JORNAL MARTIM-PESCADOR 138

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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015 Número 138 Ano XII Tiragem 3.000 exemplares

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Malaquias Clemente (à esq.) e Nilo Salomão (à dir.) falam sobre a vida dos tradicionais pescadores de Ilhabela no litoral norte de São Paulo. Págs. 4 e 5

Alunos da oficina de Gastronomia Caiçara preparam peixe na folha da bananeira na Secretaria de Turismo da Praia Grande. Pág. 6

Moradores de Ilhabela irão receber Termo de Autorização de Uso Sustentável na praia de Castelhanos Pág. 6

Projeto Albatroz apresenta personagens educativos do Albatrupe no Festival Albatroz Socioambiental em outubro. Pág 7


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Governo prorroga proibição da pesca do mero A proibição de pesca do mero (Epinephelus itajara) em águas brasileiras foi prorrogada por mais oito anos, segundo a portaria interministerial (MPA/MMA) nº 13 publicada dia 6/10/15. Este peixe que pode viver 40 anos, chegar a mais de 2 metros e pesar acima de 400 quilos, por ter crescimento lento e maturação tardia é muito vulnerável à pesca. Pode ser encontrado em zonas estuarinas (manguezais) e áreas costeiras, por isso, costuma ser encontrado

em manguezais e costões rochosos, próximo a naufrágios, pilares de pontes e parcéis. A espécie foi considerada criticamente ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza-IUCN (IUCN, 2006). Em 2002 recebeu a proteção de uma moratória específica no Brasil (IBAMA, portaria nº 121 de 20 de setembro de 2002). Neste mesmo ano foi criado o Projeto Meros do Brasil dedicado à pesquisa destes animais. Saiba mais em www.merosdobrasil.org.

Ministério da Pesca e Aquicultura é extinto O Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA teve suas atividades encerradas por reforma ministerial realizada pela presidente Dilma Rousseff. O anúncio foi feito dia 2 de outubro quando a presidente afirmou que a pesca seria integrada ao Ministério da Agricultura, hoje comandado por Kátia Abreu. O órgão da Pesca e Aquicultura foi criado com o nome de Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca-SEAP em 1º de janeiro de 2003. A secretaria se transformou em ministério em junho de 2009. Informações do período 2014/2015 do MPA

mostram 694.322 pescadores amadores esportivos cadastrados, e cerca de um milhão de pescadores artesanais no país. Dia 3 de novembro, a ministra Kátia Abreu, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento realizou a primeira reunião do grupo interministerial que vai revisar procedimentos e atos normativos referentes à concessão do seguro-defeso ao pescador profissional artesanal. O grupo é formado pelos ministérios da Fazenda, do Planejamento, Meio Ambiente, Trabalho e Previdência Social e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Defesos

Caranguejo-guaiamum (Cardisoma guanhumi) 01/10/2014 a 31/03/2015 Caranguejo-uçá (Ucides cordatus) 01/10/2014 a 30/11/2014 (machos e fêmeas) 01/12/2014 a 31/12/2014 (somente fêmeas) Mexilhão (Perna perna) 01/09/2014 a 31/12/2014 Ostra 18/12 a 18/02 (Portaria 40 de 16/12/86) foi alterado e suspenso por 120 dias segundo a Portaria Interministerial 192 de 05/10/15, para realização de recadastramento dos pescadores. Piracema na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná (IN 25 do Ibama) de 1/11/2014 a 28/02/2015

EXPEDIENTE www.jornalmartimpescador.com.br

Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo Presidente Tsuneo Okida

A presidente da Colonia Z6, Ditinha, Christina Amorim e o pescador Vanildo dos Santos

O pescador Ananias de Souza, Ditinha e Alberto Amorim

Palestra "Panorama da Pesca Artesanal no Brasil" Na Colônia de Pescadores Z-6 de Ilhabela, dia 16 de novembro aconteceu a palestra “Panorama

da Pesca Artesanal no Brasil”, ministrada pelo professor Alberto Amorim do Instituto de Pesca-SAA

promovida pela Fundespa. Ao final do evento o palestrante sorteou dois livros aos pescadores pre-

sentes, “Peixes-de-bico do Atlântico”, e “Café com Peixe”, sobre culinária caiçara.

Regras para requerer seguro-defeso:

• O beneficiário deve ter o registro (RGP) há no mínimo um ano; • É vedado o acúmulo de benefícios assistenciais e previdenciários de natureza continuada com o Seguro-Defeso (exceto pensão por morte e auxílio-acidente); • O pescador não poderá receber o Bolsa-Família enquanto estiver recebendo o Seguro- Defeso. • O benefício será pago pelo INSS e não mais pelo Ministério do Trabalho.

Pescador,

Providencie sua documentação para requerer o seguro-defeso do caranguejo. Procure sua Colônia de Pescadores com os seguintes documentos: 1-RG e CPF (xerox simples) 2-comprovante de residência (com xerox) 4-cadastro do NIT como pescador 5-carteira de pescador (RGP) junto com o protocolo de recadastramento 6- Guia do INSS do ano anterior. Após a apresentação dos documentos, a Colônia irá agendar sua entrevista no INSS, onde o pescador deverá comparecer pessoalmente para requerer o benefício do seguro-desemprego. OBS: Os defesos que darão direito ao seguro-defeso são: Mexilhão (Perna perna) 01/09 a 31/12 (IN 107 de 20/07/2006), Caranguejo-uçá (Ucides cordatus) 11/10 a 30/11 (Portaria 52 de 30/09/2003), Piracema 01/11 a 28/02 (Instrução Normativa 195 de 02/10/2008), Camarão 01/03 a 31/05 (Instrução Normativa 189 de 23/09/2008). O defeso da ostra, que costumava ir de 18/12 a 18/02 (Portaria 40 de 16/12/86) foi alterado e suspenso por 120 dias segundo a Portaria Interministerial no 192 de 05/10/15, para realização de recadastramento. Mais informações: (13)3261.2992. Proteção à reprodução natural dos peixes, nas áreas de abrangência das bacias hidrográficas do Sudeste (IN 195) de 1/11/14 a 28/02/15 Sardinha (Sardinella brasiliensis) 15/06/14 a 31/07/14 e 1/11/14 a 15/02/15 Lagosta vermelha (Panulirus argus) e lagosta verde (P. laevicauda) 01/12/13 a 31/05/14 Bagre rosado (Genidens genidens, Genidens barbus, Cathorops agassizii) 01/01/14 a 31/03/14 Lagosta vermelha (Panulirus argus) e lagosta verde (P. laevicauda) 01/12/13 a 31/05/14 Pargo (Lutjanus purpureus) 15/12/2013 a 30/04/2014

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP CEP: 11030-350 Fone: (013) 3261-2992

Moratórias

Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015 Mero (Epinephelus itajara) 17/10/2015 a 17/10/2023 Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)- tempo indeterminado Tubarão galha-branca (Carcharinus longimanus)-tempo indeterminado Raia manta (família Mobulidae) - tempo indeterminado Marlim-azul (agulhão-negro) – Makaira nigricans- comercialização proibida Marlim-branco (agulhão-branco) - Tetrapturus albidus – comercialização proibida

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP christinamorim@gmail.com Fotos e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - belacarrari@hotmail.com Impressão: Impressão:Diário Diáriodo do Litoral: Litoral Fone.: Fone.:(013) (013)3226-2051 3226-2051 Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia


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Pescador, Saiba quais são os documentos necessários para concessão de Autorização Especial para a pesca de subsistência do caranguejo-uçá (Ucides cordatus) na área de abrangência dos Municípios de Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Santos, Guarujá, Bertioga e Cubatão I - Cópia simples, acompanhada da via original do documento de identidade ou equivalente com foto; II - Cópia simples, acompanhada da via original da Licença de Pescador Profissional emitida pelo Ministério da Pesca e Aquicultura; III - Cópia simples de comprovante de residência nos municípios de Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Santos, Guarujá, Bertioga e Cubatão ou declaração de residência emitida por entidade representativa, tais como: associação ou colônia de pescadores, associação de bairro ou de moradores ou órgão público; IV - Declaração de produção com discriminação de caranguejo-uçá, emitida pelo Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura e Abastecimento atestando que o pescador exerce a pesca de subsistência ou artesanal da espécie Ucides cordatus (caranguejo-uçá) OBS: A emissão da autorização especial fica condicionada ao protocolo e análise dos documentos previstos nos incisos I, II, III e IV, da presente Portaria; o Departamento de Fauna emitirá, por meio do Sistema Integrado de Gestão de Fauna Silvestre – GEFAU, Autorização Especial. Para solicitar a Autorização Especial o pescador deverá comparecer ao Núcleo Regional de Programas e Projetos (NRPP) da CBRN na Rua República dos Estados Unidos da Venezuela, 75, Ponta da Praia, Santos, e protocolar a documentação necessária. Fonte: Resolução SMA 64, de 30-09-2015 (conheça a resolução na íntegra no arquivo legislação no site www. jornalmartimpescador.com.br)

Pescadores são entrevistados em Cubatão

Liberação temporária da pesca do caranguejo-uçá

As comunidades de pescadores do Litoral Centro já deram início ao processo de requisição de 210 licenças nominais temporárias (pelo período de dois anos e renováveis por mais dois) de pesca do caranguejo-uçá (Ucides cordatus). Os trabalhos são coordenados por uma equipe formada por representantes da Secretaria do Meio Ambiente do ESP e do Centro Apta do Pescado Marinho-Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do ESP. As licenças serão concedidas pescadores dos municípios de Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Santos, Guarujá, Bertioga e Cubatão. Segundo a pesquisadora científica Ingrid Cabral Machado, do Instituto de Pesca, já foram realizadas reuniões com pescadores de Santos, Cubatão, São Vicente, Guarujá, Bertioga e Itanhaém. Na ocasião são feitas entrevistas com os pescadores, para caracterização de sua atividade, seguida da assinatura de um termo de responsabilidade, no qual ele se autodeclara produtor de caranguejo. A colônia ou associação a que ele pertence também assina, prestando reconhecimento à declaração. Após as reuniões, os pescadores deverão se apresentar ao Núcleo Regional de Programas e Projetos (NRPP) da CBRN-Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais-SMA na Rua República dos Estados Unidos

da Venezuela, 75, Ponta da Praia, Santos, para protocolar a documentação necessária. Apenas os caranguejeiros que obtiverem a autorização poderão pescar caranguejo na região. “Essa gestão que está sendo feita é muito importante, não apenas porque atende aos pescadores antes da abertura da temporada, em dezembro, como também porque envolve um esforço de várias instituições no reconhecimento dessa parcela de pescadores que permanecia marginalizada e na busca de uma solução para a proibição da captura”, afirma a pesquisadora Ingrid. Ao mesmo tempo confere-se um melhor controle da captura do

recurso, cujo status permanece sob cuidado. Para a pesquisadora, esse trabalho poderá render perspectivas de uma gestão conjunta entre os órgãos gestores ambientais, a pesquisa e os pescadores, o que proporcionará melhores possibilidades de sucesso e aprendizado coletivo. As autorizações temporárias de pesca do caranguejo-uçá serão fornecidas a um número restrito de profissionais, revertendo parcialmente a proibição de sua captura feita pelo Decreto 60.133/14 da Secretaria do Meio Ambiente-SMA, que considerou a espécie sob ameaça de extinção. Nesse período os estudos a serem realiza-

A pesquisadora Ingrid Cabral visita a Vila dos Pescadores em Cubatão

dos deverão trazer novos resultados passíveis de subsidiar a possibilidade da realocação do caranguejo-uçá da condição estabelecida do Anexo I do Decreto Estadual Nº 60.133/14 para o Anexo II. As autorizações serão feitas seguindo a Resolução SMA no 64 de 30/09/2015, baseada no Parecer Técnico Conjunto APAMLC/ Instituto de Pesca-SAA/UNESP-CLP nº 001/2015 que atesta a abundância do caranguejo-uçá (Ucides cordatus) no Litoral Centro de São Paulo, e o identifica como fonte de recurso econômico essencial à sobrevivência das famílias de catadores de caranguejo do Litoral Centro do Estado de São Paulo. A captura poderá ser realizada no período de 1 de dezembro a 30 de setembro, respeitando o defeso já existente da espécie. Poderão ser capturados apenas indivíduos machos, conforme a regra informal já praticada pelos catadores de caranguejo da região, que apresentem largura de carapaça superior a 6,0 cm (seis centímetros). A pesca não pode ser realizada em partes isoladas (quelas, pinças ou garras) do espécime, causando mutilação nos animais. A pesca artesanal pode ser realizada com o uso dos petrechos denominados "chuncho" e "gancho", mas está vedada a utilização de qualquer outro tipo de instrumentos como armadilhas, petrechos ou instrumentos cortantes e produtos químicos.


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Coluna

Programa Acreditar conclui primeira turma de profissionais

Vida

Pescadores de Ilhabela da vida nos tempos antigos Muitas praias em Ilhabela viveram até meados da década de 70 isoladas, com acessos a zonas mais urbanizados precários feitos por trilhas ou por mar. Algumas praias, como Bonete e Castelhanos, ainda sem estradas asfaltadas conseguem manter sua beleza quase que intocada, embora visitadas por turistas.

Malaquias Clemente

A Embraport, um dos maiores e mais modernos terminais portuários do país, instalado na margem esquerda do Porto de Santos, concluiu no último mês de outubro o curso de iniciação profissional para capacitar os moradores da Ilha Diana para atuarem como Vistoriadores de Contêineres. A iniciativa faz parte do ‘Programa Acreditar’, que tem o objetivo de qualificar a mão de obra das comunidades em áreas onde a empresa atua. Ao todo, 50 pessoas fizeram o curso, divididas em duas turmas. As aulas foram realizadas aos sábados, com uma carga horária total de 24 horas. A iniciativa foi realizada em parceria com o Sindicato dos Conferentes de Santos e as aulas teóricas ocorreram

na própria comunidade da Ilha Diana. Já as atividades práticas ocorreram nas instalações do Terminal Embraport para que os alunos pudessem simular vistorias em contêineres de 20 e 40 pés. Os moradores participantes receberam kit com mochila, camiseta, apostila, bloco de anotações e demais materiais que foram usados durante as aulas. Lenilton Jordão, gerente de Pessoas & Organização, destaca que o curso buscou desenvolver ações educacionais e profissionalizantes junto à população. “Oferecemos uma qualificação, que é a porta de entrada do setor portuário, além de possibilitarmos que eles adquirissem a profissão na própria comunidade”, destaca.

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Aos 71 anos, seu Malaquias ainda encontra disposição para sair de segunda à sexta para a pesca no seu barco Brisa, de 14 metros, tipo traineira com rede. Afinal, aos cinco anos de idade já ensaiava suas primeiras incursões ao mar com o pai. Na época, saíam numa canoa de um pau só, com rede para pegar anchova, pescada, pirajica, guaivira e xaréu, entre outros. “Entrei mesmo na pesca aos 17 anos”, lembra-se. Essa rotina no mar vem de tempos em que muitos moradores de Ilhabela dividiam sua faina entre a lavoura e a pesca. Na roça, que ficava a cerca de 1 quilômetro da praia, plantava-se arroz, feijão, café, mandioca e cana. Malaquias nasceu em 1944 na praia do Eustáquio em Ilhabela. Ali moravam de cerca de 10 familias em casas de pau a pique com telhado de sape ou telha. Orgulha-se em pertencer à quarta geração de pescadores em sua família. “De meus oito irmãos, cinco mulheres e três homens, só eu pesco”, afirma. “Só eu que enfrentei a pescaria porque gosto do que faço”, acrescenta. Suas alegrias na profissão não se limitaram às pescarias costeiras, pois ele se aventurou a navegar por águas distantes, percorrendo do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro. Com todo esse trabalho duro, tem muito saúde, e se queixa apenas da pressão alta, que tem que controlar. “Durante o trabalho, esqueço os problemas”, garante. Por isso gosta de sair todos os dias da semana no Brisa, com mais sete companheiros, em busca de peixes de cardume, como peixe galo, anchova, pescada, parati, xaréu, carapau e sardinha de laje. Não tem horário certo, mas sai à tarde, vira a noite e volta no outro dia cedo. “Ganhei muito dinheiro até 1985 com a pesca da sardinha”, conta referindo-se à queda na produção de pescado observada em todo o Estado. “De lá pra cá tá difícil”, conclui. Casado há 40 anos, tem dois filhos. “Eu ensinei, mas eles não querem continuar”, explica.


as no Mar

bela, no litoral norte de São Paulo, falam gos quando as comunidades viviam isoladas

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Ceia de Natal Que tal acrescentar o pescado em sua ceia de Natal, com uma receita bem especial vinda da Ilha de Búzios, em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo? Quem dá a dica é Benedita Aparecida Leite Costa, a Ditinha, presidente da Colônia de Pescadores Z-6. Nascida em Búzios conta que a tradição caiçara era pegar o polvo no mergulho ou em linhada. Há cerca de dois anos, barcos de Santa Catarina ensinaram o pessoal da Ilha a pegar o polvo em potes, tipos de armadilhas que são lançadas no fundo do mar e recolhidas depois de uma semana. Ditinha, que nasceu há 54 anos na Ilha de Búzios, especialista em culinária caiçara, explica um jeito delicioso de preparar o polvo. Polvo da Ilha de Búzios Ingredientes: 1 polvo de cerca de 2 kg limpo 3 tomates bem maduros com pele e sementes picados ½ pimentão verde picado ½ pimentão vermelho picado 1 cebola e 3 dentes de alho picados Cheiro-verde picado a gosto Azeite Preparo: Colocar o polvo numa panela de pressão, cobrir com água. Deixar por cerca de 20 minutos depois que a panela começar a apitar. Escorrer. Tirar as peles e as ventosas e deixar a carne branquinha. Cortar em rodelas. Numa panela à parte refogar cebola e alho no azeite. Colocar o polvo, sal e mexer. Acrescentar tomates e deixar amolecer um pouco. Adicionar os pimentões e deixar apenas por alguns minutos. Ao final enfeitar com a salsinha picada.

Na década de 50, as caminhadas matinais de uma hora do então menino Nilo Salomão para a escola deixaram muitas lembranças. Saindo às 7 horas da manhã da Praia do Pinto, em Ilhabela, em direção à Vila, encontrava com certa facilidade algumas mangas e cocos que podiam ser saboreados com muito prazer. Hoje, de carro é possível fazer o mesmo trajeto em 10 minutos. Aos 73 anos, Salomão vê com espanto quanta coisa mudou. “Hoje a escola oferece merenda”, observa. “Muitas crianças agora tem tudo na mão, e não querem estudar”, critica. “Antigamente a gente estudava e trabalhava”. “Aprendi a pescar com meu pai, Benedito, e levei meus filhos para pescar”, diz com orgulho. Assim, de seus 10 filhos, os cinco homens entraram na pesca e hoje estão na captura de sardinha. “Trabalhei primeiro na fábrica de salga de peixe, e aos 15 anos já estava pescando”, lembra-se. Pescávamos sardinha, xaréu e anchova em traineira com rede de espera. Enquanto o pai de Nilo se dedicava à pesca de sardinha, o avô trabalhava na lavoura. A roça, que ficava a 1,5 quilômetro da praia tinha de tudo, feijão, cana, banana, batata, mandio-

Nilo Salomão

ca, alfavaca, tomatinho e coentrão. Os avós também tinham a tradicional casa de farinha para a produção da farinha e da goma da mandioca. Na Praia do Pinto, onde Nilo nasceu, havia cerca de 50 casas de

pau a pique construídas em mutirão que demandava trabalho de cerca de 10 pessoas. O pescador ainda se lembra do nome de alguns moradores do local, Benedito Venceslau, Benedito Macena, Fidel, Nelson Gordo e seu primo José Salomão. O fogão era a lenha e parte do peixe era conservado salgado, pois a geladeira só chegou ao local nas décadas de 60 e 70. O avô era construtor de canoas, e parte do mobiliário da casa, como as camas, também eram feitas por ele, de uma forma bem simples. Uma tábua reta dava o acabamento, onde se estendia uma esteira no lugar de um colchão. Nilo, já aposentado, diz que antigamente sim, tinha pescaria. “Antes a gente contava com o mar, mas o preço do peixe era muito barato”, lamenta. “Hoje evoluiu, mas só tem peixe pra barco grande”, comenta. “Se a pesca tá fraca o trabalhador vem pra terra buscar emprego”, conclui. Outro problema que afeta os pescadores de hoje é a poluição, afirma Nilo. “Isso leva o peixe para mais longe, ficou escasso”, explica. Nilo acredita que hoje tem mais peixe para o pescador industrial que para o artesanal que faz uma pesca mais costeira.

Ditinha, presidente da Colônia de Pescadores Z-6

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Caiçaras de Ilhabela regularizam posse Moradores de Castelhanos utilizam seus barcos para chegar ao centro de Ilhabela, em viagem de cerca de uma hora

A Secretaria do Patrimônio da União-SPU vai regulamentar a situação de cerca de 80 famílias moradoras na praia de Castelhanos em Ilhabela. Um total de 150 mil metros quadrados serão assegurados a seis comunidades, através de Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS) emitido pela SPU. Serão beneficiados cerca de 250 moradores das praias Mansa, Vermelha, e da Figueira, Saco do Sombrio, Canto da Lagoa, Canto do Ribeirão em torno da praia de Castelhanos. O documento não dá direito ao mora-

dor de vender o terreno, mas garante o direito de permanência no local como detentor do domínio de área. Vanildo dos Santos, da praia Mansa, é um dos moradores que ficou contente com o acontecimento. Pertence à terceira geração de pescadores da Ilhabela e vive da pesca. Casado com três filhos, explica que o direito de uso vai passar de geração à geração, o que garante a estabilidade da família. “É uma luta que vem sendo travada há muitos anos, muitas pessoas já faleceram, mas graças a Deus conseguimos”, comemora.

Para ele é importante assegurar a moradia para a comunidade que vive da pesca e da agricultura sustentável, porque alguns acabam vendendo suas posses a “preço de banana”, o que causa problemas no futuro, tanto para o caiçara que perde suas posses como para o local que passa a sofrer com a especulação imobiliária. Hoje, o acesso à praia de Castelhanos pode ser feito por uma estrada de terra de 22 quilômetros que corta a Ilhabela no sentido leste-oeste, e por barco a partir da Vila, numa travessia de cerca de uma hora.

Oficina de gastronomia resgata cultura caiçara

Preparar peixe assado na folha de bananeira foi a agradável tarefa da Oficina de Gastronomia Caiçara que aconteceu dia 19 de outubro na Secretaria de Turismo da Praia Grande. A jornalista Christina Amorim, especialista em culinária caiçara e escritora do livro Café com Peixe, orientou os alunos para reproduzir de forma fiel a maneira como os pescadores tradicionais fazem o preparo. A aluna Aline Menescal de Carvalho, nutricionista, explicou que se interessou pelo tema tanto na parte prática como na teórica. Segundo Virna Gomes, chefe de Difusão Cultural da Sectur, o projeto teve início com o Inquérito Caiçara, realizado para coletar receitas, contos e lendas na população. Dessa atividade surgiu

Os alunos Edson Araujo e Aline Menescal preparam a folha de bananeira para embalar o peixe

a oficina de gastronomia que coloca em prática as informações recebidas. As oficinas de Gastronomia Caiçara acontecem todas as segundas, das 13

às 15 horas, no Palácio das Artes. Informações:(13)3496-5721. As oficinas são gratuitas e abertas ao público em geral.

Como evitar a contaminação pelo pescado Intoxicação alimentar pode ser causada pela ingestão de alimentos ou de bebidas contaminados com produtos químicos como inseticidas ou toxinas alimentares, incluindo fungos (ex: cogumelos venenosos), bactérias, vírus ou parasitas causadores de infecções gastrointestinais. Eles fazem parte da natureza e poderão ser fonte de contaminação se não forem tratados de forma adequada. O processamento de alimentos pode ser feito na indústria ou pela dona de casa, tanto em um quanto em outro local essa metodologia passa a ser uma importante fonte de contaminação para o pescado. Os locais utilizados para o processamento precisam ser limpos e para se evitar contaminação cruzada que ocorre facilmente. O armazenamento de alimentos deve ser feito de forma correta, por exemplo, um filé cru de peixe não pode estar ao lado das verduras, pois poderá ocorrer transferência de micro-organismos de um alimento para outro. Geralmente a contaminação ocorre durante a fase que o alimento está sendo preparado, através de um indivíduo doente, que pode estar eliminando Estafilococos ou Salmonella causadores de gripe ou gastroenterite. A tábua de carne, as mãos, os ambientes sujos e os insetos e roedores que podem estar presentes na cozinha também podem ser meios de contaminação. Quando as compras são feitas em supermercados é importante observar a validade do produto e manter os alimentos crus separados dos demais produtos alimentícios mantendo os alimentos frios e congelados desta maneira durante o transporte. Para evitar que o produto perca frio, pegue-os no final de suas compras. Mantenha sua cozinha, tábuas de carne e utensílios

higienizados, lave sempre as mãos com água e sabão antes e depois do preparo de alimentos e os panos de prato e toalhas de mão devem ser regularmente trocados. O pescado pronto para consumo deve ser mantido à temperatura de 65° Celsius e os frescos a 4° Celsius, que é a temperatura de geladeira. Os congelados devem ser recolocados no congelador no máximo até duas horas após terem sido removidos do congelador do supermercado. Peixes, bem como todas as outras carnes e ovos devem ser sempre refrigerados. Nos meses quentes a atenção com os alimentos deve ser dobrada porque a contaminação por bactérias ocorre de forma muito mais rápida. O pescado deve ser ingerido logo após ter sido preparado, para evitar a proliferação de micro-organismos. Tenha muito cuidado com o peixe, principalmente na forma crua, pois esse tipo de prato exige a aplicação de boas práticas de manipulação. Evite sushi, mariscos crus e alimentos similares postos em bufê, porque podem estar há muito tempo expostos à temperatura ambiente, o que proporciona deterioração do alimento. O ideal para o preparo de sushi de pescado é a utilização de pescado congelado a menos 20 graus Celsius por 24h, que o torna mais seguro do que o peixe fresco, pois a congelamento inativa o parasita. Comer mariscos crus é um risco para saúde, pois estes são animais filtradores e se ocorrer floração de algas (maré vermelha) podem contaminá-los, acumulando toxinas em sua carne e dessa forma contaminar o consumidor. Os principais sintomas de uma intoxicação alimentar são: dores de cabeça, náuseas, febre, vômitos e diarreia.

Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo


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Ayroza é o novo diretor do Instituto de Pesca O pesquisador científico Luiz Marques da Silva Ayroza assumiu em novembro a direção do Instituto de Pesca (IP), em substituição ao pesquisador científico Edison Kubo. Um dos objetivos do novo diretor é desenvolver um trabalho de integração entre o Instituto (vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Apta), ambos ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e a cadeia produtiva, dimi-

Luiz Marques da Silva Ayroza

nuindo a distância entre a geração de conhecimento das pesquisas e sua aplicação prática no campo com foco na produtividade. Ayrosa pretende desenvolver um amplo trabalho de integração do IP com

os polos regionais da Apta, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati). O IP, com sede na capital paulista, conta ainda com outras unidades, como: Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Continental, em São José do Rio Preto; Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Marinho, em Santos; Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Peixes Ornamentais e Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Hídricos, ambos em São Paulo; Centro de Administração da Pesquisa e Desenvolvimento; e Centro de Comunicação e Transferência do Conhecimento. Em 2004, o Instituto criou o Programa de Pós-graduação em Aquicultura e Pesca, em nível de Mestrado. Trata-se de um dos poucos cursos de pós-graduação do país a reunir as áreas de aquicultura e pesca em um mesmo programa. Fonte: site do Instituto de Pesca www.pesca.sp.gov.br

Projeto Albatroz cria personagens educativos Tatiana Neves, Mirella Demartini e Pedro Olivieri falam sobre o Albatrupe

Não é que as aves marinhas “arregaçaram as mangas” e saíram em defesa de sua conservação? Com a criação do Albatrupe, grupo de personagens baseados em albatrozes e petreis, agora presentes em quadrinhos, tirinhas e vídeos, o Projeto Albatroz achou um jeito divertido de sensibilizar as pessoas para a conservação destes animais. A tarefa de dar vida e voz a essas aves está a cargo da LightStar Studios, que participou da elaboração de animações como 'A Era do Gelo', 'Mulan', 'Snoopy' e Asterix. Mirella Demartini e Pedro Olivieri, da LightStar, e Tatiana Neves,

coordenadora do Projeto Albatroz, falaram sobre o projeto no Festival Albatroz Socioambiental. O evento aconteceu nos dias 16, 17 e 18 de outubro no Teatro Municipal Braz Cubas em Santos. Uma apresentação do cartoon de 10 minutos foi feita durante o festival. Várias entidades montaram estandes no local, entre elas o Aquário Municipal de Santos, Projeto Albatroz, Projeto Tamar de Ubatuba, Golfinho Rotador, Mantas do Brasil, Aquário Municipal de Santos, Ecosurf, Andes – Agência Nacional de Desenvolvimento do Eco-social e Alexandre Huber. Na ocasião tam-

bém foram entregues os troféus do concurso de fotografia nas categorias Impactos/Ameaças: Isabela Carrari, (1°), Leonardo Merçon (2°), André Luis Ferreira (3°); Biodiversidade: Pedro Furtado (1°) Beto Fontes (2°); Bruno Neri (3°), Socioambiental: Beto Fontes (1°), Christian Alves de Souza (2°), Leonardo Merçon (3°). O evento comemorou os 25 anos do Projeto Albatroz, que atua pela conservação de albatrozes e petreis, grupo de aves mais ameaçado de extinção do planeta, e conta com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

Mulheres no leme

A diretora Cristiane Neiva (centro) ao lado de Ingrid Cabral e Thais Moron (esq. para direita)

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Com muitos desafios à frente, três pesquisadoras científicas dirigem o Centro Avançado de Pesquisa Tecnologica do Agronegócio do Pescado Marinho-Instituto de Pesca-IP de Santos, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, desde junho de 2015. A bióloga Cristiane Neiva, diretora-técnica de Divisão do Centro, doutora em Nutrição e Saúde Pública, está desde 2000 no IP, e há 21 anos no serviço estadual. “O maior desafio hoje é

evidenciar todas atividades que o Centro produz em termos de pesquisa aplicada na cadeia de produção do pescado”, explica Cristiane. “Quando se fala em pesca não se enxerga o universo que há por trás, questões ambientais, de produção, todas as possibilidades de cultivo, e toda a transferência disso à sociedade”, acrescenta. Cristiane ainda define como importante objetivo do IP estimular o consumo do pescado de forma responsável. Em sua missão, Cristiane conta com o apoio de suas substitutas, Thais Moron Machado,

zootecnista, mestre em Aquicultura e Pesca, pesquisadora científica na área de Tecnologia de Pescado e Ingrid Cabral Machado, pesquisadora e médica veterinária com doutorado em Ecologia Humana. O Centro Apta do Pescado Marinho tem 31 pesquisadores e 26 funcionários de apoio. O Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento abrange Santos, Cananeia, Ubatuba, e conta com duas unidades laboratoriais de referência, uma com tecnologia do pescado e outra de controle estatístico da produção pesqueira marinha.


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Novembro/Dezembro 2015

Simoni, a capixababaiana

Simoni Pimenta Souza De Bortoli, 46 anos, nasceu em São Gabriel da Palha, a 300 km de Vitória, no Espírito Santo. Sempre levou jeito para a culinária e adora preparar receitas aprendidas na infância. A avó capixaba, Irene, ensinou muitas receitas de doces, como compotas de frutas e a mironga, um tipo de pudim feito com pão amanhecido. Simoni se orgulha da tataravó índia, e do avô alemão, Guilherme Schults. Saiu do Espírito Santo aos

nove anos de idade, e hoje mora na cidade de Teixeira de Freitas, na Bahia, mas é assídua frequentadora de Corumbau, praia localizada no sul do Estado. Casada com o fazendeiro Reginaldo De Bortoli, tem três meninas, Suleiani, Valéria e Isabela. As frutas, que são abundantes em sua fazenda, localizada à beira da estrada Itamaraju-Corumbau, dão deliciosos doces e sucos. Com a laranja amarga gigante, Simoni faz um doce especial.

Doce de laranja amarga Descascar a laranja, deixando a parte branca. Abrir, tirar a polpa, cortar no formato desejado . Levar ao fogo para ferver. Escorrer a água e lavar em água fria. Apertar todos os bagaços, devolver para a panela e encher de água fria. Repetir a operação por três dias, até tirar o amargo. Misturar água com açúcar, na proporção de 2 xícaras de açúcar para 2 xícaras de água com um pouco de cravo e levar ao fogo baixo. Um pouco antes de chegar ao ponto de calda, colocar os bagaços da laranja para cozinhar na calda. Se quiser usar a casca da laranja pera para fazer o doce, é só descascar e cortar em tiras, deixar de molho na água e ir trocando até sair o sabor azedo. Escorrer e jogar na calda que está no fogo.

Unimonte visita Ilha Diana

Alunos da Unimonte fizeram uma visita gastronômica à Ilha Diana

Alunos do Curso de Tecnologia em Gastronomia da Unimonte visitaram Ilha Diana para saborear dois pratos típicos do local: peixe azul-marinho e marisco lambe-lambe. Desde 2009, a professora Luciana Marchetti uma vez por ano promove o passeio que complementa o estudo, a aprendizagem e promove a aproximação com modo de viver de uma comunidade caiçara. Os pratos foram preparados pela Terezinha Lima, que com seu marido Hélio França dirige o Bar e Lanchonete da Ilha. Ilha Diana fica na área continental de Santos e conserva suas características de comunidade de pesca. Assim, além de saborear os pratos, o turista pode apreciar a paisagem do mangue e ver os pescadores em sua faina diária, consertando redes ou saindo para pescar. A ilha fica a 20 minutos do centro

Peixe azulmarinho preparado pela Terezinha

A professora Luciana Marchetti desde 2009 leva os alunos à Ilha Diana

de Santos, e as barcas partem do píer próximo à praça da Alfândega. Os horários estão no site www.cetsantos.com.br (ver transportes área continental). Para saborear as deliciosas receitas da Terezinha é só agendar a data e o horário da visita pelo telefone: (13)3019.5418.

Terezinha e Hélio dirigem o Bar da Ilha


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