. Encerramos a lista com 6 nomes.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense Pelo menos aquilo era um começo... No dia seguinte, abri meu armário animada, esperando encontrar mais um poema do meu desconhecido C.K. Mas, para minha triste surpresa, não havia nada. Fechei e continuei meu caminho até a sala. Antes de chegar lá, fui absorvida pela incrível visão de George, caminhando em minha direção e abrindo os braços para um abraço. Ai meu Deus! Como ele era lindo... — Bom dia, Victória! — Não me chame de Victória... — disse ainda no abraço. — Eu sei que você não gosta, mas eu gosto de te amolar — ele falou saindo do abraço — e aí, já entregou o formulário da viagem? Hoje é o último dia. — Entreguei antes de ontem. — Ótimo! Essa viagem vai ser inesquecível, nem acredito que vai ser minha última viagem da escola. — Pois é! — disse animada. — Vou deixar o meu formulário e o do Jon lá na coordenação, vem comigo? — Hã... Pode ser... Caminhamos silenciosamente até a sala. Chegando lá, George entregou os papéis e guardou os comprovantes no bolso. — Quais as expectativas para a viagem? — Acho que são as mesmas de todo mundo. Você sabe... o rito de passagem. — Ah... o rito de passagem é incrível, você vai adorar! O rito de passagem que nós tanto falávamos era quando os alunos do último ano faziam a famosa Festa da Fogueira, apenas com os futuros veteranos. Ninguém sabia o que acontecia na festa, mas todos juravam ser o melhor momento da viagem de final de ano. Este ano, a nossa turma era a turma de futuros veteranos. — Nem acredito que as aulas já vão acabar. Ainda não sei o que farei nas férias de verão, você tem algum plano? — Algo que inclua ficar em casa, assistir filmes e séries na netflix, ler... ou seja, o de sempre. George riu. — Você é demais, Vic! — disse enquanto me deixava na porta da sala e seguia para a sua depois de me dar uma leve piscadela com o olho direito.
Uuf! Meu coração estava a mil por hora, estava batendo tão rápido que eu conseguia senti-lo sob o peito. Aquele garoto me tirava do eixo... Por Deus, como eu queria que ele fosse o C.K. Como eu queria que ele se revelasse de uma vez e dissesse que gosta de mim como o C.K. gosta. 12
Pseudônimo — Beatriz Interaminense Eu já estava pensando no C.K. como um ser existente na minha vida, e ele era apenas um pseudônimo de alguém que, aparentemente, gostava muito de mim. Não sei ao certo, mas parece que, no meu íntimo, eu já estava me apaixonando por ele, já estava sentindo sua falta. Que doida essa sensação. Eu, apaixonada por alguém que nem conheço, ou pelo menos não tão bem quanto ele me conhece. Na noite passada, eu havia gasto horas e mais horas pensando no rosto dele, como ele era, o que ele gostava de fazer, qual seu estilo de música favorita. É engraçado se apaixonar por um pseudônimo, parece que ele está te observando a todo momento. Você pode sorrir e ele estará lá te observando, você pode ficar animada e ele vai saber que você ficou animada. Você pode se irritar, e ele também vai saber que você se irritou. Não importam as circunstâncias, ele parece sempre estar ao seu lado. Aquela sensação me deixava leve. Logo eu, que costumava ser tão agitada. Saí do devaneio e lembrei que precisava pegar o caderno para a próxima aula. Abri meu armário e ali estava. Mais uma folha de caderno dobrada, ele não havia esquecido, apenas se atrasou um pouco hoje. Sorri e levei a folha comigo para a sala de aula. Assim que sentei, me encolhi na carteira e abri o papel devagar.
Levei a folha de caderno ao peito e fechei os olhos. Queria saber quem era C.K. Mas, por enquanto, sentir aquilo era tudo que eu precisava.
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Mais tarde, naquele mesmo dia, eu e Alê fomos para a casa do Jon, a fim de fazermos a tarefa de casa juntos, como de costume. Chegamos lá por voltas das 16:30h (não que eu tenha calculado a hora que o George vai para a academia, mas ele estava de saída quando nós chegamos). — E aí, Alê, Vic! — disse espontâneo. — Fala aí, garoto do último ano — disse Alê enquanto acertava um high five. — Oii! — eu respondi meio tímida. — Jon está lá em cima esperando por vocês, podem entrar. — disse agitado — tenho que ir, já estou atrasado. —Tchau, meninas! — ele se despediu. Vi ele partindo pela calçada com aquelas roupas de academia, que o deixavam ainda mais lindo. Então, Alê me beliscou. — Aiii! — reclamei. — Vamos, sua boba! — ela correu em direção à entrada da casa. Algumas horas depois, lá estávamos nós, cada um num canto do quarto de Jon, que, vale ressaltar, era muito bem decorado (os pais dele eram donos de uma empresa de arquitetura e design de interiores multifamiliar muito conhecida na cidade). A casa toda era uma obra prima. Mas, o quarto de Jon, como eu havia falado, era incrivelmente bem planejado. Móveis sob medida, todos em tons de madeira, uma cama gigantesca e uma estante recheada de clássicos de Stephen King, J. R. R. Tolkien e George R.R. Martin. Vale citar também sua prateleira cheia de action figures de seus personagens e super-heróis favoritos. Eu estava sentada em sua escrivaninha, Alê estava de bruços na cama, com os cotovelos apoiados num travesseiro e Jon apoiando as costas nos pés da cama com uma mesinha de apoio à sua frente. Todos estávamos silenciosamente concentrados há um bom tempo na tarefa de cálculo, quando ouvimos:
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Já deu! Vamos fazer uma pausa. — disse Jon arrastando a mesinha de apoio pra frente. — Querem lanchar? Tem sorvete. — Olha só, eu não faço objeções. — respondeu Alê com um aspecto abatido. — Tudo bem, vamos! Também já estou cansada — eu falei levantando e esticando as costas. Tomávamos
sorvete
de
morango
no
balcão
da
cozinha,
enquanto
conversávamos sobre assuntos aleatórios. — Vocês já ouviram falar algo sobre esse tal rito de passagem da viagem? — perguntou Alê. — George só me fala coisas vagas, disse que envolve uma fogueira, é óbvio, e que tem algo a ver com fechar ciclos. — Jon falou. — Já sei!! Pode ser que eles elejam um dos alunos para entregar como sacrifício e ser queimado na fogueira — eu disse ironicamente. Jon e Alê se entreolharam. — Eu voto em um dos nerds esquisitões da sala! — disse Alê levantando a mão. — Coitado dos caras, Alê! — Jon disse incrédulo. — Eles não, não até acabarmos nossa investigação, Alê... — disse descontraída antes de me dar conta que Jon me encarava com um olhar de dúvida. — Investigação? — ele perguntou olhando pra Alê e para mim. — Éh... Hm... é uma investigação sobre... — enrolava Alê.
Droga! Falei besteira... Agora tinha que consertar aquilo. Tudo bem, Jon era uma pessoa confiável. — Eu vou contar pra ele, Alê. — eu disse, certa do que faria — Jon, eu... venho recebendo alguns bilhetes de um certo “admirador secreto”, então, estou contando com Alê para descobrir quem é essa pessoa. — Uau. É sério? — ele perguntou surpreso. — Sim. — E agora que você faz parte disso, você precisa nos ajudar, Jon! — Alê falou rapidamente. — Precisamos saber se foi alguém da nossa sala. — ela completou. — Não Jon, você não precisa se envolver em nada disso — eu disse, porque conhecia Jonas melhor do que Alê e sabia que ele não iria querer participar daquilo. — Hã... N-não tem problema, eu posso ajudar de alguma forma. — Tá vendo? É por isso que eu gosto do Jonas, ele sempre ajuda a gente! — afirmou Alê, animada. 15
Pseudônimo — Beatriz Interaminense Não sei ao certo o porquê, mas eu sabia que Jon estava fazendo aquilo apenas para nos agradar (eu já disse, ele é extremamente educado, além de ser incapaz de cometer qualquer grosseria). Aquele assunto não continuou, apenas terminamos de tomar nossos sorvetes e partimos de volta ao quarto para finalizarmos de uma vez a tarefa de cálculo. Alê teve que ir embora mais cedo, pois tinha que pegar a irmã mais nova na casa de uma amiguinha do colégio. A casa dela não ficava muito longe da casa de Jon e dava pra ir caminhando até lá. Ela organizou suas coisas e se despediu da gente. Eu fiquei com o Jon na varanda, esperando meu pai chegar para me levar pra casa. — Então, toda essa história de “admirador secreto” ...? — ele perguntou. — Ha-ha... é meio louco, sabe? — eu fui sincera. Jon era uma das poucas pessoas que conseguiam arrancar a verdade de mim sem se esforçar. — Se eu disser que não estou gostando seria mentira, mas... não sei até que ponto isso vai mexer comigo, entende? — Sim, acho que é bem raro de acontecer, e é... bem, é interessante... — Interessante e muito estranho. Parece bobo, mas é como se eu conhecesse ele, é como se ele soubesse quem eu sou. — Você e Alê já pensaram no que vão fazer? — Ainda não, mas... vou pensar em algo. — O que eu disse na cozinha é verdade, se eu puder ajudar de alguma forma... é só falar. — ele disse. — Obrigada, Jon, mas eu sei que você não faz esse tipo de coisa. — Como assim? — ele perguntou sorrindo. — Ah, você é do tipo introvertido, não acho que se sentiria à vontade procurando um “admirador secreto” — eu ri daquilo e ele também. — Realmente, não é a minha atividade favorita — ele sorriu, sem jeito — mas, eu posso ajudar... — Okay... amanhã falamos mais sobre isso! — eu disse encerrando o assunto. Logo depois, meu pai buzinou em frente à casa e Jon se despediu de mim. Passei o resto do dia pensando em qual seria o próximo passo em toda aquela história. Enquanto eu e Alê apenas tagarelávamos parecia apenas uma brincadeira, mas, agora que Jon sabia, parecia que tudo tomava uma proporção maior. Agora, C.K. parecia mais real que nunca!
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No dia seguinte, cheguei mais cedo no colégio, eu estava muito ansiosa para conversar com Jon e Alê e saber se eles tinham pensado em alguma coisa, pois minhas ideias estavam turvas em meio aos acontecimentos. Os encontrei no corredor, conversando, encostados nos armários. — Bom dia!! — Eu disse pegando eles de surpresa. — Olha ela aí, agora você pode contar seu plano. — disse Jon para Alê. — Ainda bem que você chegou! — Alê me puxou para perto deles. — eu tive uma ideia ontem, mas ela é um pouquinho arriscada. — Lá vem... — eu disse olhando pra Jon. — Pensa comigo, os bilhetes que te escrevem são escritos à mão, certo? — Sim... — Então, o que precisamos fazer é comparar todas as caligrafias das pessoas da nossa sala com a caligrafia dos bilhetes. — Hmmm... e como faríamos isso? Eu pediria: Bom dia, com licença, posso ver
seu caderno para comparar sua letra com a letra do meu admirador secreto? Jon riu do meu teatro. — Não sua boba! Nós vamos até a sala dos professores no final da aula, em busca dos trabalhos de inglês, que entregamos antes de ontem. De forma rápida, você e o Jon encontram os trabalhos e comparam as letras dos alunos com a letra do bilhete, enquanto isso, eu vigio a porta. — Alê, você é uma gênia! — eu disse animada. — Espera, espera... você concorda com essa loucura? — perguntou Jon. — Eu sei Jon, é arriscado, mas acho que não há outro jeito, e você não precisa ir com a gente, não se preocupe. — disse, me sentindo levemente triste. — De jeito nenhum, Vic... eu disse que eu iria ajudar... é que... se nos pegarem estaremos muito encrencados, vocês sabem, não é? — Ninguém vai nos pegar! — Alê afirmou com confiança. — Tudo bem, depois da aula, então. — Disse Jon um pouco mais animado. Eu me alegrei com o plano e fui ao meu armário pegar os materiais para a aula, e blimp, surgiu outro papel de caderno dobrado. Abri rapidamente, com meu coração saltitando no peito e minhas mãos suadas.
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Era real. Estava apaixonada pelo C.K. Não importava se não o conhecia, não importava se ele não queria se revelar, não importava se eu passaria o resto da minha vida com aquela dúvida em mente. Eu simplesmente sentia que eu e ele já pertencíamos um ao outro, de um jeito que ninguém poderia explicar. A campainha tocou, finalizando a última aula do dia. Nós três nos entreolhamos. O plano precisava ser executado. Primeiro, saímos da sala, tranquilamente. Depois, chegamos na sala dos professores e Alê olhou discretamente pela janelinha de vidro da porta (não havia ninguém). Ela abriu a porta e nos deixou entrar. — Sejam rápidos! — disse enquanto vigiava a porta. — Onde é o armário da professora de Inglês? — perguntou Jon. — Ali — apontei quando visualizei o nome adesivado na porta do armário. Abrimos cuidadosamente e encontramos facilmente todos os trabalhos dentro de uma pasta transparente. Retiramos as folhas e ele, rapidamente, dividiu em cima da mesa a papelada em duas pilhas, uma pra mim e outra pra ele. — Você trouxe o bilhete? — ele perguntou. — Trouxe. — estendi o papel um pouco amassado em cima da mesa. Ele começou a procurar habilmente e até rápido demais. — Você é bom nisso, hein? — Só quero terminar logo. — disse de forma concentrada. 18
Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Tem razão. Conferimos mais de uma vez. Nada. Não era ninguém da turma. Reorganizamos os papéis dentro da pasta e a colocamos de volta no armário. Saímos mais depressa do que alguém podia imaginar. — Já? — perguntou Alê, que estava escorada na parede ao lado da porta. — Já. — disse Jon, pois eu estava meio cabisbaixa. — Nem precisa dizer, pela sua cara... — ela olhou para mim. — Nada! — eu respondi. — Não é ninguém da sala. Pelo menos não precisaremos mais desconfiar dos nerds...— falei tentando fingir alguma animação. — Um verdadeiro livramento, Vic! — disse Alê tentando animar a situação. Continuamos parados ali por mais alguns minutos, eu e Alê estávamos meio frustradas por não descobrir alguma coisa e Jon, bem..., ele parecia incomodado.
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No dia seguinte, a primeira aula era a de educação física, eu não estava muito afim de me exercitar, por isso inventei uma dor de cabeça e o professor me liberou do treino. Fiquei sentada na arquibancada com meus fones de ouvido, observando a galera correr. Alê olhava e acenava pra mim, enquanto enganava o professor na quantidade de voltas dadas no ginásio. Eu ainda estava me sentindo mal por não ter descoberto quem era C.K., em algum momento eu achei mesmo que poderia ser Marcos, um dos nerds esquisitões (como Alê os chamava), ele era, digamos... o menos esquisito do trio, e era legal comigo às vezes. Mas não. Não era nenhum deles, o que fez a minha lista diminuir drasticamente pela metade. George, Louis ou Félix, um deles era C.K. Meu coração ainda me traia, desejando incontrolavelmente que ele fosse George. Mas, parecia tão impossível, além disso, não podia ignorar Louis e Félix. Félix estudava na mesma turma de George e era chefe da monitoria dos alunos. Ele era, de longe, o garoto mais estiloso do colégio. Sempre usava roupas no estilo anos 60, jaqueta de couro, camisa branca e calça jeans (um verdadeiro John Travolta em
Grease). Mas nunca trocara uma palavra sequer comigo. Segundo Alê, ele simplesmente me encarava sempre que estávamos no refeitório. Eu nunca notava aqueles olhares, mas já que ela me assegurava disso, não me custava acreditar. Ao longe, avistei George com a equipe de vôlei treinando na quadra ao lado. Ele jogava muito bem na posição de levantador. A partida parecia estar no fim e seu time estava com a vantagem do set. Algumas sacadas depois, seu time venceu e eles comemoraram. Depois de descansar um pouco, ele pegou sua bolsa e se direcionou a saída da quadra. Mas, antes que saísse, me avistou olhando para ele e veio ao meu encontro. Eu devia estar com o rosto vermelho por ser pega no flagra. Retirei os fones e acenei pra ele, que se aproximou e sentou ao meu lado. — Está matando aula, Vic? — perguntou brincalhão.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Não... só não estou com disposição suficiente pra correr hoje. — Ah, então o professor te liberou assim, com essa facilidade? — ele perguntou duvidando de mim. — Talvez eu tenha contado uma leve mentira sobre estar com dor de cabeça... — Ah, claro! — ele certificou — Só talvez... Nós rimos. — E aí, alguma novidade? Já estão todos preparados para a viagem de amanhã? — perguntou entusiasmado. — Por que você fala tanto nessa viagem? — soltei. — Ah... acho que vai ser legal. Só estou animado. — ele falou surpreso. — Animado demais... — observei. — E você de menos... — ele retrucou — tem algo te incomodando? Eu nunca, jamais, nem sobre pena de morte contaria pra ele sobre C.K., mas precisava tirar a dúvida sobre Félix. Me pareceu oportuno conversar sobre ele com George naquele momento. — Posso te perguntar uma coisa? — eu disse. — Você já tá perguntando... — ele zombou — Claro que pode. Revirei os olhos e continuei. — Não encare isso como algum interesse, só preciso saber se, por acaso, Félix, que estuda com você, já falou algo sobre mim... Ele me cerrou os olhos. — Como assim? Tipo... se ele já demonstrou algum interesse? — ele perguntou. — Tipo isso... — Não — ele respondeu um tanto irônico. — Por que esse tom? — confrontei. — Porque... — ele me olhou como se dissesse algo óbvio. — Você acha que Félix não se atrairia por mim? — falei sem pensar. — Não Vic, não foi isso que quis dizer, de jeito nenhum! Só um tapado não se sentiria atraído por você.
Só um tapado não se sentiria atraído por mim. Ele achava isso. Meu. Deus. — Mas você sabe... Félix é gay. — Ele é gay? — perguntei chocada. — E por que diabos ele fica me encarando no refeitório? — Ah, ele observa todo mundo. Gosta de distinguir os tipos de estilos, fez até uma apresentação sobre isso na semana passada, sobre comportamento humano, e, sendo sincero, o cara mandou bem! 21
Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Okay... — menos um na minha lista, pensei. — Você tá interessada em alguém, Vic? — ele perguntou curioso. — Hã... n-não! — respondi acanhada. — Bem, espero que ele seja um cara legal — ele disse, desacreditando da minha afirmação. Fiquei constrangida e mudei de assunto. Alguns minutos de conversa depois, ele se despediu com um beijo no topo da minha cabeça, alegando estar atrasado para sua próxima aula. Agora, eu estava mais iludida que nunca. C.K. podia ser George? Bem... ainda tinha outra alternativa na lista: Louis, ou como Alê apelidou “Sr. Lodo” (tadinho, ainda tinha pena de chamá-lo daquele jeito). Depois de contar sobre Félix para Alê, ela decidiu que iríamos falar com Louis no intervalo. Hoje saberíamos, de uma vez por todas, quem era C.K. Alê e eu fomos até a sala de música, assim que a campainha do intervalo tocara, e encontramos Louis ali, organizando os instrumentos para a próxima aula. — Cof, cof! — fiz sinal e ele se virou assustado, derrubando alguns violinos que estava posicionando. — Victória? — ele perguntou — Olá! O que faz aqui? — Olá, Louis, tudo bem?... — eu disse. Percebi a movimentação de Alê, que tomou a frente da conversa. — Olá! Eu sou Alessandra, amiga da Vic. Nós não nos conhecemos, mas a questão é simples. Precisamos saber se você sabe quem é C.K. Eu fiquei imóvel, esperando sua resposta. Ele se aproximou, subindo as mangas do moletom cinza que usava e disse: — C.K.? É alguém que estuda aqui? — Não... só queríamos saber isso. Passar bem!! — Alê afirmou, já se virando em direção à porta e me puxando com ela. — Sabe... — ele falou, prendendo nossa atenção quando já estávamos prestes a sair. — nunca nos conhecemos, mas você seria muito mais agradável se não fosse tão evasiva. Num piscar de olhos, o clima ficou meio tenso. Alê retrucou. — O que você disse? — Disse que você poderia ser menos alvoroçada com as pessoas. — Louis falou. — Hã... e-eu... — nunca tinha visto Alê perder a fala. 22
Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Nos desculpe, Louis! Não queríamos parecer intrometidas, só estávamos procurando alguém...— eu falei. — Não tem problema, Vic! — ele falou tranquilo, ainda olhando para Alê, que estava estática ao meu lado. — Bem, obrigada, até mais... — disse, puxando Alê para fora da sala comigo. Quando já estávamos no corredor, ela parou e olhou para mim. — Quem aquele garoto pensa que é? — Alê, calma... — disse, tentando tranquilizá-la. — Eu disse algo de mais, Vic? — Acho que você foi apenas ligeira demais, Alê... mas tá tudo bem! — M-mas... — o rosto dela estava vermelho — Ah... eu vou voltar lá! Vou voltar e dizer para aquele Sr. Lodo o que ele merece ouvir. Fica enfurnado naquela sala de música e quer que todo mundo trate ele como o popular da escola? Dá um tempo!!! — Não! Você não vai voltar lá! — eu disse devagar — Nós vamos para o refeitório e depois vamos voltar para a aula. Ela respirou fundo e acatou minha ideia, mesmo ainda irritada com ele. O foco de toda aquela cena era descobrir se Louis era C.K. Definitivamente, ele não era. O que levava a apenas uma conclusão: George era C.K. Por que meu coração ainda estava cheio de dúvidas? Por que? No fim da última aula, chamei Alê para tomarmos uma raspadinha na lanchonete em frente ao colégio, pois ela ainda estava tensa devido ao acontecido, e aquilo sempre a acalmava. — Só sobrou o George da sua lista. — ela falou distraída. — Éh... — eu disse desanimada — Não consigo me convencer de que é ele. — Mas você não se sente bem pensando nessa grande possibilidade? — É lógico... é que... eu queria ter certeza, entende? Não queria criar falsas expectativas. Alê mexia os olhos de um lado para o outro, como fazia sempre que estava planejando algo em sua cabeça. —JÁ SEI COMO VAMOS DESCOBRIR QUEM É C.K. — falou muito animada. — Me diz!!! — eu disse curiosa. Ela sussurrou as palavras seguintes.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Nós vamos invadir a sala de segurança do colégio e ver pelas câmeras quem está colocando esses bilhetes no seu armário. — Você tá louca??? — O dia de hoje não pode ficar pior, Vic! Vamos lá! — ela olhou seu relógio de pulso — esse é exatamente o momento perfeito, o horário de almoço dos funcionários. — Mesmo assim, Alê... mesmo que esse seu plano louco dê certo, como entraríamos na sala de segurança? A porta deve ficar trancada. — Eu sei exatamente o que fazer. Confie em mim! O plano era: entrar na sala de segurança pela janela do pátio. Uma pequena janela que ficava sempre aberta. A única dificuldade seria passar pelos gigantes arbustos que ficavam exatamente em baixo dela. — Eu não acredito que vamos fazer isso — meu coração estava quase saltando pela boca. — Você sabe que estamos infringindo pelo menos umas 10 regras da escola, não é? E que podemos ser expulsas por causa disso... — Xiiiu! Você quer ou não saber quem é o C.K.? — ela perguntou seca. Eu pensei... — Quero... — disse vacilante. — Então vamos, rápido. Sabe-se Deus como, com algum malabarismo, conseguimos passar pelos arbustos e nos posicionamos em frente à janela. Alê foi primeiro, escalando o trilho e empurrando seu corpo contra a sala. Ela conseguiu entrar tão rápido quanto um ninja e, depois, estendeu o braço para me ajudar a subir. Com um pouco mais de esforço, consegui entrar na sala. — Agora precisamos ser rápidas, os funcionários devem voltar a qualquer momento. — ela falou, se posicionando em frente as telas com várias câmeras. — Como você sabe mexer nisso? — perguntei nervosa e agitada. — Papai colocou câmeras lá em casa no mês passado, não deve ser tão diferente... — ela mexeu em alguns botões e acessou o banco de dados das gravações dos dias anteriores, selecionando a câmera do corredor dos nossos armários. — Que horas você acha que o C.K. colocou o bilhete em seu armário ontem? — Deve ter sido antes da primeira aula começar, um pouco mais cedo, eu acho... — Hm... — ela acelerou o vídeo e pausou no momento em que os alunos começaram a entrar na escola — a qualquer momento a partir de agora, Vic! As cenas seguintes não mostraram nada demais, apenas os alunos indo e voltando no corredor, normalmente. 24
Pseudônimo — Beatriz Interaminense Mas, no minuto seguinte, uma movimentação estranha chamou a nossa atenção. Ele caminhou lentamente no corredor, olhando ao redor para ver se ninguém o via. Depois de disfarçar, encostou, rapidamente, nos armários, enfiou um papel em um deles e saiu tranquilamente, sem ser notado. Era ele. C.K. era ele. C.K. era George. Eu não acreditava no que meus olhos estavam vendo. No choque da descoberta, ouvimos passos e vozes se aproximando da sala. A adrenalina tomou conta do meu corpo. — Sai! Sai! Sai! — cochichou Alê apressada... Já ouvíamos o trinco da porta mexendo quando, sem pensar, empurrei Alê pela janela e saltei em seguida em cima dos arbustos. — Aiiiiiiii! — ela falou. — Xiiiiu! — eu sussurrei — eles podem nos ouvir. Ouvimos os seguranças entrando na sala e resmungando algo sobre aquele sistema de câmeras ser temperamental. Nos arrastamos pra longe da janela até conseguirmos nos sentar, apoiando uma nas costas da outra. — N-nunca mais, n-unca mais, eu faço esse tipo de coisa — disse Alê recuperando o fôlego. — Meu Deus. — eu estava tonta. — É o George. — eu disse sem assimilar aquelas palavras. — Se isso fosse um filme, poderíamos ser as três espiãs demais.
— Mas nós somos duas. — O Jon seria a terceira. — ela falou, se recuperando do momento de pura adrenalina. — Alê!!!!!! — eu chamei sua atenção. — O que é????? — É o George. — Eu sei... — ela respirou fundo — como você se sente à respeito disso? — Eu não sei... — eu disse pensativa. Mas meu coração estava apertado. Não esperava aquela reação. Eu devia estar feliz, emocionada, ansiosa. Era ele, George, o garoto que eu era apaixonada há dois anos. Era ele o meu admirador secreto, o meu misterioso C.K. O meu C.K.... Essas palavras não me pareciam coerentes, ou, talvez, eu só não desejasse acreditar nelas. 25
Pseudônimo — Beatriz Interaminense
Ainda naquele dia, mais tarde, eu estava deitada sobre minha cama, encarando o teto branco do meu quarto, com todos os bilhetes que eu havia recebido ao meu redor. Tentava procurar o momento em que eu transformei C.K. em um ser diferente de qualquer outra pessoa que eu já havia conhecido... porque, talvez, no fundo, eu não quisesse descobrir quem ele era. Preferia pensar que ele existia apenas para o meu prazer, que me conhecia de um jeito único e diferente. Preferia imaginar que o eu-lírico daqueles poemas poderia ser alguém que eu nunca imaginasse, que me levasse ao céu, todas as vezes que eu lesse seus versos. E lá no céu, nós teríamos para sempre aquele sentimento apenas nosso, aquela chama que existia em nossos corações. Eu seria sua rainha e ele seria meu rei, e viveríamos em nosso mundo esquisito de ficções, com direito a bruxos, duendes, magos, elfos, fadas, hobbits, fantasmas, feiticeiros e todas as criaturas possíveis de se encontrar. Definitivamente, meu coração não pertencia a mais ninguém neste mundo. Nunca, ninguém conseguiria me enxergar tão bem como ele me enxergava. Nunca, ninguém tocaria meu coração e minha alma como ele tocou, sem — ao menos — olhar em meus olhos.
C.K., como eu queria que você fosse real! O que era engraçado de pedir, por que, para todos os efeitos, eu já sabia que ele era real. E era George, o cara que me deixava boba ao encará-lo. Faz sentido agora aquele velho clichê: o essencial é invisível aos olhos. Mesmo que meus olhos estivessem apaixonados pela beleza de George, eu nunca pensei que precisaria da profundidade de C.K. Como eu podia me apaixonar por duas personalidades, sendo que elas eram a mesma pessoa? E agora, eu não fazia a mínima ideia do que fazer... Saí do devaneio quando avistei o horário. Eram 01:30h da manhã. Precisava arrumar urgentemente minha mala para a viagem de amanhã.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense Coloquei música para tocar, na tentativa de calar meus pensamentos embaralhados. A melodia invadia todos os espaços do meu quarto, me deixando elétrica. Separei todas as roupas e objetos que precisava levar. Lembrei de colocar na mala o livro de poesias que estava lendo. (Nos últimos dias, poesias tinham se tornado a melhor companhia). Quando terminei, eram exatamente 02:10h. Fechei minha pequena mala e a deixei separada num canto do quarto, tomei um banho rápido, vesti meu pijama e caí na cama. Apaguei. Fui acordada com uma pressão forte sobre mim. Alguém jogava um travesseiro em meu rosto. — Vic!!! Acorda!!! — ouvi a voz de Alê. — Nós combinamos de ir juntas à escola. — Papai está nos esperando lá fora para nos dar carona... Vamos chegar atrasadas por sua culpa e provavelmente não encontraremos poltronas disponíveis no ônibus... —Acoooorda! Eu levantei com um salto! Dormir tarde demais tinha me feito perder a hora. Estava 20 minutos atrasada. Se não saíssemos em 15 minutos, perderíamos o ônibus. Corri para o banho e me troquei em menos de cinco minutos. Saí do quarto apressada e atordoada. — Filha, pensei que desceria mais cedo para tomar café — disse minha mãe — pensei que estaria se arrumando e resolvi não incomodar. Você perdeu a hora? — Sim, mãe. Mas já estou pronta! Vou pegar carona com a Alê. — Até mais, tia! — disse Alê passando pela minha mãe, carregando minha mala. — Até mais, Alê! Aproveitem o passeio. Tenham cuidado! — Pode deixar. — Alê disse já saindo da minha casa. — Você está levando tudo? — perguntou mamãe. — Sim. — respirei fundo enquanto ela me dava um abraço longo e apertado. — Seu pai acabou de sair para o trabalho, mas disse que eu lhe desse um abraço por ele também, por isso estou demorando. — falou ainda no abraço. — Mãe... acho que preciso ir. — Tudo bem... se cuide, querida. — disse me liberando do abraço. Fitei mamãe mais uma vez antes de partir...
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense Pela primeira vez, enfrentamos um leve trânsito para chegar no colégio. Tudo cooperava para não chegarmos a tempo, mas, graças aos céus, chegamos. Subimos no ônibus, que estava lotado. — Aqui! — ouvimos a voz de Jon e nos direcionamos para o fim do corredor. Chegando lá, vimos que Jon havia guardado o assento ao seu lado. — Desculpem meninas, só consegui salvar um lugar, a galera invadiu o restante. Eu me apressei e sentei ao seu lado. Alê me encarou com os olhos arregalados, incrédula da minha atitude. — Você faz a gente se atrasar e ainda me deixa em pé? Que tipo de amiga é você, Victória? — Alê, ainda tem uma poltrona disponível ali — disparou alguém dentro do ônibus. — Onde? — ela perguntou se virando rapidamente. — Ali — um garoto apontou para uma poltrona um pouco mais à frente da minha. Ela foi andando para lá e voltou como um bumerangue. — Victória... — ela me chamou baixinho se aproximando — sabe quem está sentado ao lado daquela poltrona? — Quem? — perguntei inocente. — Sr. Lodo. — ela soltou — Pode sair já daí e ir sentar lá com ele... Por impulso, me joguei em cima de Jon e o fiz me segurar em seus braços, como se ele estivesse me prendendo. — Foi mal, Alê, mas o Jon não me deixa sair daqui... ele está me prendendo — fingi, enquanto Jon gargalhava. — Ufffff!!!! — ela saiu reclamando. Demorei para sair dos braços de Jon e fiquei meio constrangida pela ideia maluca. — Desculpa me jogar em você, Jon. Não queria sentar com o Louis. — Sem problema, Vic. — ele disse se divertindo com a situação. — Você quer ouvir música durante o caminho? — ele me ofereceu a outra saída de seu fone. — Claro! — disse contagiante. — O que será que Jonas escuta em seu Ipod? — perguntei curiosa. — Tem um pouco de tudo. — ele respondeu. — Se não gostar é só passar para a próxima. — disse, entregando o pequeno aparelho em minhas mãos. Nos aconchegamos em nossos lugares, enquanto o ônibus dava partida. 28
Pseudônimo — Beatriz Interaminense Olhei para ele e apertei o play. A primeira música me chamou atenção pela batida instigante e pela letra melódica. — Como é o nome dessa música? Eu adorei. — eu disse sorrindo. — The Man Who Can't Be Moved, da banda The Script. — ele respondeu — Não sabia que você gostava desse estilo de música... Continuamos ouvindo várias outras ótimas canções. As paisagens verdes que passavam pela janela combinavam perfeitamente com as melodias do Ipod de Jon. Eu havia feito ele prometer que me passaria todas aquelas faixas quando voltássemos. O tempo voou enquanto ouvíamos aquelas canções. Quando nos demos conta, já havíamos chegado ao Camping Park Hotel. Saímos todos animados, recolhendo nossas bagagens. Os professores que nos acompanhavam, nos destinaram à entrada do grande hotel central e todos recebemos um mapa do gigantesco complexo. Entregaram também a chave de um chalé, que iríamos dividir com mais duas pessoas. Minhas parceiras de chalé eram Alê e Susana, uma garota muito gentil, que estudava com a gente. Depois, recebemos um verdadeiro tour pelas principais cabanas e pelos principais pontos do acampamento. Após o jantar, fomos nos acomodar devidamente. — Uaaau! Esse lugar é fora do normal! — eu disse ao entrarmos no nosso chalé. — Eu estou muito impactada, preciso me deitar. — disse Alê. — E aí, como foi se sentar ao lado de Louis na viagem? — perguntei. — Foi... — ela pareceu meio suspeita — estranho, mas eu sobrevivi. — Não seja exagerada! — eu ri. — Nossa, estou muito cansada. Que horas são? — São 19:30h, eu também estou destruída de toda essa caminhada. — Alê respondeu, com o aspecto cansado. — Você trouxe aquelas máscaras de beleza? — eu perguntei animada. — É claro!! — ela disse retirando os pacotes da bolsa. — Susana, você quer fazer spa night com a gente? — perguntei. — Ah, meninas, podem aproveitar! Eu vou para a festinha de chegada que a galera está fazendo, vocês não vêm? — ela perguntou. — Eu não estou muito afim — respondi.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Só o que eu quero agora é tomar um banho, enfiar meu rosto em uma dessas máscaras e me deitar, belíssima, em cima dessa cama. — respondeu Alê — obrigada por chamar, Su! Aproveite por nós... Amanhã teremos muito o que fazer. — É verdade. Não vou demorar! Já volto... aproveitem o spa night — disse Susana saindo do chalé. Eu e Alê colocamos música alta, pegamos refrigerantes no frigobar e começamos a nossa mini festa. Minutos depois, alguém bateu na porta. Toc, toc! Alê foi abrir. Jon enfiou a cabeça pela brecha. — Vocês não vêm pra festa? A galera está toda reunida lá em baixo. — Estamos cansadas... — eu disse. — Aproveitando para fazer máscara de beleza. — Alê completou. — Você quer fazer também? — Não, obrigada. — disse ele se contraindo. — então, está bem... acho que as vejo amanhã. — ele disse olhando pra mim. — Claro... — eu respondi. — Tchau, Jon! — Alê o expulsou carinhosamente. Terminamos de fazer nossas unhas, nossas sobrancelhas e nossos cabelos. Estávamos prontas para dormir... e foi uma ótima noite de sono, não sei ao certo o porquê, mas eu estava extremamente feliz.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense
Assim que o despertador nos acordou, para um dia cheio de atividades, eu levantei da cama, tomei um banho, coloquei um vestidinho floral, soltei o cabelo e coloquei meu coturno marrom. Alê e Susana pareciam um pouco mais preguiçosas do que eu ao acordar, mas se arrumaram rápido. Descemos para o café da manhã e nos deliciamos com as comidas diversas que ofereciam. Depois, retornamos ao nosso chalé. — Meninas, já decidiram o que vão fazer hoje? — perguntei. — Acho que vamos fazer a trilha pela mata ao Sul. — respondeu Susana se referindo ao seu grupo de amigos. — Uau, você é corajosa... — Alê comentou. — Corajosa? — Susana perguntou. — Imagina se eu me perdesse numa mata dessas... nunca mais ninguém me encontraria e eu, provavelmente, morreria de fome em uma semana. — Alê ironizou. — Deixa de ser dramática, Alê! Existem guias durante a trilha, e o percurso é todo marcado. — eu disse tranquilizando Susana. — E você, já pensou no que vai fazer? — perguntei em seguida para Alê. — Hmm... Quero ir naqueles pedalinhos no lago, você vai comigo? — Na verdade eu queria fazer algo mais relaxante... — eu disse com sinceridade. — pensei em ler meu livro naqueles banquinhos em baixo do laranjal. — Nós podemos nos encontrar na hora do almoço. — Alê sugeriu. — Por mim, tudo bem — eu disse, já pegando meu livro de poesias e me encaminhando para a porta. — Até já! — Até já! — disse Alê. Antes de sair, percebi algo estranho na brecha debaixo da porta. Havia um papelzinho ali. Um papelzinho de caderno dobrado. Meu C.K.!!!! Puxei o papel velozmente e o coloquei dentro do meu livro. Saí do chalé desconfiada. 31
Pseudônimo — Beatriz Interaminense Fui até os banquinhos no laranjal, mas me parecia explicito demais. Parecia bobagem, mas, eu queria ficar sozinha com C.K., ou, pelo menos, com o que ele representava. Andei mais um pouco pela rota e encontrei um caminho estreito, segui aquele destino e me deparei com uma linda fonte. Sentei próxima a borda de pedra e peguei o bilhete dentro do livro.
Meu. Deus. George se revelaria para mim na viagem, por isso ele estava tão animado desde a semana passada, por isso não parava de mencionar esse bendito passeio. Aquele era o último poema. Meu coração ficou apertado. Quantas vezes desejei saber quem era C.K. e agora, que sabia, não estava tão satisfeita com a revelação. Existe algum processo de se desapaixonar? Se existisse, acho que eu estava me desapaixonando por George. Como eu explicaria para ele que não correspondia mais aos seus sentimentos, mesmo depois de todos aqueles poemas? Bem, o melhor a fazer, naquele momento, era evitar ficar sozinha com ele. Ou melhor, iria fazer de tudo para evitá-lo completamente... Sentei-me próxima à fonte (pois aquele era um excelente lugar para me manter escondida), e, guardando o bilhete dentro do meu livro, continuei a leitura.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense Algumas horas depois, dei por mim que havia perdido a noção do tempo. Levantei e corri direto para o meu chalé. Assim que consegui avistar a entrada, enxerguei Alê e Jon, que correram ao meu encontro. — Victória, onde diabos você estava? — perguntou Alê assustada — fui te procurar no laranjal e não te encontrei. — Estávamos preocupados, Vic... — comentou Jonas. — Desculpa, gente... eu acabei me entretendo com meu livro e perdi a hora. — Perdeu o almoço também! — disse Alê. — Eu perdi o almoço?! — perguntei indignada. — Perdeu sim, e nós estávamos indo agora falar com um dos professores sobre o seu sumiço. — acrescentou Jon. — Nossa! Não percebi que tinha passado tanto tempo assim, me desculpem... — Tudo bem, agora você já está aqui conosco, ufa... — disse Alê — não faz mais isso! Ela me abraçou de repente. — Eu preciso resolver algo hoje à tarde. — ela disse em seguida, me soltando do abraço. — O que? — perguntei. — É só uma tarefa chata que preciso realizar, mas Jon pode te fazer companhia. Ela olhou para o seu relógio de pulso. — Ihh... já estou atrasada! Preciso ir. Tchau... — Mas, Alê... — eu chamei, mas ela já havia fugido, correndo para o lado oposto dos chalés. — O que será que ela foi fazer? — perguntei para Jon. — Não faço a mínima ideia, Vic... — disse ele, com as mãos nos bolsos da calça, erguendo os ombros. — Você deve estar com fome. — ele observou. — Estou faminta... — falei derrotada. — Eu tenho alguns lanches no meu chalé, você sabe... algumas porcarias — ele riu e continuou — mas, pelos menos, farão você aguentar até o jantar. — Maravilha, Jon! — disse animada. — Vou deixar esse livro no meu quarto e já te encontro lá. — Eu te acompanho... — ele insistiu. — Tá bem. — falei sorrindo. Estar com Jon era estar protegida. Pelo menos era como eu me sentia. Parecia que ele estava pronto para me proteger a qualquer sinal de perigo. 33
Pseudônimo — Beatriz Interaminense
Chegamos ao seu chalé que, diferente do nosso, estava uma zona. — Minha nossa, passou algum furacão por aqui? — ri nervosa. — Os caras que dividem quarto comigo não são nem um pouco organizados — ele retirou sua mala de cima da cama. — você precisava ver ontem à noite, travaram uma guerra de espuma de barbear com os caras do chalé ao lado. — Parece que a noite foi agitada. — disse me divertindo. — Foi um inferno... — ele disse gargalhando — eu estava a ponto de colocar o meu colchão fora do chalé. Preferia dormir com as muriçocas me picando do que com um bando de marmanjo enchendo o saco. — ele falou, se divertindo. — Pode escolher algo pra comer naquela gaveta, Vic... — ele apontou para o móvel de madeira. Peguei uma barra de chocolate, abri e dividi com ele. — A Alê tá estranha, você não acha? — perguntei. Sentamos frente a frente em sua cama, enquanto comíamos o chocolate. — Achei estranho ela no pedalinho hoje cedo com o Louis... — ele disse — Antes ela não parecia gostar tanto assim do coitado. — Ela estava com o Louis?!? — tive um sobressalto. — Sim... — ele disse. — Jon, será que a Alê e o Louis? — levei as mãos ao rosto. — Eu não posso crer nisso! Eu não posso crer nisso! — disse animada, gargalhando. — Muitas revelações nessa viagem... — ele observou risonho. — Revelações bombásticas... — completei. — Quem diria... dona Alessandra... — contemplei. — Depois vou perguntar que história é essa. Ela vai ter que me contar tudinho... Ambos rimos daquela situação tão incomum. — Nossa, a festa da fogueira já é amanhã — ele mencionou. — Finalmente vamos desvendar o segredo do rito de passagem... — respondi. — Você vai sentir falta de tudo isso? Do colegial, quero dizer. — perguntou. — Ainda temos um ano pela frente, mas acho que sim. Principalmente de você e da Alê. Não quero perder vocês de vista. — eu disse melancólica. — Também não quero me afastar — ele disse. — Você tem que prometer, Jon! Tem que prometer sob os olhos de J.K. Rowling. — Ah, essa coisa que você e a Alê fazem é engraçada. Ele levantou da cama num salto.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Eu prometo sob os olhos de J.K. Rowling que nunca iremos nos distanciar. — e finalizou com a cortesia dos bruxos.
— Eu não acredito que você fez!!!! — eu gargalhava da cena. Jon nunca fez aquilo, embora eu e Alê sempre insistíssemos ferozmente. Aquela era a primeira vez. Ele era tão engraçado... — Espero que saiba que essa é a primeira e última vez. — disse ele. — Ahhhhh não! — reclamei. — Mas foi tão fofinho! Ele mudou de assunto. — Se você fosse para uma ilha deserta, e só pudesse levar um objeto, ou uma pessoa, o que você levaria? — perguntou brincalhão. — Quanto tempo na ilha? — Um mês. Respirei fundo e refleti alguns minutos. — Pergunta difícil! — Pra mim não... — Ah, é? E o que você levaria, espertão? — desafiei. — Você. — ele disse — Pra fazer o tempo passar falando bobagem. Eu joguei uma almofada nele.
— Palhaço! Eu não falo só bobagem... — Claro que não... — ele falou entre risadas. — Já sei o que eu levaria... — disse decidida. — O que? — Papéis e caneta. Pra escrever cartas cheias de bobagens pra você ler. E você teria que me responder cada uma delas. — Ohhh nãão!!!! — ele fingia uma dor aguda no peito. Eu e ele caímos na gargalhada, daquelas crises que não conseguíamos nos olhar diretamente sem voltar a rir. Alguns momentos depois, ele falou. — Seus dentes estão sujos de chocolate. E começamos a rir de novo... Depois de quase dois minutos, conseguimos voltar à seriedade. — Somos problemáticos. — afirmei. — Todas as pessoas legais são. — ele refletiu. Depois daquela crise de risos, continuamos conversando, sem nos dar conta do tempo (era a segunda vez naquele dia que eu perdia a noção das horas). Falamos sobre tantos assuntos que eu nem conseguia listar. 35
Pseudônimo — Beatriz Interaminense Mas, em algum momento, ele perguntou: — E aquela história do seu admirador secreto? Descobriu mais alguma coisa?
Ops... Zona perigosa. Eu não podia revelar que descobrira que o meu admirador era ninguém menos que o irmão dele... Resolvi desconversar. — Não... N-na verdade, eu meio que deixei isso de lado. — Sério? — ele perguntou meio confuso. — Cansei disso tudo. — soltei. — Ah... — ele respondeu — entendi. Mudei de assunto. — Você vai me passar aquelas músicas quando voltarmos, não é? — perguntei. — É lógico, Vic... — ele disse taciturno. Ficamos calados por alguns instantes.
Toc, toc, toc! — Pode entrar! — soltou Jon. Virei o rosto e dei de cara com George, entrando no chalé meio desconfiado. — Vic!!! Então você está aí enfurnada com o Jon... Não te vi na hora no almoço. — observou. — Vocês não vão sair nem um pouco? O pôr do sol tá lindo lá fora. — Estávamos conversando... acho que perdemos a hora. — Jon respondeu por nós dois. — Ei, brother, me empresta aquela jaqueta de couro! — pediu George. — Jon, obrigada pelos lanches e pelo papo, acho que vou me preparar para o jantar... — disse, já me levantando e indo em direção à porta. Precisava sair dali. — Por nada, Vic. — ele respondeu consternado. — Nos vemos no jantar. — Claro... — eu disse, já saindo do chalé. Ao sair, parei ao lado da porta do quarto. Meu coração à mil. Então, segundos depois, ouvi o comentário de George: — E aí, Clark Kent, já decidiu se quer ser homem ou super-homem? — Ainda não decidi... — Jon respondeu. Não entendi. Por que ele chamara Jon de Clark Kent?
Clark. Kent. C.K. Minhas mãos foram para minha boca e o chão sumiu em baixo dos meus pés. Meu único impulso foi correr para o meu chalé.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense
Naquela noite, não consegui sair. Pedi que Alê trouxesse meu jantar no quarto. Ela fez, sem reclamar, pois percebeu que eu estava muito calada. Enrolei para comer, mas acabei por finalizar o prato, pois não havia almoçado naquele dia. Mesmo com muita insistência, consegui garantir à Alê que estava tudo bem. Para todos os efeitos, eu só não estava me sentindo tão disposta. Pedi que ela não deixasse ninguém entrar em nosso chalé. Ela me assegurou que ninguém viria. Depois de me dar um abraço, ela saiu do quarto e eu fiquei sozinha, em silêncio. Não conseguia raciocinar, então, deitei em minha cama e resolvi dormir.
Acordei antes do despertador tocar. Tomei banho e me agasalhei, pois fazia frio. Saí do chalé sem fazer barulho. Alê e Susana dormiam feito pedra. Resolvi caminhar na trilha próxima ao lago, precisava refrescar meus pensamentos. O nascer do sol nas colinas, ao redor do acampamento, era uma visão de tirar o fôlego e a brisa fria da manhã corria em meu rosto e em meus cabelos.
O que eu estava sentindo? Jon era C.K. Aquilo parecia realmente se encaixar. Eu nunca senti uma profundidade tão grande em alguém como sentia em Jon. Mas daí a pensar que ele sentia tudo aquilo por mim? Como eu nunca percebi? Como eu nunca percebi o jeito que ele me olhava durante as aulas e me lançava sorrisos quando eu o pegava no flagra? Ou quando ele me ajudava a levar os livros até a biblioteca, ou quando ele me abraçava e cheirava meu cabelo, dizendo que gostava do cheiro de rosas do meu shampoo, ou quando ele ria das minhas piadas sem graça, ou quando separava as jujubas por cor, por que sabia que eu só gostava das vermelhas... Meu coração chegava a vacilar quando eu pensava nele. Ele sim era o meu C.K. Ele sim me fazia ir ao céu, ele sim me fazia sentir a pessoa mais especial do universo. Eu amava o meu C.K. Eu amava Jonas.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense Foi com as emoções a flor da pele que, ao longe, eu o vi caminhar, se aproximando de mim. Eu nunca fiquei tão nervosa em toda a minha vida. — Vic — ele chamou. Eu, pela primeira vez, notei que Jon não era só um cara legal, ele era mais que isso, muito mais. Ele era um garoto apaixonante, que, sem que eu percebesse, roubou, completamente, o meu coração. — Oi. — eu respondi quando ele chegou perto. — Também acordei muito cedo hoje... — ele afirmou. — Está tudo bem? — perguntei. — Muita coisa na cabeça... — ele soltou. Eu fiquei em silêncio observado a brisa bagunçar os fios macios do cabelo dele. Ele tinha o rosto corado por causa do frio e as mãos guardadas dentro do moletom preto que usava. E então, ele me olhou nos olhos e, com um suspiro, falou: — Vic, eu preciso te dizer uma coisa... Eu me virei para encará-lo. — E-eu... — ele tentava falar em meio a respiração ofegante. — Eu já sei, Clark Kent. — brinquei olhando pra ele. Seu semblante mudou e ele me olhou com dúvida. — Como...? — ele me encarou. — Ouvi George falando quando saí do seu chalé ontem à tarde. Silêncio. Ele me encarou de novo e, tirando as mãos de dentro do casaco, segurou minha mão. —Tudo que eu escrevi é verdade. — afirmou devagar. — E é tudo sobre você, Vic, sempre foi tudo sobre você. Eu não conseguia respirar. Eu não consegui sentir o meu próprio corpo. Eu estava olhando para ele, para o meu C.K. Para o meu Jon. E ele me enxergava. Completamente. Eu me aproximei dele e coloquei meus braços ao redor de seu pescoço. — E então, o que você está esperando para me beijar? — e sorri. O rosto dele se encheu de luz. E ele me beijou.
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense Existe algo que ninguém nunca me falou sobre beijar. Nunca me avisaram que eu iria querer congelar aquele exato momento antes dos lábios dele tocaram os meus, quando eu podia sentir o hálito refrescante dele em meu rosto. O beijo de Jon era tão doce e profundo quanto os poemas que ele escrevera para mim. Seus lábios eram tão macios e ternos, e preenchiam os meus com delicadeza. Eu sentia seus braços ao meu redor, me abraçando com determinação. Ele me ergueu do chão e me rodopiou em seus braços, soltando um brado de felicidade, enquanto eu sorria sem motivos, feito uma tola. Me colocou de volta no chão, e, acariciando meu rosto, disse: — Eu amo você, Vic... Como eu diria outra coisa, senão: — Eu também amo você, Jon... — Aceita namorar comigo? — perguntou. — É claro. Ficamos nos olhando por vários minutos, como se o infinito coubesse em nossos corações. E cabia. Não tinha explicação para aquilo... Aquele amor sempre existiu. Eu é que nunca consegui vê-lo.
Depois que conseguimos respirar de novo, devido a tantas emoções, ele me levou de volta ao meu chalé. Alê estava à porta. Ela nos viu caminhando de mãos dadas e, ainda sonolenta, nos olhou sem compreender a situação. Explicamos o que havia acontecido. — VOCÊS ESTÃO DE ZOEIRA COM A MINHA CARA! — ela explodiu. — JON, EU ACHO BOM VOCÊ COMEÇAR A CORRER ESSE ACAMPAMENTO AGORA! E a caçada começou... Jon correu para longe, enquanto Alê o perseguia ferozmente, gritando para todo o acampamento ouvir: — Era você esse tempo toooodo!!!!!! Seu ator!!!! Eu não controlava as gargalhadas que vinham em minha garganta! Eles chegaram à beira de uma grande poça de lama, onde ocorriam algumas atividades, como disputas de cabo de guerra. Alê empurrou Jon e, antes de cair, ele a puxou com ele.
Uma verdadeira zorra! Alê saiu, rapidamente, e voltou correndo ao meu encontro. 39
Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Você acha que existe alguma chance de você sair ilesa disso, dona Victória? — ela correu ao meu encontro e me abraçou, espalhando lama por toda minha roupa.
— Alêêêêêêê!!!! Corri atrás dela e acabei caindo na lama junto com ela e Jon. Nossos cabelos estavam encharcados de terra. Não sei como, mas nós só conseguíamos rir sem parar de tudo aquilo... A noite caiu depressa. Estávamos todos prontos para ir à festa da fogueira (depois, é claro, de várias horas no banho, tirando terra seca do couro cabeludo).
Aquele dia se tornou histórico! Para a nossa surpresa, Alê se aproximou, de mãos dadas com Louis. —Hm... cof, cof! — sinalizei. — Gente, como vocês podem ver... — ela apontou para o Louis. — Eu estou fazendo esse favor de levá-la para a festa da fogueira — ele zombou. — Você é ridículo, Louis! — Alê sibilou. — E você fica uma gracinha com raiva... — ele replicou. Eu e Jon nos entreolhamos, antes de rirmos. Eles eram perfeitos um para o outro. Instantes depois, fomos nos juntar ao restante do pessoal, ao redor da fogueira. Nos acomodamos em banquinhos confortáveis. Estavam todos festejando. Os alunos do último ano estavam em clima de despedida, nostálgicos e cheios de emoção, alguns até choraram com as despedidas. O fogo queimava com as chamas altas em meio a todos, aquecendo o ambiente. George passou por nós, correndo, pulando e gritando: — Ele finalmente resolveu ser super-maaaaaaan! — nos sufocou em um abraço duplo — eu amo vocês dois! — Okay, George! Sai daqui... — disse Jon envergonhado. Ele riu e foi ao encontro de seus colegas. — Você gostava dele, não é? — ele me perguntou quando ficamos a sós. — Sim — fui sincera. — Mas deixei de gostar depois que me apaixonei pelo C.K. Você sabe... o que nós tivemos foi bem mais forte. — pisquei irônica. — Você deve gostar mesmo desse C.K., hein? — ele perguntou. — Você nem imagina o quanto... Isso me lembrou de algumas coisas. — Jon, preciso de respostas. — Manda! — ele respondeu direto. 40
Pseudônimo — Beatriz Interaminense — Se era você o tempo todo, por que era o George que colocava os bilhetes no meu armário na escola? — Como você sabe disso? — ele me arregalou os olhos. — Digamos que, eu e Alê invadimos a sala de segurança e recuperamos as imagens das câmeras... — disse culpada. — Vocês não fizeram isso... Vocês. São. Insanas! — ele me fitou incrédulo. — Não me enrola. Por que era ele que colocava os bilhetes? — insisti. — Eu não queria chamar atenção. — ele disse, sacodindo os ombros. — além disso, ele é melhor nessas coisas do que eu. — Okay... — Próxima pergunta. — Se era você que escrevia os bilhetes, como eu não assimilei sua letra no dia em que pegamos os trabalhos de inglês? Ele deu um riso culpado. — Jonas... — eu acusei — Você escondeu o seu trabalho. Eu não acredito! — Não estava pronto pra você descobrir, mas você e essa mania de investigar todas as coisas a todo custo me obrigaram a fazer aquilo. Me desculpe. Eu estava atônita. — Mais alguma pergunta? — ele disse, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Por que Clark Kent ? — Quando crianças, eu e George sempre fomos muito próximos, porém muito diferentes. Ele sempre foi o mais popular, o mais carismático, o “heroi”... Na minha cabeça, ele era o super-man, e eu era a sua versão Clark Kent, mais tímido, mais introvertido, menos chamativo...
Como eu podia me apaixonar ainda mais por alguém à cada segundo? — Eu sempre preferi a versão do super-man de óculos, sabia? — eu disse, me aconchegando em seu peito. — Sorte minha. — ele falou, depositando um beijo no topo da minha cabeça. Alguns momentos depois, fomos todos chamados para realizar o estimado ritual de passagem. Nos entregaram papel e caneta e disseram: — Vocês são os novos veteranos. Escrevam nas folhas o que desejam para o último ano do colegial e joguem seus pedidos na fogueira. Esse é o rito de passagem, guardem o segredo e repitam no próximo ano com os próximos alunos...
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense Todos escrevemos e depois, jogamos os papéis nas chamas. Ficamos concentrados observando o fogo consumir cada centímetro dos papéis, levando aos céus, através da fumaça, dezenas de pedidos cheios de expectativas sobre o novo ano que nos aguardava. Senti um misto de sensações. Jon me abraçou pelas costas e continuou observando as chamas comigo. — O que você desejou? — perguntei. — Que todos os dias do próximo ano fossem tão bons quanto o dia de hoje. Eu suspirei. — E você? — ele perguntou. — Desejei um final feliz com o meu Clark Kent. Ele sorriu e eu sabia que o meu lugar sempre foi ali, em seus braços. Me virei e ele me beijou. Não ouvi mais nada. Tudo ao nosso redor pareceu sumir... Só havíamos nós dois, sob a noite de um céu estrelado, próximos às chamas laranjas que queimavam altas, com um sentimento latente no peito... Só eu e o meu C.K., nos dias infinitos de nossa eterna e inesquecível juventude.
FIM
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Pseudônimo — Beatriz Interaminense
Se você chegou até aqui, meu primeiro agradecimento é a você, que leu meu conto do início ao fim. Espero que tenha mergulhado nas aventuras de Vic, Alê e Jon, assim como eu. Foi muito bom escrever sobre essa turma. Não posso deixar de agradecer ao meu redator favorito em todo o mundo (o meu namorado, Thalles Rannieri), que me ajudou durante todo esse processo e ficou acordado durante muitas madrugadas ouvindo ideias e corrigindo capítulos comigo. Obrigada, meu bem. Você é o meu C.K.! ;) Gostaria de agradecer também a minha melhor amiga, poetisa, Thalia Andrade, que me inspirou através de nossas conversas literárias, de onde sempre nascem boas ideias. Obrigada pelos seus poemas encantadores. E, por fim, mas não menos importante, agradeço imensamente à Deus, pelo seu infinito amor. Nada disso seria possível sem a inspiração vinda dos céus. Obrigada por me conceder essa paixão pela escrita, Senhor. Todas as minhas conquistas são Tuas.
Para quem gosta de música, acesse o link da playlist criada por mim, especialmente para a história: https://open.spotify.com/playlist/37aMlOoqHdL6EY7y0gCeQz?si=ybB_kGS_RrepJJAuHuV1ew
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