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O que diz o computador do caboclo?

Geovanni Gallo criou o artefato para divulgar a cultura marajoara O que diz o computador do caboclo?

O Museu do

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Marajó está localizado em Cachoeira do

Arari (PA), foi criado informalmente em 1972 e abriu as portas para o público em 1984.

„ Aila Beatriz inete

Acultura marajoara é rica em elementos importantes para a história do Pará, pois foi a que alcançou o maior nível de complexidade social na Pré-História brasileira. O Museu do Marajó, criado pelo padre italiano Giovanni Gallo, tornou-se referência para os estudos dessa cultura. Gallo coletou elementos que deram origem ao acervo do museu e criou os computadores do caboclo. Pensando em entender melhor esses computadores, a pesquisadora Niceléia Muribeca da Cruz desenvolveu no Programa de

MARCOS SANTOS / AGÊNCIA PARÁ

Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia (PPLSA/ Bragança), sob a orientação da professora Carmen Lúcia Rodrigues, a dissertação Artefatos da cultura material marajoara em contexto de tradução cultural no Museu do Marajó/PA. “Giovanni Gallo e o Museu do Marajó fazem parte das minhas memórias de infância, por meio das narrativas contadas pelas minhas avós, que moraram na Vila do Jenipapo, no mesmo período em que o padre esteve por lá. Decidi investigar a origem dessas narrativas e encontrei tudo lá, ‘armazenado na memória’ desses computadores”, conta a pesquisadora. Os computadores são estruturas em madeira, em diferentes formatos, e possuem informações cuidadosamente escondidas, que são reveladas mediante um jogo de interação com os visitantes. Os computadores representam a técnica desenvolvida por Gallo a fim de revelar o homem marajoara para quem tem “os olhos na ponta dos dedos”. O principal objetivo da pesquisa era investigar os computadores com base no contexto territorial, analisando sua materialidade e seu conteúdo. “Os artefatos denominados de Computadores do Caboclo Marajoara tornaram-se atração turística do arquipélago, em virtude da sua singularidade”, afirma a professora. “Quando começamos a pesquisa de campo, descobrimos que os computadores não possuíam inventário ou qualquer registro. Então, foi preciso executar as etapas de levantamento, listagem, registro fotográfico, elaboração de fichas descritivas, agrupamento e tabulação dos 67 computadores”, explica Niceléia Muribeca.

Acervo foi reunido com a ajuda da população local

Segundo Niceléia Muribeca, o museu nasceu com a missão de se tornar polo de desenvolvimento para a comunidade, por meio da cultura. “Embora não tenha alcançado todos os seus objetivos, Gallo conseguiu reunir, com a sua comunidade, todo esse patrimônio material e imaterial”, analisa. De acordo com a pesquisadora, os computadores do caboclo podem ser considerados artefatos da cultura material marajoara. A materialidade e o conteúdo foram interculturalmente traduzidos em linguagem amazônica, revelando saberes territoriais de culturas em contato. Em relação à materialidade, embora exista uma variedade de modelos com diferentes mecanismos de funcionamentos, há predominância de 34% para os artefatos do tipo “levanta-e-vê” denominação atribuída por Gallo para a técnica que consiste em levantar uma placa para descobrir a informação escondida por debaixo dela. No que diz respeito ao conteúdo, ele é predominantemente antropológico e natural – 86,5% dos computadores fazem uma aproximação entre o homem e o seu meio natural. “São conteúdos que evidenciam preocupações do homem com a fauna, a flora, os fenômenos naturais, os modos de produção, os costumes, a linguagem, entre outros temas. Esses dados analisados em conjunto com a literatura de Gallo conduzem à reflexão sobre a intenção do autor, para quem não seria possível apresentar o homem marajoara segregado do seu território ou sem considerar sua cosmologia”, analisa a pesquisadora. “O museu tem fama, atrai turistas, inclusive, de fora do país, mas está localizado em uma região que ainda não oferece um atendimento turístico de qualidade”, avalia a professora. Segundo Niceléia, outro problema é a falta de acordos de cooperação (público e privado), importantes para uma gestão técnica, do desenvolvimento de pesquisas; e a captação de recursos para a manutenção e conservação das atividades. Para a pesquisadora, sua maior contribuição foi o registro e a divulgação do que existe no museu. “Assim como entregar ao museu as fichas sistematizadas com sugestões de aplicabilidade: desde a elaboração de um inventário técnico até a construção de roteiros de visitação para públicos específicos”, finaliza Niceléia Muribeca.

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