JORNAL MARTIM-PESCADOR 134

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ABRIL 2015 Número 134 Ano XI Tiragem 3.000 exemplares

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SEMANA CAIÇARA Crédito Catharina Apolinário

A técnica Sandra Paron, do Instituto de Pesca, dá uma deliciosa receita de cuscuz. PG3 O vereador Sandoval Soares, Márcio Barreto e Sérgio Willians (FAMS) abrem a Semana de Cultura Caiçara em Santos. Pág. 8

O biólogoThierry Salmon fala de receita de pescador a bordo da embarcação Marbella. Págs. 4 e 5

Prefeito de Santos, Paulo Barbosa, apresenta projeto de modernização do Terminal Pesqueiro Público de Santos ao ministro da Pesca. Págs. 4 e 5

Pescadores de Cubatão se reúnem para discutir a proibição da pesca do crustáceo em reunião da APA Marinha Litoral Centro. Pág. 2


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Criado Grupo de Estudos para o Caranguejo Representantes do setor pesqueiro discutiram problemas advindos da proibição da captura do caranguejo-uçá (Ucides cordatus) pelo Decreto 60.133 de 7/2/2014 da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. A discussão ocorreu durante a 41a Reunião da Câmara Temática de Pesca (CT Pesca) da APA Marinha Litoral Centro dia 5 de março. Foi feita apresentação do histórico e das principais consequências do referido decreto que considera o caranguejo-uçá (Ucides cordatus) como espécie ameaçada de extinção e o enquadra no Anexo I, que relaciona as espécies que tem a captura proibida. Também foi explicada a estratégia de trabalho desenvolvida e os resultados obtidos que culminaram na liberação da captura desse crustáceo para 120 caranguejeiros no litoral sul do Estado de São

Paulo. Pescadores artesanais de Cubatão, São Vicente, Guarujá se queixaram das dificuldades que vêm passando com a proibição. Diante desses problemas ficou decidida a criação de um grupo de trabalho para discutir a possibilidade de liberar a pesca em outros municípios, da mesma maneira que foi feita na área da APACIP (Cananeia –Iguape-Peruíbe), válida a partir de fevereiro. Segundo o artigo 6o do Decreto 60.133 as espécies da fauna aquática ameaçadas de extinção passíveis de utilização como recurso poderão ter sua exploração autorizada pelo órgão ambiental competente, com a apresentação de parecer técnico devidamente fundamentado. A liberação fica restrita a várias regras, como registro do número de pescadores autorizados, áreas específicas de atuação, entre outros. O presidente da

O gestor da APAMLC, Paulo Harkot, abre a reunião da CT Pesca

Ingrid Machado fala sobre a criação do grupo de trabalho

O presidente da Colônia Z-5 exibe a permissão para a pesca do caranguejo em partes do Litoral Sul

Colônia de Pescadores Z-5 de Peruíbe, Antonio Prado, foi uma das pessoas que lutou para que a permissão fosse feita, contando com o apoio do deputado estadual Caio França e técnicos da área. Durante a reunião da CT Pesca, o biólogo Antonio

Olinto Ávila da Silva, do Instituto de Pesca SAA/APTA falou sobre o monitoramento da pesca que a instituição realiza desde 1944. Explicou que as informações estão disponibilizadas no site www. pesca.sp.gov.br/estatistica. php e www.propesq.pesca.

Pescador atualize sua embarcação camaroeira O Ministério da Pesca e Aquicultura –MPA está realizando um levantamento das embarcações sem autorização de pesca que operam na captura de camarão-sete-barbas. Para isso é necessário fornecer o nome do proprietário, nome da embarcação, comprimento total da embarcação, Arque-

ação Bruta (AB) e potência do motor. O cadastramento, iniciado dia 23 de março termina após 30 dias. O conhecimento da frota de camarão-sete-barbas que opera à margem da legislação tem por objetivo debater a possibilidade de habilitá-la para a referida pesca, aventando-se a necessidade

Defesos

Bagre rosado (Genidens genidens, Genidens barbus, Cathorops agassizii) 01/01/15 a 31/03/15 Camarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis), camarão-branco (Litopenaeus schmitti), camarão-sete-barbas (Xiphopenaeus Kroyeri), camarão-santana ou vermelho (Pleoticus muelleri), camarão-barba-ruça (Artemesia longinaris)01/03/15 a 31/05/15 Caranguejo-guaiamum (Cardisoma guanhumi) 01/10/2014 a 31/03/2015

EXPEDIENTE www.jornalmartimpescador.com.br

Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo Presidente Tsuneo Okida

de atendimento de critérios a serem estabelecidos em norma específica. O pescador interessado em participar do cadastramento deve comparecer ao escritório do Ministério da Pesca e Aquicultura no Terminal Pesqueiro Público de Santos – TPPS ou em sua Colônia de Pescadores mais próxima.

chado Cabral, do Instituto de Pesca, apresentou a proposta para a criação de um grupo de trabalho para estudo de outras possíveis modificações na lei SMA 60.133. O grupo foi composto por pescadores e líderes da pesca. A questão do caranguejo-uçá no Litoral Centro será apresentada na próxima reunião do Conselho Gestor da APAMLC (ainda sem data definida) e na ocasião também será votada a formação do grupo de trabalho criado no CT Pesca. As decisões serão apresentadas na próxima reunião da CT Pesca em data ainda a ser definida.

Maneco deixa o cargo no TPPS Manuel dos Santos Martins, o Maneco, se prepara para deixar o cargo de coordenador do Terminal Pesqueiro Público de Santos-TPPS, em meados de abril. O técnico em administração, de.59 anos, após oito anos no cargo, assume a posição de assessor do deputado estadual Luis Fernando Teixeira (PT) na Assembleia Legislativa em São Paulo.

Lagosta vermelha (Panulirus argus) e lagosta verde (P. laevicauda) 01/12/14 a 31/05/15 Tainha (Mugil platanus e Mugil liza) 15/03/15 a 15/08/15 (proibida em todas as desembocaduras estuarino-lagunares do litoral das Regiões Sudeste e Sul) A partir de 15 de maio, a temporada anual da pesca da tainha será aberta somente no litoral, permanecendo fechada até 15 de agosto nas desembocaduras estuarino-lagunares. A proibição não se aplica à pesca com tarrafa. (veja Instrução Normativa 171 9/5/2008 em www.jornalmartimpescador.com.br legislação)

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP CEP: 11030-350 Fone: (013) 3261-2992

sp.gov.br). O biólogo Marcelo Pinheiro, doutor em Ciências Biológicas (UNESP), falou sobre o caranguejo-uçá (Ucides cordatus). Explicou que a espécie tem taxa de crescimento reduzida, leva 10 anos para chegar a 8 cm. Também falou sobre a ocorrência da espécie. “No litoral sul a densidade é maior, dois indivíduos por metro quadrado, o dobro do que ocorre em áreas de manguezal em Bertioga, Cubatão e São Vicente”, acrescentou. Observou que quando os estoques de extração entram em declínio, acabam tornando a atividade inviável. A bióloga Ingrid Ma-

Maneco deixa o cargo após 8 anos

Moratórias

Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015 Mero (Epinephelus itajara) 17/10/2012 a 17/10/2015 Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)- tempo indeterminado Tubarão galha-branca (Carcharinus longimanus)-tempo indeterminado Raia manta (família Mobulidae) - tempo indeterminado Marlim-azul (agulhão-negro) – Makaira nigricans- comercialização proibida Marlim-branco (agulhão-branco) - Tetrapturus albidus –comercialização proibida

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP christinamorim@gmail.com Fotos e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - belacarrari@hotmail.com Impressão: Impressão:Diário Diáriodo do Litoral: Litoral Fone.: Fone.:(013) (013)3226-2051 3226-2051 Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia


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Pedro Estevam de Matos, um pescador de verdade

“Pedro Estevam de Matos era filho de José Estevam de Matos e Ana Leandro do Prado, nasceu no dia 5 de agosto de 1916, na fazenda Poço Verde, localizada no bairro da Mococa em Caraguatatuba e faleceu em 2005. Ali auxiliava seu pai, o Sr. José, na lavoura de café. Aos 14 anos de idade aprendeu a arte de pescar e costumava praticar a pesca n o r i o para o consumo próprio da família. Mudou-se da fazenda do Poço Verde aos 14 anos de idade, já concluído o 3º ano escolar, pois era o que a escola da Mococa podia oferecer às crianças da localidade. Seu Pedro passou a residir no bairro Massaguaçu, onde viveu até a seu falecimento como pescador e trabalhando na lavoura. Pedro Estevam, antes de casar-se foi inspetor de quarteirão no Massaguaçu, de onde contava muitas histórias. Casou-se aos 28 anos de idade com D. Margarida Adolfo de Matos com quem teve nove filhos: Joé, Isolina (mãe de Maria), Edles, Maria, Luiz, Tereza, Izabel, Antônio, e Jucelina, hoje todos casados. D. Margarida faleceu

José Luiz Alves sempre teve a vida ligada ao mar Seu Pedro e o bisneto Vithor

em 1995, o que deixou muito triste e muito mais seu Pedro, porque éramos e continuamos sendo uma família muito feliz. Meu pai dedicou toda a sua vida à pesca e diz que quando está no mar esquece-se de toda vida terrena, é outro homem, parece estar no céu.” Fonte: Arquivo público do município de Caraguatatuba “Arino Sant’ana de Barros” – Depoimento feito pela filha de Pedro, Maria Estevam de Matos Ayres

Caiçara Expedições inaugura sua versão mobile O uso de dispositivos móveis registra aumento expressivo e só tende a crescer nos próximos anos, com o frequente uso de smartphones e tablets. Verificando esta realidade, a Caiçara Expedições, especializada em Turismo Receptivo na Baixada Santista, inaugura a sua versão mobile. Segundo Renato Marchesini, gestor de projetos da empresa, a migração do site, produtos e serviços para a versão mobile, busca novas tecnologias para aperfeiçoar e atender da melhor forma o atual perfil dos clientes. Conheçam o Caiçara Expedições Mobile www.caicaraexpedicoes.com Informações e reservas: contato@caicaraexpedicoes. com Tel: (13) 3466-6905.

Da pesca artesanal para a maricultura O biólogo José Luiz Alves, 45 anos, pegou o gosto pela pesca ainda menino. “Nasci na praia de Massaguaçu, em Caraguatatuba, e desde pequeno acompanhava meu avô Pedro Estevam nas pescarias”, conta. “A praia, na época era uma pequena vila de pescadores”, acrescenta. No arrasto-de-praia pegavam tainha, robalo, corvina, betara. Ali se praticava a tradicional pesca de vigia, quando uma pessoa ficava observando os cardumes chegarem. Ao avistar o cardume, o vigia gritava e ia avisar de casa em casa, assim todos ajudavam na pesca e depois o produto era dividido. Os pescadores também praticavam a pesca com rede-de-emalhe e arrasto-de-camarão. Dos seus quatro irmãos, dois homens e duas mulheres, apenas os homens na adolescência praticaram a pesca, para depois seguir a carreira de bombeiro. O avô de Luiz morava na praia de Mococa, e a família mudou-se para Massaguaçu

quando ele tinha cerca de 15 anos. “Meu avô dividia suas atividades entre a pesca e a agricultura”, conta Luiz. A roça ficava a cerca de 1 quilômetro do sítio, e ali se plantava cana-de-açúcar, café, banana, mandioca, batata-doce e abóbora para consumo da família. Da mandioca faziam a farinha e da cana era extraída a garapa para preparar o típico café caiçara. “Na minha infância mais ou menos até os 15 anos frequentei bastante o sítio dos meus avós do lado materno e vivenciei de perto vida de roça e pesca na época”, recorda Luiz. “De pequeno, eu via minha avó, Margarida, cozinhar no fogão a lenha”, conta. Ela preparava muitos produtos do mar, como peixe frito ou ensopado com tomate e uma vez por mês o peixe azul-marinho, com banana verde, usando carapau, tainha ou garoupa. Na época não havia proibição do corte da palmeira juçara, e o palmito com arroz fazia parte do cardápio do dia a dia. Os antigos também praticavam

a caça de animais como tatu, paca, porco-do-mato e jacu. Era costume ainda, numa época em que não havia geladeira, salgar e secar o peixe ao sol, que depois podia ser preparado com batata-doce. No café da manhã, muitas vezes o peixe salgado e seco estava presente, assim como a farinha de mandioca, o beiju e a banana, e a batata-doce cozida na água. “Depois do falecimento da minha avó em 1995 foi se perdendo toda aquela cultura de roça, e a pesca mais tarde o meu avô foi diminuindo, até por causa da idade”, conta Luiz. Luiz, por sua vida em constante contato com a natureza, decidiu estudar Biologia. Depois de formado, passou a trabalhar com maricultura de mexilhões. Participou do Projeto Martim-Pescador de 1989 a 1991 e também de projeto na praia da Cocanha de 1998 a 2013. “Quando fui para a maricultura meu pai também começou a criar os mexilhões até o seu falecimento em

2006.”, afirma Luiz. “Havia 18 famílias produzindo mexilhões na praia da Cocanha em Caraguatatuba”, afirma. “Era a maior fazenda marinha do Estado de São Paulo”, acrescenta. Cada família produzia cerca de 2 a 8 toneladas anuais. Em abril de 2013, um vazamento de combustível marítimo do píer do Terminal Almirante Barroso (Tebar) em São Sebastião atingiu a criação de mexilhões, causando perda estimada de 180 toneladas do produto. Apesar dos pedidos, a indenização prometida pela Transpetro não se concretizou. A Prefeitura de Caraguatatuba durante 14 meses pagou dois salários mínimos para cada produtor, como auxílio emergencial, para amenizar as perdas. Mas Luiz não desistiu e pretende retomar a atividade em 2015. Terminando seu mestrado em Aquicultura, quer empregar os conhecimentos adquiridos na desempenho de suas funções como aquicultor, e permanecer assim ligado ao mar como seus antepassados.


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Coluna

Embraport apoia projetos esportivos da cidade de Santos

Ministro da

José Ciaglia, Edison Kubo, Fábio Hazin, Alberto Amorim, Jorge Machado e Thatiana Neves

Helcio Honda, ministro Helder Barbalho, Paulo Skaf e Roberto Imai

Ministro da Pesca se reúne com lideranças do setor na Fiesp

A Embraport apoiará no ano de 2015 três projetos esportivos da cidade de Santos inscritos por meio do Programa Municipal de Incentivo Fiscal de Apoio ao Esporte (Promifae). O Promifae é um Programa da Prefeitura Municipal de Santos criado com a finalidade de captar recursos públicos ou privados para a execução de projetos esportivos. Até 20% do valor do imposto devido de pessoa física ou jurídica, pode ser aportado anualmente devendo o patrocinador optar pelo IPTU ou ISS. A Embraport, por exemplo, destinará parte do valor do ISS para apoiar iniciativas como o Circuito Santista de Surfe, que será realizado pela primeira vez na cidade com a participação de atletas amadores, a Copa Aberta de Futsal

“Cidade de Santos”, que faz parte da Liga Regional de Futebol de Salão do Litoral Paulista e que envolve anualmente mais de mil crianças, além do apoio ao ciclista santista Claudio Clarindo e sua equipe CLR Cycling Team que disputará o Cross América, prova de 4.997 km que cruza os Estados Unidos de forma ininterrupta, saindo da cidade de Oceanside (Califórnia) e chegando em Annapolis (Maryland). Reynaldo Pincette, diretor da Embraport destaca que as iniciativas apoiadas reafirmam o compromisso da empresa com a comunidade em que está inserida. “Estimulamos ações que promovam a saúde, as práticas esportivas e o desenvolvimento de crianças e jovens”, destaca.

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O ministro da Pesca, Helder Barbalho, falou sobre estratégias para o desenvolvimento da pesca e aquicultura nacional em reunião dia 27 de fevereiro na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo-Fiesp. Faziam parte da comitiva o secretário da infraestrutura e Fomento do MPA Eloy de Sousa Araujo, secretário do Planejamento e Ordenamento da Pesca, Fábio Hazin e do especialista em Aquicultura Felipe Matias. O evento contou com a presença de autoridades, como o presidente da FIESP, Paulo Skaf, representantes da COMPESCA (Comitê da Cadeia Produtiva da Pesca e da Aquicultura), Roberto Imai, da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), do SESI (Serviço Social da Indústria), SEBRAE, Câmara Setorial do Pescado, Secretaria da Agricultura, empresários, entidades e representantes do setor, além de Parlamentares e Secretários. Helder afirmou que a principal meta do ministério é aumentar a produção de pescado, principalmente no setor da Aquicultura. Destacou a importância da produção de dados estatísticos para a elaboração de Planos de Gestão. Roberto Imai destacou a importância de potencializar ações relativas ao peixe, e assim criar um novo marco comercial do pescado. Dessa forma a população poderá consumir proteína mais saudável de forma mais consciente. Falou da importância em consolidar em São Paulo o objetivo de ampliar a produção com sustentabilidade, competitividade e inclusão da aquicultura e pesca interesse que o governo do Estado seja partícipe no desenvolvimento da pesca. Falou também dos entraves para baratear o pescado, pois o peixe é a única proteína animal que paga impostos federais e estaduais e como a maioria das empresas do setor está instalada em área urbana não usufrui dos benefícios de estar instalada em zona rural.


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da Pesca visita Fiesp e TPPS

O ministro e sua comitiva foram recebidos pelo prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, e por Manuel dos Santos Martins, coordenador do TPPS

Ministro visita TPPS Dia 23 de março o ministro esteve no Terminal Pesqueiro Público de Santos-TPPS, acompanhado do vice-governador, Márcio França (PSB) e comitiva, após visitar o Entreposto de Pesca de Cananeia no litoral sul. Afirmou que o MPA irá realizar reformas no Entreposto de Cananeia que garantam seu funcionamento pleno. No encontro, o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), apresentou projeto de modernização do TPPS para o terreno de 30 mil m2 que hoje pertence à União. Ali está prevista a construção de um edifício de 1.200 m²

para alojamento e treinamento dos pescadores, além de restaurantes, deck, instalação da Rua e do Mercado de Peixe, entre outras obras. Segundo o prefeito de Santos, a ideia é desenvolver uma parceria, avançar no detalhamento do projeto, para que a área possa ser cedida ao município O ministro pretende ainda visitar outros terminais no país. Na visita também afirmou que São Paulo pode se transformar São Paulo no maior produtor de aquicultura do país. No mesmo dia Barbalho teve reunião com o governador de São Paulo para discutir os entraves que cerceiam o desenvolvimento desta atividade no Estado.

Ministro Helder Barbalho

A culinária dos pescadores Os pescadores quase sempre passam mais tempo embarcados do que em terra. Por isso, tanto os artesanais como os industriais usam ou desenvolvem receitas muito simples para preparo durante viagens de pesca. O marinheiro Aurélio, pescador profissional e mecânico de embarcações, assumiu recentemente o posto de cozinheiro da embarcação Marbella I. “A parte da cozinha não é minha favorita e

nunca aprendi a cozinhar bem, mas faço meu trabalho o melhor que posso”, relata. A nova posição de Aurélio pode não agradar-lhe tanto quanto a de mecânico, mas sua cozinha têm tido sucesso no paladar do observador de bordo Thierry Salmon, que realiza embarques para coleta de material científico. “A cozinha é uma responsabilidade grande no navio, não é facil agradar aos 11 paladares

Manuel dos Santos Martins, coordenador do TPPS, mostrou as dependências ao ministro e comitiva

Cuscuz de milho

O marinheiro Aurélio

1 pacote de farinha de milho em flocos (500g) 1 pacote de coco ralado seco (ou fresco) Manteiga ou azeite sal

a bordo sempre, mas Aurélio se sai muito bem”. Aurélio faz um cuscuz com coco, que é prato de destaque a bordo do Marbella, pois na primeira refeição do dia é necessário alimento de “sustância”. Segue a receita da culinária típicamente nordestina servida aos pescadores.

Misturar cuscuz e o coco ralado em uma tigela adicionando sal e água para umidificar (não deve escorrer excesso de água da massa). Usar cerca de 3 copos de água. Colocar a mistura em uma cuscuzeira com água no fundo, levar ao

fogo tampado até que o cuscuz esteja “al dente”, cerca de 15 minutos. Servir regando com um fio de azeite ou manteiga a gosto.


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Neemias é pescador nascido em São Sebastião

Neemias e seus dois desafios

O pescador e professor de Educação Física, Neemias Nobre Borges, 44 anos, se prepara para enfrentar dois desafios de resistência. Dia 15 de abril, ele e o amigo Wellington Moreira saem em dois caiaques do porto de Paranaguá, no Paraná, com o intuito de chegar em São Sebastião no dia 2 de maio, quando tem início a Regata da Baía do Araçá. “A duração da travessia está prevista para 10 dias, mas teremos 17 dias para con-

cluir o percurso, pois tudo depende da condição do tempo”, afirma. O segundo desafio será a Regata da Baía do Araçá, uma corrida com canoas caiçaras que reúne a comunidade local. Neemias que aprendeu a remar aos seis anos com influência e incentivo do pai, pretende contar com o apoio da família. “Eu, meu filho, minha irmã e meus tios estamos nos preparando”, afirma o pescador,

mostrando a paixão da família pelo mar e prevendo o sucesso de mais uma edição da prova. Cerca de 500 pessoas, entre competidores e espectadores, costumam participar da Regata da Baía do Araçá em São Sebastião. Neemias conta como a competição teve início. “Há nove anos, com o advento da então provável ampliação do porto de São Sebastião, houve por parte de algumas pessoas ligadas a um gru-

po ambiental "Apaixonados pelo mangue do Araçá", a intenção de organizar um evento para chamar a atenção da população e das autoridades locais para a valorização da cultura caiçara e possível extinção do mangue do Araçá”, explica. Assim decidiu-se criar a Regata da Baía do Araçá, que reúne cerca de 100 competidores. As provas são nas categorias: individual, duplas, trios, caiaque e stand up,

envolvendo ambos os sexos. As provas são balizadas e variam de acordo com as categorias, que são definidas após as inscrições, porém as masculinas têm em média 1.500 m, femininas 1.000 m e as categorias menores 500 m. Neemias e vários moradores da comunidade local se preparam para a corrida dia 2 de maio, mostrando a paixão pelo mar e trabalhando para o sucesso de mais uma edição da prova.


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Sandra Paron, da culinária caipira à caiçara Sardinha Escabeche Ingredientes: 2 quilos de sardinha limpa 1 copo de azeite 1 copo de vinagre Sal, pimenta do reino, alho cortado em lâminas e cebolinha a gosto 1 maço de salsinha grão de mostarda 1 colher de chá (opcional) 1 pimenta dedo de moça cortada bem miudinha e sem sementes opcional) 1 colher (sopa) de coentro picado. Tomates em rodela cebolas em rodela Pimentão verde, amarelo e vermelho em rodelas água suficiente para cobrir. Preparo: Arrumar na panela de pressão em camadas. Uma camada de sardinha, uma camada de tomates, uma camada de cebolas, uma camada de pimentões, retornando as camadas iguais até terminar. Colocar a salsinha, cebolinha, coentro e a pimenta dedo-de-moça por cima da última camada, e em uma vasilha misturar o azeite, vinagre, sal e pimenta-do-reino jogar por cima de tudo e colocar água até cobrir. Levar ao fogo e depois que começar a fazer o barulho da pressão deixar por 45 a 60 minutos. Desligar e manter fechado por 2 horas.

Cuscuz de sardinha

Usar o caldo da sardinha escabeche com algumas sardinhas (procure pegar as que desmancharam ou quebraram), um pouco dos pimentões e cebola (o tomate praticamente vai ter dissolvido), em uma panela grande deixar ferver e acrescentar ervilha, azeitonas e um caldo de tempero baiano para peixe, salsinha e cebolinha e mais 1/2 copo de azeite. Deixar ferver por 5 minutos e ir acrescentando 3 xícaras (chá) de farinha de milho em flocos adicionada a um pires de farinha de mandioca até dar o ponto mais para mole do que dura, pois depois de frio ela endurece, e se colocar muita farinha fica seca. Em uma forma com buraco no meio untar com azeite e decorar com sardinha, pimentões das três cores azeitonas, ovos cozidos cortados ao meio e ervilha. Colocar a massa pressionando um pouco deixar esfriar um pouco e desenformar. Servir acompanhada de refresco de capim-cidrão e limão siciliano.

Refresco de capim-cidrão

Ingredientes: Um maço de capim-cidrão/1 limão siciliano grande/açúcar a gosto Preparo: Lavar bem o capim-cidrão e picar com uma tesoura direto no copo do liquidificador. um limão siciliano grande. Cobrir com água gelada e bater até ficar bem triturado. Coar e voltar com o líquido para o copo do liquidificador já lavado. Acrescentar água, o suco do limão e gelo. Adoçar a gosto e servir.

Nascida em Santos, Sandra Paron aprendeu com o marido, Roberto Vieira, muitos pratos típicos da culinária caiçara. Com seu pai e sua mãe, nascidos no interior de São Paulo, se especializou em comida caipira. Vinda de uma família “muito boa de boca”, ela confessa que ama cozinhar. “Gosto de fazer o arroz e o feijão com o sabor do interior”, explica e dá a receita dos acompanhamentos. Refogando a carne com os temperos, acrescenta vários legumes, como cenoura, batata, batata-doce. Coloca numa panela com travas e ajeita num buraco feito na terra e forrado com lenha. O resultado é uma receita chamada de vaca atolada, que leva muitas horas para ficar pronta. Há quatro anos trabalha no Instituto de Pesca de Santos como técnica de apoio à pesquisa e tecnologia. Mas saindo da orla da praia, dedica-se em sua casa em São Vicente a cuidar de uma bela horta e pomar. Sua filha, Karina, é formada em Dietética e Nutrição e também gosta de inventar pratos na cozinha. Assim a tradição vai passando de geração à geração, pois Sandra aprendeu a cozinhar com a mãe e com o pai. “A família sempre se reunia na cozinha, para isso tinha que ter mesa grande”, conta Sandra. “Quando tinha muita gente, nos reuníamos no quintal”, fala com bom humor. As especialidades de Sandra, sardinha a escabeche e cuscuz estão aqui bem explicadinhas para quem quiser curtir as iguarias. O segredo é preparar primeiro a sardinha para depois usá-la na confecção do cuscuz.

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CUIDADOS AO CONSUMIR PESCADO O pescado cada vez mais vem se tornando um hábito alimentar bastante comum aos brasileiros. Este produto vem sendo consumido de diferentes modos: fresco, congelado, cozido, assado, defumado, salgado e enlatado, e até mesmo na forma crua ou mal cozido. O pescado é considerado um alimento completo e seus constituintes são benéficos ao consumidor. Porém, é necessário cautela ao escolher o pescado, pois quando a pesca ou despesca são feitas em locais não apropriados, como áreas contaminadas por metais pesados ( mercúrio, arsênio, cádmio, chumbo, etc.) ou áreas contaminadas com matéria orgânica ou ainda, manipulado inadequadamente, este alimento pode tornar impróprio para o consumo causando doenças que comprometem a saúde pública. Nesse âmbito, podemos salientar como contaminantes químicos o mercúrio, arsênio, cádmio, chumbo, pesticidas e como contaminantes biológicos como bactérias, vírus e parasitos. O pescado próprio para o consumo é aquele que é inspecionado pelos serviços oficiais e quando fresco é exposto refrigerado ou acondicionado em gelo para o controle das bactérias não oferecendo risco à saúde, desde que a manipulação seja feita dentro dos padrões de higiene e que não haja perda do frio. Caso o produto seja exposto sem estar protegido do calor, das moscas pode ao ser ingerido causar cólica gastrointestinal, diarreia e vômito. Outra forma das pessoas se contaminarem é ingerindo pescado cru ou cozido insuficientemente, que esteja parasitado adquirindo doenças como anisaquiose, difilobotriose, fagiculose ou outras. O pescado congelado pode também ser fonte de contaminação bacteriana, portanto seu descongelamento deve ser feito dentro da geladeira, para não dar oportunidade de crescimento bacteriano indesejado. Outra causa de doença grave é a presença de biotoxinas nos mariscos que pode inclusive ser fatal ao consumidor, portanto este produto deve ser consumido exclusivamente quando inspecionado por órgão oficial que libera o consumo. Os principais sinais clínicos desta doença são: inchaço, prurido, manchas avermelhadas, vômito, diarreia, dificuldade de respirar, perda da memória, podendo levar inclusive a óbito. A histamina, biotoxina produzida por algumas espécies de peixes também deve ser evitada, porque pode ser mortal. Seu controle é feito impedindo que a temperatura exceda a 4 graus Celsius. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 70% das doenças são oriundas de alimentos contaminados e pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS), 17,8% são contaminações devidas ao pescado, 16,1% pela água, 1,7% por carnes vermelhas e 2,6% por frutas e hortaliças. Concluíndo, para se evitar as doenças transmitidas pelas bactérias e parasitos o alimento deve ser ingerido sempre cozido. Augusto Pérez Montano Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo


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II Semana da Cultura Caiçara

Hélio Cesar Hintze, Ingrid Oberg e Antonio Carlos Diegues

Passeio à Ilha Diana organizado pelo Sesc-Santos e realizado pela Caiçara Expedições

Vereador Sandoval Soares, Secretario da Cultura Fábio Nunes, Márcio Barreto, Sérgio Willians e Catharina Apolinário

Catharina Apolinário

Daniela Cunha Reis fez palestra sobre o Projeto Juçara e apresentou o livro Culinária Juçareira

Catharina Apolinário

Christina Amorim falou sobre culinária caiçara baseada em seu livro Café com Peixe

Célia Faustino, do grupo Percutindo Mundos em apresentação na Fortaleza da Barra

A dança, a música e a culinária caiçara foram festejadas de 15 a 22 de março em Santos. A programação foi intensa e contou com a parceria do Sesc-Santos. A abertura oficial aconteceu ao lado do Aquário Municipal, junto à Estátua do Pescador, com

apresentação do grupo Fandango Caiçara de Ubatuba. Também foram feitas homenagens de artistas e ambientalistas em memória a Zellus Machado e Tio Mauro, conhecido pela comunidade do remo por seu trabalho voluntário de plantio e

cultivo de mudas. A semana teve encerramento dia 22 de março com o debate Diálogos Caiçaras-Desafios e Oportunidades, com os professores Antônio Diegues (NUPAUB/ USP) e Hélio Hintze (ESALQ/USP) e mediação da bióloga Ingrid Oberg

(Ibama). A Semana da Cultura Caiçara foi instituída pela Lei 2.920 de agosto de 2013, do vereador Sandoval Soares. Os recursos empregados são de emenda parlamentar destinada pelo mesmo vereador. A II Semana de Cultura Caiçara

aconteceu sob a coordenação do músico e poeta Márcio Barreto, Catharina Apolinário (pesquisadora da cultura caiçara), Sérgio Willians (FAMS), Sesc-Santos (Pedro Moya), André Muller (USP), Secretaria de Turismo e Secretaria de Cultura de Santos.

Diálogos Caiçaras

A situação das comunidades caiçaras, seus desafios e possibilidades foram temas de debate no Sesc-Santos dia 22 de março. O evento contou com a presença do professor Antônio Carlos Diegues, livre docente da USP e diretor-científico do NPAUB (Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras) e do professor Hélio Cesar Hintze, doutor em Ciências e Ecologia Aplicada da ESALQ-USP, com a mediação da bióloga Ingrid Oberg do Ibama. Estiveram presentes o secretário da Cultura de

Santos, Fábio Nune,s e o vereador Sandoval Soares, entre outros. Vários assuntos foram discutidos, entre eles o papel do turismo de base comunitária, pressões socioeconômicas que as populações caiçaras sofrem, esforços para fazer a cultura caiçara chegar às novas gerações, e as ações que já tem sido feitas neste sentido. O professor Diegues citou que há 600 milhões de pessoas no mundo que pertencem a povos tradicionais, com seis mil idiomas distintos. Falou da importância dessas comunidades e citando o exemplo

brasileiro dos caiçaras, exaltou seu conhecimento fundamentado na natureza. Por isso podem ser consideradas uma riqueza cultural do país. Acrescentou ainda que conflitos sobre terras são cada vez maiores, pois essas populações vivem em áreas cobiçadas pela especulação imobiliária, grandes obras e criação de parques estaduais que excluem sua presença em locais tradicionais de moradia. Foi destacada a importância de trabalhar com formação de professores que possam preparar os jovens para respeitar a cultura dessas comunidades.

Catharina Apolinário

Semana Caiçara encerra com debate no Sesc

Hélio Hintze, Catharina Apolinário, prof. Diegues, Mauro Cesar Raposo Filho, Cícero Bueno Brandão, Pedro Moya e Ingrid Oberg


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