BEM VIVER 13

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Foto: Cena do Filme Kramer Vs Kramer

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FAÇA SE A LUZ

CULTIVAR O EQULÍBRIO

A revista BEM VIVER é uma publicação quadrimestral Rua Itararé, 501 - Jardim Paulista Tel. 16 3515 5151 Ribeirão Preto-SP redacao@bemviverrevista.com.br Coordenação: Ana Maria Machado Agência: N.Case Comunicação Coordenação Editorial:

Compartilha Brasil Godi Júnior - MTB: 43.852/SP Editor Assistente: Thell de Castro Revisão: Renata Canales Projeto Gráfico , Editoração e Produção Fotográfica: Rita Corrêa

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OS ENCANTOS DE ISRAEL

SÃO FRANCISCO: SINÔNIMO DE AMOR

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O VALOR DA AMIZADE

A FORÇA DO VENTO

SER TEEN

Editor/Jornalista Responsável:

Fotógrafo Responsável: Alessandro

ESTILO

Samueli Modelos: Jonathas Mascarenhas,

CULTURA

Reges Vasconcelos, Marcus Tortoro, Lucas Falconi, Lucas Minatti, Mariana Reynaud, Danielle Biasoli Ilustrações: Renato Andrade

Tiragem: 10.000 exemplares Agradecimentos: First Agency Models

(www. firstagencymodels.com.br), Projeta Iluminação

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GASTRONOMIA

Impressão e Fotolito: Gráfica São

Francisco


carta do leitor Chegamos à 13a edição da Revista Bem Viver e estas são as 3 capas mais comentadas das 12 revistas assinadas pela Construtora Pereira Alvim.

Como sempre a Revista Bem Viver está maravilhosa! Estive relendo a última edição e não resisiti ao apelo de cumprimentá-los. As reportagens são deliciosas, além de super informativas e profundas! Os artigos nos envolvem com tamanha intensidade que mergulhamos nas letras, parágrafos, frases e perdemos a noção do tempo! Sempre atual e ética. Parabéns !!! É um grande prazer tê-la nas mãos. Obrigada por nos presentear com suas publicações! Abraços a todos dessa empresa. Luiza Caram Fernandes - empresária, Ribeirão Preto - SP

Com a chegada da imprensa régia, no começo do século XIX, tem início no Brasil o mercado editorial. Em 1922, em plena revolução modernista, é lançada a revista A Maçã que, nos dizeres da jornalista Marília Scalzo “se propõe a dizer com graça, com arte, com literatura, o que se costumava dizer por toda a parte sem literatura, sem arte e muitas vezes sem graça”. Fiz questão de escrever esse singelo introito para registrar que, com grata surpresa, pude constatar que a revista que nasceu em contemporaneidade com nossa festejada Semana da Arte Moderna, continuou dando bons frutos, o que pode ser constatado pela leitura, quase como uma degustação intelectual, da revista conterrânea, Bem VIVER. Parabéns a todos os responsáveis por sua edição e que continuem guardiões do bom gosto, da competência e, principalmente, da responsabilidade pelo bom mercado editorial brasileiro. Roberto Seixas Pontes - advogado, Ribeirão Preto - SP

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Envie seu comentário ou sugestão: redacao@bemviverrevista.com.br


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Liberdade, amizade e luz própria são palavras que retratam bem essa fase da revista. Nessa edição, deixamos a luminosidade das ideias entrar e enraizar ainda mais a nossa amizade com você, leitor. Sempre como aprendizes, buscamos repassar o que consideramos bom, levando fé e sabedoria, inspirados no altruísmo em virtude das conquistas interiores. Nas próximas páginas, você vai entender um dos motivos por que devemos deixar a luz entrar em nossas casas para nos banharmos da força trazida pelo sol. Outro fenômeno natural que também nos presenteia com boas energias são os ventos, que proporcionam uma alternativa para obter energia elétrica. Você também será levado a Israel, local que, muito mais que conflitos, traz soluções para quem procura encontrar a fé e significados para continuar a caminhada da vida. Aproveite ainda para aprender um dos pratos do grande chef Alex Atala, considerado o principal chef brasileiro no mundo. Seu restaurante está entre os 10 melhores do planeta. E para todos aqueles que buscam uma nova postura frente à vida, não deixe de ler sobre o método Rolfing. Vale a pena conferir essa NOVA edição. Bons ventos para todos! Desejo que soprem alegria pra você! Boa leitura! Ana Maria Machado Diretora da Revista Bem Viver

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editorial

redacao@bemviverrevista.com.br

A revista Bem Viver, concebida pela Pereira Alvim, irá manter nessa nova etapa a intenção de buscar tudo aquilo que consideramos estar relacionado à qualidade de vida e sugestão de dicas para que as pessoas repensem sua forma de viver, seus valores, estimulando a valorização de cada minuto de estar vivo, ou seja, o nosso Bem Viver.

NOVA FASE

Iniciamos em 2006 nossa 1ª edição. Agora, por coincidência, em sua 13ª Edição - o 13, esotericamente, representa o recomeço - a revista ganhou vida própria.


alex atala, o mago da

gastronomia 8


gastronomia

Com o talento do renomado chef brasileiro Alex Atala, seu restaurante D.O.M., localizado em São Paulo, ocupa a sétima posição no ranking “Os 50 Melhores Restaurantes do Mundo”

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Cozinhar é uma arte adquirida com estudo, experiência de vida, e principalmente com talento. O chef, ou melhor, o artista da cozinha é o profissional responsável pela seleção dos ingredientes, pela preparação dos pratos, pela combinação dos sabores e pela apresentação dos mesmos. É de responsabilidade desse profissional manter a ordem e coordenar seus auxiliares no preparo dos pratos. É ele também que trabalha em conjunto com o gastrônomo, seguindo projetos de cardápio estabelecidos e ajudando-o a relacionar aperitivos, pratos frios, principais, sobremesas e bebidas. Na ausência de um gastrônomo no estabelecimento, suas funções são realizadas pelo próprio chef. Para ser um bom profissional é preciso ter interesse pelos alimentos e pela sua preparação. Além disso, outras características interessantes são: responsabilidade, higiene, metodologia, bom senso, facilidade para misturar sabores, capacidade de exercer liderança, espírito inovador e gosto por fazer experiências, além, é claro, de muita inspiração e vocação. Para que um chef de cuisine se destaque no mercado de trabalho, é necessário que ele se especialize e participe de treinamentos e cursos, além de se interessar por conceitos de administração para que possa gerenciar melhor a cozinha.

Um grande chef brasileiro O Brasil é um país com cultura culinária muito vasta, o que reflete a condição de país tropical e a facilidade na produção de diversos gêneros alimentícios. Os chefs brasileiros são reconhecidos no mundo todo e, muitas vezes, são requisitados no exterior. Um caso bastante conhecido é o do renomado chef Milad Alexandre Mack Atala, mais conhecido como Alex Atala, proprietário do D.O.M. Restaurante, que atingiu a ascensão máxima da carreira. Seu restaurante ocupa a sétima posição no ranking “Os 50 Melhores Restaurantes do Mundo”. Com isso, o brasileiro nascido em junho de 1968, na capital paulista, conquistou fama mundial, sendo convidado para estampar capas de revistas e campanhas publicitárias em diversas partes do mundo. Depois de se formar no curso de gastronomia da Escola de Hotelaria de Namur, na Bélgica, Atala trabalhou em restaurantes na França e na Itália. No Brasil, estreou como chef do Filomena, misto de bar e casa de shows, que mudou totalmente de perfil por conta dos pratos surpreendentes de Atala. Depois de passar por outras

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cozinhas, abriu, em 1999, duas casas: o Na Mesa, um fast-food chique (que fechou um ano depois), e o D.O.M., restaurante de cozinha criativa contemporânea com forte sotaque brasileiro. Alex Atala, casado com a estilista Marcia Lagos e pai de três filhos (Pedro, Tomás e Joana), foi o único chef de cozinha brasileiro a ser convidado para dar aulas nos congressos Madri Fusion, em 2005, e Lo Mejor da Gastronomia, em 2006. Em 2009, inaugurou o Dalva e Dito, restaurante com cardápio totalmente voltado para a comida brasileira. Localizado na esquina das ruas Padre João Manuel e Barão de Capanema, nos Jardins, em São Paulo, o restaurante reúne referências do Brasil colonial em torno da modernidade e da tecnologia. “Executar esta cozinha de alma brasileira utilizando as mais avançadas tecnologias disponíveis é a missão do Dalva e Dito”, conta Alex Atala. O nome que batiza o restaurante é uma homenagem aos compadres Dalva e Dito, um casal imaginário que habita a criatividade do chef Atala: “Dalva é a primeira estrela que aparece ao anoitecer, e Dito é um contrativo de São Benedito, padroeiro dos cozinheiros.” explica o chef.

Polvo Grelhado com risoto de brócolis e camarão por Alex Atala

INGREDIENTES: 1 Polvo Médio ( 3 a 3,5 Kg) 1 Cebola 1 folha de Louro 500 g Sal 3 L de Água 100 g Arroz Branco

100 ml azeite extravirgem

50 g Camarão 7 Barbas

200 ml caldo do cozimento do polvo

50 g de mini cebolas descascadas

20 g manteiga sem sal

50 g Brócolis

Sal a gosto

PREPARO: Limpe bem o polvo e coloque para cozinhar em uma panela funda com a água, a cebola descascada e cortada ao meio, o sal e a folha de louro. Deixe em fogo alto por 25 minutos e desligue. Deixe o polvo dentro da panela até que a água esfrie. Em outra panela, refogue as mini cebolas com o azeite. Abaixe o fogo e tampe a panela até que a cebola solte bastante água. Coloque os camarões e o arroz e cubra com a água do cozimento do polvo. Deixe em fogo médio até que o caldo seque e o arroz esteja cozido. Acerte o ponto do sal, coloque o brócolis e a manteiga. Mexa aos poucos até obter um arroz cremoso. Em uma frigideira bem quente, coloque azeite e grelhe os tentáculos do polvo, virando sempre até que estejam dourados de todos os lados. Sirva com o arroz.

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morar bem

deixe a

luz do sol

entrar

Otimizar a utilização de iluminação natural em casa gera economia e bem-estar

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Foto:Ekohaus Esquadrias Inteligentes

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Já imaginou acordar de manhã, olhar pela janela e encontrar apenas escuridão? Não enxergar nem um palmo além do nariz e achar que está no meio da noite, mesmo que seu relógio marque sete horas da manhã? Certamente, a primeira reação em um cenário surreal como esse, seria se perguntar: - “Para onde foi o sol?” e, posteriormente, -“E agora?”. É impossível conceber um despertar sem a presença da Estrela Maior, sem ver os raios de luz surgirem ao leste quando o despertador toca. Seria como se os pássaros não cantassem, as pessoas se fechassem e o mundo morresse em silêncio. Um caos, um terror. Isola! O sol é necessário para que haja vida no planeta. Faz bem aos ossos, ao sistema imunológico, regula a pressão arterial, ajuda a prevenir o diabetes tipo 2 e até alguns tipos de câncer, como os de mama, próstata, pulmão e intestino. Sem falar na sua ação antidepressiva. Atire a primeira pedra quem não se alegra ao ver o sol surgindo pela janela após uma noite gelada de inverno. Não precisamos de mais provas para reconhecer a importância do sol no nosso dia a dia, não é mesmo? O que poucas pessoas sabem ou deixam de lado por preguiça ou falta de tempo, é que podemos otimizar a presença do sol em casa ou escritório.

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Tem aumentado o número de pessoas que na hora de reformar ou construir uma casa procuram por ações sustentáveis, que gerem economia de custos e também sejam ambientalmente ecológicas. São medidas que visam ao aproveitamento da água da chuva para jardins e que otimizam o uso da iluminação natural. Iluminação natural. “Deixar a luz do sol entrar” tem sido uma das tendências dos últimos tempos. E há diversas maneiras de aproveitar a luz do sol, desde projetos arquitetônicos mais elaborados até simples mudanças em uma reforma já programada. Contudo, é importante ficar atento a algumas regras básicas na hora de projetar a construção ou reforma do imóvel. As fachadas devem ficar orientadas para o sul, sempre que possível. “Isto serve para evitar a incidência direta do sol dentro das construções, o que pode aumentar a temperatura interna”, afirma a arquiteta Débora Bergamaschi. Também é importante respeitar a área de iluminação mínima de cada cômodo, exigida pela Prefeitura de cada cidade. Dentre algumas ações que podem ser feitas para otimizar o uso de iluminação natural, é possível utilizar janelas maiores que, orientadas na posição correta, permitirão a entrada de luz, e não de calor. Podem ser utilizadas também claraboias ou dômus no teto, assim como telhados de vidro ou telhas de policarbonato. Existem vidros que não deixam passar o calor do sol, apenas a luz, além de películas que também são utilizadas com o mesmo objetivo. De acordo com a arquiteta e decoradora Renata Fonseca, os benefícios de se aproveitar a iluminação natural são muitos. “O ambiente fica mais iluminado, o que é sempre mais agradável, melhora a qualidade de vida do ser humano e também contribui para a economia de energia”, afirma. “Também é possível aumentar a circulação de ar, o que deixará o ambiente mais arejado, trazendo benefícios à saúde”, completa Renata. Uma medida bastante utilizada é a criação de um jardim de inverno. É uma excelente solução para quando não há opção de abrir janelas em um cômodo.“Neste caso, abre-se uma janela para um jardim de inverno, o que permite as entradas de luz e ar, ventilando os ambientes que o integram”, afirma Renata.

Foto:Ekohaus Esquadrias Inteligentes

O ideal é consultar um arquiteto que poderá indicar o que deve ser feito para cada cômodo da casa. Em salas,

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por exemplo, é possível optar pelo jardim de inverno. Em cozinhas e banheiros, claraboias no teto. Nos quartos, janelas maiores ou a substituição por portas-balcão (se o ambiente permitir, pode se ter acesso a uma varanda ou quintal). Vale lembrar que a utilização de iluminação natural não se restringe apenas ao dia. Imagine uma claraboia que durante à noite permitirá observar o céu estrelado. Foi buscando qualidade de vida e maior contato com a energia dos meios naturais que o empresário José Luiz Pires mudou-se para Jurucê, no interior de São Paulo. José Luiz desenhou a própria casa, priorizando a entrada de luz e gerando energia, o que lhe proporciona bem-estar.

Separamos para você algumas dicas da arquiteta e decoradora Renata Fonseca para iluminar bem alguns ambientes da casa. “Sempre digo que para uma decoração ficar perfeita, a iluminação deve ser muito bem distribuída, valorizando os objetos, quadros e móveis”, afirma Renata. No quarto: É necessário estudar cada pessoa, saber se ela lê, se vê muita TV, etc. Independentemente de estilo, uma dica boa é utilizar luzes de LED, que não esquentam e rendem economia de energia. É possível usá-las em cima da cama, iluminando quadros ou um papel de parede.

Na sala de estar: A sala de estar deve ter várias opções. Uma para um ambiente claro para refeição com amigos, outra com menos luzes para um jantar romântico. A iluminação pode ser feita através de luzes embutidas no teto ou por luminárias no chão ou em cima de uma mesa.

Na cozinha: A cozinha deve ser bem iluminada. A mistura de luz fluorescente com incandescente torna o ambiente mais aconchegante.

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Foto: Wagner Abrahão Júnior (Projeta Iluminação)

Deus criou a luz; o homem, a lâmpada

Foto: Wagner Abrahão Júnior (Projeta Iluminação)

Cada parte da casa do empresário é voltada para pontos de captação de luz. “Só consigo dormir em dois lugares da casa, no quarto e na sala, onde existe essa captação de luz, que transmite muita energia”, afirma. “Deus não colocou todas aquelas estrelas no céu em vão. Há um sentido na luz que as estrelas transmitem. Essas aberturas nos permitem apreciar isso”, completa José.


Arquitetura Bioclimática Arquitetura Bioclimática - Consiste no desenho de edifícios levando em consideração as condições climáticas, utilizando os recursos disponíveis na natureza (sol, vegetação, chuva, vento) para minimizar os impactos ambientais e reduzir o consumo energético. Uma casa bioclimática pode conseguir grandes economias de energia e, inclusive, ser sustentável no seu todo. Embora o custo da construção possa ser elevado, o investimento deste tipo de construção pode ser compensado

Foto:Ekohaus Esquadrias Inteligentes

com o decréscimo de gastos em energia.

Dicas de economia • O ambiente pintado com cores claras, especialmente o teto, reflete melhor a luz e reduz os gastos com iluminação; • Em áreas coletivas, como corredores e escadas de prédios, use interruptores temporizados (minuteiras) ou sensores de presença para evitar que as lâmpadas fiquem acesas quando ninguém está no ambiente; • Em áreas externas, use fotocélula para acionar as lâmpadas, evitando o uso delas quando a luz solar é suficiente; • Os dimmers são dispositivos que controlam a intensidade de luz emitida pelas lâmpadas, economizando energia, e ainda permitem que você ajuste a luminosidade do ambiente; • Lâmpadas: há vários tipos de lâmpadas para uso doméstico, mas as mais econômicas são as fluorescentes compactas e as que usam a tecnologia de LEDs. Fonte: http://www.audoc.com.br/materiasnt/13-dicaseconomia

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estilo:

qual ĂŠ o seu?

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estilo


E

Entender a razão do surgimento de um estilo e a concentração de pessoas que aderem a ele não é tarefa fácil. Estilos de vida, de se vestir, de criação artística concentram-se basicamente na busca do prazer de viver autenticamente. A aproximação de pessoas a estilos determinados parte de afinidades pelas características que os definem e não adianta a simpatia ou admiração se as tais peculiaridades não têm a ver com você. Escolher um estilo depende, portanto, de um olhar para dentro de si mesmo, de uma descoberta interior para saber o que lhe agrada. Esse processo é mutável, graduando-se em cada avanço intelectual e pessoal, e muito ligado ao ambiente social em que se vive. Desenvolver um estilo é uma coisa, aderir a ele é outra, e simplesmente imitá-lo é perigoso. Vejamos um exemplo da literatura brasileira: Guimarães Rosa impõe um estilo tão subjetivo e complexo que se faz difícil até a tradução de seus textos para outras línguas. Seguir este estilo de escrita pode ser a grande dificuldade a quem se atreve manter o senso criativo. O artista plástico Jair Corrêa diz que um artista pode ter um estilo mesmo dentro de determinado movimento estilístico e estético. “ Salvador Dali, por exemplo, tem um estilo próprio, embora esteja ligado ao movimento surrealista”. A discussão, porém, é ampla e polêmica. Para o ator Almir Martins, para se criar um estilo é necessário transgredir as regras sociais do momento, conquistar total independência para deixar uma marca. “São vários os exemplos, mas o artista, pela própria inconformidade que traz na alma, consegue criar um novo estilo singular, único e autêntico”, opina Martins.

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A questão se torna ainda mais complicada quando, por modismos, a pessoa imita tal estilo mesmo ele não se encaixando em sua maneira de ser. Na filosofia, Hegel já afirmava que seguir o outro é a forma de transpor a dura realidade e projetar para si os exemplos a serem seguidos. Por isso, muitas são as celebridades que ganham seguidores. Pessoas que as copiam na real necessidade de tentar também tornar-se especial. Com o cinema, personagens da ficção foram imitados em sua forma de se vestir e até em posturas e gestos. Na década de 40, Rita Hayworth ocupava a posição de ícone da sensualidade. Deixou transparecer o rancor que a mais famosa de suas personagens lhe trazia para a vida pessoal quando disse “ Os homens vão para a cama com Gilda e acordam com Rita”. Na década seguinte, a beleza feminina foi marcada por Marilyn Monroe com seu batom vermelho e cabelos loiríssimos. Tornou-se um símbolo, mas é discutível se teve estilo, já que pelo que sabemos, viveu sempre procurando adaptar-se à realidade que lhe era imposta. O movimento hippie dos anos 1960 aderiu comportamentos dos artistas beatniks que pregavam uma sociedade anti-materialista. Os chamados hippies acabaram por expressar essa linha de pensamento em roupas e conduta, porém muitos imitaram (e até hoje imitam!) esta onda sem ligação com as então propostas sociais. Fica a pergunta: por quê? Parece, portanto, que para buscar o seu estilo ou seguir um já existente é preciso uma boa viagem ao próprio interior. Uma conversa nada fácil, que adentra a noite. Alguns irão preferir essa discussão regada a cerveja, outros com vinho, há os que vão escolher suco. Ah, mas isso depende de gosto, de prazer, e quem sabe de estilo.

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Peter Schreyer: o renomado diretor de design da KIA Motors 26


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Você já ouviu falar em Peter Schreyer? Provavelmente sim! Atualmente, está no ar um comercial do novo Kia Cerato que mostra o proprietário do carro decorando todas as características do automóvel. Na intenção de impressionar os amigos no restaurante, ele grava todos os itens do carro, como a entrada USB e para iPod, 126 cavalos, câmbio automático de 6 velocidades com trocas no volante e o principal, o design do renomado Peter Schreyer. No momento de falar o nome correto do diretor de design, o dono do veículo é interrompido pelo garçom, que corrige a sua pronúncia, com isso mostra que todos já o conhecem. Nascido em 1953, Peter Schreyer assumiu a diretoria geral de design da marca Kia com a missão de definir um estilo exclusivo para toda a linha. E conseguiu: comanda a equipe que criou o bem-sucedido Soul, além de modelos como Cerato, Cadenza, Sorento e Sportage - sem falar do novo Optima. Com um currículo de dar inveja, Schreyer atuou por oito anos na Audi, onde foi o responsável pela criação do icônico cupê TT, referência em estilo ainda hoje. Nesta sua etapa profissional, seus traços e genialidade também assinaram o New Beatle, da Volkswagen.

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Sportage Flex

A modernização dos carros da KIA teve início em 2007, com a apresentação do “tigernose” (nariz de tigre, traduzindo para o português) como linha mestre das grades dianteiras dos veículos. O conceito é comum em carros como Mercedes-Benz, Audi e Volkswagen, e permite utilizar-se de uma identidade própria. E identidade própria nada mais é do que ter estilo. No caso de uma marca é preciso muita competência e alguns anos de experiência para conquistá-la. Prova disso é o que vem sendo mostrado pelos veículos da Kia Motors, principalmente quando a montadora sul-coreana contratou o diretor de design, Peter Schreyer.

Cerato

Através do design, a marca Kia grava sua marca nos corações dos clientes. Segundo depoimento do

Picanto Flex

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Cadenza


Koup Mohave

próprio Peter Schreyer, as pessoas vivem em tempos em que os carros adquiriram um significado para o estilo de vida que transcende de longe o mero transporte. “A habilidade dos carros de prover satisfação emocional e alegria para seus donos é mais importante que a habilidade de levá-los de um lugar para o outro. Nós queremos que nossos carros apelem imediatamente para pessoas que desejam desfrutar de um estilo de vida jovem e ativo, e o design é “o” elemento que permite aos clientes expressarem sua individualidade. Kia Motors tem uma clara visão, que é capturar o coração dos consumidores e comunicar-se com eles através do design”, explica.

Soul Flex

É por isso que a Kia Motors é a marca que mais cresce no mundo! New Sorento

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Optima

Av. Francisco Junqueira, 3000 Tel. 16 2133 9700 - Rib. Preto


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bem estar

rolfing: nova postura frente Ă vida


Método americano de terapia corporal traz equilíbrio e autoconhecimento, melhorando o físico e o emocional

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Em busca de relaxamento mental, físico e bem-estar, muitas pessoas têm procurado os benefícios de terapias corporais. Ainda pouco conhecido no Brasil, o Rolfing é uma técnica que extrapola o alívio imediato de dores para desenvolver no cliente a própria consciência corporal e o equilíbrio do físico com a força da gravidade. O método consiste na manipulação entre a respiração e o sistema miofascial, responsável por formar tendões e ligamentos, e por conectar os músculos aos ossos e entre eles mesmos. Com toques precisos e profundos nos pontos corretos, o rolfista consegue devolver a elasticidade e a flexibilidade desse sistema, eliminando dores crônicas. Além disso, o profissional vai ampliar as possibilidades e qualidade dos movimentos físicos através da melhora da percepção corporal do cliente. A organização física traz o benefício emocional, estabelecendo a harmonia que tanto desejamos no dia a dia. A coordenação motora desenvolvida através do método passa pela reeducação de movimentos e também do uso mais apurado dos sentidos como a visão, audição e tato. Indicado para todas as idades, o Rolfing é recomendado para pessoas que sofrem de males provocados por má postura, lesões e traumas físicos, atletas e praticantes de atividades físicas regulares, e para quem busca equilíbrio emocional.

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“O Rolfing é muito mais do que uma massagem, porque reeduca a postura, alivia as tensões, harmoniza as emoções e devolve a naturalidade dos movimentos”, ressalta Maria Helena Orlando, presidente da Associação Brasileira de Rolfing. Para a terapeuta, é necessário prestar atenção e cuidar da postura com atitudes simples. “Quando for dormir, o ideal é deitar-se de lado, com os joelhos levemente dobrados e com o travesseiro em uma altura que deixe a cabeça reta em relação às costas. Quando estiver sentado, deixe os dois pés apoiados no chão e as costas retas no encosto da cadeira. Caminhe sempre com a cabeça reta e com o olhar na linha do horizonte”, ensina Maria Helena.

História O Rolfing é uma técnica de reestruturação corporal e educação dos movimentos criado e desenvolvido na década de 1940 pela cientista Ida P. Rolf, nos Estados Unidos. Com Ph.D em Química Biológica pela Universidade de Columbia, Ida estudou Matemática e Física Atômica na Universidade Técnica Suíça, em Zurique, e Medicina Homeopática em Genebra, além de se aprofundar em o u t r a s t é c n i c a s . Po r i n t e r m é d i o d o s trabalhos realizados com pessoas cronicamente incapacitadas, a cientista começou a desenvolver a ação que viria a ser conhecida como alinhamento corporal. Após este período, dedicou- se a desenvolver a técnica Rolfing. Durante a década de 60, seu trabalho foi amplamente difundido pelos EUA, surgindo em 1967 a primeira sede do Rolf Institute, em Boulder, Colorado. Ida dedicou sua vida ao Rolfing até a morte, formando profissionais, planejando projetos de pesquisa, escrevendo, publicando e divulgando seu conhecimento incontestável. Seu objetivo era ver seres humanos mais fortes e seguros, conscientes de que o equilíbrio é a chave para ter boa qualidade de vida.

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Rolfing em Ribeirão Preto Em Ribeirão, a única profissional credenciada pela Associação Brasileira de Rolfing é a fisioterapeuta Ana Gabriela Barreto Ribeiro Pavanelli, que há dois anos atende pelo método. Ela diz que para alcançar um bom resultado é essencial que o profissional respeite e compreenda o momento emocional de cada paciente, desenvolvendo um tratamento específico. “ Um novo paciente é um novo desafio e a cada sessão buscamos uma nova sensação, e a cada movimento, uma nova descoberta”, diz a rolfista. Ana Gabriela garante que o paciente pode mudar de uma posição corporal para outra sem sofrimento e sem dor através da integração estrutural em um eixo confortável e, no final do tratamento, já consegue fazer esses movimentos sem ajuda do profissional. Rosana Réa, decoradora, procurou o Rolfing porque estava com a coluna desalinhada e com muitas dores nas costas. Hoje ela já está no final do tratamento e afirma que os resultados foram positivos. “Sinto uma melhora significativa e visível. As dores nas costas foram embora e meu corpo está mais alinhado”. Mesmo com o término das sessões, o paciente pode fazer manutenção uma vez por mês ou uma vez a cada três meses. É o que ocorreu com a médica Cynthia Gazal Carvalho. “Frente

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ao meu quadro de dor muscular, mantive algumas sessões, mesmo que espaçando os retornos, já que obtive uma melhora progressiva. Como havia passado do limite de me cuidar em tempo, a dor tornou-se crônica e, obviamente, dificultou e estendeu o tratamento”. Ana Gabriela explica que, após uma série de 10 a 20 sessões, o cliente sente seu corpo se movimentar de maneira mais equilibrada, livre e saudável, experimentando uma nova postura para seguir sua vida. “A vida que cada um vive é o que constrói a postura e a forma como lidamos com nosso corpo, por isso, às vezes mesmo sem perceber, existe uma história guardada dentro de você e, ao tocar determinada parte, você acaba trazendo para o presente um determinado momento vivido”, explica a rolfista. Ana diz que o tratamento do Rolfing é uma mudança para cada pessoa. “Quando tratamos um cliente, buscamos olhá-lo como um todo, não apenas braços, pernas ou a dor localizada, pois nós, praticantes da integração estrutural, não curamos doenças, invocamos saúde. Ao trabalharmos para reconstruir a forma do corpo humano, estamos cultivando o equilíbrio, a chave para um bem-estar maior”.

Veja mais sobre Rolfing no site da Associação Brasileira: www.rolfing.com.br

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eu posso, eu consigo! por Regis Vianna

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ser teen

“Sabe com quem está falando?!” Pronto! Começou o “bullying”!

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O filho mal educado de alguém está agredindo uma pessoa, porque os nossos jamais o fariam, pois são os mais educadinhos da floresta.... Qual teria sido a origem da outorga do direito de falar assim com quem quer que seja? Onde e quando foi, até se sabe. A competitividade na escola valoriza diferença, não na mesma proporção das semelhanças.

Valoriza os melhores, mais belos – machos e fêmeas alfa - em detrimento dos piores ou menos melhores. O vice... ora, o vice... A causa é a falta do ensino desses conceitos antes da criança ir para a escola, na vivência do entendimento de valores religiosos, morais e éticos. É importante deixar claro aos filhos as diferenças e conseqüências de suas posses e seus brasões hereditários. Lidar com o materialismo sem ingenuidade, sem criar um índice de delinquência tendendo a zero. Considerar e relevar a diversidade ajuda a encontrarmos valores para essa geração de jovens e dar suporte para que cada um aprenda o mínimo necessário para estimular a Meritocracia e poderem se avaliar no meio da ação e reação inter e intra classes. O conhecimento, a consciência do espírito em detrimento da matéria é um grande temor para os pais que veem o mundo valer só para quem tem e não para quem é. Educação financeira?! Qual é a causa do dinheiro? O desejo de Justiça, sendo que justiça é dar a cada um o que ele necessita. Ela decorre não da comparação, do ranking, mas da necessidade. Uns necessitarão de mais cuidados e outros menos. O dinheiro em si é uma idolatria não só quando amado, mas quando desprezado. A resposta é que ele não foi criado para ser uma forma de opressão ou um instrumento de ganância, mas, ao contrário, o dinheiro – surpreendentemente – surge de um desejo humano por ajustamento pela esperança de um mundo melhor. Dinheiro é trabalho congelado. A mesma moeda que compra a paz paga a guerra. “Todo mundo pensa em deixar um planeta melhor para nossos filhos. Quando é que pensarão em deixar filhos melhores para o nosso planeta?” – é o que se ouve por aí. Fazer da família a célula primordial de uma sociedade competitiva, racional e fria ou de uma solidária, calorosa e afetiva, sem cair nos exageros tanto para mais como para menos? Como resultado não deveremos apreciar apenas energia desperdiçada inutilmente, e ter de admitir que a Educação, joia encravada no crânio de nossos jovens, é estéril. Que venha o “tenho porque sou”, e se recicle o “sou porque tenho”.

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descubra

as maravilhas de

ISRAEL

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45 Fotos: Min. do Turismo de Israel

viagem


Igreja Maria Madalena Jerusalém

História, cultura, religião e modernidade criam atmosfera singular

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Arqueologia, história, aventura, gastronomia e cultura. Uma combinação que faz Israel atrair cada vez mais turistas brasileiros, que não precisam de visto nem de vacinas específicas para entrar no país. Segundo Cleo Ickowicz, diretora do escritório do Ministério do Turismo de Israel no Brasil, os lugares mais procurados atualmente pelos brasileiros são a região da Galileia, o Mar Morto e as cidades de Jerusalém, Tel Aviv e Eilat. “Israel oferece ao visitante a mais variada diversidade de atrações turísticas. Desde a mágica e espiritual Jerusalém, passando pela moderna Tel Aviv, até as lindas paisagens da região norte do país. Percebemos também um crescimento do interesse pelo ponto mais baixo da Terra, onde está o Mar Morto, com seus spas e lamas curativas”, destaca Cleo.

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Sandra Salomão, administradora, ficou encantada com a viagem que fez a Israel. Ela destaca o Monte Sinai, Jericó, Mar da Galileia e Monte das Boas Aventuranças, Igreja Basilical, Casa do Galileu, Nazaré, Rio Jordão, Cidade de Tiberíades, Monte Carmelo, Cenáculo, Museu do Holocausto, Museu do Livro, Jardim das Oliveiras, Cúpula Dourada, Tumba do Rei Davi e Casa de Caifás. “Israel é um lugar ímpar no mundo, onde a história é bíblica e de uma importância singular para os cristãos”, diz Sandra. O país oferece comércio e serviços necessários durante uma estadia, incluindo roupas, cosméticos e produtos de higiene. Durante o verão, o dia é bem quente, mas para as noites nas montanhas e no deserto recomenda-se levar uma malha ou jaqueta. No inverno, o clima não é tão frio quanto na Europa, ficando em média 10ºC, mas é chuvoso e a dica é ter guardachuva e capa protetora. Na cidade de Eilat e no Mar Morto, é possível utilizar roupas de banho mesmo no inverno, pois o clima se mantém quente o suficiente até mesmo para nadar. Da mesma forma, protetor solar, chapéu e óculos escuros são itens essenciais durante todo o ano. Se a ideia é fazer trilhas, sapatos confortáveis e cantis ou garrafas com muita água são indispensáveis. Um dado relevante é o fato de que a maioria dos albergues da juventude em Israel fornece lençóis e cobertores aos aventureiros de plantão.

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Mar da Galiléia

Santo Sepulcro

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Impressão da mão de Jesus, na Via Dolosa

Timna Park - Eilat


Muro das Lamentaçþes

Cafarnaum

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Tel Aviv

Mar Morto


Eilat

Informações importantes Todos os que visitam Israel devem ter o passaporte válido por no mínimo seis meses a partir da data de entrada no país e têm direito a permanecer por até três meses. Quem pretende trabalhar no país precisa ter um visto especial. Para os turistas que vão continuar viagem para os países árabes (exceto Egito e Jordânia), é recomendável pedir para que não seja carimbado o passaporte em Israel. Atender à solicitação fica a critério das autoridades locais.

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Sugestões e dicas Museu do Holocausto O Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, é um dos passeios imperdíveis quando se vai a Israel. Triste e belo, guarda toda a história de uma época que nunca deve ser esquecida, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A maior intenção do museu é dar nome e identidade aos que sofreram com o Nazismo.

Shabat Os judeus não trabalham no Shabat (período que vai de sexta ao pôr-do-sol até o aparecimento das três primeiras estrelas no céu de sábado). É possível visitar os lugares sagrados do cristianismo no período, mas é importante ter cuidado para não pegar um elevador programado para o Shabat no hotel, pois ele vai parar de andar em andar para as pessoas que estão respeitando o dia do descanso. No próprio botão do elevador está indicado se ele é programado para o Shabat ou não. Durante o Shabat, compras só podem ser feitas em mercados árabes.

Muro das Lamentações Não são somente os judeus que fazem preces e deixam mensagens para Deus no Muro das Lamentações. Apesar de ser um templo sagrado do judaísmo, é possível encontrar pessoas adeptas de outras religiões, inclusive caravanas inteiras de evangélicos. No Muro, todos são bem-vindos. Não estranhe os judeus que rezam de olhos fechados e cabeça encostada no muro ou no Antigo Testamento. Eles rezam dessa forma para enxergar somente a Deus nas preces. Se tiver tempo e disposição, visite também as escavações do Muro. É justamente lá embaixo que fica o ponto de maior proximidade entre o Muro e o suposto local da Arca da Aliança, que guarda a tábua contendo os Dez Mandamentos.

Camelos Se você quer passear de camelo, negocie! Os preços altos vão diminuindo com a conversa. E não estranhe se os donos pedirem a opinião dos animais.

Quem busca informações turísticas sobre o país pode entrar em contato com o escritório do Ministério do Turismo de Israel, em São Paulo, por e-mail (infobr@ goisrael.org.il), pelo telefone (11) 3034-6423 ou ainda pelo site www.goisrael.com.br

Museu do Holocausto

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Toca de Assis, exemplo de amor

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incentivo social

Ensinamentos de humildade que atravessam o tempo

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Ao ouvir o nome Giovanni di Pietro di Bernardon, muitas pessoas se perguntarão de quem se trata. Mas São Francisco de Assis todos sabem quem foi e qual a importância dele com o seu legado de amor e compaixão para com os pobres. Nascido na cidade de Assis, na Itália, Giovanni di Bernardon era de família rica e teve uma juventude badalada, voltada às diversões mundanas. Mais tarde, abdicou de tudo para seguir os desejos do seu coração e viver como pobre e com os pobres, voltando seus olhos caridosos aos excluídos sociais, principalmente os leprosos. Ficou conhecido como Francisco de Assis e foi canonizado pela Igreja católica dois anos depois de sua morte, em 1228. Seguindo os seus ensinamentos e filosofia, foi criada em Campinas, em 1994, a Fraternidade de Aliança Toca de Assis, com o objetivo maior de cuidar dos pobres em situação de risco. Hoje, a Fraternidade conta

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com 45 casas espalhadas pelo Brasil e duas unidades no Equador. Em Ribeirão Preto, a casa Toca de Assis existe há seis anos e abriga 18 religiosos – ou irmãos franciscanos, como são conhecidos. As casas da Toca de Assis funcionam como passagem de luz para os moradores de rua. Nelas, os irmãos franciscanos realizam um trabalho para recuperar a dignidade do ser humano acolhido. Eles auxiliam essas pessoas a buscar um emprego, a recuperar o contato com a família e, aos que têm direito, a dar entrada na aposentadoria. A mesma ajuda é fornecida às mulheres, em casas específicas para elas, que são administradas pelas irmãs franciscanas. Normalmente, os acolhidos ficam de seis meses a um ano em uma dessas casas, tempo necessário para organizar a documentação e localizar a família. Além da divisão entre homens e mulheres, as casas da Toca de Assis se dividem por perfis diferentes de pessoas. Há casas para doentes acamados, outras para quem está saudável e consegue trabalhar, e existem ainda casas em que os irmãos passam seus últimos dias de vida. A Toca de Assis em Ribeirão tem um diferencial em relação às outras. “É a única do Instituto Toca de Assis que forma os primeiros irmãos franciscanos que serão enviados para missões”, afirma o frade Cordeiro. Por ser específica para esse fim, são celebradas, durante toda a semana, missas abertas à população. “Em cada dia da semana vem um padre diferente celebrar a missa”, completa irmão Cordeiro. O objetivo da Toca de Assis é levar esperança aos pobres de rua e realizar a reinserção social desses acolhidos. “Para atingir esta meta, contamos com o apoio de voluntários de diversos segmentos profissionais como médicos, assistentes sociais, e outros tantos”, afirma irmão Cordeiro. Qualquer pessoa, independentemente da profissão ou religião, pode ajudar a Fraternidade com doações de alimentos, roupas e até mesmo dinheiro através de depósito ou boleto bancário.

por que o nome “toca”(de assis)? A e s c o l h a d o n o m e “ To c a” p a r a a Fraternidade se deve ao fato de que São Francisco de Assis acolhia os pobres e leprosos em tocas e cavernas de pedra, onde lhes prestava auxílio.

TOCA DE ASSIS EM RIBEIRÃO PRETO Rua José Raymundo Filho, 421 – Cond. Balneário Recreativa Visite o site: www.tocadeassis.org.br

Como ajudar Doações em dinheiro: B. Bradesco – AG 490 – C/C 203-8 – Fraternidade Aliança Toca de Assis

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Meryl Streep:

interpretação de ouro por Talissa Berchieri

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cultura

Meryl Streep conquista prêmios na pele da Dama de Ferro

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Aos 62 anos e ainda no auge de sua carreira, Meryl Streep mostra que semelhanças com personagens são dispensáveis quando se trata de uma grande atriz. Prova disso é o seu mais recente trabalho “A Dama de Ferro”, dirigido por Phyllida Lloyd, que também trabalhou com Streep no musical “Mamma Mia”. No longa, a atriz vive ninguém menos que a ex-Primeira Ministra britânica Margareth Thatcher. Além de ideologias diferentes, Streep e Thatcher nem ao menos possuem a mesma nacionalidade, mas isso passa longe de ser um problema, já que Meryl é famosa no meio artístico por sua dedicação e empenho para se adaptar a qualquer sotaque. A atriz pronuncia com tanta perfeição o accent britânico que faz duvidar de suas raízes americanas. Claro que um trabalho memorável como este não poderia passar despercebido. Por isso, Meryl Streep vem arrematando vários prêmios em 2012. Entre eles, o Oscar de melhor atriz, troféu mais cobiçado do

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cinema. Apesar de recordista em indicações ao prêmio (são 17 ao todo), há 30 anos ela não levava uma estatueta do homenzinho de ouro para casa. A primeira vez foi em 1979, em “Kramer vs Kramer” como coadjuvante, em que vive uma personagem polêmica que, depois de abandonar o filho, resolve disputar a guarda da criança com o marido, interpretado por Dustin Hoffman. Em 1982, venceu como atriz principal por “A Escolha de Sofia”, a memorável mãe polonesa forçada a escolher um de seus dois filhos para ser morto pelos nazistas. Meryl Streep perde em estatuetas do Oscar apenas para Katharine Hepburn, que conquistou quatro ao longo de sua trajetória no cinema. Mas já ganhou oito vezes o Globo de Ouro, entre tantos outros prêmios mundiais importantes, e este ano foi homenageada com um Urso de Ouro Honorário por sua carreira, no Festival de Berlim. Troféus, boas críticas e homenagens ainda não traduzem a sensação de vê-la em cena. Quando Meryl Streep entra em ação, o espectador é testemunha de algo mágico: ela se entrega, dá vida, cor e voz às mulheres que interpreta. Da simplicidade da dona de casa em “As Pontes de Madison” à elegante e cruel editora de revista em “ O Diabo Veste Prada”, a atriz deixa sua marca inesquecível. Versátil, Streep também encheu a tela com seu brilho em comédias como “A Morte lhe Cai Bem” e no musical “Mamma Mia”, no qual a atriz solta a voz e coloca em prática suas aulas de canto. E não podemos deixar ainda de citar a primorosa interpretação em “Julie & Julia”, cinebiografia da apresentadora americana Julia Child, sucesso em programas de culinária na TV. É só buscar a chef de cuisine em vídeos na Internet para levar um susto com a tamanha semelhança que Streep consegue entre personagem e pessoa real. Provocando risos ou lágrimas, o que vale é sermos presenteados com o trabalho da atriz que provou mais uma vez, em “A Dama de Ferro”, ser realmente uma artista de ouro.

“Gosta de cinema? Curta a página Cinematógrafo no Facebook”

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TONY RAMOS

Com quase cinco décadas de carreira, Tony Ramos é um dos atores mais queridos pelo público e pelos colegas de trabalho. Nascido no dia 25 de agosto de 1948, em Arapongas-PR, o ator chama-se Antônio de Carvalho Barbosa.

Ainda criança, mudou-se com a família para São Paulo, onde fez teatro amador e cursou Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Tony estreou na TV Tupi, em 1964, no programa “Novos em Foco”, apresentado pelo jornalista Ribeiro Filho, que promovia testes para novos atores. Ainda pela emissora, participou do “TV de Vanguarda”, “TV de Comédia” e “Grande Teatro Tupi”. Nessa época, fez parte também do Teatro Cultura Artística de São Paulo, onde encenava peças infantis. Sua primeira novela foi “A outra”, de Walter George Durst, transmitida pela TV Tupi em 1965. Depois disso, trabalhou em diversas novelas da emissora. Foi contratado pela TV Globo em 1977, para viver o jovem ator Paulo Amaral na novela “Espelho mágico”, de Lauro César Muniz. Em dezembro do mesmo ano, começou a trabalhar em “O astro”, novela de Janete Clair que consolidou sua popularidade como ator. O personagem era Márcio, filho do industrial Salomão Hayala (Dionísio Azevedo). O jovem milionário se dizia enviado de São Francisco de Assis e rejeitava a riqueza da família. Além disso, este personagem fez com que o jovem ator entrasse para a história da TV brasileira por ter sido o primeiro nu masculino.

Quando seu nome é citado, os jovens atores logo o enchem de elogios dizendo que querem atuar ao seu lado. Alguma vez um deles tremeu ao te ver de pertinho? (Risos). Se alguém tremeu, não deixou transparecer. Nunca permiti isso. Comecei muito jovem na minha carreira. Tinha 14 anos, na TV Tupi. Então passei por todo esse processo. O que sempre digo é que somos iguais. Você é conhecido por ser muito educado, além de divertido e atencioso. É isso mesmo? Acho que esse é o meu dever. Aos 60 anos, só tenho de agradecer a Deus, pela vida e por ter saúde. Eu e Lima Duarte vivemos falando disso. Somos gratos por termos a permissão de Deus para continuar nessa profissão. Ser educado, bem humorado é dever de todo ser humano. O que é Bem Viver? Para se viver bem, antes de tudo, é preciso ter uma boa educação. A cultura é o que move o homem, o resto é perfumaria. Gosto da simplicidade. Sou uma pessoa feliz comigo mesmo. Vivo bem porque sou grato à vida. Todo mundo tem problemas, dúvidas, preocupações, unha encravada, dor de dente, tenho tudo. Só que as questões existenciais são equacionadas dentro de mim.

Fonte: entrevista concedida para a apresentadora Izadora Rodrigues no programa Isto É, durante a entrega do prêmio brasileiro do ano na Cultura, que venceu, em 2011.

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eu t么 falando de

amizade

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lazer


Como disse Machado de Assis: “Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir. Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende. Amigo a gente sente!”

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Nada substitui o ato de dividir um chocolate no recreio, emprestar uma roupa para ir a uma festa, ou brindar no bar com os amigos depois de uma semana de trabalho duro. Amigo é o que amortece as dores e se contagia com a nossa alegria. Está cientificamente comprovado que a qualidade de vida e a longevidade estão diretamente associadas ao fato de se possuir bons amigos. Isto porque as atividades prazerosas praticadas ao lado deles liberam no cérebro a ocitocina, a mesma substância do prazer produzida na hora do orgasmo sexual. A mulher produz mais esse hormônio que o homem, o que explica o fato de elas terem mais amigas que eles, mas isso não quer dizer que a intensidade do sentimento seja menor. A jornalista Thelma Lavagnoli sabe bem o significado desta relação. Depois de sofrer um acidente que a deixou na cama por seis meses, ela afirma que os amigos foram parte importante na recuperação com suas visitas frequentes em que ficavam horas conversando, jogando videogame, ou simplesmente vendo TV. “Minha família deu muito apoio, mas os amigos tornaram o processo mais fácil. Na companhia deles, consegui relaxar e esquecer os problemas causados pelo acidente”. Mas há quem tenha amigos em diferentes turmas e daí é preciso jogo de cintura para conciliar os diversos gostos. O advogado William Pereira dos Santos diz que se adapta às turmas mais sofisticadas e também aos amigos que preferem a simplicidade de um boteco. Revela ainda que destina o almoço de todas as quintas-feiras para se encontrar com uma grande amiga. Uma maneira de manter a amizade intensa e querida.

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Segundo a psicóloga Silvana Posella, o contato da amizade vale mais que sair vitorioso em alguma situação. “ Há amigos que preferem jogar no mesmo time de futebol, ainda que sabendo que um deles é perna de pau, pelo simples fato de se sentir bem com ele”. A mesma opinião é compartilhada pelo seu colega de profissão, o psicólogo André Faro. Ele acrescenta que a amizade nem sempre precisa da convivência cotidiana. “Um amigo que passa a morar distante pode trocar mensagens, e-mails e telefonemas”. Mas será mesmo que a amizade permanece à distância? Patrícia Ramachoti, advogada, garante que sim e mantém vários amigos em outras cidades. “Uma vez amigo, sempre amigo”.

É, amizade verdadeira é marcada a ferro e fogo no coração. E há quem deixe essa marca à mostra para provar que carrega o amigo consigo o tempo todo. Marcus Tortoro, estudante de arquitetura e músico, tatuou no braço uma homenagem ao amigo que faleceu no ano passado. Aos 20 anos de idade, eles conviviam desde os cinco, quando se conheceram na pré-escola. Infância e adolescência foram passadas lado a lado e, sem dúvida, essa amizade durará por toda a eternidade. A tatuagem foi a maneira de Marcus ter sempre perto aquele que mais que amigo, tornou-se seu irmão.“Ele me ensinou, além de muitas coisas, o que é gostar de alguém de verdade, o que é sentir saudade de verdade, o que é amar, e principalmente, o que é amizade. Ele sempre pedia para eu tocar a musica ‘ Podes Crer’, do Cidade Negra, e dizia que era a nossa musica. E eu queria que ela ficasse gravada em mim. É uma homenagem pro Canales e pra nossa amizade que eu tenho certeza que, como a tatuagem, é pra sempre!”. A frase escolhida da música não poderia ser melhor: “ eu tô falando de amizade!” É, Marcus, tá mesmo, podes crer!

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Podes Crer Cidade Negra

O que é meu irmão eu sei o que te agrada e o que te dói, e o que te dói é preciso estar tranquilo pra se olhar dentro do espelho refletir o que é? Seja você quem for eu te conheço muito bem e isso faz bem pra mim isso faz bem pra vida Onde quer que vá eu vou estar também eu vou me lembrar daquela canção que diz parapapapa.... Bendito encontro na vida Amigo é tão forte quanto o vento quando sopra tronco forte que não quebra, não entorta podes crer, podes crer, eu tô falando de amizade

Composição: Da Gama / Bino Farias / Lazão / Toni Garrido

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ecologia

sopro verde A import芒ncia da energia e贸lica, uma fonte de energia limpa, barata e que pode melhorar o futuro ambiental do planeta 75


A

“ Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”. A frase do poeta Fernando Pessoa é simples, assim como o vento, mas tem um significado imenso e remete a cada pessoa uma emoção diferente. O balonista Ivan Pinelli sabe bem que os ventos merecem admiração e respeito. Como os balões não possuem dirigibilidade mecânica, os ventos são os únicos responsáveis por um voo bem sucedido. Para Pinelli, a sensação de liberdade é o que move alguém a querer voar de balão. “ Esses voos não têm muita adrenalina, na verdade, são passeios muito tranquilos e contemplativos”. Por isso que o piloto de balão precisa estudar a meteorologia e conhecer tudo sobre os ventos, pois, além de proporcionar segurança, são eles que vão direcionar o passeio para o melhor roteiro. O vento nada mais é do que o ar em movimento. Os meteorologistas explicam que o ar é uma mistura de gases, principalmente de nitrogênio e oxigênio, contendo também vapor d’água, responsável pela umidade. O peso do ar sobre determinada superfície da Terra é a chamada pressão atmosférica, diretamente relacionada à altitude e à temperatura. O movimento ocorre quando há o deslocamento de ar devido a pressões atmosféricas diferentes. O professor de meteorologia do IAG-USP (Instituto de Astronomia e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo), Mário Festa, explica que, dependendo das condições do local, da variação do vapor d’água e das temperaturas entre os diferentes trechos do planeta, o ar fica com densidades diferentes, dando origem a vários tipos de ventos. O professor ainda diz que sem vento o tempo seria monótono e, em cidades poluídas, o ar seria sufocante. “O vento é responsável por provocar ondas na superfície dos mares e por levar aos oceanos nutrientes que servem de alimento aos peixes”.

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O uso da energia eólica A energia eólica há tempos é utilizada pelo homem. É só pensar nos barcos movidos por velas ou nos moinhos de vento para a moagem de grãos e para bombear água. Atualmente essa energia é usada como fonte de energia elétrica, concedendo ao nosso planeta um futuro ambiental melhor. As torres geradoras de energia eólica, chamadas de aerogeradores, possuem três pás de hélices como grandes cataventos. Quando os ventos batem nas hélices, geram uma força mecânica que aciona um gerador, que a transforma em energia elétrica. O Brasil tem um território geograficamente próspero para esse tipo de energia e os estudos para uma ampla implementação não param. A presidente executiva da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), Elbia Melo, explica que os aerogeradores se modernizam constantemente, assim como os computadores. Eles sofrem inovações que os aprimoram e os barateiam. Por isso, ela garante que o Brasil está investindo no momento certo nesta tecnologia. A energia eólica contribui para a sustentabilidade, que está baseada em três pilares: ecológico, econômico e social. Ecológico: O vento é uma energia renovável e inesgotável, diferentemente da água, que promove energia através de hidrelétricas e que está cada vez mais escassa no planeta. Para os ambientalistas, o único prejuízo ambiental que as torres causam é a poluição visual nos locais onde são instaladas. Econômico: O Brasil tem o agente facilitador dos ventos constantes, sem variações, que tornam este um investimento certo e sem prejuízos. A energia gerada pelas hidrelétricas depende da quantidade de água dos rios, por isso, em alguns locais, durante o período de baixa das águas, é a energia eólica que está em pleno funcionamento. Social: Os aerogeradores estão sendo instalados agora em pequenas fazendas nas regiões semiáridas e agrestes, por isso, famílias que antes não possuíam meios de se sustentar são beneficiadas pela implantação dessas torres em suas terras. E não há problemas em harmonizar as atividades agrícolas ou pecuárias com as torres. Existem relatos de famílias que hoje podem contar com R$ 1.000,00 a mais no orçamento por causa da energia eólica. Esses pequenos fazendeiros são conhecidos como os vendedores de vento. A tecnologia é utilizada no Brasil principalmente no Parque Eólico de Osório, localizado no Rio Grande do Sul. Em julho deste ano, é esperado que entre em operação um complexo de 14 parques na Bahia. A grande vantagem é ser uma fonte inesgotável de energia sem gerar resíduos que ajam contra o meio ambiente e com custos baixos de produção. É o vento soprando um futuro promissor ao país.

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por Renata Canales

Passe bem, dona Doutora!

Livros técnicos e documentos se acumulavam na escrivaninha. Tinha que escrever a tese de doutorado de qualquer maneira. O tempo, sem pena, continuava a empurrar os ponteiros do relógio aproximando a data final de entrega. Na tela do computador, um texto formado por dados, tabelas, citações formava um desenho dadaísta sem o menor sentido. Ela teclava em ritmo rápido, deixando no ar uma melodia frenética que, de quando em quando, dava lugar a um longo silêncio, como se o maestro distraído não lembrasse o restante das notas. Mas nada de paz existia naquele instante. O teclado quieto era novamente castigado assim que ela conseguia captar de um autor a resolução da dúvida. Foi assim por meses. Nada de passeios, telefonar para amigas, assistir a um filme ou qualquer outra diversão que fosse. Em casa, o empenho era total na pesquisa. O filho resolveu dar um tempo na crise de adolescência; lembrava-se bem da mãe na época do mestrado e sabia que, naquele período, nenhum colapso rebelde seria percebido; o marido nem se atrevia nas cobranças por atenção e se sentia satisfeito em ser o responsável por ela não cair em inanição. Os dois andavam leve pelos corredores para não fazer barulho; nem a TV ligavam mais, senão muito, muito baixo. Ela, no escritório, atordoava-se nas reflexões. No banho, maquinava mentalmente o próximo capítulo e não foram poucas as vezes em que saiu molhando o chão para registrar uma idéia que lhe parecia genial. O estresse era geral. As páginas se multiplicavam no arquivo “tese”:100, 150,200. O fim se aproximava. Seus olhos, ardendo com a tela de fundo branco e muitas letras, nem acreditaram quando o derradeiro ponto final foi dado na longa conclusão. Estava pronto! Um grito de alegria envolveu o ambiente. Ligou para o marido, para o filho, sairiam à noite para um jantar em família. Felicidade total, comemoraram com champagne. O resultado do trabalho lhe valeu nota “A” com louvor, sucesso absoluto! Enfim, o título de doutora lhe garantiria no ano seguinte um acréscimo no salário de professora universitária e o respeito dos colegas e alunos. Tinham valido a pena o desassossego e a dedicação. Já com corte novo de cabelo, sorriso largo no rosto, arrumava os últimos preparativos para a festa de natal quando um telefonema lhe interrompeu a organização: - Professora, aqui é do departamento pessoal da universidade. Estamos entrando em contato para lhe dar os parabéns pelo título e dizer que não temos mais interesse no seu trabalho. A faculdade está dispensando todos os doutores. Para o lugar da senhora contratamos um recémgraduado por um quarto do seu salário. Passar bem e bom natal! Largou o telefone sem forças nem para andar. Entrou na cozinha e um sentimento nada cristão lhe envolveu a mente. Olhou para o chester tirado a pouco do forno e o trinchou violentamente, sem nenhuma habilidade acadêmica.

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Quanto tempo passei aqui até que você chegasse. Inseguro, temeroso, um caco. Aos poucos fui sendo tomado pela luz que jamais havia visto emanar assim. Aos trancos fui descobrindo que a confiança chega por onde menos se a espera. Mãos amigas transportaram meu corpo e alma para onde estão hoje: a seu lado. Quero lutar suas causas, compreender seu instinto para fortalecê-lo a conquistar o destino. Percalços, mil e tantos aparecerão, mas digo que estamos num dos estágios probatórios mais importantes dessa nossa jornada. Esse encontro não foi apenas por acaso. O cenário, os personagens, os atores e diretores nos apontam para cenas ainda mais decisivas e mais graves. Acredito em nós, na coragem que nem foi colocada como proposta em nosso começo inesquecível, de fazermos dos medos a mortalha das frustrações e ansiedades. Venha, vamos ao arco-íris no horizonte, lá tem mais de nós dois, nossos encantos e descobertas, poesia e músicas em meio a ursinhos e fadas e outros souvenires desse encontro. A fé, os sortilégios de amor, os banhos, os aromas. A delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso, comendo pipoca com chocolate quente; o prazer de dormir junto, abraçado de “conchinha”, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor. Um simples cafezinho, comidas feitas com carinho. Os rituais se renovando. Há bastante e é suficiente. Além de confiar, amo como nunca antes aconteceu em minha vida. Limitações, preciso encará-las para a superação querendo ir até o fim! Hoje, na verdade, o fracasso é a oportunidade de começar inteligentemente outra vez. Para entender o crescimento, preciso conviver com as perdas. Perdas possuem significado ímpar em minha vida. Por incrível que pareça, é diante delas que dou um valor incrível para as coisas, seu verdadeiro valor. Um detalhe: jamais fico me cobrando pelo ocorrido no passado. Apenas aprendo, pois paradigmas são quebrados e, pensando nisso, sou feliz. Grato, amor! Volte logo… até um dia, até adeus, até, quem sabe?

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conviver

por Regis Vianna

Meu amor


por Felício Bombonato

Certa vez, um fazendeiro encontrou uma estátua valiosa de um dos 18 Arhats ( homens santos) budistas numa encosta da floresta. Ao chegar a sua fazenda, foi logo mostrando aos seus familiares, que ficaram muito entusiasmados, e alegremente exclamaram: - Deve ter uns quarenta quilos de ouro puro! disse um. - Ha, Ha! Teremos comida e bebida para o resto da vida! disse outro. A família e os amigos do fazendeiro ficaram muito felizes com a descoberta, mas o fazendeiro ficou triste e se sentou, com um olhar preocupado em seu rosto... - Agora é um homem rico! Porque está preocupado? perguntou um. - É que estou pensando... Onde será que estão os outro 17 Arhats? - respondeu.

Desde muito cedo fomos estimulados a procurar nossa felicidade na aquisição das coisas materiais e, assim, crescemos em um mundo de consumismo, materialismo e imediatismo. Muitos brigam por pouca coisa ou se agarram às pequenas coisas, como se estas fossem sua própria vida, porém, com o passar do tempo, percebem que gastaram muito tempo, saúde, energia e dinheiro em coisas que realmente não puderam satisfazer o seu desejo íntimo de ser feliz. Muitos, apesar de terem de tudo, sentem um grande vazio dentro de si e, destes, alguns tentam preencher esse vazio com comida e outros com bens materiais, muitas vezes gastando mais do que ganham. É necessário o homem voltar-se para dentro de si, que é onde reside o seu verdadeiro tesouro. Todos nós desejamos ser muito felizes, porém nossas alegrias devem estar fundamentadas nas verdadeiras riquezas, que são aquelas que o dinheiro não pode comprar, tais como as nossas amizades, a nossa saúde, o nosso bem-estar interior, a nossa gratidão a Deus pela vida e por tudo o que possuímos, o corpo perfeito que nos permite mover e agir, etc. Somos possuidores de grandes tesouros, porém não fomos educados a reconhecê-los, e só o fazemos quando os perdemos. O verdadeiro rico não é o que possui mais bens materiais, mas sim o que possui menos necessidades. Vivemos em um mundo material, e precisamos dele para viver, porém precisamos igualmente buscar os valores espirituais e, assim, equilibrar o ter com o ser, o exterior com o interior e, assim, viver em equilíbrio. Há um provérbio chinês que diz: “Conhecer o significado da satisfação já é riqueza suficiente”. Desta forma, quando, através da meditação, nos voltamos para o nosso interior, encontramos a verdadeira plenitude da satisfação. Descobrimos dentro de nós a capacidade de amar e crescer em busca da verdadeira luz, pois, quando amamos através da nossa natureza profunda, já nos transbordamos desta energia que nos traz grande contentamento interior, de forma permanente e duradoura. Procure conhecer a sua essência, descubra os valores que existem dentro de você e, assim, tente, aos poucos, valorizar mais as relações humanas e os que vivem ao seu lado. Acredite: você tem o poder de mudar a sua vida e o seu mundo, basta apenas decidir e querer.

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por Magno Bucci

Mamma son tanto felice... Porque estou grávido de você! Disse isso num impulso, quase sem pensar, e quase ao mesmo tempo do último suspiro da mãe. Era a última cena daquele derradeiro ato. E, sem qualquer contenção de lágrimas, sentou-se aos pés da cama e olhou fixamente o rosto da mamma – belo! solar! – já se distanciando da vida terrena. A correntinha com a efígie de um oroboro na medalha que Ela usara a vida toda, Ele agora colocava em seu pescoço e se despedia. A dor já o vinha rasgando por dentro fazia tempo. Pressentia tempestades dentro de si quando a mãe o olhasse pela última vez, esperava o estilhaçamento do coração... mas nada disso acontecia. Só lágrimas. Por mais que se esforçasse para sofrer, Ele não sofria. Por mais que quisesse ser dilacerado, não conseguia. Envolto em silêncio absurdo, soava dentro dEle o Requiem de Mozart. Era um mistério aquilo que estava sentindo. Sabia muito da vida, mas quase nada sobre a morte. Desmoronava e, no entanto, sentia leveza. Era como se aquela situação desse a Ele a certeza de que a morte tinha suavidade... E tem! Uma pureza...como um conto de fadas em que a recompensa é sempre maior que a dor e o castigo. Sobre aquela mulher não havia voz discordante. Aquela guerreira – generosa e serena – sempre carregada de muita bondade humana alcançara grau máximo de sabedoria. Soube como poucas administrar seus universos: o da racionalidade e o da afetividade. E, sobretudo, como ninguém, soube ensinar. Esse era o legado da mamma. E como capitalizar essa grandeza se não se engravidar de toda aura materna? Esse foi o insight. Ao dizer as últimas palavras firmava o pacto de garantir a manutenção de um pouco mais de dignidade sobre a Terra. Como um relâmpago veio-lhe ao pensamento o que a mãe já não podia escutar. Queria ter gritado: escolhi você, decidi ser seu filho por tudo isso que você deixa... Não blasfemava. Se vista de fora, talvez a cena revelasse uma pintura, uma concepção ousada e invertida de Pietá. Seu tempo aos pés da cama estava acabando. Em prece, bem baixinho, disse um Drummond: o pássaro é livre na prisão do ar. O espírito é livre na prisão do corpo. Mas livre, bem livre, é mesmo estar morto. Depois, como que ungindo, acariciou a face da mamma e, como um príncipe encantado, segurou-lhe a mão, deu-lhe um beijo na testa e saiu para ficar sozinho. Foi para o jardim e pegou um figo no pé, era tempo della befana, uma das tradições que a mãe fazia questão de cultuar. Em seguida, acendeu um cigarro, depois um segundo e mais outro... Não por acaso, como há muito não se via, no céu daquela noite Júpiter mostrava-se mais iluminado. Claro que Ele não dormiu! E, quando o sol já aparecia naquela parte do mundo, Ele – que sempre foi do bem – enxugou a última lágrima e começou a ir embora. E pelo andar já era possível reconhecer que ali estava um homem acrescentado.

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por Luiz Puntel e Fátima Chaguri agosto/2006

Carro (fala) de bois

“Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois” (Fernando Pessoa) De bois, o carro era. Levava, no tempo útil, Milho, arroz, café, Rapadura feita com o braço forte Da avó do menino. De bois, o carro era. Levava também, no tempo mítico, Tiãozinho candieiro, Soronho maldoso carreiro, Rapadura e defunto. De bois, o carro era. Levava agora, no tempo inútil, A lembrança da menina escondida Atrás da saca. Leva o encanto da infância do menino Como nos leva aos roseanos contos E pessoanos poemas. Nas juntas, sonolentos bois Juntavam conversas na noite. Brinquedo e Namorado, Capitão e Brabagato, Realejo e Canindé Dansador e Brilhante. Os bois mugindo conversas de gente, A gente ouvindo conversas de bois. Nhein renhein nhein... O cocão geme nas lembranças Da menina agora mulher, Do menino agora homem, De nós, sempre e pessoanamente Encantados por Rosa Guimarães Pessoa

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Nhein renhein nhein... O cocão geme sempre Na lembrança dos que Roseiam conversas na noite E pessoam poesias ao vento. Até hoje, na calada da noite, Quando tudo se aquieta, - Ê boi! O fantasma dos bois Vem contar as histórias Da menina escondida entre as sacas, As saudades do menino, A poesia viva que eterniza o carro. E nós, todos, Na mesa carro de bois, Brindamos a vida, Carroboiando lembranças E eternizamos histórias. - Ê boi! -


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curiosidades de esopo

O Lobo e o Cordeiro Como naquele verão fazia muito calor, um lobo dirigiu-se a um riacho. Quando se preparava para mergulhar o focinho na água, ouviu um leve rumor de erva a mexer-se. Virou a cabeça nessa direção e viu, mais adiante, um cordeirinho que bebia tranquilamente. “Vem mesmo a propósito!” – pensou o lobo de si para si. - “Vim aqui para beber e encontro também o que comer...”Aclarou a voz, pôs um ar severo e exclamou: -Eh! Tu aí! -É comigo que está falando, senhor? - respondeu o cordeiro. – Que deseja? - O que é que desejo? Mas é evidente, seu malcriado! Não vês que ao beber me turvas a água? Nunca ninguém te ensinou a respeitar os mais velhos? - Mas... senhor? Como pode dizer isso? Olhe como bebo com a ponta da língua... Além disso, com sua licença, eu estou mais abaixo e o senhor mais acima. A água passa primeiro por si e só depois por mim. Não é possível que o esteja incomodando! – respondeu o cordeirinho com a voz trêmula. - Histórias! Com a tua idade já me queres ensinar para que lado corre a água? - Não, não é isso... só queria que reparasse... - Qual reparar nem meio reparar! Olha que não me enganas! Pensas que te escapas, como no ano passado, quando andavas por aí a dizer mal da minha família? “Os lobos são assim... os lobos são assado...” Tiveste muita sorte por eu nunca ter te encontrado, senão já te tinha mostrado como são os lobos! - Não sei quem lhe terá contado tal coisa, senhor, mas é mentira, acredite. A prova é que no ano passado eu ainda não tinha nascido. - Pois se não foste tu, foi o teu pai! - rosnou o lobo, saltando em cima do pobre inocente, comeu o Cordeirinho inteiro. Só deu tempo do coitado suspirar.

MORAL DA HISTÓRIA Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece

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