DO ESPAÇO À ESPACIALIDADE sistema de espaços livres em Mogi Guaçu
DO ESPAÇO À ESPACIALIDADE
sistema de espaços livres em Mogi Guaçu
BEATRIZ RIBEIRO
“A boa arquitetura só pode ser conseguida quando os conceitos de desenho estão baseados nos valores reais da vida humana” (LEGORRETA)
TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO I - 2016 Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo (IAU.USP) COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO PERMANENTE Prof. Dr. David Moreno Sperling Prof. Dr. Joubert Jose Lancha Prof. Dra. Luciana Bongiovanni Martins Schenk Prof. Dra. Lucia Zanin Shimbo PROFESSOR COORDENADOR GT Prof. Dr. Tomás Antonio Moreira
ÍNDICE INTRODUÇÃO 1. A URBANIDADE 1.1. Contexto 1.2. Conflito 2. (A CIDADE) MOGI GUAÇU 2.1. Leitura 2.2. Olhar 3. O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES 3.1. Fluxos 3.2. Estares 3.3. Espacialidades BIBLIOGRAFIA
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INTRODUÇÃO Este trabalho é parte de um processo de reflexão do momento contemporâneo da cidade e da arquitetura, apresentando um caráter investigativo e experimental que busca o autoconhecimento e caminhos no plano de ação que é conferido ao arquiteto e urbanista. É dividido em três capítulos: A URBANIDADE; (A CIDADE) MOGI GUAÇU e O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES. O primeiro capítulo, A URBANIDADE, é subdividido em: CONTEXTO e CONFLITO. Em CONTEXTO são apresentadas as questões e conceitos em relação a cidade contemporânea que são bases para o desenvolvimento da questão, melhor apresentada e definida em CONFLITO. O segundo capítulo, (A CIDADE) MOGI GUAÇU, é constituído de uma análise da cidade Mogi Guaçu, cartográfica e historiográfica em LEITURA e de modo mais subjetivo em OLHAR. O último capítulo, O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES, organiza e sistematiza o que foi revelado por meio das análises e apresenta as diretrizes para o sistema. Em FLUXOS e ESTARES há uma análise, em escala mais aproximada, que explicita a situação atual da área da intervenção. Por fim, em ESPACIALIDADES são apresentadas as hipóteses de qualidades espaciais do sistema de espaços livres.
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Praรงa de Lisboa, Porto
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1. URBANIDADE 1.1. Contexto A compreensão da cidade contemporânea deve ser feita para além da sua morfologia, a forma com que os espaços são organizados, utilizados e vivenciados mostram muito sobre o meio urbano. A problemática, portanto, transcende da cidade para o homem, pensar no desenho urbano vai além da compreensão das condicionantes físicas do território, depende da compreensão das práticas resultantes das relações sociais. A ideia de urbanidade, que surge em meio à crise do movimento moderno em um momento de discussão sobre as cidades, se apresenta como possibilidade de consolidar o papel da arquitetura como arte social. É a partir da presença e da vivência que a cidade gera espaços de urbanidade, onde encontra-se o caráter subjetivo da cidade e identifica-se a vida urbana. Segundo Jane Jacobs, o grau de urbanidade de uma cidade é intrinsecamente dependente do grau de vitalidade urbana presente nela. Reflete-se, neste trabalho, sobre os valores de habitar a cidade e o modo com que o arquiteto, por meio da conformação destes espaços, pode inferir na lógica vigente. Henri Lefebvre definia o urbano como uma realidade social composta de relações a serem concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento. Argumentava também que a existência humana se estruturava a partir das três dimensões: historicidade, sociabilidade e a espacialidade. Esta, por sua vez, apresentará um destaque no trabalho com um caráter instigante e experimental.
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URBANIDADE
Essa dimensão espacial da arquitetura é estudada desde o final do século XIX por diversos autores. O estudo da espacialidade, de acordo com Douglas Vieira Aguiar, é essencial no âmbito da arquitetura por propiciar uma avaliação da performance dos espaços a partir das demandas do corpo e das pessoas, tanto no individual como no coletivo. Qual a identidade/ as identidades dos espaços públicos na cidade contemporânea? De que forma eles se configuram, qual o papel que possuem e de que forma se transformam?
1.2. Conflito A reflexão sobre urbanidade e espacialidade (como qualidade dos espaços) se inicia a partir de um olhar que se atenta às modificações dos espaços vivenciados na cidade Mogi Guaçu. Os espaços públicos de convívio, são conformados pela apropriação das áreas pelas pessoas e são cada vez mais escassos no modelo de cidade atual. Dentre as incoerências urbanas, observa-se o aumento de moradias na periferia da cidade, seja com habitações populares ou com os condomínios cercados. Os bairros, isolados uns dos outros, se desenvolvem sem diversidade de usos, comércio, padrão social, equipamentos acessíveis a todos e garantia de fluxo de pessoas. As ruas, dificilmente configuram um passar qualificado para o transeunte. O centro da cidade, neste panorama, com mais suporte estrutural se esvazia, e é alvo da desfuncionalização e da conformação de espaços sem uso e sem vitalidade que não se integram com o entorno. No caso de Mogi Guaçu, a cidade antes “capital da cerâmica” tem em sua paisagem resquícios do que foram estas fábricas e a respectiva urbanidade que geravam. Hoje, estes grandes espaços sem usos e sem funções, são focos da especulação do capital e se configuram como conflitos e também potenciais. Intenta-se, portanto, pensar a integração das áreas livres do centro por meio de um sistema. refletir sobre quais são as identidades destes lugares, considerando a importância que tiveram no passado, o conflito que atualmente representam e as condições atuais da cidade. Pretende-se, portanto, após leitura objetiva e subjetiva da cidade, revelar o sistema existente e qualificá-lo, no plano das ruas, praças e parques. A intenção é que o próprio lugar revele, por meio da análise, suas potencialidades e identidades. As intervenções, no plano do desenho urbano, objetivam tornar visível o existente e aguçar a percepção dos que vivem na cidade.
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2. (A CIDADE) MOGI GUAÇU 2.1. Leitura Mogi Guaçu situa-se no interior do Estado de São Paulo, próxima à região administrativa de Campinas. Segundo informações do censo do IBGE de 2014, o município possui 146 114 habitantes e área de 885 km².
Mapa de localização da cidade de Mogi Guaçu
área total do município (885 km²) área total urbana (43,78 km²)
Mapa da área urbana de Mogi Guaçu
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(A CIDADE) MOGI GUAÇU Conforme Plano Diretor- Revisão 2015, há uma proposta de aumento do perímetro urbano da cidade de Mogi Guaçu.
ATUAL
PROPOSTA (24,94% aumento)
zona urbana= 43,78 km² zona urbana= 54,70 km²
Nota-se, portanto, o aumento da área urbana do município. Afim de compreender o desenvolvimento da cidade (e suas reais necessidades) é necessário entender seu processo de formação, se atentando ao fato de que cada espaço possui determinantes naturais e físicos únicos e reage de maneira distinta às mudanças ocorridas ao longo do tempo. Vê-se a seguir, mapas de análise do território em relação à topografia, hidrografia, áreas verdes, sistema viário, padrão socio econômico, evolução histórica e uso do solo.
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12 A cidade é cortada longitudinalmente pelo Rio Mogi Guaçu, com a presença também dos rios Oriçanga e das Pedras e córregos Canta-Galo, do Centenário, dos Macacos, do Areião e dos Ipês. A média das cotas planialtimétricas do terreno do município é de 640 m.
O mapa é resultado de um levantamento das áreas verdes no município com base em imagens de satélite.
áreas verdes
De acordo com Neto et al. (2008), em relação à infraestrutura das áreas verdes da cidade, a pesquisa relatou que 26% possuíam iluminação pública e 10.8% possuíam calçada para pedestre.
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(A CIDADE) MOGI GUAÇU
ferrovia rodovia vias estruturais
O Grupo 2- rendimento médio dos domicílios de R$2.569. O Grupo 3- rendimento médio dos domicílios de R$1.924. O Grupo 4- rendimento médio dos domicílios de R$1.724. O Grupo 5- rendimento médio dos domicílios de R$1.401.
IBGE, Censo demográfico. Fundação SEADE
O sistema viário da cidade é marcado pelas rodovias Dr. Gov. Ademar Pereira de Barros; Dep. Mario Beni e Antônio Joaquim de Moura Andrade e vias estruturais sentido norte/ sul: Av. Brasil, Av. Bandeirantes, Av. Nove de Abril, Av. Mogi Mirim, Av. dos Trabalhadores e leste/ oeste: Av. Emília Marchi Martini, Rua Paula Bueno, Av. Pref. Nico Lazi e Av. Padre Jaime.
O Censo Demográfico do IBGE de 2010, em relação à análise das condições de vida dos habitantes mostra que no centro da cidade há maior concentração de pessoas com padrão de vida mais elevado e que o norte e o leste da cidade se caracteriza por um padrão mais baixo. A rodovia, em destaque no mapa, se configura claramente, portanto, como um elemento segregador na cidade.
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Fonte: Caderno Memória - Anos 40, Prefeitura Municipal de Mogi Guaçu, 1996
Observa-se que em 1938 a cidade se formava em um dos lados da margem do rio e estava marcada pela existência de três grandes cerâmicas, da usina, pedreira e da estrada de ferro da companhia mogiana (neste momento com um caminho tortuoso, acompanhando as curvas de nível da topografia do solo- ATUAL AVENIDA DOS TRABALHADORES).
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(A CIDADE) MOGI GUAÇU O mapa de evolução histórica se apresenta a partir do cruzamento de informações de mapas encontrados de épocas distintas de Mogi Guaçu.
1938 1960 1970
Até 1960, o crescimento da cidade concentra-se no eixo norte/ sul. Notase, posteriormente, o crescimento da cidade nas extremidades leste e oeste.
2008
industrial comércio e serviço residencial
A cidade é marcada pelo uso industrial na sua periferia e nas proximidades das rodovias. O comércio e serviço tem maior destaque na região central próxima à margem do rio e é também distribuído pelas principais vias que cortam a cidade no sentido leste/oeste e norte/ sul com maior destaque na Av. Bandeirantes, Av. Nove de Abril e Av. Mogi Mirim caracterizando o principal eixo de comércio da cidade.
16 DO ESPAÇO À ESPACIALIDADE Mogi Guaçu tem origem com o povoamento na margem direita do rio Mogi Guaçu como consequência do Caminho dos Goiases (São Paulo a Goiás), no século XVIII. Ao longo deste caminho surgiram dois tipos de povoamento: de registro, onde a carga era fiscalizada pelo governo e de pouso obrigatório, que caracteriza o povoamento da cidade de Mogi Guaçu, determinado pelo rio que cortava a cidade. “O rio Mogi Guaçu, por ser um dos maiores desta região, tornou-se um natural
obstáculo ao meio de transporte entre as suas margens. Porém com a construção de balsas, e posteriormente pontes de madeira, foi este obstáculo vencido, ensejando a criação de grande entreposto de mercadorias” (ARTIGIANI, R. 1994, p.63)
Com o pouco rendimento na mineração, os moradores passaram a se dedicar à agricultura, pesca e criação de animais. No século XIX chega o café fazendo com que novas perspectivas surgissem para a população do campo promovendo um visível desenvolvimento das cidades. “(...) o movimento
tornou-se intenso pelas estradas principais e vicinais. A vila se ampliava com o bairro da Capela, que já contava com a igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída no ano de 1820.” (ARTIGIANI, R. 1994, p.63) Este
desenvolvimento tem como consequência a criação dos trilhos da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (1875) e também a primeira ponte metálica no rio.
17 A década de 1950 foi a fase dos loteamentos de terra, proporcionando o surgimento de novos bairros. As correntes imigratórias também favorecem atividades econômicas paralelas à lavoura cafeeira, como o comércio e posteriormente a indústria, onde a cerâmica se destaca. Devido às excelentes jazidas de argila, desde 1895 a indústria de cerâmica começa a se desenvolver. Os administradores do município, na década de 60, com a finalidade de diversificar o parque industrial que estava restrito a indústria cerâmica, se dedicaram na procura de novas indústrias, conseguindo a implantação destas na região com destaque para a Ingredion, antiga Refinações Milho Brasil, e International Paper, antiga Champion. Tais indústrias são responsáveis por um crescimento rápido e significativo do número de habitantes da cidade. Segundo Artigiani, foi constatado que “(...) em 1966, o município de Mogi Guaçu contava com setenta e cinco indústrias, que mantinham cerca de oito mil funcionários”. A necessidade de construções para abrigar o novo contingente populacional acarretou para Mogi Guaçu um crescimento da urbanização, principalmente na zona periférica.
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2.2. Olhar A partir da leitura realizada sobre a cidade por meio de mapas e da historiografia conclui-se que até 1960 o crescimento e desenvolvimento da cidade era concentrado no eixo norte/sul (sentido do Caminho dos Goiases), com a chegada das indústrias na periferia da cidade há uma mudança no panorama do crescimento da cidade que agora se intensifica no eixo leste/ oeste.
Com as indústrias há um aumento significativo da população, na década de 60 surge, portanto a necessidade de um planejamento urbano. Em 1970 é elaborado o primeiro Plano Diretor para a cidade. Dentre as propostas há um destaque para: -Recuperação da extensa área de várzea situada na margem direita do rio Mogi Guaçu, próxima do centro onde se localizavam as indústrias cerâmicas com a implantação de parques, praças e equipamentos de cultura, recreação e esportes; -Implantação do Centro Cívico Cultural no Morro do Ouro, área central muito visível pela topografia elevada; -Criação de duas vias expressas, no sentido norte-sul, paralelas ao eixo de atividades centrais e vias expressas no sentido leste-oeste. As vias foram criadas e se caracterizam como estruturadoras, não só em relação ao fluxo, mas também fortalecendo o desenvolvimento da cidade em ambos os sentidos. Houve a implantação do Centro Cívico no Morro do Ouro, entretanto o caráter cultural foi deixado de lado e os edifícios funcionam apenas para o uso da partição pública. A implantação de parques, praças e equipamentos de cultura, recreação e esportes na região das antigas cerâmicas são diretrizes que buscam ser retomadas no desenho urbano deste trabalho.
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(A CIDADE) MOGI GUAÇU
Fonte: Revisão Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) Mogi Guaçu, 2015
As áreas centrais representam a dinâmica político/espacial de desenvolvimento das cidades em determinado período. Na maioria dos casos, com o crescimento econômico o centro tende a se deslocar para outras áreas. Os “novos centros” surgem em locais onde há possibilidade de implantação da estrutura necessária, condições que favoreçam a acessibilidade de veículos, proximidade com rodovias e com áreas de padrão social elevado em detrimento de aspectos físicos e sociais.
Mapa de ocupação do solo
A área em destaque, demarcada como ZAC (zona de atividades centrais- CA=7 e TO=90%), se constitui de grandes espaços livres, desfuncionalizados com a desativação das cerâmicas e arborizados (proximidade com rio e córregos).
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equipamento cultural e esportivo marco consolidado marco fragilizado área com campo de visão favorecido
Mapa de análise de Mogi Guaçu
O mapa acima traz uma compreensão da área mais subjetiva que se conforma a partir da tentativa de localização de marcos na cidade, representando pontos referenciais na localização ou na paisagem. Os marcos são também relacionados à memória como no caso da Estação Ferroviária, construção muito importante no passado e que mesmo tendo sido desfuncionalizada é referencial na cidade. As cerâmicas estão representadas como marcos fragilizados, são construções que também perderam suas funções, foram muito significativas no passado entretanto hoje estão em processo de degradação e são alvos de empreendimentos imobiliários. Há também a representação de equipamentos esportivos e culturais na cidade que buscam uma relação com os espaços livres e há a tentativa de identificação de regiões em que o campo de visão é privilegiado.
21 Este esquema representa um olhar em relação à cidade, se constitui numa interpretação e sistematização das leituras realizadas.
e s p a ç o com caráter esportivo e de lazer
área íngreme de grande potencial visual
ETE
ciclovia canteiro marco consolidado marco fragilizado espaço livre potencial fluxo de pessoas (caráter comercial) estar (espaço com vivênvia e urbanidade) eixo de espaços livres estar (espaço com vivênvia e urbanidade) eixo de passagem estar memorial (estar + marco) ponto conector (encontro de eixos)
área de d e n s a arborização construções das cerâmicas a i n d a existentes área com ocupação residencial e comercial
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3. SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES Como se define o sistema de espaços livres e qual sua contribuição na constituição da cidade contemporânea? Quais os distintos papéis e potencialidades do sistema de espaços livres? Quais as potencialidades ecológicas do sistema de espaços livres para regenerar e preservar os recursos naturais ainda existentes?
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23 O sistema é sintetizado em três principais eixos, que buscam nortear o projeto de desenho urbano: CONSOLIDAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO e RESSIGNIFICAÇÃO. CONSOLIDAÇÃO- via de grande importância funcional e histórica na cidade, marca o desenvolvimento de Mogi Guaçu (caminho dos Goiases- sentido norte/sul). Possui caráter comercial e estruturador na cidade. TRANSFORMAÇÃO- via inserida numa área de grande valor ecológico e paisagístico e, de acordo com as intenções do capital, é potencial de acessibilidade e comércio. RESSIGNIFICAÇÃO- conector dos eixos de CONSOLIDAÇÃO E TRANSFORMÇÃO. Constitui-se de espaços livres que possuem potencial simbólico, visual e paisagístico. De que forma a visualização e a percepção deste sistema colabora num redesenho urbano que valorize o existente aguçando a percepção das pessoas para a natureza, para a história e espaços de convívio? A seguir, diretrizes principais para os eixos:
RESSIGNIFICAÇÃO tornar visível áreas livres por meio de integração e qualificação da passagem e espaços de convívio; manutenção da arborização existente e reflorestamento de em áreas de várzea e de preservação ambiental
TRANSFORMAÇÃO promover a valorização do ambiente por meio do reflorestamento e da diversidade (tentativa de mesclar comércio, natureza e espaços de convívio)
CONSOLIDAÇÃO criação e ampliação de caráter de unidade por meio do piso e da arborização das calçadas
Fotografia aérea de Mogi Guaçu com indicação dos principais eixos do sistema de espaç
ços livres: CONSOLIDAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO
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3.1. Fluxos Sendo o sistema uma revelação do existente, com ênfase na qualidade dos espaços da cidade, reservados tanto ao estar quanto ao passar questiona-se qual a acessibilidade da área da intervenção, agora mais recortada. Como as pessoas acessam os lugares, por onde elas passam e qual a qualificação do espaço existente. As imagens representam de forma sintética uma análise em relação ao existente, na primeira imagem a partir da identificação da ciclovia e dos canteiros nas vias e na segunda a partir da análise da qualificação das calçadas (considerando a largura da calçada, a pavimentação e a concentração do fluxo diurno e noturno. ciclovia canteiro
movimentação diurna movimentação noturna qualificação de calçadas menor
maior
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SISTEMA DE ESPAร OS LIVRES
Fotografia Praรงa Angelina M.
Fotografia Praรงa Angelina M.
Fotografia Avenida 9 de abril
Fotografia Avenida Pres. Tancredo A. Neves
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3.2. Estares Os estares devem ser pensados juntamente com os percursos, as praças vivas localizamse no caminho das pessoas, possibilitam mais que o descanso da passagem o encontro e o convívio. A análise dos espaços na área de intervenção foi realizada a partir das espacialidades, ou seja, com um olhar atento à qualidade dos espaços e a forma com que as pessoas os usufruem. Na imagem a seguir, observa-se a identificação de espaços com urbanidade atualmente e áreas de recreação, de acordo com o PDDI (possibilidade de qualificação e integração ao sistema). espaço com urbanidade áreas de recreação (PDDI revisão 2015) “Zona de recreação e lazer: constituise de áreas naturais ou modificadas (jardins, praças, parques e afins), áreas destinadas, com reserva ao desenvolvimento do turismo, uso da atividade regional em especial de atrativo regional e local, com melhor aproveitamento dos recursos naturais disponíveis.” (PDDI revisão 2015)
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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
Fotografia Praça Angelina M.
Fotografia Praça da Abolição
Fotografia Praça da Abolição
Fotografia Praça da Abolição
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A imagem ao lado representa espaços com urbanidade temporal, ou seja, espaços que tiveram significativa importância de vivência e convívio no passado.
É possível retomar estas espacialidades? Como retomar? Qual a ligação com a identidade atual da área?
urbanidade temporal
“Que saudade daquele tempo... Subíamos nos silos da cerâmica para assistir o jogo do camacho.” (JOSÉ AUGUSTO, depoimento)
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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
“A entrada e saída dos turnos era até bonito de ver, de tantas bicicletas que passavam” (NATALINO, gazeta guaçuana) Ocupação do solo (cerâmicas), 1975
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Os espaços demarcados na imagem ao lado possuem grande dimensão, não se integram na malha urbana e não são frequentados. Vistos como conflitos na cidade, neste trabalho são potenciais. Intenta-se a integração destes espaços em um sistema de espaços livres. Buscase entender se há e quais são as relações com o entorno, quais são os determinantes físicos e sociais da área em que se inserem, o papel que tiveram (se tiveram) no passado e como podem se conformar na cidade atual.
espaços livres
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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
Fotografia espaço livre íngreme
Fotografia espaço livre próximo à rodoviária
Fotografia Cerâmica Martini
Fotografia Cerâmica Martini
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3.3. Espacialidades O sistema de espaços livres, neste trabalho, é a integração e sobreposição das camadas de: PRESERVAÇÃO, RUAS e ESTARES.
“A interação dos espaços livres forma um sistema, onde o mesmo apresenta, sobretudo, relações de conectividade, complementaridade e hierarquia. Entre seus múltiplos papéis, por vezes sobrepostos, estão a circulação, a drenagem, as atividades do ócio, o convívio público, os marcos referenciais, a memória, o conforto e a conservação ambiental, entre outros.” (QUEIROGA e BENFATI, 2007)
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massa arbórea arborização rarefeita gramado ciclovia árvore copa densa árvore florida copa rarefeita árvore copa rarefeita estares
DO ESPAÇO À ESPACIALIDADE O sistema de espaços livres se apresenta a partir da intenção de desenho projetual de valorizar o existente, tornando-o visível e aprazível. Em relação à PRESERVAÇÃO, há a diretriz de densa arborização em áreas próximas ao rio e aos córregos que não são edificadas e prevêse também a manutenção de áreas arborizadas consolidadas na cidade. Entende-se a necessidade de preservação do meio ambiente, um espaço arborizado próximo ao centro da cidade possibilita a proximidade das pessoas com a natureza e se apresenta como forma de conscientização de valorização. As RUAS configuram o andar pelo sistema, a qualificação delas possibilita a integração e a conexão entre áreas. Prevê-se o tratamento do piso, iluminação e arborização das calçadas de acordo com suas especificidades como o fluxo, os usos da região, a topografia do terreno, dentre outros. O desenho dos espaços livres é realizado a partir das espacialidades que estes lugares podem ter. A partir de uma identificação dos espaços com urbanidades atualmente, valorização da camda temporal existente e coerência com o que a áreas representam na atualidade. Há a intenção de pensar nos espaços de estares do sistema a partir da qualificação destes para passagem, para o convívio, para atividades de lazer, esportivas e culturais.
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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
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mirante (escadarias de passagem e contemplação estares conformados nas calçadas se conectando com a centralidade (rodoviária)
comércio + áreas arborizadas (gradação de espaços mais restritos e mais atrativos)
lagoa
comércio ao longo da via
estar conector eixo comercial e eixo diversificado (contemplação + fruição)
centralidade conectoraequipamento cultural e de lazer rua pedonal (caráter relacionado à memória e a contemplação) e s p a ç o contemplativo, contato com natureza e rio
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No eixo de consolidação, marcado pelas vias: Av. Bandeirantes, Av. Nove de Abril e Av. Mogi Mirim há a diretriz de um tratamento diferenciado das calçadas (existente em parte dele atualmente). A unidade é presente também por meio da arborização a partir de árvores floridas com copas rarefeitas, possibilitando a permeabilidade do olhar. Estas pequenas modificações intentam consolidar o caráter estrutural e também simbólico que o eixo possui para a cidade.
Corte esquemático para as vias: Av. Bandeirantes, Av. Nove de Abril e Av. Mogi Mirim
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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES Na Avenida Brasil, eixo de TRANSFORMAÇÃO, há a diretriz de implantação de canteiro (não existente atualmente) e qualificação das calçadas. Pretende-se promover a diversidade com o uso comercial e caráter contemplativo. Em pontos próximos aos córregos, as árvores possuem copa densa e a calçada é mais estreita enquanto que em áreas de comércio a calçada é mais larga e há presença de árvores floridas. Intenta-se a partir destes elementos promover sensações de aproximação com a natureza.
Corte esquemático Avenida Brasil
DO ESPAÇO À ESPACIALIDADE 1
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Corte esquemático Avenida Pres. Tancredo A. Neves
Perspectiva 1: escadaria mirante
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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
Perspectiva 2: Vista da Praça da Abolição para a intervenção
Escadaria Mirante, patamares que se alargam e conformam estares
Detalhe mobiliário
Pretende-se qualificar a passagem em uma região que não possui uso devido ao grande declive. Este espaço livre se configuraria em passar e estar por meio de uma escadaria mirante e se integraria com a Praça da Abolição, muito frequentada na atualidade. A escadaria possibilitaria a acessibilidade da região e fortaleceria a conexão entre a Praça Angelina M. e a Praça da Abolição. A Av. Pres. Tancredo A. Neves, por sua vez, recebe uma qualificação na calçada no sentido de promover a conexão com a centralidade da área, a rodoviária. A calçada é extensão da praça, se conformando em um espaço de passagem e também de encontro e convívio.
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42 A R. Prol da Rua Luís Martini possui um extenso canteiro central. A via recebe a implantação da ciclovia e tem caráter comercial, há a diretriz de recuo nas edificações próximas a rua para além da calçada com possibilidade de espaço coberto de passagem e estar. O comércio, o equipamento inserido na área possibilitaria o uso e a vivacidade do canteiro.
Corte esquemático R. Prol da Rua Luís Martini
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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES Na Avenida Oscar Chiarelli há a diretriz de estreitamento desta (extinção de um dos sentidos de fluxo), além da implantação da ciclovia. A intensificação da arborização próxima à via traz um caráter contemplativo e de aproximação com a natureza.
Corte esquemático Avenida Oscar Chiarelli
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O programa da área em destaque consiste em secundarizar a função, colocando-a nas extremidades e enfatizando a qualificação espacial da passagem e do encontro.
ENCONTRO
PAS
SAG
EM
FUNÇÃO Intenta-se que o espaço tenha caráter contemplativo, de apropriação livre e valorize a camada temporal da área. Poderá abrigar eventos, manifestações, shows e oficinas por meio de espaços abertos e fechados (nas edificações remanescentes da cerâmica).
Intenção de espacialidade para a área, ao fundo parte da nova centralidade pro
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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
Esta área configura-se como uma nova centralidade para a cidade. É um ponto conector de eixos no sistema que pretende reforçar a integração das áreas livres e a consolidação da existência, visivibilidade e vivência destes espaços.
oposta (edificação da Cerâmica Martini)
BIBLIOGRAFIA HOUGH, M. Cities and Natural Process, 1995 JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades, Ed. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2011 GEHL, J. Cidade para pessoas, Ed. São Paulo: Perspectiva, 2015 ARTIGIANI, R. Mogi Guaçu - Três séculos de história, São Paulo, Editora Pannartz, 1994 LEGASPE, A. C. B. Moji Guaçu breve relato histórico. Mogi Guaçu, 1993 MARANGONI, M. A formação da cidade de Mogi Guaçu e as propostas do plano diretor de 1971, 2012 Plano de drenagem do município de Mogi Guaçu, Barueri, 2011 Plano diretor de Mogi Guaçu, revisão 2015 AGUIAR, D. V. Espaço, Corpo e Movimento: notas sobre a pesquisa da espacialidade na arquitetura. CARVALHO, U. M. Cidade Média e Centralidade: Mogi Guaçu e sua formação e desenvolvimento a partir do centro, 2010