INSEKTABSCHEUMETAPHER

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Agradeço e dedico este trabalho Ao Professor Luís Antônio Jorge, pelas conversas, orientação e suporte; À Roberta S. M., por toda ajuda, apoio e companhia; E a todos amigos e familiares direta ou indiretamente envolvidos; Obrigada.

FAUUSP Julho/2015 Bianca Lucchesi



ÍNDICE

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O Trabalho

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O Caderno

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Bibliografia

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INSEKTABSHEUMETAPHER

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Fotos

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O TRABALHO

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Este trabalho surge de uma vontade de produzir algo que, pela união de TEXTO + FOTOGRAFIA + DESENHO, causasse algum questionamento por meio de um conceito determinado. Desde as primeiras ideias, totalmente descartadas, em que buscava realizar um trabalho que discorresse sobre a bicicleta, o meio e questões históricas relacionadas a temas sobre gênero e feminismo, havia em mim uma vontade de inserir neste projeto questões sociais relevantes ao nosso cotidiano. Não obstante, eu desejava ter como produto final algo gráfico, preferencialmente envolvendo algum tipo de ilustração, minha área de especialização profissional, o que foi um fator limitante para este tema. Decidi, portanto, pela mudança do objeto de trabalho, optando por trabalhar sobre algum texto literário. A escolha do livro ‘Metamorfose’, de Franz Kafka, foi de certa forma casual, mas também pelo livro possuir características a mim bastante cativantes: é um livro que pode ser tanto um exemplar de literatura fantástica, como pode ser também lido em chave metafórica; possui em todo o seu decorrer um ar totalmente sombrio e depressivo, compondo situações bastante aflitivas e angustiantes, e sendo finalizado sem um ‘desfecho feliz’, mas, ainda que com toda essa aura pesada, possui um ritmo e uma escrita bastante agradáveis à leitura. Além de todos esses fatores, outro grande determinante é o fato de ser um livro relativamente curto, sendo mais propício para um trabalho que necessitaria de diversas leituras do mesmo, para melhor aprofundamento na história. Eu tinha em minhas mãos, portanto, um trabalho de Tradução Intersemiótica a ser feito, como assim definida por Julio Plaza: “A tradução intersemiótica ou ‘transmutação’ foi por ele [Roman Jakobson] definida como sendo aquele tipo de tradução que ‘consiste na interpretação dos signos verbais’, ou ‘de um sistema de signos para outro, por exemplo, da arte verbal para a música, a dança, o cinema ou a pintura’, ou vice versa, poderíamos acrescentar.” (Plaza, 1987)

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E dentro do campo da Tradução Intersemiótica, meu foco era trabalhar com o tipo de Tradução Icônica, como define o autor neste trecho: “Numa comparação entre os três tipos de tradução, pode-se perceber que a Tradução Icônica tende a aumentar a taxa de informação estética. Consequentemente, a tradução como ícone estará desprovida de conexão dinâmica com o original que representa; ocorre simplesmente que suas qualidades materiais farão lembrar as daquele objeto, despertando sensações análogas. A Tradução Icônica produzirá significados sob a forma de qualidades e de aparência entre ela própria e o original. Será uma transcrição.” (Plaza, 1987) Para iniciar o trabalho, realizei uma pesquisa por capas de diferentes edições do livro, chegando à conclusão de que elas se dividem em dois grupos: as de ilustrações literais e as de ilustrações não literais. Dentro do grupo das capas literais, há, porém, certa divergência quanto ao qual inseto Gregor Samsa se metamorfoseia, se seria em uma barata ou em um besouro. Isso se deve ao fato de haver divergências nas traduções existentes, sendo que ambas as interpretações podem ser consideradas. Vale dizer, porém, que em momento algum o autor define em qual inseto o personagem principal se transforma, fator esse que será bastante relevante posteriormente para o meu trabalho. A princípio, eu estava lendo a obra de maneira literal, e, imaginando a história como uma espécie de fábula, não pude evitar de pensar como a história seria caso essa metamorfose não fosse algo tão terrível para os familiares da personagem e para a sociedade em que vivia. Perdi-me em grandes digressões imaginando a vida de Gregor como um inseto quando ele voltasse a trabalhar, a pegar o trem todos os dias, tendo que encomendar roupas que lhe servisse de forma a poder manter todas as suas muitas patinhas livres, nos jantares em família que participaria, nos retratos com os amigos que tiraria, etc. Foi então que resolvi colocar essas digressões em imagens, criando alguns croquis e realizando algumas fotomontagens com essas ideias.

Ilustrações literais criadas para o livro

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Estudos: Croquis e montagens

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Apesar desse mundo encantado e feliz em que Gregor levaria uma vida estranhamente normal sendo um inseto gigante, percebi que a história se tornava muito mais profunda e interessante quando vista de forma não-literal. Passei, então, a estudar esse grupo de ilustrações de capas que havia pesquisado. Realizei pesquisas sobre possíveis interpretações para isso que acabei chamando de ‘Estado Inseto’ de ser. No site da Biblioteca da Universidade Regional de Blumenau, a Jornalista e pós-graduanda em Estudos Literários, Magali Moser, discorre sobre como a época, o local e as condições do autor interferem na própria literatura e faz uma interpretação rápida da atmosfera pessimista que paira sobre todo o livro: “A obra foi escrita em 1912, dois anos antes do início da Primeira Guerra Mundial. O clima de agonia e pessimismo mantido por Kafka é apontado por alguns autores como relação direta com o cenário mundial da época em que a obra foi escrita. Apesar de ter sido escrita no início do século XX, a obra permanece atual porque explora temas característicos da sociedade contemporânea, como a crise existencial, a desesperança do ser, pessimismo, a ausência de resposta, a solidão, impotência e a fuga – temas recorrentes da literatura de Franz Kafka. [...] A Metamorfose explora a solidão, os sentimentos de exclusão e as crises do homem contemporâneo. [...] A impotência de Samsa perante ações que antes lhe eram rotineiras como sair da cama ou caminhar, faz uma alusão às fraquezas humanas diante de pressões sociais. Denuncia como a sociedade restringe o valor do ser humano ao que produz e às aparências.” (Moser, 2014) É de fato bastante claro, ao relermos o conto prestando atenção a esses detalhes, de que Gregor aparentemente apenas tinha valor à família quando ainda era apto a trabalhar e mantê-los financeiramente. Certa manhã, quando ele acorda então incapacitado para tal tarefa,

Ilustrações não-literais criadas para o livro

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está metamorfoseado em um inseto. Interpreto este ‘Estado Inseto’ como ligada a sua impotência perante seus familiares, mas onde a relação de causa e consequência pode ser questionada: Ele poderia estar incapacitado de continuar sua vida normalmente por ter se transformado num inseto repugnante (interpretação literal), como também ele poderia SE VER como um inseto repugnante por estar incapacitado, seja pelo motivo que for, de continuar sua vida normalmente (interpretação metafórica). Ou seja, pode ser que algum fator externo esteja influenciando na normalidade de sua vida, e, devido a isso, ele ou as outras pessoas o coloquem neste ‘Estado Inseto’. Obviamente toda esta ambiguidade da história fora planejada por Kafka. Em momento algum ele menciona exatamente em que inseto a personagem se metamorfoseia, como mencionei anteriormente, e, mais ainda, a sua intenção era de que em momento algum este inseto fosse ilustrado no livro. O que importa obviamente não é NO QUE Gregor se transforma, mas POR QUE ele se transforma. “Kafka himself was wary of imposing too obvious a reading; in a letter to his publisher discussing the book’s cover, he wrote, ‘the insect itself is not to be drawn. It is not even to be seen from a distance’.” (Jones, 2006) livro.

Capa primeirra edição de A Metamorfose

E é o que vemos de fato na capa para a primeira edição do

No site dos produtores do filme homônimo à obra de Kafka, eles discorrem sobre uma outra interpretação para esta metamorfose de Gregor: “Kafka’s creature, with its hard outer shell and ineffectual jaws, can be seen as twentieth century literature’s most poignant and vivid symbol of self-willed schizophrenia. One of the many ways of interpreting The Metamorphosis is to see it as being about a person who puts forward flimsy little legs and a useless mouth as the signs of a total incapacity to bear the burden placed upon him. He literally puts up a protective shell around

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himself as an expression of his refusal to take responsibility any more. In this state he finds some sort of hope for peace. But the marvel of The Metamorphosis is that it has as many meanings as it has readers.” (Attractive Features, 2012) Gregor está preso sob uma carapaça dura, possui uma aparência repugnante e não é mais, portanto, aceito para viver na sociedade. Gregor se encontra como um ser asqueroso, dispensável, impertinente e incômodo até mesmo aos seus familiares, chegando a ser assustador para quem o vê, e a personagem parece estar apenas resignada em relação a tudo isso, havendo quase que nenhuma atitude para tentar mudar esta situação e tentar fazer-se ser minimamente aceita, sendo que está a todo momento plenamente ciente do que acontece ao seu redor. Não é possível saber se esta é uma impotência real da personagem ou se é uma impotência psicológica. Não é possível saber se Gregor estaria de fato impossibilitado de lutar contra a situação em que se encontra ou se apenas não vê como poderia fazê-lo. Essas características me levaram a diversas interpretações. Tentei imaginar a situação em que Gregor se encontra e do porque de estar preso a esta carapaça dura e a primeira interpretação, que me surgiu, foi que talvez esta fosse uma possível analogia a um fechamento em si, similar à depressão. Fernando Pessoa é conhecido como tendo sido uma pessoa um tanto quanto pessimista, sendo interpretado por alguns como alguém depressivo. Em sua obra “Livro do desassossego” podemos ver muito desta faceta melancólica do autor, como neste trecho do texto Diário Lúcido: “[...] É preciso certa coragem intelectual para um indivíduo reconhecer destemidamente que não passa de um farrapo humano, aborto sobrevivente, louco ainda fora das fronteiras da internabilidade; mas é preciso ainda mais coragem de espírito para, reconhecido isso, criar uma adaptação perfeita ao seu destino, aceitar sem revolta, sem resignação, sem gesto algum, ou esboço de gesto, a maldição orgânica que a Natureza

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lhe impôs. Querer que não sofra com isso, é querer demais, porque não cabe no humano o aceitar o mal, vendo-o bem, e chamar-lhe de bem; e, aceitando-o como mal, não é possível sofrer com ele.” (Pessoa, 2006) É possível perceber muita similaridade entre a descrição de Pessoa e a forma que Gregor Samsa age, aceitando o estado em que se encontra, sem nenhuma ação concreta contra isso. Pessoa, em outro texto intitulado Diário ao Acaso, consegue descrever com ainda maior similaridade aquilo que vemos nesta obra de Kafka: “Caminho entre fantasmas inimigos que a minha imaginação doente imaginou e localizou em pessoas reais. Tudo me esbofeteia e me escarnece. [...] Será que meu hábito de me colocar na alma dos outros, me leva a ver-me como os outros me vêem, ou me veriam se em mim reparassem? Sim. E uma vez eu perceba como eles sentiriam a meu respeito se me conhecessem, é como se eles o sentissem na verdade, o estivessem sentindo, e sentindo-o, exprimindo-o naquele momento. [...] Não tenho para onde fugir a não ser que fuja de mim.” (Pessoa, 2006) Não estaria, então, Gregor imaginando como as pessoas se sentem ao seu respeito e os visse manifestando este sentimento para com ele, sem que de fato tudo acontecesse na realidade? Não seria está aparência de inseto algo que Gregor imagina como a forma na qual os outros o enxergam e, portanto, assim aceita ser de fato? Assim como muitos autores mencionam, a época e o local em que a história foi escrita estão imersos em muito pessimismo devido a Primeira Grande Guerra e, mais ainda, há relatos de que o próprio Kafka possuía muito dessa áurea melancólica, o que torna muito plausível a interpretação de que a carapaça de inseto de Gregor seja uma representação metafórica da depressão. Mas não a única possível.

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Tentei isolar esta metáfora do ‘Estado Inseto’ e desvinculá-la parcialmente da história para poder analisar em quais outros tipos de situações poderia ser empregada a mesma metáfora. Acabei percebendo que há diversas situações em que o indivíduo se coloca ou é colocado sob esta posição de algo vil, inferior, asqueroso, incômodo ou assustador, em que fechar-se sob uma carapaça protetora passa a ser uma forma de defesa, tanto para quem vê (como uma forma de afastamento do indivíduo) como para a própria pessoa que se encontra neste ‘Estado Inseto’. Assim como os insetos, este indivíduo passaria a ter, então, uma invisibilidade seletiva, em que, é possível saber que ele está lá, mas, para evitar maiores transtornos, ninguém prestará demasiada atenção nele. Esta situação poderia, facilmente, ser vislumbrada em relação a uma pessoa portadora de algum nível de autismo; ou alguém que possua alguma doença grave transmissível; ou quaisquer tipos de discriminação: social, religiosa, de gênero ou étnicas, como, por exemplo, moradores de rua, prostitutas, viciados em droga, gays, travestis e transexuais, negros, “macumbeiro”, “maluco”, etc. A partir desta visão, percebi que seria possível definir seis grupos que sofrem algum tipo de estigmatização pela sociedade, que definiriam este ‘Estado Inseto’ em nossa sociedade contemporânea: 1. De cunho sexista 2. De cunho étnico 3. De cunho religioso 4. De cunho social 5. De cunho cultural 6. Ligado a alguma condição de saúde, doença, deficiência mental ou física. Neste ponto, percebi que eu poderia prosseguir com o processo de tradução intersemiótica de duas formas: trabalhando com a metáfora do livro, mas de forma a ilustrá-la diretamente ligada à história; ou trazendo a metáfora do ‘Estado Inseto’ para o plano contemporâneo, trabalhando com um ou alguns destes seis grupos que defini.

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* Paper cutting: Técnica artística onde se trabalha por meio de recortes de papéis, podendo criar uma cena completa em uma única folha de papel vazado, como se fosse uma renda, ou por meio de recortes de papéis que compõem uma imagem com a ilusão de perspectiva, com a profundidade sendo criada pelas camadas afastadas de papel.


Tendo estes conceitos definidos iniciei uma série de estudos de ilustrações para o trabalho. Como um primeiro estudo, criei por meio da técnica de ‘Paper cutting’* uma cena do livro (neste caso, o primeiro momento em que os pais de Gregor o veem pela primeira vez sob a sua forma metamorfoseada), tentando transmitir a metáfora nela contida, sem buscar elementos alheios à história. (Ver Estudo 1) Houve, no entanto, um questionamento de minha parte se não seria muito mais enriquecedor tentar transmitir a metáfora a partir de situações cotidianas, sendo que, desta forma, causaria maior questionamento por parte daqueles que vissem o trabalho, como assim desejava desde o início. Optei, então, pela ilustração não diretamente relacionada à história, trabalhando com questões paralelas ao livro. Iniciei novos estudos, feitos com base em fotografias relacionadas a algum dos seis temas de estigmatização que defini. Primeiramente, tentei a possibilidade de desenhar diretamente sobre a foto, intervindo na mensagem transmitida por meio da ilustração sobreposta. O resultado, porém, ficou um pouco confuso, e o resultado poderia acabar me limitando no detalhamento do desenho, sendo que este não poderia cobrir demasiadamente a imagem sob ele, para que a mensagem fosse clara. (Ver Estudo 2) Ainda seguindo a ideia de sobreposição de imagens, tentei este mesmo conceito, só que desta vez apenas com desenhos. Mesmo com diferentes cores de linhas, achei que a imagem final ainda estava ficando muito poluída, e não seria de rápida compreensão. (Ver Estudo 3) A partir destes dois tipos de estudo, obtive elementos em comum que acreditava que funcionariam para este trabalho: a união de fotografia e desenho. Eu teria, porém, que tirar as minhas próprias fotografias para este trabalho por questões de direitos autorais, e deveria, portanto, definir um tema para me focar, restringindo o leque de possibilidades e mantendo o trabalho mais coeso. Por questões de facilidade na hora da saída a campo, resolvi escolher um grupo que defini como ‘Pessoas estigmatizadas da Rua’, que envolveria mais de um dos grupos dentro dos seis que defini. Estas pessoas seriam moradores de rua,

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Estudo 1 - Paper Cutting

Estudo 2 - Desenho sobre fotografia

Estudo 3 - Desenhos sobrepostos

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catadores de recicláveis, vendedores ambulantes e prostitutas (incluindo travestis). Vale notar que, uma vez que eu teria que andar por partes da cidade não muito seguras quanto a furtos e roubos, não seria recomendável que eu utilizasse uma câmera fotográfica que pudesse ser atraente para esses tipos de delitos. Sendo assim, optei pela utilização da câmera simples de um aparelho celular, tendo esta ainda a vantagem de ser discreta, sendo que eu poderia tirar fotografias sem ser percebida, mas com a desvantagem de não possuir fotos de muito boa qualidade. Ainda que esta desvantagem tenha me deixado um pouco relutante de início, acabei percebendo que a qualidade da imagem da foto não seria tão relevante quanto a mensagem que esta pudesse passar, ainda mais considerando que o foco do produto final não era apenas fotografias. A forma de criação da ilustração, porém, mudou. Resolvi criar uma montagem por meio do desenho, onde eu trocaria a pessoa ali presente por um grande inseto. A foto, no entanto, não seria descartada: para melhor interpretação da metáfora, esta deveria estar presente, sendo que a junção de DESENHO + FOTOGRAFIA fariam o diálogo com o texto. Quanto ao texto, percebendo que já não faria mais sentido manter a história em sua forma integral, decidi eleger passagens que dialogassem com as imagens, trabalhando com ambiguidades ou duplicidade de significados, intensificando o incômodo desejado a ser causado pelas imagens. Estas passagens foram retiradas de uma versão do livro publicada na série Clássicos Abril Coleções, Volume 20, com tradução de Lourival Holt Albuquerque, em edição de 2010. Sobre o título do trabalho, quis criar algo que, ainda que não informasse sobre o que o trabalho se trata logo à primeira vista, causasse uma sensação de estranheza, em especial pela sua formação ‘monstruosa’, pela junção de palavras em alemão. A escolha do alemão se fez pelo livro ter sido escrito nesta língua, e por esta ser bastante propícia para esse tipo de construção linguística, resultando no neologismo que dá título ao trabalho.

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O CADERNO

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Sobre o caderno final, algumas escolhas me guiaram para que chegassem ao formato em que se encontra: gostaria que fosse algo que eu mesma pudesse construir, simples o bastante para que não me limitasse na qualidade de acabamento, mas elaborado o suficiente para que complementasse o seu conteúdo. A ilustração na capa, bem como o estilo utilizado nas imagens internas, busca remeter às ilustrações utilizadas em livros antigos, feitas pela técnica de ‘Água Forte’, como presente em algumas edições do próprio Metamorfose. Deveria, também, ter certa similaridade com o tipo de desenho presente na primeira capa publicada deste livro, sendo que, ao contrário do que foi feito neste primeiro caso, possuiria um inseto nitidamente retratado. A escolha de Kafka de não retratar um inseto na capa se fez provavelmente para resguardar a metáfora oculta no livro; no meu caso, porém, uma vez que esta metáfora está bastante exposta e ilustrada de forma literal, a presença tal na capa acaba por completar a mensagem: o besouro em exposição encontra-se numa vista tipicamente taxidérmica, ou de estudos morfológicos, onde busca-se mostrar o maior número possível de detalhes, assim como busquei fazer em minha interpretação da metáfora do livro.

Ilustração de A Metamorfose, técnica Água Forte

Quanto à diagramação e impressão do caderno contendo as imagens finais, a escolha de uma impressão em estilo sanfona permite que, caso seja desejado, possa se abrir toda a faixa contendo o trabalho e ver os desenhos, fotos e textos lado a lado, como uma linha do tempo. No entanto, devido ao seu grande comprimento, dificilmente alguém de fato o faria por completo, preferindo folhear como um livro comum.

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BIBLIOGRAFIA SITES: Attractive Features. (2012). Metamorphosis - The Film. Acesso em 22 de Dezembro de 2014, disponível em Metamorphosis - The Film: http://metamorphosisonfilm. com/#kafka Jones, A. (28 de Setembro de 2006). Acesso em 22 de Dezembro de 2014, disponível em The Independent: http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/theatre-dance/features/metamorphosis-the-bug-for-kafka-417857.html Moser, M. (2014). Biblioteca Universitária. Acesso em 23 de Dezembro de 2014, disponível em Biblioteca da Universidade Regional de Blumenau - Sarau Eletrônico: http://bu.furb.br/sarauEletronico/index.php?option=com_conten t&task=view&id=137&Itemid=34

LIVROS Kafka, F. (2010). A Metamorfose. Clássicos Abril Coleções , Vol 20. Editora Abril Pessoa, F. (2006). Livro do Desassossego. Companhia das Letras. Plaza, J. (1987). Tradução Intersemiótica. Editora Perspectiva.

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INSEKTABSHEUMETAPHER

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Certa manh茫, ap贸s um sono conturbado, Gregor Samsa acordou e viu-se em sua cama transformado num INSETO MONSTRUOSO



Calados e pensativos, fitavam-no com uma certa tristeza.





Era uma voz de animal‌





Verdade,

o corpo de Gregor estava ressequido;

somente agora

percebiam por que jĂĄ nĂŁo mais

se sustentava nas perninhas,

e o olhavam

atentamente.





Certamente ninguém queria que Gregor morresse de fome, mas ao mesmo tempo, quem sabe, não conseguiam

lidar diretamente com ele…





É só uma pequena indisposição, uma tontura que me impediu de levantar-me. Estou ainda na cama, mas já me sinto bem. Já estou indo, um momentinho de paciência! Ainda não me acho tão bem quanto pensei, mas já estou melhor. Não posso compreender como essas coisas acontecem com a gente! Ontem à noite eu estava tão bem!





E por aí seus pensamentos fluíam quando, repentinamente, se apossou dele um sentimento de vergonha que o levou a precipitar-se para debaixo do sofá, onde se sentiu mais à vontade, apesar do aperto que não lhe permitia mexer a cabeça e, sobretudo, apesar de seu grande corpo não caber por inteiro naquele espaço.





Agora, contudo, mais do que nunca, deveria sentir necessidade de esconder-se, pois, em razão da sujeira que se encontrara em seu quarto, qualquer movimento que fazia levantava ondas de poeira, e ele próprio estava coberto de pó e arrastava, nas costas e nas laterais do corpo, pelos, fios de linhas e restos de comida…





É verdade que hoje estou numa posição apertada, mas, trabalhando, vou conseguir superá-la. Não torne as coisas mais difíceis para mim. Apoie-me! Sei que ninguém gosta muito de vendedores. Todos acham que ganhamos muito dinheiro e praticamos malandragens. Pode ser que não haja nenhum motivo especial para as pessoas pensarem diferente, mas o senhor sabe bem como as coisas são realmente, sabe mais, que isso fique entre nós, que o próprio chefe, que, por ser patrão, às vezes se deixa levar por visões falsas sobre seus funcionários.





No momento em que juntar o dinheiro que meus pais lhe devem talvez eu consiga em mais cinco ou seis anos -, nĂŁo tenho dĂşvidas de que o farei. AĂ­, sim, mudo de vida.





Foram obrigados a cumprir

rigorosamente

o papel que o mundo imp천e

aos desafortunados





Se a musica o envolvia tanto, seria ele um bicho?



FOTOS

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