Origem Magazine

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ORIGEM História

Edição 44

01/07/20


Sempre teve E sempre vai ter NĂŁo ĂŠ desculpa para o racismo

#blacklivesmatter

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ORIGEM


Indice

3 Hip Hop: dos guetos ao sucesso mundial

13 Do picho ao gráfite

Diagramação: Isabela Cristina Hasse Todos os direitos reservados para a Editora Origem. É proibida a reprodução desse material.

História e memória Afrodescendente: de onde viemos?

9 Break dance

15 Rua das Revistas, 4444 Bairro revista/Joinville (SC) (47) 3434-4444 revistaorigem@gmail.com www.revistaorigem.com.br 2


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HISTORIA E MEMORIA AFRODESCENDENTE Por Natania Nogueira e Júlia Freitas O negro no Brasil é geralmente relacionado à escravidão. Ela, por sua vez, representa um estigma, mas é uma memória que não pode ser negada, nem esquecida. Não é esquecendo o passado que construímos o futuro, mas lembrando e preservando. Por mais de 300 anos, negros africanos foram trazidos para a América, há muito o que se estudar e pesquisar sobre sua presença, sua cultura suas relações sociais, enfim, sobre os vários aspectos que envolveram a sociedade escravista, que caracterizou o Brasil até o final do século XIX.

A história do negro no Brasil, entretanto, não termina com a abolição. Ela apenas inaugura uma nova etapa, marcada pelo trabalho, pelo preconceito e pela pobreza, mas também por práticas culturais que ultrapassam as barreiras étnicas. Aspectos da vida cotidiana, estratégias de sobrevivência e formas de resistência, em uma sociedade marcada pelo preconceito. A memória e a história do negro após a abolição talvez sejam um dos campos mais férteis para pesquisa da atualidade e, certamente, ainda pouco explorado. 4


De onde viemos? Sabemos que o início da humanidade remonta ao continente africano, a mais de 150 mil anos atrás, e embora haja no mundo bilhões de descendestes dos povos da África, nós, brasileiros, temos esse sangue correndo nas veias de maneira bem pulsante. Brasileiros, negros e nascidos em Salvador (a cidade com mais negros fora da África), como eu, têm a certeza quase que absoluta que seus ancestrais vieram de algum país da África, principalmente da parte Centro-Ocidental (região que hoje é Angola) ou do Golfo do Benin (que é o litoral que vai da Costa do Marfim até a Nigéria). Esses dados são oriundos de pesquisas diversas que vêm sendo feitas há muitos anos, mas ainda assim é tudo muito vago. O tráfico de negros africanos para o Brasil na época da colonização durou quase quatro séculos e trouxe para o nosso país, de maneira forçada, mais de 4,8 milhões de africanos escravizados. Vindos das mais diversas partes da África e das mais distintas tribos e etnias, aqui no Brasil eles foram amontoados e obrigados a conviver juntos, apesar das suas diferenças. Nesse sistema brutal que era a escravidão, eles perderam seus nome e suas identidades, tiveram seus documentos destruídos e seu passado apagado. Este foi também o momento em que a ligação entre os afrodescendentes brasileiros e as suas raízes na África foi interrompida. 5


Há algumas semanas uma matéria exibida na TV aberta mostrou um projeto interessante que vem tentando unir novamente essas suas pontas da história. Com o nome de “Brasil: DNA África” a empreitada, que vai virar um documentário, entrevistou e fez testes de DNA em 150 brasileiros afrodescendentes com o objetivo de traçar as raízes dos ancestrais de cada um deles. Os testes são feitos por uma empresa americana, a African Ancestry, que garante encontrar os ancestrais africanos de quem quiser e tiver cerca de trezentos dólares para bancar o tal exame. Entre os participantes do projeto, cinco tiveram a chance de viajar para o continente africano e reencontrar as suas origens. A gente sabe que essa não é uma realidade possível para a grande maioria dos afro-brasileiros. E aí, para esses tantos outros continua negado o direito de conhecer as suas raízes? A escravidão no Brasil foi abolida há 127 anos, mas ainda hoje as consequências desse sistema de servidão afetam a vida de milhões de pessoas pela África e nos continentes americanos que receberam os africanos. São pessoas que perderam a conexão entre si. São gerações de famílias que não sabem de onde vieram, que desconhecem as suas raízes e as suas histórias e que são órfãs de muitas informações. 6


NĂłs existimos Queremos um lar Uma famĂ­lia

#adotaratodeamor 7


Lar Emanuel 8


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Rhythm and Poetry Sigla para Rhythm and poetry, o Rap surge a partir de músicas jamaicanas nos anos 60 e é levado aos EUA pela população de origem negra, pobre e hispânica, em um contexto de brigas entre gangues. Festas embaladas por sons começaram a aparecer e quem inovou criando o estilo que envolve cantar rimas em cima de uma batida foi o DJ Kool Herc. Na década de 70, os jovens da periferia já mixavam músicas conhecidas da black music, fazendo bases para suas rimas. Usavam as letras para discursar sobre a realidade em que viviam. Na década de 80, o cenário do rap começa a se popularizar, apesar de ainda possuir a fama de marginalizado e oriundo do crime. os rap’s gangsta formam, também uma vertente, muito mais comercial: cantam sobre mansões, carros de luxo e mulheres. 11

de 80, o cenário do rap começa a se popularizar, apesar de ainda possuir a fama de marginalizado e oriundo do crime. os rap’s gangsta formam, também uma vertente, muito mais comercial: cantam sobre mansões, carros de luxo e mulheres. Essa época é chamada por muitos de auge do estilo e a fama não é à toa: foi nesse tempo começaram grandes nomes como Snoop Dogg, Sean Puffy Combs e Cool J e grupo N.W.A Foi no cenário dos anos 90 que gran des artistas, como Notorious B.I.G, Tupac Shakur e Eminem sur giram. Seu trabalho foi reconhecido mundialmente e o rap começou a pegar em todas as classes sociais, saindo dos guetos e indo parar em bairros de classe média. Até os dias de hoje, há a produção de raps mais comerciais, para ser consumido por esse público.


No Brasil o rap estoura por volta dos anos 1980 e na década seguinte domina de vez o mercado fo nográgico. Aqui, o rap é mais voltado para críticas sociais e surgem artistas como Thayde, Racionais MCs, Pavilhão 9, Detentos do Rap, Câmbio Negro, Xis & Dentinho, Planet Hemp e Gabriel, O Pensador. Com o tempo, o ritmo começou a fazer sucesso e invadiu todos os locais, seguindo a tendência mundial de chegar também a classes sociais mais altas. Como canta Mano Brown, em um verso de Negro Drama:: “Entrei pelo seu rádio, tomei, cê nem viu”. Em Porto Alegre, surge o Da Guedes, em 1993, vindo do bairro Partenon. Continuou fazendo suxesso e continuou fazendo sucesso e hoje está totalmente incorporado na cultura popular.

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Break dance

O street dance surgiu na cidade de Nova York após a grande crise econômica de 1929, quando dançarinos de casas noturnas foram demitidos e passaram a se apresentar nas ruas. Nos anos 60 as gangues da cidade passaram a dançar em seus bairros de origem. O break Dance surgiu no final dos anos 70 nos bairros porto-riquenhos e hispânicos (Bronx, Queens, Harlem, parte do Brooklyn) da cidade americana através de suas gangues. As danças eram uma forma desses grupos se expressarem contra a política feita pelo governo americano. O estilo do Break Dance se assemelha a artes marciais, como o Kung Fu. Possui movimentos acrobáticos que são parecidos com golpes desse tipo de luta. Os primeiros grupos, ou “crew” como se denominam, do Break surgiram no início dos anos 80, que passaram a ganhar notoriedade mundial através dos filmes “Flashdance” e “Beatstreet” No Brasil, os primeiros B-boys (nome dado aos que praticam o break) surgiram na cidade de São Paulo, em 1982. Os B-Boys eram fáceis de serem identificados: roupas coloridas, óculos escuros, bonés e um rádio para tocar as músicas. Hoje em dia o Break dance já se espalhou pelo mundo e até entrou no mundo das competições. Inúmeros campeonatos regionais, nacionais e mundiais são feitos para escolherem os melhores B-boys e B-girls. 14


Do picho ao grafite Desde o início, a humanidade sempre teve a necessidade de se comunicar e de imprimir suas lembranças e fatos marcantes; sua arte. Na pré-história, por exemplo, os desenhos rupestres em cavernas retratavam imagens que representavam caça, rituais e o cotidiano de quem vivia naquela época O tempo passou e a comunicação evoluiu. Existem relatos e vestígios desse tipo de arte desde o Império Romana. Em Pompéia, foram encontradas inscrições, xingamentos, poesias e até mesmo propaganda política nos muros da cidade. Criticados pela elite romana e vistos como a principal forma de expressão da plebe, os grafites e a pichações eram uma marca das grandes cidades do Império. Originária do Latim, a palavra “grafite” deriva de graphium, um tipo de mineral utilizado para escrever e desenhar nas paredes romanas. No período contemporâneo, as primeiras manifestações dessa forma de arte 15

surgiram em Paris, durante a chamada revolução cultural estudantil, em maio de 1968. A tinta spray foi utilizada pelos jovens para intervir com frases de protestos nos muros das Universidades. Criticavam o Governo, as instituições, a opressão à liberdade de expressão, e, pela primeira vez na história, os órgãos de imprensa atentaram para a linguagem da pichação A revolta de Paris virou notícia, correu o mundo e chegou nos EUA. Por lá, os primeiros indícios de pichação não tinham qualquer fundamentação política. A pichação foi adotada por gangues de rua, como forma de autoafirmação e demarcação de território. Com o tempo, essas “marcas” foram aperfeiçoadas com novas técnicas e desenhos, surgindo assim o termo “grafite” para denominar essa nova parte do movimento do Hip Hop. O grafite, nessa nova vertente, passa a refletir a realidade das ruas.


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A tinta spray foi utilizada pelos jovens para intervir com frases de protestos nos muros das Universidade. Já no Brasil, o grafite surgiu na década de 70, precisamente na cidade de São Paulo, época conturbada, já que a expressão era silenciada pela censura, devido à chegada dos militares no poder. O grafite surge no cenário da metrópole brasileira como uma arte transgressora, a linguagem da rua, da marginalidade, que não pede licença e que grita nas paredes da cidade os incômodos de uma geração. Assim, desde a década de 70 no Brasil, os grafiteiros se apropriaram do espaço público a fim de transmitirem mensagens de cunho político, social, cultural, humanitário e, sobretudo, artístico. O grafite também passa a ser definido como um importante instrumento de protesto e de transgressão dos valores estabelecidos pela sociedade. Ou seja, na década de 70, nasceu no Brasil uma nova forma de ocupação do espaço público e de percepção artística que permanece até hoje. No Brasil, essa arte disseminou-se rapidamente pelo país e, atualmente, segundo estudiosos do tema, o grafite brasileiro é considerado um dos melhores do mundo. Alguns nomes de destaque no cenário nacional e internacional são: Eduardo Kobra, Alex Hornest, Gustavo e Otávio Pandolfo — os gêmeos. 18


Street Dance Festival

1ª Edição

Teatro da Liga 14 à 16 Julho Joinville/SC Ingressos pelo site www.festival.com


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