JANEIRO/FEVEREIRO 2019 • Número 157 • Ano XV • Tiragem 3.000 exemplares
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PESCADORES TRADICIONAIS
A tradicional pesca de arrastão de praia ainda é praticada por pescadores artesanais. Pág. 7
Leleco e Robson falam sobre a vida do pescador artesanal em Santa Cruz dos Navegantes em Guarujá. Págs. 4 e 5
Repensar, reduzir, reutilizar e reciclar são as práticas para um ambiente equilibrado
Instituto de Pesca inaugura Unidade de Beneficiamento de Pescado. Pág.6
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Praia Grande oferece vagas de emprego
Plano de manejo da APAMLC é aprovado por seu Conselho Gestor Dia 18/12, após seis reuniões iniciadas dia 30/8, o Conselho Gestor da APA Marinha Litoral Centro-APAMLC aprovou o Plano de Manejo para a área. Os encontros reuniram segmentos de profissionais e grupos familiares envolvidos com a pesca artesanal, demais setores produtivos e usuários , incluindo pesca industrial, amadora, aquicultura, atividades industriais, turísticas, exploração mineral, transporte, uso e ocupação do solo, além de associações de usuários, e segmento de interesses difusos com representantes dos órgãos públicos federais, estaduais, e municipais, de institutos de ensino e pesquisa, Ongs atuantes na região, grupos de defesa de minorias, dentre outros. A gestora da APAMLC, Maria de Carvalho Tereza Lanza, coordenou a reunião, explicando que das seis áreas instituídas para o Plano de Manejo das APAs Marinhas do Estado de São Paulo (Norte, Centro e Sul), a unidade apresentou propostas que se enquadraram em quatro delas. São elas: Área de Interesse para Recuperação (Manguezal do Itapanhaú e canal de Bertioga), Área de Interesse Turístico (Ilha da Queimada Grande e praias da AME Ponta da Armação),
Membros do Conselho Gestor da APAMLC e participantes da reunião
Área de Interesse para pesca de Baixa Mobilidade (AIPBM) e Área de Interesse Histórico Cultural (AIHC). Foram exibidos vídeos que traziam depoimentos de pesquisadores e pescadores que atuam nas localidades sugeridas. A gestora afirmou que as áreas traziam possibilidades de regramentos mais específicos e que seriam indicados nos programas previstos nas respectivas normas das áreas. Roberto Domingues apresentou sua insatisfação diante da expectativa dos pescadores de arrasto de camarão de que o Plano pudesse rever o limite da linha de costa vigente para essa modalidade (800 metros). A gestora lembrou que desde o início
do processo participativo havia sido esclarecido que o Plano não se sobreporia a nenhuma legislação ambiental, e explicou que a necessidade de rediscussão desse limite havia sido prevista pelos Programas de Gestão. Acrescentou que no decorrer das reuniões houve uma preocupação em divulgar informações para os representantes da pesca artesanal. O Instituto Linha d’Água visualizou a demanda, e agiu de maneira independente da Fundação Florestal promovendo encontros com pescadores artesanais para facilitar o conteúdo e coletar anseios e contrariedades da proposta registrados no site da Fundação Florestal. Maria ressaltou ter recebido retornos positivos dessa
mobilização, informando que houve grande empatia dos mobilizadores contratados Thais e Carol, em parceria com o projeto Albatroz, e Lígia e Alexandre junto aos pescadores da unidade, fato importante para o sucesso dos resultados. Depois da aprovação do Conselho Gestor, o Plano de Manejo é encaminhado para o Comitê de Integração dos Planos de Manejo da Fundação Florestal, e após possíveis ressalvas segue para o Conselho Estadual do Meio Ambiente-Consema. Obtida a aprovação do Conselho é enviado para a publicação no Diário Oficial em forma de Decreto.
Como escolher camarão para consumo
Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
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O camarão é considerado um alimento saudável por ter baixo teor calórico, desde que não seja submetido à fritura, é rico em minerais e vitaminas e apresenta pequena quantidade de gordura saturada. O camarão fresco deve ter carne branca firme e estar preso à casca, o cheiro deve ser suave, cheiro de água do mar e a casca deve ser brilhante. Quando a casca está solta do corpo significa que o camarão já está em fase de putrefação e pode inclusive apresentar pontos pretos. A cabeça também deve estar colada ao corpo, caso a cabeça esteja solta significa que a sua conservação não foi adequada. O tempo de conservação do camarão fresco na geladeira é de dois dias, no máximo. A coloração
Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo Presidente Tsuneo Okida
do camarão varia com a espécie podendo ser: castanha-esverdeada, cinzento-azulado, rosa-acastanhado a laranja, rosa ou mesmo vermelhopálido. No Brasil os camarões mais comumente comercializados são: branco, cristalino, rosa, sete-barbas, vermelho e o camarão-cinza que é o de cativeiro. O camarão fresco deteriora muito rápido, portanto uma boa alternativa é fazer uso do camarão congelado, pois este mantém o sabor e qualidades nutritivas, além de que o camarão congelado está disponível durante todo o ano. O camarão pode ser usado em uma variedade de pratos e ser servido de diferentes formas: cozido, salteado no fogão ou grelhado. Ao adquirir camarão congelado
Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP CEP: 11030-350 Fone: (013) 3261-2992
prefira aqueles com casca, pois esta preserva o sabor. Quando armazenado em freezer o produto pode manter a qualidade por um ano, porém é importante observar sempre as recomendações do fabricante. O descongelamento deve ser feito na geladeira, para que as características de camarão fresco sejam mantidas. Evite descongelar o camarão no microondas, pois esse método pode endurecer o produto além de alterar o sabor. É importante o consumidor melhorar a sua percepção em relação aos frutos do mar, para que adquira produtos confiáveis para evitar intoxicação alimentar e é fundamental adquirir o hábito de cozinhá-los bem, antes de consumi-los para garantia da sua saúde.
As vagas de emprego são disponibilizadas e atualizadas semanalmente no Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT). Para se cadastrar, os interessados devem comparecer ao PAT localizado ao lado do Poupatempo, no Litoral Plaza Shopping, na Avenida Ayrton Senna da Silva, 1.511, Bairro Xixová., de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h. Quem já é cadastrado pode consultar as vagas durante todo o dia, até as 17 horas. O candidato deve apresentar RG, CPF, Carteira de Trabalho e o número do PIS, se possuir. Quem preferir, pode se cadastrar pelo site www.maisemprego.mte.gov. br, onde é obrigatório o número do PIS. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 34965402. É possível conferir as vagas disponíveis em www.praiagrande. sp.gov.br/cidadao_n/Emprego.asp Defesos Bagre rosado (Genidens genidens, Genidens barbus, Cathorops agassizii) 01/11/18 a 31/03/19 Piracema (pesca continental) 01/11/18 a 28/02/19- todas as espécies nativas Caranguejo-uçá (Ucides cordatus) 1/10 a 30/11 (machos e fêmeas), 1/12 a 31/12 (somente fêmeas) Caranguejo-guaiamum (Cardisoma ganhumi) 1/10 a 31/03 Mexilhão (Perna perna) 1/09 a 31/12 Ostra – 18/12/18 a 18/02/19 Sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) (traineiras) 15/06 a 31/07 (recrutamento) e 1/11 a 15/02 (desova) Moratórias Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2015 a 6/10/2023 (Portaria Interministerial no 14) Mero (Epinephelus itajara) 06/10/15 a 06/10/23 (Portaria Interministerial no 13) Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)- tempo indeterminado Tubarão galha-branca (Carcharinus longimanus)-tempo indeterminado Raia manta (família Mobulidae) tempo indeterminado Marlim-azul ou agulhão-negro (Makaira nigricans)- tempo indeterminado Marlim-branco ou agulhão-branco (Tetrapturus albidus) – tempo indeterminado Saiba mais sobre a legislação de pesca em: www.jornalmartimpescador.com. br (legislação)
Jornalista Jornalista responsável: responsável: Christina ChristinaAmorim AmorimMTb: MTb:10.678/SP 10.678/SPchristinamorim@gmail.com christinamorim@gmail.com Fotos Fotoseeilustração: ilustração: Christina Christina Amorim; Amorim; Diagramação: Diagramação: cassiobueno.com.br; cassiobueno.com.br; Projeto Projeto gráfico: gráfico: Isabela Isabela Carrari Carrari - belacarrari@hotmail.com - icarrari@gmail.com Impressão: Impressão:Diário Diário do Litoral Litoral:Fone.: Fone.:(013) (013)3226-2051 3307-2601 Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia
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Conciliação promove educação ambiental e pode gerar redução no valor da multa Multas por infração ambiental podem dar muita dor de cabeça e quando não são pagas os processos podem se estender por anos. Para um melhor entendimento entre as partes interessadas foi criado o Programa Estadual de Conciliação Ambiental através da Resolução SMA nº 51, de 5 de junho de 2014. A finalidade é de garantir e assegurar os direitos dos autuados a um atendimento conciliatório para o cumprimento dos deveres e resolução dos processos relacionados aos Autos de Infração Ambiental. “Esse procedimento trouxe mais diálogo entre as partes”, explica João Thiago Wohnrath Mele Diretor do Centro Técnico Regional de Fiscalização III, da Coordenadoria de Fiscalização Ambiental-Secretaria do Meio Ambiente. Ele explica que durante a reunião de conciliação são analisados possíveis fatores atenuantes da multa como baixo grau de instrução, baixa renda (hipossuficiência financeira), e se a infração foi cometida pela primeira vez. É possível também parcelar a multa em 12 pagamentos, ou reduzir o valor em até 90% se aplicar o dinheiro no Projeto Nascentes (de recuperação de nascentes e de mata ciliar) ou no Projeto Ninhos (de recuperação da fauna silvestre), ambos iniciativas do Governo do Estado de São Paulo. Mais de 12,7 milhões de mudas foram plantadas desde o início das atividades em 2014 do Programa Nascentes, presente em 142 municípios paulistas. Existem 7.667 hectares em processo de restauração, o que equivale a 10.738 campos de futebol. Segundo Mele, após a aplicação, o Estado fiscaliza se o empreendedor efetivamente cumpriu o projeto. “O Estado deve ser indutor de políticas públicas, a ideia não é só ação repressiva, mas dar possibilidade reduzir multa e agregar valor ambiental”, explica Mele. Em resumo, objetivo principal é a recuperação do dano. Multas ambientais abrangem além da pesca a exploração indevida da flora, produtos florestais (carvão, palmito, xaxim, orquídea), fauna,
e diferentes infrações cometidas nas unidades de conservação. A tecnologia hoje agiliza o processo de conciliação. As multas são efetuadas em tablets, e o Boletim de Ocorrência é enviado eletronicamente para o infrator e para o Centro Técnico Regional de Fiscalização. Também são feitas fotos com o tablet, que serão adicionadas ao processo eletrônico. No próprio momento da autuação já é agendado o dia para o comparecimento na reunião de conciliação, que pode ser num prazo de 10 a 40 dias. Estarão presentes no encontro um técnico da Secretaria do Meio Ambiente-SMA, um oficial da Polícia Ambiental (não o que autuou). O infrator na ocasião poderá apresentar seus argumentos. Os benefícios são a possibilidade de reduzir a multa em 90% com investimento em projetos de recuperação ambiental e parcelamento em 12 vezes. Em 2018, 78% dos autuados compareceram à conciliação, e 65% deles entraram em acordo na própria audiência. O benefício de parcelar a multa em 12 vezes é feito apenas na primeira audiência. Após o acordo e pagamento da multa o infrator pode receber seu equipamento de volta. Não havendo acordo a pessoa ainda tem 20 dias para recorrer administrativamente. Se não houver pagamento a multa vai para dívida ativa do Estado e a Procuradoria Geral do Estado entra com ação de execução fiscal. A conciliação ambiental é feita em 35 pontos de atendimento no Estado de São Paulo. Na Baixada Santista os endereços são: Av. Bartolomeu de Gusmão 192, Ponta da Praia, Santos, no Prédio do Instituto de Pesca, Tel: (13) 3269.1200 e av. Av. Padre Anchieta, 12, Centro, Peruíbe. Tel: (13)3455.3780. Mais informações, inclusive pontos de atendimento: www.ambiente. sp.gov.br/cfa/infracao-ambiental/ conciliacao-ambiental/ Programas para investir: www.programanascentes. sp.gov.br www.ambiente.sp.gov.br/ programaninhos/ Para baixar a cartilha de Conduta Ambiental Legal: www.ambiente.sp.gov.br/cfa/ conduta-legal
Programa Praia Acessível é opção de lazer em PG
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-parcelamento em 12 vezes do pagamento da multa -possibilidade de investir valor em projetos ambientais, reduzindo assim seu valor -redução da multa por bons antecedentes, baixo índice de escolaridade do infrator, colaboração com os agentes na prevenção contra novas degradações ambientais (através do Termo de Comprometimento de participação do programa Conduta Ambiental Legal, para os casos em que houver conciliação), baixa gravidade dos fatos e baixa renda (hipossuficiência financeira)
Praia Grande conta com um polo do Programa Praia Acessível. O atendimento gratuito aos munícipes e turistas ocorre no Bairro Guilhermina (Avenida Presidente Castelo Branco esquina com a Rua Leblon - em frente ao número 1.898), das 9 às 17 horas. Em fevereiro, as cadeiras anfíbias e esteiras adaptadas estarão disponíveis aos sábados, domingos e feriados. Na prática, é ofertado aos participantes do programa banho de mar por meio de equipamentos especiais - cadeiras anfíbias e esteiras adaptadas. Desta forma, ocorre um importante auxílio de deslocamento na areia da praia e no banho de mar com maior segurança e conforto. Para participar, basta o interessado comparecer na praia do Bairro Guilhermina e preencher ficha cadastral. No local, há um professor de educação física que auxilia os participantes e explica como funciona o Programa. Os menores de idade devem estar acompanhados pelos responsáveis. Dependendo do movimento do dia, é possível que uma mesma pessoa utilize o equipamento mais de uma vez. O Programa funciona com sol e chuva fraca. Se a chuva for forte, a atividade é interrompida visando à segurança dos próprios banhistas. Válido destacar que, ao longo do ano, o Praia Acessível só tem atividades em feriados, sábados e domingos. Números positivos - Em 2018, foram realizados mais de 240 atendimentos nos meses de janeiro a outubro. No total, nos últimos três anos, houve mais de 600 atendimentos. O Programa teve início em 2010.
Pudim de Mandioca
TELEFONES ÚTEIS
Equipe técnica do Centro Técnico Regional de Fiscalização
O diretor João Thiago Wohnrath Mele
Benefícios oferecidos na audiência de conciliação ambiental
Ingredientes: 1 kg de mandioca/1 lata de leite condensado e igual medida de leite de vaca/1 vidro de leite de coco/3 ovos/1/2 xícara (chá) de açúcar/1 colher (chá) de erva-doce/1/2 xícara (chá) de queijo parmesão ralado/ manteiga e canela em pó para untar a assadeira Preparo: Numa vasilha ralar a mandioca crua e misturar todos os ingredientes. Bater bem, despejar em forma untada com manteiga e canela em pó. Assar em banho-maria por uma hora.
SAMU(Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ................. 192 Corpo de Bombeiros ................ 193 Disque Denúncia ..................... 181 Polícia Civil .............................. 197 Polícia Militar ........................... 190 Sabesp .................................... 195 CPFL ..................................0800-0102570
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COLUNA
DP World Santos realiza 16ª edição da Ecoférias na Ilha Diana A DP World Santos, um dos maiores e mais modernos terminais portuários privados do país, instalado na margem esquerda do Porto de Santos (SP), realizou, entre os dias 7 e 30 de janeiro, a 16ª edição da Ecoférias – Programa de Educação Ambiental na Ilha Diana. O Programa é realizado todos os anos, no período de férias escolares, e destina-se especialmente para as crianças e adolescentes da comunidade. Com o tema "Pequenos Empreendedores", a edição desse ano contou com oito encontros
e reuniu mais de 15 participantes, com idades entre 3 e 13 anos. Durante as atividades, as crianças tiveram a oportunidade de desenvolver a criatividade e noções de economia por meio de jogos de tabuleiro, brincadeiras, teatro, feirinhas de artesanato e show de talentos. Ao final do programa, elas tiveram aula de fotografia e participaram de um concurso para eleger a melhor foto da Ilha. O objetivo da Ecoférias é abordar a cultura e resgatar as tradições caiçaras do local.
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Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, tradição que continua Fiéis saíram em procissão da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, em Santos, com a imagem da santa, dia 3 de fevereiro às 17h. O padre Samuel Fonseca acompanhava os devotos, que terminaram o ato voltando à Igreja para a celebração da missa às 18h. A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes chegou ao Brasil com os portugueses na época do descobrimento no século 16. Também chamada de Stella Maris, Estrela do Mar, a santa é invocada pelos marítimos que lhe pedem proteção. Em 1950 a procissão já acontecia no bairro de Santa Cruz dos Navegantes, em Guarujá, organizada pela família de Modesto Roma. Os devotos da santa podem fazer suas orações na Igreja Nossa Senhora dos Navegantes na Av. Alm. Saldanha da Gama, 114, no bairro da Ponta da Praia em Santos.
JOSÉ HERRERA - ARQUIVO DA FAMÍLIA MODESTO ROMA
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Procissão na década de 50 em Santa Cruz dos Navegantes
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Pescadores de Santa Cruz dos Navegantes A praia de Santa Cruz dos Navegantes dá o nome ao bairro de Guarujá que pode ser avistado da Ponta da Praia em Santos. Ao lado direito, a Fortaleza de Santo Ama-
Leleco
ro da Barra Grande complementa a paisagem. O acesso ao bairro, também conhecido como Pouca Farinha, é feito de barquinha que sai da Ponte Perdigão, ou por uma
estrada de 6 km que parte do centro de Guarujá. O lugar se destacou em sua origem como comunidade de pesca. Na década de 50 quando já havia cerca de 10 famílias mo-
Nelson Otacílio Calixto de Assumpção, 58 anos, nasceu em Ubatuba, mas veio com 15 anos para a Pouca Farinha. “Aos oito anos já ia para o mar com meu pai”, lembra-se. “Aprendi tudo com meu velho”, acrescenta. Hoje pesca de tudo um pouco no seu barco de madeira de 9,9 metros. Marisco no verão, tainha e sororoca na rede, e peixes de linha também. Ganhou o apelido de Leleco por sua semelhança física com o personagem vivido pelo ator Marcos Caruso na novela Avenida Brasil da rede Globo. Pesca o ano inteiro, mas não tem horário certo para sair. “Para pegar o marisco depende da maré”, explica. Caiçara da gema também aprendeu com o pai Otacílio a preparar o famoso peixe azul-marinho, feito com banana verde. “Minha vida é terra e mar”, afirma. Além da pesca gosta de plantar os temperos típicos caiçaras como a alfavaca e o coentrão. Tem nove filhos, três do último casamento. Os filhos não aprenderam a pescar, mas o neto Brya, cinco anos, gosta de aprender. “Molecada não tem muito interesse”, conclui. A profissão tem o lado bom e o ruim. “O bom é que a gente gosta do que faz”, diz com orgulho. “O ruim é que o pescador trabalha muito para ganhar pouco”, lamenta.
Descascadoras de marisco do bairro
rando ali, incluindo pescadores, chegaram novos moradores provenientes de Ubatuba e Ilhabela que tem descendentes até hoje no local. Há cerca de 300 pescadores
no bairro, trabalhando com arrasto de camarão e rede de emalhe de peixes. Muitas mulheres trabalham com beneficiamento do pescado, limpando camarões e mariscos.
Robson
Robson Heleno da Costa nasceu em 1973 em Santo André, mas mora desde um ano de idade em Santa Cruz dos Navegantes. Ali se fez pescador. “Aprendi a pescar com Betão, Leca”, conta. Hoje, com um barco de 9,5 metros de madeira, chamado “Projeto de Deus”, sai quase todos dias às 6h da manhã e volta às 10h. À tarde sai às 16h e retorna às 20h. Usa rede de emalhe para pegar pescada, robalo, perna de moça e espada. No inverno pesca sororoca e tainha, no verão pega mariscos. “Gosto de sair de barco”, afirma Robson mostrando seu amor pelo mar. Já ensinou a profissão a muitos jovens. “Hoje o pai não exige que o filho seja pescador, quer que ele estude”, diz Robson. “Com a escassez do peixe, a pesca ficou mais trabalhosa e menos lucrativa”, se queixa. Por isso Robson gostaria que a filha de três anos ao crescer seguisse uma carreira no mar, mas como comandante de navio. Acha que o governo deveria dar mais apoio para o pescador, maior linha de crédito para empréstimos para compra de equipamentos e obtenção de infraestrutura. Gosta de pescar pelo prazer da liberdade, sai no horário que quer. Também pelo contato com a natureza no dia a dia. “Isso é raro hoje, pessoa fica em frente à televisão, ao computador, tudo asfaltado, tudo com ar condicionado”, reclama. “Por isso o pescador tem mais saúde, fica 24 horas em chuva e sol, vento e não pega gripe”, conclui. Apesar de todas as dificuldades da profissão, Robson ama o que faz.
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Instituto de Pesca inaugura Unidade de Beneficiamento de Pescado Pesquisas relacionadas à industrialização do pescado ganham espaço com a inauguração da Unidade de Beneficiamento de Pescado do Centro Avançado de Pesquisa do Pescado Marinho, no Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em Santos. O evento aconteceu dia 18 de dezembro e contou com a presença de diversas autoridades, entre elas, o vice-prefeito de Santos, Sandoval Soares, o diretor do Instituto de Pesca Luiz Ayroza, o coordenador da APTA Marinha Orlando Melo de Castro, o diretor do centro de Pesquisa do Pescado Marinho Eduardo Sanches, José Luiz Pontes, representante do secretário da Agricultura e Milene Massaro da Codeagro. A Unidade de Beneficiamento foi feita através de adequação da estrutura ligada à Unidade Laboratorial de Referência em Tecnologia de Pescado (ULRTP). Segundo a pesquisadora Érika Fabiane Furlan, diretora de ULRTP, a adequação foi necessária para atender às exigências para a obtenção de registro junto ao Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Estado de São Paulo (SISP). A obtenção do SISP permite a realização de testes de mercado com lotes produzidos experimentalmente no Instituto de Pesca, avaliando novas linhas de produção para a indústria. A estrutura conta com um laboratório de análises físico-químicas, cozinha experimental e cabines para análises sensoriais de produtos. Ali haverá também espaço para capacitação e treinamento de profissionais ligados à indústria, agentes de fiscalização, entre outros. Para o coordenador Orlando Melo de Castro, a unidade de processamento deverá ser referência na região. Após a inauguração a pesquisadora da URLPT, Cristiane Neiva, acompanhou os convidados numa visita monitorada explicando o funcionamento da unidade. Ao final os visitantes puderam saborear uma variedade de produtos, entre eles quibe, cuscuz e casquinha de CMS (Carne Mecanicamente Separada), além de patê de tilápia defumada. O CMS é um produto obtido na Unidade de Beneficiamento, pelo processamento industrial de diversas variedades de peixes, separando-se a carne de partes não comestíveis como pele, escamas e ossos. Na ocasião foi feito o lançamento do livro “Pescado é saúde: aproveitamento integral do pescado” pela Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (CODEAGRO), em parceria com o Instituto de Pesca (IP), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Para o diretor do IP, Luiz Ayroza, a união das instituições fortalece e aprimora o setor do pescado. O livro digital pode ser baixado gratuitamente pelo site do Instituto de Pesca: www.pesca.sp.gov.br. Além de informações nutricionais úteis, há variadas receitas de renomados chefs, entre eles: Jacqueline Baraúna, Marcelo Lyma, Daniel Stucchi, Michele Uemura, Fábio Leal e José Monteiro Jr.
A diretora da ULRTP Érika Furlan (segunda à direita) com as pesquisadoras Rubia Tomita, Thais Moron e Cristiane Neiva
Instituto de Pesca inaugura Unidade de Beneficiamento de Pescado
O pesquisador Júlio Lombardi (em pé) e autoridades
O coquetel finalizou o encontro com uma variedade de produtos feitos com pescado
Os chefs Marcio Okumura, Daniel Stucchi e Michele Uemura.
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Tradição artesanal se mantém O arrastão de praia, mais antiga tradição da pesca artesanal, embora em pequena escala, ainda tem continuidade. A atividade é regulamentada pela Resolução da Secretaria do Meio Ambiente n. 51 de 28/06/2012, que determina comprimento de rede e tamanho de malha permitidos, assim como horários, entre outras especificações. Algumas famílias há muitas gerações na pesca realizam suas atividades nas praias de Santos. Rodrigo Fascini, santista de 32 anos, aprendeu a pescar com o avô materno Plínio de Castro, hoje com 84 anos e ainda ativo também na confecção de redes, tarrafas e picarés. O pai Antônio, 54, pesca até hoje e a mãe quando era mais jovem. “O pescador legal que respeita as normas tem muito a contribuir perante a sociedade”, afirma Fascini. Inclusive este profissional é ativamente um dos principais recolhedores voluntários de lixo das praias, especialmente dos dejetos que são trazidos nas redes de pesca. Além de recolher peças de plástico e artefatos de pesca indevidamente descartados no mar por pessoas irresponsáveis, se preocupa em resgatar animais presos nestas verdadeiras armadilhas. Rodrigo acha importante a consciência ambiental do pescador no respeito ao defeso de espécies ameaçadas, na soltura imediata de animais pegos acidentalmente e no uso de tamanho de malha de rede e petrechos de pesca permitidos por lei. Também critica a pesca fantasma, causada por equipamentos de pesca descartados no mar (redes, cordas, anzóis), que acabam matando animais marinhos que neles ficam presos.
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O paraíso mora ao lado A gestora do PEXJ Marisa Goulart (centro) e equipe do Parque
Praia de Itaquitanduva dentro do Parque Estadual Xixová-Japuí
Cesar Borborema
Próximo a áreas urbanas das cidades de São Vicente e Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, existe uma preciosa reserva de Mata Atlântica de 901 hectares (9 km2). É o Parque Estadual Xixová-Japuí, que além de uma extensa área terrestre possui 301 hectares (3 km2) de área marinha, totalizando 12 km de costões rochosos e quatro praias arenosas: Paranapuã, Itaquitanduva, Comandante e Canto do Forte. Na área do parque as visitas são controladas e é proibido acampar e fazer fogueiras. O limite marinho se estende numa faixa de 250m a partir do costão rochoso, onde é proibido qualquer tipo de pesca e coleta de mariscos. O Parque foi criado em 1993, pelo Decreto 37.536, a
pedido das comunidades locais e dos órgãos públicos do município de São Vicente e Praia Grande. A gestora do parque, Marisa Goulart, explica que 29 moradores do entorno estão sendo capacitados como monitores ambientais autônomos para acompanhar visitantes em dois roteiros para as trilhas da praia de Paranapuã e do Curtume. O grupo que se autodenominou Econativos, deve começar a operar em fevereiro. O primeiro passeio incluindo contemplação de plantas e animais locais, leva cerca de uma hora (ida e volta) e o segundo cerca de duas horas (ida e volta). A visita monitorada é realizada uma vez por mês, aos sábados. Para o passeio autoguiado, sem a presença de monitores, é preciso assinar um termo de
responsabilidade. A contemplação de plantas inclui espécies nativas da Mata Atlântica, como o palmito-juçara, o ipê-roxo e a embaúba. Entre as aves é possível avistar gaviões, sanhaços-azuis, tucanos, tiês-sangue, entre outros. Habitam o parque ainda 13 espécies de mamíferos terrestres e 21 aquáticos, 21 espécies de anfíbios e 35 répteis terrestres e cinco marinhos. As visitas precisam ser agendadas por e-mail (pe.xixovajapui@fflorestal.sp.gov.br) ou pelo telefone (13) 3567-2190, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h, com possibilidade de agendar para o final da semana. O Centro de Visitantes fica na Av. Tupiniquins, 1009, no bairro de Japuí, em São Vicente/SP.
Chaminé do antigo Curtume Cardamone é visível da trilha O gerente regional da Fundação FlorestalBS Lafaiete Alarcon (centro) com Rudneia Antonio e Rafael Gonçalves Dias
O monitor ambiental Theo Miranda e o artista plástico Denis Carmo, com banco feito em bambu de manejo sustentável
Cesar Borborema
Os monitores Theo Miranda e Alexandre Santos visitam a antiga pedreira
A monitora Victória Masson observa uma bromélia
Mudas de palmito juçara são plantadas no parque