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ANTONIO MACBEL O POETA CAMETAENSE

NOVA SEDE DO SENAI DE CAMETÁ

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cametá celeiro histórico artístico cultural

TEATRO

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FOTOGRAFIA

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MÚSICA

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CINEMA

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DOCUMENTÁRIOS

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1 ECONOMIA lwww.revistapzz.com.br ARTES VISUAIS


ANUNCIO GOV ESTADO

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ANUNCIO GOV ESTADO

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HISTÓRIA

04

A História de Cametá por Elis Miranda

MUNDO SENAI

12

Ampliação e Revitallização do Centro Integrado de Educação Profissional SENAI/CAMETÁ

ENTREVISTA

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Entrevista com Gerson Peres

LITERATURA A Poesia de Alberto Mocbel

PATRIMÔNIO MATERIAL

ITI N ER Á RIO

Catedral de São João Batista

22 30

Cemitério da Soledade Museu de Cametá

ARTES VISUAIS Cólera Morbus por Renata Maués Andrelino Cotta; o Pintor

DOCUMENTÁRIO

40 36 108

Mapa Pictográfico da Cultura Ribeirinha por Viviane Menna

CINEMA O Cinema Cametanse por Vicente Caldas

ENSAIO FOTOGRÁFICO

50 82

Cametá Além do Olhar por Vicente Caldas

FOTOPOESIA

90

Cametá Além do Olhar por Vicente Caldas

EDUCAÇÃO IMATERIAL PATRIMÔNIO Samba de Cacete Bambaê do Rosário

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DOCUMENTÁRIO

52

TURISMO

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ESPECIAL

62

GASTRONOMIA

77

TEATRO

96

ENSAIO

100

MÚSICA

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CARNAVAL

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Edição 21 | 2015

Diretoria Executiva Carlos Pará e Fábio Santos Editor Responsável Carlos Pará 2165 - DRT/PA Diagramação Carlos Pará Fotógrafias Adriana Lima Roberta Brandão Vicente Caldas Laércio Produção Executiva Carlos Pará Webdesigner Andrey dos Anjos Revisão Final: Elias Teles Impressão: Gráfica Sagrada Família Distribuição Belém, Pará, Brasil Assessoria Jurídica: Alfredo Nazareth Melo Santana 11341 - OAB-PA Contatos (91) 98335-0000 email revistapzz@gmail.com Twitter @revistapzz Facebook https://www.facebook/revistapzz

cartas A Revista PZZ é uma publicação bimensal da Editora Resistência Ltda - Av. Magalhães Barata, 391, Belém, Pará, Amazônia, Brasil Cep 66093-400 Cnpj : 10.243.776/0001-96 Issn: 2176-8528 site: revistapzz.com.br Parceiros

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HISTÓRIA

Elis Miranda

CAMETÁ A historiadorA ELIS MIRANDA analisa as marcas da presença portuguesa na paisagem da cidade de Cametá, localizada às margens do rio Tocantins, no estado do Pará, na Amazônia brasileira. O primeiro plano urbanístico proposto para a cidade foi parte integrante do projeto do Marquês de Pombal (1750-1777) em integrar a Amazônia ao território português e dar às cidades da Amazônia feições lusas.

C

ametá foi fundada em 1637, em posição estratégica, na margem esquerda do rio Tocantins. A partir do seu porto poderia se fazer o controle das embarcações que circulavam por uma possível ligação entre as áreas das minas de ouro das terras de Goiás e a foz rio do Amazonas, bem como exercia papel importante no comércio das drogas-do-sertão. E juntamente Belém (1616), Gurupá (1939) e Bragança (1624) realizava o controle de circulação das vias fluviais, e assim, protegia as terras do vale amazônico da entrada de embarcações de nações inimigas de Portugal. O projeto do Marquês de Pombal objetivava, principalmente, consolidar o vale amazônico como território luso e para isso, não bastava assegurar o domínio territorial da mesma forma que vinha sendo feito há mais de um século. Assim, o projeto de Pombal previu a fundação de novas vilas e cidades em todo o vale do rio Amazonas, em substituição às missões religiosas dos Jesuítas, a nominação dessas novas cidades com topônimos portugueses e a construção do plano urbanístico aos moldes das cidades portuguesas, dando uma feição lusa no vale amazônico, impondo, dessa maneira, a cultura lusa em todo o vale amazônico. A origem da cidade e a construção da 6 www.revistapzz.com.br

paisagem A cidade de Cametá tem sua origem na aldeia indígena Caamutá-Tapera, dos índios Camutá. Fundada inicialmente como Vila Viçosa de Santa Cruz de Camutá, esta vila foi fundada no contexto de ocupação de pontos estratégicos do território ama-

A cidade de Cametá tem sua origem na aldeia indígena Caamutá-Tapera, dos índios Camutá. Fundada inicialmente como Vila Viçosa de Santa Cruz de Camutá, esta vila foi fundada no contexto de ocupação de pontos estratégicos do território amazônico, que se deu a partir da expulsão dos franceses que haviam fundado a cidade de São Luís, no Maranhão em 1612. zônico, que se deu a partir da expulsão dos franceses que haviam fundado a cidade de São Luís, no Maranhão em 1612. Com o interesse português renovado, a coroa portuguesa autorizou a fundação de vilas e cidades onde quer que fosse necessário para assegurar a controle da circulação no vasto território desconhecido. A Vila Vi-

çosa não passava de um aldeamento indígena até a intervenção urbanística portuguesa idealizada pelo Marquês de Pombal (1750-1777). A partir da intervenção pombalina a Vila teve sua paisagem transformada. Passou a ter traçado urbano, com ruas e praças bem delimitadas, prédios públicos projetados para abrigar os poderes locais, como a Igreja, a Câmara e o presídio, mas foram nas residências particulares e casas de comércio que as referências da cultura portuguesa se manifestaram mais ativamente. As intervenções do Marquês de Pombal se deram em todo o território português, incluindo aí todas as suas colônias. Sendo o Brasil a principal colônia de Portugal teve seu espaço profundamente marcado pelas ações pombalinas que estavam baseadas em três objetivos gerais: 1º) submeter a alta nobreza ao controle da Coroa; 2º) fortalecer a qualquer custo os grandes comerciantes portugueses e 3º) evitar a interferência da Igreja nas decisões da monarquia. Todas as ações executadas em Portugal e nas colônias tomaram como base esses objetivos. Pombal idealizou e fez executar a nova forma de administração para as colônias de Portugal. A intervenção pombalina previa a ocupação do território, o controle da circulação de embarca-


ções não portuguesas, a fundação de vilas e cidades e a execução de um projeto urbanístico que provocou alterações na paisagem das vilas e cidades das colônias. Mas foi na Amazônia que as marcas do período pombalino se constituíram de forma mais expressiva, que possibilitou a execução do projeto na sua forma mais original possível. Segundo Lia Machado: (...) a denominada ‘política pombalina’ supôs uma certa modernização dos princípios de governo e principalmente, no que se refere ao Estado colonial, uma sistematização da política territorial. A execução do Tratado de limites (1750), o estabelecimento da Companhia Geral do Comércio do Grão Pará (1755), a declaração da liberdade dos indígenas da América portuguesa (1758), a expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses (1759), são as decisões políticas com maior impacto na bacia Amazónica . O Tratado assinado em 1550 foi o Tratado de Madri, onde era reconhecido o domínio de Portugal sobre as terras situadas a oeste do Tratado de Tordesilhas. E o estabelecimento da Companhia Geral do Comércio do Grão Pará (17551775) assegurou aos comerciantes portugueses estabelecidos na Amazônia o monopólio do comércio das drogas do sertão, em substituição aos Jesuítas que

até então controlavam este comércio; a declaração da liberdade dos indígenas da América portuguesa (1758) objetivava desarticular as missões religiosas que utilizavam a mão de obra indígena para a coleta das drogas do sertão, e o golpe final foi a expulsão dos Jesuítas dos domínios portugueses (1759), já que estes religiosos alcançaram um poder, econômico

A intervenção pombalina previa a ocupação do território, o controle da circulação de embarcações não portuguesas, a fundação de vilas e cidades e a execução de um projeto urbanístico que provocou alterações na paisagem das vilas e cidades das colônias. e simbólico, muito maior que a própria coroa portuguesa teria alcançado até aquele momento). As medidas adotadas por Pombal estavam relacionadas à configuração territorial, mas a construção de uma paisagem lusa na Amazônia não foi negligenciada pelo Primeiro Ministro português. Para nós, fica a nítida impressão de que se entendia, ainda no século XVIII, que as referências culturais lusas,

PAISAGEM TRANSFORMADA A partir da intervenção pombalina a Vila teve sua paisagem transformada. Passou a ter traçado urbano, com ruas e praças bem delimitadas, prédios públicos projetados para abrigar os poderes locais, como a Igreja, a Câmara e o presídio, mas foram nas residências particulares e casas de comércio que as referências da cultura portuguesa se manifestaram mais ativamente. impressas na paisagem, afastariam qualquer tentativa de invasão estrangeira na América portuguesa. Segundo Renata Araújo, (...) Pombal, de facto, personaliza o seu Governo, e neste sentido cabe a noção da existência de um conceito de ‘pombalismo’ (...) Portanto, o que quer que signifique, o pombalismo tem tanto a ver com Pombal como com o tempo de Pombal e as circunstâncias em que atua (...) Até Pombal a ocupação da Amazônia restringia-se a foz do rio Amazonas e mais quatro pontos isolados do território: Belém, Bragança, Cametá e Gurupá, que controlavam os principais pontos na foz do rio Amazonas. Após a intervenção www.revistapzz.com.br 7


HISTÓRIA

pombalina o que se viu foi a formação do pombalismo resultaram em uma paisaembrião de uma rede de cidades articu- gem heterogenética, definida por Corrêa ladas pelos principais rios da região e o 22 como aquela [paisagem] criada por início da penetração do colonizador no um grupo cultural externo àquele da área interior do território amazônico. Para onde a cidade foi implantada: a cidade pôr em prática seu projeto intervencio- colonial é um exemplo. De acordo com nista na Amazônia, Pombal nomeou, as idéias de Corrêa, considero Cametá para a província do Grão-Pará, ainda em como um exemplo desta modalidade de 1751, seu irmão Francisco Xavier de Men- paisagem, pois, a cidade fora construída donça Furtado ao governo e comissário a partir de uma planta padrão, em um das demarcações do norte. sítio com características geomorfológiÉ possível que Cametá tenha sido cas bastante específicas, e, por fim, com classificada como cidade de médio por- a presença de um grupo social que não te em virtude da sua posição de cidade era luso e que portanto, era apenas uma portuária de grande importância para a questão de tempo que as marcas cultueconomia regional, pois era de Cametá rais e ideológicas dessa sociedade se enque partiam os barcos com o cacau e a trelaçassem às marcas lusas impressas borracha, dois dos principais produtos pelos executores do projeto pombalino. exportados para a Europa. Além de en- Assim, as paisagens lusas implantadas contrar-se situada em posição estratégi- na Amazônia, aquelas construídas pelo ca no curso do rio Tocantins. O Marquês Marquês de Pombal, passaram, com o de Pombal não se limitou em multiplicar tempo, a se constituir como uma paisao número de vilas e cidades, e nem de gem luso-amazônica. Mas o que pode apenas construir um plano urbanístico, significar uma paisagem luso-amazônica mas baseava-se principalmente na no- em Cametá? Este é um debate que deve ção da cidade civilise realizar a partir zada e para isso imrelações ideoÉ possível que Cametá tenha sido das plementou um lógicas e culturais. projeto de reforma classificada como cidade de médio Pensar que paisaurbana dando uma porte em virtude da sua posição gem é tudo aquilo feição mais nacioque se vê e é resultade cidade portuária de grande nalista a estes ludo da relação entre importância para a economia gares. Para isso, as a natureza e a socieações implantadas regional, pois era de Cametá que dade, mas é também foram desde a elalugar das marcas partiam os barcos com o cacau oideológicas boração de plantas e cultue a borracha, dois dos principais rais das sociedades, das cidades, projetos arquitetônicos produtos exportados para a Europa. que se modificam dos principais préao longo do temdios públicos, igrepo. A paisagem, é, jas, fortificações, praças, monumentos, portanto, dinâmica. Acumula marcas de arruamentos e topônimos das vilas e diferentes períodos da história, acumula cidades com nomes iguais a cidades de marcas dos grupos sociais – como nomes Portugal; também fixou populações nas das ruas, bustos e estátuas de membros colônias e criou legislação protegendo do poder local e/ou nacional. Assim, um os casamentos de portugueses com as objeto que no presente tem um significaíndias . Em sua tese sobre as Cidades da do, com o passar do tempo pode passar a Amazônia no século XVIII, Renata Araújo ter outro significado, ou pode acontecer apresenta as vilas coloniais que sofreram o pior, que gerações mais jovens possam interferências do pombalismo, e mostra ignorar a história da cidade a ponto de que a igreja Matriz de Camutá foi Landi não reconhecer a relevância histórica quem fez o seu desenho em 1758. Antô- dos objetos impressos na paisagem. A nio Landi é considerado o arquiteto da paisagem lusa construída em Cametá Amazônia por ter sido responsável pe- no século XVIII, com o tempo assumiu as los projetos e construções dos principais feições dos grupos sociais ali existentes: prédios públicos e religiosos da cidade de o comerciante português; os negros afriBelém. As intervenções urbanísticas do canos escravizados e os grupos indígenas 8 www.revistapzz.com.br

IGREJA MATRIZ DE CAMUTÁ A igreja Matriz de Camutá foi Landi quem fez o seu desenho em 1758. Antônio Landi é considerado o arquiteto da Amazônia por ter sido responsável pelos projetos e construções dos principais prédios públicos e religiosos da cidade de Belém. estão representados, de alguma forma, na paisagem. Mesmo que ainda sejam as referências portuguesas aquelas de maior destaque. Considerando que, mesmo as relações matrimoniais entre portugueses e índias, ou entre portugueses e negras tenham se processado com um certo êxito, os grupos sociais da cidade de Cametá diferenciavam-se, principalmente, a partir das relações de produção: comerciantes urbanos, membros da classe política local, religiosos, coletores de cacau, pequenos proprietários de terras cacaueiras, que não se diferenciavam apenas pelas suas origens éticas, mas principalmente, diferenciavam-se pelas posições que ocupavam nos campos econômico e religioso deu origem a uma cidade com fisionomia lusa, mas com fortes referências negras e indígenas, definida aqui como paisagem luso-amazônica. Considero, dessa maneira, que a paisagem que foi construída em Cametá deva ser analisada como uma possibilidade de representação social lusa, e


como tal não condizia com a realidade social do lugar. Se intentou construir uma paisagem européia sem que existisse uma sociedade européia na Amazônia do século XVIII. Assim, concordamos com Corrêa com a denominação de paisagem heterogenética ao se referir às paisagens elaboradas a partir do intervencionismo pombalino, sem deixar de considerar que aquela paisagem da cidade elaborada por Pombal teve que se estabelecer em um meio natural definido daquele período como o mundo tropical e por uma sociedade que não era européia e que as relações sociais não obedeciam os códigos sociais europeus. Assim, pensar em paisagem é, necessariamente, pensar em grupos sociais que vivem no lugar, caso contrário, corre-se o risco de criar cenários desconectados das relações sociais. Importa ressaltar que a posição de Cametá no contexto amazônico não permitiu que a intervenção urbanística fosse mais incisiva, ficando restrita a construção da igreja de São João Batista (1758) e no traçado da cidade, com suas duas praças: uma da igreja matriz e a outra, mais no interior, de onde se vê a cadeia pública (hoje o prédio da prefeitura). A intervenção urbanística portuguesa cuidou de imprimir na paisagem símbolos e ritos comumente utilizados na construção das cidades de Portugal, e a praça exerce um papel simbólico importante

na cidade, além de ser uma das marcas da intervenção urbanística pombalina. Para Araújo : O processo compositivo da forma urbana é o primeiro e mais significativo dado da identificação simbólica ritualística. A praça, usada como matriz geradora do desenho e identificada com o centro da cidade, estabelece uma referência simbólica inequívoca, de contornos arquétipicos, de

Considero, dessa maneira, que a paisagem que foi construída em Cametá deva ser analisada como uma possibilidade de representação social lusa, e como tal não condizia com a realidade social do lugar. Se intentou construir uma paisagem européia sem que existisse uma sociedade européia na Amazônia do século XVIII. identificação do “centro do mundo” (...) balizando com os atributos do poder, a carga simbólica do espaço central. Os contornos da praça marcados pelos edifícios mais representativos (a igreja, a câmara, a cadeia e o palácio dos governadores), assumem o papel de envolventes do símbolo que o espaço-praça significa, e ao mesmo tempo incorporam eles próprios o refe-

rencial simbólico das instituições que representam (a religião e o Estado). Em Cametá também foram construídos duas praças com seus prédios representativos e arruamento padronizado, o que, de acordo com as palavras de Araújo, a presença das praças é um forte indício da intervenção urbanística pombalina. Mas, porque em Cametá foram construídos os símbolos mais significativos do poder do Estado e da Igreja? Por que, sem dúvida alguma esta era uma vila colonial com importante papel na consolidação territorial e mais, fazia parte dos lugares importantes para se constituir uma mentalidade lusa nas colônias, pois para Pombal, mais que ocupação territorial, o que consolidaria os territórios coloniais como territórios lusos era a constituição de ideais portugueses, e a construção da paisagem lusa criaria o sentido de pertencimento. Para criar este sentido de pertencimento foram construídos prédios com elementos da arquitetura portuguesa, foi implantado traçado urbano aos moldes das cidades lusas – obedecendo a quadrícula, as igrejas que foram levantadas possuíam elementos da cultura portuguesa (azulejos, pisos, imagens de santos, afresco no teto da igreja). Com isso, Pombal pretendia, além de criar o sentido de pertencimento à Portugal, nos moradores da www.revistapzz.com.br 9


HISTÓRIA

cidade, também pretendia imprimir nas cidades amazônicas a marca da dominação portuguesa e mostrar para o resto do mundo que o domínio português havia se consolidado em todo o território do Brasil, não negligenciando das vilas do interior, a exemplo do Vila Rica, Cametá e Mazagão. De acordo com os teóricos da Geografia Cultural citados ao longo texto, é possível, na paisagem de uma cidade, encontrar representações que marcam diferentes temporalidades. E, a exemplo do que afirmou as permanências [existentes na paisagem] são muito mais resultado de um longo período de decadência econômica e abandono, que exatamente de um trabalho de preservação ou de restauro de seu patrimônio arquitetônico. E no caso de Cametá, a cidade perdeu as suas principais referências arquitetônicas, que constam de duas versões não documentadas. Na primeira versão, mais comumente tratada, a cidade teria perdido estas duas ruas pelo desmoronamento causado pelo processo erosivo e por falta de manutenção do muro de arrimo; a segunda versão, relatada pelo senhor Alberto Mocbel, diz que a primeira fachada da cidade teria sofrido uma intervenção urbanística na década de 30. Para qualquer uma das versões, a idéia de Abreu se aplica a Cametá, que a cidade ainda guarda as referências histórias, muito mais pela decadência econômica e portanto, pela 10 www.revistapzz.com.br

impossibilidade de modernização urbanística, que por preservação de patrimônio histórico. Pensamos na paisagem de Cametá a partir da idéia de representação, como uma das formas de exercício de poder dos grupos sociais e /ou formas

Em Cametá foram construídos os símbolos mais significativos do poder do Estado e da Igreja. Cametá era uma vila colonial com importante papel na consolidação territorial e fazia parte dos lugares importantes para se constituir uma mentalidade lusa nas colônias, pois para Pombal, mais que ocupação territorial, o que consolidaria os territórios coloniais como territórios lusos era a constituição de ideais portugueses, e a construção da paisagem lusa criaria o sentido de pertencimento. de controle e dominação social, que deixam suas marcas na paisagem, que é ao mesmo tempo, referências do presente, mas remetenos para tempos passados

Segundo Corrêa (manuscritos), (...) a paisagem tem ocorrência espacial, com limites mais ou menos definidos, constituindo um padrão de ocorrência comum. Finalmente a paisagem é fruto da história, da ação humana sobre a paisagem natural, transformando-a em paisagem cultural; onde sua dinâmica e fisionomia são derivadas da ação humana. Paisagem é também campo de ‘leitura’ sobre a sociedade. É esta a abordagem que me interessa: a paisagem como fruto da história, da ação humana, reconhecida como a paisagem cultural, e cultura entendida como elaboração social. Portanto, como uma das formas de expressão de poder sobre o espaço, não apenas como expressão das referências culturais porque as marcas na paisagem são possibilidades de leitura do controle social sobre o espaço da cidade. E é assim que lemos a paisagem, como a inscrição da dominação do espaço por grupos sociais, que deixam na paisagem referências simbólicas, culturais e ideológicas.


FOTOs: adriana lima

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HISTĂ“RIA

Alba Maria

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FOTOs: adriana lima e vicente caldas

Em Cametá foram construídos os símbolos mais significativos do poder do Estado e da Igreja. Cametá era uma vila colonial com importante papel na consolidação territorial e fazia parte dos lugares importantes para se constituir uma mentalidade lusa nas colônias, pois para Pombal, mais que ocupação territorial, o que consolidaria os territórios coloniais como territórios lusos era a constituição de ideais portugueses, e a construção da paisagem lusa criaria o sentido de pertencimento.

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PATRIMÔNIO MATERIAL

CATEDRAL DE SÃO JOÃO BATISTA

A

Catedral de São Joao Batista, o Santo Padroeiro dos cametaenses, erigida em 1757, completa 250 anos de fundação. A beleza de seu conjunto arquitetônico - a desafiar o tempo - confunde-se com o ar de espiritualidade que emana de sua nave e de seus altares. Essa auspiciosa marca histórica nos leva, por um dever de respeito e reconhecimento, aos padres Jesuítas e Lazaristas, os quais no mister de suas atribuições, emprestaram seu sacrifício e suas vidas, no sentido de disseminarem a palavra de Deus em toda a Região Tocantina. Foram homens destemidos, cuja predestinada formação crista os levaram a prescindirem das benesses oferecidas pelo Velho Mundo para embrenharem-se nas matas e igarapés inóspitos e temerários, no fiel cumprimento de sua missão. Seus nomes precisam ser perpetuados nos anais de nossa história, eis que foram exemplos dignificantes de renúncia e de fé. Áureos tempos vivenciou a nossa querida Catedral. Como poderemos esquecer o famoso Coro Lira Angélica, formado por uma equipe de senhoras e jovens, entoando com maestria hinos religiosos no decorrer das celebrações. Os registros de meus tempos de criança me trazem ao pensamento os dois púlpitos localizados nas laterais da nave, os quais foram testemunhas mudas da passagem por Cametá de famosos e renomados oradores sacros que marcaram época em nossa terra. Nesses duzentos e cinquenta anos, nos, os cametaenses, através de algumas gerações, vivemos sob as bênçãos de Deus e de São Joao Batista Alias, os festejos em homenagem ao santo padroeiro constitui um marco folclórico-religioso que atrai turistas de todo o Brasil. Hoje a Catedral está entregue a uma nova geração de sacerdotes, os quais juntamente com Dom Jesus Maria, Bispo da Prelazia e um grupo de religiosos cumprem a missão de gerir seus destinos com o mesmo esforço e dedicação, no sentido da preservação desse valioso patrimônio, orgulho de Cametá e do povo cristão cametaense.

Alberto Mocbel 14 www.revistapzz.com.br


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PATRIMテ年IO MATERIAL

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Capa do livro LUZES DA INSPIRAÇÃO de Alberto Mocbel. Obra publicado em 2009. Coletânea de poemas organizada pelo próprio autor em Cametá-Pará-Amazônia.

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PATRIMÔNIO MATERIAL

CEMITÉRIO SOLEDADE Localizado no centro de Cametá, é um cemiterio histórico e datado de 1800. Ainda preserva sepulturas de figuras históricas de Cametá e do Estado. E além disso, encontrase um cemitério Israelita dentro de seu terreno.

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FOTOs: VICENTE caldas

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PATRIMÔNIO MATERIAL

museu histórico de cametá Apesar de a cidade de Cametá ter sido declarada Patrimônio Histórico Nacional, poucos são os benefícios advindos disso que possam fomentar a atividade econômica do turismo. Não é visível a preservação dos prédios públicos e, particularmente, dos de real valor histórico no município. Alguns documentos históricos estão no Museu de Cametá, embora sem catalogação. Parte do casario antigo da Primeira Rua foi demolido ou assolado pela erosão do rio, que já desgastou muito a orla da cidade. Ainda há a destacar os prédios antigos, como as igrejas de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, da Aldeia, da Matriz, o Grupo Escolar Dom Romualdo de Seixas e a Prefeitura. Esses prédios integram um roteiro turístico chamado de Museu Contextual, organizado pela Secretaria de Cultura. O artista Constantino Pedro Chaves da Motta, que participou do cenário artístico no século XIX, é pouco conhecido e sua produção se perdeu quase que completamente, restando no Pará, apenas para apreciação do público, raras obras como a pintura Cólera Morbus. No esboço biográfico sobre o artista, encontra-se a ilustração do monarca Pedro II com a seguinte legenda: “Reprodução fotográfica da tela de Constantino Pedro Chaves da Motta, fixando o imperador D. Pedro II, hoje propriedade do Conselho Estadual de Cultura. Foi encomendada para compor os salões da Assembleia Provincial. A tela encomendada para servir de prova de ofício, retrata a comitiva do Vice-presidente da Província Ângelo Custódio Corrêa à cidade de Cametá, prestando solidariedade a comunidade assolada pela cólera é a obra mais valiosa do Museu de Cametá

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MUNDO SENAI

Carlos Pará

SENAI CAMETÁ CAMETÁ COMEMORA A AMPLIAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL SENAI/CAMETÁ QUE HÁ 33 ANOS JÁ CaPACITOU MAIS DE 10 MIL PESSOAS PARA O MERCADO DE TRABALHO, E MAIS UMA VEZ SE REINVENTA E TRAZ A POPULAÇÃO UMA ESCOLA ESTRUTURADA, MODERNIZADA, COM A CAPACIDADE AMPLIADA DE MATRÍCULAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS, PARA EXPANDIR AINDA MAIS SUA ATUAÇÃO EM ÁREAS ESTRATÉGICAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

O

SENAI Cametá passou a fazer surgimento, a instituição se tornou um ponto parte da rica história de Came- exponencial na educação profissional, sendo tá em 28 de outubro de 1982 fundamental na mudança de vida dos jovens na gestão de Gabriel Hermes, e contribuindo com o desenvolvimento de Capresidente da FIEPA na época. metá e de toda a região. Estavam presentes na inauguração o então E hoje trinta e quatro anos depois, o Sistepresidente da República, João Batista Figuei- ma FIEPA entrega uma escola ainda mais moredo, Alberto Mocbel, prefeito de Cametá; derna e de acordo com a realidade da indústria Jarbas Passarinho, Senador; Oziel Carneiro, contemporânea. Juntando-se a arquitetura hisDiretor do Banco do tórica da cidade, está Brasil; e o diretor Regioestrutura O Sistema FIEPA trazia ao município adomoderna nal do SENAI, o ilustre SENAI. Instalado uma instituição que contribuía cametaense Gerson Pebem no centro urbares. Esse evento foi um decisivamente na vida de muitos no, a escola foi projeacontecimento marcantada pelo engenheiro jovens, através da qualificação te na época, mobilizanJose Maria Cabral, do toda a cidade para o profissional, capacitando em diversas que trouxe uma aracontecimento. quitetura circular a faáreas técnicas. Cada um desses O Sistema FIEPA trazia chada da escola, algo talentos formados pelo SENAI ao município uma insinovador para a constituição que contribuía contribuem para o desenvolvimento trução civil da época. decisivamente na vida Desde a sua inaunão só de Cametá, mas de todo o de muitos jovens, atraguração, o Centro de Baixo Tocantins. vés da qualificação proIntegração Ensino fissional, capacitando Profissionalizante, em diversas áreas técnicas. Cada um desses o SENAI de Cametá, já certificou 10.340 protalentos formados pelo SENAI contribuem fissionais para o mundo do trabalho. Em 2014 para o desenvolvimento não só de Cametá, foram 1.166 certificações e neste ano, até outumas de todo o Baixo Tocantins. O SENAI é bro, já foram imitidos 1251 certificados. uma espécie de pioneiro. Hoje Cametá tem Para o atual presidente do Sistema da FeUFPA, UEPA e IFPA, mas o SENAI se cons- deração das Indústrias do Pará – Fiepa, José tituiu como parte da família cametaense, é Conrado Santos que inaugura as obras de reum patrimônio vivo da história. Desde seu vitalização do Centro Integrado de Educação

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Profissional SENAI Cametá diz que: “É uma grande satisfação para o Sistema FIEPA entregar a unidade do SENAI Cametá renovada e ampliada. Esse evento de hoje faz parte da programação da diretoria da FIEPA, envolvendo o SESI, o SENAI e o IEL, em revitalizar todas as Escolas do nosso Sistema. Com a Escola que estamos entregando à Comunidade de Cametá, praticamente toda revitalizada, triplicada para formar novos profissionais e empreendedores. Desde quando fui eleito presidente do Conselho deliberativo do SEBRAE no Pará onde passei por 04 anos, passei a fazer essa conexão entre formação técnica e empreendedorismo. Muitos dos alunos que saiam dos cursos do SENAI não sabiam fazer orçamento, planejamento organizacional e o conceito de empreender. Então essa ponte entre o SENAI e o SEBRAE propiciou isso também. O aluno quando sai hoje do SENAI procuramos dar uma carga horária de 20 horas de empreendedorismo para ele. Para que inclusive o estimule a ter seu próprio negócio. Pois nós não garantimos que saia do SENAI e consiga de imediato uma vaga na indústria. Mas eles podem montar sua própria empresa. Vamos ver como o SEBRAE pode atuar dessa forma em Cametá. Fico extremamente motivado em saber que a gestão do prefeito municipal está alinhada com as nossas políticas e diretrizes. Outra aproximação importante


SENAI CAMETÁ Unidade do SENAI Cametá renovada e ampliada para formar novos profissionais e empreendedores. .

que realizamos agora foi a do Poder Municipal com a Escola do SENAI, empenhados em formar não só profissionais, mas cidadãos que possam contribuir com o município. E o mais importante é formar profissionais que possam se estabelecer no município e contribuir com a economia e com o progresso da cidade de Cametá. A prefeitura não mediu esforços junto com a Câmara Municipal em doar esse terreno que é uma área excelente onde nós vamos construir um novo auditório com capacidade para 250 pessoas em terreno de mais de 2 mil metros quadrados doado pela Prefeitura Municipal, anexo à escola que será, junto ao Sistema FIEPA, um local de desenvolvimento sustentável de Cametá. O objetivo é que o local também sirva de indutor para novos negócios, palestras e conferências, levando ao município, um centro de reunião de excelência. E ao lado desse empreendimento vamos iniciar o projeto de Boulevart das Artes, um centro de Economia Criativa que favorece a produção e a comercialização de trabalhos feitos por artistas, artesãos, músicos, escritores, estilistas, e outros, contribuindo desta forma para o desenvolvimento da economia e do turismo. O Centro Integrado de Educação Profissional do SENAI Cametá mais uma vez se reinventa e traz a população uma escola estruturada e ainda mais moderna. Após dois anos de trabalho em obras de ampliação e revitalização, a unidade ampliara sua capacida-

de de matricula para os próximos anos, além de expandir ainda mais sua atuação em áreas estratégicas de educação profissional. Com os investimentos, em torno de 5 milhões, o SENAI Cametá otimizará seu atendimento. A partir das melhorias, a escola terá sua capacidade instalada triplicada, representando aumento de 500 alunos/ano matriculados. No espaço, foram construídas novas

Os investimentos também incluem a aquisição de novos equipamentos, modernizando os laboratórios de acordo com os avanços tecnológicos da indústria e, assim, potencializando o fomento da atividade industrial em Cametá e municípios vizinhos. salas de aulas e acrescentados cinco laboratórios para atender as áreas de alimentos, vestuário, eletrônica, eletricidade, construção civil, veículos automotores, automação, metalomecânica e informática. Os investimentos também incluem a aquisição de novos equipamentos, modernizando os laboratórios de acordo com os avanços tecnológicos da indústria e, assim, potencializando o fomento da atividade industrial em Cametá e municípios vizinhos. Serão mais de 30 cursos ofertados, em diversas áreas, nas

modalidades de Aprendizagem, Qualificação Industrial, Iniciação e Aperfeiçoamento Profissional e Habilitação Técnica. Presente em Cametá desde 1982, o SENAI já capacitou quase 10 mil pessoas para o mercado de trabalho. A formação da mão de obra local também funciona como incentivo para que mais industrias se instalem na região, melhorando a situação econômica dos municípios atendidos. Por isso, tenho grande satisfação em anunciar a entrega das obras de revitalização do Centro Integrado de Educação Profissional do SENAI em Cametá. A modernização da unidade certamente fará com que o SENAI Cametá continue firme em sua missão de aumentar a competitividade das indústrias e levar o desenvolvimento por meio da capacitação profissional. Com as mudanças, o SENAI Cametá se atualiza profissional e tecnologicamente, criando um ambiente favorável para os empreendimentos que queiram se instalar no município. “Com a educação profissional, ganha quem se qualifica é também todo o estado, já que você melhora a competitividade, organiza melhor o mercado de trabalho e amplia a possibilidade da mobilidade social, como acontece nos países desenvolvidos. Com esses investimentos queremos expandir a capacitação de pessoas e potencializar a atividade industrial em Cametá e nos municípios vizinhos”, destaca o Diretor Regional do SENAI, Gerson Peres.

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MUNDO SENAI Segundo o Diretor de Gestão do SENAI Pará, Dario Lemos, “É muito gratificante concluirmos o processo de revitalização dessa Unidade do SENAI que durou pouco mais dois anos com essa empreitada de reforma e ampliação dessa escola que hoje estamos entregando a população de Cametá. Não podemos deixar de honrar a equipe que viabilizou esse trabalho, uma equipe incansável para a viabilização da educação profissional no Pará. Aqui em Cametá, tínhamos 03 laboratórios e hoje estamos com 09 sendo que 01 deles temos capacidade para ofertar 07 cursos diferentes. O melhor laboratório de confecção de moda e costura que temos aqui no Pará é no SENAI de Cametá. Sem dúvida é um presente que estamos deixando para a população de Cametá. Com as novas instalações, estão previstos para o SENAI Cametá, em 2016, na modalidade de Qualificação Profissional, os cursos de Panificação, Costureiro Industrial, Pedreiro de Alvenaria, Eletricista de Manutenção em Rede de Alta e Baixa Tensão e Rede de Computadores. Na modalidade de Aperfeiçoamento Profissional, as novidades serão os cursos de Noções de Costura Industrial Moda Praia, Noções de Costura Industrial, Técnicas de Manutenção do Sistema de Injeção Eletrônica Diesel, Técnicas de Manutenção do Sistema de Injeção Eletrônica de Motocicleta, Técnicas de Controle de Portão de Garagem e Mecânico de Manutenção em Motores de Popa. Além desses, será lançado o curso técnico em Eletroeletrônica, estratégico para a região. Temos um programa o Mundo SENAI que acontece em todas as escolas do SENAI no Brasil no período de outubro a novembro. E agora com a inauguração oficial desta obra abrimos as portas para a população. Para alunos, empresários e a sociedade possam ver a nossa estrutura, onde e como desenvolvemos nossos cursos nos laboratórios e assim as pessoas possam se interessar e buscar uma profissão na área industrial. O que mais gratifica agente é saber que um ex-aluno consiga estar empregado e tenha seu próprio negócio e que tenha condições de gerar emprego e renda no município e o sustento de sua família. Por isso também que é objetivo da instituição ter um bom número de ex-alunos dentro do seu quadro de instrutores, como forma de incentivo para as novas gerações. Procuramos valorizar o que é nosso e quando os alunos percebem isso, acabam dando um pouco mais do seu esforço, aumentando o nosso nível de aprendizagem. É uma prática que pretendemos continuar”, afirma Dario Lemos. Para Jorge Montelis - Coordenador da Unidade do SENAI de Cametá que assumiu 24 www.revistapzz.com.br

em outubro de 2015 a direção do SENAI Cametá “Hoje nos adequamos a realidade do setor industrial, em diversas áreas e formamos mão de obra capacitada para o mundo do trabalho. A partir dessas melhorias a escola tem sua capacidade triplicada representando o aumento de mais de 500 alunos por ano. Foram construídas novas salas de aula. Novos laboratórios nas áreas de alimento, vestuário, automação, eletricidade e informática. Com todas essas melhorias a previsão de metas para 2016 é de 3099 matrículas nas modalidades de aprendizado industrial, aperfeiçoamento e curso técnico. A intenção, já para 2016, é iniciar serviços de atendimento em produtos de qualificação profissional para importantes industrias do Baixo Tocantins e regiões vizinhas, como, por exemplo, a Eletronorte, a Dow Corning

Com as novas instalações, estão previstos para o SENAI Cametá, em 2016, na modalidade de Qualificação Profissional, os cursos de Panificação, Costureiro Industrial, Pedreiro de Alvenaria, Eletricista de Manutenção em Rede de Alta e Baixa Tensão e Rede de Computadores. e a Biopalma. Com os laboratórios ainda mais adequados as demandas da indústria, a expectativa é que a procura pelas ofertas do SENAI se amplie e que atraia novos investimentos para dentro do município. “Hoje contamos com uma estrutura que simula a realidade do setor industrial em diversas áreas e formamos mão de obra capacitada para quem precisar se instalar aqui. Por exemplo, temos algumas indústrias de alimentos em Cametá que terão agora uma grande oportunidade de se reinventarem, pois trouxemos ao município tudo o que tem de mais moderno na área com os novos laboratórios de Panificação e de Manipulação de Polpa de Frutas. Além disso, estamos com um laboratório do segmento de vestuário que se equivale aos melhores do país. Com essa iniciativa, podemos multiplicar os fornecedores de roupas na cidade para grandes empresas e, dessa forma, fomentar a economia local”, detalha Meireles. Dirigir o SENAI de Cametá é uma grande honra e um grande desafio. Tenho certeza que com toda a equipe que compõe o quadro funcional desta unidade, iremos manter a qualidade dessa escola que tanto dá orgu-

lho aos cametaenses”, finaliza o diretor. Depois do descerramento da placa de inauguração da ampliação do SENAI CAMETÁ, realizadas pelo presidente da Fiepa e pelo Diretor Regional do SENAI, foi realizada uma visita guiada pelas instalações da nova unidade. Das 15 escolas fixas que o SENAI possui no estado do Pará, apenas o SENAI Cameta tem o diferencial de ser um centro integrado com a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). Hoje, dos 8 mil alunos da rede pública de ensino, 1.000 do Ensino Médio vestem a camisa do SENAI, nos turnos da manhã, tarde e noite. A parceria tem sido fundamental para elevar a qualidade da educação no município. O principal legado para os alunos da rede pública que passam pela A estrutura disciplinar do SENAI acaba refletindo diretamente nos nossos alunos e contribuindo de maneira grandiosa na formação deles”, diz o diretor Regional do SENAI, Gerson Peres. A intenção é manter o convênio de sucesso e estreitar ainda mais a relação, com mais ofertas para cursos profissionalizantes. Atraídos pelas atualizações que o SENAI está promovendo, desejamos fechar um acordo para que o maior número possível de novos alunos consiga fazer cursos de educação profissional no seu contra turno de aula. Sabemos que isso fará toda a diferença, pois o SENAI representa a industrialização, desenvolvimento e oportunidade para os nossos jovens conclui a diretora. Na ocasião o Prefeito de Cametá falou da importância e dos benefícios que as obras de revitalização e ampliação do Sistema FIEPA trarão para o município: “Comemoramos essa modernização da estrutura do SENAI. Sem dúvida, uma conquista valiosa do povo cametaense. A prefeitura vem celebrando diversas parcerias com o SESI/SENAI e com o SEBRAE . Sabemos da importância dessas instituições em nosso município. O nosso povo cametaense tem lutado muito pela educação do município e da região do Baixo Tocantins. Por isso que temos avançado bastante. Estamos caminhando para a transformação de Cametá para uma cidade universitária. Desde que se instalou em nosso município, o SENAI cumpre um papel fundamental na formação profissional de nossos jovens e como grande apoiador para o desenvolvimento de nossa região. Agora, com esses novos investimentos, acredito que poderá atrair mais empresas para nosso município, oportunizando a geração de emprego e renda para nossa gente. Só tenho a parabenizar o SENAI Cametá pela visão inovadora que sempre teve”.


dario lemos

josĂŠ conrado santos

gerson peres

iracy freitas

Jorge Montelis

diretoria da fiepa e personalidades www.revistapzz.com.br 25


ENTREVISTA

GERSON PERES

Entrevista com o cametaense Gerson Peres, Superintendente Regional do SENAI no pará é CONSIDERADO COMO O PAPA DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE no estado. já exerceu o mandato de Deputado Federal em quatro mandatos, um dos expoentes da hstória política do Pará. para o baixo tocantins e para que eu pudesse supervisionar a região, uma área esquecida e desconhecida pelos políticos. Foi aí que conseguimos construir um hospital com maternidade pois até então a população viGerson Peres - O objetivo maior de entrar via em condições precárias na área da saúde na política era para salvar Cametá não só e nasciam pelas mãos das queridas parteiras do atraso econômico mas da erosão do no toupé das casas. Eu nasci num toupé. Tocantins que ia desmoronando a orla e a frente da cidade. Além disso minha entrada na política era para ampliar as atividaEu fazia a terceira via e fazia uma des educativas do município e lutar pelas política de enfrentamento, não de melhorias da área da saúde. Eu me canofensa, através de uma avaliação didatei para Deputado Estadual em 1954 quando o General Zacarias de Assunção de subdesenvolvimento que a região perdeu as eleições para o Magalhães Bapassava e assumia o discurso da rata que retomava o poder, foi quando me mudança. De que era preciso mudar elegi primeiro suplente mas logo assumi o mandato parlamentar porque o depue provocar um desenvolvimento na tado do meu partido foi convidado para região e produzir o essencial para o ser secretário de Estado. No entanto meu mandato assumiu oposição ao governo desenvolvimento não só da cidade, do município de Cametá mas da região do Genral Magalhães Barata. Apesar de trilharmos um plano de trabalho, consecomo um todo. guimos pouca coisa como oposição. Mas em 1964 quando veio a revolução, o Coro- Minha mãe me pariu num toupé. Por essa nel Jarbas Passarinho, filho de cametaen- situação e por outra que me causava revolse, Governador do Estado, do qual era da ta porque Cametá possuia dois deputados minha base aliada, me convidou para ser federais. Nelson Parijós e Deodoro da Meno líder da bancada dele. Diante disso pedi donça, duas personalidades expressivas na ao governador que olhasse com atenção política brasileira, altamente qualificados. PZZ - Dr. Gerson Peres fale como foi que o senhor entrou na política e qual seu principal objetivo em exercer esse ofício?

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O Deodoro de Mendonça, foi sete vezes deputado federal, secretário de Estado, governador em exercício, o Nelso Parijós foi deputado federal e prefeito de Cametá. A finalidade básica da política está na arte e na ciência de construir a felicidade do povo, com mais permanência. Então eu fazia a terceira via e fazia uma política de enfrentamento, não de ofensa, através de uma avaliação de subdesenvolvimento que a região passava e assumia o discurso da mudança. De que era preciso mudar e provocar um desenvolvimento na região e produzir o essencial para o desenvolvimento não só da cidade, do município de Cametá mas da região como um todo. E com essa bandeira, em 1954, eu me elegi para Deputado Estadual do Estado do Pará. Depois me reelegi em 58, 62 e em 64 sempre pela União Democrática Nacional - UDN, o partido da oposição brasileira que despontava grandes nomes como o de Carlos Lacerda, Miguel Campos, Prado Guerra, e de uma elite brasileira que fazia política um pouco diferente do que fazem hoje. Com o mandato parlamentar e com os ventos da revolução, pude capitalizar e angariar recursos para que os prefeitos pudessem realizar essa transformação social. Eu era um grande defensor da região,


FOTO: adriana lima

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ENTREVISTA tinha muita força de vontade e dedicação e por isso eles me apoiavam. Com isso também veio o êxito da grande vitória que foi a vinda da energia elétrica através das hidrelétricas de Tucuruí, que apesar de represarem o rio Tocantins e provo carem algumas críticas, proporcionou o grande desenvolvimento em potencial do Estado e do Brasil. Fui condecorado com uma plaqueta pela Eletronorte, peguei muitas críticas e hoje eu sei que não seria possível o processo de industrialização no Brasil sem a energia do Tocantins. E apesar de sermos os donos do rio e o berço da energia, só depois de 14 anos que tivemos energia própria através de uma subestação. Já no governo do Fernando Henrique Cardoso quando consegui duas emendas de R$ 25.ooo.000,00 (vinte e cinco milhões) assinada por unanimidade pelos Deputados do congresso. A TransCametá foi uma luta que conseguimos com o Governador Aluísio Chaves e o Fernando Guilhon, que integra Cametá a todo Brasil, a estrada sai de Cametá vai pra Tucuruí, segue para Novo Repartimento e pega a Transamazônica, saindo assim do isolamento. Fizemos a ampliação da estrada para Limoeiro do Ajurú, fomos melhorando as condições de vida deles. Não nos limitamos apenas isso, conseguimos levar para Cametá duas Universidades, na época quando fui nomeado Secretário de Promoção Social a qual ficava sobre a minha supervisão a Universidade do Estado do Pará, a UEPA, além da Secretaria de Educação e a Secretaria de Cultura. Apresentei a demanda para o Governador Simão Jatene e a importância da necessidade de implementar em Cametá um campus da UEPA com diversos cursos na área de Letras, Exatas e Biologicas e outros. No nível federal conseguimos implementar a Universidade Federal do Pará - Campus Cametá e um Instituto Agrícola. Com isso conseguimos ampliar o padrão da educação e paralelamente íamos favorecendo a construção de novas escolas como a Alacid Nunes, Osório, Santa Maria, Santana Santos, mais de 10 escolas construímos para melhorar a condição do ensino e para erradicar o analfabetismo em Cametá onde hoje não existe cametaense analfabeto. Hoje temos o hospital municipal e o hospital regional de Cametá que foi feito pelo Helio 28 www.revistapzz.com.br

Gueiros que inclusive colocou o nome do meu pai. Cametá passou a ser minha pátria amada. Tenho muito motivos para me orgulhar de ser cametaense. Conhecida como “terra dos notáveis”, a cidade tem importância histórica por ser uma das mais antigas cidades históricas do estado e por ser um dos berços do marcante movimento pela independência do Grão Pará: a Cabanagem. Além da história, Cametá também é motivo de orgulho pelas belezas naturais de uma cidade ribeirinha, com suas ilhas, praias e igarapés.

um grande homem e daria muito orgulho para ela. E assim fiz, me formei em direito, latim, português, me especializei em educação profissonal na Europa no Centro Internacional em Turim, me apaixonei pela educação profissional e me apaixonei pela mulher que estou com ela há 60 anos (risos) e em 1962 fui vice governador na gestão do Alacid Nunes e num período ele teve que se ausentar por 35 dias e tive que assumir o governo do Estado do Pará antes de tomar a posse eu mandei um avião buscar meu pai e minha mãe em Cametá para estar do meu lado no dia da cerimônia, naquele tempo o simbolismo de pasCametá precisou dessa consciência sar um governo acompanhado dos pais tinha muito valor receber a faixa de goe desse sentimento de amor vernador do Estado do Pará,e depois de filial e tratar o município com passar revista na tropa chamei minha mãe muita responsabilidade. Houve um e lhe disse que não havia sido padre mas que hoje eu sou Governador do Estado período que o povo de Cametá do Pará. Ela chorou e me abraçou muito. acreditou em gestores que não Como professor de latim, aprendi com o tinham o mesmo comprometimento padre vigário Miguel Inácio da Paróquia e depois conseguiu vaga no colégio Gentil, e o município se atrasou no Santa Rosa, Abrão Levy, no começo era o desenvolvimento. ensino fundamental e fazia aulas particulares e ampliando meu círculo de relacioPZZ - Este sentimento de pertencimen- namento. Estudava a noite na faculdade. to e de amor filial que todo bom cametaense tem ao seu torrão natal a essa PZZ - O SENAI Cametá foi outro grande “Terra de notáveis” favorece para uma feito pelo Senhor no município. E agora consciência de pátria amada e de mais em foi entregue o Centro Integrado de responsabilidade social. Como foi sua Educação Profissional do SENAI em Caformação neste sentido ? metá todo revitalizado, fale da importância desse empreendimento? Gerson Peres - Cametá precisou dessa consciência e desse sentimento de amor Gerson Peres - Outro motivo pelo qual filial e tratar o município com muita res- me orgulho de cametá sem dúvida é o traponsabilidade. Houve um período que o balho de capacitação profissional desenpovo de Cametá acreditou em gestores volvido pelo SENAI que contribui para o que não tinham o mesmo comprometi- desenvolvimento não só de Cametá, mas mento e o município se atrasou no desen- de todo o Baixo Tocantins. volvimento. A única finalidade básica e fundamental da política é a arte e a ciên- A formação da mão de obra local também cia que propicia a construção da felicida- funciona como incentivo para que mais inde de um povo com mais brevidade com dústrias se instalem na região, melhoranmais transparência, com mais permanên- do a situação econômica dos municípios cia. Esse foi sempre o meu princípio na atendidos. Por isso, tenho grande satisfapolítica e fui educado com esta finalidade. ção em anunciar a entrega das obras de O sonho da minha mãe era que eu fosse revitalização do Centro Integrado de Edupadre, estudei para ser e quando cheguei cação Profissional do SENAI em Cametá. na minha adolescencia e juventude des- A modernização da unidade certamente pertou o desejo de namorar e a iniciar fará que o SENAI Cametá continue firme um drama de não envergonhar a minha em sua missão de aumentar a competitimãe e ia ser um grande pregador e depois vidade das indústrias e levar o desenvolqueria me casar e de ter filhos, fui lá disse vimento por meio da capacitação profisp minha mãe e tive que sair minha mãe sional. Essa unidade foi instalada bem no chorou mas prometi para ela que seria centro urbano, a escola foi projetada pelo engenheiro José Maria Cabral, que trouxe


uma arquitetura circular à fachada da escola, algo inovador para a construção civil da época. PZZ - Quando foi inaugurado o SENAI Cametá e qual o contexto histórico e economicosocial da época? Dr. Gerson Peres - Inauguramos esse prédio em 28 de outubro de 1982 quando trouxemos para Cametá o presidente João Batista Figueiredo, um acontecimento histórico que mobilizou toda a cidade, fato ainda presente na memória dos cametaenses. Quem me ajudou muito na minha vida nessa época e quem era o grande mentor dessa geração foi o Senador Gabriel Hermes, um amigo e homem brilhante, contador, industrial, formado em Direito e jornalista que trabalhou nos

Outro motivo pelo qual me orgulho de cametá sem dúvida é o trabalho de capacitação profissional desenvolvido pelo SENAI que contribui para o desenvolvimento não só de Cametá, mas de todo o Baixo Tocantins. A formação da mão de obra local também funciona como incentivo para que mais indústrias se instalem na região, melhorando a situação econômica dos municípios atendidos jornais A Província do Pará, Correio Braziliense e nos Diários Associados. Membro do PTB e da UDN, sua vida pública começou como secretário de estado em 1945 e a seguir presidiu o Banco de Crédito da Amazônia no segundo governo Getúlio Vargas. Ele que foi o primeiro Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará entre 1950 e 67. Além disso foi diretor da Confederação Nacional da Indústria, e eleito deputado federal em 1954, 58, 62, 66, 70, 74 além de ter sido eleito senador biônico em 1978 integrando os quadros da ARENA e do PDS. Graças a ele pude me inserir nesse caminho do ensino profissionalizante industrial que me abriu as portas para a minha formação e o meu conhecimento de mundo. Viajei por todos os continentes conhecendo as experiênwww.revistapzz.com.br 29


ENTREVISTA

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cias dos países desenvolvidos. Fui conhecer a experiência de uma das mais avançadas economias do mundo na área de ensino profissionalizante, a fim de buscar soluções que possam ser replicadas nas escolas técnicas estaduais da Pará. Conheci o modelo da Alemanha que após a Primeira Guerra Mundial construiu galpões de ensino profissionalizante. As escolas profissionalizantes do SENAI funciona nos moldes dessas da Alemanha . Quando implantei o SENAI em Cametá fui criticado porque não havia indústria mas o SENAI também precede a industrialização e com isso convenci os investidores, as agências de crédito, os Bancos do Brasil e da Caixa Econômica que o SENAI precede o desenvolvimento no campo da profissionalização, principalmente dos trabalhadores que fazem a manuntenção dos produtos industriais: carros, geladeiras, máquinas pesadas. Com isso demos um passo para o desenvolvimento de Cametá através do SENAI, um ponto muito importante para a história da cidade, uma preocupação e um objetivo para que fosse possível viabilizar esse empreendimento. PZZ - Geralmente as sedes do SENAI são construídas em cidades mais industrializadas, fale mais dessa perspectiva que o senhor defendeu para o SENAI de Cametá em preceder a industrialização formando trabalhadores para a indústria.

Para realização dos cursos, o SENAI/PA dispõe de ambientes pedagógicos convencionais (salas de aula climatizadas) para o desenvolvimento de aulas teóricas e de laboratórios específicos devidamente equipados para a realização das aulas práticas. Os conteúdos dos cursos são formatados para atender as necessidades dinâmicas do mercado e No Pará, ao longo de cinco décadas, são fundamentados na metodologia de o SENAI contribui de forma decisiva educação profissional por competência. para a formação profissional, inovação e transferência de tecnologia a fim de PZZ - Para atender as exigências do atender às demandas das atividades in- mercado de trabalho, cada vez mais dinâmico, o profissional precisa dedustriais. senvolver competências em várias Desde 1953, o SENAI no Pará já qua- áreas do conhecimento, além daquelificou mais de 700.000 profissionais las específicas da sua formação. Como para a indústria. Temos 15 Unidades o SENAI/PA trabalha nesse sentido?

O SENAI está presente em todos os Estados do Brasil, com atuação em rede, envolvendo mais de setecentos Centros de Educação Profissional em parceria com empresas, Centros de Educação Profissional, Centros Tecnológicos, Centros de Treinamento, Unidades Móveis e Kits de Ações Móveis.

Para realização dos cursos, o SENAI/PA dispõe de ambientes pedagógicos convencionais (salas de aula climatizadas) para o desenvolvimento de aulas teóricas e de laboratórios específicos devidamente equipados para a realização das aulas práticas. fixas, instaladas em regiões-polo, que são responsáveis pelo atendimento aos municípios localizados em sua área de abrangência, com potencial para operar em todos os municípios.

Gerson Peres - Baseado nesses pressupostos, o SENAI/PA insere na estrutura de todos os Cursos, Temas relacionados às competências transversais, tais como: Educação Ambiental, Empreendedorismo, Segurança do Trabalho, Relacionamento interpessoal, Tecnologia da Informação e Comunicação. Investir no capital humano é o que toda empresa faz para se manter competitiva no mercado. Por isso, além dos cursos, o SENAI-PA disponibiliza para as empresas outros serviços, analisa e estabelece diagnósticos e soluções para as empresas. Os Serviços são personalizados e abrangem desenvolvimento de Cursos customizados, Consultoria, Ensaios laboratoriais (cerâmica vermelha e corrosão em estruturas), Informação tecnológica, entre outros. Tudo para melhor orientar e atender as necessidades das indústrias instaladas no estado.

O SENAI-PA, conta com 6 Unidades Móveis climatizados e adequados para a realização das aulas nas áreas de paniDr. Gerson Peres - Sim, geralmente ficação, confeitaria, confecção, consas sedes do SENAI contruímos em trução civil, informática, mecânica de cidades mais industrializadas como motos. A tradição, a competência e a confiabiliem Canaã dos Carajás, Paraupebas, dade da marca SENAI, garantem o acesMarabá, Castanhal. Para responder aos grandes desafios de so ao mercado de trabalho de milhares nosso Estado, uma vasta lista de mais de profissionais e propiciam ganhos de O objetivo é prospectar novos negó- de 240 cursos é oferecida, nas seguintes competitividade para as empresas. cios e atrair investimentos na área áreas: industrial para o estado paraense. O SENAI é o Serviço Nacional de Alimentos, Automação industrial, CalAprendizagem Industrial, uma insti- çados, Confecções, Construção Civil, tuição de direito privado, mantido e Eletroeletrônica, administrado pela indústria que não depende ditetamente de governo Joalheria, Madeira & Mobiliário, Metalmunicipal, estadual ou federal pois é mecânica, Manutenção industrial, Mimantido pela contribuição das indús- neração e outras. trias, capital privado mesmo. www.revistapzz.com.br 31


EDUCAÇÃO

Doriedson Rodrigues*

UNIVERSIDADE E AMAZÔNIA Desde a década de oitenta do século passado o Campus Universitário do Tocantins/Cametá – UFPA vem desenvolvendo ações educativas de pesquisa, ensino e extensão no contexto da Microrregião Cametá, a partir, inicialmente, de cursos flexibilizados pelo Campus da UFPA de Belém para a sede do Campus, em Cametá.

A

o longo de mais de 25 anos o Campus Universitário Tocantins / Guamá - UFPa, avançou consideravelmente em termos de oferta de cursos para a região, passando de 02 cursos, Letras Português e Pedagogia, para 10 cursos, a partir da implantação de Letras Inglês, Matemática, História, Ciências Naturais, Educação do Campo, Geografia, Sistemas de Informação e Agronomia. Além disso, em dezembro de 2013 tivera a aprovação do Mestrado em Educação e Cultura, constituindo-se o primeiro campus do interior, depois de Belém, a possuir um mestrado na área de Educação na UFPA. Não menos importante está o crescimento do corpo docente ao longo desses mais de 25 anos, saindo de aproximadamente 10 professores efetivos para 83 vagas, entre mestres e doutores. Hoje, o Campus possui 39 vagas com doutores, 29 professores fazendo doutorado, 02 realizando mestrado e 13 mestres. E ainda estamos com um conjunto de professores substitutos, desenvolvendo ações formativas por meio dessa Unidade da UFPA. Quadro esse que representa a possibilidade de mais pesquisas e ações de ensino e extensão para a região, como o provam os inúmeros projetos de pesquisa e extensão aprovados pelos docentes do Campus, permitindo que jovens acadêmicos possam se constituir bolsistas, pesquisadores e extensionistas 32 www.revistapzz.com.br

em formação. É nessa direção, por exemplo, que o Campus vem aprovando projetos de pesquisa financiados por agências de fomento, como o CNPQ, por exemplo, que vêm possibilitando Cursos de Formação por meio da Casa Familiar Rural de Cametá, bem como Cursos voltados para a produção de material didático para a Educação de Jovens e Adultos para os municípios de Cametá, Mocajuba, Oeiras do Pará, Limoeiro

Não menos importante está o crescimento do corpo docente ao longo desses mais de 25 anos, saindo de aproximadamente 10 professores efetivos para 83 vagas, entre mestres e doutores. Hoje, o Campus possui 39 vagas com doutores, 29 professores fazendo doutorado, 02 realizando mestrado e 13 mestres. do Ajuru e Baião, dentre outros projetos, além de termos avançado quanto à presença marcante do Ensino Superior nesses municípios. Não é à toa, por exemplo, que o Campus Universitário do Tocantins/Cametá é o primeiro Campus da UFPA a ofertar um curso de graduação na zona rural de sua

sede, como o está sendo o Curso de Educação do Campo para a Vila do Carmo, em Cametá. Não menos importante está o fato de sermos o Campus da UFPA com 04 Núcleos Universitários – Núcleo Universitário Sérgio Maneschy de Mocajuba, com aproximadamente mais de 300 discentes; Núcleo Universitário de Oeiras do Pará, com aproximadamente mais de 250 discentes; Núcleo Universitário de Baião, com aproximadamente mais de 350 discentes; Núcleo Universitário de Limoeiro do Ajuru, com aproximadamente mais 300 discentes. Ou seja, nos últimos anos passamos a ter metade dos discentes do Campus presentes em nossos 04 Núcleos, materializando ainda mais a perspectiva da interiorização da interiorização da UFPA, vivendo os ônus e os bônus de se continuar com um projeto dessa natureza, por compreendermos a importância de se garantir aos trabalhadores o acesso ao Ensino Superior. Hoje, o Campus Universitário do Tocantins/Cametá como um todo possui aproximadamente 3.000 discentes, bem como muitos projetos de pesquisa e de extensão, constituindo-se um agente propulsor de uma perspectiva de desenvolvimento focada na formação de sujeitos que trabalhem pela emancipação humana, garantindo que um conjunto de jovens oriundos do Ensino Médio, como estudan-


tes do SENAI – Cametá, dentre outros Estabelecimentos de Ensino da Microrregião Cametá, possam ter acesso ao ensino superior com qualidade. É nessa direção que anualmente o Campus oferta mais de 500 vagas, por meio dos processos vestibulares, tanto para a sede do Campus como para seus 04 núcleos universitários. Todavia, em face desse crescimento, há de se considerar os desafios que estão postos. Nessa perspectiva, não se pode deixar de compreender a necessidade de continuarmos o debate para a Criação da Universidade Federal da Amazônia Tocantina, a UFAT, que permitirá novos cursos e fortalecimento cada vez mais dos que já se encontram no Campus, dentre outras conquistas. A esse respeito, escrevemos, há alguns anos, um texto em parceria com o colega professor da UFPA, Dr. Gilmar Pereira da Silva, em que expúnhamos o seguinte: Em que pesem esses avanços, o contexto histórico atual vem exigindo que os campi se articulem em torno de um projeto maior para a região, impactando-lhe cada vez mais positivamente, com maiores recursos, mais docentes, novos cursos e um maior número de vagas, para que a criação da Universidade Federal da Amazônia Tocantina, a UFAT, torna-se uma realidade a ser cada vez mais perseguida, muito já contribuindo para isso as ações

aqui descritas. Trata-se, então, de um novo processo histórico nos rumos da Universidade Federal do Pará como instituição voltada para

Hoje, o Campus Universitário do Tocantins/Cametá como um todo possui aproximadamente 3.000 discentes, bem como muitos projetos de pesquisa e de extensão, constituindo-se um agente propulsor de uma perspectiva de desenvolvimento focada na formação de sujeitos que trabalhem pela emancipação humana , garantindo que um conjunto de jovens oriundos do Ensino Médio, como estudantes do SENAI – Cametá, dentre outros Estabelecimentos de Ensino da Microrregião Cametá, possam ter acesso ao ensino superior com qualidade. o desenvolvimento regional, criando-se as condições para o surgimento de uma nova Universidade, como se procedeu para com a criação da UFOPA, em Santarém, e a UNIFESSPA, em Marabá. Hiperboli-

camente diríamos que a interiorização da UFPA vai se interiorizando cada vez mais, já constando no PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) da UFPA, aprovado em 2011, a criação da Universidade Federal da Amazônia Tocantina – UFAT, além de inúmeras audiências que estão sendo realizadas nos municípios da região, discutindo-se a UFAT, seus impactos na região, o modelo de universidade que a região necessita. Para tanto, não se pode deixar de considerar a necessidade de mais áreas para o Campus, que ampliem cada vez mais as condições de pesquisa, ensino e extensão dessa grande Unidade da UFPA presente na Microrregião Cametá. A esse respeito, considerável doação de particular o Campus recebera em 2015, ganhando 04 hectares, que possibilitam a implementação de área experimental para os cursos de Agronomia, Geografia e Ciências Naturais, bem como para Educação do Campo, além de garantir o espaço necessário para as instalações do Campus II (em que pesem as novas e amplas instalações do Campus I inauguradas em setembro de 2014, permitindo a melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão cada vez mais, com equipamentos multimídias, além de um Infocentro em processo de construção, dentre outros projetos em tramitação na UFPA), de modo a atender a www.revistapzz.com.br 33


EDUCAÇÃO

construção de complexos de laboratórios e atelier de aprendizagens para os 10 cursos do Campus, o que pressupõe busca de novos recursos para tanto, quer por meio da Eletronorte, emendas parlamentares, dentre outras fontes de investimentos. Outrossim, não menos importante está a necessidade de buscarmos condições para que nossos discentes possam ter casa de estudante, dentre outras perspectivas estruturais, como alimentação gratuita, de modo a permitir a presença dos jovens em condições de maior dificuldade de permanência na Instituição. A esse respeito, o Campus recebera emenda parlamentar para a construção da Casa do Estudante, acrescida de investimentos da própria Universidade, de modo a construirmos a Casa do Estudante em área doada pelo Executivo Municipal de Cametá. Some-se a essa realidade o fato de o Campus ser uma das Unidades da UFPA com maior contingente de auxílios moradia e permanência, por meio da Pró-Reitoria de Extensão, com aproximadamente, em 2014, 450 discentes atendidos pelos programas (considerando-se, aqui, somente as turmas da sede do Campus, pois o número tende a aumentar 34 www.revistapzz.com.br

quando se consideram os discentes dos Núcleos Universitários), gerando no município de Cametá mais de 150.000 reais mensais.

Não menos importante está o crescimento do corpo docente ao longo desses mais de 25 anos, saindo de aproximadamente 10 professores efetivos para 83 vagas, entre mestres e doutores. Hoje, o Campus possui 39 vagas com doutores, 29 professores fazendo doutorado, 02 realizando mestrado e 13 mestres. Também há de se considerar a necessidade de continuarmos lutando pela estruturação dos espaços formativos presentes nos Núcleos Universitários (E também para a sede), como a construção de laboratórios e bibliotecas, mas sempre com o entendimento do avanço que a presença dos mesmos nos municípios significa para

a região, devendo-se constituir bandeira de luta a garantia da presença da Universidade nesses espaços enquanto projeto estratégico para o desenvolvimento local. No mais, há de se considerar que essas descrições analíticas do crescimento do Campus e dos desafios que nos estão postos, dentre outros aqui não elencados, partem de um princípio de gestão, que expusemos em editorial de jornal do Campus, no prelo e escrito com o título “O Campus Universitário do Tocantins/Cametá-UFPA e seu compromisso com a região”, em parceria com o Dr. José Pedro Garcia Oliveira – à época Vice-Coordenador do Campus, o qual passamos a transcrever como notas conclusivas deste texto. Antônio Gramsci, intelectual italiano do início do século XX, defendia que todos os trabalhadores tivessem acesso à cultura, dominando os conhecimentos relacionados às ciências, que resultam do trabalho humano, bem como aqueles decorrentes das relações humanas no campo de seus direitos e deveres. Sua preocupação com essa formação, dentre outras razões também importantes, decorria da existência sofrida que vi-


vera numa região da Itália com enormes dificuldades políticas, sociais, econômicas, defendendo, diante disso, que os trabalhadores tivessem condições de se constituir dirigentes dos rumos da sociedade, de modo a superar as relações que historicamente desumanizam a vida. Isto posto, em termos do Campus Universitário do Tocantins/Cametá – UFPA, acreditamos que esses princípios têm norteado a presença dessa Unidade da UFPA na Microrregião Tocantina, quando se busca, por exemplo, o fortalecimento dos Núcleos Universitários de Baião, Mocajuba, Oeiras do Pará e Limoeiro do Ajuru, por meio de parcerias sem as quais essa perspectiva ficaria difícil de ser viabilizada. Atualmente, por exemplo, cada um desses Núcleos garante espaço acadêmico para em média mais de 300 discentes em cada um deles realizarem um curso superior, tal qual fora o Campus de Cametá em sua fundação na década de oitenta. Não menos importante encontra-se a institucionalização de um Programa de Mestrado no Campus Universitário do Tocantins/Cametá, a partir de seu corpo docente, permitindo que mais filhos e filhas de trabalhadores/trabalhadoras possam se constituir cada vez mais pesquisadores no campo da Educação e Cultura. É essa perspectiva, então, de formação humana que pode explicar, dentre outras possibilidades, o compromisso do Campus Universitário do Tocantins/Cametá - UFPA com a região, buscando-se, por exemplo, novas vagas para docentes e técnico-administrativos, condições para que seus servidores se qualifiquem academicamente cada vez mais, instalações que propiciem a sempre presença e fortalecimento do ensino, da pesquisa e da extensão, de modo que mais filhos e filhas de trabalhadores/ trabalhadoras estejam em uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade. De fato, avançamos muito nesses últimos anos, com 04 Núcleos Universitários, aproximadamente 3.000 discentes, um Mestrado, um forte corpo docente, mais de 15 técnico-administrativos, novas instalações e equipamentos, o que também tem imposto à gestão, com suas Faculdades e Programa de Mestrado, bem como aos demais espaços do Campus, novos desafios. E como dizíamos em editorial de Jornal do Campus, no prelo, “O Campus

Universitário do Tocantins/Cametá-UFPA e seu compromisso com a região”, em parceria com o Dr. José Pedro Garcia Oliveira – à época Vice-Coordenador do Campus, “[...] que bom que eles [os desafios] existam, movendo essa Unidade da UFPA para a superação dos mesmos, buscando-se novas conquistas, numa sempre relação cíclica e dialética de avanços-conquistas/desafios/novos avanços-conquistas”, como o que nos impõe a construção de um douto-

Avançamos muito nesses últimos anos, com 04 Núcleos Universitários, aproximadamente 3.000 discentes, um Mestrado, um forte corpo docente, mais de 15 técnico-administrativos, novas instalações e equipamentos, o que também tem imposto à gestão, com suas Faculdades e Programa de Mestrado, bem como aos demais espaços do Campus, novos desafios. rado, assim como um mestrado interdisciplinar, dentre outros desafios, sempre com o entendimento de que tudo isso somente é possível em decorrência do apoio dos docentes, técnico-administrativos, prefeituras, movimentos sociais, discentes, partindo-se do princípio, em Tecendo a Manhã (do poeta João Cabral de Melo Neto), de que um Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro: de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzam os fios de sol de seus gritos de galo para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Isto posto, compreendemos, em conjunto com o atual Vice-Coordenador do Campus, o colega Prof. MSc. José Domingos Fernandes Barra (Doutorando em Educação) e os colegas Professores e Técnico-Administrativos, que o Campus Universitário do Tocantins/Cametá é um projeto de interiorização que tem dado certo, porque resultado de um compromisso coletivo de Universidade na região, que deve continuar sempre em fortalecimento, com a MISSÃO de “Produzir, socializar e transformar o conhecimento na região da Amazônia Tocantina para a formação de cidadãos capazes de promover uma sociedade sustentável, ética, igualitária e justa na área do ensino público”, bem como a VISÃO de “Ser um centro de referência e excelência na produção científica, cultural e tecnológica na região do baixo Tocantins, com vistas à constituição da Universidade Federal da Amazônia Tocantina”, conforme seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDU), aprovado no Campus neste início de 2015. E compreendemos ainda que muito podemos fazer pela região, como já o estamos fazendo, ao lado de Instituições Parceiras no desenvolvimento do Ensino Superior na Microrregião Cametá, como a Universidade do Estado do Pará – Campus Cametá, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnológico – Campus Cametá, a Universidade Aberta do Brasil, bem como ao lado dos movimentos sociais, Prefeituras e Poder Legislativo, Escolas de Ensino Médio, Sociedade Civil, Governo do Estado, Parlamentares Estaduais e Federais, dentre outros segmentos comprometidos com a formação humana, fazendo Cametá se constituir diariamente uma cidade universitária e a região um grande espaço de vivência universitária, com pesquisa, ensino e extensão. * Universidade e Amazônia: a interiorização do Campus Cametá – UFPA Prof. Doriedson Rodrigues Doutor em Educação Mestre em Letras Coordenador Geral do Campus Universitário do Tocantins/Cametá – UFPA doriedson@ufpa.br www.revistapzz.com.br 35


ECONOMIA

Rosivanderson Baía Corrêa

A PRODUÇÃO DO AÇAÍ NA AMAZÔNIA ROSIVANDERSON BAIA CORRÊA PREPARA SUA TESE DE DOUTORADO SOBRE A PRODUÇÃO DO AÇAÍ NA AMAZÔNIA. OBSERVANDO OS AVANÇOS E RETORCESSOS NA PRODUÇÃO DESSE PRECIOSO PRODUTO COBIÇADO POR EMPRESAS FORA DO PARÁ Nos últimos anos principalmente a partir da década de 1990 temos visto uma crescente onda de interesse a nível nacional e internacional sobre um dos principais produtos da Amazônia: o açaí (euterpe olerácea mart.). Antes havia ocorrido ainda a demanda pelo palmito da mesma palmeira nas décadas de 1970 e 1980 devido ao esgotamento das palmiteiras (euterpe edullis) que fornecia matéria prima para as indústrias de processamento de palmito em expansão. O açaí ao longo dos tempos sempre foi fonte de alimento de comunidades tradicionais, cidades ribeirinhas e não obstante outras cidades da Amazônia. O suco de açaí regionalmente chamado de “vinho” de açaí consumido na gastronomia amazônica associado ao peixe, seja ele assado, frito, muquiado, associado ao camarão, associado ao charque frito, pirarucu, jacaré etc. Consumido com farinha comum (d’água) ou de tapioca, alguns preferem com açúcar, mas esse já sendo um hábito citadino, que diria o nosso caboclo a ob36 www.revistapzz.com.br

servar alguém colocar açúcar no açaí? Mas o consumo externo a Região Amazônica se deu de forma diferenciada, se no imaginário caboclo sempre ao tomar uma tigela com açaí pensou-se numa rede para deitar e curtir uma soneca, fora da Região o produto

Nos últimos anos principalmente a partir da década de 1990 temos visto uma crescente onda de interesse a nível nacional e internacional sobre um dos principais produtos da Amazônia: o açaí (euterpe olerácea mart.). é vendido como sinônimo de energia principalmente para praticantes de atividades esportivas, bem como nas academias. Adicionando-se guaraná, flocos, morango, banana.... Fonte alimento e de subsistência das

comunidades ribeirinhas amazônicas agora torna-se um produto capturado pela economia-mundo, commodity a ser negociado na bolsa de valores. Cria-se uma nova rede imbricada e complexa no território amazônico, surgem novos atores sociais, empresas transfiguradas em associações, criando laços para conseguir fidelizar o produtor a vender o produto para os mesmos. Permanecendo velhas relações como adiantamento em dinheiro para compra da produção, não estaríamos frente a um novo/velho sistema de aviamento?. Permanecem trabalhadores meeiros, diaristas, reforçando a precarização do trabalho daqueles que não tem um pedaço de terra para trabalhar e tem que vender sua força de trabalho. Frente a essa complexidade, em concorrência, surge uma nova variedade de açaí, se é que podemos ousar denominar assim, para concorrer com o açaí ribeirinho, manejado em áreas de várzea, dependente da natureza: das chuvas, do clima, das estações do ano, das enchentes das marés. Surge o açaí de terra-fir-


me assumindo várias denominações, mas com um propósito: produzir o ano todo a partir da utilização de irrigação, da utilização de insumos para que o mesmo produza o ano todo. São milhares de hectares de açaí já plantados em área de terra firme na Amazônia. Estamos frente a uma nova configuração territorial, o agrohidronegócio passa a produzir açaí e concorrer com o açaí tradicional da Amazônia. Mesmo sabendo que essa produção vendida hoje pelas comunidades ribeirinhas não conseguiu lograr os efeitos desejados no território e a melhoria da qualidade de vida dessas comunidades, simplesmente por que as mesmas não conseguem agregar valor, entregando a produção para que outros atores sociais faça o processamento de seu produto, mas entendemos que o fato da venda dessa produção tem dado contribuição significativa a reprodução sócio-econômica das mesmas.

ROSIVANDERSON BAIA CORRÊA

Cria-se uma nova rede imbricada e complexa no território amazônico, surgem novos atores sociais, empresas transfiguradas em associações, criando laços para conseguir fidelizar o produtor a vender o produto para os mesmos. Permanecendo velhas relações como adiantamento em dinheiro para compra da produção, não estaríamos frente a um novo/ velho sistema de aviamento?.

Possui graduação em GEOGRAFIA (LICENCIATURA E BACHARELADO) pela Universidade Federal do Pará, Mestrado em Geografia pelo Programa de Pósgraduação em Geografia- PPGEO-UFPA (2010).. cursando Doutorado (2013) pela Universidade Estadual Paulista-UNESP Campus de presidente Prudente. Docente da Universidade Federal do Pará- UFPA - CAMPUS DE CAMETÁ. Pesquisa os Temas: Desenvolvimento Regional, Geografia da Amazônia, Usos do Território, Comunidades Tradicionais produtoras de açaí na Amazônia. Pesquisador membro do Grupo de Estudos e pesquisas em Dinâmica Regional e Agropecuária – GEDRA da Universidade Estadual Paulista e do Grupo de Estudos em Organização do Território na Amazônia Tocantina – GEOTAT da UFPA Campus de Cametá.

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POESOFIA

Salomão Larêdo

alberto mocbel

Alberto Mocbel é poeta, contista, artista e escritor. É um amante da arte, é inventor, é profeta (e por isso, prospectivo). Na verdade Mocbel é um criador. é produtor de textos onde avulta o grande ser humano que é com coração transbordando de amor por Cametá e os cametaenses.

M

ocbel é um fazedor de sonhos. Escritor de prosa saborosíssima, seus livros revelam um homem apaixonado pelo que faz e faz bem: literatura impregnada de esperança e de alta crença no seu semelhante. Criador da prosa prenhe de inolvidáveis reminiscências de um tempo e de uma gostosa Cametá de outrora e com isso, enriquece o cenário, fazendo história, sendo o agradável e importante memorialista onde todos vão se abeberar no afã de saber de que está cheio o texto pleno de contexto, intertexto e hipertexto das coisas de Cametá, com substantivos e adjetivos, a prosa simples e por isso mesmo, profunda desse narrador que recolhe em toda parte munição para nos contar as coisas e losas de Cametá, a história e a estória, aquilo que ao outro, nada e, vira

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crônica perfumada nas mãos de mago para nos recontar o que virou cultura popular, porque o povo é o lar do escritor. São preciosos os textos de Mocbel, for-

Mocbel é um fazedor de sonhos. Escritor de prosa saborosissima, is livros revelam um homem apaixonado pelo que faz e faz bem: literatura impregnada de esperança e de alta crença no seu semelhante. matados em livros ou nas páginas dos jornais onde e o atento porta voz do cotidiano de sua gente e de sua região, é o líder mostrando rumos, apontando caminhos,

se indignando, clareando, ofertando ideias, resistindo e registrando a prosa dos seus conterrâneos nos paires do afeto, nos matapis interativos de seus sonhos, nos aviús, no samba de cacete da resistência do que sabe onde quer chegar e chega, com sucesso. A Aldeia hoje é dos Parijós, tambem dos Mocbel, num exemplo de convivência da ternura entre raças e povos, mostra de paz que nasce no Tocantins, opera mundi. De tanto ler Cametá (do mesmo modo, contemporaneamente, o fazem, os talentosos Penafort e Victor Tomer entre outros), Mocbel tornou-se o próprio livro e vivo, itinerante, próximo, amigo, carinhoso e feliz! Aproveitemos a sabedoria de Alberto Moia Mocbel e como seus discípulos, digamos: obrigado, mestre.”


FOTO: adriana lima

“O POETA CAMETAENSE” Alberto Mocbel é poeta, contista, artista e escritor. Já foi Prefeito de Cametá por dois mandatos em 19..... Esta oto foi em sua residência.

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POESOFIA TERRA BOA E ABENÇOADA EXALTAÇÃO A CAMETÁ, EM HOMENAGEM AOS SEUS 350 ANOS DE FUNDAÇÃO. Terra boa e abençoada, Que encanta o viajor, Fonte que inspira a saudade, Fonte que inspira o amor. Terra boa e abençoada, Orgulho do Tocantins, Onde as águas são mais verdes, Onde as matas são jardins. Terra boa e abençoada, Que sonha e vive o luar, Onde, ainda, os passarinhos Pelas manhãs vem cantar. Terra do ritmo quente; Do famoso Siriá, Onde o Samba de Cacete Incita a gente a dançar. Terra que inspira a seu povo Amor e felicidade, Cada rua uma esperança, Cada esquina uma saudade. Terra dos homens notáveis, O berço dos Camutás, Dos Parijos denodados, Dos soberbos Pacajás. Terra-mãe de um povo bravo Que aos cabanos enfrentou, Dominando seus excessos Com coragem e com ardor. Terra que vive o presente, Sem o passado esquecer E usa em prol do futuro. A experiência e o saber. Terra onde reina a fartura Do aviú, do mapará, Do acaí - o pão do pobre Da castanha do Pará. Terra-Jardim dos Artistas. Plena de tantos valores, Onde vivi minha infância, Meus encantos, meus amores. Terra boa e abençoada! Pelos deuses encantada! Bandeira de encantos mil! Cametá! Berço da glória! Pilar-orgulho da História! Chão querido do Brasil!

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AMAZÔNIA, PARAÍSO DA ESPERANÇA De repente a Amazônia desperta, Do sono milenar em que sempre viveu. Rasgaram-lhe as vestes impiedosamente. Vilipendio tamanho, nunca, antes, sofreu. Devastaram suas matas inda virgens. Revolveram suas terras tão puras, Velhas árvores, de troncos gigantes, Foram ao chão ante a estranha loucura. A fera temível, fugiu assustada, O réptil vil, desapareceu, O pássaro deixou filhotes no ninho, A natureza, parece, enlouqueceu. O índio guerreiro que o temor ignora, Que de luta leal jamais se escondeu, Diante da fúria cruel, diferente, Caminhos difíceis, a fugir, percorreu. E a virgem floresta outrora intocável, A força brutal, então, sucumbiu. Feriram-lhe o corpo, abalaram-lhe a alma, Violaram a beleza que Deus construiu. Em resposta, imitando o exemplo de Cristo, Ofereceu aos algozes o outro lado da face, Abriu suas entranhas e disse ao progresso Que tirasse as riquezas de que precisasse. Ofereceu-lhe um abraço fraterno, Pra que juntos buscassem um novo porvir. Hoje são a certeza pra nós, para o mundo, De horizontes felizes ao nosso Brasil. Amazônia querida, das nossas Amazonas! Orgulhosa princesa que assombras o mundo! Diante de tanta riqueza, de tanta bonança, Infeliz quem te chama de “Inferno Verde”; Em vez de inferno és, sim, paraíso E teu verde o encanto da nossa esperança. SONETOS CABOCLOS Já ta em riba da hora, Cum licência, meu ermão, Vu metê meu fato nuvo, É festa de São João! Mermo “lambendo pachiba” Teje aqui, teje aculá, Vendu o ronco dos fogueti, A genti “vara” em Cametá! E “isturdi” essa verdadi, Te garantu, meu cumpadi, Mas num é cunversa não.

Quandu chega o mês de junho, Bandera do Santo em punho, Eu sinto uma cumichão! Du cumeçu ao fim da festa, Fica tudo arrivirado, E na cabeca do puvo, É dumingu ô feriado. Cum a vinda dos romero, Du sítio ô da capitá, Antão, é um Deus nos acuda! Rebuliça Cameta! Uns percura a catedrá - Nossa isgreja seculáPra fazê suas oração. Otros perfere ficá Dandu vorta no arraiá, No meio d’animação Quandu pinta no zuvido Azuada costumera Podi cunta que é o”mastro” E o cantu da lavadera”! Cumeça, no barracao, A dança do Bui Bumbá. A”Marujada” e as “Quadrilha” Dão um show, de arrepiá! Nu leilao, os escolado, Arremata os sirimbabu E mas, num importa quantu. Vez que, nu fim da festa, Essa genti que num presta, Passa o caloti no santu! Tem mapará, maniçoba, Tem pato no tucupi E na mesa nunca farta, Camarão frito e açaí. De nuiti é ficá zanzando, Patetando... teteé, Despus um banho de chero, De bubuia, na mare! Assim é a nossa festança, Uma fonte de esperança! Muita fé, muita emoção! Ouvindo os velhos dobrados, A gente volta ao passado. E balança o coração! Com us balão se misturando Lá cum as estrela, no céu


E os fogus culurido, “Quebra poti”, “pata cega”, “Tiração de argulinha,” “Corrida de pé no saco,” “pau de sebo” e bandeirinha! A criançada apruveita, Essa hora de culheita, Pra gastá os seus boró, Pirulito, bom-bocado, Bulachinha, rabuçado, Currupio, corro-corró Quagi nu fim da nuvena, Abre as porta dos salão, Tem festa pra tudo canto É hora da varrição. Com o Samba de Caceti Cumeça o sangue isquentá, E a muçada se balança, Na onda do siriá! É purissu, cumpanheru Que a festa do padruero, Da “Capitá do Aviú”, É a maió felicidadi Mata dô, mata sodadi, EU NUM GUENTO...EU JÁ ME VU!!!! TOCANTINS A propósito da erosão que, periodicamente, arrasta para as profundezas das águas, partes do querido chão cametaense. Amo o verdor de tuas águas; Intranquilas e agitadas; Sorrindo, em seu caminhar! Amo tua luta aguerrida! Amo as vidas que tua vida Está sempre a semear! Os teus “navios encantados”! Teus “botos enamorados”! Sereias e aparições São mensagens divertidas! São passagens coloridas São gostosas ilusões! Gravaste em minha lembrança, Os bons tempos de criança, Que já distante se vão, Quando em teu leito fagueiro, Tomava os “banhos de cheiro”

Nas noites de São Joao! Entanto és imprudente; Tua travessura inocente, Nos faz chorar e sofrer! E a maior tristeza encerra, Ver, aos poucos, nossa terra, Em teu seio perecer! Cada pedaço de chão Que sacia a sofreguidão De tua entranha infernal, Dói muito mais que a saudade Dói em profundidade, Como o golpe de um punhal! A nossa luta é a defesa: É conter tua natureza; Garantir nosso viver. Por que feres tanto a gente?! Por que a fúria inclemente?! Por que o castigo?! Por que?! Mais eis que embora sofrido, Meu povo reconhecido, Enaltece o teu valor, Glorifica a tua beleza E num gesto de nobreza, Canta ao mundo em teu louvor! Verde manto cristalino! Em tuas mãos o destino Deste sagrado torrão! Que é pela sua memória, Suas conquistas e glórias, Patrimônio da União! Teus cruéis últimos feitos Reabriram em meu peito As chagas da emoção! Ouve estes versos doridos, Que o poeta, entristecido, Fez, em forma de oração: “Tocantins! Tocantins! Te acalma! Este grito vem da alma! Cruza as armas do terror! Aceita a “bandeira branca “ Que Cametá te levanta! Pedimos paz! Por amor! OS SINOS ESTÃO CALANDO Os sinos da minha Terra, Sempre plenos de emoção, Estão tristes, estão mudos, Perderam sua vibração. Sua falta ‘inda é mais sentida Ao adormecer do dia, Quando alegres repicavam A hora d’Ave Maria. Os sinos da minha Terra Vibrando blim-blão, blim-blão, Eram vida, festa, harmonia,

Eram parte da oração. Os seus suaves acordes, Com as preces se confundiam E juntinhos iam subindo Rumo aos céus, rumo a Maria. Hoje sós e abandonados, Entregues a solidão, São tristeza, são saudade, São mudas recordações. Calar os sinos da Igreja É calar a tradição; É ferir sem justa causa A fé do povo cristão. Que voltem a tanger os sinos, Cujos acordes são hinos De paz, de amor e alegria. Que vibrem suavemente, Que cantem junto com a gente, As preces d’Ave Maria.

LUZES DA INSPIRAÇÃO

Capa do livro LUZES DA INSPIRAÇÃO de Alberto Mocbel. Obra publicado em 2009. Coletânea de poemas organizada pelo próprio autor em Cametá-Pará-Amazônia.

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ARTES VISUAIS

O

artista Constantino Pedro Chaves da Motta, que participou do cenário artístico no século XIX, é pouco conhecido e sua produção se perdeu quase que completamente, restando no Pará, apenas para apreciação do público, raras obras como a pintura Cólera Morbus, do acervo do Museu Histórico de Cametá e o retrato de Dom Pedro II localizado no Museu do Estado do Pará. No que se refere a tela Cólera Morbus, objeto dessa pesquisa, trechos chamam atenção pelo conteúdo de informação que nos leva a determinar o período de sua execução. Meira Filho (1985, p. 9) transcreve relatório apresentado a Assembléia provincial pelo presidente Henrique Rohan, datado de 15 de agosto de 1856, onde é feita a encomenda da pintura histórica como uma forma do artista demonstrar os conhecimentos adquiridos durante sua estada na Europa: 42 www.revistapzz.com.br

CÓLERA [...] Às expensas da Província, foi estudar pintura histórica em Roma o pensionista Constantino P. Chaves da Motta. Parecendo-me justo que se lhe proporcionasse a ocasião de apresentar um trabalho, por meio do qual se pudesse conhecer seu aproveitamento, encarreguei-o de compor um painel tomando por assunto a heróica dedicação do falecido vice-presidente Ângelo Custódio Correa, vítima de epidemia que o anno passado assolou está província. [...] para que a verdade histórica não fosse prejudicada na mais insignificante circunstância, deliberei que o pensionista fosse a Cametá, a fim de não só tomar a paisagem da Pátria do ilustre finado, como para obter todo e qualquer esclarecimento que julgasse necessário, para a execução do seu projeto. A tela encomendada para servir de prova de ofício, retrata a comitiva do Vice-presidente da Província Ângelo Custódio Corrêa à cidade de Cametá, prestando solidariedade

a comunidade assolada pela cólera. Após a conclusão da obra, Meira Filho (1975, p.13) esclarece que ela ficou guardada no Liceu Paraense (hoje Colégio Estadual Paes de Carvalho), sendo posteriormente entregue ao município de Cametá, não se conhece, até o momento, o período que ocorreu tal transferência. Portanto pode-se dizer que mais de cento e cinquenta anos após a sua feitura, está de volta ao cenário das artes paraense à obra de Constantino Pedro Chaves da Motta que recentemente passou pelas últimas etapas de restauração. O inicio da recuperação desse valioso bem para a história da arte paraense se deu com o estabelecimento de um convênio firmado entre a Secretária de Estado de Cultura e a Prefeitura Municipal de Cametá. Este convênio de cooperação técnica institucional tinha claro como objetivo a restauração da tela Cólera Morbus, pertencente ao acervo do Museu Histórico de Cametá Raimundo


RA MORBUS O artista Constantino Pedro Chaves da Motta, que participou do cenário artístico no século XIX, é pouco conhecido e sua produção se perdeu quase que completamente, restando no Pará, apenas para apreciação do público, raras obras como a pintura Cólera Morbus, do acervo do Museu Histórico de Cametá e o retrato de Dom Pedro II localizado no Museu do Estado do Pará.

CÓLERA MORBUS A tela encomendada para servir de prova de ofício, retrata a comitiva do Vice-presidente da Província Ângelo Custódio Corrêa à cidade de Cametá, prestando solidariedade a comunidade assolada pela cólera.

Penafort de Senna. A tela é uma pintura a óleo que apresenta atualmente as seguintes dimensões: 157 cm de altura por 335 cm de comprimento. Sua configuração original pelas características encontradas é que poderia apresentar entre 200 a 210 cm de altura, pois observamos que para a construção da tela o tecido (suporte) era constituído em três pedaços de cerca de 60 a 70 cm cada um, cerzido de forma delicada com pequenos pontos de costura. De grande dimensão, a obra apresentava avançado estado de degradação, com comprometimento estrutural tanto da pintura como de sua moldura. O suporte da obra e a camada pictórica possuíam danos resultantes do descaso e do abandono de décadas, com rasgos, vincos, ondulações, ressecamento, perdas de policromia, perdas de suporte e escurecimento da camada de verniz, o que comprometia a visualidade da gama cromática, onde quase não se podia perceber a temática abordada.

O trabalho foi realizado levando em consideração todos os critérios restaurativos, seguindo os princípios da legibilidade, estabilidade e reversibilidade, garantindo a sua integridade, facilitando e possibilitando que no futuro novos procedimentos restaurativos possam ser utilizados sem o comprometimento da Pintura. A restauração trouxe a luz importante informações sobre a Pintura de Constantino Pedro Chaves da Motta, comprovando, corrigindo e desmitificando alguns dados referentes à sua composição formal e estética e as comprovadas alterações sofridas ao longo dos anos. Restaurada, ela retoma seu status entre as pinturas históricas de maior importância do Estado do Pará, podendo ser novamente apreciada por todos. Iniciado em Outubro de 2009, o trabalho de restauro deste patrimônio cametaense e de nosso Estado foi encerrado no início de 2011 e hoje, 08 de Julho de 2011, o povo cameta-

ense e os visitantes vindos de vários cantos do Estado e do Brasil recuperam o direito e a possibilidade de novamente apreciarem no Museu Histórico de Cametá esta belíssima obra de arte. Também o prédio do Museu foi totalmente restaurado e ganhou um moderno sistema de climatização, o que possibilita segurança e condições adequadas de preservação de nosso acervo e maior conforto aos nossos visitantes. É a Prefeitura Municipal de Cametá e o Governo do Estado do Pará trabalhando para que a “Pérola do Tocantins” brilhe cada vez mais. Parabéns Cametá!

Texto: MAUÉS, Renata de Fátima da Costa. O desvelar da obra de Constantino Pedro Chaves da Motta. 19&20, Rio de Janeiro, v. VI, n. 2, abr./jun. 2011. www.revistapzz.com.br 43


ARTES VISUAIS

Raimundo Nonato de Castro

Andrelino Cotta: mais um vulto “notável” da história do Pará?

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ascido em Cametá – PA, no ano de 1896, Andrelino Cotta destacou-se pela produção artística realizada após a sua vinda para a cidade de Belém, onde passou a trabalhar na revista A Semana, como caricaturista e, depois dos anos 30 do século XX ganhou espaço pelas exposições dos seus quadros nos salões de arte que ocorriam na capital do Pará. Na condição de caricaturista, foi responsável pela ilustração das páginas de vários órgãos da imprensa do Estado do Pará, principalmente quando ilustrava os tipos carnavalescos, mas também com situações alusivas aos políticos da época. Foi professor de desenho da Escola Normal do Pará. Faleceu em 1972. Entende-se que a chegada de Andrelino Cotta na Revista A Semana, se deu pela apresentação à redação, pelo Pedro Bittencourt que “anunciava-nos a visita de um novo caricaturista, que se dispunha a emprestar seu lápis às páginas desta revista”. Portanto, fica evidente que a chegada do cametaense, ocorreu pelas relações de amizade entre os sujeitos que coordenavam aquela, tanto que “um dia, há mezes atrás, quando entravamos na redação, Pedro Bittencourt, sorridente, e demonstrando a sua amizade pela A SEMANA”13, apresentou aos diretores o Cotta. O texto de apresentação à sociedade coube ao redator chefe da revista Rocha Moreira. Até o momento, não encontrei elementos que dessem conta da influência sofrida pelo pintor para enveredar no caminho da caricatura. Contudo, importa lembrar que, durante os séculos XVII e XVIII muitos dis-

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cursos foram difundidos e colocados em debate por parte dos europeus, com o objetivo de justificar a condição de ser inferior, tanto de negros africanos quanto de índios americanos, o que permitiria seu domínio e sua condição de escravo14. Por outro lado, a agricultura indígena foi vista pelos europeus como uma alternativa a forma de implantação de povoados coloniais, pois: (...) cultivavam pouca mandioca e muito milho, do qual pagavam dissimo das sementeiras, que sam de grandes milharadas, e he o seu sustento, que nan usam tanto de mandioca para farinha como as mais nações. (...)15(Sic). Partindo deste ponto, podemos observar que as produções científicas, artísticas e culturais dos séculos XIX e XX tiveram seus alicerces nas produções dos séculos anteriores. E como a cidade de Cametá exercia uma forte influência sobre a capital, boa parte dos “notáveis” daquela cidade, assumiram postos importantes, pois estavam presentes na política, na religião, de modo, que exerceram tarefas relevantes na formação de diálogos e no combate aos conflitos ocorridos na região16. Fato que os sujeitos apresentados em forma de discurso durante o período colonial e imperial, ganharam novos elementos a partir das caricaturas produzidas nos séculos XIX e XX. Tanto que os debates sobre as florestas adquiriram novos aspectos. Já que a condição de civilizado relacionava-se com a forma como as árvores passaram a ser vista pela sociedade. De lugar escuro que representa a ignorância, adquiriram feições novas, dentre as quais, a econômica, garantindo um

aumento nas rendas públicas, pois a madeira deveria ser utilizada em construção de casas e navios. Thomas explica que “desde o século XIII, havia um comércio estabelecido de madeira para a construção e lenha”17, sendo que a prática de derrubada de árvores foi considerada crime.18 Esse aspecto é importante por demonstrar o quanto o homem passou a se apoiar no extrativismo natural, buscando novas riquezas nas florestas. Neste caso, a economia da borracha demonstrou o quanto era importante na condução do desenvolvimento do estado. Por isso, o período da Bellé Époque19 caracterizava-se como de grandes transformações, cujo imaginário persiste até os dias atuais. Neste cenário de heranças, o pintor passou a colocar na ordem do dia imagens representativas da cidade de Belém e de seus habitantes. Ou seja, passou a confrontar os elementos característicos da natureza amazônica, no cotidiano da cidade. Por esta razão, Cotta passou a conceituar o tema da arte, explicando a questão do ensino público na construção de valores, que conduziriam o povo em direção aos valores intelectuais e moral, os quais conduziriam o homem à formação de uma fortuna material. O ensinamento público é evidentemente o grande dever de um governo, conduz este, ao fim de todos os interesses de um povo; dá valor à revelação intelectual e moral assim como a fortuna material. O esplendor das artes não somente indica o mais alto grau de civilização de uma sociedade, como é o sinal mais claro de prosperidade que indica a preponderância de seu comércio e de


suas indústrias. Iguala os menores países às maiores nações20. Por conseguinte, o pintor e caricaturista Cotta demonstrava uma preocupação com o ensino público de valorização das artes. Para ele o ensino deveria dar conta de assegurar um “alto grau de civilização” da sociedade, o que levaria a certa igualdade entre as nações. As ideias de Cotta estavam, portanto, de acordo com os valores que haviam sido defendidos por outros intelectuais da época. Evidencia-se que a contribuição dos comerciantes e negociantes europeus foi importante na formação de um imaginário de civilidade e na construção da identidade amazônica. Duque-Estrada ao fazer referência aos “estadistas”, destacava que “nos nossos dias, viram nas belas artes o meio prático de elevar o nível moral geral”21. Ao lado destes conceitos, a história da pátria deveria estar presente na vida dos estudantes brasileiros, por esta razão diversos trabalhos foram editados, cuja finalidade residia na apresentação dos heróis nacionais, ao mesmo tempo em que construiriam uma história da nação. Analisando o contexto, Cotta, nascido no final século XIX, provavelmente teve contato com a produção pictórica e escrita do paraense Theodoro Braga, que publicou, em 1898, “Pontos de História do Pará”, essa obra foi considerada importantíssima na construção de uma identidade nacional daquele contexto22. Quando o pintor Cotta atuava na revista A Semana, outro trabalho de Raymundo Proença e Silvio Nascimento intitulado “Noções de história da pátria” foi publicado em 1926 e, destinava-se aos alunos que cursa-

vam o 3º ano do curso elementar. Este pequeno livro era uma espécie de manual, que se destacaria como as “primeiras e as mais remotas balizas que norteariam a vida do futuro cidadão”23. Portanto, os jornalistas e o pintor estavam inseridos neste grupo, transformaram-se em sujeitos que foram capazes de disseminar a cultura, de modo a intensificar o processo de construção e formação da opinião pública. No caso específico, as caricaturas vinham acompanhadas de narrativas curtas, sintéticas, tensas, enxutas, contos-casos, ou seja, textos relâmpagos. Allan Poe afirmou que: O Progresso realizado em alguns anos pelas revistas e magazines não deve ser interpretado como quereriam certos críticos. Não é uma decadência do gosto... É, antes, um sinal dos tempos; é o primeiro indício de uma era em que se irá caminhar para o que é breve, condensado, bem digerido, e se irá abandonar a bagagem volumosa; é o advento do jornalismo e a decadência da dissertação. Começa-se a preferir a artilharia ligeira às grandes peças. Não afirmarei que os homens de hoje tenham o pensamento mais profundo do que há um século, mas, indubitavelmente, eles o têm mais ágil, mais rápido, mais reto... 24. O pensamento acerca da imprensa e da sua evolução literária, demonstrava claramente a forma como as informações passaram a chegar ao público letrado. Contudo, a partir da introdução dessas imagens, divertidas, o não letrado poderia ver os caricatos sociais expressos nas páginas das revistas e dos jornais.

REFERÊNCIAS 13 MOREIRA, Rocha. Caras e Caretas. Revista A Semana, Belém, 02/07/1921. 14 THOMAS, Keith. O homem e o Mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1500-1800). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 15 UGARTE, Auxiliomar. Sertões de Bárbaros: o mundo natural e as sociedades indígenas da Amazônia na visão dos cronistas ibéricos (séculos XVI -XVII). Manaus: Editora Valer, 2009, p. 523. 16 Dentre os cametaenses destacam-se os bispos Dom Romualdo de Seixas e Dom Romualdo de Sousa Coelho, para mais informações ver: MOCBEL, Alberto Móia. Lembranças e esperanças. Belém: Grão-Pará, 1996. 17 ________. O homem e o Mundo natural, p. 281. 18 A Lei Florestal proibia a invasão, o desperdício e a erradicação. Um proprietário que vivesse sob sua jurisdição não podia cortar suas próprias árvores sem permissão de quem de direito. ________. O homem e o Mundo natural, p. 285. 19 Sobre a Belle Époque na Amazônia Ver: SARGES, Maria de Nazaré. Belém: riquezas produzindo a belle-époque, 1870-1912. 3ª ed. Belém: PakaTatu, 2010. DAOU, Ana Maria. A Belle Époque Amazônica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. 20 COTTA, Andrelino. Considerações sobre artes decorativas: A aplicação da nossa flora e fauna nos produtos industriais. Revista A Semana, Belém, Belém, 18/05/1935. Ano 17, nº 847. Não paginado. 21 DUQUE ESTRADA, Osorio. O norte Impressões de viagem. Porto. Livraria Chardron, 1909, p. 43. Raimundo Nonato de Castro Doutorando em História Social da Amazônia UFPA Professor do Instituto Federal de Educação do Pará

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ARTES VISUAIS

Carlos Pará

O POETA DO PINCEL Andrelino Cotta é o poeta do pincel, que tem deliciado os amantes da pintura, com magníficos trabalhos, elogiados pela crítica, obtendo prêmios nas exposições oficiais a que se tem apresentado.

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rtista cametaense, Cotta nos legou telas eivadas de calor, no belo mormaço e nas águas barrentas de Litoral de Mosqueiro ou na mata de igapó em Floresta, ambas de 1944. Importante se notar que Andrelino Cotta fez parte de uma geração de artistas que militou no modernismo de um modo muito peculiar. Além de seu interesse pela pintura, muito jovem esteve inserido no cenário intelectual paraense como caricaturista na revista A Semana e também como capista de folhetos de cordel publicados pela editora Guajarina, assim como ilustrador do jornal Folha do Norte e da Revista Pará Ilustrado, na década de 1940. Sua formação como pintor foi feita inteiramente no Pará, com José Porfírio de Leão, José Girard e Clotilde Pereira e, já em 1931, começa a dar aula de arte decorativa no Colégio Lauro Sodré, com grande prestígio nos círculos intelectuais da cidade (LIMA, 2011). O museu como patrimônio, a república como memória: arte e colecionismo em Belém do Pará (1890-1940)Aldrin Moura de Figueiredo.

POETA DO PINCEL Andrelino Cotta é o poeta do pincel, que tem deliciado os amantes da pintura, com magníficos trabalhos, elogiados pela crítica, obtendo prêmios nas exposições oficiais a que se tem apresentado. Os quadros que vão ser expostos à apreciação do público foram inspirados no emaranhado de nossas florestas e na 46 www.revistapzz.com.br

vida pacata do caboclo amazônico, merecendo por isso, a atenção de quantos se interessam pela arte. EXPOSIÇÃO CASA LOUEREIRO As atividades de exposição e comercialização, até os anos 1950, não encontravam um lugar apropriado com estrutura para este fim, somente em 1951 é que o primeiro espaço foi inaugurado, a Galeria Loureiro, com um curto período de atividades, quatro anos apenas. Neste período de existência abrigou exposições de “Andrelino Cotta, em 1951; de Leônidas Monte, em 1952; de Baltazar da Câmara, de Tadachi Kaminagai e a coletiva de pintura e escultura de Ruy Meira e João Pinto, em 1954” (MEIRA, 2008, p.112). Em exposição de quadros na Galeria Loureiro que ficava no Centro de Belém na rua Manoel Barata 200, Andrelino Cotta participou da data em que se comemora o Dia do Trabalho onde expôs cerca de cinquenta telas a óleo moldadas em vários motivos regionais. “Vai o artista das cores mostrar a sua tendência para os cenários praianos, folclóricos, aspectos suburbanos poéticos e rústicos, águas tranquilas e sombreadas de matupás, bem característica da nossa Amazônia” menciona nota publicada na Folha do Norte. Essa galeria foi muito visitada por autoridades e intelectuais durante toda a exposição, bastante frequentada pelos amantes da arte, já tendo sido adquiri-

das varias telas, uma galeria de quadros de sua autoria imaginados em motivos amazônicos: 1- “Fim de Tarde; Trechos do Ariramba - Mosqueiro; Reflexos do Sol Poente; Tronco à margem; Água Corrente; Floresta Sombria; Trechos da Praia; Marituba; Coqueiros na Praia; Clareira na Floresta; À Margem do Rio Corrente; Nostalgia do Sol Poente; As árvores rebrilham ao Sol; Poesia Verde; Trecho de Praia - Chapéu Virado; Recanto do Chapéu Virado - Mosqueiro. NOTAS SOCIAIS PELOS BASTIDORES SOCIAIS Andrelino Cotta, figura expressiva em nossos meios artísticos pelo seu valor na


perícia de manejar o pincel, inaugurou no dia 7 do corrente, no salão da “Casa Loureiro”, mais uma exposição de suas telas de motivos amazônicos. Não foi sem razão, que as dezenas de pessoas amantes da arte de Velasqyez, Rubens, Leonardo da Vince, Van Gogh e tantos outros pintores célebres, comparece do, para admirar o sentimento artístico de Andrelino Cotta, transportando para a tela, pois em nossa apreciação, esse pintor paraense é um verdadeiro poeta do pincel, que canta a poesia do belo através de seus traços em cores harmoniosas em que a batureza é a principal musa.... De quarenta e cinco telas se compõe a exposição de Andrelino Cotta e, muitas delas já foram adquiridas, o que bem representa o sucesso que essa exposição de pinturas está obtendo e o reconhecimento, por

parte dos entendidos da arte do valor desse pintor paraense. É assim, Andrelino Cotta vai obtendo os loiros que o seu sentimento de artista valoroso merce, como também, vai soerguendo a cultura artística em nosso Estado, onde o artista luta contra vários fatores, fatores esses, que, se o artista não amar com ideal a sua arte, acaba fracassando, Andrelino Cotta, porém, jamais esmoreceu, muito embora enfrentasse e enfrente as vicissitudes de sua nobre arte, acaba fracassando. Andrelino Cotta, porém, jamais esmoreceu, muito embora enfrentasse as vicissitudes de sua nobre arte, porque cada vez mais capricha e aprimora o seu talento e o seu dote de um eximio pintor. Essses “Bastidores Sociais” , não podia deixar de focalizar a exposição das des-

lumbrantes telas de Andrelino Cotta e por isso, fomos até o local da referida exposição, onde contemplamos e admiramos a beleza da natureza amazônica, transportada para a tela em cores harmoniosas pelo pincel mágico desse grande pintor, que é Andrelino Cotta. Está portanto de parabéns, o pintor Andrelino Cotta, por mais esse seu sucesso nas artes e que ele continue sendo apóstolo delas, obtendo os êxitos, que o seu grande e reconhecido pendor artístico conquistou e sempre há de conquistar, para a grandeza do mundi artístico do Pará!

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POETA DO PINCEL Andrelino Cotta é o poeta do pincel, que tem deliciado os amantes da pintura, com magníficos trabalhos, elogiados pela crítica, obtendo prêmios nas exposições oficiais a que se tem apresentado.

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DOCUMENTÁRIO

Viviane Mena Barreto

MAPA PICTOGRÁFICO DA CULTURA RIBEIRINHA

O MAPA PICTOGRÁFICO DA CULTURA RIBEIRINHA AMAZÔNICA PARAENSE DESENVOLVIDO como tese de mestrado PELA PESQUISADORA VIVIANE MENA BARRETO, Tem como objetivo criar um novo conjunto de imagens sobre a Amazônia e através da divulgação nos meios de comunicação inserir estas paisagens no imaginário do do Brasil. uma expedição multicultural, uma grande viagem, pelas comunidades caboclas.

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sta pesquisa situa-se no universo das Cartografias Pictográficas e tem como carta de itinerário o ciclo de festas populares dos caboclos ribeirinhos da Amazônia Paraense.Tem como objetivo criar um novo conjunto de imagens sobre a Amazônia e através da divulgação nos meios de comunicação inserir estas paisagens no imaginário do resto do Brasil. Esse é o diferencial desta dissertação: são duas vias que confluem no mesmo ponto, saem da artista e pesquisadora e vão seguindo infinitamente enquanto representação plástica construída através de uma grande viagem, pelas comunidades caboclas. O universo conceitual de Jerusa Pires Ferreira, organizado a partir da transcrição de aulas gravadas, criou os primeiros tópicos teóricos da dissertação. Utilizamos também a obra de Ana Maria de Morais Beluzzo sobre os Artistas-Viajantes; o universo de Darcy Ribeiro e João de Jesus Paes Loureiro sobre a cultura cabocla e suas poéticas; os livros de Marlyse Meyer para entender as antropofagias da cultura popular e a te-

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oria do mundo invertido de Bakhtin para refletir sobre os mascaramentos na festa popular. Então, ampliamos o universo do festeiro, retirando-o do localismo e redimensionando-o na universalidade a partir dos estudos de Paul Zunthor. Mas não pensamos teoricamente com aparelhos estáticos. Pensamos de modo que a teoria nos propiciasse a deslocação do olhar através da nossa própria obra pictórica, encarada

A categoria de Artista-Viajante vai ser o norte desta dissertação. Ela tem a ver com a viagem em si, ou seja, com a idéia do rio, que tomamos como epígrafe; tem a ver com a grande viagem pela memória; tem a ver com a idéia da conexão entre o meu trabalho de reflexão e o meu trabalho plástico. como veiculo de comunicação entre estes dois mundos. Nesse campo, discutimos a possibilidade de criação e difusão de redes imagéticas através de projetos artísticos

midiatizados que mostram o imaginário das minorias. E finalmente questionamos a necessidade da divisão de uma só cultura em erudita e popular. O corpus de análise adotado trata das mudanças dos papeis sociais do festeiro e exemplifica processos de atualizações de uma tradição, através do carnaval de Joaba, região de Cametá e do Boi de Máscaras de São Caetano de Odivelas. As conclusões alcançadas mostram como a comunidade festeira cria um território encantado e como a artista-viajante midiatizando esta voz amplia seu alcance. Nesta edição especial da Revista PZZ vamos destacar o Capitulo II da disasertação - Comédias Flutuantes em Joaba, Cametá/PA.

ARTISTA-VIAJANTE A pesquisa que desenvolvi sob orientação de Jerusa Pires Ferreira no programa de Comunicação e Semiótica situa-se no universo das Cartografias Pictográficas da Amazônia Paraense e tem como carta de itinerário o ciclo das festas populares dos caboclos ribeirinhos. É um trabalho de característica artística, construído sobre um projeto de captação de memória. A categoria de Artista-Viajante vai ser o norte desta dissertação. Ela tem a ver com a viagem em si, ou seja, com a idéia do rio, que tomamos


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DOCUMENTÁRIO como epígrafe; tem a ver com a grande viagem pela memória; tem a ver com a idéia da conexão entre o meu trabalho de reflexão e o meu trabalho plástico. Enfim, ela é a chave desta grande viagem que é ver, representar e depois conectar para pensar sobre este percurso. Viajando através do rio Amazonas e seus afluentes falei com os fazedores da festa, seus filhos, amigos e vizinhos. E percebi que estes artistas, além de estarem ligados a festa, desenvolvem uma pluralidade de atividades tradicionais. A mesma senhora que é parteira também mantém a tradição do samba nos roçados de mandioca de Joaba . O dono da festa de Nossa Senhora do Rosário bate tambor para o enredo do boi-bumbá. O brincante do boi de máscaras dança quadrilha e milita politicamente na juventude da igreja e do PT de São Caetano de Odivelas . Estes são alguns

Nesse campo, discutimos a possibilidade de criação e difusão de redes imagéticas através de projetos artísticos midiatizados que mostram o imaginário das minorias. dos muitos entrevistados que colaboraram para a construção desta dissertação. Com eles compartilhei da alegria das festas, brinquei nos cordões carnavalescos, nas comédias da bicharada e nas encenações itinerantes do boi de máscaras. Ao mesmo tempo em que pintava estas festas, descobri os ofícios desses caboclos e me solidarizei com suas dificuldades. Desta forma a festa que vou mapeando nesta viagem, inclui vivências, descobertas, avanços, retrocessos, trocas, dádivas e energias corporais vitais e é isso que chamo cartografia. O Mapa Pictográfico é um trabalho que se desenvolveu criando mil tentáculos, mil idas e vindas e provocou interferências sobre o social das cidades por onde passou nestes últimos quatro anos. Integrando as expedições fluviais da Universidade Federal do Pará pelo interior da Amazônia (IFNOPAP) fui onde os artistas estavam, entrei em suas casas, dormi em suas redes, escutei suas histórias. E foi com esta intimidade que fotografei e pintei o que me pareceu mais importante da festa. Achei que dividir os resultados das pesquisas de campo com eles era a coisa certa a se fazer. Assim voltei às comunidades ribeirinhas no ano seguinte a pesquisa de campo para devolver-lhes através de exposições, suas imagens modificadas por minha linguagem visual. Levei exposições desta cartografia a Abaetetuba, Cametá, São Caetano de Odivelas, ao arquipélago do Marajó e a algumas cidades do rio Xingu. Inicialmente as mostras eram flutuantes e aconteciam no interior do Catamarã Pará .

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PICTOGRAFIAS O universo das Cartografias Pictográficas da Amazônia Paraense tem como carta de itinerário o ciclo das festas populares dos caboclos ribeirinhos. É um trabalho de característica artística, construído sobre um projeto de captação de memória. Acima o Mestre Engole Cobra da Comunidade do Joaba, Cametá (PA).

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DOCUMENTÁRIO

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m Cametá, relato o encontro com bos os sexos ou entre as famílias da vila .... os mascarados da Bicharada, gru- asperção de água ou mesmo de líquidos po muito famoso na região, que repugnantes, arremesso de farinha, lama, encena comédias denunciando a cinzas ... grupos de mascarados perambuameaça de extinção da fauna da floresta e lavam pela aldeia ou iam de uma aldeia a dos rios. Usar fantasias de pelúcia parece outra, cantando e fazendo o maior barulho uma prática meio surrealistas para o clima possível com tamborins, sinetas, cornetas, de verão amazônico. Mas é o que acontece ou até mesmo panelas e outros utensílios quando eles tentam reproduzir fielmente, de metais.” na aparência e nos movimentos, cerca de Segundo alguns relatos, os antepas60 animais da floresta. sados de Vital criaram o Cordão de MasNo carnaval em Joaba, vila quilom- carados Ultima Hora, para brincar em um bola do município de Cametá situada às aniversário.Ele conta que “no dia marcado, margens do rio Tocantins, quando chega a umas seis horas antes da festa começar, comunidade algum grupo de mascarados eles se esconderam com as máscaras na de barco, vindo das ilhas vizinhas, para en- floresta rio abaixo, se prepararam no mato cenar comédias carnavalescas, a platéia escondidos e a noite se mascararam pra da terra firme não se integra à brincadeira. não serem identificados pelos convidados. Os atores principais cheNaquela época, antes gam e saem incógnitos Em Cametá, relato o encontro da festa de aniversáusando máscara de papel com os mascarados da Bicha- rio começar, era feito -marchê, enquanto os coreza em ação de rada, grupo muito famoso na uma adjuvantes se camuflam graças para o aniverregião, que encena comédias sariante e só depois com aquelas de plástico que reproduzem o rosto a música começava. denunciando a ameaça de de políticos como Lula, os brincantes extinção da fauna da floresta Quando Bush, Bin Laden etc. chegaram na vila a e dos rios. Usar fantasias de reza já havia acabado. Vital e o Bloco de pelúcia parece uma prática Então eles foram remando devagar ,em Mascarados Última meio surrealistas para o clima um casco grande, toHora de verão amazônico. Mas é cando e dançando o “Naquele tempo, no carde cacete só o que acontece quando eles samba naval, o Cordão de mascom as máscaras e a tentam reproduzir fielmente, roupa do corpo. Encarados tinha as palestras dele. Não era assim estas na aparência e nos movimen- tão, quando terminou palavras de hoje. Porque fornada do samba, tos, cerca de 60 animais da acomo naquele tempo os carnaeles dizem em floresta. valistas ajogavam poesia. Cametá, eles não se Hoje em dia não, a poesia mostraram , foram deles é balanceando a família: se o camara- embora mascarados, e ninguém soube da bebe, se fica porre, se a mulher não trata quem eram eles.” bem o marido; é isso a poesia deles. Naquele tempo não, eram aquelas lindas poe- “O ritual de travestimento se relaciona com sias que eles falavam, igual como a Princesa muitas superstições e rituais ligados com o Isabel falou o discurso dela pro D.Pedro...” culto de um só ser andrógino original que conta Benedita. logo se dividiu em duas formas separaSob o manto da tradição do entrudo das...o principio masculino e feminino...o português, os ribeirinhos que já se pinta- yin e yang”. Vital descreve o cordão ‘Ultima vam e faziam o carnaval em família muito Hora’ original como “um grupo composto antes de 1946, começaram com essa tradi- por dez personagens, sendo cinco homens ção dos cordões. “Chama-se entrudo o an- vestido de mulheres e cinco mulheres vestigo Carnaval português, o termo significa tida de homem que saíam em um casco “entrada”,segundo dizem para festejar a grande, com remos de faia.Hoje em dia o entrada da primavera....As práticas festivas grupo é formado somente por homens que eram gerais no país; existiam sobretudo ainda saem travestidos. “O travestimenem determinadas regiões e aldeias... um to é considerado como uma instância de cortejo seguia um boneco chamado En- neutralização ritual de oposições semiotitrudo ou João... em um ou vários festins camente significativas, e neste caso a opose comia chouriços, salpicões, presuntos... sição macho/fêmea.” Mas a androgenia e a aconteciam troças entre os jovens de am- bissexualidade não tem nenhuma relação

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com a sexualidade propriamente dita. Para entender este conceito “é necessário não se limitar a interpretação biologicamente sexual do conceito de opostos e pensar na imagem de um super-homem imaginado que unifica pelos opostos” A turma fantasiada não remava, porque eles precisavam ficar bonitos, só dançando e tocando. Por isso, além dos dez atores, iam no barco o piloto e três remeiros: dois deles iam no faia e um ia na parte de traz da embarcação. Assim nasceu o Bloco de ‘Última Hora’, do ‘Tem Tem’ um entre os muitos grupos existentes ainda hoje nas ilhas em torno de Joaba. Além dele, tem o Rei da Brincadeira do Rio Pacovatuba’, o Pirata do Amor do Turema, o Bola Preta do Viseu, o Linguarudo de Santana e os Príncipes Foliões de Mutuaca. Esses cordões trazem junto ao nome a designação da sua ilha ou de um furo de rio - denunciando sua origem.


municação, o primeiro que impressiona o público e produz uma sensação visual de profunda significação. Ele transmite mais segurança aos participantes que o ritmo ou a melodia.” As pessoas mascaradas assumem novos papeis sociais.No total são nove pessoas usando chapéus e capacetes pintados, coloridos, alguns enfeitados com penas.Homens vestidos de mulher trajam saias coloridas bordadas, uma mistura de cores fortes com lantejoulas e rendas. Os outros usam uma espécie de terno de cetim. Todos estão anônimos com máscaras de papel marchê coloridas amarela, verde, rosa onde dentes enormes ou bocas exageradas criam um mesclado de medo e bom humor. “A máscara reveste. A mascara

As máscaras artesanais do cordão Última Hora misturam-se às de plástico industrial compradas em qualquer mercadinho na época do carnaval e que reproduzem pierrôs e políticos que estão no poder. Mas em Joaba elas são transformadas com bigodes, cavanhaques e outras grafismos feitas a mão o que da o toque da personalidade do brincante.

Hoje os blocos não viajam mais de barco a remo, são transportados em barcos a motor. Mas a trupe continua com a mesma hierarquia de palhaços que saem das ilhas mascarados com fantasias de cetim encenando comédias carnavalescas sobre acontecimentos da época, e fatos que durante o ano movimentaram a opinião publica de Joaba e do Brasil . Entramos no barco a óleo quando já estava quase escurecendo. A banda vai tocando marchinhas de carnaval. A música do sax, trompete e dos tambores cobre o som de popopó do motor a óleo de nossa barca que por vinte minutos avança pelo rio até o sítio de Vital Batista. Por algum tempo a paisagem era só de mata, vento, música e o pôr do sol .Mas logo surgiram algumas casas cercadas de muitas plantas: açaizais, capins, miritizeiros, ucubeiras, turiás, aningais. A floresta domina por um bom tempo o cenário das

margens do Tocantins e só então começam a surgir pequenas praias. Crianças empinando pipas aqui, namorados caminhando abraçados mais adiante em outra praia, parece que todos aproveitam o pôr do sol na orla que se formou na maré vazante. O sitio de Vital só tem uma casa. Alguns patos nadam no rio ao lado das crianças. Três delas, com cerca de nove anos trocaram as brincadeiras no rio pelas delícias de comer mangas ao pé da árvore. Outras sentadas na praia sobre uma canoa usam roupas de cetim colorido. Quando elas vêem que a banda chegou não esperam o barco ancorar. Começam a dançar e chamar os brincantes que estavam dentro da casa. Logo mais pessoas fantasiadas aparecem na janela, na porta da casa, na praia. “O vestuário é o primeiro elemento de co-

despe. O homem perde a sua personalidade social, é o seu escudo protetor, a sua representação diante do social. A máscara veste o individuo de uma personalidade arquétipa, de um padrão ancestral, de uma nova potencialidade.” Às máscaras artesanais do cordão Última Hora misturam-se às de plástico industrial compradas em qualquer mercadinho na época do carnaval e que reproduzem pierrôs e políticos que estão no poder.Mas em Joaba elas são transformadas com bigodes, cavanhaques e outras grafismos feitas a mão o que da o toque da personalidade do brincante.“A máscara significa o espírito, o sopro inatingível, o imaterial, o espírito vital da natureza. A máscara tem a função de concretizar o abstrato e travestir o ser humano da qualidade espiritual. Quando um homem reveste-se da máscara e das roupagens e pinturas rituais, ele abandona sua encarnação cotidiana e mortal para, naquele momento ser e representar o espírito” Mestre Zenóbio, músico e produtor cultural que com seu sax tenor acompanha a maioria dos cordões de mascarados de Joaba sabe bem disso. Ele criou um novo tipo de cordão : bicharada. www.revistapzz.com.br 57


DOCUMENTÁRIO A BICHARADA DO MESTRE ZENÓBIO E A COMUNIDADE DA FESTA Em 1975 Zenóbio Gonçalves Ferreira começou a se preocupar com tanta coisa que vinha acontecendo na Amazônia: poluição, desmatamento, assoreamento dos rios. Então ele reuniu os amigos e “ tivemos a idéia de criar um grupo de animais que levassem uma mensagem aos nossos governantes para que parassem com a devastação. No primeiro ano criamos 28 bichos de malva e juta, criamos uma domador e fomos fazer comédias. O cavalo, o boi, o leão, o urubu, a girafa, o jacaré contavam um pouco das dificuldades da sobrevivência na selva. “ E impressionavam os ribeirinhos que nunca tinham ficado tão próximos dos animais ou escutado o que falavam. Zenóbio criando a Bicharada fez uma atualização do Cordão de mascarados. Mudou os personagens e o discurso e nestes últimos 30 anos, vem ganhando cada vez mais popularidade. Apresenta-se no carnaval, nas festas da padroeira nas ruas da vila de Joaba e em

Vital descreve o cordão Ultima Hora original como “um grupo composto por dez personagens, sendo cinco homens vestido de mulheres e cinco mulheres vestida de homem que saíam em um casco grande, com remos de faia .Hoje em dia o grupo é formado somente por homens que ainda saem travestidos. Cametá onde lota o estádio de futebol. Hoje são mais de 64 personagens, feitos de pelúcia que imitam com detalhes a pele, os pés, as caudas, as jubas dos animais da floresta. Os atores imitam os movimentos dos animais. A preguiça move-se lentamente, o jacaré rasteja, o gorila, entre um e outro pulo, para um tempo pra se coçar, enquanto um banda composta por um sax, um reco -reco, um banjo, um tambor e um cavaquinho executa marchinhas carnavalescas. Um dia a mídia descobriu mestre Zenóbio e ele apareceu no Fantástico, dizem que foi neste dia que Joaba entrou no mapa(sic). Depois disso, os brincantes sonham com o dia em que as festas de Joaba ficarão tão famosas quanto o boi de Parintins. A apresentação da bicharada sempre é a atração principal do fim de semana festivo que encerra as homenagens feitas aos padroeiros São José e Nossa Senhora da Misericórdia. Por dez dias, desde cedo Zenóbio, homem alto, magro e meio calvo começa a trabalhar pela festa. Além da apresentação 58 www.revistapzz.com.br

Mestre Zenóbio e a Bicharada, obra em aquarela sobre seda de 2004. artística da bicharada e de acompanhar com seu sax as apresentações de vários grupos, ele é responsável pela organização do Festival Cultural Joabense, onde se apresentam cerca de trinta manifestações da cidade e da vizinhança. A comunidade prepara a praça para a festa com bandeirinhas e estandartes coloridos. Enquanto as mulheres organizam as prendas do leilão e enfeitam a igreja com flores de plástico os brincantes da bicharada se revezam: uma hora consertam as fantasias dos animais re-colocando o que caiu na última apresentação com cola quente, agulha e linha; outra hora preparam o arraial. Os homens montam o palco e depois da estrutura pronta começam a fazer a decoração dele com folhas e galhos para simular uma floresta. Hoje a bicharada se apresentará lá, no palco-floresta hipnotizando a criançada que quando pode assedia a bicharada puxando o rabo dos animais, tentando passar mão na pelúcia macia. Longe de lá outros brincantes também

se preparam para suas apresentações.O dono do boi Campineiro retira do forro da casa o boi todo enrolado em plástico, tira o pó acumulado por cerca de um ano e começa a arrumar o couro do animal. É o Mestre Zenóbio quem consegue também os materiais necessários para a manutenção das brincadeiras. Passeando pelas ruas de Joaba pode se ver fantasias de quadrilha no varal tomando sol, em outra casa um homem devoto de Nossa Senhora do Rosário ajeita farda que vai usar na sua apresentação. Seu nome é João Procópio de Aragão Tavares, 68 anos, lavrador, ele é coordenador do Bambaê do Rosário. Apesar de ter perdido uma das mãos trabalhando em uma serralheria ele ainda toca tambor para muitos grupos da cidade. “Todos dançantes do Bambaê dançam porque fazem a promessa pro santo. Eu fiz promessa de um ano cantar na festa ,são quinze versos um independente do outro em um rito permeado de rezas e da coroa-


MESTRE VITAL Segundo alguns relatos, os antepassados de Vital criaram o Cordão de Mascarados Ultima Hora, para brincar em um aniversário.Ele conta que “no dia marcado, umas seis horas antes da festa começar, eles se esconderam com as máscaras na floresta rio abaixo, se prepararam no mato escondidos e a noite se mascararam pra não serem identificados pelos convidados.

ção do rei e rainha da festa. Mas o meu irmão que era um representante da festa morreu e eu no mesmo ano peguei a responsabilidade pra mim de colocar o santo.” Explica Seu Procópio como é conhecido na vila. Foi de sua mãe Maria Lopes de Aragão, que era muito católica, que ele herdou sua fé. Além dele ela teve mais cinco filhos, poucos para a média local. Um pouco mais adiante, andando através de uma rua toda gramada em uma casa de madeira, uma mulher de cabelos brancos passa com cuidado suas melhores roupas para usar no dia da festa. Ignorando que as ruas de Joaba são de areia ela separa um sapato preto meio surrado com salto carrapeta para engraxar. Mais uma vez ela irá sair pelas ruas da vila arrecadando verbas para pra comprar fogos,velas pra colocar no altar do padroeiro. Dulcinéia Garcia Machado,73 é ornamentadora da festa de São José. Ela dá uma cooperação de dez reais para comprar flores lâmpadas e tudo que for de bom para enfeitar o altar. Além disso, ela cuida da Praça São José Machado Silva que será responsável pelos rojões, que de hora em hora deverão ser disparados em reverencia a

santa, no dia de hoje,já que cada rua se responsabiliza por um dia da novena. Dulcinéia prometeu ao santo ser ornamentadora. Como ela muitos devotos no dia da festa estão pagando promessas. Tem devoto que no dia da missa dão farinha pra tudo quanto é criança, outros fazem promessa de varrer ou lavar a igreja.Cada noite tem uma que faz sua promessa de ornamentar o altar. Dulcineia explica: “Por exemplo hoje é minha mordomagem aí eu vou, faço o melhor que eu puder lá e assim que é essa festa.” Na verdade em muitas ruas às vezes, moram apenas uma família. Entre sobrinhos, primas e irmãs foi se formando, por exemplo, a rua Correia de Mendonça que será responsável pelos fogos de artifício da festa de São José. Através dessa rua chega-se a igreja da vila. Lá, durante toda festa Manoel Tavares Alho, 74 anos, um trabalhador rural de pouca estatura e muita disposição desempenha uma função muito importante na festa: ele é responsável por bater o sino pra São José e pra Nossa Senhora do Rosário durante a novena. Como todos os moradores da comunidade ele também acumula outras funções na festa. Ele vende rifa durante o leilão dos donativos arrecadados e participa da mordomagem: joga fogos pro santo, compra velas, distribui a sopa para a comunidade visitante que vem das ilhas pra rezar por São José. Mas o que Seu Manoel mais gosta mesmo é de bater o sino da igreja coisa que só faz por ocasião da festa de santo ou quando chega algum cadáver. Assim vai se formando a paisagem do Festival Cultural Joabense. No arraial chegam os ambulantes vendendo roupas e brinquedos. Mas, a sensação das crianças este ano foi o vendedor de bolinhas. Um negro carioca da baixada fluminense que com roupa de jogador de basquete americano viaja de festa em festa fazendo uma performance circense para vender por 50 centavos uma espécie de iô-iô. As crianças seguem o homem conhecido por Bolinha até um carrinho de hambúrguer que esta estacionada ao lado do tabuleiro da tacacazeira . Ele come um lanche obser-

vado pelas crianças que não estão familiarizadas com fast-food e se dirige a uma mesa de jogos de azar, onde um homem ardilosamente manuseia dados sobre um tabuleiro colorido que mistura emblemas de futebol com jogo do bicho. Desde cedo, uma aparelhagem de som toca brega ininterruptamente até o por do sol, quando todos se rendem ao ritmo e dançam sensualmente na praça. Não muito longe dali, aonde ainda se escuta o som da aparelhagem uma senhora não poderá ir a festa. O nome dela é Benedita Cardoso Gomes. Ela é a parteira da cidade e enquanto todos estavam no “leva- leva” do festival ela corria para fazer mais um parto. “Às vezes passemos a noite tudo, sete horas na assistência. Os médicos se admiram da minha resistência. E tem vez que eu só chego de uma casa e vou pra outra. Tem casa que ainda é bão, que tratam bem a gente, mas tem casa que a gente passa devagar. Tudo isso bole com a gente. Tem casa que anoitece e só de manhã a gente vai ver um gole de água e de café. As pessoas não sabe reconhecer não.” Dona Benedita não recebe quase nada pelos partos que faz. Alguns dão dez reais, outros, dão cinco. Mas o máximo que já recebeu foi quinze reais. Ela conta que trabalha nisso porque fica com pena de não salvar aquela vida, de ficar se culpando porque não foi ajudar a salvar mais um bebê. No mês de julho Benedita aparou doze crianças. Ela aprendeu o oficio no seu corpo mesmo, não foi em ninguém. Ela teve seus oito filhos em sua casa, que era distante da vila: “eu mesmo preparava tudo, aí quando a parteira chegava, eu já tinha tomado meu café e eu mesmo cortava o cordão umbilical. Ihhhh, o bebe já tava mamando, que tempo, eu já tinha preparado tudinho” Nenhuma de suas filhas seguiu a profissão, mas todas tiveram muitos filhos. “Olha, esta aqui teve nove filhos todos caiu na minha mão.Tem a outra que teve dez, um só não caiu na minha mão nove caiu na minha mão e tudo nove graças a Deus ainda estão.Um que o marido insistiu de tirar fora de mim, minha filha morreu no acesso do parto,”conta ela com tristeza. E concluí: “nós mulheres, nós não somos só de um tipo. Nós temos mulher esguia.Nos temos mulher alta. Nós temos mulher de pente baixa e essas mulher é que fica mais dispendioso atender” Neste festival, mesmo sem partos pra fazer dona Benedita não vai aparecer na festa porque morreu sua neta que ia completar 16 anos e ela não suporta estar no meio das pessoas e ver as amigas da jovem dançando. Porque gostar de dançar, ela gosta .E todas suas filhas aprenderam a dançar samba.Seu sobrinho é profissional pra bater tambor. Assim, nas redondezas www.revistapzz.com.br 59


DOCUMENTÁRIO Dona Benedita é famosa não apenas por ser parteira – função muito importante de se desempenhar nesta vila distante duas horas de barco da cidade de Cametá, dos hospitais , dos médicos e das farmácias. Ela é famosa por suas rodas de samba de cacete que organiza por ocasião do plantio de seu roçado. No dia em que encontrei Dona Benedita ela vinha andando do interior carregando um paneiro cheio de mandioca nas costas.Ela vinha fazer farinha.Eu estava fazendo um ensaio fotográfico sobre a casa de farinha .Começamos a conversar através de sua filha que parecia um personagem ideal para ilustrar a figura da mulher agricultora.Ela, de pele escura usava um lenço colorido amarrado a cabeça e nas costas fazia de um peneiro uma espécie de mochila. Já havia iniciado a série sobre a casa de farinha ao pintar um catitu.Este quadro de 2004 causa um estranhamento.Por um lado aparece

Já havia iniciado a série sobre a casa de farinha ao pintar um catitu.Este quadro de 2004 causa um estranhamento. Por um lado aparece toda engenhosidade e a alta esteticidade desta maquina de moer mandioca por outra remete a uma roda de Duchamp refuncionalizada. toda engenhosidade e a alta esteticidade desta maquina de moer mandioca por outra remete a uma roda de Duchamp refuncionalizada. Na busca de obter imagens sobre a casa de farinha fotografei todas as etapas da feitura da farinha e por outro lado decidi que na próxima viagem vou acrescentar a este diário de viagens digital imagens da pesca, do catador de caranguejos também. Assim, a cada novo encontro esta Artistaviajante vai mais ao encontro do Brasil ribeirinho, país eminentemente caboclo, uma nação que vive às margens do desenvolvimento, fruto de uma complexa fusão, de uma interação, nem sempre isenta de conflitos, entre o branco e seu patrimônio colonial português e o índio com sua fórmula adaptativa à floresta tropical. Uma nação que vem somando novos repertórios com a cultura do negro, do nordestino,do judeu, do europeu,assim, “onde a igreja tem um peso decisivo, os homens comuns vão elaborando também sua cultura; um modo específico de sentir, de se relacionar, de se exprimir, de narrar de imaginar, de comemorar, de festar.”

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MESTRES DA CULTURA

Viviane Menna

MESTRE ZENÓBIO mestre Zenóbio, idealizador do evento e do Cordão da Bicharada. “A captação de recursos é feita na raça, com a realização de pequenas promoções como bingo, rifas e campanhas de arrecadação de doações e vem sendo realizada entre filhos e amigos de Juaba.

Z

enobio Goncalves Ferreira, de 69 anos, nagens. “A ideia desse cordao foi inspirada nos pai de 4 filhos, atualmente morador cordoes de mascarados, e como todo cordao de Belem, mas frequentador assiduo tinha um tema eu pensei em fazer algo diferda cidade natal, Juaba, e um dos fun- ente das comedias apresentadas, resolvi que os dadores de um dos cordoes de mascarados principals personagens deveriam ser os bichos. mais famosos da vila quilombola: o “Cordao Pra falar de desmatamento, poluiclo e dificulda Bicharada” .Por isso os moradores de Juaba dade pra sobreviver”, relata Zenobio. o chamam de Zenobio da Bicharada. Alem de O grupo musical que acompanha os brincantes ser idealizador do Cordao, Zenobio tambem e fantasiados de bichos que encenam comedias um dos idealizadores do festival de Cultura de ecologicas utiliza instrumentos como SaxoJuaba que tem 20 anos de existencia. Neste en- fone, trompete, cavaquinho zabumba e um contro o mestre e pe?a fundamental, pois ele tarol. Executando marchinhas, a “Bicharada” foi o grande articulador destas conexoes apre- fala da preservacao da Natureza e da dificulsentando os festeiros, trafando as rotas desta dade que os bichos encontram para sobrevivviagem, agendando er. A inspiracao por temas barqueiros e festeiros ecologicos, motiva os intebem, como, articugrantes fantasiados de anA Bicharada, que ja chegou a lando por telefone imais: preguica, arara, tatu para que fossemos contar com cerca de 100 fantasias, e outros a encarar o desafio recebidos na vila, iniciou as atividades com o nome de representar movimento tivessemos acesso a dos animais vestidos com de “Rancho Animalesco”, mas a pesadas roupas de pelucia. um barco e encontrassemos as pessoas propria populacao tratou de batiza- “Tem que dar uma treinada -chave para o desencom a fantasia, pra gente la com outro nome. volvimento desta saber se leva jeito, se o capesquisa. marada leva jeito praquilo”, Zenobio entrou em contato com a musica pontua o mestre. e a folia nas aguas desde cedo. Herdou do A Bicharada, que ja chegou a contar com cerpai, o maestro da big band “Jazz e Osquestra ca de 100 fantasias, iniciou as atividades com Alianfa”, Raimundo Inacio Ferreira o mestre o nome de “Rancho Animalesco”, mas a proMimico, o gosto pelas brincadeiras do cordao pria populacao tratou de batiza-la com outro e a veia musical: toca percussao e saxofone. A nome. E ao ver a embarcaclo chegando a casa fama de Zenobio ultrapassa a regiao de Juaba e do ribeirinho repleta de gente fantasiada de ate mesmo do municipio de Cameta. Zenobio animais, apontava o dedo pro Rio Tocantins e e a Bicharada ja se apresentaram em progra- dizia: La vem a Bicharada. “Nos tratamos de mas relevantes no aspecto da audiencia como acatar o nome, ne?”, explica Zenobio. o Programa do Faustao e o programa Central O grupo iniciou apenas com uma fantasia, que do Brasil, ambos realizados pela Rede Globo de na realidade era uma experimentacao artetelevisao. sanal. O primeiro animal a ser representado foi Esse cordao foi idealizado no ano de 1975, o leao. O macacao da roupa foi costurado pela mas realizou sua primeira apresentacao em esposa de um dos mndadores do Cordao, Ze Janeiro de 1976. Com 38 anos de existencia a Maria. O corpo do macacao era de serapilheiBicharada, que tem em sua ata de fundacao ra (composta por restos vegetais como folhas, nomes como Afonso Aragao, Alex Aragao, caules, ramos, frutos, flores e sementes) e a Ze Maria, Manuel Rodrigues Tenorio, Lucia da juba reproduzida feita de malva (Uma planta Veiga, Juvencio Aragao alem do mestre Ze- cultivada no Amazonas, que ao ter suas casca nobio, trata-se de uma especie de cordao de batida, transformar-se em fibra) e tingida. Os mascarados, entretanto, ao inves de comedias moldes da feicao do animal e outros detalhes protagonizadas por palhacos ou arquetipos da e desenhado pelo proprio mestre. “Deu positisociedade, os animais sao os principals perso- vo”, conta Zenobio.

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A partir da primeira experimentacao que deu positivo, o cordao produziu nesses moldes artesanais mais 18 fantasias. Alem dos animais ainda existia o personagem do apascentador, uma especie de pastor palhaco, ele que apresentava os animais para a plateia. “Como estavamos na epoca do carnaval, nao poderiamos fugir do colorido, e tambem como as animais sao nos tons marrom, preto, escolhemos fazer a fantasia do apascentador no tecido de Cetim e bem colorido”, reporta Zenobio. As letras apresentadas cantadas nas comedias do Bicharada tem tres autores. De 75 a 78, as letras sao de Mestre Mimico, pai de Zenobio falecido em 80. Depois as letras comefam a ser escritas por Afonso Aragao, que era um brincante famoso do cordao e interpretava o apascentador dos animais, apos seu afastamento por motivos de doenfa, Vital Batista, do grupo Engole Cobra, comefa a escrever as comedias. “Como eu ja tocava no cordao de mascarados junto com o Vital I e devido nossa amizade, comefamos a experimentar e ele escreve letras e comedias ate hoje”, afirma mestre Zenobio. A Bicharada nunca se apresentou todos os anos, na epoca do carnaval, pois tem no seu regulamento (uma especie de pacto oral) o compromisso de sair com todos os seus mndadores e organizadores. Na epoca em que faleceu o pai de Afonso Aragao, por exemplo, ninguem saiu. No ano em que seu Mimico faleceu, tambem nao houve cordao. Entretanto, o fato do cordao nao esta saindo para brincar no carnaval, nao e devido ao compromisso que um brincante tem com o outro, o motivo de o cordao nao sair hoje e por falta de incentivo do poder publico. Com cerca de 100 fantasias, Zenobio e sua familia nao tem condifoes fmanceiras para conseguir realizar a manutencao de fantasias ou fabricar novas. A forma artesanal de fazer as indumentarias foi deixada pra tras. Segundo relatos do mestre o comerciante que ofertada Malva faliu, a serrapilheira saiu de circulacao, alem do fato desta forma artesanal ser muito mais trabalhosa e requerer muito mais tempo. A obra de Zenobio, de certa forma, esta mais disponivel na internet que a de Vital. Pois Zenobio e filho de um dos metres mais antigos


mestre zenóbio de Cameta e um maestro reconhecido por ter tocado na big band “Jazz e Orquestra Alianca”, Raimundo Inacio, o seu Mimico. Mas, apesar de para um site de busca o mestre Zenobio nao ser um completo anonimo, nao ha musicas com gravafoes oficiais - de qualidade - para ouvir informafoes atuais para contextualiza-los. Ate os programas “famosos” a que o mestre compareceu nao estao disponiveis na rede. Dentro desse cenario de agitacao cultural de Juaba que esta sendo desenvolvido pela Casa Fora do Eixo e faculdade Estacio FAP, Zenobio volta a ter expectativas em relacao a producao cultural. “Se a Bicharada tornar a existir se deve a essa parceria entre Casa Fora do eixo, Viviane e Estacio FAP. Por que na verdade, eu nem queria lembrar mais desse negocio. Por que foi uma coisa que a gente lutou, representou o estado la fora e nao tivemos nenhum reconhecimento do proprio estado”, conclui o mestre. Mestre Zenobio vem sendo um articulador importante nesta historia de movimentar o cenario cultural de Juaba. E uma lideranfa para o acontecimento do Festival de Juaba neste ano de 2013, alem de ter sido facilitador para a concepcao deste projeto.

CONSCIÊNCIA Um dos cordões mais famosos de Juaba, o “Cordão da Bicharada”, tem 38 anos de existência e já se apresentou em programa de televisão de rede nacional, como a Globo. Ele foi fundado por Zenóbio Ferreira, de 65 anos, um dos idealizadores do festival cultural da vila.

Com cerca de 100 fantasias, Zenobio e sua familia nao tem condifoes fmanceiras para conseguir realizar a manutencao de fantasias ou fabricar novas. A forma artesanal de fazer as indumentarias foi deixada pra tras. Mestre Zenóbio teve contato com a música e a folia nas águas desde cedo. Herdou do pai, o maestro da Big Band Jazz Osquestra Aliança, Raimundo Inácio Ferreira, o mes-

tre Mimico. O genior ensinou a Zenóbio o gosto pelas brincadeiras de cordão e por instrumentos musicais, principalmente pelo saxfone e pelos de percussão. Os brincantes que participam do grupo se fantasiam de animais da Amazônia, como preguiça, arara, tatu e tucano, e encenam comédias ecológicas. Executando marchinhas, a “Bicharada”, ao fazer barulho com sax, trompete, cavaquinho, zabumba e tarol, fala da preservação da natureza e da dificuldade que os animais encontram para sobreviver diante da devastação. “A ideia desse grupo foi inspirada nos cordões de mascarados e como todo cordão tinha um tema eu pensei em fazer algo diferente das comédias apresentadas, resolvi que os principais personagens deveriam ser os bichos para falar de desmatamento, poluição e dificuldade de sobrevivência”, conta Zenóbio.

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MESTRES DA CULTURA

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CORDテグ DA BICHARADA A partir da primeira experimentacao que deu positivo, o cordao produziu nesses moldes artesanais mais 18 fantasias. Alem dos animais ainda existia o personagem do apascentador, uma especie de pastor palhaco, ele que apresentava os animais para a plateia.

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ENGOLE COBRA 66 www.revistapzz.com.br


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MESTRES DA CULTURA

Alquimides Vital Batista - engole cobra Alquimides Vital Batista

mentos de princípios básicos da moral comunitária e, de uma maneira sutil, gaAlquimides Vital Batista, 48, homem rantem a possibilidade do exercício da muito magro e com fartos cabelos ne- fantasia para o indivíduo habitualmente gros que pendem na face morena marcada pelo tempo. Me apresentaram a ele Em Joaba não há empregos, como um importante produtor cultural, nem carros. Trabalho fora Vital, também conhecido pela sigla VB, é músico, casado e tem nove filhos. da roça, só quem é professor, Ele tem dois cds gravados, uma banda de funcionário publico ou quem bangüê ecológico “O Engole Cobra” e ditem algum bar ou vendinha. rige o Cordão de mascarados carnavalescos Ultima Hora.“ A maioria dos moradores da Fiquei encantada com a visualidade de comunidade vivem no interior, suas performances. No grupo musical ele se veste de extraterrestre transformando pois a pesca abundante no uma cuia em capacete futurista, no corpassado, desde 1984 desadão de mascarados abusa de cores fortes pareceu com a chegada da e capricha nas franjas, bordados porta-se como um rei . Fiz centenas de fotos deles que ainda pretendo transformar em limitado a uma função produtiva.” Para quadros, a imagem fechada com enqua- vital, que vive sem emprego fixo, a saída dramento no brincante revela todo meu para sobreviver é viver em um sítio e acreencantamento. ditar nos resultados da lavoura de cacau, Sua performance e sua música servem de açaí. E todos os dias sair cedo para lan“de memória histórica, como ensina- cear ao longo do rio Tocantins. Quando a

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maré está cheia nas proximidades do seu sítio começa a pesca com matapis .Na vazante, dezenas de armadilhas aparecem jogadas pela maré na areia da praia, a marrados por uma corda a um pau.Oito ou dez matapis são a única esperança de proteínas para o ribeirinho que hoje quase sem pescar, vive “faminto” . Mas toda esta mudança ambiental modificou também a rica produção cultural da vila de Joaba que tem entre outras manifestações culturais, o bangüê ,o bambaê , o samba de cacete, as pastorinhas , o boi-bumbá e os cordões de mascarados carnavalescos.


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GASTRONOMIA

Eduardo Souza

Mestre Vital

Chef Ofir Oliveira atua há mais de três décadas na divulgação, valorização e resgate da culinária da Amazônia, a qual tem origem indígena com forte influência africana.Ele também é reconhecido por utilizar a gastronomia como meio de conscientização para a preservação do meio ambiente.

Alchimedes Vital Batista, ou apenas me- elétrica e na companhia de uma antistre Vital I, como prefere ser chamado, é ga máquina de escrever, de onde exo autor das canções do “Cordão da Bich- trai seus versos. Os instrumentos usaarada” além de ser um tocador de ban- dos pelo grupo, como tambor e violão guê e líder do grupo Engole Cobra. Aos de quatro cordas, foram fabricados 40 anos, Vital I é músico, luthier (profis- pelo próprio mestre. O ritmo executasional especializado na construção e do é o banguê ecológico, a dança dos reparo de instrumentos de corda, como engenhos que fala de preservação do guitarra e violão), casado e pai de nove meio ambiente. Suas performances filhos. Desde o início da década de 1960 musicais estão reunidas em três CDs e se envolveu com a cultura popular par- um DVD. Apesar do talento, Vital I não ticipando de várias manifestações locais se vê como músico, mas como um como brincante, cantador. “Sou um tocador e composamador da cultura, itor. “Nasci em uma pequena cidade não sou um profisNa década de do interior da Amazônia, onde sional, apenas um 1990, ele reuniu-se curioso”, sintetiza. com um quarte- convivi com rios, animais, florestas Mais do que isso, to de amigos com e costumes indígenas de uma ele é um cronista objetivo de criar que se aventura em Amazônia intocada, que deixaram sátiras para criticar a memória em mim conteúdos afetivos que escrever a realidade local e a não oficial do intepolítica nacional e seriam importantes para minha rior do Pará. Atualapresentar em sua expressão artística anos depois...”. mente, o mestre comunidade duestá reconstruindo rante “a tiração de a memória das ilhas ano” e a festa de Santo Reis, no réveillon. entrevistando antigos moradores da Para incorporarem seus personagens, os região e datilografando todas essas músicos pintavam o rosto. Nascia, as- informações. sim, o grupo Engole Cobra, com a missão de representar a natureza e a sociedade. FESTA Vital I é um pensador ribeirinho que vive isolado com a família em uma praia Ao se tornar uma referência cultural paradisíaca próxima à Juaba, sem luz em Juaba, Vital I também teve conta70 www.revistapzz.com.br

to, na década de 1970, com o cordão de mascarados “Última Hora”, da comunidade do Tentém. O mestre tornou-se brincante do grupo, fundando em 1934 por Cornélia Raniere e Irão Atilio, moradores da região, e que se inspiraram nas brincadeiras de Zé Pereira (manifestações carnavalescas portuguesas do começo do século XIX). O objetivo inicial dos fundadores era fazer uma festa surpresa para os amigos e, para isso, fabricaram máscaras de papel machê, organizaram uma banda e montaram uma encenação, que incluía personagens como palhaços. Após deixar de se apresentar na década de 1980, o “Última Hora” retomou os trabalhos em 1990, quando Vital I convidou o artesão e ator Eulário Tenorio do Santos para retomar o grupo.


De tanto andar na companhia de Vital, o Alchimedes Batista, Eulário é conhecido como Vital II. O “her

por crianças e adultos, reunidos nos salões e rios, onde ocorrem as apresentações.

deiro” cultural de Vital tem 52 anos. Além de representar o principal palhaço do Última Hora, constrói as máscaras utilizadas pelos membros do cordão. A fabricação é feita em casa, na comunidade de Tentém. Antes, Eulário usava um molde de barro, o qual recobria com jornal aplicando a técnica de papel machê. Hoje, Vital II consegue produzir máscaras mais duráveis reciclando embalagens plásticas de garrafas e isopor. Artista das formas e das cores, o mestre obtêm um belo resultado, que, nas apresentações, encanta a plateia formada

Devoto de São Benedito prepara os pratos como um ritual de agradecimento aos feitos em sua família. Peixe a Capitoa com o Sururu, foi o carro chefe de se cardápio, o Retumbão, os pratos que falam a história de Bragança, da origem do negro, do índio e do portuga na cidade. No Festival Juabense de Cultura, os três mestres da vila surgem das águas

do Tocantins, como em todos os anos, para manter a história cantada daquela região. No final da tarde, com o céu dourado pelo pôr do sol, os cabeçudos, os mascarados e a bicharada aparecem em meio ao colorido do barco enfeitado com bandeirolas para animar as comunidades ao longo do rio. Em Juaba, eles aportam no trapiche para, em seguida, levar no cortejo muito mais que música, mas tradição e esperança. “Naquele tempo, no carnaval, o Cordão de mascarados tinha as palestras dele. Não era assim estas palavras de hoje. Porque naquele tempo os carnavalistas ajogavam poesia. Hoje em dia não, a poesia deles é balanceando a família: se o camarada bebe, se fica porre, se a mulher não trata bem o marido; é isso a poesia deles. Naquele tempo não, eram aquelas lindas poesias que eles falavam, igual como a Princesa Isabel falou o discurso dela pro www.revistapzz.com.br 71


GASTRONOMIA Alchimedes Vital Batista, ou apenas mestre Vital I, como prefere ser chamado, é o autor das canções do “Cordão da Bicharada” além de ser um tocador de banguê e líder do grupo Engole Cobra. Aos 40 anos, Vital I é músico, luthier (profissional especializado na construção e reparo de instrumentos de corda, como guitarra e violão), casado e pai de nove filhos. Desde o início da década de 1960 se envolveu com a cultura popular participando de várias manifestações locais como brincante, tocador e compositor. Na década de 1990, ele reuniu-se com um quarteto de amigos com objetivo de criar sátiras para criticar a realidade local e a política nacional e apresentar em sua comunidade durante “a tiração de ano” e a festa de Santo Reis, no réveillon. Para incorporarem seus personagens, os músicos pintavam o rosto. Nascia, assim, o grupo Engole Cobra, com a missão de representar a natureza e a socie-

Devoto de São Benedito prepara os pratos como um ritual de agradecimento aos feitos em sua família. Peixe a Capitoa com o Sururu, foi o carro chefe de se cardápio, o Retumbão, os pratos que falam a história de Bragança, da origem do negro, do índio e do portuga na cidade. dade. Vital I é um pensador ribeirinho que vive isolado com a família em uma praia paradisíaca próxima à Juaba, sem luz elétrica e na companhia de uma antiga máquina de escrever, de onde extrai seus versos. Os instrumentos usados pelo grupo, como tambor e violão de quatro cordas, foram fabricados pelo próprio mestre. O ritmo executado é o banguê ecológico, a dança dos engenhos que fala de preservação do meio ambiente. Suas performances musicais estão reunidas em três CDs e um DVD. Apesar do talento, Vital I não se vê como músico, mas como um cantador. “Sou um amador da cultura, não sou um profissional, apenas um curioso”, sintetiza. Mais do que isso, ele é um cronista que se aventura em escrever a memória não oficial do interior do Pará. Atualmente, o mestre está reconstruindo a memória das ilhas entrevistando antigos moradores da região e datilografando todas essas informações. FESTA Ao se tornar uma referência cultural em Juaba, Vital I também teve contato, na década de 1970, com o cordão de mascarados “Últi72 www.revistapzz.com.br


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conceito de opostos e pensar na imagem de um super-homem imaginado que unifica pelos opostos” A turma fantasiada não remava, porque eles precisavam ficar bonitos, só dançando e tocando. Por isso, além dos dez atores, iam no barco o piloto e três remeiros: dois deles iam no faia e um ia na parte de traz da embarcação. Assim nasceu o Bloco de Ultima Hora, do Tem Tem um entre os muitos grupos existentes ainda hoje nas ilhas em torno de Joaba.Além dele, tem o Rei da Brincadeira do Rio Pacovatuba, o Pirata do Amor do Turema, o Bola Preta do Viseu, o Linguarudo de Santana e os Príncipes Foliões de Mutuaca. Esses cordões trazem junto ao nome a designação da sua ilha ou de um furo de rio - denunciando sua origem. Hoje os blocos não viajam mais de barco a remo, são transportados em barcos a motor. Mas a trupe continua com a mesma hierarquia de palhaços que saem das ilhas mascarados com fantasias de cetim encenando comédias carnavalescas sobre acontecimentos da época, e fatos que durante o ano movimentaram a opinião publica de Joaba e do Brasil . Entramos no barco a óleo quando já estava quase escurecendo. A banda vai tocando marchinhas de carnaval. A música do sax, trompete e dos tambores cobre o som de popopó do motor a óleo de nossa barca que por vinte minutos avança pelo rio até o sítio de VB.Por algum tempo a paisagem era só de mata, vento, musica e o por do sol .Mas logo surgiram algumas casas cercadas de muitas plantas: açaizais, capins, miritizeiros, ucubeiras, turiás, aningais. A floresta domina por um bom tempo o

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cenário das margens do Tocantins e só então começam a surgir pequenas praias. Crianças empinando pipas aqui, namorados caminhando abraçados mais adiante em outra praia, parece que todos aproveitam o por do sol na orla que se formou na maré vazante. O sitio de Vital só tem uma casa. Alguns patos nadam no rio ao lado das crianças. Três delas, com cerca de nove anos trocaram as brincadeiras no rio pelas

delícias de comer mangas ao pé da árvore. Outras sentadas na praia sobre uma canoa usam roupas de cetim colorido. Quando elas vêem que a banda chegou não esperam o barco ancorar. Começam a dançar e chamar os brincantes que estavam dentro da casa. Logo mais pessoas fantasiadas aparecem na janela, na porta da casa, na praia.

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CINEMA

Vicente Caldas

CINEMA CAMETAENSE Cametá é conhecida por sua importância histórica e politica na Região do Baixo Tocantins, seu carnaval homérico e sua imensa e efervescente diversidade cultural, única em todo o estado e digna de um Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) só seu. E gora, também, quer ser conhecida pela sua produção cinematográfica local. Cametá já possuiu duas modestas salas são e Dalila; Roma em Chamas; Simbar e comerciais de cinema, sendo elas o Cine o Gladiador entre outros. Funcionava nas Príncipe, que funcionou na Rua Frei Cris- quartas e sábados, dias em que os filmes tóvão de Lisboa, em frente a Praça Rai- chegavam de Belém, alugados da firma mundo Peres “Praça do Titio”, no prédio Manoel Teodoro de Miranda, vindos nos alugado do já extinto Circulo Operário aviões da linha Marabá Táxi Aéreo, de Cametaense. De propriedade do senhor propriedade do Sr. Maurillo Ataíde, que Feliciano Valente tinham como aviadode Mendonça, e res os Srs. Calixto e sob a gerencia do Cametá já possuiu duas modestas “Murilinho”. Também Sr. Renaldo Braga salas comerciais de cinema, sendo vinham nos navios de “Marikaia”, o Cine elas o Cine Príncipe, que funcionou linha Cametá-BelémPríncipe teve o seu na Rua Frei Cristóvão de Lisboa, Cametá: Monte Hoúnico projetor, um rebe e Lusti, mas só IEC 16mm, finan- em frente a Praça Raimundo Peres quando não havia táxi ciado pelo cunhado “Praça do Titio”, no prédio alugado Aéreo para Cametá. do Sr. Feliciano VaNo auditório do Cine do já extinto Circulo Operário lente, o Sr. Corinto Príncipe ocorriam Cametaense. De propriedade Ranieri. E em conshows diversos, entre do senhor Feliciano Valente de traponto ao Cine eles, os de artistas faPríncipe, o Cine Mendonça, e sob a gerencia do Sr. mosos daquela época, Cametá, de proprietais como o da Carioca Renaldo Braga “Marikaia” dade do senhor AlAdriana (Adriana Rosa bertino Barros, que dos Santos), Fredfuncionou no prédio onde é hoje a loja son (Fredson Cerqueira), Aurélio Santos Maçônica de Cametá, na Avenida Felicia- e Ademar Silva. No período das férias, no Coelho com a Rua 13 de maio. além das exibições de filmes, ocorriam Mas a principal sala de cinema de Cametá gincanas e um concurso de cantores enera o Cine Príncipe, fundado à 15 de Fe- tre os Grupos Ferro quente e Santa Fé, vereiro de 1966 tendo suas atividades en- organizados pelos funcionários do Cine cerradas em Outubro de 1979, na ocasião Príncipe, entre eles: Luiz Perez, Renaldo em que o Sr. Feliciano Valente de Men- Braga “Marikaia”, João Miguel Trindade, donça muda-se para Belém com a famí- Luiz Pompeu, Ademir Ranieri, Odoneias lia. Exibiu, durante seus 13 anos de exis- Portilho “Cabidela”, Antônio Cunha, Notência, filmes como: Dijango volta para nato Santos e Merci Gonçalves. No prématar; Ringo e o Justiceiro; Tarzan; San- dio do Cine Príncipe, também funciona78 www.revistapzz.com.br

CINE PRÍNCIPE O Cine Príncipe funcionou na Rua Frei Cristóvão de Lisboa, em frente a Praça Raimundo Peres “Praça do Titio”, no prédio alugado do já extinto Circulo Operário Cametaense. De propriedade do senhor Feliciano Valente de Mendonça

va um Estúdio de propaganda, o estúdio “Remy Barros” e uma loja de venda de discos e fitas k7, muito frequentada pela juventude daquela época. Nos seus últimos anos de funcionamento, o Cine Príncipe resumiu sua atividade cinematográfica a filmes religiosos, exibidos durante o período da semana santa. A RETOMADA Atualmente, a cidade não conta mais com nenhuma sala publica ou privada dedicada a exibição comercial de filmes blockbusters, nacionais ou documentários, possuindo só um Cine Clube, sendo este um projeto de extensão do Campus UFPA Cametá, o “Cine Clube UFPA”. Mas a história do cinema em Cametá vai muito além do que já teve, e recomeça nos anos 2000 com o coletivo cultural “Contra Maré” que organizava o “Cinema Popular”, que eram


FOTO: VICENTE CALDAS

exibições ao ar livre de, principalmente, documentários e filmes comerciais não licenciados, comprados em qualquer banca de camelô na feira livre da cidade. O projeto durou até meados de 2008. Já o Cine Clube UFPa surgiu como um projeto de extensão criado pelo Prof. Dr. Edir Augusto em 2011, e realizava exibições semanais para a comunidade acadêmica e ao entorno do Campus UFPa Cametá, divididas em 3 categorias: Cine Kids, Cine Pop e Cine Cult, sempre aos sábados. Em 2013, o Cine passou a exibições mensais, de filmes licenciados, e sob a coordenação do Professor Dr, Ariel Feldmam e dois bolsistas: Tárcio Souza e Paulo Girard. Em 2014, entro como voluntário no projeto e implemento a exibição de filmes nacionais e cinema documental, como forma de valorizar a nossa produção Nacional e fomentar o consumo de produções documentais de

curta ou longa-metragem, com ênfase na Brasil para a produção de curtas, com o produção documental Amazônica. tema: “Como seria o mundo sem regras”, que resulta no meu primeiro Curta, intituO INÍCIO DAS PRODUÇÕES LOCAIS lado “Mundo sem regras”. Em 2014 tivemos duas grandes produções, sendo elas: Não se sabe bem ao certo quando e quem “Cametá, histórias para se ouvir e contar”, começou ou qual foi o primeiro filme pro- produzido pela TV Cultura do Pará em parduzido em Cametá com alguma mínima ceria com a UFPa Cametá, sob a direção linguagem cinematográfica, mas temos de Roger Paes, do qual eu participei como notícias de um curta de ficção produzido produtor local e ator, e “Amazônia dos enem 2011 intitulado “O Visage”, produzido cantados”, uma produção independente por um coletivo, e de curtas ficcionais pro- sob a direção do escritor Cametaense Haduzidos em 2012 por alunos do Sistema roldo Barros, produção de época rodado Modular de Ensino (SOME/SEDUC), atra- em Cametá, limoeiro do Ajuru e Belém. vés do projeto Cinema Popular do CinEdu- E em 2015, “Lembranças”, em fase de car Pará, no distrito de Juaba em Cametá, pós-produção, produzido e dirigido por entre eles: “Matinta perera” (2012) e “Lu- mim, e “Senhorinha”, resultado de uma dovico na Terra da Maniva” (2014), todos oficina de formação de documentaristas, exibidos no Festival do Urubu que já está coordenada pelo produtor cultural Felipe na sua 5ª edição, e pode ser considerado Pamplona do NPD (Núcleo de Produção o 1º e único Festival de Documentários de Digital) da Casa das Artes, antigo IAP (InsCametá. Em 2013, participei do edital Tela tituto de Artes do Pará), e ministrada pelo www.revistapzz.com.br 79


CINEMA

Equipe do Cinema Paraíso em Cametá.

Projetista doCinema Paraíso emCametá SHOWS e o projetor IEC 16 mm No auditório do Cine Príncipe ocorriam shows diversos, entre eles, alguns dos artistas famosos daquela época, asta independente Gilberto Mendonça. Ainda este ano, está prevista a produção dos curtas “Banguê 5 de Ouro de Maú” e “Cine Príncipe”, este último em fase de pesquisa e pré-produção, todos produzidos pela Aturiá Filmes e parceiros, entre eles a UFPA Campus Cametá através de seu Cine Club e o NDP da Casa das Artes da Fundação Cultural do Estado do Pará. ATURIÁ FILMES E O NUCIPA A Aturiá Filmes é a primeira produtora de cinema legitimamente Cametaense, criada em 2013 com o objetivo de fomentar e profissionalizar as produções locais, tem como objetivo produzir audiovisual de baixo custo e máxima qualidade bem como dar condições e habilitar os produtores locais a participarem de editais de cinema e audiovisual. O NUCIPA (Núcleo de Cine e Produção Audiovisual), é um projeto em franca construção e em busca de financiamento através de editais públicos. Funcionará como um núcleo de produção digital 80 www.revistapzz.com.br

dentro do projeto de extensão Cine Clube UFPa, garantindo formação técnica e acesso a tecnologias e equipamentos destinados a produção cinematográfica local.

Vinterberg, que nos faz acreditar que é possível produzir cinema de baixo custo com o mínimo de recursos em mãos, mas de excelente qualidade técnica e artística. Temos uma linguagem própria e estética diferenciada, voltada pra nossa ancestralidade e aspectos históricos, “O futuro reserva muitas coisas sociais e culturais que definem não só boas para o cinema Amazônida os homens e mulheres Cametaenses, mas todo aquele nascido Cametauara Tocantino, pois estamos só no e que se orgulha de ter nascido em um começo de uma longa, rica e dos municípios da Amazônia Tocantina. promissora história em produção Estamos só começando, e muita gente cinematográfica na Amazônia talentosa tem se voltado para o cinema que queremos fazer, e daqui pra frente a Tocantina”. coisa tende a tomar um rumo mais definido, com a criação de espaços públicos FUTURO de exibição e futuramente, uma estruO futuro reserva muitas coisas boas para tura para formação profissionalizante e o cinema Amazônida Tocantino, pois es- produção audiovisual. tamos só no começo de uma longa, rica e promissora história em produção cinematográfica na Amazônia Tocantina. Temos uma concepção de cinema, tal qual o dogma 95 de Lars Von Trier e Thomas


CINE CAMETÁ O Cine Cametá, de propriedade do senhor Albertino Barros, que funcionou no prédio onde é hoje a loja Maçônica de Cametá, na Avenida Feliciano Coelho com a Rua 13 de maio.

“Temos uma concepção de cinema, tal qual o dogma 95 de Lars Von Trier e Thomas Vinterberg, que nos faz acreditar que é possível produzir cinema de baixo custo com o mínimo de recursos em mãos, mas de excelente qualidade técnica e artística”.

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

Fotografias de Vicente Caldas

CAMETÁ ALÉM DO OLHAR

Vicente Caldas, Cametaense, fotografo, produtor audiovisual, documentarista e propietario da produtora Aturiá Filmes, se interessa por pessoas de diferentes culturas, registrando com suas lentes seu cotidiano, de forma a mostrar ao grande público a grande diversidade cultural, natural e social da amazônia Tocantina.

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ENSAIO FOTOGRテ:ICO

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Amo o verdor de tuas รกguas; Intranquilas e agitadas; Sorrindo, em seu caminhar! Amo tua luta aguerrida! Amo as vidas que tua vida Estรก sempre a semear! Alberto Mocbel

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ENSAIO FOTOGRテ:ICO

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ENSAIO FOTOGRテ:ICO

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VICENTE CALDAS Cametaense, estudante de Sistemas de Informação pela UFPa Campus Cametá, fotógrafo, produtor audiovisual na área institucional, documentarista e proprietariado da produtora Aturiá Filmes. Fotografo e cine documentarista, se interessa por pessoas de diferentes culturas, registrando com suas lentes seus espaços e cotidiano, de forma que possa mostrar ao publico a grande diversidade cultural e social da Amazônia Tocantina. Fotojornalista e fotografo documental, possui diversos ensaios fotográficos publicados em jornais, revistas e periódicos nacionais. Seu interesse por fotografia e cinema vem desde a sua infância. Cinéfilo assumido, em 2013 passou de um assíduo apreciador de filmes a produtor de seus próprios filmes, documentários, que costuma dizer serem recortes de vidas e histórias de sua Amazônia Tocantina. É também membro do Cine Clube UFPa. Tem como influencia em seu trabalho, a técnica e a estética de Ansel Adams e Sebastião Saldado e se considera um grande apreciador da obra de fotógrafos como Edward Weston, Henri Cartier-Bresson, Dorothea Lange, Steve McCurry, Robert Capa, Robert Adams e Paul Strand. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/josevicentecs Pagina no Facebook: (Vicente Caldas Fotografia) https://www.facebook. com/jvicentecaldass/ josevicentecs@hotmail.com

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PATRIMÔNIO IMATERIAL

Carlos Amorim

SAMBA DE CACETE O visitante, turista ou viajante que subir em Cametá nos dias festas; seja Carnaval, São Benedito, São João Batista (o padroeiro) ou até mesmo na data de aniversário da cidade/ município - 24 de dezembro - e até na semana da Pátria, provavelmente, assistirá e dançará o samba-de-cacete. O samba de cacete é uma dança afro valho (Cametá, 2015), neta de uma das -brasileira que, com data de origem dançarinas do grupo cultura samba de incerta, provavelmente começa no cacete de dona Iolanda do Pilão, desséculo XVIII, nos mocambos. E das creve a dança no Trabalho Conclusão de comunidades negras fixou-se em Ca- Curso (TCC), de sua autoria e intitulado metá inicialmente na comunidade do “A influência da cultura africana no samMola, distrito/vila de Juaba. Depois di- ba de cacete de dona Iolanda do Pilão”. fundindo-se para Tomásia e arredores. TCC que orientei no curso de Letras LínChegou à cidade de Cametá vindo de gua Portuguesa na UFPA/Cametá. Ao lado da malemolência e da Vacaria, às proximidades de Ajó, insta- lando-se e afetando a família de dona cadência ritmada, que se assemelha ao movimento das maIolanda do Pilão O samba de cacete é uma rés e maresias dos rios que arregimentou da região, cantam-se logo as famílias dos dança afro-brasileira que, cantigas que fazem batedores Eduardicom data de origem incerta, as lembrar ladainhas. Mas nho e Chiquito. A dança começa provavelmente começa no século o forte desta manifesem passos suaves XVIII, nos mocambos. E das tação cultural é o tamque recebe o nome e a medida que se comunidades negras fixou-se bor de curimbó. vai envolvendo no em Cametá inicialmente na Os instrumentos utiritmo da dança, a velocidade vai comunidade do Mola, distrito/ lizados no samba de cacete são confeccioaumentando, os vila de Juaba. nados pelos próprios dançarinos se posibrincantes da região, os cionam em rodas e dançam em pares que podem ou não quais usam dois tambores de madeira de ser fixos, podem dançar também sozi- preferência o aracapuri que dá som e renhos sempre ocupando grande parte siste ao baque, um maior e outro menor do salão. Possui uma coreografia bem para poder dar um som diferente. São simples de aprender e rica em seus mo- feitos de troncos ocos de árvores e couvimentos. O corpo do homem fica leve- ro de veado, de preferência que o couro mente curvado, sempre dançando por seja do veado vermelho o qual dá maior volta da mulher e seguindo seu emba- à música, e apresenta mais resistência a batucada. (CARVALHO, 2015) lo. (CARVALHO, 2015) As saias das damas são sempre É assim que Patrícia de Nazaré Car- 92 www.revistapzz.com.br

floridas – na dança elas costumam também ornar o cabelo com flores - e os dois batedores sentam-se no tronco, fazendo a percussão na parte da frente do tambor, onde está o coro de veado; enquanto um terceiro faz percussão, na madeira oca da parte de trás do tambor com os cacetes – que são dois rolinhos de madeira – os grandes responsáveis pela sonoridade deste tipo de samba. A existência desta expressão cultural é encontrada em várias localidades da região do Baixo Tocantins, mas principalmente em Cametá e Umarizal, município de Baião; lá também ligado à tradição africana. Sendo que na cidade Cametá está visceralmente ligado à figura de dona Iolanda Lopes dos Santos – a dona Iolanda do Pilão – que no dia 03 de novembro de 2015 completou 75 anos de idade, festados com galhardia oficial no dia 08 de novembro em uma festa ou brincadeira (como preferem


FOTO: adriana lima

chamar dona Iolanda e seus brincantes, fui eu rosa, fui eu rosa dançadoras e batuqueiros) organizada fui eu te ajuntei dessa poeira pela Secretaria Municipal de Cultura e Universidade Federal do Pará – UFPA/CaDona Iolanda, no alto de metá. Às cinco da tarde, do dia 08 de sua sabedoria, queria atrair novembro de 2015, na rua do Pilão, como jovens para a continuidade ficou conhecida a Rua Ângelo Correa, em desta manifestação cultural; Cametá, o samba começou . Os convidados pessoais de dona Iolanda, para o principalmente batedores de almoço de aniversário, esperaram pela tambor, pois, hoje, com 83 rodada de samba de cacete e os convidados para o show em homenagem aos anos, Eduardinho está cego 75 anos chegavam aos poucos e se mistuem decorrência de glaucoma, ram; juntos cantavam, cadenciados pelo consequência do diabetes e seu batuque dos dois tambores e dos cacetetes, dentre muitas cantigas, as seguintes: Chiquito, também com 70 anos, ROSA ô rosa, ô rosa minha flor quem foi que te apanhou dessa roseira

sofreu recentemente um AVC.

CADÊ O ANEL menina cadê o anel, olê, olá que tu tiraste do meu dedo olê olá E quem namora tem coragem, olê, olá Venha buscar não tenha medo, olê, olá Na dança do samba de cacete os homens - do batuque - “tiram” (=começam) a cantiga, as mulheres fazem o coro e todo mundo dança essa brincadeira cadenciada, musicada e regada a bebidas alcoólicas. Na tarde/noite cultural que foi em homenagem a dona Iolanda e, portanto, ao Samba de Cacete, não poderiam faltar seu Eduardinho e nem seu Chiquito os velhos batedores do tambor do samba de cacete. Dona Iolanda, no alto de sua sabedoria, queria atrair jovens para a continuidade desta manifestação cultural; principalmente batedores de tambor, pois, hoje, com 83 anos, Eduardinho está cego em decorrência de glaucoma, consequência do www.revistapzz.com.br 93


FOTO: adriana lima

PATRIMÔNIO IMATERIAL

“DONA IOLANDA DO PILÃO” Na cidade Cametá, o Samba de Cacete está visceralmente ligado à figura de dona Iolanda Lopes dos Santos – a dona Iolanda do Pilão – que no dia 03 de novembro de 2015 completou 75 anos de idade, festados com galhardia oficial no dia 08 de novembro de 2015 94 www.revistapzz.com.br


FOTO: adriana lima

“Taca fogo neste foguete. Vamos acabar com esta girândola. Agora que queremos ver. Quem é o dono deste samba...”

diabetes e seu Chiquito, também com 70 anos, sofreu recentemente um AVC. Os três veteranos da brincadeira do samba de cacete se ressentem unissonantes de que os jovens não querem mais dançar o samba de cacete e esta também era uma questão de CARVALHO (2105) para a escritura do TCC. Embora ela, a autora do TCC, como neta de brincante do samba de cacete não participe desta manifestação cultural. Dona Iolanda, mesmo, conta que dos sete filhos que teve só uma (01) dança o samba e um (01) neto, agora, sabe bater o tambor. Achamos por bem perguntar se a escola poderia ajudar aos mestres de cultura na divulgação e preservação da tradição cultural. E eles respondem que sim. Mas cabe ressaltar que na homenagem a dona Iolanda foram os jovens cametaenses que marcaram presença de peso. Eles a homenagearam com MPB, Reggae e Rock. As bandas Metal Hands, Mapará Elétrico e já famosa Resistência Cabana deram show. Também estiveram lá os grupos musicais Los Parente e Atmosfera Jah/Crasse Baixa. Antes disso o escritor cametaense Francisco Mendes, autor de Fragmentos – Poesias (dentre outros) já havia homenageado Dona Iolanda com um cordel chamado “Dona Iolanda do Pilão – Vida: Samba de Cacete a São Raimundo Nonato”. Chicão, como o conhecemos carinhosamente, escreve: “Entre tecnologia e tradição/Sempre alguém a resistir/Comadre Iolanda é uma dessa/ Sempre faz a Cultura florir/Samba de cacete como arma/Espantando a vida do carma/Pra tradição difundir”.

Quando a gente pergunta a dona Iolanda há quanto tempo ela dança o samba de cacete; a resposta é “desde 5 anos”. Começou a aprender, com a mãe, as letras e os passos do samba. Também quando perguntamos sobre essa história de “Pilão” ela explica com a singeleza que a caracteriza que sua mãe havia herdado um santo para o qual fa-

Embora, por vezes o Samba de Cacete possa ser confundido com o Siriá e o Carimbó, devido às semelhanças entre eles. Esta manifestação que atravessou os quilombos, os convidados das roças, os vilarejos e chegou á cidade de Cametá é única. zia a festa. Sempre em agosto e este era São Raimundo Nonato. Ocorre que alguém vendeu o santo e o saudoso mestre Raimundo Penafort presenteou a mãe de dona Iolanda com uma nova imagem de São Raimundo Nonato, mas quando foram botar a imagem do santo no altar ele era “muito gito, gitinho mesmo” então enfeitaram um pilão (desses de socar tempero) e colocaram o santo em cima para aparecer mais alto. Daí, quando descobriram essa façanha o santo “virou” São Raimundo Nonato do Pilão. Dona Iolanda diz que hoje celebra apenas uma missa a São Raimundo devido à violência e à “bandidagem”

que a desaminaram de continuar realizando a novena e a festa. Animação mesmo ela e seu grupo têm para “brincar” o samba de cacete. “A palavra samba de cacete é oriunda de samba e cacete. Supõe que samba seja originário da palavra africana semba da língua de Luanda que significa umbigada, por outro lado, a palavra cacete é usada pela semelhança de dois cacetinhos utilizados na marcação na parte de trás do tambor” (CARVALHO, 2015). Embora, por vezes o Samba de Cacete possa ser confundido com o Siriá e o Carimbó, devido às semelhanças entre eles. Esta manifestação que atravessou os quilombos, os convidados das roças, os vilarejos e chegou á cidade de Cametá é única. Nas palavras de Carvalho (2015) “O samba de cacete é uma tradição do povo cametaense, que mostra toda a sensualidade e gingado do povo da região Tocantina (...) Os participantes cantavam sua melodia que referiam aos acontecimentos do dia a dia como do trabalho, do amor, de melancolia, etc.”. Então, encerremos este texto com uma letra de samba de cacete, TACA FOGO: Taca fogo neste foguete/ Vamos acabar com esta girândola/Agora que queremos ver/Quem é o dono deste samba. SAMBA DE CACETE – DONA IOLANDA DO PILÃO E A FESTA POPULAR por Carlos Alberto Amorim Caldas. Professor de Pscicologia do Campus Universitário do Tocantins/ UFPA - Cametá. www.revistapzz.com.br 95


PATRIMÔNIO IMATERIAL

Benedita Celeste de Moraes Pinto *

BAMBAÊ DO ROSÁRIO Na Dança do Bambaê do Rosário, prática cultural de origem africana que acontece na vila de Juaba, no município de Cametá, região do Tocantins, no Pará – norte da Amazônia, rei e rainha são personagens principais. Os rituais de acompanhamento, coroação, saudação e descoroação dos reis do Bambaê giram em torno das homenagens que os componentes dessa prática cultural prestam a Nossa Senhora do Rosário, todos os anos, no mês de outubro.

S

egundo a tradição oral local a Dança do No pós-abolição, a festa de Nossa Senhora do Bambaê é originária do antigo quilom- Rosário migrou para a vila de Juaba quando a bo do Mola ou Itapocu, no município imagem desta Santa foi levada pela líder Maria de Cametá, constituído em meados do Luiza Piriá ou Pirisá, que também levou junto a século XVIII, por negros Dança do Bambaê do fugitivos ou resistentes Rosário. Esta líder nedo processo escravistas. Segundo a tradição oral local a Dança gra também teria “indo Bambaê é originária do antigo ventado” ou recriado Desde então, essa prática cultural vem sendo na povoação de Juaba quilombo do Mola ou Itapocu, no recriada, reinventada e “uma festa de prerepassada, há mais de município de Cametá, constituído em tos”, como afirmou o um século de geração meados do século XVIII, por negros promesseiro Leucádio a geração. Na memória Tavares: “festa de fugitivos ou resistentes do processo José dos mais velhos, a lembranco era São José, escravistas. brança recorrente é de Nossa Senhora de que uma pequena imaMisericórdia, e festa gem de Nossa Senhora do Rosário teria chega- nossa, dos nossos avós, dos pretos era Nossa do ao Mola dentro da trouxa de roupas de uma Senhora do Rosário”. negra fugida, fato que foi visto pelos quilombo- Os componentes do Bambaê do Rosário conslas como um milagre, pois acreditavam que a tituem-se em um grupo de 46 a 100 pessoas, “Virgem do Rosário” teria ido para o quilombo podendo variar de um ano para o outro. São com a finalidade de abençoar e proteger seus homens, mulheres e crianças que se reúnem, filhos. Tal imagem teria sido recepcionada com exclusivamente durante as festividades de rezas e louvores, através dos rituais do Bambaê, Nossa Senhora do Rosário, para prestarem hoque se configurou como a parte religiosa da fes- menagens àquela que consideram sua “santa ta, dando início a um compromisso dos devotos mãe e protetora”. Os devotos “do Rosário”, na para com a “Mãe Branca”, como chamam “aVir- sua maioria, de cor negra, moram na zona rural gem do Rosário”, enquanto o lado profano era do distrito de Juaba, são habitantes de alguns celebrado com muitas comidas, bebidas, dan- povoados rurais, remanescentes de antigos quiças, Samba de Cacete e cantorias de Bangüê. lombos, como Laguinho, Porto Alegre, Seringal, E, nesses moldes, os festejos em honra a Nossa Bom Fim, Boa Esperança e Porto Seguro, que Senhora do Rosário se prolongaram por muitos durante o ano todo se preparam para “passar a anos na povoação do Mola. festa do Rosário”. É comum se tirar um pedaço

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da roça de mandioca, cuja produção é exclusivamente destinada para esse fim, ou então criar “serimbabos” para a venda, cuja é destinada aos gastos da festa. No dia anterior à abertura da festa, os devotos da “Virgem do Rosário” que moram na zona rural se deslocar para a vila de Juaba, quando vasilhas, roupas, serimbabos e crianças pequenas são transportados em carros de boi ou até mesmo em paneiros de pernas, que romeiros e roceiras carregam nas costas. Essas pessoas se alojam na residência de parentes e amigos, para participarem da festa da “padroeira dos negros”, “da mãe dos pobres e desvalidos” ou da “Mãe Branca”, como a chamam com simplicidade, carinho e fervor. São os promesseiros, como se autodenominam, que por ocasião da festa “vêm selar seus compromissos com a Virgem do Rosário”. E assim, durante os dez dias de festividade dessa Santa, eles permanecem na vila de Juaba, dedicando-se exclusivamente


aos rituais do Bambaê. Se apresentar no Bambaê, para seus promesseiros, é um ato de fervor, fé e louvor, estreitamente ligado às suas vivências, marcado pelo comprometimento com a oralidade e a ancestralidade do povo negro. Modos de vida, experiências, toque de tambor, danças, rezas e rituais possuem relação com o território dos seus autores, por isso, transferindo-os para um outro espaço físico, os festeiros não vêem sentido para suas práticas culturais, como afirmou João Procópio, morador da vila de Juaba e antigo “chefe do Bambaê”, “não tem como obrigar ninguém, porque o compromisso deles no Bambaê é na festa do Rosário mesmo. Fora dessa época não tem Bambaê, nem que ofereçam transporte e alimentação de graça”. Uma alvorada do Bambaê, que acontece na madrugada do primeiro dia das festividades de Nossa Senhora do Rosário, demarca o início dos rituais dessa prática cultural. A partir do anoitecer, o Bambaê do Rosário inicia suas atividades

com a Ave Maria, se estendendo aos rituais de coroação, saudação, acompanhamento e descoroação do rei e da rainha. A maioria dos componentes do grupo diz que sai no Bambaê

com uma doença muito grave, “invoca-se fervorosamente os milagres da Virgem do Rosário”. Alcançando a graça, o promesseiro comporá o grupo do Bambaê, dependendo do tempo estipulado na promessa, que poderá ser de um Uma alvorada do Bambaê, que acon- ano ou até a vida toda. No caso dos reis, estes tece na madrugada do primeiro dia sempre variam de ano para ano, pois a indumentária desses personagens é bastante luxudas festividades de Nossa Senhora do osa e, portanto, de custos onerosos. São postos Rosário, demarca o início dos rituais muito valorizados dentro do grupo, porém não tão acessíveis a qualquer promesseiro. dessa prática cultural. A partir do Chefes, reis e alferes são personagens que deanoitecer, o Bambaê do Rosário inicia sempenham papéis relevantes nessa prática suas atividades com a Ave Maria, se cultural. A importância dos chefes está na lidena organização do grupo e na sustentaestendendo aos rituais de coroação, rança, ção dos cantos, que são sempre versados em saudação, acompanhamento e descoro- duas vozes. Maria Luiza Piriá ou Pirisá, na condição de organizadora e líder, reinou através ação do rei e da rainha.. dos rituais do Bambaê, através dos quais tinha do Rosário por cumprimento de uma promes- uma firme liderança sobre os demais composa feita a Nossa Senhora do Rosário. Contam nentes, após sua morte, o posto de líder foi semque quando uma pessoa está muito enferma, pre ocupado por mulheres, até Maria Aragão www.revistapzz.com.br 97


PATRIMÔNIO IMATERIAL

passar a função para João da Cruz,este para Raimundo Aragão, mais conhecido por Mundico, e, após o falecimento de Raimundo Aragão, assumiu a liderança seu irmão e filho adotivo, João Procópio Aragão, com o falecimento de deste a liderança deste grupo atualmente se encontra sob a reponsabilidade de Leucádio José Tavares, mais conhecido por Loló. Aos reis são delegados lugares especiais e reverências. E são os únicos personagens do grupo a permanecerem durante os atos litúrgicos no altar-mor da igreja. Os reis não se apresentam em qualquer hora, há momento certo para estarem no grupo. A presença do rei e da rainha é acompanhada de honrarias, como o cortejo ou acompanhamento, quando os reis saem às ruas protegidos por sombrinhas, carregadas pelos mestres-salas, e sob a escolta de guardas de honras que seguram o manto real. Outros personagens importantes do Bambaê são os alferes, atualmente representados por dois homens e uma mulher ou ao inverso, aos quais é designada a missão de carregar os estandartes dessa prática cultural e de Nossa Senhora do Rosário, que são três bandeiras: uma do Bambaê, de cor vermelha, e duas da “Virgem do Rosário”, de cor branca. Juntamente com os chefes, os alferes saem na frente do grupo, uma espécie de abre alas do Bambaê. Aliás, um papel que era desempenhado por 98 www.revistapzz.com.br

Maria Luiza Piriá, antiga líder fundadora. Nas lembranças dos mais velhos, aparecem outros personagens que no passado se somavam ao grupo, como os senhores e os criados. Nos dias de hoje, esses personagens se diluem nas apresentações do grupo, verificou-se no decorrer da pesquisa que há poucas referências acerca desses personagens. Contudo, eles ainda sobrevivem na memória de alguns en-

Segundo antigos promesseiros do Bambaê do Rosário, no passado, após o grupo terminar sua participação na alvorada, no primeiro dia da festa, se dirigiam para a casa do juiz do círio, que ofertava para os membros do grupo e demais pessoas, café, chocolate, bebidas, como: pinga, vinho, gemada, desembirra ou gengibirra e muita comida. trevistados. Todos os componentes do Bambaê, com exceção dos alferes, que carregam os estandartes, tocam instrumentos que acompanham as folias. Os chefes tocam caixas ou tambores,

que são em média de dois (entre caixa maior e menor), uma onça ou cuíca e um tamborim.Os demais componentes do grupo se alternam, sacudindo maracás ou chocalhos feitos por eles mesmos de pedaços de latas ou tampas de garrafas e raspando o rec-rec ou reco-reco (feito de bambu), que são friccionados com pregos ou arames. Segundo antigos promesseiros do Bambaê do Rosário, no passado, após o grupo terminar sua participação na alvorada, no primeiro dia da festa, se dirigiam para a casa do juiz do círio, que ofertava para os membros do grupo e demais pessoas, café, chocolate, bebidas, como: pinga, vinho, gemada, desembirra ou gengibirra e muita comida. Todos festejavam entre si dançando embalados pelas batucadas do Samba de Cacete e pelas cantorias do Bangüê. Diferente de tempos passados, quando a parte profana da festa era produzida pelos e para os brincantes do Bambaê do Rosário, atualmente cada membro do Bambaê arca com a sua própria alimentação, pois não acontecem mais os encontros festivos. Após os rituais do Bambaê, cada membro do grupo vai para casa trocar de roupa e, quando quer dançar, beber e divertir-se, vem para o barracão comunitário de São José, onde acontece a parte profana das festividades do Rosário. Mas isso, como disse o promesseiro Celino Furtado, mais conhecido


por Dilo, “tem que pagar a bebida que consumir. Se a pessoa não tiver dinheiro não entra no barracão, só fica olhando do lado de fora os outros se divertirem”. Tem razão Giddens ao afirmar, que o ritual conecta firmemente a reconstrução contínua do passado com a ação prática, e a forma como o faz é patente. O ritual traz a tradição para a prática, mas é importante observar que ele também tende a ficar separado, de uma maneira mais ou menos clara, das tarefas pragmáticas da atividade cotidiana. (GIDDENS, Antony,1997). Contudo, a festa, na opinião de Del Priore, ajuda as populações a superar o trabalho, o perigo e a exploração, mas reafirma, igualmente, laços de solidariedade ou permite aos indivíduos marcar suas especificidades e diferenças. Na roda da festa, como na roda da vida, tudo volta inelutavelmente ao mesmo lugar, os jovens aprendendo com os velhos a perpetuar uma cultura legada pelos antepassados. Espaço de múltiplas trocas de olhares, de tantas leituras e de tantas funções políticas e religiosas, a festa e o seu calendário transformam-se, no período colonial, nas frentes simbólicas entre o mundo profano e o mundo sagrado (DEL PRIORE, Mary, 1994). Na simbologia da coroação do rei e da rainha de folguedos de origem africanos, como a Dança do Bambaê do Rosário, na vila de Juaba,

Município de Cametá, no Pará, surgem indícios da existência de alguns tipos de impérios em grupos africanos e, conseqüentemente, esses impérios eram reedificados nos mocambos ou quilombos, como ocorreu no antigo quilombo do Mola, ou até mesmo, de forma clandestina, no interior das senzalas e livremente nas irmandades de homens de cor, em confrarias como, de Nossa senhora da Boa Morte, Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Nas irmandades ou confrarias os negros recriavam, reinventavam e repassavam diferentes formas culturais dos seus ancestrais, muitas das quais foram se perpetuando ao longo do tempo. As evidências de organizações de origem negras, no município de Cametá, se fundem. Coroação de reis, cortejos, cantos e danças diante de imagem de santos, como acontece com os rituais do Bambaê do Rosário e do Marierrê, que também coroa rei e rainha, por ocasião da festividade de São Benedito e Santíssima Trindade, no mês de dezembro na vila de Carapajó, em Cametá. A maioria das irmandades, principalmente aquelas que agrupavam homens livres, forros, escravos, ex-escravos e mulatos, surgiram ligadas a festas, músicas, danças, cantos e às mais variadas formas de folguedos de origem negra, uma vez que as irmandades ou confrarias acabavam se constituindo em lugares nos

quais os negros puderam expressar-se livremente, fato este que acabou dando, desde o período colonial, uma forma própria à cultura brasileira e, também, de toda a região tocantina, pois seus exemplos característicos estão representados em manifestações culturais como batuques, sambas de rodas, Bambaê de Caixa (no Maranhão), Samba de Cacete, Marierrê, Bambaê do Rosário, Bangüê, entre outras mais. Os sons tristes dos tambores e dos atabaques, que incomodavam o silêncio e o sono na casa grande, representavam para os negros a preservação cultural de um povo que conseguiu, apesar das vicissitudes da vida, deixar na cultura brasileira, símbolos de lutas, resistências, muitos costumes e tradições, como acontece na Vila de Juaba, no município de Cametá. * Benedita Celeste de Moraes Pinto - Doutora em História Social, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Pará e Coordenadora do Centro de Pesquisa do Campus Universitário do Tocantins - UFPA/ Cametá. É líder dos grupos de Pesquisas Quilombolas e Mocambeira: história da resistência negra na Amazônia (GPQUIMOHRENA) e História, Educação e Linguagem na Região Amazônica (GPHLRA). www.revistapzz.com.br 99


MÚSICA música

os mestres

MESTRE

CUPIJÓ

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por Carlos

Pará

N

a língua portuguesa a palavra mestre significa instrutor, educador, guia e (ou) artesão. Quando se fala em carnaval de Cametá e no famoso Siriá a palavra mestre sempre vem acrescida de outro nome: CUPIJÓ. Orgulho de nossa terra, o advogado Joaquim Maria Dias de Castro – ou simplesmente Mestre Cupijó – é compositor, músico, cantor e principal divulgador da musicalidade cametaense que, através de seus acordes, já ganhou o Brasil e se projetou mundialmente. Avesso aos holofotes, o famoso Mestre nasceu e vive até hoje imortalizado na sua querida Cametá. Filho de Vicente Serrão de Castro Filho, também músico, aos 12 anos já tocava clarinete na saudosa “Jazz Batuta do Ritmo”. Foi com o Mestre Vicente que Joaquim aprendeu violão, bandurra, baixo, teclado, percussão e quase todos os instrumentos de sopro já inventados. É também por causa da convivência com os adultos que aprendiam música com o pai que ele ganhou o apelido de Cupijó. O garoto observava aquele povo sempre de passagem vindo de um lugarejo de nome estranho. Nome tão estranho que ele, quando contrariado, dizia que fugiria para lá. A birra virou piada e os colegas do mestre Sicudera deixaram de lado o nome de batismo do menino e sempre o chamavam de “Cupijó”. Posteriormente ingressou na centenária Banda Euterpe Cametaense – fundada em 1874 - da qual o pai havia sido regente, lugar que o jovem mestre também veio a ocupar poste-

Mestre Cardoso, nascido em 1933, falecido em 2012, vítima de cancer generalizado

apenas a pau e corda. Aproveitando riormente depois do falecimento de seu pai em 1961. A partir da década de seu conhecimento musical amplo, ele introduziu nos arranjos instrumentos 1970, Mestre Cupijó inicia carreira no como sax, clarinetes, trompetes, tubas mercado dos discos lançando LP’s e divulgando com enorme sucesso os rit- e acelerou o ritmo da música com base no samba-de-cacete. Sua mos ancestrais música chegou rapidde Cametá A partir da década de 1970, amente ao sucesso no como as cantiBrasil e fora dele. Regravagas do Samba Mestre Cupijó inicia carreira de Cacete, no mercado dos discos lançando do por artistas como Fafá Belém e o português em especial o LP’s e divulgando com enorme de Roberto Leal, Mestre CuSIRIÁ, as quais sucesso os ritmos ancestrais de pijó é referência quando se deu uma nova Cametá como as cantigas do fala em música paraense e e contagiante roupagem. Samba de Cacete, em especial o amazônica. Ao longo de seus 77 anos, Mestre Cupijó SIRIÁ Cupijó foi reverenciado repaginou as por músicos de todos os cantos do cantigas tradicionais com os metais ensinados pelo pai e com seu senso rít- Pará. Também atuou como assessor jurídico e como vereador e professor mico, herdado da influência caribenha de alfabetização em Cametá. na música do Pará. É dele o mérito de enriquecer o carimbó, antes tocados

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os mestres

O compositor Ronaldo Silva, fundador do grupo Arraial do Pavulagem, foi um dos últimos a visitar Cardoso no hospital em Belém. Ele falou a um site de notícias local e ressaltou a importância do mestre. “Pessoas como ele são semeadoras do bem e vem dar o alerta de que a música pode dignificar, trazer alegria e unir as pessoas. E isso Cardoso fez com muita maestria. A passagem dele por aqui foi brilhante”, disse. Cardoso morreu aos 79 anos e também deixou filhos e netos. Toda vez que um mestre parte há sempre uma dicussão sobre o abandono, a falta de reconhecimento e valorização dos artistas populares. Também há sempre uma dicotominia entre a tradição popular e o interesse “maléfico” das industrias culturais. Interpretações menos dogmáticas a cerca da cultura de massas, como uma visão mais contemporânea das análises de Walter Benjamin e, seguindo seus rastros, os estudos culturais latino-americanos de Jesus Martín-Barbero e Nestor Garcia Canclini demonstram que o consumo e a cultura não estão necessariamente opostos no tabuleiro das trocas simbólicas. No momento em que se fala em economia criativa, um versão pós-moderna das industrias culturais, é importante lembrar quanto “conteúdo” mestres como Cardoso, Cupijó e tantos outros (alguns ainda vivos) deram para um soft power da cultura popular da Amazônia. Há farto material a ser explorado comercialmente desses artistas. Suas famílias e seus herdeiros merecem os frutos do trabalho de pessoas que, além de um título simbólico, eram provedores de família. Mas, para além do comércio da obra deles, há também o significado aos povos, a sensibilidade e a reflexão sobre a diversidade de culturas, em que as indústrias criativas devem se firmar num novo tempo, tornando a cultura de massas um veículo de mediação para as culturas esquecidas ou fora do eixo do sistema das indústrias culturais instaladas. Aos mestres, com carinho, é preciso mais que registrar, preservar e tornar ainda mais popular. Sem deixar, obviamente, que o mercado simplesmente dite as regras.

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Mestre Cupijó (1936 – 2012)

Marcelo Lelis

MÚSICA música


Marcelo Lelis

Mestre Cupijó e Fábio Cavalcante, em 2011, em Belém, à época do lançamento do disco “Do meio do Século XX para o XXI”.

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CARNAVAL MÚSICA

FOLIA MULTI CULTURAL

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Após hiato que durou quase duas décadas, a partir de 2007, o carnaval de Cametá se estabeleceu com uma dos momentos mais importantes do calendário do município, aderindo ao formato multicultural, que dispõe de opções para agradar foliões de qualquer estilo.

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CARNAVAL MÚSICA

D

esfile de blocos de abadá e também de escolas de samba, cortejos compostos por brincantes fantasiados, rodas de samba, marchinhas e frevos, axé e até brega, tudo isso pode ser aproveitado no carnaval de Bragança, dependendo do gosto do folião. Com dois polos bem distintos, o Largo de São Benedito e a Estação Cultural Armando Bordallo, a quadra momesca tem ainda a Avenida Nazeazeno Ferreira, localizada entre os dois pontos, onde se desenrola o evento que a cada fevereiro movimenta a cidade de sexta-feira até a Terça-feira Gorda. ORLA – O Largo de São Benedito, que fica na orla do rio Caeté, é o espaço destinado à programação mais tradicional, preferida pelos que desfrutam do carnaval usando fantasias ao som de sambas e marchinhas, apresentados nas vozes de nomes como Arthur Espíndola, Eloy Iglesias, Cabloco Muderno, Pinduca, Orquestra Orlando Pereira, Gigi Furtado e tantos outros, que por lá já se apresentaram.

O momento mais aguardado no Carnaval no Largo de São Benedito é a chegada do Urubu Cheiroso, bloco que prima pela fantasia e desfila na Segunda-feira Gorda. BAMBAS - Desde 1974 que o Domingo Gordo é marcado por uma roda de samba no Rex Bar, localizado no centro do Largo de São Benedito, realizada pelos cartolas da extinta escola A Patokada, que embora não mais desfile na avenida, mantém essa tradição de mais de quatro décadas. Durante este evento, o que não pode faltar são os sambas de autoria de compositores bragantinos em exaltação a terra natal. Perece incrível, mas passam-se horas com o grande o público que participa da roda cantando em coro o repertório inteiramente autoral, a base de sambas que embalaram antigos carnavais bragantinos, fato que somente para eles é comum. FANTASIA - Entretanto, o momento mais aguardado no Carnaval no Largo de São Benedito é a chegada do Urubu Cheiroso, bloco que prima pela fantasia e desfila na Segunda-feira Gorda. O Bloco Urubu Cheiroso foi fundado em 1993, por alunos da Universidade Federal do Pará, onde em frente ficava o Matadouro Municipal, que promovia um péssimo cheiro e com isso atraía urubus em busca de carniça. Num misto de folia e protesto, um grupo de universitários da época lançou o bloco que logo conquistou a adesão de muita gente do bairro da Aldeia, cúmplices da mesma queixa em relação à poluição do meio ambiente. A inspiradíssima ação surtiu efeito então o matadouro foi transferido para outro local, deixando como herança o antigo e estiloso prédio onde atualmente funciona a biblioteca e laboratórios da UFPA, além de 106 www.revistapzz.com.br

* Clemente Shwartz é jornalista e vocalista do Trio Balancê.

um bloco carnavalesco com uma bela origem e uma história de grande projeção. Em 2004, parte dos fundadores, brincantes que participavam dos desfiles anualmente e uma nova geração de universitários decidiram incrementar o Urubu Cheiroso, substituindo a antiga bateria improvisada a cada domingo por nada menos que a banda Cantídio Gouveia, que é carinhosamente chamada de Furiosa, além de investir num quesito que sempre foi a célula núcleo da agremiação: as fantasias. A originalidade dos integrantes do Urubu Cheiroso encantou a cidade estimulando a todos a entrar na brincadeira. A turma do Chaves e da Caverna do Dragão, os personagens da Escolinha do Professor Raimundo e do romance Alice no País das Maravilhas, princesas, piratas, anjinhos e tantas outras fantasias já foram levadas às ruas de Bragança, pelos integrantes do Urubu Cheiroso, que em 2015 foram em média ...... Não é à toa que o dia em que mais há pessoas fantasiadas em Bragança é na Segunda Feira Gorda, pode-se ter certeza que os responsáveis por


isso são os integrantes do Urubu, que neste ano adotou o lema “Carnaval com alegria só se faz com alegria”. Além do Urubu Cheiroso, Bragança conta ainda com grupos que vêm fantasiados da vila do Enfarrusca, um entrudo de mascarados, muito original, vindo do interior do município desde 2007. Eles também já são tradição.

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PERFIL

BAR DO GATTO

DILAMAR CASTANHO Na foto, o dono do espaço, o mago Jader Turiel.

DILAMAR

CASTANHO MEMÓRIA E VIDA Nascido em maio de 1949, em Cametá, Dilamar Castanho fez de sua casa, um universo particular coletivo. Sua casa é um antiquário de grandes relíquias históricas de Bragança, desde fotografias a objetos raros, oratórios, imagem rara de São Benedito, gramophone, relógios de parede, esculturas, obras de arte, máquinas, brinquedos. Até poltronas do antigo cinema Olimpia da cidade tem em um canto da sala. Desde garoto, gosta de colecionar. Começou com selos. Muita coisa herdou da família. Outras, adquiriu por aí, em Bragança nos interiores, em viagens. É com esse olhar que vê Bragança. “Hoje Bragança é a terra do já teve. O que mais lamento é a questão cultural. Aqui tinha muita cultura. Cinema, Saraus, Discussões, Violões pelas ruas, poetas, escritores, jornalistas. Tudo na mais perfeita harmonia e intensidade. Dando um clima à cidade, uma aura poética e mágica que hoje vai se perdendo. Hoje acontece o descaso com a cultura e com o nosso 108 www.revistapzz.com.br

patrimônio. As autoridades deixando se destruirem coisas que representam a identidade da cidade. Veja o Palácio da Prefeitura e a Casa da Cultura, estão em ruínas, desabando.” explica Dilamar. Na Bragança da sua infancia e juventude haviam personalidades marcantes, como o poeta, escritor e jornalista Jorge Ramos, o

Nascido em maio de 1949, em Bragança, Dilamar Castanho fez de sua casa, um universo particular coletivo. Sua casa é um antiquário de grandes relíquias históricas de Bragança. qual tem uma fotografia em sua parede em uma solenidade. Estudou em Belém, trabalhou no Incra. É apaixonado por sua terra, Dilamar Castanho é descendente de espanhóis. A residência dele está em um ponto estratégico da cidade, bem em frente a Pra-

ça Antonio Pereira quase ao lado do Teatro Museu da Marujada. Os compartimentos de sua casa estão lotados com fragmentos da memória de Bragança, de ontem e de hoje e tudo está catalogado, segundo seu administrador. Ele conta que, por ver o descaso com as coisas, resolveu adquirir pouco a pouco o imenso acervo. Não recebe ajuda de ninguém e o custo é todo dele que mantém tudo funcionando e limpo. É comum baterem em sua porta e lhe procurarem para saber, pesquisar ou conhecer algo. Mantém a entrada gratuita a todos que se interessam e desejam conhecer o acervo de sua exposição permanente que conta a história da cidade e de sua gente, desde o começo até o momento contemporâneo. Dilamar é auto-didata, pesquisador e historiador, conhece os primórdios da história de seu lugar e se revolta quando imagina que uma terra de muitos intelectuais do tipo César Pereira, Jorge Ramos, Gerson Guimarães, De Castro Souza, os Irmãos Bordallo, Rodrigues Pinajé e muitos outros, não pode estar relegada ao abandono nos seus aspetos histórico, cultural, bem materiais e imaterias.


DILAMAR CASTANHO Na foto, o dono do espaรงo, o mago Jader Turiel.

DILAMAR CASTANHO Na foto, o dono do espaรงo, o mago Jader Turiel.

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