www. jornalmartimpescador.com.br JUNHO/JULHO 2018 • Número 153 • Ano XIV • Tiragem 3.000 exemplares
Festa da Cultura Indígena
Pixerum: uma odisseia caiçara
Componentes do grupo de fandango Manema, de Peruíbe, se apresentaram em Ilha Diana e Caruara no Projeto Pixerum. Pág.12
Divulgação
Festa da Cultura Indígena mostrou um pouco da vida na aldeia do rio Silveiras entre Bertioga e São Sebastião. Págs. 6 e 7.JPG
Pescadores artesanais pedem mudança na Instrução Normativa no 12. Pág. 2
O biólogo Eduardo Malavasi alerta sobre o problema do plástico descartado na natureza. Pág. 4
Catharina Apolinário com participantes do projeto Pixerum. Pág. 12
Receitas boas para provar na barraca da Colônia de Pescadores em Peruíbe. Pág. 12
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Audiência discute mudança na distância de pesca da costa Para o artesanal pescar a partir de 1 milha náutica (1.852 m) da costa é uma atividade de risco. Muitos possuem barcos de cerca de 8 metros, e mesmo motorizados, têm dificuldade para chegar com segurança a maiores distâncias. Como a Instrução Normativa Interministerial MPA/ MMA no 12/2012 proíbe a pesca de emalhe por embarcações motorizadas até a distância de 1 milha náutica a partir da linha da costa, os pescadores querem que a distância seja mudada para 500 metros da costa, área mais segura para navegação de barcos de pequeno porte. O assunto foi discutido em audiência pública no Guarujá, dia 11 de maio, a pedido do vereador Sérgio Santa Cruz e do deputado Marcelo Squassoni (ambos do PRB) e pescadores artesanais de Guarujá e de várias cidades do litoral de São Paulo. O secretário Nacional da Pesca, Dayvson Franklin de Souza, afirmou ser inevitável fazer uma revisão das normas, para que tenham uma aplicação prática. A equipe técnica da Secretaria Especial da Pesca e da Aquicultura-SEAP analisou o problema e julgou possível a demanda de mudar a distância para 500
metros. Como a IN no 12 foi criada pelo Ministério do Meio Ambiente-MMA em conjunto com o então Ministério da Aquicultura e Pesca-MPA, o secretário se comprometeu a iniciar tratativas para a mudança dentro de uma gestão partilhada com o Ministério do Meio Ambiente. O secretário também falou sobre o problema dos vendedores do Mercado da Rua do Peixe, que estão sob risco de serem transferidos do local, devido à ação civil pública proposta em 1994. Afirmou que a Seap pretende reformar as instalações do Terminal Pesqueiro Público de Santos (TPPS), o que permitiria que eles fossem transferidos para lá. O secretário anunciou também a criação de uma portaria no início de junho para iniciar a atualização cadastral do Brasil inteiro. “Queremos que as entidades representativas do setor possam participar através de um termo de cooperação técnica”, acrescentou. “Vamos dar todo apoio, treinamento e capacitação para atualizar e fiscalizar esta atualização cadastral, com a ajuda de vocês, para que fiquem só os pescadores”, explicou. “Agora as coisas estão começando a mudar, para que o setor se
torne o mais forte do pais”, concluiu. Cerca de 400 pescadores, representando colônias e associações de todo o Estado de SP, estiveram presentes à audiência realizada no Teatro Procópio Ferreira em Guarujá. Os profissionais se mostraram esperançosos com as medidas anunciadas. O pescador Luiz Mendes Junior, representando a Colônia de Pescadores Z-1 de Santos, se mostrou satisfeito com os anúncios, afirmando que são decisões importantes para a categoria. E o pescador Jorge Damião Martins Coelho representando a Colônia Z-4 de São Vicente e Praia Grande também ficou confiante com as promessas de solução dos problemas com a IN n 12. A audiência pública teve o apoio do deputado federal Marcelo Squassoni, do vereador Sérgio Santa Cruz, de Guarujá, e contou também com a participação do prefeito de Guarujá, Valter Suman; do deputado estadual Caio França; do secretário de Estado da Pesca, Marcos Alves Pereira, dos vereadores Beto Xavier, de Iguape; Paulo Rangel, de Cananeia; Lourival Sampaio, de Peruíbe; além de secretários municipais e vereadores de Guarujá.
A voz dos pescadores “A zona da pesca artesanal sempre foi dentro dos 500 metros da costa. Porque o pescador já trabalhava neste limite antes da lei, o barco não vai além disso, não tem capacidade nem segurança para estar numa distância maior do que ele pode, para aguentar as ondas e o mar. A Capitania dos Portos não autoriza as embarcações de pesca artesanais de pequeno porte para mar aberto. Se não houver discernimento pelas autoridades que possam interferir a pesca artesanal no Estado de São Paulo se acabará.” Maria Aparecida Nobre, presidente da Colônia de Pescadores Z-4 de São Vicente “Não temos GPS. Como os pescadores artesanais não possuem equipamento eletrônico, fica difícil estabelecer a distância de 1 milha da costa para poder cumprir a instrução normativa.” Eliana Diniz, presidente da Colônia de Pescadores Z-5 de Peruíbe EXPEDIENTE www.jornalmartimpescador.com.br
“Em Peruíbe a situação fica mais complicada, pois com uma costa baixa, qualquer virada de tempo complica as saídas de pesca. Se pegar um vento tem bastante risco, quando dá tempestade a primeira milha náutica quebra a gente, é inviável. Luto para pescar a partir dos 500 m da costa. Todos brigando pelo mesmo objetivo.” Antônio Prado, diretor da Colônia Z-5 de Peruíbe “Essa primeira milha náutica que está proibida agora, era onde o pescador pescava com segurança, principalmente na época do inverno, que o mar é mais agitado. Perdemos um amigo nosso, Wagner Queiroz do Amaral, em agosto do ano passado, que tinha um barco de alumínio de 6 metros. Saiu à tarde para buscar a rede de espera e acabou morrendo em alto mar. É arriscado. E se pescar em lugar proibido, a rede é cara, vai apreendida. Tem que pesquisar muito antes de fazer uma lei, para saber que impacto vai causar no meio ambiente, e que impacto vai causar para quem vive dessa pesca”. Jorge Damião Martins Coelho, pescador artesanal de sol a sol de Praia Grande
Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo Presidente Tsuneo Okida
Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP CEP: 11030-350 Fone: (013) 3261-2992
Assessoria Marcelo Squassoni
Cerca de 400 pescadores compareceram à audiência pública
Instrução Normativa Interministerial MMA/MPA no 12/2012 diz: Artigo 6o Proibir a pesca de emalhe por embarcações motorizadas até distância de 1 (uma) milha náutica a partir da linha de costa. 1o para embarcações não motorizadas fica permitida a pesca com redes de emalhe, desde que a soma do comprimento das panagens ou redes não ultrapasse o total de 1.000 (mil) metros na área definida no caput deste artigo. Conheça a IN no 12 na íntegra em www.jornalmartimpescador.com. br (legislação)
Defesos Camarão camarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis, F. brasiliensis e F. subtilis, sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri, branco Litopenaeus schmitti, Santana ou vermelho Pleoticus muelleri e barbaruça Artemesia longinaris- De 1 de março a 31 de maio Caranguejo-uçá (Ucides cordatus) proibição de pesca no Decreto SMA 60.133 de 07/02/2014- Exceções ao Decreto na resolução SMA 02/2015 (conheça as leis na íntegra em www.jornalmartimpescador.com.br legislação) Lagosta-vermelha (Panulirus argus) Lagosta verde (P. laevicauda) 1/12 a 31/05 Sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) (traineiras) 15/06 a 31/07 (recrutamento) e 1/11 a 15/02 (desova) Sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) (atuneiros) 15/06 a 31/07
(recrutamento) Moratórias Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2015 a 6/10/2023 (Portaria Interministerial no 14) Mero (Epinephelus itajara) 06/10/15 a 06/10/23 (Portaria Interministerial no 13) Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)- tempo indeterminado Tubarão galha-branca (Carcharinus longimanus)-tempo indeterminado Raia manta (família Mobulidae) tempo indeterminado Marlim-azul ou agulhão-negro (Makaira nigricans)- tempo indeterminado Marlim-branco ou agulhão-branco (Tetrapturus albidus) – tempo indeterminado Saiba mais sobre a legislação de pesca em: www.jornalmartimpescador.com. br (legislação)
TELEFONES ÚTEIS Corpo de Bombeiros .......... 193 SAMU(Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ........... 192 Disque Denúncia ............... 181
Polícia Civil ........................ 197 Polícia Militar ..................... 190 Sabesp .............................. 195 CPFL ...........................0800-0102570
Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP christinamorim@gmail.com Fotos Fotos e ilustração: e ilustração: Christina Christina Amorim; Amorim; Diagramação: Diagramação: cassiobueno.com.br; cassiobueno.com.br; Projeto Projeto gráfico: gráfico: Isabela Isabela Carrari Carrari - belacarrari@hotmail.com - icarrari@gmail.com Impressão: Impressão:Diário Diáriodo do Litoral: Litoral Fone.: Fone.:(013) (013)3226-2051 3226-2051 Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia
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Estudos apontam pesca sustentável para o bagre-branco
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Bagres do sudeste-sul do Brasil
Existem nove espécies de bagres na região sudeste-sul do Brasil, segundo o pesquisador científico Acácio Tomas, do Instituto de Pesca de Santos, Secretaria da Agricultura e Abastecimento do ESP. “Basicamente, só Genidens barbus, Genidens machadoi e Notarius grandcassis tem interesse comercial por terem maior porte”, explica. G. barbus e G. machadoi são chamados de bagres-brancos, bagres-cabeçudos, e pela legislação antiga conhecidos como bagres-rosados. G. barbus frequenta os estuários no verão para reproduzir, motivo do defeso proibindo a captura entre janeiro e março. Depois migra para águas mais afastadas da costa. É mais costeiro chegando até 60 metros.O G. machadoi ocorre a partir de 40 a 50 m.
Medidas de recuperação devem garantir a conservação destes peixes Tamanho mínimo de captura, proibição da pesca em locais críticos, cadastramento de pescadores e monitoramento das capturas são algumas das medidas para manter estáveis os estoques de duas espécies de bagres-brancos, Genidens barbus e Genidens planifrons. O oceanógrafo Jocemar Tomasino Mendonça, pesquisador do Instituto de Pesca-Secretaria da Agricultura e Abastecimento SP na base de Cananeia faz parte do grupo de cientistas que estudam estes peixes e auxiliam para a criação de um plano de preservação das espécies e de pesca sustentável. Ele explica que o Genidens planifrons terá a moratória (suspensão temporária) de pesca em todo o Brasil, e o G. barbus terá a pesca permitida apenas nos Estados de São Paulo e Paraná, onde não foi constatada a redução do estoque. O G.planifrons ocorre principalmente no Rio Grande do Sul e o G. barbus é encontrado praticamente em todo sudeste-sul do Brasil. A pesca industrial do bagre-branco é proibida em todo país, também. Nos estados de SP e PR o
Fonte Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do Brasil Figueiredo,J.L. Menezes, N.A. Universidade de SP Museu de Zoologia
bagre passa a ter tamanho mínimo de 45 cm para seu desembarque, bem como os desembarques industriais de bagre (quando este não for alvo da captura) tem uma tolerância de até 5% da produção total desembarcada. “A criação deste plano e seus estudos foram um esforço de um grupo de pessoas comprometidas com a pesca, que buscaram auxiliar o Ministério do Meio Ambiente no ordenamento destas espécies”, explica Mendonça. “São pessoas e instituições ligadas à pesca em todas as esferas de governo e da sociedade civil”, complementa. A pesquisa incluiu monitoramento pesqueiro e fórum de discussão comprometido com a atividade, neste caso, o conselho gestor da APA Marinha do Litoral Sul. O defeso do Genidens barbus acontece no período de 1 de janeiro a 31 de março, conforme Portaria SUDEPE n° N-42, 18 de outubro de 1984. No período de seis anos (prazo de validade do plano), os pesquisadores
irão buscar informações sobre a biologia e ecologia do Genidens barbus para revisar este período. Este plano de conservação será utilizado pela Portaria 127 do Ministério do Meio Ambiente (27/04/2018) para a criação de uma pesca sustentável do bagre-branco, Genidens barbus, que estava proibido pela Portaria MMA 445 (17/12/2014) sobre as espécies ameaçadas. Mendonça esclarece que o Instituto de Pesca e a Fundepag possuem cadastro dos pescadores de bagre, tanto em São Paulo quanto no Paraná. Será necessário apenas fazer uma análise mais aprofundada para verificar possíveis ausências de pescadores que não tenham contribuído com o monitoramento pesqueiro até o momento. Mendonça afirma que os pescadores que se sintam fora do monitoramento pesqueiro nos municípios do litoral de São Paulo e Paraná devem procurar os agentes de campo do Instituto de Pesca para
participarem do monitoramento e serem cadastrados. “O cadastramento é voluntário e apenas trará benefícios aos pescadores, como tem trazido até hoje, como mostra este plano que vai trazer a possibilidade de pesca apenas para São Paulo e Paraná”, acrescenta Mendonça. A instituição busca assim a adesão destes pescadores ao cadastro e subsequente monitoramento. “A princípio o funcionamento será diferente ao ocorrido com o caranguejo em São Paulo”, acrescenta o pesquisador. Ter um cadastro não significa ter uma licença de pesca específica, como é o caso do caranguejo. O cadastro poderá nortear uma licença futura, mas não é obrigatória no plano. Os pescadores que ainda não estão cadastrados devem procurar o Instituto de Pesca para contribuir com o monitoramento. “Desta maneira é possível dimensionar o número de pessoas que dependem da pesca do bagre”, conclui.
Pedimos que os pescadores que se sintam fora do monitoramento pesqueiro nos municípios do litoral de São Paulo e Paraná procurem os agentes de campo do Instituto de Pesca para participarem do monitoramento e serem cadastrados, pois é voluntário e apenas trará benefícios aos pescadores, como tem trazido até hoje, vide este plano trazer a possibilidade de pesca apenas para SP e PR. Jocemar Mendonça Fonte de pesquisa: DIAGNÓSTICO DA PESCA DO BAGRE-BRANCO (Genidens barbus e G. planifrons) NO LITORAL SUDESTE-SUL DO BRASIL: SUBSÍDIOS PARA O ORDENAMENTO- Jocemar Tomasino Mendonça, Letícia Quito, Mayra Jankowsky, Samuel Balanin e Domingos Garrone Neto
Pescadores agradecem à pesquisa Os estudos feitos com o bagre-branco Genidens barbus tornaram possível estabelecer uma gestão de pesca para espécie. Com as regras criadas será possível para o pescador realizar a pesca sustentável nos Estados de São Paulo e Paraná, como define a Portaria MMA 127 de 2018. “O estudo técnico do Instituto de Pesca, coordenado pelo pesquisador Jocemar Tomasino, recebeu o apoio das Colônias de Peruíbe, Iguape e Cananeia”, contam a presidente da Colônia Z-5 de Peruíbe, Eliana
Diniz e o diretor Antônio Prado. O deputado estadual Caio França (PSB), deu apoio encaminhando os estudos ao Ministério do Meio Ambiente para subsidiar a criação da Portaria MMA 127. A partir de 2015, com o melhor monitoramento da pesca do caranguejo e o monitoramento da produção feito pelo Instituto de Pesca, tem sido possível controlar o estoque e também permitir que o pescador viva do recurso. O estudo e o monitoramento das espécies é a solução para uma pesca sustentável.
O diretor Antônio Prado e a presidente da Colônia Z-5 de Peruíbe Eliana Diniz
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Conferência Internacional sobre Tubarões acontece em João Pessoa
De 3 a 8 de junho cerca de 500 participantes de 47 países se reuniram em João Pessoa, Paraíba, para discutir trabalhos científicos sobre tubarões e raias. A III Sharks International Conference reuniu cientistas, profissionais e estudantes e abordou assuntos como biologia, conservação e genética de tubarões e raias, classificados como elasmobrânquios, ou seja, peixes cartilaginosos. Os eventos anteriores acontecerem em 2010 na Austrália e em 2014 na África do Sul. O presidente da comissão organizadora do evento, professor Ricardo Rosa da Universidade Federal da Paraíba-UFB, doutor em Ciência Marinha, explicou que a realização da terceira edição da conferência no Brasil mostrou o envolvimento de um grande número de pessoas nesta área de pesquisa, gerando um intercâmbio de conhecimento entre vários países. Além das discussões científicas, o presidente trouxe apresentações da arte regional e integrou alunos do Ensino Fundamen-
Membros da Sociedade Brasileira de Estudo de Elasmobrânquios-SBEEL estiveram presentes à Shark International Conference
tal em atividades paralelas. Junto ao principal evento, aconteceram mais três reuniões, da Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios-SBEEL, da American Elasmobranch Society-AES e da Fundación Squalus, da Colômbia.
Para o presidente da SBEEL, professor Otto Fazano Gadig, doutor em Zoologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-Unesp, a iniciativa além de trazer ao Brasil grandes pesquisadores para troca de conhecimento e
experiência, mostrou que em nosso país se faz pesquisa de boa qualidade com recursos limitados. A próxima reunião da Sharks International Conference será feita na Espanha em 2022 e da SBEEL no Instituto de Pesca em Ubatuba, no litoral
norte de São Paulo em 2020. O evento contou com o patrocínio do Instituto Linha D´Água, ANID, Conservación Internacional (Colômbia), Aqua Rio, Oceana, Maple Bear, e apoio de UNESP, CCEN, UFPB, Apoio Tur.
Plástico: evidente ou invisível?
O lixo plástico está presente no meio ambiente, mas o microplástico se esconde em produtos que consumimos no dia a dia Você acorda de manhã, e como de hábito, escova os dentes e lava a cabeça com seu xampu preferido. Neste momento, mesmo sem saber, pode ter entrado em contato com microplásticos usados para produzir algumas marcas destes produtos. Eles podem estar também presentes no gel facial e creme de barbear. Essas microesferas de polietileno, que medem de 5 a 1 milímetro são despejadas no esgoto e seguem seus caminhos por rios e mares. Para algumas indústrias, que optam pelo seu uso, elas são mais baratas que outros produtos que têm poder esfoliante, como o sal. Segundo o biólogo Eduardo Malavasi, eles são ingeridos por animais aquáticos e acabam entrando na cadeia alimentar. “Recentemente descobriu-se que que contaminantes químicos cancerígenos como os bifenilos policlorados (PCB) são quimicamente atraídos aos microplásticos descartados na natureza, agregando-se a eles”, acrescenta. O problema tem preocupado organizações não governamentais europeias, que querem criar um selo mostrando os produtos que contêm microplásticos. O Reino Unido e o Canadá proibiram que fabricantes adicionem este material na composição de produtos de cuidados pessoais. Mas não é somente o microplástico que causa danos à natureza. “O macroplástico, com 25 milímetros ou mais, está presente por toda a parte”, explica. “A pessoa dá uma caminhada na praia e pode ir coletando tudo que encontra”, explica. Muitas vezes são detritos, pedaços de peças maiores que vão se decompondo pela abrasão
ou pela ação do sol. “Este tipo de plástico também pode ser encontrado no estômago de animais aquáticos”, exemplifica. “Um cachalote de 6,5 t e quase 10 metros foi encontrado em Cartagena, Espanha, com 29 quilos de lixo no estômago”, exemplifica. O animal foi achado morto em abril deste ano, por ter ingerido sacos de lixo, cordas, pedaços de rede e até um tambor. Malavasi, doutor em Imunologia pela Faculdade de Medicina Veterinária da USP, dedica-se agora a estudar os efeitos do plástico no meio ambiente marinho. Atualmente desenvolve pesquisa sobre plástico no conteúdo estomacal de peixes ósseos e cartilaginosos orientando as alunas Gabriela Machado da Faculdade de Biologia da Universidade Paulista-UNIP, e Luciana Santos da Faculdade Metropolitanas Unidas, em parceria com a Prof. Janice Peixer do Instituto Federal de Caraguatuba (IF). Os peixes analisados são doados por pescadores de Caraguatatuba e Praia Grande. O objetivo é detectar e quantificar plásticos presentes nos estômagos dos peixes. No momento o trabalho está na fase de coleta e triagem. “Queremos saber se os peixes também ingerem plástico, como fazem as tartarugas e algumas baleias”, conclui. A preocupação com este tipo de lixo é grande, pois cerca de 8 milhões de toneladas de plástico são jogadas anualmente no mar em todo o mundo. O Ministério do Meio Ambiente criou a Portaria 188 de 04/06/2018 para instituir o Primeiro Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar. Este pode ser o começo de uma mudança na situação crítica em que se encontra o ambiente marinho hoje.
Maiores produtores de plástico (1950 até 2014)
China ................................................................. 25% Europa ............................................................... 20% USA, Canadá e México ................................... 19% Resto da Ásia .................................................... 16% Oriente Médio, África ........................................ 7% América Latina ................................................... 5% Japão .................................................................. 4% Comunidade de Estados Independentes ........ 4%
Diferentes tamanhos de plástico Macroplástico igual ou maior 25mm Microplástico < 5 mm-1 mm Minimicroplástico < 1mm- 1 micra Nanoplástico <1 micra
Herança indesejada
A resistência do plástico é grande, e uma vez descartado na natureza permanece por anos. Essa indústria que floresceu a partir dos anos 50 tem deixado no planeta uma herança indesejada. Dizem que hoje convivemos com o plástico que nossos avós jogaram no lixo. Uma descoberta, em 2005, veio confirmar essa incômoda verdade. Um pequeno pedaço de plástico branco encontrado no estômago de um albatroz morto por excessiva ingestão deste tipo de material, tinha um número de série. Este detalhe revelou que o detrito era um pedaço de um hidroavião da Marinha Americana abatido durante a Segunda Guerra Mundial em 1944 a milhares de milhas do Japão. Estudos minuciosos da peça mostraram que a odisseia do objeto seguiu pela Grande Mancha de lixo do Pacífico, escapando desse vórtice para ser encontrado numa ilha havaiana no norte do Pacífico. Esse pequeno pedaço de plástico, se não fosse recolhido pelos cientistas, ainda estaria navegando livre na natureza, pronto para ser ingerido por outro animal incauto!
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Negociações com Ultracargo chegam à fase de pré-acordo Proposta visa proteger o meio ambiente e ao mesmo tempo compensar os pescadores Uma proposta de moratória, ou seja, uma parada por 12 meses consecutivos da pesca em lugares alternados do estuário faz parte de acordo entre pescadores e Ultracargo que está em fase próxima a um acordo final. A ideia é dar tempo para uma recuperação do estuário atingido pelo incêndio. Os pescadores que aderirem ao acordo receberão um incentivo financeiro de um salário mínimo paulista mensal durante os 12 meses. O modelo do acordo é inédito e poderá ser usado em outras ações semelhantes. A promotora de Justiça, Flávia Maria Gonçalves, do GAEMA-BS, explicou que as negociações sobre as compensações dos danos causados pelo incêndio da Ultracargo estão na fase de pré-acordo, já com valores definidos para as compensações. A questão que mais ganhou corpo foi a da moratória de pesca. A princípio a empresa aceita pagar por 12 meses consecutivos o valor de um salário mínimo paulista mensal (R$1.127,93) para os pescadores que assinarem o acordo de não pescar nas áreas de moratória e épocas combinadas e respeitar rodízios de espécies selecionadas. As áreas foram estabelecidas em consultas aos pescadores, dentre as mapeadas por estudos já realizados no Inquérito do GAEMA, com a colaboração do CAEX, ONG Maramar, Unisanta e Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do ESP. O número de pescadores
cadastrados é de 1.539 profissionais, com um custo total de benefícios estimado em cerca de R$20 milhões. O cadastramento dos pescadores foi feito pela Ong Maramar e Instituto de Pesca. No momento, o modelo do termo do acordo está sendo finalizado. Constará deste termo que a adesão do pescador à moratória não excluirá eventual pedido de indenização individual ou coletiva por ação já proposta ou a ser futuramente proposta. A fase seguinte será chamar os pescadores para assinar, por grupos de comunidades, em datas e horários a serem definidos. Os termos de compromisso assinados serão encaminhados à Ultracargo, que somente após análise irá assinar o acordo definitivo, garantindo o pagamento do benefício. Portanto os pescadores interessados deverão providenciar a documentação, e abrir conta corrente na Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil. Aquele que já possuir uma conta num destes bancos, pode usar a pré-existente para receber os pagamentos mensais. Detalhes sobre realização de projetos e criação de infraestrutura nas comunidades ainda estão em discussão. Para assinar um pré-acordo, o pescador deverá apresentar: 1) CNH (Carteira Nacional de Habilitação) ou RG (documento com foto), 2) CPF, 3) número de conta bancária pessoal (no Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal).
A promotora Flavia Maria Gonçalves do GAEMA anuncia o pré-acordo
Pescadores estão próximos de receber compensações sobre danos causados pelo incêndio ocorrido de 2 a 10 de abril de 2015 nos tanques de combustível da Ultracargo, no bairro de Alemoa, em Santos. Após nove dias de incêndio os prejuízos atingiram a atmosfera, a vegetação e o estuário, causando a morte de cerca de 8 toneladas de pescado. As negociações com a empresa vêm acontecendo com a abertura de inquérito no Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (GAEMA-BS), do Ministério Público do Estado de São Paulo, com participação do Ministério Público Federal.
II Semana da Cultura Caiçara de São Vicente A II Semana da Cultura Caiçara de São Vicente aconteceu de 14 a 20 de maio. A abertura foi feita no Parque Cultural Vila de São Vicente, em frente à Igreja Matriz da cidade. O secretário da Cultura Fabio Lopez
esteve presente ao evento e ressaltou a importância em preservar a cultura caiçara num país litorâneo com tradição pesqueira como o nosso. Também explicou que a Semana é uma oportunidade de levar esses co-
Secretário da Cultura de SV, Fabio Lopez (centro) com Márcio Barreto (direita) e demais participantes na abertura do evento
nhecimentos às escolas municipais. A programação incluiu oficina de literatura, bate papo e contação de histórias nas escolas municipais, visita à praia de Itaquitanduva, curtas metragens com produção caiçara, palestra sobre
preservação do patrimônio material e imaterial da cultura caiçara com o restaurador Leonardo Branco, oficinas de literatura com Flávio Viegas de Amoreira e exposição fotográfica “Mar em Nós” de Christina Amorim.
Foto da exposição "Mar em Nós" de Christina Amorim
A Semana da Cultura é amparada pela Lei N° 331206 de abril de 2015, que sanciona as comemorações à cultura caiçara no Calendário Oficial da cidade de São Vicente pela Lei Estadual 16.290/2016.
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COLUNA
DP World Santos é apoiadora do projeto “Empresto Minhas Pernas”
Pelo sétimo ano consecutivo, a DP World Santos marcou presença nos 10 KM Tribuna FM, maior corrida de rua da Baixada Santista. Com 371 representantes, o Pelotão da empresa levou muita animação às ruas de Santos e quebrou mais um recorde, garantindo a posição de segundo maior pelotão da prova. Mas, este ano, a participação dos integrantes do terminal na competição teve um significado especial. A empresa é uma das apoiadoras do projeto Empresto Minhas Pernas, que tem como objetivo inserir portadores de deficiência na prática de atividades físicas. 13 integrantes voluntários participaram do Pelotão da Igualdade, que foi uma novidade nos 10 KM. Os voluntários ficaram animados com a iniciativa e, visando a melhor participação no projeto, marcaram presença em todos os treinos do projeto, que aconteceram durante os meses de abril e maio no Emissário Submarino, em Santos. O integrante Fabio Pereira, operador de caminhão interno, é apaixonado por corrida desde a infância e abdicou a participação na Elite B da prova para ser voluntário no projeto.
Fabio, que participa da prova há 18 anos, conta que a sensação de correr empurrando a cadeira é completamente diferente de tudo o que já vivenciou antes. “Os treinos do projeto são uma escola de vida. Pensei que no dia da prova iria correr o mais rápido possível, mas aprendi que é preciso ter um cuidado especial ao empurrar as cadeiras. Por causa das diferentes deficiências, muitos não reagem ao desconforto, então precisamos estar atentos a todos os sinais”, explica. O integrante recomenda que todos conheçam o projeto e frequentem os treinos, e destaca que a interação com as pessoas é muito especial. O Pelotão da Igualdade contou com cerca de 40 cadeirantes na prova dos 10 KM Tribuna, que foram conduzidos por mais de 200 voluntários durante o percurso da prova. O projeto Empresto Minhas Pernas vem crescendo ano a ano e já começa a participar de outros eventos esportivos tanto na cidade de Santos, como também em outras cidades do país.
OUVIDORIA DP WORLD SANTOS 0800 779-1000 ouvidoria.ssz@dpworld.com www.dpworldsantos.com
Festa na
Colares d
Curso ensina a transforma Uma delicada rosa branca enfeita um brinco ou um colar. A peça que chama atenção por sua beleza é feita com escamas de peixe tratadas. Eliana Diniz, presidente da Colônia de Pescadores Z-5 de Peruíbe, conta que aprendeu a arte num encontro de pescadores em Brasília em 2009. Hoje, ela divide seus conhecimentos dando aulas sobre a técnica para pescadoras, usando escamas de tainha, prejereba, caranha e corvina. Vinte e três alunas participaram da Oficina de Artesanato com escamas e pele de peixe nos dias 3 e 4 de abril em Cananeia. O evento foi promovido pela Petrobras-Unidade de Operações da Bacia de Santos e a Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo. Participaram pescadoras da Enseada da Baleia e Mandira, em Cananeia. “É gostoso dar o curso e as pessoas virem abraçar e agradecer”, explica Eliana. “Escama de peixe é lixo, a pessoa tem e não enxerga o valor da matéria-prima”, acrescenta. Eliana conta que o curso é também uma troca de conhecimentos, onde as alunas mostraram o bonito artesanato que fazem com redes de camarão descartadas.
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a aldeia
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O cacique Adolfo Timotio Weramirim fala sobre a cultura indígena
A dança, os cantos, os jogos, o artesanato e a culinária estiveram presentes no Festival da Cultura Indígena da Aldeia do Rio Silveiras. O evento aconteceu de 19 a 22 de abril na terra indígena guarani, localizada entre Bertioga e São Sebastião. A tradição teve início em 2001, quando a festa acontecia em Bertioga, trazendo etnias de todo o país e mesmo do exterior. Este é o segundo ano que o povo guarani recebe os turistas em suas terras, numa programação variada, mostrando como preservam sua cultura. Foram feitas apresentações como a dança do xondaro, uso do arco e flecha, cabo de guerra, corrida de tora e luta corporal. No local existem 200 famílias, cerca de 500 pessoas, formando cinco aldeias, que misturam a tradição a outras faces da vida moderna. Apesar de ter água encanada, ainda usam a boa água da cachoeira e a maioria cozinha em fogão a lenha. Todos falam a língua tupi-guarani. Edson Rosa Evaristo, 27 anos, é professor de Ciências e da língua tupi-guarani na
do mar
ar escamas em bijuterias
Com esse material é possível criar chaveiros, brincos, bolsas e carteiras. O artesanato é uma das atividades que Eliana realiza, que pode trazer geração de renda para as comunidades pesqueiras. Outro assunto de seu interesse é a culinária caiçara. Inspirada em receitas de família, criou em 2010 o projeto “Frite seu peixe”. O visitante escolhe o pescado de sua preferência em qualquer box do Mercado de Peruíbe, e leva para a barraca da Colônia, que fica ao lado, onde Eliana prepara na hora, cobrando um preço módico. Com a Festa da Tainha, de 6 a 29 de julho, o movimento promete esquentar. O horário de funcionamento da barraca, que vai de sexta a domingo das 10h às 18h, vai ampliar para as 20h. A tainha começa a ser preparada ao meio dia, mas as pessoas podem saborear outros frutos do mar antes deste horário. Eliana irá também preparar peças de artesanato de escamas especialmente para venda durante a festa. Mais informações: (13)99625.6744/(13)99734.4076.
escola estadual de ensino fundamental na aldeia. É casado com Priscila Krexu, 24 anos e pai da menina Ellen Jaxuka. Seu nome indígena é Wera, que significa relâmpago. Ele explica que além de conservarem seus nomes indígenas, também são fluentes na língua. Muitos se formam e permanecem na aldeia trabalhando na escola, ou no posto de saúde. Seu primo Cleiton Evaristo, chamado de Kuaray, que significa sol, faz monitoria para os visitantes da aldeia. Hoje dois moradores cursam Faculdade de Pedagogia e Medicina, e pretendem depois de formados exercer suas profissões no trabalho na aldeia. Segundo Marcio José Alvim do Nascimento, técnico indigenista da FUNAI, pós-graduado em Etnologia indígena, a terra indígena guarani do Ribeirão Silveira possui 8.500 hectares. A terra está demarcada e aguarda a assinatura do presidente da República. Ele explica que hoje os indígenas se dedicam ao cultivo de pupunha e açaí. Há 100 mil pés de pupunha e 20 mil pés de
açaí plantados em suas terras. A pupunha pode ser cortada após dois anos e meio do plantio, o que zera a extração do palmito juçara, que é nativo. A plantação também aumenta a presença de animais como anta e uma imensa variedade de pássaros, entre eles o tucano, que vem comer os coquinhos das plantas. O cacique Adolfo Timotio Weramirim conta que a comunidade também desenvolve o turismo de base comunitária. O passeio é uma oportunidade de conhecer o modo de vida e apreciar as belezas do lugar. O passeio inclui visita à cachoeira e almoço, além de palestras. As visitas monitoradas na aldeia devem ter um mínimo de 10 pessoas e máximo 40. Mais informações no telefone (11) 94231.7570. “É importante que as pessoas venham conhecer a realidade da aldeia”, afirma o cacique. A Festa da Cultura Indígena teve apoio da Prefeitura de Bertioga e São Sebastião e da Fundação Educacional e Cultural de São Sebastião Deodato Sant´anna.
A paisagem de Peruíbe convida o visitante a saborear frutos do mar
Aprenda duas receitas especiais que a Eliana serve na barraca da Colônia de Pescadores Z-5 ao lado do Mercado de Peixes de Peruíbe. O caldinho de camarão pode ser tomado como entrada do prato principal. Parte do caldinho serve de base para a preparação de um delicioso pirão. Caldinho de camarão Ingredientes: 350 g de camarão limpo/1 xícara (chá) de coentro picado/1 xícara (chá) de cebolinha picada/3 tomates picados/1 colher (sopa) de extrato de tomate/sal a gosto Preparo: Refogar todos os ingredientes. Acrescentar 3 xícaras (chá) de água para fazer o caldo e depois o pirão. Pegar um pouco do camarão refogado com duas
xícaras (chá) do caldo e bater no liquidificador. Despejar o caldo do camarão batido na panela. O caldo do camarão está pronto. Separar uma quantia para servir como caldinho e o restante será usado para fazer o pirão. Pirão Ingredientes: caldo de camarão e farinha de mandioca Preparo: Com o caldo de camarão restante preparar o pirão adicionando farinha de mandioca até engrossar.
Eliana preparando o caldinho de camarão que será a base do pirão
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COLUNA
O Porto na Comunidade
“O trabalho me mudou. Hoje sou uma pessoa mais responsável e que busca crescimento” Andre de Souza, morador da Ilha Diana, encontrou sua primeira oportunidade de emprego no Porto de Santos Andre de Souza Lima é um jovem cheio de planos. Nascido e crescido na comunidade da Ilha Diana, faz parte da equipe de Auxiliares de Armazém da DP World Santos há quase dois anos. Hoje, aos 20 anos, ele planeja trilhar novos caminhos pessoais e profissionais, sempre buscando adquirir conhecimentos. Diariamente, Andre faz a desova e estufagem dos contêineres que chegam ao terminal, além de abri-los para que a fiscalização do Ministério da Agricultura possa conferir o conteúdo. Segundo ele, esta parte do processo, além de ser uma obrigação legal, é de grande importância, uma vez que é o momento de se verificar a procedência da madeira dos pallets transportados e se os mesmos estão devidamente tratados e não trazem qualquer tipo de inseto ou praga vindo de outros países. A vaga de emprego no terminal veio logo após o término do Ensino Médio, e foi a primeira da vida do jovem. Andre reconhece que foi uma oportunidade única. “Não sabia de muita coisa quando comecei, e ao longo do tempo fui ganhando experiência e aprendendo um pouco mais a cada dia”, comenta. Depois de quase dois anos na função, ele já consegue repassar seus conhecimentos para os novos integrantes que chegam. Ele conta que em seus primeiros dias também teve muita ajuda de integrantes que já faziam parte da equipe, por isso sabe o quanto é importante auxiliar os novos colegas de trabalho.
Mas Andre atribui uma boa parcela do seu crescimento a uma característica pessoal: a curiosidade. “Sou curioso, então procuro fazer muitas perguntas e me interar nos assuntos. Procuro fazer questionamentos para me qualificar na atividade que estou exercendo”. E para o jovem, estar disposto a aprender sobre tudo um pouco auxilia no crescimento. “Ser curioso a respeito de outras funções da empresa também é bom, porque caso apareça uma oportunidade posso mostrar o meu conhecimento”, conta. Em busca de seus sonhos e de novas realizações, Andre se inscreveu para o vestibular de Eletromecânica, e pretende iniciar o curso no próximo ano. “É uma parte
que me interessa muito. Gostaria de trabalhar no setor de Manutenção um dia, é onde quero chegar”, conta. O jovem também planeja fazer aulas de inglês e considera este tipo de conhecimento de extrema importância. “Falar inglês é essencial, principalmente na área portuária, onde lidamos com muitas pessoas de fora do país”. E o trabalho também mudou a vida pessoal de Andre. Depois que iniciou a carreira profissional, o jovem se vê como uma pessoa mais responsável. “Procuro crescer pessoalmente e profissionalmente. Tenho planos de me casar no próximo ano e, um dia, construir minha família”, finaliza.
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COLUNA
Você conhece o Porto? Você sabe o que é navegação de Cabotagem? A Cabotagem é a navegação costeira entre portos do mesmo país, e se contrapõe a navegação de longo curso, que é realizada entre portos de países diferentes. Uma das principais vantagens desta modalidade de transporte é a baixa emissão de gases poluentes como CO² e Nox, se comparado com outros tipos de transporte, podendo chegar a consumir oito vezes menos combustível para mover a mesma quantidade de carga. Os custos também são reduzidos em relação ao transporte rodoviário, por exemplo, podendo variar entre 10% e 15% na geração de economia. Além disso, o Brasil é um país propício para a navegação de Cabotagem, pois é cercado por oito mil quilômetros de costa e mais de 40 mil quilômetros de vias navegáveis.
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Como o consumidor deve comprar e armazenar peixe salgado em casa Primeiramente o consumidor deve ter em mente que o termo bacalhau é a forma de preparo do peixe depois de salgado e seco. Pela legislação, somente o Cod pode ser denominado ‘bacalhau’. Nessa denominação estão incluídos o Cod da espécie Gadus Morhua, que é o legítimo bacalhau também conhecido como Porto, e o Cod Gadus Macrocephalus, que é o bacalhau do Pacífico. O Saithe, o Zarbo e o Ling e os demais peixes que forem submetidos a esse processo recebem a designação de “pescado salgado seco”. O método que conserva os peixes é a salga, que é uma mistura de sal, em forma de cristais, mineral e marinho, responsável para dar gosto e cheiro específicos ao peixe salgado. Este alimento está próprio para o consumo quando estiver bem seco e as superfícies limpas, livre de manchas escuras (pretas) denominadas de bolor e de manchas avermelhadas, o que caracteriza mau armazenamento. O bolor é resultado da exposição à umidade ou a temperaturas elevadas, enquanto que a presença de vermelhidão é devida a presença da bactéria Hallococcus. Podem, ainda, ocorrer outras manchas escuras que estão relacionadas
a resíduos do peixe como sangue, bílis, etc., que demonstra a falta de boas práticas durante o processamento. O peixe salgado também sofre deterioração causada pela presença das bactérias deteriorantes, provocando alterações no cheiro, textura e sabor e o produto nestas condições apresenta amolecimento da carne, luminosidade superficial e odor desagradável (pútrido). O pescado está seco ou seja bem curado quando ao levantá-lo pela cabeça e soltando a cauda ele ficar rígido e ereto, se estas características não estiverem presentes e o produto apresentar-se úmido significa que a cura não foi adequada. Para conservar em casa o pescado salgado em boa qualidade os seguintes cuidados devem ser observados: o consumo deve ocorrer dentro de 24 horas após a compra, sendo necessário realizar a dessalga e mantê-lo sob refrigeração, até o momento do consumo. Quanto mais grosso o corte, mais tempo levará para retirar o sal. A dessalga de um pedaço de lombo desse peixe, com troca de água de 6 em 6 horas, pode levar cerca de 36 horas para finalizar o processo. Quando se pretende conservar o pescado salgado, por um período maior
Augusto Pérez Montano Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
este deve ser dessalgado e congelado. Antes do congelamento deve-se secar bem com um pano limpo ou papel toalha e enrolá-lo em filme plástico. Para garantir a qualidade é necessário respeitar o prazo de validade do produto e nunca mantê-lo em temperatura ambiente e locais úmidos.
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Bolo de roda, uma receita da roça caiçara Como manda a tradição caiçara, Elesina Pereira Raimundo gosta de ter sempre peixe à mesa. Nascida em Peruíbe em 1988, hoje está de volta à sua cidade natal, mas já morou em Iguape. O marido Valdemir, nascido em Iguape, é jardineiro, mas gosta de pescar para consumo próprio.
Os filhos, Raissa 11 anos e Pedro Henrique 6 anos, também apreciam o pescado. O peixe azul-marinho, preparado com banana verdolenga e pirão, Elesina gosta de fazer com o peixe salgado e seco e o pirão escaldado no prato à moda indígena. Em Iguape, trabalhou na roça, plantando mandioca, arroz e milho.
Também usou suas habilidades de cozinheira num restaurante típico caiçara em Peruíbe. Das receitas da roça, para saborear com café quentinho de manhã ou à tarde, gosta do cuscuz de arroz, feito com arroz pilado na mão e do bolo de roda. Aqui vai sua receita do bolo de roda da roça.
Elezina dá sua receita familiar de bolo de roda
Amir e a taioba
Amir Oliveira, morador em Cananeia, no litoral sul de São Paulo, é artesão e fandangueiro. Não bastasse tudo isso é apaixonado pela culinária caiçara e adora preparar aquelas receitas mais tradicionais. A taioba, um dos ícones desta cultura, é um dos ingredientes que mais aprecia. Inclusive foi escolhida para dar nome ao restaurante do renomado chef Eudes Assis, especializado em culinária caiçara, em Camburi, São Sebastião. É saborosa como a couve, porém mais macia.
Bolo de roda
Ingredientes 250g de farinha de milho em flocos/1/2 copo de leite/1/2 copo de óleo/4 ovos/polvilho doce até dar ponto/ cravo e canela/margarina e farinha de trigo para untar forma Preparo: Colocar um punhado de cravo e canela numa frigideira, levar ao fogo só para dar uma esquentadinha.. Enrolar as especiarias num pano de prato, bater com um martelinho, passar numa peneira e reservar. Bater bem os ovos numa tigela grande. Misturar o pozinho da canela e do cravo aos ovos. Acrescentar leite e óleo. Adicionar à mistura dos ovos farinha, misturando bem com as mãos até formar uma massa. Acrescentar o polvilho até dar ponto de enrolar. Fazer rolinhos de 2 cm de espessura e dar formato de rosquinhas prendendo as pontas como um coração. Assar em forma untada em forno pré-aquecido a 200 graus por cerca de 40 minutos. É bom comer bem quentinho acompanhado de café. Se não quiser fazer rosquinhas pequenas (com cerca de 8 cm) a receita rende duas roscas de cerca de 15 cm.
Segundo a nutricionista Uli Schnitter tanto a farinha de milho como os polvilhos obtidos da mandioca, são bons substitutos da farinha de trigo. O fubá ou a farinha de milho são ricos em betacaroteno e vitaminas do complexo B como B1 e B3. Elas são essenciais para bom funcionamento cognitivo além disso o fubá possui vitamina K importante para a coagulação do sangue e
fornece bastante energia. O alimento possui o dobro de fibras que a farinha de trigo. Os polvilhos doce e azedo também são opções na preparações de alimentos sem glúten. Eles proporcionam uma elasticidade ao produto. Como ele vem da mandioca contém bastante carboidrato e pouca fibra, por isso o consumo deve ser moderado.
Taioba rasgada Ingredientes: 2 folhas de taioba médias 2 copos de farinha de mandioca Cebola e alho a gosto Azeite Sal a gosto Preparo: Retire as ranhuras das folhas com as mãos. Lave e comece a rasgar em tamanho pequeno. Numa frigideira coloque o azeite, a cebola e o alho. Refogue a taioba e acrescente a farinha de mandioca até formar uma farofa. Salgue a gosto. Ideal para comer com peixe.
Amir Oliveira
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Curso de Aquaviários
Teste de natação é parte dos requsisitos
Pescadores de Bertioga participaram do Curso de Aquaviário nível 1 (POP) de 14 a 25 de maio. Com diploma, os 30 participantes ficam habilitados a tirar a caderneta de inscrição e registro (CIR) exigida pela Marinha para exercer a profissão de pescador em alto mar. O curso foi realizado pela Capitania dos Portos sob a iniciativa da Repsol Sinopec Brasil e apoio da Colônia de Pescadores Z-23. O curso foi feito sob a coordenação de Jucelaine de Souza, com a participação do sargento Marco Antonio Miranda Duarte, e os instrutores suboficial Ivo Lara dos Santos, sargento João Barreto dos Santos, Demetrio Martinho Ramos
de Carvalho. As aulas foram ministradas na unidade móvel da Plataforma Educativa da Repsol Sinopec em frente ao Espaço Cidadão, no centro de Bertioga. Para João Espírito Santo, presidente da Colônia de Pescadores Z-23, de Bertioga, o curso era bem esperado pelos pescadores da cidade. “É muito importante porque eles precisam dessa habilitação para trabalhar e navegar”, explica. Ele explica que os ensinamentos são bem proveitosos pois incluem noções de primeiros socorros, combate a incêndio, navegação, entre outros. Os pescadores assim ficam bem treinados e aptos a exercer sua profissão.
Temporada de pesca de tainha por cerco e traineira está encerrada Foi declarada encerrada a temporada de pesca de toda a frota de cerco/ traineira , nos limites do Estado de Santa Catarina, independente do Estado de origem do Registro Geral da Atividade Pesqueira -RGP, da embarcação autorizada à captura de tainha no ano de 2018. A medida foi feita através da Portaria no 63 de 11 de junho de 2018, assinada pelo secretário da Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca (SEAP), Dayvson Franklin de Souza e publicada no Diário Oficial em 12 de junho de 2018. Veja a Portaria SEAP 63 na íntegra em www.jornalmartimpescador.com.br) legislação
Auditores fiscais seguem em greve até 30 de junho No dia 8 de junho, em Assembleia realizada na Alfândega do Porto de Santos, o Sindifisco DS Santos aprovou continuação da greve dos auditores fiscais até 30/06. Em todo o país, 88% dos auditores fiscais presentes nas assembleias optaram por manter a greve, que começou em maio, e segue ininterruptamente até 30 de junho. 30% do contingente farão rodízios para atenderem às cargas sensíveis.
João do Espírito Santo (à direita) acompanha o curso
Renovação dos Conselhos Consultivos das Unidades de Conservação Marinhas da região Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro (APAMLC) No dia 07-06, às 09hs, foi realizada a reunião de eleição da Sociedade Civil para o 5º biênio do Conselho Consultivo da APAMLC, na sede da Fundação Florestal, em São Vicente. A reunião contou com as instituições da região que representam a atividade pesqueira, entidades ambientalistas, turismo e esportes náutico e universidades. A Resolução com a composição do Conselho deverá ser publicada até o final de junho no Diário Oficial do Estado de Paulo. Esse processo é de fundamental importância para a retomada do processo participativo do Plano de Manejo da unidade, que está em elaboração, junto ao Conselho Gestor.
Parque Estadual Marinho da Laje de Santos As entidades da Sociedade Civil organizada que tenham interesse em se cadastrar para Conselho do PEMLS poderão realizar a sua inscrição até o final de junho, por e-mail (pem. lajedesantos@fflorestal.sp.gov.br), ou na sede da unidade localizada na Avenida Tupiniquins, 1009 – Japuí (SV), de 2ª a 6ª. Feira, das 8 às 17 horas. Os critérios e condições para a habilitação das entidades no processo de seleção deverão obedecer o disposto no Edital de Chamamento 30/2018 De Entidades da Sociedade Civil Organizada para Habilitação no Processo de Constituição do Conselho Gestor do Parque Estadual Marinho Laje de Santos – Biênio 2018/2020, publicado no Diário Oficial do Estado, em 31 de maio de 2018. Mais informações poderão ser obtidas diretamente com a administração do Parque pelo telefone 3567-1495.
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Pixerum:
uma odisseia caiçara Para quem quer mergulhar na vida caiçara, nada como um evento que começa em Ilha Diana e termina num festão com fandango do grupo Manema de Peruíbe em Caruara. Os dois locais são bairros na área continental e preservam a tradicional cultura de nossos caiçaras. Tudo isso aconteceu no Pixerum, um intercâmbio entre as comunidades dia 2 de junho. O nome remete à ideia de mutirão, base do trabalho nas comunidades tradicionais. Expressão musical, coreográfica, poética e festiva agraciada como bem imaterial pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Fandango foi celebrado em Ilha Diana a partir das 14h e terminou na Sede Esportiva do Caruara às 23h. Ali, os componentes do grupo de Turismo Comunitário de Caruara-TBC puderam mostrar as belezas do bairro, o artesanato e a culinária caiçara. O grupo Manema é composto pelos músicos Alfredo Fernandes (Buda), Adimir de Lima Alves (Cachorrinho), Maurício de Lima Alves, Marcos Roberto (Pio), Alaercio Alves de Lima (Esquerda), Cleiton do Prado Carneiro e Daniel Lima. Estiveram presentes ainda no evento outras figuras importantes da cultura caiçara, Amir de Oliveira, Zé Marques, Rodolfo Vidal, Marcus Rangel, a folclorista Meire Berti, o poeta Ricardo Rutigliano Roque e Pedro Moya (Sesc-SP). “Através de conversas com a comunidade, identificamos a importância de fortalecer esse patrimônio e valorizar a cultura ancestral”, disse a jornalista e pesquisadora da cultura caiçara Catharina Apolinário, idea-
lizadora do projeto. Contemplada no Circuito LabxS de 2018, realizado pelo Instituto Procomum, esta edição do Pixerum promove o intercâmbio entre as comunidades de Santos e de Peruíbe para que possam trocar informações, discutir sobre a sua identidade e cultura, bem como falar sobre as demandas existentes nas comunidades. “Esperamos que este encontro possa ampliar suas visões sobre políticas públicas, identificar como eles podem trabalhar em rede. A ideia é empoderá-los dos seus direitos e das lutas de cada um. O Fandango é uma manifestação coletiva, que remete a
O artesão Jorge Manoel da Silva
Grupo Manema se apresenta em Ilha Diana
colaboração, ao trabalho em grupo”, concluiu Catharina. A programação do encontro incluiu bate-papo, oficina de fotomobile (fotografia com celular) para jovens e degustação de produtos orgânicos e tradicionais, além, é claro, da apresentação de Fandango com os tocadores de Peruíbe. Patrocinadores: Instituto Procomum – LABxS | Moinho Santista –
Renato Marchesini da Caiçara Expedições e Lygia Mesquita do Mudecom
Nita Apoio: GG Publicidade | Dazoi Produtos Personalizados | Caiçara Expedições Ecoturismo | TBC Caruara – MUDECOM | Prefeitura de Santos | Prefeitura de Peruíbe | Parceiros do Turismo Viagens e Eventos | Escola Estadual Ricardo Sampaio Cardoso Judoca | Subprefeitura da Área Continental de Santos | Câmara Municipal de Peruíbe
Cleber Mesquita e Magali Santos da Guarujá Radical Turismo
Sandra Assumpção mostra a taioba, base da culinária caiçara
Catharina Apolinário fala sobre cultura caiçara em Ilha Diana
Moradores e convidados dançaram ao som do fandango
O poeta Ricardo Rutigliano
Pedro Moya e a folclorista Meire Berti