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HELLY PAMPLONA

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APRESENTAÇÃO

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enho um encanto e um fascínio particular pelo Ver-o-peso. Quando tinha uns 12 a 13 anos, eu e meu irmão Max e o meu Pai vínhamos num batelão do Marajó com o nome de “Anjo da Guarda” e sempre descíamos no Ver-o-Peso. Era fantástico chegar em Belém e ver toda aquela movimentação depois de horas de viagem. Antes o mercado era muito mais rústico, cheio de barracas de lona, canoas a vela atracadas no porto, batelões do Marajó, de Ponta de Pedras, de tudo que é parte do interior chegavam carregados de manga, banana, açaí, jambo, farinha, peixe, galinha, pato, porco, cerâmica, artesanatos de Abaetetuba, uma coisa que me encantava. Era um universo desconhecido para mim quando eu nem sonhava em ser fotógrafo ou ter a pretensão de registrar uma realidade com o olhar focado na cultura ou no patrimônio histórico” comenta o fotógrafo Helly Pamplona. O saudosismo que se aguça na memória, nas lembranças de suas vivências no Marajó fazem Helly procurar em Belém paisagens e lugares que brotam a natureza. Por isso, encontra no Ver o Peso, no Parque do Utinga, no Bosque, no Museu, no Mangal das Garças espaços da memória. “Há uns quinze anos atrás, quando vim pra Belém, de mala e cuia e resolvi assumir a fotografia profissionalmente, surgiu um concurso de fotografia: Um Olhar para Belém, foi que direcionei meu olhar para o Ver-o-peso. O resultado disso, foi que tive duas a três fotos selecionadas para entrar no catálogo. A partir daquele mmomento, dei continuidade aos registros do lugar e fui fazendo amigos por lá, com as erveiras, as boeiras, os pescadores, os barqueiros. Eu me identifico com as pessoas de lá. O Ver-o-peso tem mil faces, eu considero o

maior cartão postal do Pará. Cada dia que vou lá está diferente a luz, a arrumação dos barcos, a maré, o céu. Às vezes está com chuva outras vezes um sol escaldante. O ver o peso é imprevisível, permanente em suas transições de cor e de cenário. De repente o tempo se transforma e propicia fotos maravilhosas, um encanto constante. Eu sei que já fizeram milhares de fotos do lugar mas eu tenho uma coisa comigo que é de fazer uma foto diferente de tudo o que já fizeram e que tenham usado. E quando eu aporto no Ver-o-Peso, onde foi que começou toda a história de Belém, vejo a nossa cultura, uma coisa muito forte, muito rica, fico maravilhado. Quem consome o açaí, o peixe, as frutas, a farinha, e tudo que se vende por lá. Não tem a noção de onde e como vem, de todo o processo da origem ao consumo, da dedicação e do esforço daqueles que vivem, muitos de geração a geração, trabalhando de sol a sol, de chuva a chuva no mercado do Ver-o-Peso”. Helly Pamplona por entre as frestas dos barcos e dos paneiros, entre voos rasantes de urubus e garças, entre o ir e vir das embarcações, banhado pela chuva ou pela luz do crepúsculo, seu olhar fica cheio de uma cidade que não é só sua, mas de uma multidão de feirantes, de fregueses, de barqueiros, de peixeiros e toda uma população invisível e indiferente que não passa despercebida por suas lentes ávidas de um belo registro. Entrar no Ver-o-Peso no cais das embarcações que vem das lIhas, do Guamá, do Salgado, do Tocantins, do Marajó, atracados defronte do Mercado de Ferro, da Praça do Relógio, da Feira do Açaí, estacionadas no porto secular de transações e transições culturais onde os velhos sobrados comerciais se perpetuam atravessando gerações da cidade, davam a Helly Pamplona a CATÁLOGO FOTOGRÁFICO 11


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impressão dos lugares que via nas revistas que colecionava no Marajó. As embarcações construídas em municípios do interior do Pará, Vigia, Igarapé-Miri, Vigia, batizados pelos donos com nomes de santos, com nomes próprios à devoção, à homenagens, estacionam no mesmo lugar onde há quatro séculos atrás, caravelas aportaram e fincaram seus pilares de civilização, de domínio territorial. Ao mesmo tempo que construíram uma fortaleza, e erigiram em seu centro uma pequenina Igreja, lançando assim os humildes cimentos de uma nova cidade, declarando a padroeira Nossa Senhora de Belém. Ao tempo da descoberta e da fundação da cidade de Nossa Senhora de Belém do Grão Pará, era a raça tupi que predominava nessas vastíssimas regiões com o nome de Tupinambá, raça e povo que nos herdaram as características físicas e os elementos da cultura que se perpetuam na tradição do povo paraense, além dos vestígios da língua indígena perpetuados nos nomes de ruas, comidas típicas, animais e lugares de Belém: tacacá, jambú, tucupi, andiroba, copaíba, arara, guará, tamaquaré, mandioca, Guajará, bacuri, açaí bacaba. O que Manoel Bandeira falava no poema “Beleza eterna da paisagem/ Bembelelém! / Viva Belém! (...) Terra da castanha / Terra da borracha /Terra de biribá bacuri sapoti /Terra de fala cheia de nome indígena / Que a gente não sabe se é fruta pé de pau ou Ave de plumagem bonita / Nortista gostosa / Eu te quero bem” Herdamos as tecnologias sociais da feitura da farinha, do tucupi, dos pa12 CATÁLOGO FOTOGRÁFICO


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neiros de talas de miriti, do matapi, do artesanato e do moqueio que faz parte da gênese da gastronomia paraense. “Sou fascinado pelas ervas e cheiros do Ver-o-peso, sou um adepto da medicina natural e há muitos anos vou comprar medicamentos lá, a casca da socuba, o leite da socuba, a andiroba e copaíba, o amor crescido para fazer chá, um excelente antiflamatório e para dor de estomago, o banho de cheiro para atrair sorte. Tem o Jucá que é um cicatrizante, o barbatimão que vem sendo pesquisado pelo Butantã para ser usado contra mordida de serpente. No Ver-o-peso tem um universo medicinal que já ajudou muita gente a combater o câncer e outras doenças, merece inclusive ser mais incentivado as pesquisas das ervas e ser reconhecido o conhecimento popular tradicional das Erveiras. Tenho certeza que num futuro bem próximo vamos ter esse reconhecimento dessa medicina caseira” afirma o fotógrafo. As fotografias de Helly tem um caráter singular por essa relação íntima que vem cultivando por anos e por essa relação que se identifica com suas crenças e seus costumes marajoaras. Ao longo de sua temporada em Belém registra as multifaces do Ver-o-Peso através dessa relação próxima de vivência e convivência, particular e histórica do ambiente fotografado e do ato fotográfico. Através das lentes consegue enxergar o que um cidadão que passa diariamente por aquele

espaço da cidade não se apercebe da dimensão econômica, social, cultural, natural e artística que o lugar abriga. O importante é sentir-se parte daquele universo, ver de dentro pra fora e dar visibilidade ao que é invisível aos olhos comuns, registrar o contato que está todo voltado para o que se vê, cheira, come, sente, numa relação do fotógrafo com a paisagem e com tudo que envolve essa paisagem. O fotógrafo, sem anunciar-se, fecha o ângulo e mira sua lente, que mantinha à distância. Aproxima-se o zoom, adentra-se, sem a permissão de eternizar pequenos instantes em grandes imagens. De barco, caminhando, flutuando pelas águas barrentas do Guajará, espreitando a movimentação desse universo sem ser percebido reveste-se da atmosfera do lugar. As fotografias do Helly tem essa particularidade, o foco direcionado para as belezas naturais e para o povo paraense, principalmente os ribeirinhos. A fotografia não registra a algaravia da feira, os burburinhos, os tecnomelodis, os bregas e guitarradas, o ruído dos pôpôpôs dos motores, dos ônibus, do rádio cipó, oculta os odores e as dores do lugar, as insanidades, a prostituição, os pequenos crimes, as vozes do Ver-o-Peso no íntimo rumor de suas emoções, a cidade vem e vai, o mercado vai e vem, maré delirante de imagens e como num rio de Heráclito flutuando num mar invisível, CATÁLOGO FOTOGRÁFICO 13


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HELLY PAMPLONA toda vez que retorna no veropa o rio não é o mesmo, a luz, a chuva, o calor, o lugar não são mais o mesmos, nem ele é mais o mesmo, um outro. Helly compara-se a um turista aprendiz, de um olhar estrangeiro que se encanta e se apaixona e se deixa arrastar pela intuição através daquele labirinto histórico cultural. Helly compara-se a um turista aprendiz, de um olhar estrangeiro que se encanta e se apaixona e se deixa arrastar pela intuição através daquele labirinto histórico cultural. Agora, homem da cidade, afirma-se no cenário de grandes fotógrafos pelo seu modo de fotografar. O olhar é outro.

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HELLY PAMPLONA Bembelelém! Viva Belém! Belém do Pará porto moderno integrado na equatorial Beleza eterna da paisagem Bembelelém! Viva Belém! (...) Terra da castanha Terra da borracha Terra de biribá bacuri sapoti Terra de fala cheia de nome indígena Que a gente não sabe se é fruta pé de pau ou Ave de plumagem bonita Nortista gostosa Eu te quero bem Me obrigarás a novas saudades Nunca mais me esquecerei do teu Largo da Sé Com fé maciça das duas igrejas maravilhosas barrocas O renque ajoelhado de sobradinhos coloniais tão bonitinhos Nunca mais me esquecerei das velas encarnadas Verdes Azuis Da doca de Ver-o-Peso Nunca mais E foi pra me consolar mais tarde Que inventei esta cantiga: Bembelelém! Viva Belém! Nortista gostosa Eu te quero bem. Manoel Bandeira, 1928.

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