Leitura

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“Numa pequena aldeia situada no ponto sul de Itália, vivia uma família de escritores. O pai, Luigi, escritor há muitos anos não teve mais do que um êxito. Já a mãe, Rosa, escrevia pequenos textos para o jornal da terra. Também a filha mais nova do casal, Luciana, de doze anos, adorava ler e escrever, enfim, amava as letras.

Aproximava-se uma tarde muito fria e, por isso Luigi pediu à filha para ir à floresta apanhar um pouco de lenha. Luciana concordou de imediato e seguiu o caminho habitual, mas, inesperadamente, encontrou um trilho todo em pedra, o que muito a espantou, pois nunca tinha visto aquele trilho nas outras vezes em que tinha ido buscar lenha! Olhou para o relógio e viu que ainda era muito cedo, por isso decidiu segui-lo e ver onde ia dar este novo trilho.


Andou durante bastante tempo e acabou por chegar a uma espécie de lago, rodeado por árvores lindíssimas e pequenos arbustos. A menina ficou boquiaberta com tanta beleza e investigou cada canto daquele estranho local.

No fim de um caminho em terra, a pequena Luciana deparouse com uma rapariga, encostada a uma laranjeira, a ler um enorme livro. A rapariga tinha uns longos cabelos louros, belos olhos azuis, que lhe faziam lembrar o mar, vestia uma longa túnica branca e estava descalça, Luciana aproximou-se dela, que, mal a viu, esboçou um enorme sorriso. Luciana cumprimentou-a, e sentou-se perto dela, a rapariga retribuiu o olá, e fez-lhe um carinho na cara.


Mais uma vez Luciana reparou como era bonita a rapariga, mas, de perto, também notou o quão fraca ela estava! Repentinamente, perguntou-lhe: - Como te chamas? - Leitura - respondeu a rapariga. - Leitura, isso não é nome de gente! - afirmou Luciana. - E quem te disse que eu era gente de verdade? - disse Leitura. - Então, o que és? - perguntou-lhe Luciana.

Seguiu-se um longo silêncio. Luciana, imóvel, esperava uma resposta de Leitura, que, tranquilamente, continuava a ler o livro, como se nada se tivesse passado. Depois de algum tempo, Luciana voltou a fazer a mesma pergunta e, desta vez Leitura respondeu: - Nem eu sei bem o que sou, mas gosto de pensar em mim como um espírito. Sim, o Espírito Leitura. - Então, se és um espírito, não devias estar mais forte? O que te aconteceu? - perguntou Luciana - Não sei bem, acho que estou a perder toda a minha força, pois, a cada dia que passa, sinto que uma parte de mim foge para outro lugar - respondeu Leitura.


- Mas a o espírito da Leitura devia ser forte. Eu adoro ler e aposto que existem muitas mais pessoas como eu. Isso devia dar -te forças - disse Luciana - Claro que vocês me dão forças, mas cada vez são menos as pessoas que lêem, que acreditam na Leitura e, por causa disso, eu até posso morrer - disse Leitura. Luciana levantou-se, andou em círculos durante alguns minutos e afirmou: - Temos que fazer alguma coisa, para que o teu estado não se agrave! - Não vale a pena o esforço! - disse Leitura, enfraquecida e desanimada - Não somos nós que temos que fazer alguma coisa, são as pessoas que têm de acreditar em mim. Luciana reparou no tempo, tinha estado ali três horas e ainda não tinha a lenha para entregar ao pai. Quando se voltou para Leitura, já ela tinha desaparecido! Só encontrou um bilhete que tinha escrito o seguinte: "Os sonhos são uma constante, os dias uma realidade, faz com que o mundo se una através de palavras." No rosto de Luciana escorria uma lágrima. Agarrando com muita força o bilhete de Leitura, disse: - Hei-de fazer com que acreditem em ti, não deixarei que se esqueçam da Leitura, prometo.


Depois de apanhar a lenha que o pai lhe tinha pedido, voltou para casa. Pelo caminho ia pensando nas palavras de Leitura e no bilhete que ela lhe tinha deixado. Quando chegou a casa, pegou em papel e numa caneta e decidiu fazer algo que ajudasse a Leitura e que, ao mesmo tempo, realizasse um sonho que ela própria tinha há muito: escrever um livro. Era o que faria. Nesse livro, Luciana iria relatar como conheceu a Leitura e iria contar histórias de sonhos realizados por ela realizados.

Assim se passaram quinze anos, Luciana, já mulher formada e escritora, conhecida de todos pela sua grande obra Os

Sonhos da Leitura, voltou a casa. Mal entrou naquele edifício, esqueceu-se de tudo o que tinha passado durante aqueles quinze anos e voltou a ser criança. Luciana e o marido, depois de arrumarem as coisas, partiram para a floresta perto da sua antiga casa. No tempo em que ainda não tinha ido para a faculdade, Luciana ia todos os dias à floresta, mas nunca mais viu Leitura, desde aquela tarde fria. A menina, agora mulher, sentia uma enorme saudade no seu peito, quando pensava naquela rapariga lindíssima.


Quando Luciana e o seu marido chegaram ao local onde se encontrava o trilho, repararam que a floresta estava parcialmente destruída, a maior parte por causa das chuvas ácidas que aconteciam cada vez com mais frequência. Luciana temia que a laranjeira onde, tantos anos antes, tinha visto Leitura também estivesse destruída. Continuaram o caminho até que chegaram ao lugar do encontro entre Luciana e Leitura. O espaço estava diferente, contudo Luciana reconheceu-o logo. No lugar da enorme laranjeira, havia um círculo de arbustos, Luciana caminhou em direcção a eles e, no meio dos arbustos, encontrou uma pequena caixa que continha uma túnica branca com uns desenhos de umas flores e uma carta. Luciana leu-a e, depois, começou a chorar. Ninguém sabe o que a carta dizia. Porém, num dos livros de Luciana diz-se: -"... e correu livre como um pássaro, viva, forte e única, a Leitura. Ler é um dom, não o desperdicem!"

BE – Escola Secundária Camilo Castelo Branco. Fátima Martins 8ºB


Marรงo 2010


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