O Livro dos Av贸s
Ano Letivo 2010/2011
Introdução ....................................................................................................................... 14 Pré-Escolar ...................................................................................................................... 16 Sala 1 ............................................................................................................................... 16 OS PINHÕES ............................................................................................................................. 17 Gonçalo Silva contada pela avó Leonilde Alves ...................................................................... 17 A HISTÓRIA DO GAIATO........................................................................................................... 18 João Dinis Carvas contada pela avó Clara ............................................................................... 18
Sala 2 ............................................................................................................................... 19 LENDA DO SARDÃO DE CÁRQUERE ......................................................................................... 20 Mariana Teixeira lenda contada pela avó Mariana que é natural da freguesia de Cárquere do concelho de Resende. ............................................................................................................. 20 LENDA DE SÃO MARTINHO CONTADA PELAS AVÓS DA MARTA ............................................. 21 Marta Luzio contada pelas Avós Laurinda e Cândida. ............................................................ 21 O PALHAÇO.............................................................................................................................. 22 Martim contada pela avó Belmira Alves ................................................................................. 22 O HOMEM E O BURRO ............................................................................................................ 23 Pedro Miguel Teixeira Fontoura contada pela avó Assunção ................................................. 23
Sala 3 ............................................................................................................................... 24 HISTÓRIA DE NOSSA SENHORA ............................................................................................... 25 Afonso José contada pela avó Lurdes ..................................................................................... 25 FILHO ÉS, PAI SERÁS ................................................................................................................ 26 André contada pelo avô João .................................................................................................. 26 A AMIZADE MALICIOSA ........................................................................................................... 27 Arí contada pela avó Maria Teixeira ....................................................................................... 27 O MENINO MENTIROSO .......................................................................................................... 28 Fábio Barreto Nepomuceno contada pelo avô Manuel Barreto ............................................. 29 HISTÓRIA DOS CABRITINHOS .................................................................................................. 30 Guilherme Ribeiro contada pela avó Teresa ........................................................................... 30 O POMBO E A FORMIGA ......................................................................................................... 31 Inês Correia Martins contada pela mãe Rosa ......................................................................... 31 O LEÃO E O RATO .................................................................................................................... 32 Inês Correia Martins contada pela mãe Rosa ......................................................................... 32 A CABRA E O CAVALO .............................................................................................................. 33 Joana Isabel contada pela avó Fernanda ................................................................................ 33
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HISTÓRIA DO COELHINHO E DA CABRA CABRÊS ..................................................................... 34 João Pedro contada pela mãe Isabel....................................................................................... 34 AS ORELHAS DO ABADE........................................................................................................... 35 Leonor Fernandes contada pelo avô Manuel Fernandes........................................................ 35 O MÉDICO DA FLORESTA ......................................................................................................... 36 Martim Cavaleiro Dias contada pela avó Manuela Rosinha ................................................... 36 A HISTÓRIA DA AVOZINHA ...................................................................................................... 37 Sara contada por avó Teresa ................................................................................................... 37 O PÁTIO DA BICHARADA ......................................................................................................... 38 Verena contada pela avó Clara ............................................................................................... 38
Sala 5 ............................................................................................................................... 39 A CIGARRA E A FORMIGA ........................................................................................................ 40 Beatriz Rebelo contada por avó Noémia................................................................................. 40 O REI QUE ERA DONO DO MUNDO ......................................................................................... 41 Bianca Carvalho contada pela mãe Mónica Carvalho ............................................................. 42 LENDA DE SANTO ESTEVÃO DAS GALÉS .................................................................................. 43
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Filipa contada pela mãe Juliana .............................................................................................. 43 O JOÃOZINHO E O LOBO ......................................................................................................... 44 Lívia contada pela mãe............................................................................................................ 44 A PEQUENA SEREIA ................................................................................................................. 45 Sheila história contada pela avó Idalina.................................................................................. 45 O PATO GALANTE .................................................................................................................... 46 Vera Moura Leite contada pela avó Lurdes ............................................................................ 46
1º Ciclo ............................................................................................................................ 47 1ºA ...................................................................................................................................47 A LENDA DA MARGARIDA ....................................................................................................... 48 Ana Margarida contada pela avó Palmira ............................................................................... 48 CONTOS DA AVÓ ..................................................................................................................... 49 Ângela Alves Trinta contada pela Avó Ana ............................................................................. 49 A LENDA DE MARIA MANTELA ................................................................................................ 50 Beatriz Araújo contada pela avó Maria do Céu Adão ............................................................. 51 LENDA DE S. TOMÉ DE MIRA ................................................................................................... 52 Beatriz Dias contada pelos avós maternos ............................................................................ 52
LENDA DO CERRO DA CANDOSA ............................................................................................. 53 Beatriz Dias contada pelos avós paternos.............................................................................. 54 A HISTÓRIA DA MOURA ENCANTADA ..................................................................................... 55 Gonçalo Faustino contada pela Avó Bárbara .......................................................................... 55 O LAVRADOR DA ARADA ......................................................................................................... 56 Gonçalo Lobo contada pela avó Maria Augusta Borges ......................................................... 56 A VELHA E A CABAÇA............................................................................................................... 57 Guilherme Trinta contada pela avó Fátima............................................................................. 57 A LENDA DA FONTE DA MOURA ............................................................................................. 58 Laura Pereira Costa contada pela avó Maria .......................................................................... 58 OS COMPADRES ...................................................................................................................... 59 Luana Mota contada pela avó Adelaide .................................................................................. 61 O SAPO COCHO E A LEBRE....................................................................................................... 62 Mariana Sofia contada pela avó Misse Rosa ........................................................................... 62 LENDA DE NOSSA SENHORA DA NAZARÉ ................................................................................ 63 Nuno Miguel contada pelos avós Maria Antónia e João ........................................................ 66 LENDA DO “VINHO DOS MORTOS” ......................................................................................... 67 Nuno Miguel Oliveira contada por Maria Conceição Vieira Queiroga .................................... 67 A MARIAZINHA E O JOÃOZINHO ............................................................................................. 68 Pedro Pires da Silva contada pela avó Ilda Moura Gomes ...................................................... 68 LENDA DA FONTE DA URZE ..................................................................................................... 69 Rui Silva contada pela avó Lídia .............................................................................................. 71 A HISTÓRIA DA VELHA E DA CABAÇA ...................................................................................... 72 Simão Freitas contada pela avó Mariana ............................................................................... 72
1ºB ...................................................................................................................................73 LENDA DA FONTE SÃO NEUTEL EM CHAVES ........................................................................... 74 Ana Filipa Marques contada pela avó Eulália.......................................................................... 74 UMA ESPERANÇA .................................................................................................................... 75 António Cardoso contada pela avó Maria............................................................................... 78 A SOPA DE PEDRA.................................................................................................................... 79 Bruna Carvalho contada pela avó Maria da Conceição .......................................................... 79 A ESPERTEZA DA AVOZINHA ................................................................................................... 80 Francisca Ferreira contada pelo avô Amândio Gonçalves ...................................................... 81
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O ELEFANTE QUE QUERIA SER REI .......................................................................................... 82 João Pedro Paquete contada pelo avô Bonifácio .................................................................... 83
1ºD ...................................................................................................................................84 A FRAGA DO CAVALEIRO - FREIXEDELO -BRAGANÇA .............................................................. 85 A FONTELA DE CANDEGRELO - GRIJÓ DE PARADA.................................................................. 85 Ana Sofia Ferreira Albino contada pela avó Justina ................................................................ 85 LENDA DA MOURA PONTE DE CHAVES ................................................................................... 86 André Gomes contada pela avó Matilde................................................................................. 87 UMA BOA MENINA .................................................................................................................. 88 Beatriz Silva contada pela avó Teresa ..................................................................................... 90 O PASTOR E O LOBO ................................................................................................................ 91 Pedro Tiago Oliveira contada pela avó Leonilde ..................................................................... 91 LENDA DO SR. BOM JESUS DE PONTA DELGADA -ILHA DA MADEIRA .................................... 92 Vanessa Silva contada pela avó materna Ilda Vanessa .......................................................... 92
1ºE ...................................................................................................................................93 SEMPRE VIVAS ......................................................................................................................... 94
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Carlos Diogo contada pela avó Fátima Patronilho .................................................................. 97 O JOÃO E O LOBO .................................................................................................................... 98 Laura Carolina Rocha contada pelo avô João.......................................................................... 99 A BORBOLETA AZUL............................................................................................................... 100 Margarida Pizarro Dias contada pela avó Antónia ................................................................ 100 A GALINHA DOS OVOS DE OURO .......................................................................................... 101 Tiago Tender contada pela avó Fátima. ................................................................................ 101 LENDA DA ROSA ENCANTADA ............................................................................................... 102 Diogo Fontoura contada pela avó Alice ................................................................................ 103 LENDA DE COMO APARECEU O NOME DA ALDEIA DE .......................................................... 104 Tiago João Pereira contada pela avó Almerinda ................................................................... 104 LENDA DO GALO DE BARCELOS............................................................................................. 105 Tiago Teixeira Veras contada pela avó Fátima ...................................................................... 105 LENDA DO PESO E PESINHO .................................................................................................. 106 Fábio Daniel contada pela prima Janete ............................................................................... 106
2ºA .................................................................................................................................107
LENDA DA FONTE DO MONTE DA MINA VILAR DE PERDIZES ............................................... 108 Afonso Costa contada pela avó Cândida Alves e recontada pelo pai José Carlos Costa ....... 108 A BONECA .............................................................................................................................. 109 Beatriz Alves contada pela avó Helena Matos ...................................................................... 109 LENDA DE MARIA MANTELA ................................................................................................. 110 Bruno Pio contada pela avó Tina Fernandes ......................................................................... 111 LENDA DA SENHORA DAS BROTAS ........................................................................................ 112 Carolina Castro contada pela avó Adelaide Vaz Acúrcio ....................................................... 112 LENDA A UMA MOURA ......................................................................................................... 113 Carolina Castro contada pela avó Maria Emília Castro ......................................................... 113 OS VELHINHOS ...................................................................................................................... 114 Cláudia Nogueira contada pela avó Maria Trinta Morais ..................................................... 114 O PAPAGAIO JACÓ ................................................................................................................. 115 Ema Morais contada pela avó Pura Pião de Sá ..................................................................... 115 LENDA DO SÃO MARTINHO................................................................................................... 116 Gonçalo Pinho contada pela avó Maria Lúcia ....................................................................... 116 OS TRÊS SOLDADOS ............................................................................................................... 117 Luís Filipe contada pelo avô António Batista ........................................................................ 117 O MAMA NA BURRA .............................................................................................................. 118 Pedro Miguel Carvalho contada pela avó Teresa Guedes..................................................... 119 A AVÓ, A RAPOSA E O LOBO ................................................................................................. 120 Rui Pedro Carvalho contado pela avó Maria Teresa ............................................................. 121
2ºB .................................................................................................................................122 O LOBO E A RAPOSA MATREIRA............................................................................................ 123 Ana Raquel Calvão contada pela avó Emília ......................................................................... 123 VELHA MARICUTELHA ........................................................................................................... 124 Ana Raquel Domingues contada pela avó Ana Rosa ............................................................. 124 O PAJEM INVEJOSO ............................................................................................................... 125 Beatriz Miranda contada pela avó Adelaide ......................................................................... 125 TORRE DE ERVEDEDO ............................................................................................................ 126 Beatriz Ferreira contada pelos avós Fernanda e João........................................................... 126 BIGODE ENGANOSO .............................................................................................................. 127 Constança Sofia contada pela avó Aida ................................................................................ 127
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A MENINA E O "MELEIRO" .................................................................................................... 128 Eva Inês contada pela avó Lucília Santos .............................................................................. 128 A VELHINHA E A MENINA ...................................................................................................... 129 Inês Esteves contada pelo avô José Esteves ......................................................................... 129 A VELHINHA E O LADRÃO ...................................................................................................... 130 Inês Margarida contada pela avó Glória ............................................................................... 130 CONTO DO AVÔ ..................................................................................................................... 131 Inês Santos contada pelo avô João Bandeira ........................................................................ 131 A VELHA E A CABACINHA ...................................................................................................... 132 Jorge Duarte Coelho contada pela avó Lucila Pereira Jorge ................................................. 132 O PRINCIPE SAPO .................................................................................................................. 133 José Miguel Fernandes contado pelo avô José Carvalho ...................................................... 133 LENDA DO PIO PARDO........................................................................................................... 134 José Pedro contada pelo avô Zeca ........................................................................................ 134 A HISTÓRIA DO MINÉRIO ...................................................................................................... 135 Luís Salgado contada pela avó Filomena Salgado ................................................................. 135
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A RAPOSA E O MOCHO.......................................................................................................... 136 Maria Anjos contada pelos avós Maria Amélia Gomes e Ernesto Machado ........................ 136 O PROFESSOR E O PAVÃO ..................................................................................................... 137 Maria Carvalho contada pelos avós Maria Carvalho e Cândido Rodrigues .......................... 137 O PRÍNCIPE, O LEÃO E A BRUXA ............................................................................................ 138 Maria Reis contada pela avó Tina ......................................................................................... 138 O MILAGRE DAS ROSAS ......................................................................................................... 139 Marta Santos contada pela avó Maria .................................................................................. 139 A ALDEIA SEM ÁGUA ............................................................................................................. 140 Mónica Lopes contada pela avó Irene .................................................................................. 140 A LENDA DO MADEIRO DO NATAL ........................................................................................ 141 Pedro Mosca contada pela avó Cândida Lopes..................................................................... 142 O HOMEM QUE VINHA ABRIR A PORTA COM UM OSSO NA MÃO ....................................... 143 Rafael Carvalho contada pela mãe........................................................................................ 143 O CONTO DO MEU AVÔ... ..................................................................................................... 144 Sofia Salgado contada pelo avô Zé ........................................................................................ 144
2ºC .................................................................................................................................145
CALENDÁRIO DOS CAMPONESES .......................................................................................... 146 Andreia Sousa contado pela avó Fátima ............................................................................... 146 HAJA VENTO .......................................................................................................................... 147 Constança Vieira contada pelo avô Fernando Pereira .......................................................... 147 A RAPOSA E O JOÃO POLEIRÃO ............................................................................................. 148 Constança Vieira contada pelo avô Fernando Pereira .......................................................... 148 AS HISTÓRIAS DO JOÃO SACRISTÃO...................................................................................... 149 Joana Cardoso contada pelo avô Albano Lopes .................................................................... 149 O AMOR DE DOIS IRMÃOS .................................................................................................... 150 Joana Sofia contada pela avó Carmo .................................................................................... 150 CONVERSA COM D. PALMIRA BRAGA RODRIGUES ALVES .................................................... 151 LENDA DO LOBO QUE COMIA GENTE (Valdanta) .................................................................. 152 Guilherme Sousa contada pela D. Palmira ............................................................................ 152 O CEGO E O MEALHEIRO ....................................................................................................... 153 Luís Matias contada pela avó Ana ......................................................................................... 153 JOÃO PREGUIÇOSO ............................................................................................................... 154 Mariana Melo contada pela avó Fernanda ........................................................................... 154 O LOBO E A RAPOSA .............................................................................................................. 155 Rafael contada pela avó Maria.............................................................................................. 155 O MISTÉRIO DA ÁGUA ........................................................................................................... 156 Rui Pedro Mota contada pela avó Lurdes ............................................................................. 156 A VELHA E A CABAÇA............................................................................................................. 157 Sophia Alexandra contada pela avó Lurdes Sophia.............................................................. 157
2ºD .................................................................................................................................158 LENDA SOBRE A ORIGEM DO MOSTEIRO DE SANTA MARIA DAS JÚNIAS ............................. 159 Adriana Azevedo contada pela mãe Cândida ....................................................................... 159 AS TRÊS MAÇÃZINHAS DE OURO .......................................................................................... 160 Andreia e Daniela contada pela avó Preciosa Medeiros ....................................................... 160 LENDA DA MOURA DA PONTE DE CHAVES ........................................................................... 161 Andreia e Daniela contada pela avó Preciosa Medeiros ....................................................... 161 A HISTÓRIA DO LOBINHO ...................................................................................................... 162 Justin Chaves contada pela avó Rosa .................................................................................... 162 HISTÓRIA DOS 10 SOLDADINHOS .......................................................................................... 163 Gonçalo Alves contada pela avó Maria Marcolina ................................................................ 163
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A CARRUAGEM E A MOSCA ................................................................................................... 164 Gonçalo André contada pela Dona Ivone ............................................................................. 164 O QUE ESTÁ NA GAVETA? ..................................................................................................... 165 Gonçalo Alves contada pela avó Maria Marcolina ................................................................ 165 LENDA DE MARIA MANTELA ................................................................................................. 166 Ivan Branco contada pelo avô Artur Branco ......................................................................... 167 O GALO E A PÉROLA .............................................................................................................. 168 Lívia contada pela avó Fernanda Maria ............................................................................... 168 A LENDA DA FONTE DA URZE ................................................................................................ 169 Sérgio Pinto contada pelo avô Sérgio Rogério Pinto............................................................. 169
2ºE .................................................................................................................................170 O RAPAZ E O LOBO ................................................................................................................ 171 André Filipe Alves contada pelo avô Quintas........................................................................ 171 HISTÓRIA DE VIDA DA MINHA AVÓ ....................................................................................... 172 Beatriz Mendes contada pela avó Cristina ............................................................................ 172 A RAPOSA E A CEGONHA....................................................................................................... 173
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Beatriz Sofia contada pela avó Joaquina ............................................................................... 173 "ALGUNS PROVÉRBIOS DOS MESES DO ANO" ...................................................................... 174 Diogo Carvalho contado pelo avô Joaquim ........................................................................... 174 CACARACÁ ............................................................................................................................. 175 Hugo Alves contada pela avó Delmina .................................................................................. 175 A RAPOSA E O GALO .............................................................................................................. 176 UMA HISTÓRIA MEDIEVAL .................................................................................................... 176 Igor Ferreira contado pelo avô Tony ..................................................................................... 177 LENGALENGA DA TIA CARRIÇA .............................................................................................. 178 João Carneiro contada pela avó Alcina ................................................................................. 178 A AVÓ .................................................................................................................................... 179 Margarida Alexandra contada pela avó Olívia ...................................................................... 180 A PRIMAVERA ........................................................................................................................ 181 AS SEMENTES ........................................................................................................................ 181 Mariana Loivos contada pela avó Maria de Jesus ................................................................. 181 O LOBO E OS CABRITINHOS ................................................................................................... 182 Mariana Isabel Teixeira contada pela avó Ermelinda ........................................................... 182
HISTÓRIA DA VIDA DO MEU AVÔ .......................................................................................... 183 Nuno Bispo contada pelo avô Alberto .................................................................................. 183 OS TRÊS PORQUINHOS .......................................................................................................... 184 Sérgio Nascimentos contada pela avó Isabel ........................................................................ 185
3ºA .................................................................................................................................186 AVÓS, NETOS - NETOS, AVÓS" DUAS GERAÇÕES QUE SE COMPLETAM. .............................. 187 O CAVALO DO CAPITÃO......................................................................................................... 187 Cláudia Sofia Matos Cardoso contada pela avó Francisca .................................................... 188 ROLA GALETTE... .................................................................................................................... 189 Hugo Cunha contada pela avó Palmira Monteiro da Silva .................................................... 190 A CAMINHO DO CASTELO...................................................................................................... 191 João Luís Moreira Martins contada pela avó São ................................................................. 191 O LAVRADOR E O POBRE ....................................................................................................... 192 João Ricardo Bento contada pelos avós maternos ............................................................... 192 O QUE MAIS SABIA ................................................................................................................ 193 Maria Beatriz Ramos Aleixo contada pela avó Rosa ............................................................. 193 LENDA DAS ANDORINHAS ..................................................................................................... 194 Tiago Alves contada pela avó Luísa ....................................................................................... 194
3ºB .................................................................................................................................195 HISTÓRIAS DE SANTO ESTÊVÃO ............................................................................................ 196 Daniela Alexandra Pinheiro contada pela avó Maria Fernanda Alves Dias .......................... 196 A SOPA DE PEDRA.................................................................................................................. 197 Joana Filipa Alves contada pela avó Manuela Silva .............................................................. 197 PENEDO DOS MORTOS .......................................................................................................... 198 Mariana Carvalho contada pela avó Ana .............................................................................. 198 A LENDA DA ILHA DA MADEIRA ............................................................................................ 199 Verónica Silva contada pela avó Ilda ..................................................................................... 199
3ºC .................................................................................................................................200 A MINHA AVÓ........................................................................................................................ 201 David Gabriel contada pela Avó Fátima ................................................................................ 201 O LEÃO E OS GATOS .............................................................................................................. 202 David Gabriel contada pela Avó Fátima ................................................................................ 202 A HISTÓRIA DO PITA (VERÍDICA) ........................................................................................... 203 Débora Barroso Fernandes contada pelo avô Lucinio .......................................................... 203
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HISTÓRIA ............................................................................................................................... 204 Diogo Diz contada pela D. Tininha ........................................................................................ 204 OS TRÊS PORQUINHOS .......................................................................................................... 205 Hilário Ramos Furtado contada pela avó Faustina................................................................ 205 O TOURO AZUL ...................................................................................................................... 206 Luana Noira contada pela Avó Lídia ...................................................................................... 208 LENDA DA SERRA DA ESTRELA .............................................................................................. 209 Vera Lúcia Gomes Lima escrita pela mãe .............................................................................. 210 O CAVALEIRO VALENTE DOS ARCOS DA AMOREIRA ............................................................. 211 Vera Lúcia Gomes Lima contada pela mãe ........................................................................... 211
3ºD .................................................................................................................................212 AMIZADE VIDA ...................................................................................................................... 213 Celestino Ferreira contada pelo avô David Magalhães Ferreira ........................................... 213 A OVELHA .............................................................................................................................. 214 Érika Anjos contada pela avó Teresa..................................................................................... 214 ANTONINHO VAI À AULA....................................................................................................... 215
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Diana Teixeira dos Reis contada pela avó Luísa .................................................................... 215 A LENDA DAS AMENDOEIRAS................................................................................................ 216 Cláudia Isabel Rodrigues Ferreira contada pela avó Helena ................................................. 217 A MOLEIRINHA ...................................................................................................................... 218 Tânia Sofia da Rosa contada pela avó Diamantina ............................................................... 219
3ºE .................................................................................................................................220 FLORA DA SERRA – RAÍZES DA MANTIQUEIRA ...................................................................... 221 Ana Catarina contada pelo avô Joaquim ............................................................................... 221 A LENDA DA PRINCESA ENCANTADA..................................................................................... 222 Andreia Fontoura contada pela avó São ............................................................................... 222 O LEÃO E O RATO .................................................................................................................. 223 António dos Anjos Martins.................................................................................................... 223 A LENDA DO SOL E DA LUA.................................................................................................... 224 Cláudia Baptista contada pela avó Helena ............................................................................ 224 A MATANÇA DO PORCO ........................................................................................................ 225 Daniel Borges da Rosa contada pela avó Rosária Melo ........................................................ 225
A PASTORA RAINHA............................................................................................................... 226 Daniel Emídio contada pelo pai Emídio Santos ..................................................................... 227 O VELHO, O RAPAZ E O BURRO ............................................................................................. 228 Diogo Filipe Ferreira dos Anjos contada pela avó Maria de Fátima ..................................... 228 O ANIVERSÁRIO DA AVOZINHA ............................................................................................. 229 Ema Martins contada pela avó Filomena Ferreira ................................................................ 229 O TONINHO E A MARQUINHAS ............................................................................................. 230 Ester Mora contada pela avó Ester ....................................................................................... 230 LENDA DAS MAIAS ................................................................................................................ 231 Filipa Nascimento contada pela mãe Helena ........................................................................ 231 LENDA DA DONA MACHORRA ............................................................................................... 232 Gabriela Costa contada pela mãe Dina ................................................................................. 232 O HOMEM E A RAPOSA ......................................................................................................... 233 Marco António contada pela mãe Odete.............................................................................. 233 LENDA DA BISAVÓ MARIA LUÍSA........................................................................................... 234 Mariana de Barros Fernandes contada pela bisavó Maria Luísa .......................................... 234 A RAPOSA, O LOBO E O QUEIJO ............................................................................................ 235 Moisés Fernandes Morais contada pelo pai Moisés Morais ................................................. 235 O NOME DAS PEDRAS SALGADAS ......................................................................................... 236 João Firmino contada pelo pai Morgado .............................................................................. 236 CANÇÃO DA PRIMAVERA ...................................................................................................... 237 Ruben Oliveira contada pela avó Maria de Fátima ............................................................... 237 O VEADO VAIDOSO................................................................................................................ 238 Sílvia Santos contada pela avó Marina.................................................................................. 238 A GAITA MÁGICA ................................................................................................................... 239 Sofia Batista contada pelo avô Anselmo ............................................................................... 239 LENGALENGA......................................................................................................................... 240 Sofia Batista contada pelas avós ........................................................................................... 240
4ºA .................................................................................................................................241 A LENDA DE MONTALEGRE ................................................................................................... 242 Beatriz Calvão contada pela avó Fernanda ........................................................................... 242 O CARNAVAL NA MINHA ALDEIA .......................................................................................... 243 Carolina Pereira história contada pela avó Maria da Conceição Rodrigues ......................... 243
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A LENDA DA MINHA ALDEIA.................................................................................................. 244 Duarte dos Santos Ferreira ................................................................................................... 244 AS LAVADEIRAS ..................................................................................................................... 245 A aluna................................................................................................................................... 245 OUTRAS HISTÓRIAS ............................................................................................................... 246 Pedro Manuel Cunha Pipa contada pela avó ........................................................................ 247 AMOR DE MÃE ...................................................................................................................... 248 Pedro Manuel Cunha Pipa contada pela avó ........................................................................ 248
4ºC .................................................................................................................................249 AS CARVOEIRAS ..................................................................................................................... 250 Alcina Rodrigues contada pela avó Maria da Conceição Pereira .......................................... 250 CAPUCHINHO VERMELHO ..................................................................................................... 251 Cassandra Christina da Silva Teixeira contada pela avó Fátima............................................ 251
4ºD .................................................................................................................................252 A RAPOSA E O MOCHO.......................................................................................................... 253 Iara Gomes Ferreira contada pelo avô António Ferreira ...................................................... 253
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4ºE .................................................................................................................................254 A RIQUEZA ............................................................................................................................. 255 André Santos ......................................................................................................................... 255 A LEITEIRA ............................................................................................................................. 256 Cátia Nepomuceno contada pela avó Maria Isalinda ........................................................... 256 O AFILHADO DO LOBO .......................................................................................................... 257 Fátima Pereira contada pela tia Agostinha ........................................................................... 258 ERA UMA VEZ O LOBO E A RAPOSA ...................................................................................... 259 Maria Inês, contada pela avó Helena .................................................................................... 259 O LOBO, A RAPOSA E AS SARDINHAS .................................................................................... 260 Mónica Tomé contada pela avó Fernanda ............................................................................ 260 O MENINO MENTIROSO ........................................................................................................ 261 Tatiana Barreto Nepomuceno contada pelo avô Manuel Barreto ....................................... 262
INTRODUÇÃO O segundo livro dos avós nasceu, novamente ao fim de quatro anos, com o projeto da Biblioteca Escolar, em que se pretende engrandecer o papel dos avós na sociedade atual. Já lá vão os tempos em que os avós eram aqueles velhinhos carinhosos que, pachorrentamente, contavam histórias aos netos.
Entre estes e os netos concebem-se,
atualmente, laços fortes que favorecem ambas as gerações. Os netos são o símbolo do prolongamento da sua própria vida, a quem transmitem o seu amor incondicional. Para as crianças, os avós são a fonte de carinho que nunca se esgota. 14 Objetivamente a elaboração do livro contribuiu para o desenvolvimento da linguagem oral e promoveu a leitura e a escrita de textos. Este projeto/atividade, para além de estimular e valorizar o uso do livro, por parte dos alunos, pretende descobrir na criança valores, utilidades e estratégias de leitura que estimulem o interesse pela mesma. A seleção de histórias contadas pelos avós ou recontadas por familiares, de modo a prolongar, muitas vezes, a sua memória, deu origem a este simbólico livro. Nesta conceção podemos encontrar os dois elementos dinamizadores que se supõem importantes: os professores e a família.
O Livro dos Avós O Livro dos Avós é um projeto que a Biblioteca Escolar quer organizar, em conjunto com os professores e todos os alunos da escola, a fim de realizar um livro, por turma ou escola, que contenha histórias, contos ou lendas que os avós queiram contar ou escrever. Cada aluno encarregar-se-á de levar uma capa, com folhas, onde cada família escreverá o seu texto. Para isso, os pais ou encarregados de educação, podem ajudar o seu educando a escrever a história, o conto ou a lenda, que os avós contaram. A história pode ser escrita pelo aluno, familiar ou pelo encarregado de educação à mão ou a computador. Se por acaso, no dia em que o aluno levar a capa para casa, a família não estiver preparada para contribuir com o seu texto, agradecíamos o favor de devolver a 15
capa para ir rodando pelos restantes alunos da turma. Logo que tenham um texto, que achem conveniente, a capa voltará a vossa casa ou então façam-no chegar ao professor. No fim, todos os textos serão compilados e organizar-se-á o livro dos avós de cada turma. Os livros ficarão na biblioteca da escola para poderem ser consultados por toda a comunidade escolar. Caso queira consultar o primeiro livro que já elaborámos, este encontra-se na Biblioteca Escolar. Obrigado a todos pela vossa participação. A professora bibliotecária Filomena Freitas 2011/02/07
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PRÉ-ESCOLAR SALA 1
OS PINHÕES
Em tempos remotos, quando se aproximava o Natal, as crianças da aldeia do Castelo de Eiras pediam aos seus pais para lhes comprarem uma pinha de pinhões para poderem brincar com os seus amigos. As crianças da aldeia juntavam-se na rua do Cachão e ali brincavam todos os dias até aos Reis, o jogo do “Par ou Pernão”, o jogo do “Rapa”, o jogo da “Fitona” ou o jogo da Buraca. No jogo “Par ou Pernão”, uma das crianças coloca os pinhões que quiser numa mão e uma outra criança bate na mão e diz par ou pernão. A primeira criança abre a mão e conta o número de pinhões que tem. Se a segunda criança acertar fica com os pinhões, caso contrario, tem de dar à primeira criança o numero de pinhões que tinha na mão e assim sucessivamente. No jogo do “Rapa”, cada criança coloca dois pinhões no centro da mesa e roda o rapa. O Rapa tem quatro lados: Rapa, Tira, Deixa e Põe e Quem 17
Rapa Uma Vez, Rapa Duas ou Três. Se sair Põe, o jogador coloca dois pinhões no centro da mesa, se sair Deixa, o jogador nem põe nem tira pinhões. Se sair Tira, a criança tira dois pinhões do centro da mesa e se sair Rapa, a criança tira todos os pinhões que estão no centro da mesa e volta a jogar ate passar a vez. No jogo da “Fitona”, cada criança coloca vários pinhões fazendo um monte, depois uma criança de cada vez lança a “Fitona” para a zona dos pinhões e os que saírem dessa zona são da criança que lançou a “Fitona” e assim sucessivamente. No jogo da Buraca, as crianças fazem uma cova na terra e uma criança lança os pinhões que tinha na mão para a cova, os que caem fora da cova tem que os encaminhar para a cova com o polegar ate não conseguir acertar na cova. Depois passa a vez a outro jogador e assim sucessivamente. Os pinhões que caem na cova são da criança que os lança e que os encaminha com o polegar. Estes jogos com os pinhões são muito divertidos e com o decorrer dos anos tem vindo a ser esquecidos por isso temos que lutar para que esta e outras tradições sejam sempre lembradas. Gonçalo Silva contada pela avó Leonilde Alves
A HISTÓRIA DO GAIATO Gaiato era um burrinho com um pelo muito macio e suave cor de café com leite. Muito amigo do dono, o Zeca, quase nunca se separava.Com eles ia também a Farrusca, uma cadela muito meiga, de pelo preto. Todos os dias iam para o monte: ou lavrar a terra, ou apanhar batatas, centeio, abóboras…No inverno iam à lenha para a lareira. Ao atravessar a aldeia, passavam pela escola e os meninos chamavam por ele e faziam-lhe festas. Alguns davam-lhe pedacinhos de pão ou de fruta que levavam para a merenda. Ele gostava muito e agradecia esfregando o focinho nos braços e costas da rapaziada. Um dia chegou a aldeia uma menina que estava muito doente. Tinha um olhar triste, não queria comer e estava muito magrinha. Passava os dias sentada à porta da casa da avó. Quando o Zeca, a Farrusca e o Gaiato passavam, ela dizia: -Olá! Um dia eles passaram e a Rosinha, era este o nome da menina, fez festas à cadelinha e ao burrinho. Eram tão fofos! E sorriu pela primeira vez. Então o Zeca lembrou-se de a convidar para ir com eles. A avó hesitou por vê-la tão fraquinha mas acabou por consentir. Sentada no Gaiato, muito contente, lá foram para o monte. Quando chegaram, a Rosinha ficou encantada: havia borboletas tão lindas, brancas com pintas azuis, castanhas e amarelas; os passarinhos cantavam e saltavam de ramo em ramo. Alguns perto dela, procuravam sementes para comer. A erva estava macia. Havia florinhas muito pequeninas e de todas as cores. Algumas cheiravam tão bem! Num riacho perto, as rãs saltitavam. Era tudo tão lindo! Estava a entardecer e tinham que voltar para casa. Rosita contou tudo o que vira à avó enquanto comia com vontade o jantar. A partir desse dia, todas as tardes, a menina ia com os três amigos para o monte. Levava merenda que compartia com eles e pouco a pouco foi melhorando. Estava mais forte, tinha boa cor e muita alegria. Até que, completamente boa, os pais vieram buscá-la. Foi um dia de alegria e de tristeza; alegria por estar completamente boa e triste por ter de ir embora. Depois de muitas festas e abraços e algumas lágrimas, Rosita partiu mas prometeu que quando tivesse férias, voltaria para os amigos e para o campo que a tinham ajudado a recuperar a alegria e a saúde. João Dinis Carvas contada pela avó Clara
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SALA 2
LENDA DO SARDÃO DE CÁRQUERE Dando a mão a um filho pequeno, vinha uma mulher de Roças com um cesto de novelos à cabeça, dirigindo-se ao Mosteiro de Nossa Senhora de Cárquere. De repente apareceu-lhe um enorme sardão abrindo a bocarra, disposto a engoli-la. Aflita, a mulher invocou Nossa Senhora que lhe explicou rapidamente o que teria de fazer. Pois que, sem parar de andar atirasse com os novelos ao sardão com as pontas dos fios na mão, mas andando sempre. Ela assim fez, e quando o lagarto engoliu os novelos todos, a mulher deu um esticão aos fios, em todos ao mesmo tempo, e o sardão morreu engasgado! Depois foi esfolado o bicho e a sua pele está no átrio das escadas que dão para o coro da igreja do Mosteiro Nossa Senhora de Cárquere.
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Mariana Teixeira contada pela avó Mariana que é natural da freguesia de Cárquere do concelho de Resende.
LENDA DE SÃO MARTINHO CONTADA PELAS AVÓS DA MARTA Diz-se que em Vilarelho da Raia terá havido um grande combate contra os mouros que viviam no monte Vamba, situado entre Vilarelho e Cambedo e que passou por lá S. Martinho. Ao ver esse combate sem piedade, S. Martinho montou no seu cavalo e do cimo de uma fraga lançou-se para o monte de Vamba, levantou a sua espada, dizendo: "Vamba, Revamba Outeiro, Morim Todo o ouro e prata Fique em ti" E assim S. Martinho ajudou a expulsar os mouros de Portugal, deixando marcada na fraga a ferradura do seu cavalo como prova da sua passagem por lá. Dizem os mais antigos, ainda hoje, que a serra tem uma enorme riqueza lá enterrada e são muitos os habitantes da aldeia que tentaram inúmeras vezes descobrir 21
esse tesouro, sem sucesso. Diz ainda o relato de um caçador, que andava à caça no cimo do monte Vamba, que viu o seu cão entrar num buraco e lhe desapareceu durante longos minutos, voltando a aparecer do outro lado do monte, o que significa que o monte tem vários passadiços secretos.
Marta Luzio contada pelas Avós Laurinda e Cândida.
O PALHAÇO Era uma vez um menino que vivia numa aldeia muito sozinho sem amigos e sem família. O menino chamava-se Rui e estava triste porque não tinha ninguém para brincar. Certo dia chegou àquela aldeia um circo, o menino ficou muito admirado pois nunca tinha visto tanta diversão. Foi ver o espetáculo, viu todo o tipo de animais e trapezistas, mas o que mais o encantou foi o palhaço que o fez rir. Então decidiu ir trabalhar para o circo e partiu com ele. Esse menino tornou-se num dos mais famosos palhaços do mundo, mais conhecido por palhaço triste, mas era o mais feliz.
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Martim contada pela avó Belmira Alves
O HOMEM E O BURRO Era uma vez um homem que era muito malvado e só fazia malandrices. Tantas fez que um dia o levaram ao juiz e este condenou o homem à pena de morte. Então ele, como além de ser mau, era um grande espertalhão e não queria morrer, resolveu pedir ao juiz que antes da morte queria falar com sua majestade, o rei. Dizia que tinha revelações muito importantes a fazer. O juiz mediante a sua afirmação pediu a sua majestade o rei para receber o homem. O rei muito curioso quis receber imediatamente o homem e este, muito espertalhão, foi todo encantado. Na presença do rei diz-lhe o juiz: - Afinal o que tens tu de tão importante para me revelar? -É que eu tenho um burro que ando a ensinar a ler mas o burro precisa de mais cinco anos para ler bem! O rei ficou todo entusiasmado e lá lhe concedeu cinco anos que lhe pediu. Entretanto a mulher, muito surpreendida, diz-lhe: 23
-Ó homem, tu já viste o que foste dizer ao rei? -Ora, ora, mulher, daqui a cinco anos ou morre o burro, ou morre o rei ou morro eu e assim ando por cá mais uns anitos e depois logo se vê! Passados os cinco anos, nada aconteceu, estavam todos vivos e lá foi o homem ter novamente com o rei. Diz-lhe então o rei: - Então traz lá o teu burro que eu quero vê-lo a falar! O homem muito atrapalhado, lá lhe diz que afinal não conseguiu por o burro a falar. O rei muito zangado, chamou logo o juiz e disse-lhe: -Sr. juiz, este homem mentiu-nos estes anos todos e como tal deverá ser imediatamente castigado! O Sr. juiz claro que o castigou e o homem muito arrependido só pedia perdão. Mas claro que, como mentir é muito feio, ninguém o perdoou. E lá teve o homem o castigo merecido! Espero que tenham aprendido a lição: na verdade isto é apenas uma história, mas não se deve mentir! Pedro Miguel Teixeira Fontoura contada pela avó Assunção
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SALA 3
HISTÓRIA DE NOSSA SENHORA Era uma vez a Nossa Senhora que andava a fugir dos Judeus. Pelo caminho encontrou um lavrador e perguntou-lhe o que andava a fazer, e o lavrador muito grosseiro respondeu-lhe: -Ando a semear pedras! Nossa Senhora respondeu-lhe: -pedras te nascerão. Amanhã, agarra numa marra e esmaga-as. Nossa Senhora seguiu caminho atrás da sua burrinha. Mais à frente encontra outro lavrador e pergunta-lhe: - O que semeias lavrador? E o lavrador muito educado, respondeu: - Estou a semear trigo. Nossa Senhora diz: - Trigo te nascerá. Amanhã, afia as foices para cegá-lo. O lavrador ficou muito confuso e quando chegou a casa contou à mulher. - Não pode ser, diz a mulher. Então, ainda hoje semeaste o trigo e amanhã já vais cegá-lo! 25
No dia seguinte, o lavrador foi ver o trigo e tinha acontecido um milagre. Nossa Senhora seguiu caminho atrás da sua burrinha e encontrou um tojo e pediu-lhe para agarrar a sua burrinha. o tojo não a agarrou então Nossa Senhora disse-lhe: -Fica-te tojo que nem para estrume servirás. Seguindo o caminho, Nossa Senhora encontra uma silva e pediu-lhe para agarrar a sua burrinha, a silva enroscou-se nas patas da burrinha e não a deixou andar. Então Nossa Senhora agradeceu-lhe: -Fica-te silva que todos os bichinhos e toda a gente vai comer dos teus frutos. E assim a silva ficou a dar umas deliciosas amoras. Nossa Senhora pôs-se a cavalo na sua burrinha e seguiu para o rio Jordão. Atrás dela andavam os Judeus. Ao passar o rio Jordão, a água separa-se e Nossa Senhora passa e segue para o céu. Os judeus ao passar o rio afogaram-se. E foi assim que Nossa Senhor conseguiu ficar livre dos Judeus.
Afonso José contada pela avó Lurdes
FILHO ÉS, PAI SERÁS Era uma vez um pai envelhecido que tinha um filho. Certo dia, o filho convidou o pai para um passeio a cavalo até à montanha, fazendo-se acompanhar de uma capa. Chegados à montanha, o filho entregou a capa ao pai dizendo: -Esta capa é para te cobrires aqui com ela. E ia-se embora mas o pai chamou-o dizendo: -Filho, espera um pouco, empresta-me a tua espada, para rasgar a capa ao meio. - Para quê, perguntou o filho. -É para levares uma metade para quando fores velho o teu filho te oferecer quando te deixar no monte. O filho refletiu nas palavras do pai, levou-o de volta para casa e cuidou dele até à morte. Moral da história:”Filho és, pai serás, como fizeres assim acharás!” 26
André contada pelo avô João
A AMIZADE MALICIOSA A minha avó conta que no ano de 1948 em Angola, Vila Teixeira de Sousa a sua avó lhe contou que certo dia uma senhora convidou uma amiga para almoçar em sua casa e ela aceitou. Depois de muito comer, disseram: -Ai que tenho a barriga tão cheia! Uma das senhoras disse então: -Já que tenho a barriga tão cheia, ao chegar a casa vou pegar fogo ao milho porque amanhã não terei fome. E tu? -Eu também, chegarei fogo ao milho porque amanhã não terei fome. Após terem dito isto, uma delas foi-se embora e fez o combinado, foi ter com a amiga e disse-lhe: -Eu já peguei fogo ao milho, e tu? A outra respondeu: -Eu não! -Ai não, e agora? Eu peguei fogo ao meu milho, e hoje tenho fome e não tenho 27
que comer, e como tu não cumpriste o combinado e és minha amiga, vais dar-me de comer! Ouvindo isto a outra respondeu: Ai acreditaste em mim? Paciência, eu não te darei de comer! Moral da história: não se confia em tudo o que os outros dizem, mesmo quando dizem que são nossos amigos.
Arí contada pela avó Maria Teixeira
O MENINO MENTIROSO Era uma vez um menino que vivia com os seus pais numa pequena aldeia. O menino era muito educado, meigo e trabalhador. Ajudava os seus pais em tudo o que podia, andava sempre feliz e satisfeito com a vida. Apesar destas qualidades todas que possuía também tinha um defeito muito grande pois era muito mentiroso. O que ele gostava mesmo era de enganar as pessoas da aldeia, e de preferência muitas ao mesmo tempo. Umas vezes gritava que havia fogo na eira, ou seja, que os palheiros andavam todos a arder e lá iam as pessoas aflitas a correr tentando salvar os seus palheiros e quando lá chegavam era tudo mentira, outras vezes chegava ao sino da igreja e dava aqueles sinais que as pessoas conhecem quando falecia alguém, novamente as pessoas preocupadas em tentar saber quem tinha sido e assim sucessivamente...Imaginação não lhe faltava. No fim de cada mentira que pregava, o menino ria-se imenso por ter conseguido enganar praticamente toda a aldeia. Os pais dele ficavam muito tristes por ele ter estas atitudes e por muito que o chamassem à atenção não adiantava nada ele continuava sempre na mesma. Os pais tinham um rebanho que ele guardava no monte sempre com muita atenção para que nada de mal lhe acontecesse nem perder nenhuma ovelha. Uma bela tarde, estava o rebanho a pastar, e ele sentado numa pedra quando de repente se lembrou de pregar mais uma partida às pessoas da aldeia. Lembrou-se então de gritar dizendo que os lobos andavam a atacar-lhe as ovelhas e pedia ajuda. Como andava perto da aldeia as pessoas ouviram o seu pedido de socorro e lá foram todas ajudar. Quando chegaram lá felizmente era mentira mas as pessoas ficaram chateadas com ele. Passado uns dias tornou a fazer o mesmo e aconteceu precisamente a mesma coisa, houve até quem lhe desse um bom puxão de orelhas. Ele no fim ria-se, ria-se, ria-se. Passaram uns dias e estando ele muito sossegado no monte com o seu rebanho, passaram ali por perto três lobos esfomeados que não pensaram duas vezes em atacar as ovelhas.
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Ele bem gritou a pedir ajuda mas, desta vez teve azar pois as pessoas da aldeia depois de ouvirem a sua voz e reconhecerem quem era, comentaram umas com as outras que desta vez não iam ser novamente enganadas. Conclusão: os lobos mataram praticamente o rebanho todo e ele prometeu a si próprio, aos pais e às pessoas da aldeia que nunca mais mentiria a ninguém. Já no futuro por muito que estivesse a dizer a verdade, quando estava a conversar com alguém sobre algum tema ou acontecimento quem o ouvia estava sempre a desconfiar, pois da fama de mentiroso nunca mais se livrou. Entre os habitantes da aldeia ficou sempre com a alcunha de Pedro mentiroso.
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Fábio Barreto Nepomuceno contada pelo avô Manuel Barreto
HISTÓRIA DOS CABRITINHOS Era uma vez a mãe cabra e seus lindos sete cabritinhos. Um dia resolveu ir à feira comprar coisinhas boas aos seus filhinhos, mas deixou-lhes o aviso que se alguém batesse na porta, os cabritinhos teriam de pedir para mostrar a cor da pata por debaixo da porta, se fosse branca, era a mamã, se fosse preta era o lobo mau. Entretanto ouviu-se "truz-truz" e os cabritinhos responderam: - Quem é? - Sou eu a mãe cabra com coisas boas para vocês comerem! - Então meta a pata debaixo da porta para vermos a cor da sua pata. Os cabritinhos viram que a pata era preta e muito assustados, não abriram a porta. O lobo mau foi embora zangado porque não conseguiu entrar, e pelo caminho fora encontrou um moinho, foi quando parou e pensou: vou-me cobrir com farinha e enganar os cabritinhos. O lobo voltou a bater na porta dos cabritinhos dizendo que era a mamã e eles voltaram a pedir que metesse a patita debaixo da porta. Para contentamento dos cabritinhos a patita era branca e abriram a porta. O lobo saltou e engoliu seis cabritinhos, o mais pequenino conseguiu esconder-se atrás do relógio de parede e sem fazer barulho até que chegasse a mamã cabra. Assim que chegou, a mamã cabra ficou muito aflita porque viu a porta aberta e nem sinal dos filhinhos, chamou por eles e ouviu a voz do mais pequenino: -Mamã, estou aqui atrás do relógio, o lobo mau entrou na nossa casa e engoliu os manos. -Mas como é que isso aconteceu? Eu não vos disse para não abrirem a porta sem terem a certeza se a pata era branca ou preta? Vamos já tratar do assunto. E lá foram os dois, levando uma tesoura para cortar a barriga do lobo, linhas e uma agulha para depois a coser, salvando assim os seis cabritinhos. Estava o lobo a descansar debaixo de uma árvore, perto do rio, quando a mamã cabra lhe abriu a barriga muito devagar para ele não acordar, e tirou os seus filhinhos, depois fez-lhes sinal para que não fizessem barulho senão o lobo iria acordar. No fim encheu-lhe a barriga de pedras e coseu-a. O lobo quando acordou sentiu-se farto e foi beber água ao rio, e ao debruçar-se "catrapus", caiu à água e morreu. A mamã cabra e seus sete cabritinhos foram para casa e ficaram felizes para sempre! Guilherme Ribeiro contada pela avó Teresa
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O POMBO E A FORMIGA Uma pequena formiga foi a um riacho para beber, aproximou-se demasiado, caiu e foi levada pela corrente. Sobre uma árvore, um pombo viu toda aquela cena e, sem pensar duas vezes, foi salvar a formiga. Partiu um pequeno tronco de árvore e atirou-o à água. A formiga fez um grande esforço e lá conseguiu trepar para o tronco, salvando-se desta situação perigosa. Não muito longe dali, um caçador andava à procura de pássaros. A formiga viu que o pombo estaria em perigo de ser caçado e começou imediatamente a pensar como poderia ajudá-lo. A formiga trepou para o corpo do caçador e deu-lhe uma valente dentada na mão. O caçador surpreendido deixou cair a espingarda. Ao cair no chão, a espingarda disparou. O grande estrondo do tiro alertou o pombo do perigo, que voou para longe, são e salvo. 31
A formiga ficou muito contente consigo mesma, pois tinha conseguido ajudar o seu amigo pombo. Moral da história: Devemos ser gratos a quem nos ajuda.
Inês Correia Martins contada pela mãe Rosa
O LEÃO E O RATO Uma tarde, um leão dormia descansado quando um rato muito ativo começou a saltar à sua volta. Sem querer, o rato acordou o leão, que rapidamente o apanhou. Quando o leão estava prestes a comê-lo, ele pediu que o perdoasse e prometeu que um dia o recompensaria pelo favor que lhe estava a fazer. O leão desatou às gargalhadas, achou engraçado como um pequeno rato poderia pensar que algum dia o ajudaria caso ele precisasse de um favor, mas de qualquer forma, soltou-o. Passados alguns dias, o leão foi apanhado por caçadores e preso a uma árvore com uma corda. Por mero acaso, o rato estava a passar naquele lugar e mal ouviu os queixumes do leão, aproximou-se para o ajudar. Sem pensar duas vezes, o rato roeu a corda e soltou-o da armadilha. O leão ficou muito surpreendido! Como era maravilhoso estar livre, e graças a ajuda de um pequeno rato! Moral da história: devemos estar agradecidos para com quem nos ajuda sem sermos interesseiros
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Inês Correia Martins contada pela mãe Rosa
A CABRA E O CAVALO A cabra e o cavalo viviam juntos na mesma casa. Quando o dono os punha a pastar separados, o cavalo fazia troça da cabra dizendo que ela era discriminada pelo dono, pois o cavalo era posto numa pastagem mais mimosa do que ela. Dizia então o cavalo para a cabra: -Esse pasto não presta, o meu é que é bom. A cabra silenciosa, só ouvia. Um dia, o dono comprou uma vaca que pôs a pastar no pasto do cavalo e pôs o cavalo a pastar com a cabra. Então a cabra não perdoou ao cavalo e disse-lhe: - Então tu disseste tanto mal do pasto e vieste cá parar? Devias agora recusar pastar aqui! É bem então que não faças ao outro o que não queres que te façam a ti!
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Joana Isabel contada pela avó Fernanda
HISTÓRIA DO COELHINHO E DA CABRA CABRÊS Um coelhinho queria fazer a sopa e não tinha couves, então foi buscá-las à horta, quando voltou para casa encontrou a porta fechada e bateu, lá de dentro respondeu uma voz e disse: -Eu sou a cabra cabrês, salto-te em cima e faço-te em três. O coelhinho muito triste foi procurar ajuda. Encontrou o boi e pediu-lhe para o ajudar, mas o boi disse que tinha medo e não ia. Então o coelhinho continuou a à procura e encontrou o galo e contou-lhe a sua tragédia, mas o galo disse que não ia porque tinha medo e o coelhinho continuou à procura de ajuda e encontrou um gato, mas também o gato disse que tinha medo e não o ajudava. O coelhinho muito triste continuou o seu caminho a chorar, foi então que encontrou uma formiga que lhe perguntou o que é que lhe aconteceu, e o coelhinho contou-lhe que tinha ido à horta buscar couves para fazer a sopa, e que quando lá chegou estava lá a cabra cabrês que lhe saltava em cima e a fazia em três. Então a formiga disse-lhe:
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-Eu vou lá contigo! Então lá foram os dois e bateram à porta, de lá dentro respondeu a cabra: -Eu sou a cabra cabrês, salto-te em cima e faço-te em três. A formiga respondeulhe: - E eu sou a formiga rabiga que te furo a barriga! Foi então que a formiga rabiga entrou pela fechadura e fez um buraco na barriga da cabra cabrês. A cabra abriu a porta e fugiu para longe, e o coelhinho entrou em casa e fez a sopinha para ele e para a formiga rabiga, e ficaram os dois muito felizes.
João Pedro contada pela mãe Isabel
AS ORELHAS DO ABADE Era uma vez um homem que gostava muito de ir à caça. Um dia, o senhor caçou duas perdizes e convidou o Sr. Abade para as ir comer. A mulher estava na cozinha a cozinhar as perdizes, mas resmungava porque não contaram com ela para as comer. Depois de prontas, a mulher não conseguiu resistir às perdizes e comeu-as. Veio o Sr. Abade e a mulher disse-lhe: - Fuja Sr. Abade! Esta história das perdizes era desculpa para o meu marido lhe cortar as orelhas. O Abade fugiu. Quando chegou o marido, a mulher disse-lhe que o Abade tinha comido as perdizes. O homem foi à porta e gritou: -Ò Sr. Abade, deixe-me uma! Espere, Sr. Abade, deixe-me só uma! -Nem uma, nem duas! Gritava de longe o Abade, fugindo do caçador.
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Leonor Fernandes contada pelo avô Manuel Fernandes
O MÉDICO DA FLORESTA Certo dia, andava o Coelhinho Branco a brincar na floresta quando de repente ouviu uns gritos: -Ai! Ai! Ai! Correu atrás do som e encontrou a Dona Formiguinha caída no chão com uma dor forte na patinha. -O que lhe aconteceu Dona formiga? -Ai coelhinho branco, tropecei numa pedra e caí e agora dói-me muito esta patinha. -Ò Dona Formiguinha, não se preocupe que eu vou ajudá-la. Pegou nela ao colinho e dirigiu-se para a árvore onde morava o Doutor Mocho que era o médico dos animais da floresta. -Truz-truz…Doutor Mocho. Doutor Mocho….E o Doutor Mocho apareceu à janela. -O que se passa Coelhinho Branco? -É a Dona Formiguinha que caiu e magoou-se aqui numa patinha. -Entrem, entrem e deita-a aqui nesta caminha. Disse Doutor Mocho - Ai, ai, ai, chorava a formiguinha.Com muito cuidado o Doutor Mocho observou-a e verificou que não era muito grave e disse-lhe: -Dona Formiga, vou-lhe aplicar aqui na patinha uma pomada e vai ficar em casa a repousar durante dois dias. A formiguinha agradeceu muito e mais uma vez pediu ajuda ao coelhinho Branco que a levou a casa. Passados uns dias, andava a formiguinha à procura de alimentos para guardar na sua despensa, para quando o inverno chegasse e encontrou caída no chão a borboleta azul, que tinha batido contra o galho de uma árvore e não conseguia voar porque lhe doía a asa. Foi então que a Dona Formiguinha se lembrou do Doutor Mocho e correu logo a chamá-lo: -Doutor Mocho, ajude-me por favor. A Borboleta Azul está caída no chão. O Doutor Mocho veio a voar e lá foram os dois até à Borboleta Azul. O Doutor Mocho observou a borboleta atentamente e verificou que ela tinha uma asinha partida. Levou-a para o seu consultório na casinha da árvore e tratou-a durante uns dias. A borboleta agradecida partiu a voar. Procurou a Dona Formiguinha para lhe agradecer e disse-lhe: -Espero um dia também poder socorrer alguém! Martim Cavaleiro Dias contada pela avó Manuela Rosinha
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A HISTÓRIA DA AVOZINHA Era uma vez uma avozinha que morava numa aldeia e tinha uma filha e os netos na aldeia vizinha. Ela gostava muito de os visitar, mas para tal tinha que atravessar uma aldeia onde havia lobos maus. Nessa época, não havia transportes para ir de uma aldeia para outra. A avozinha não sabia como fazer para ir visitar a filha e os netinhos. Então pensou em viajar dentro de uma cabacinha e assim fez. Numa manhã de verão, a avozinha meteu-se dentro da cabacinha e lá foi ela visitar a filha e os netos. Ia pela estrada fora, quando se aproxima um lobo e lhe pergunta: -Ó cabacinha, não viste por aqui uma velhinha? A velhinha respondeu: -Não, não vi velhinha nem velhão. Roda, roda cabacinha, roda, roda, cabação e seguiu viagem. Mais adiante encontrou outro lobo que lhe voltou a perguntar: -Ó cabacinha, não viste por aqui uma velhinha? A velhinha respondeu: 37
-Não, não vi velhinha nem velhão. Roda, roda, cabacinha, roda, roda, cabação “E assim a avozinha chegou a casa dos netos sem problemas com os lobos.
Sara contada pela avó Teresa
O PÁTIO DA BICHARADA A avó Clara nasceu numa aldeia saloia. A casa tinha um pátio muito grande que albergava imensos animais, quase todos com nomes. Havia dois burros enormes que pareciam cavalos, o Gaiato e o Serrano. Um era castanho e o outro cinzento, o primeiro era dócil, mas tinha uma mania: quando ia entrar no portão, parava e tinha que zurrar umas quantas vezes; tanto fazia puxa-lo ou bater-lhe que ele não se mexia. O outro não gostava de albarda, nem que lhe tocassem nas orelhas, mordia. Compartiam a albergaria, duas vacas: a Malhada e a Mourisca. Muito mansinhas, davam um leite muito bom que ela ia buscar para merendar. Havia quatro cães: o Piloto era o maior e um caso raro, tinha um olho castanho e outro azul. O Juca era baixinho e cor de mel e tinha uma habilidade enorme para apanhar a comida no ar. O Nero era o único que estava na entrada da porta, e sempre que o pai da avó Clara saia da camioneta, ia a correr atrás dela até se cansar. Ficava ali a vê-la desaparecer e voltava para casa. A Farrusca era tão meiga ,tão meiga que até a Cigarra, a gata, dormia enroscada nela. Havia também um porco, que de porco não tinha nada. Sempre limpinho, com uma cor rosada gostava muito que o lavassem. Quando se aproximava a hora de comer, guinchava e grunhia como a lembrar que eram horas da paparoca. No galinheiro de rés de chão e primeiro andar, ficavam os coelhos por cima e as galinhas e galo em baixo. Só uma tinha nome: a Careca. Não tinha penas no pescoço. Era muito comilona e estava tão gorda que ao mandar quase batia com o papo no chão. Era muito boa mãe. Quando chocava, quer dizer, ficava com o corpo mais quente e punham os ovos debaixo dela e esse calor fazia desenvolver os pintainhos. Depois de muitos dias eles picavam a casca, a Careca ajudava e saíam. Pareciam uns pompons, muito fofos. A noite voltava para o ninho e punham-se todos debaixo das asas no quentinho. Que bom! Havia ainda dois gansos muito grandes que quando entrava alguém no pátio faziam uma algazarra enorme e bicavam. Por fim, havia ainda a Estrelinha. Era uma cordeirinha muito mansa e quase toda branquinha que tinha no dorso junto a cauda uma mancha de lã preta. Quando os tosquiadores cortaram a lã, deixaram esse pedaço saliente e ficava muito engraçada. A avó Clara nessa altura, quando era pequena não se deu conta, mas agora vê como foi feliz no meio daquela bicharada! Verena contada pela avó Clara
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SALA 5
A CIGARRA E A FORMIGA Era uma vez uma formiga e uma cigarra. A formiga, quando chegou a primavera começou a trabalhar para recolher comida e bebida para o outono e o inverno. A cigarra passava a vida a cantar e a apanhar sol. Já a formiga continuava a trabalhar para recolher a comida e a bebida. Quando chegou o inverno, a cigarra não tinha comida nem abrigo para se proteger do frio. Já a formiga tinha o seu abrigo e assim podia agora descansar. A cigarra foi pedir ajuda à formiga e a formiga como boa amiga que era ajudou-a, mas perguntou-lhe: - Então agora não cantas? Moral da história: as tarefas são para fazer todas a seu tempo. Não deixar para depois porque o depois pode ser tarde.
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Beatriz Rebelo contada pelo avó Noémia
O REI QUE ERA DONO DO MUNDO Era uma vez um rei muito rico. Ele era tão rico, que suas riquezas eram impossíveis de contar. Mesmo assim, ele não estava satisfeito e queria sempre mais e mais. Por isso ele não se importava com nenhuma outra coisa. Um dia ele subiu à torre mais alta do seu castelo, olhou para as suas terras sem fim e disse: -Tenho muito pouco, preciso de conseguir mais. Na verdade, acho que preciso de todas as terras e riquezas do mundo! Então, convocou os seus exércitos que eram muitos e ordenou-lhes que conquistassem todas as nações do mundo e lhe trouxessem todas as riquezas existentes. Assim, seus exércitos partiram para cumprir sua missão. Depois de feito isto, ele disse: -Agora sim, tenho tudo no mundo. Na verdade eu tenho o próprio mundo e também todas as suas riquezas. Nada mais me falta, não preciso de mais nada! E cobriuse com os seus tesouros. Estava tão contente que dormiu ali mesmo. 41
Então um dia ele viu que não estava mais contente e pensou: -Eu já tenho todas as riquezas e terras do mundo, todas as pessoas são meus criados e ainda assim sinto que me falta qualquer coisa então mandou chamar os seus sábios para que descobrissem o que ainda lhe faltava. Eles disseram: -A coisa mais importante do mundo deve ser a mais difícil de se conseguir. Não pode ser conseguida com dinheiro ou poder. Na verdade o Senhor já possui essa coisa e ela foi-lhe dada de graça. Mesmo assim ela não pode ser vista nem tocada e só pode ser vista quando a pessoa a perde. Depois de ouvir isso o rei ficou pensativo e sem entender o que os sábios queriam dizer com aquilo afirmou: -É claro que esta coisa não existe! Qualquer coisa que eu conheça pode ser comprada com o meu dinheiro ou conquistada pelos meus exércitos. Apesar de ganancioso, o rei era um bom governante para o seu povo. Assim, cismando com as palavras dos sábios, resolveu por um tempo, desistir de querer saber o que faltava conquistar. Então um dia o rei acordou com febre. Estava doente.
Mandou chamar os melhores médicos e magos do mundo para cuidar da sua doença. Mas o tempo passava e ele não melhorava. Então mandou chamar os sábios para ouvir seus conselhos. E os sábios disseram: -Isto, Majestade, era a coisa da qual lhe falávamos. Temo-la desde o dia do nascimento e não pode ser vista até ao momento em que deixa de existir. Essa coisa é a nossa saúde. Poucos lhe dão importância mas é a coisa mais importante do mundo e é impossível comprá-la. Então o rei compreendeu tudo e disse: -Eu com todo o poder e riquezas do mundo não fui capaz de conseguir algo tão simples que era a minha saúde. Eu fui tão tolo! De que adiantou tanto poder e riquezas se não fui capaz de conseguir algo que me foi dado de graça? E o rei finalmente ficou curado e disse: -Agora sei o que é ficar doente. De hoje em diante, meu povo terá os melhores hospitais, médicos e escolas. Minhas terras e riquezas serão de todos. E ele foi contar a boa nova ao seu povo. Subiu à torre mais alta do castelo e olhando de cima pensou: Como é bonita a paisagem daqui de cima. Eu já subi muitas vezes aqui e nunca tinha visto que era assim. E pensar que esta beleza sempre existiu. O olhar de felicidade vê coisas maravilhosas. Ter saúde é de facto uma bênção.
Bianca Carvalho contada pela mãe Mónica Carvalho
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LENDA DE SANTO ESTEVÃO DAS GALÉS A minha avó conta que quando pensavam construir a igreja em honra de Santo Estevão, a quiseram fazer no vale, entre o sítio das Cruzinhas e o lugar de Monfine mas a imagem do santo que o povo ali punha desaparecia e se ia encontrar no dia seguinte no alto onde a igreja estava a ser construída. O santo, cheio de bondade, transforma pedras em pães que oferecem ao Deus apedrejado, o que deu origem à festa dos Merendeiros.
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Filipa contada pela mãe Juliana
O JOÃOZINHO E O LOBO O João era um rapazinho de doze anos e andava na escola. Nas horas vagas ia para o monte com as cabras e enganava os vizinhos, punha-se no alto do monte e gritava: -Aí vem o lobo! Quando o povo lá chegava, cansado de correr, ele ria-se pois não havia lobo nenhum. Era tudo mentira. Um dia de inverno, com nevoeiro e muito frio, os lobos desceram do monte com fome e atacaram o rebanho de cabras. Comeram duas cabras e rasgaram as calças ao Joãozinho. O Joãozinho, muito aflito, gritou: -Aí vem o lobo! Mas como ele gostava de mentir e enganar o povo, ninguém acreditou. Quando ele desceu á povoação, o povo ria-se dele pois não acreditava e dizia: -Coitado do mentiroso, mente uma vez, mente sempre. Antes que fale verdade todos lhe dizem que mente. Moral da história: não se deve mentir ou enganar pois as pessoas deixam de acreditar em nós, mesmo que estejamos a falar verdade.
Lívia contada pela mãe
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A PEQUENA SEREIA Era uma vez uma pequena sereia muito bonita. Tinha cabelos longos e brilhantes, uma pele branca e fina e cantava como ninguém. A sua voz era fantástica! Um dia, ao nadar pelas águas do oceano, salvou um príncipe de morrer afogado. Era um príncipe lindo e a pequena sereia apaixonou-se profundamente por ele. - Adoro o meu príncipe mas sei que esta é uma paixão impossível. Afinal, eu sou uma sereia e vivemos em mundos tão diferentes, contava ela aos seus amigos peixes. A bruxa do mar, que todos temiam, estava à escuta e ouviu esta conversa. Aproximou-se dela e disse: -Não desanimes, este amor é possível. Tenho grandes conhecimentos de magia e prometo que vou ajudar-te. -Obrigada, bruxa do mar, mas como? Perguntou a pequena sereia. -Basta fazermos um acordo: sempre sonhei ter uma voz maravilhosa, por isso em troca da tua voz, eu arranjo forma de poderes viver ao lado do teu príncipe. Se beberes esta poção mágica, em breve terás duas pernas. -Só isso, bruxa do mar? Interrompeu a sereia. 45
-Calma, depois deves ir ter com o teu amado e fazer com que ele se apaixone por ti. Se isso não acontecer, serás transformada em espuma do mar, nunca mais voltarás a ser sereia. A poção resultou mesmo, em vez de cauda, a sereia passou a ter duas pernas e foi até ao palácio do príncipe. Tinha de fazer com que ele se apaixonasse por ela. Mas não podia falar. Agora, a dona da sua voz era a bruxa do mar. Já no palácio, percebeu que o príncipe estava prometido em casamento a uma linda princesa e ficou muito, muito triste. Não havia nada a fazer, o melhor era voltar para o seu mar. Mal chegou à praia, encontrou as suas irmãs que a esperavam para lhe entregar um punhal. -A bruxa do mar deu-nos este punhal e se quiseres voltar a ser sereia e viver no fundo do mar, usa-o para matares o teu amado. A pequena sereia era incapaz de fazer o que lhe pediam. Amava o príncipe e o seu amor falava mais alto. Nunca o mataria. Assim, aceitou o seu destino e, da fina areia da praia, mergulhou no oceano e transformou-se numa linda e branca espuma do mar. Desde então, essas águas tornaramse mais límpidas e cristalinas e às vezes ainda se ouve o canto de uma voz maravilhosa, vinda das profundezas do oceano. Sheila história contada pela avó Idalina
O PATO GALANTE Isto de pôr nomes bonitos aos bichos torna-os vaidosos. Puseram-lhe o nome de Galante e pela vida fora o pobre pato fez tudo quanto pôde para se mostrar digno do seu apelido pomposo. Um dia, subiu-lhe à cabeça a ideia de só comer uma parte da ração de milho que a dona lhe dava, e vender o resto ao moleiro lá do sitio, para poder comprar uma farpela toda jeitosa e um chapéu como o dos homens galantes. Depois, colheu um ramo de flores, vestiu-se a preceito e como conhecia uma linda cachopa da sua raça, preparou o seu Galanteio e apresentou-se: -Minha linda, eu sou o Pato Galante que vivo apaixonado pela tua rara beleza, e como pensei constituir família, ofereço-te com estas flores todo o amor que há muito me abrasa o coração! Com uma risada trocista, respondeu-lhe a pata que era muito ajuizada e não ia em conversas de patos malucos: -Deixa esse vestuário para os homens e não sejas ridículo! O nome que te deram nem sequer o herdaste dos teus antepassados e, mesmo que o tivesses recebido dos teus pais, tinhas a obrigação de o honrar pelo trabalho honesto e pela dignidade do teu porte, para seres respeitado pelos da tua espécie. E o Pato Galante, assim despedido e envergonhado, foi pedir à sua dona que lhe pusesse o nome de Modesto. Moralidade da história: se nasceste pobretão não mostres ostentação!
Vera Moura Leite contada pela avó Lurdes
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1ยบ CICLO 1ยบA
A LENDA DA MARGARIDA Conta a lenda…que os três Reis Magos – Baltazar, Gaspar e Melchior - quando seguiam a estrela que indicava a gruta, encontraram um pastor que tomava conta das fogueiras. -Que fazes aqui? -perguntou Baltazar. -Tomo conta das fogueiras que iluminam o caminho para os que vão visitar o Deus Menino. -É pena que não nos possas acompanhar – disse Gaspar. Se tal fizesse -disse o pequeno -as fogueiras apagar-se-iam. -Temos que seguir viagem, o caminho é longo - disse Melchior para os outros, enquanto montava de novo o seu camelo. -Adeus, adeus! -disseram os três Reis Magos. -Adeus, adeus, -respondeu o pequeno pastor, acenando com a mão, tristonho. -De repente, o pastorinho teve uma ideia: colocar muita lenha nas fogueiras e sair correndo atrás dos Reis Magos. Quando chegou ao estábulo, ficou feliz por ver o Menino Jesus, mas ao mesmo tempo triste, por ver os Reis Magos oferecerem ouro, incenso e mirra e ele sem ter nada para ofertar. -Que pode oferecer um pobre pastor como eu? - Pensou. Porem, ao voltar o rosto, cheio de lágrimas, viu uma flor toda branca. Correu para ela, mas ao colhê-la ficou de novo triste. Como arranjar coragem para oferecer um presente tão simples? De longe Nossa Senhora viu-o e chamou-o: -Vem, meu filho, estamos à espera do teu precioso presente. E, perante os olhos comovidos de Maria, de José e dos Reis Magos, o pequeno pastor entregou feliz, a flor ao Deus Menino. Desde então aquela flor branca – a margarida - tem ao meio uma coroa de ouro!
Ana Margarida contada pela avó Palmira
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CONTOS DA AVÓ Era uma vez um homem que tinha dois filhos. Um pastava ovelhas no monte e o outro era estudante. Esse homem devia muito dinheiro ao padrinho dos seus filhos e um dia disse-lhe: - Compadre, peço desculpa mas não tenho como lhe pagar esta enorme dívida. O compadre respondeu: - Escuta, se tu mandares um dos teus filhos contar-me uma mentira, eu perdoo-te a dívida. Então o homem chamou o seu filho estudante e disse-lhe: - Meu filho, para o teu padrinho me perdoar a dívida preciso que vás ter com ele e que lhe contes uma mentira. O filho respondeu: - Pai, perdoa-me, mas não consigo mentir ao padrinho. Um pouco perturbado, só lhe restava fazer o pedido ao filho pastor, que prontamente aceitou o solicitado, Quando 49
se encontrou com o seu padrinho, o pastor disse-lhe: - Era uma vez uma era e não era, andava lavrando na serra, subia montes, descia montes, encontrou um ninho de cartaxo, tinha ovos de patarra, tirou-os à burra branca, deitou-os á burra parda, em cima do lombo da burra formou-se um faval, fui à cabeça tirei um piolho, fiz um sorrão para meter o mel. - Bom dia meu padrinho: - Bom dia meu afilhado, E tu que vens cá fazer? - Vim cá para pagar uma dívida que o meu pai estava a dever.
Ângela Alves Trinta contada pela Avó Ana
A LENDA DE MARIA MANTELA Conta a minha avó uma história que eu ainda não entendo muito bem, mas que parece ser muito bonita, que é a seguinte:
Na Igreja Matriz de Chaves existiu, em tempos, uma lápide, com a seguinte frase: «Aqui jaz Maria Mantela com sete filhos ao redor dela”. Diz a lenda que Maria Mantela certa vez, era ela ainda menina, criticou severamente uma pobre que lhe pediu esmola, levando ao colo dois gémeos. Anos mais tarde Maria Mantela casou e, passado tempo, engravidou. Iniciado o trabalho de parto, quando a parteira lhe disse, depois de ter nascido o primeiro filho, que se esforçasse para sair o segundo, e o terceiro, e o quarto, e por aí fora até ao sétimo, a mulher ficou louca de vergonha. Assim que recuperou o ânimo, pagou muito bem à parteira para que escondesse o facto de ter tido sete filhos gémeos e entregou os recém-nascidos à serva que assistira aos nascimentos para que os deitasse ao rio. A criada, cheia de pena dos meninos, meteu-os num cesto e pôs-se a caminho do rio para cumprir o que lhe tinha sido ordenado. Não replicou ante a desumanidade do seu mandado porque bem sabia que isso só lhe podia valer aborrecimentos. Além de que a ama, no estado de espírito em que se encontrava, não lhe daria ouvidos, sendo provável até que lhe desse o mesmo fim que aos meninos. Perto das Caldas de Chaves, assim entregue a estes pensamentos e com a asa do cabaz enfiada no braço, a serva encontrou o marido de sua senhora Maria Mantela, o qual lhe perguntou o que levava no cesto. Apanhada de surpresa, a pobre rapariga, depois de dizer umas palavras incompreensíveis, acabou por achar a solução: - São cachorrinhos que eu vou deitar ao rio, senhor. O amo, ou por curiosidade ou por já desconfiar de qualquer coisa, levantou a cobertura e percebeu. Pegou no cesto, pô-lo sobre o cavalo e disse à rapariga que fosse dizer à ama que estava cumprida a ordem. Dali partiu com os filhos em busca de amas que os criassem. Deixou cada um em sua aldeia e durante muito tempo Maria Mantela não desconfiou que os meninos estavam vivos e se iam criando e educando. Diz a lenda, ao mesmo tempo que especifica os nomes das igrejas, que estes sete meninos foram ordenados padres e viveram a sua vida em sete aldeias circunvizinhas de
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Chaves. E Maria Mantela viveu o resto da sua vida grata ao seu marido por ter aceitado aqueles sete filhos de um só parto. E tanto os amou que exigiu descansar juntamente com os sete, no seu leito de eternidade: «Aqui jaz Maria Mantela com sete filhos ao redor dela». Pode parecer estranha uma história destas nos tempos de hoje, mas antigamente, pensava-se que as mulheres honestas só podiam, e deviam, ter um filho de cada vez do seu marido. O facto de lhes nascer mais do que um filho no mesmo parto deveria pressupor desonestidade no seu comportamento e consequente desonra do marido. A este respeito diz a minha avó: "Ainda bem que os tempos mudaram!"
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Beatriz Araújo contada pela avó Maria do Céu Adão
LENDA DE S. TOMÉ DE MIRA Diz a lenda que era mesmo S. Tomé que terá vivido numa povoação perto do mar ao sul da Videira onde fazia vida de Apóstolo e era também pescador. Aí vivia feliz com a sua mulher e filhos, espalhando a Palavra de Cristo. Uma noite, S. Tomé foi avisado em sonhos que uma grande calamidade iria desabar sobre o mundo. Nessa visão foi-lhe anunciado que pela força de Deus receberia um sinal, para que ele e toda a sua comunidade fugissem em direção ao sul. Mais lhe foi anunciado pela visão celeste, que esse dia chegaria quando ele visse saltar peixes debaixo da pedra da lareira. Ora um dia andando na faina da pesca, viu sua mulher que corria para lhe dizer que estaria algo para acontecer, pois vira saltar peixes debaixo da lareira. S. Tomé, obedecendo ao comando de Deus, abandonou tudo e dirigiu-se a casa para se certificar do que a mulher lhe tinha dito. Reuniu todos os habitantes do lugar e todos os seus e disse-lhes que era necessário fugir, pois iria abater-se sobre a terra uma grande calamidade, e que acontecesse o que acontecesse, nunca poderiam olhar para trás. No entanto, a curiosidade ia minando alguns dos seguidores pois ao olharem para trás, caíam como que fulminados. E assim, um a um, o grupo ia diminuindo. Mas S. Tomé, obediente a Deus, continuava a fugir sem desânimo. A areia era pesada, o caminho longo e S. Tomé sentia que o grupo ia diminuindo sem cessar. Pelas alturas do que agora se chama Casal de S. Tomé, sua mulher que seguia a seu lado, e não suportando já o cansaço, faltou-lhe por momentos a coragem, e voltando-se para trás parou e caiu fulminada como os outros. S. Tomé num esforço de coragem e de fé tentou ainda evitar que ela se voltasse, mas ao fazê-lo pagou com a própria vida a sua desobediência. Mais tarde, foi encontrado o seu corpo, e no mesmo local foi levantada uma igreja de que S. Tomé ficou a ser o patrono. E é por isso que se passou a chamar aquele lugar o Casal de S. Tomé. Beatriz Dias contada pelos avós maternos
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LENDA DO CERRO DA CANDOSA Uma das muitas e várias lendas, sobre o Cerro da Candosa, diz-nos que nos tempos em que os “Moiros” “andaram” por estas terras, teria vivido nelas, um “Moiro” que se converteu ao Cristianismo e se fixou na “Várzea”, vivendo, assim, num local bem aprazível. Este “Moiro” vivia da caça, da pesca, apanhava castanhas, trabalhava a terra e “procurava ouro, nos rios Ceira e Sótão”. Porém, a sua vida de abundância e de tranquilidade “atraiu a inveja” de outros que cobiçavam o solo onde ele vivia, tentando apoderar-se das suas terras. No entanto, nunca conseguiram concretizar a sua ambição, pensando que o “Moiro-cristão” tinha alguma proteção ‘divina’. Vendo que era impossível expulsá-lo daquelas terras férteis, resolveram pôr em prática o plano de inundar o vale. 53
Para tal, mobilizaram todos os “Moiros” que viviam no vale (numa área de vinte léguas), com o fim de susterem todas as águas dos dois rios que se juntavam no “Cabril”.
Trabalhavam desde o nascer até ao pôr do sol, sem nunca pararem para
tentarem fazer um dique utilizando bois para puxar as enormes pedras (calhaus) que iam sobrepondo umas sobre as outras. Uma tarde, quando pararam o seu trabalho, os “Moiros” encontravam-se contentes com o trabalho que tinham realizado. Finalmente, uma grande parte da “barragem” já estava construída, o que queria dizer que estavam no “bom caminho”, e assim, desta vez, iriam atingir os seus objectivos. Regressaram, todos, a casa, para descansar. No dia seguinte voltaram ao trabalho, porém, ao chegarem junto da “barragem” viram que esta tinha desaparecido. Ofendidos e escandalizados, os “Moiros” meteram mãos à obra, com o fim de reconstruírem a dita barragem. Trabalharam duramente e com grande preocupação, durante muitos dias. A obra estava tão perfeita, que parecia ser impossível destruí-la. Porém, mais uma vez, numa noite, quando todos estavam a dormir, o encarregado dos “Moiros” teve um sonho. Neste, via a barragem, novamente, destruída. Acordou e correu, apressadamente, para fora de casa,
para ver o que realmente se passava. Então, verificou, mais uma vez, que a “barragem” tinha desaparecido. Acusou os guardas, que estavam de vigia ao acampamento, exigindo saber o que tinha acontecido. Estes, porém, nada podiam dizer pois nada tinham visto. Mais uma vez os “Moiros” não se deixaram desencorajar e, pela terceira vez, meteram mãos à obra. Recrutando mais ajudas, assim, mais uma vez a “barragem” foi construída, com maior altitude até que quase atingiu a sua conclusão. Porém, nessa noite, o encarregado “Moiro” teve outro sonho. No seu novo sonho viu uma Senhora sentada num burro, no cimo do “dique”. Quando o pequeno burro começou a caminhar, as pedras caíram e o dique desfez-se. O encarregado “Moiro” acordou do seu sonho, em pânico, e correu para o exterior. À sua frente ali estava ela, tal como no seu sonho. Sentada em cima de um burro, estendeu as suas mãos e as pedras começaram a cair e desapareceram pelo vale. Ele tentou correr em direcção a ela mas, paralisado, não foi capaz de mexer nem as suas pernas nem os seus braços. Quando, finalmente estava livre daquela paralisação correu para o local onde a Senhora passou e viu as pegadas do casco do burro, gravadas na pedra, que ainda hoje lá estão.. Mas os Mouros não desistiram. Repetidas vezes recomeçaram a construir o seu dique, e repetidas vezes a Nossa Senhora aparecia no seu burro e destruía-o. Finalmente, os Mouros começaram a compreender que seria o poder divino que protegia o Mouro-cristão e que a Nossa Senhora foi enviada como mensageira divina, para impedi-los de levarem a cabo o seu plano. Finalmente, o encarregado Mouro procurou o Cristão e disse-lhe: “Tentei tudo que podia para destruir-te. Mas Deus protegeu-te e enviou a Nossa Senhora para destruir o “dique” que tentei construir, para afogar-te. Deixa-nos fazer as pazes, e ensina-me como amar o teu Deus.”
Beatriz Dias contada pelos avós paternos
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A HISTÓRIA DA MOURA ENCANTADA A minha avó Bárbara contou-me que há muito tempo, no lugar da Parada, que é o nome de uns terrenos da aldeia onde ela mora, há um penedo muito grande onde no passado vivia uma moura encantada. À noite, nesse lugar, via-se uma mulher que ia beber água muito fresquinha a uma fonte próxima do penedo: era uma moura encantada que de noite era vista a fiar ouro. Durante o dia, nunca ninguém a viu, e quando as pessoas se dirigiam para esse local à procura da senhora que fiava o ouro apenas encontravam pedaços de carvão.
Presentemente, da moura não há rasto, mas a fonte
continua a refrescar quantos a procuram nos dias quentes de verão.
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Gonçalo Faustino contada pela Avó Bárbara
O LAVRADOR DA ARADA O lavrador da arada, Encontrou um pobrezinho O pobrezinho lhe disse: -Leva-me no teu carrinho Deu-lhe a mão, o lavrador, e no seu carro o meteu. Levou-o para sua casa, para a melhor sala que tinha, Mandou-lhe fazer a ceia do melhor manjar que havia, Sentou-o na sua mesa mas o pobre não comia. As lágrimas eram tantas que pela mesa corriam, Os suspiros eram tantos que até a mesa tremia. Mandou-lhe fazer a cama, da melhor roupa que tinha: Por cima damascos roxos, por baixo, cambraia fina. Lá pela noite adiante, o pobrezinho gemia, Levantou-se o lavrador ver o que o pobrezinho tinha. Deu-lhe o coração um baque, como ele não ficaria? Achou-o crucificado numa cruz de prata fina.
Gonçalo Lobo contada pela avó Maria Augusta Borges
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A VELHA E A CABAÇA Era uma vez uma velha que tinha uma filha. A filha casou-se. A velha foi à boda mas no meio de um campo encontrou um lobo: -Ah, velha, que te como! A velha, com muito medo, do que se havia de lembrar: -Ai Sr. Lobo, não me coma agora, que eu levo a barriga vazia. Eu vou ao casamento da minha filha e quando de lá voltar, já venho mais gordinha, o Sr. lobo espera aqui por mim que eu hei de por aqui passar, e come-me então. O lobo ouviu aquilo e deixou-a ir. A velha foi às bodas, comeu, bebeu no meio de muita festa mas no fim de tudo diz à filha: -Ai filha, como há de ser isto agora que se eu vou para casa, vem o lobo e comeme contou à filha o que se tinha passado. Diz-lhe a filha: -Olhe mãe, não se aflija, pegue nesta cabaça e quando chegar ao pé do lobo, 57
meta-se dentro que ele não a vê. A velha foi andando, andando enquanto já estava a chegar ao sítio onde devia estar o lobo, meteu-se dentro da cabaça e foi a rebolar por ali adiante. O lobo estava à espera a ver quando a velha passava. Nisto vê passar a cabaça e pergunta-lhe: - Ò cabacinha, tu não viste por aí uma velhinha? E a velha, sempre a rebolar: -Eu cá não vi Nem velhinha nem velhão Corre, corre cabacinha Corre, corre, cabação.
Guilherme Trinta contada pela avó Fátima
A LENDA DA FONTE DA MOURA Em tempos muito antigos, viveu junto ao rio, perto da vila de Ponte de Lima, uma jovem moura muito bonita. Tinha os olhos e os cabelos pretos e cheios de caracóis. Era muito elegante e educada. Esta moça apaixonou-se por um jovem cristão. Então começaram a namorar em segredo, porque eles não tinham a mesma religião e as famílias não aceitavam o namoro. Mas há muitas pessoas maldosas e, um dia, foram dizer ao moço que a sua apaixonada ia namorar todas as noites com outro homem, para junto da fonte. O rapaz não queria acreditar, mas ficou desconfiado. Então, às escondidas, foi espreitá-la junto à fonte. Quando lá chegou, viu que era verdade o que lhe tinham dito: ela estava lá com outro homem. Ficou cheio de ódio e quis vingar-se. Deu um salto e tentou enfiar um afiado punhal no pescoço da moça, mas de repente o homem com quem ela estava disse: - Desgraçado, o que queres fazer?! Queres matar a moça que por amor a ti, aprendeu o catecismo! Acabei agora mesmo de a batizar, como cristã! O velho com quem ela se encontrava era afinal um santo frade do convento. Vinha ali, todas as noites, a pedido da moça, para a família dos mouros não desconfiar. Agora, já eram os dois cristãos e podiam casar e ser muito felizes para sempre. Ainda hoje, o povo chama à fonte a "Fonte da Moura".
Laura Pereira Costa contada pela avó Maria
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OS COMPADRES Há muito, muito tempo, viveram dois homens que eram compadres. Um era rico e o outro era pobre. Certo dia, o compadre rico foi visitar o pobre e, logo que entrou em casa, perguntou: - A comadre está em casa? Queria falar-lhe... - Não, mas não há problema. Eu encontro já uma maneira de a chamar - disse o homem pobre, pois tinha uma boa partida para lhe pregar. Vou mandar-lhe um coelhinho. Quando ela o vir, vai saber que é o sinal para voltar para casa. - E os cães? Se o veem, comem-no! - Exclamou o compadre rico, muito espantado com aquela solução. - Não se preocupe. O coelho vai voltar para casa inteirinho, sem uma única arranhadela. Na verdade, o homem pobre tinha dois coelhos iguais. Soltou um e o outro ficou 59
bem guardado. E, além disso, a mulher estava escondida atrás da porta a escutar a conversa... Pouco depois, entra a comadre com um coelho ao colo. Sem acreditar naquilo que os seus olhos viam, o rico perguntou: - Como é que o compadre conseguiu isto? - Ensino-o todos os dias e tenho tido muita paciência. - Compadre, venda-me esse coelho. Com os problemas que eu tenho para chamar os meus criados... Peça o dinheiro que quiser. - Sabe, se eu lho der vou sentir muita pena, muitas saudades. - Já lhe disse, homem. Peça o dinheiro que quiser! E assim foi. O rico pagou uma fortuna pelo animal, mas levou-o para casa. No dia seguinte, soltou o coelho para ir chamar um dos criados, mas nem um nem outro apareceram. Muito aborrecido, resolveu ir a casa do compadre pobre para lhe pedir explicações, mas ele já o esperava e já tinha preparado mais uma partida...
Logo que entrou, o homem rico viu uma panela sobre o fogão, com a água a ferver, mas sem lume para a aquecer. Ao ver aquilo, esqueceu-se do que queria reclamar e já muito interessado naquele fenómeno disse: - Ó compadre, venda-me essa panela. - Não posso, faz-me muita falta. Sabe, a minha mulher passava muito tempo a fazer o comer, mas agora, deixa tudo temperado e quando volta está tudo feito, mesmo sem lume. - Pago o que me pedir, porque lá em casa tenho pouca lenha. - Se tanto insiste... Mas só pode levá-la se me der todo o dinheiro que tem lá em casa. Sem pensar duas vezes, o compadre rico concordou e, com esta troca, o que era rico ficou mais pobre e o pobre ficou rico. Desejoso de experimentar a panela, logo que entrou em casa o compadre rico disse à mulher para temperar a comida e ir à horta buscar uma alface fresquinha, porque quando voltasse, tinha o almoço pronto. Sem perceber o que se estava a passar ela assim o fez, mas quando voltou ainda estava tudo cru. Furioso por ter sido enganado mais uma vez, o marido correu para casa do compadre. O homem era esperto, ainda por cima tinha ficado rico e já estava entretido a preparar mais uma partida: encheu um saco com sangue, escondeu-o debaixo da saia da mulher e, logo que viu o compadre com cara de poucos amigos, fingiu que estavam a discutir e que matou a mulher. - Então compadre, matou a sua mulher? - Não, nada disso! Eu agora toco este pífaro e ela fica viva outra vez. -Ó compadre, venda-me esse pífaro. Assim, já posso discutir à vontade com a minha mulher. - Não vendo, porque assim posso discutir as vezes que quiser e tudo acaba bem. Depois de muito insistir, conseguiu levar o pífaro para casa. Provocou logo uma discussão com a mulher, matou-a e tocou o pífaro para ela voltar a viver. Mas ela não se levantou, nem se mexeu. Ao perceber o que tinha feito e sentindo-se enganado mais uma vez, correu para casa do compadre esperto. - Ó compadre, desta vez tenho de o matar. - Então e como é que me vai matar? - Vou metê-lo dentro de uma saca e lançá-lo ao mar.
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E assim foi. Quando chegou à beira de um penhasco, pousou a saca e foi procurar uma pedra para que o compadre fosse ao fundo mais depressa. Entretanto, passou por ali um pastor que estranhou ver uma saca abandonada naquele lugar. Tocou-lhe a medo e, ao ver que tinha alguma coisa que se mexia, perguntou: - Que é isto? Quem está aqui? - Isto foi uma brincadeira de um amigo. Pode desatar o nó da saca para eu sair e apanhar ar fresco? Logo que se apanhou cá fora, obrigou o pastor a entrar para dentro da saca e foi-se embora com o rebanho de ovelhas. Quando o compadre chegou, atou a pedra à saca e atirou-a ao mar sem dizer uma única palavra. No dia seguinte, já com um pouco de remorsos, foi visitar a viúva para saber se precisava de alguma coisa, mas deu de caras com o compadre. - Então? Atirei-o ao mar e você aparece outra vez? - Ó compadre, eu até lhe quero agradecer. Lá é que se consegue governar a 61
vida... Até já comprei este rebanho! Tonto e avarento como era, voltou a acreditar e disse com determinação: - Verdade? Então amanhã, é você que vai atirar-me ao mar. Conforme combinado, de manhã bem cedo, o compadre esperto atirou o outro ao mar e foi-se embora sem sequer olhar para trás. Por ter sido tonto e invejoso, o compadre que era rico ficou sem casa, sem dinheiro, sem mulher e sem vida!
Luana Mota contada pela avó Adelaide
O SAPO COCHO E A LEBRE Era uma vez um Sapo e uma Lebre que viviam em tocas ao lado uma da outra. Certo dia quando se encontravam numa animada conversa, o sapo disse para a Lebre: _ Ó comadre, aposto consigo como sou capaz de chegar primeiro que a comadre ao portão da Quinta das Rosas... - Ai! - Respondeu a Lebre - Você não está bom pois não? Acha que alguma vez me conseguia ganhar? Tenha juizinho!...A comadre Lebre virou-lhe as costas, mas o compadre sapo tanto teimou que a Lebre lá lhe disse que sim. Marcaram o sítio da partida e de chegada e lá começaram a corrida, mas a Lebre parou e pensou - Ainda me posso deitar um pouco e quando o compadre sapo estiver perto da meta eu começo a correr e ainda o vou ultrapassar. E lá se deitou á sombra de uma árvore, enquanto o compadre sapo seguia caminho no seu passo lento. A Lebre olhou para o Sapo e pensou: - Deixa-o lá ir que eu com dois ou três saltos ponho-me lá. E voltou a deitar-se enquanto olhava distraída para uma horta que havia ali perto a pensar que aquelas couves deviam estar uma delícia. Entretanto olhou para o compadre Sapo e qual não foi o seu espanto, o compadre estava mesmo a chegar à meta. Levanta-se então e desata a correr, mas é tarde demais pois o compadre tinha acabado de cortar a meta. _ Então comadre, eu não lhe disse que chegava primeiro? _ Ora compadre, eu é que comecei a correr muito tarde. _ Pois enquanto eu fui caminhando a comadre deitou-se a preguiçar porque é estouvada. _ Mas eu sou muito mais rápida que o compadre! _ Sim! Mas eu acabei por chegar primeiro. Agora imagine se eu tivesse umas pernas como as suas!
Mariana Sofia contada pela avó Misse Rosa
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LENDA DE NOSSA SENHORA DA NAZARÉ A lenda de Nossa Senhora da Nazaré é das mais antigas e conhecidas de Portugal, que a tradição tem vindo a registar ao longo dos séculos. A sua memória tem sido transmitida por avós de geração em geração. Tem inspirado poetas, pintores, escultores e escritores. Todavia foi sobretudo a forte crença de um povo, que há mais de oito séculos converteu o despovoado Sítio da Nazaré num dos maiores centros católicos de fé e peregrinação. A tradição de origem popular regista memórias que, na falta de documentos escritos ou outros, são os alicerces da própria história de um país. Neste contexto se relaciona a lenda de Nossa Senhora da Nazaré com a própria história de Portugal. Mas contemos então a lenda de Nossa Senhora da Nazaré. Há quase 2000 anos, no segundo quartel do séc. IV, em 361, o imperador romano Juliano perseguia os cristãos do Oriente, que fugindo à sua tirania se vieram refugiar na então chamada Espanha, situada na Península Ibérica. Por este tempo o 63
monge grego, de nome Ciríaco, refugiava-se na Palestina, na cidade de Belém, trazendo consigo uma pequena imagem da Senhora da Nazaré, que segundo a tradição tinha sido esculpida por S. José. Tamanho tesouro foi entregue a S. Jerónimo, que a enviou a Santo Agostinho, bispo de Hipona, no norte de África. Este grande doutor da igreja, como prova de muita estima que tinha pelos monges de Espanha, ofereceu-a ao convento de Cauliano, situado a cerca de duas léguas da atual cidade de Mérida e juntara-lhe um cofre em marfim contendo as relíquias de S. Brás e S. Bartolomeu. Neste convento vai permanecer a imagem durante três séculos, com grande veneração e crescente devoção dos outros povos pela fama dos seus milagres. Decorria o ano de 707, quando o rei visigodo D. Rodrigo destronou os filhos do rei Witiza que, sendo perseguidos, refugiaram-se no norte de África na corte do rei mouro Musa. Para vingar tal derrota, o conde Julião combina com o árabe Tarik a invasão da Península. Estes, à frente da hoste sarracena, com um exército forte e disciplinado, atravessaram o estreito de Gibraltar e vão alcançar os godos na margem do rio Guadalete. Para enfrentar o inimigo, D. Rodrigo reúne um exército e dá-se a batalha de Guadalete em 714, que vai marcar a sorte daquele rei e do império godo. Esta célebre
batalha durou oito dias e, derrotado o exército de D. Rodrigo, este, temendo cair nas mãos dos mouros, ferido, abandona o seu cavalo "Orélia", e troca as suas vestes reais pelo trajo rústico de um pastor. Em fuga e depois de grande e dolorosa jornada, chega ao mosteiro de Cauliana, onde já era conhecida a derrota de Guadalete. Cansado e profundamente desgostoso por ter perdido o seu reino, D.Rodrigo ajoelhou-se nos degraus do altar do convento a chorar profundamente e desmaiou. Ora um dos monges de nome frei Romano, guardião do convento, abeirou-se daquele desconhecido e, com palavras e cuidados, ganhou a confiança de D. Rodrigo, que lhe revelou ser quem era. Receosos da perseguição do invasor, ambos combinam abandonar o convento em direção ao Ocidente. Frei Romano leva a imagem da Senhora da Nazaré e D. Rodrigo transporta o cofre com as relíquias em busca de outro refúgio. Vagueando por montes e serras, atravessando rios e evitando povoações, avistam o oceano e atingem o lugar onde hoje se ergue a capela de Nossa Senhora dos Anjos e mais tarde viria a edificar-se a vila da Pederneira. Dali se avista um monte, outrora chamado Seano, isolado, rochoso, de difícil acesso, rodeado de matagais, que os viajantes escolheram para se esconderem. Pareceu-lhes um belo e bom lugar para se refugiarem, tanto mais que encontraram entre as rochas uma ermida em ruínas, onde viram um crucifixo e uma campa rasa, únicos vestígios de ter ali vivido algum penitente. Era o sítio ideal para se fixarem, orarem e esquecer as mágoas passadas e se aproximarem cada vez mais de Deus. Alimentavamse de ervas, raízes e frutos silvestres a que se juntava algum pão de cevada que um pastor amigo lhes trazia de vez em quando. Assim decorreu algum tempo, até que Frei Romano, devido ao peso dos anos se lhe toma difícil subir ao monte; e, sobretudo sabendo que D.Rodrigo desejava viver em completo isolamento, deslocou-se para o promontório onde hoje é o Sítio, levando consigo a imagem e as relíquias. Aí construiu um altar para a imagem da Senhora da Nazaré entre dois rochedos a pique sobre o mar e um pequeno abrigo, entregando-se à oração e à vida contemplativa. Situava-se a três quilómetros do monte Seano, hoje denominado S. Brás (a seta na figura indica o local), onde ficara D. Rodrigo. Tinham combinado acender uma fogueira no cume do monte para se comunicarem.
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Passados dois anos, um dia D. Rodrigo verificou que frei Romano já não lhe dava o sinal combinado. Deslocando-se ao Sítio encontrou o seu amigo já morto. Com muitas lágrimas de saudade sepultou-o aos pés da imagem e, triste e pesaroso, temendo as vinganças do rei mouro, abandonou aquelas paragens. Viria a falecer no mesmo ano no lugar do Fetal, perto de Viseu, repousando os seus restos mortais na Igreja de S. Miguel como comprova a legenda gravada no seu túmulo e que mais tarde foram trasladados para Castela. Entre os rochedos, a imagem permaneceu escondida até ser descoberta em 1179 por uns pastores que apascentavam os seus gados pelos matos do Sítio. Depressa esta notícia foi conhecida em Porto de Mós cujo alcaide era o lendário D. Fuas Roupinho, destemido cavaleiro nas lutas contra os mouros ao lado do nosso primeiro rei D. Afonso Henriques na fundação e formação do reino de Portugal. Como recompensa de tão grande esforço e heroísmo foi-lhe confiada a guarda do castelo de Porto de Mós. A ele se deve a prisão do rei mouro Gamir e seu irmão nas muralhas daquele castelo. 65
Por aqueles tempos os mouros acorriam às nossas costas marítimas, onde saqueavam e matavam os povos. Foi então que o rei D. Afonso Henriques encarregou D. Fuas Roupinho da frota portuguesa nomeando-o o "primeiro almirante português". O combate junto ao Cabo EspicheI em 1184, marca, segundo a tradição, a primeira vitória naval portuguesa. E o nosso grande poeta Luís de Camões, nos "Lusíadas", canto IV assim se lhe refere: "E Dom Fuas Roupinho, que na terra" "E no mar resplandece. " E no canto I: "Dom Fuas que de Homero" "A cítara para' ele só cobiça" Ora conta-se que D. Fuas tinha por hábito, nos curtos períodos de paz, dedicar-se à caça percorrendo as terras agrestes que se estendiam junto ao mar. Numa dessas caçadas, levado por um devoto sentimento, quis ver o local e visitar a imagem, cujo aparecimento fora divulgado por aquelas terras. Mandou então construir uma morada mais condigna para acolher a Imagem da Virgem. Corria o mês de Setembro de 1182 quando D. Fuas e alguns companheiros de armas saíram de Porto de Mós à caça e em direção ao Sítio da Nazaré; e eis que, inesperadamente, surge do meio do matagal, veloz e a curta distância, um belo veado
logo desaparecido no nevoeiro e que o povo diz ser a encarnação do Diabo, mas sempre perseguido pelo nobre cavaleiro. Reza então a lenda que, quando D. Fuas se viu no extremo de uma rocha com mais de cem metros de altura sobre o mar, onde o veado caiu, o cavalo estacou firmado nas patas traseiras e as dianteiras em atitude de salto para o abismo. Foi então que o nobre cavaleiro se lembrou da presença da Imagem entre os rochedos e, numa fervorosa prece, invoca o seu auxílio dizendo: "Senhora, valei-me!" Esta súplica foi tão ardente e a sua esperança tão forte que o seu grito foi ouvido: por instantes o cavalo ficou suspenso, permitindo ao cavaleiro apear-se na mesma rocha onde hoje, segundo a tradição, ainda se vislumbra uma marca da pata do cavalo. Este local ainda hoje é conhecido como o Bico da Memória. Esta lenda poética e tão popular foi ecoando ao longo dos séculos através de gerações até aos nossos dias, como bem expressa a voz do poeta Visconde de Castilho nos seguintes versos: "A fama famosa d' aquele milagre" "Herança que herdamos de pais e avós," "À glória do alcaide de Porto de Mós" "Por filhos e netos, bem é se consagre" Em reconhecimento por tão milagrosa intervenção de Nossa Senhora da Nazaré, D. Fuas Roupinho ali mandou erguer uma singela capelinha denominada Capela da Memória para perdurar a lembrança de tal milagre. Diz ainda a tradição que durante as obras da capela foi encontrado um pequeno cofre de marfim contendo as relíquias e um pergaminho com o relato da história da Imagem, a data e o motivo pelo qual a Senhora e as relíquias vieram para o Sítio da Nazaré. Merecendo sempre a devoção e proteção dos nossos reis e rainhas é hoje ainda um dos maiores centros do culto mariano em Portugal.
Nuno Miguel contada pelos avós Maria Antónia e João
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LENDA DO “VINHO DOS MORTOS” Diz-se que os lavradores de Boticas, para não serem roubados pelos soldados franceses, enterraram as vasilhas do vinho, deitando-as ao comprido e cobrindo-as com terra como se faz aos mortos nos cemitérios. Os militares tiveram de se contentar com a água das fontes. Porém, o imprevisto aconteceu: quando foram desenterrar as garrafas notaram que o vinho tinha uma cor e um paladar diferentes, para melhor. Desde então há quem enterre novamente as garrafas para melhorar o vinho de cerca de 10-11 graus. Esta lenda tornou a vila de Boticas conhecida por esse mundo além. Em pleno século XXI construi-se um túmulo para “ O vinho dos mortos” para que a lenda continuasse.
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Nuno Miguel Oliveira contada por Maria Conceição Vieira Queiroga
A MARIAZINHA E O JOÃOZINHO Num dia muito frio de Inverno, a mãe da Mariazinha e do Joãozinho pediu-lhes para irem buscar lenha para acender a lareira e disse-lhes que daria um presente ao que chegasse primeiro. Chegou então a Mariazinha. A mãe que era uma mulher muito má, meteu a menina num pote e pô-la ao lume para a cozinhar para o almoço. Passado uns minutos, chegou o seu irmão que pergunta à mãe pela irmã. A mãe respondeu-lhe que ainda não tinha chegado, mas Joãozinho teve um pressentimento e abriu o pote e viu que era a Mariazinha que estava lá dentro. Saiu de casa a chorar e pelo caminho encontrou Nossa Senhora que lhe perguntou o que ele tinha. Joãozinho disse-lhe que a mãe tinha a sua irmã a cozer num pote para o almoço. Nossa Senhora pediu-lhe que não a comesse e que apanhasse todos os ossinhos que lhe iria fazer outra Mariazinha. Ele assim fez e foi cumprido o prometido. Nossa Senhora fez outra Mariazinha e deu-lhe uma cestinha de laranjas e foram os dois felizes para casa. Chegaram a casa e diz a mãe para a menina: - Mariazinha! Dá-me uma laranja! A menina respondeu: - Não dou, que me cozinhaste. O pai disse para a menina: - Mariazinha! Dá-me uma laranja! - Não dou, que me comeste. Por fim o irmão disse-lhe: - Mariazinha! Dá-me uma laranja! A menina muito feliz respondeu: - A ti, dou-tas todas porque me salvaste!
Pedro Pires da Silva contada pela avó Ilda Moura Gomes
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LENDA DA FONTE DA URZE Uma senhora de oitenta anos que nasceu e sempre viveu em Carrazedo de Montenegro contou-nos esta lenda, que em tempos de juventude ouvira dos seus antepassados. Levada pelo professor para a sala de aula, foi depois trabalho de composição coletiva recriada pelos alunos. Os antigos dizem que na fonte da urze há um tesouro e uma cobra. Essa cobra costuma aparecer pela meia-noite, junto da fonte. Se a essa hora passasse alguém junto da fonte, encontrasse a cobra e não tivesse medo, ela conduzia essa pessoa ao tesouro. No entanto, já muitas pessoas encontraram a cobra, tendo fugido imediatamente, cheias de medo, pois a cobra não as conduziu ao tesouro. NARRADOR – A noite caía naquele fim de tarde chuvoso e frio nestas terras do Demo como lhe chamou Aquilino Ribeiro. Fios de fumo negro saíam das casas então de colmo e pedra, escapando-se na procura da imensidão para lá dos montes cobertos de neve 69
branquinha. Dentro de cada lar acendia-se a lareira para fazer o caldo que era a ceia da família. O lavrador de regresso a casa vai agora no aconchego dos seus descansar do longo dia de trabalho. Chama os filhos, quere-os ali à sua volta, o mais pequenino nos joelhos e o serão começa com o rodopiar da lã no fuso ou a fazer carpins de lã que com carinho a mãe vai fabricando para matar o frio de um Inverno longo. O mais novo pede ao avô uma história. E com os olhos presos nas brasas vivas do lume o avô começa: AVÔ - Era uma vez uma linda menina que há muitos, muitos anos, ia todos os dias ali à fonte, aquela fonte onde tu vais João encher o nosso cântaro de água fresquinha no verão. JOÃO – A fonte da urze, avô? AVÔ - Sim, essa mesma. JOÃO - E depois? AVÔ - Um dia, a menina chegou da escola, pousou a saca dos livros e sentiu sede, espreitou para o fundo do cântaro mas água não havia. Foi então que
apressadamente correu à fonte para beber e encher depois o cântaro. Bebeu e quando se preparava para voltar ouviu uma voz que dizia: -Olá menina do cântaro à cabeça tenho um segredo para te dizer. A menina olhou e viu junto daquela urze muito grande que está perto da fonte um bonito cavalo branco, mas coitadinho... tinha enrolada à volta do pescoço uma serpente com cabeças. JOÃO - O que é uma serpente, avô? AVÔ - Uma serpente é assim como uma cobra muito grande. Algumas são venenosas. Se morderem alguém matam. JOÃO - E a serpente mordeu a menina? AVÔ - Não, espera, ainda não acabei. - Oh! Disse a menina. Que queres tu? CAVALO - Eu escolhi-te para te contar a minha história. E sabes porquê? Porque és muito corajosa. MENINA - Então conta, lindo cavalo branco. CAVALO - Eu era um jovem príncipe e tinha sete reinos. A feiticeira má por me ter recusado a casar com a filha mais nova transformou-me neste cavalo branco que tu vês. Os meus reinos transformou-os nesta grande serpente com sete cabeças que representam os meus sete reinos. E para que tenham medo de mim, enrolou-ma à volta do pescoço. MENINA - Coitado de ti, como te posso ajudar? CAVALO - És assim tão corajosa? MENINA - Sou, eu nunca tive medo. CAVALO - Bem, então se assim é vais ouvir, e com atenção. Vou dar-te esta faca encantada. Só ela pode matar a serpente que se enrola a mim. Durante sete dias, a esta mesma hora tu virás à fonte, trarás a faca e dirás assim: Com esta faca encantada sete golpes eu vou dar na cabeça das serpentes para o príncipe libertar! Não te podes enganar, nem dizer a ninguém o que vens fazer à fonte. Depois pegas na faca, cortas a cabeça a uma só serpente e foges sem olhar para trás. MENINA - Está bem, assim farei. Vais ver que tudo correrá bem.
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AVÔ - Durante sete dias a menina correu à fonte da urze e em cada dia cortava uma cabeça da serpente, fugindo rapidamente para casa sem olhar para trás. AVÔ - No oitavo dia a menina foi à fonte para ver o que tinha acontecido e o que havia ela de encontrar? MENINA - Encontrei um bonito rapaz que me esperava junto à urze. Era afinal o príncipe a quem eu quebrei o encanto. PRÍNCIPE-
Salvaste-me e eu vou recompensar-te. Na tua casa haverá sempre
fartura e muita alegria. AVÔ - A menina voltou para casa feliz por ter ajudado aquele amigo. NARRADOR - Mas a feiticeira má continua a transformar príncipes em cavalos brancos, reinos em serpentes com sete cabeças e assim na fonte da urze ainda lá anda um cavalo que espera a ida à fonte de uma menina corajosa.
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Rui Silva contada pela avó Lídia
A HISTÓRIA DA VELHA E DA CABAÇA Era uma vez uma velhinha que tinha uma filha. Essa filha vivia longe da mãe e pensou em casar, então convidou-a para o seu casamento. A mãe disse-lhe: -Oh, filha, é muito longe e eu tenho medo dos animais ferozes mas a filha insistiu e a velha lá foi. Andou, andou até que lhe apareceu o lobo que lhe disse: -Prepara-te velha que te vou comer! Ela respondeu-lhe: -Não me comas agora que estou muito magrinha, eu vou para o casamento da minha filha e quando vier já estou mais gordinha. O lobo deixou-a ir. Continuou a caminhar até que lhe apareceu o leão que lhe disse: -Velha, eu vou-te comer! -Agora não me comas, estou magrinha, quando vier do casamento venho mais gordinha. Assim continuou o seu caminho e dizia o mesmo a outros animais ferozes que lhe foram aparecendo. Chegou ao lugar do casamento e tudo correu muito bem, a velha comeu, bebeu e bailou toda animada. Mas no fim da festa a mãe disse à filha: -Até agora bem foi, o pior é que ao ir para casa vou ser comida pelos animais ferozes. A filha respondeu-lhe: -Mãe, não tenha medo, meta-se dentro desta cabaça, quando for atacada e se perguntarem por uma velhinha a senhora diga: -Não vi velhinha nem velhão, corre, corre, cabacinha, corre, corre, cabação. E assim foi, quando os animais viam a cabacinha faziam todos a mesma pergunta e a velhinha respondia: - Não vi velhinha nem velhão, corre, corre, cabacinha, corre, corre, cabação. E assim a velhinha ia continuando a viagem. Tudo estava a correr bem, por fim chegou o lobo e fez a mesma pergunta, entretanto a cabaça bateu numa pedra partiu-se toda e o lobo comeu a velhinha. Assim acabou esta história
Simão Freitas contada pela avó Mariana
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LENDA DA FONTE SÃO NEUTEL EM CHAVES Era uma jovem muito bonita, bondosa e rica, estimada pelo povo. Adorava passear pelo campo e misturar-se com a gente humilde, mas tinha que se esconder do pai que era severo e orgulhoso. Certo dia, nos seus passeios encontrou um rapaz de origem humilde e apaixonaram-se. Os dois encontravam-se às escondidas para namorar junto à fonte São Neutel, onde trocavam juras de amor eterno. O namoro foi descoberto pelo pai, que ficou desiludido com a filha por namorar um rapaz que não era da sua classe social. Então o pai de mau, mandou enfeitiçar a filha e assim a linda menina transformou-se numa enorme cobra. Este feitiço só poderia ser quebrado se um grande amor aparecesse e beijasse a cobra. Um dia, o rapaz passou na fonte para beber água mas quando olhou viu uma enorme cobra. Assustou-se e fugiu. Assim ficou a menina encantada. Diz a lenda que ainda hoje, pela tardinha, a menina vai à fonte esperar o seu amor perdido.
Ana Filipa Marques contada pela avó Eulália
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UMA ESPERANÇA Os Mendes eram uma das famílias mais ricas da cidade. Viviam numa bela casa, sempre rodeados de amigos, tinham dois filhos e durante muito tempo foram muito felizes. Certo dia quando regressavam a casa depois de um passeio pelo campo, tiveram um acidente: um javali atravessou a estrada, o Sr. Mendes travou a fundo mas não a tempo de parar o carro em segurança. O choque foi grande pois circulavam a bastante velocidade. Alguém que por ali passava chamou uma ambulância e de repente já estavam todos a ser assistidos no hospital. Todos tinham pequenas feridas, as quais foram tratadas devidamente, mas a pequena Ema de sete anos continuava imóvel e não respondia a nenhuma pergunta feita pelo médico e enfermeiras. Foi então que a vida desta família mudou drasticamente. 75
Nos dias seguintes foi feita todo o tipo de exames à pequena, a fim de descobrir a gravidade da situação. O choque tinha-a traumatizado a ponto de não conseguir falar nem mexer as pernas. Era psicológico e os médicos tinham a esperança que com o tempo ela voltasse ao normal. O tempo ia passando e Ema não mostrava grandes progressos. Comunicava por gestos e dificilmente sorria, estando a maior parte do tempo muito triste. Por vezes tinha pesadelos, acordava a gritar e esses eram os únicos sons que emitia. Certo dia, a conselho do médico que a assistia, decidiram deixar a cidade e mudaram-se para o campo onde podiam criar novas memórias e esquecer o passado. Começaram por lhe dar um cão de raça pequena pois era uma das coisas que mais desejara. Ema adorou o cãozinho, mas nem isso a fez falar. Não lhe quis dar um nome, limitando-se a acenar se gostava ou não do que a mãe escolhia. A casa nova era espaçosa e tinha umas vistas maravilhosas: da parte da frente vislumbrava-se um magnífico prado coberto de flores silvestres e das traseiras, viam-se as mais belas montanhas. Era uma combinação perfeita! O tempo passava depressa.
O Sr. Mendes montou um escritório em casa para ficar perto da família nesse momento tão difícil e quase não ia à cidade e a Sr.ª Mendes passava os dias a tratar dos seus filhos, pois, para além de Ema tinha também Marco com dois anos de idade, era ainda muito pequenino e requeria muita atenção. Finalmente Ema começou a dar sinais de melhoras, pois já queria explorar toda a beleza que a rodeava. Com a ajuda da ama, todos os dias saía na sua cadeira de rodas e dava longos passeios pelos prados, embora o seu desejo fosse explorar as belas montanhas. Ah! Como ela sonhava subir aquelas montanhas com os seus próprios pés! Infelizmente lá o solo era muito irregular e por isso não era possível. Certo dia, o pequeno Marco, sem que ninguém se apercebesse, saiu para apanhar flores. Ema estava fora a apanhar sol e de repente, sentiu remexer as ervas. Nesse mesmo instante, avistou uma cobra que se aproximava do irmão. O medo fez com que gritasse e se levantasse da cadeira de rodas, fazendo a cobra mudar a trajetória e desaparecer. Em seguida, Ema desmaiou. Todos correram para fora da casa encontrando o pequeno Marco junto da irmã desmaiada a dois metros da cadeira de rodas. Quando finalmente acordou, já deitada na sua cama, encontrou a família, que não sabia o que se passara, a olhá-la cheia de preocupação. Ema procurou Marco com o olhar, chamou-o e deu-lhe um forte abraço sorrindo e chorando ao mesmo tempo, feliz por ver que estava bem. Sob o olhar de espanto dos pais Ema explicou o que se tinha passado. Os pais não fizeram nenhum comentário a respeito de ela ter voltado a falar, agindo com naturalidade e a partir desse dia Ema voltou a falar... O médico foi chamado para examinar Ema. Depois de a observar, aconselhou os pais a estimular os seus movimentos com muita paciência, pois como já tinha sido provado era uma questão de tempo até ela voltar a andar. Dois meses passaram e com o início do novo ano letivo, os Mendes decidiram pôr a Ema na escola local, mas a ideia não lhe agradava nada. Achava-se diferente das outras crianças e não queria ir. Sabendo que não poderiam ceder nesse ponto, passaram a convidar algumas meninas da sua idade, para fazerem uns piqueniques e até acampar lá perto de casa, para que se fossem conhecendo e assim ficassem amigas. Ao princípio Ema não as queria receber, ficando trancada no
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quarto, mas depressa as suas gargalhadas se tornaram contagiantes e toda a alegria provocada pelas suas brincadeiras, fez com que sentisse curiosidade de as conhecer. Começou por ficar a ver sem ser vista, até que, enchendo-se de coragem entrou na sala. Por um momento fez-se silêncio, mas rapidamente voltaram a falar. Ninguém lhe fez perguntas desconfortáveis, por exemplo: -Porque é que estás nessa cadeira de rodas? Ou: -Porque é que não consegues andar? E isso, deixou-a mais confiante. Durante duas semanas, Ema recebia as suas novas amigas quase diariamente e finalmente sentia-se preparada para regressar à escola. Não sem algum receio, pois ainda não conhecia o seu novo professor e grande parte dos seus colegas. Mas sabia que as suas amigas iam estar com ela. O primeiro dia de aulas correu muito bem. Fizeram vários tipos de brincadeiras e cada criança falou um pouco de si, para que se conhecessem todos um pouco melhor. Quando chegou a vez da Ema falar, sem dar por isso, viu-se a falar do acidente: falou do barulho dos pneus, dos gritos dentro do carro e do pânico que sentiu ao pensar que iam 77
todos morrer. As lágrimas corriam pela sua face e de repente já não as queria conter. Sentia necessidade de desabafar...Todos a rodearam e iam dizendo que não estava sozinha e já não tinha que ter medo. Depois das aulas, o professor foi falar com os pais de Ema e esta, animada por toda a família e amigos, acreditou por fim, que para voltar a andar só dependia dela. De início, não foi fácil: sentia dores nas pernas e muita insegurança, mas com o apoio de todos, pela altura do Natal, já andava de muletas e no seu aniversário em Abril, já andava sem se apoiar em nada. Ainda não conseguia correr, mas sabia que era uma questão de tempo. Para celebrar a sua recuperação, a festa de aniversário foi especial, com todos os seus amigos e familiares. Não faltaram as guloseimas, vários jogos divertidos e muita animação. Estavam todos muito felizes porque a Ema estava finalmente curada. No final do ano letivo, os Mendes pensaram voltar a viver na cidade, mas Ema, já estava completamente inserida na nova escola, tinha feito novas amizades e adorava a vida do campo. Este era o seu novo lar. Tudo ali a fascinava, desde as cores, os cheiros, o sol que se punha atrás das montanhas... As suas belas montanhas! Já as explorara na
companhia de algumas das suas amigas e imaginava como seria ver ali a neve no inverno. Como seriam belas aquelas montanhas cobertas de neve! A verdade é que já todos ali se sentiam em casa. Se não fosse pelo trabalho do Sr. Mendes, que ultimamente lhe exigia ir frequentemente à cidade, nem lhes teria ocorrido sair dali. Depois de ponderar todas as opções, contrataram uma pessoa responsável para tratar dos assuntos que requeressem a sua presença e só pontualmente ia à cidade a trabalho. Quando o comunicaram à filha e viram a sua alegria, tiveram a certeza de ter tomado a melhor decisão. Assim foram passando os anos e Ema agora já adolescente, sabe que jamais conseguiria viver noutro lugar. Não voltou a pensar no passado que tanto a atormentou, muito pelo contrário, pois ali era muito f
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António Cardoso contada pela avó Maria
A SOPA DE PEDRA Andava um frade a fazer peditórios pelas ruas de uma aldeia… Quando chegou à porta de um lavrador, este e a sua família não quiseram dar-lhe esmola. O frade estava a cair de fome. Então começou a dizer: -Vou fazer uma sopa de pedra…pegou numa pedra e começou a sacudi-la. Todos começaram a rir e desafiaram o pobre frade a fazer o famoso caldo. Depois de lavar muito bem a pedra o frade pediu: - Não têm por aí um pote para me emprestar? Emprestaram-lhe o pote. Depois de cheio de água, o frade foi aos bocadinhos pedindo um pouco de tudo: um bocadinho de unto, uma pedrinha de sal, uns olhinhos de couve, um naquinho de chouriço, umas batatitas…o frade, enquanto tudo se cozia, tirou do seu alforge uma redonda de pão e preparou-se para começar a comer o seu caldo sem grandes pressas, para espanto de todos. O caldo cheirava magnificamente. Comeu até 79
lamber o beiço. Depois de despejado o pote, ficou a pedra no fundo deste. Todos de casa perguntaram: -Ò Sr. Frade, então e a pedra? Ele muito calmo respondeu: - Já não tenho barriga para mais, lavo-a e levo-a comigo para comer mais tarde. Todos ficaram espantados e assim comeu o frade onde não lhe queriam dar nada.
Andava um frade a pedir A cair de esfomeado Com a ajuda da pedra Matou a fome com o caldo
Bruna Carvalho contada pela avó Maria da Conceição
A ESPERTEZA DA AVOZINHA Conta-se que há muitos, muitos anos, viviam numa pequenina aldeia transmontana, numa casinha muito humilde, uma velhinha com a sua netinha dos seus sete oito anos. Numa determinada noite, já depois da ceia, a avozinha pediu à sua netinha para lhe ir buscar os chinelos, que estavam debaixo da cama do quarto onde dormiam, para calçar ao serão. A Francisca (assim se chamava a netinha) obedeceu prontamente ao pedido de sua avó dirigindo-se ao quarto para ir buscar os chinelos. Sucede porém que, ao se ajoelhar e espreitar para debaixo da cama, deparou-se com um indivíduo andrajoso, mal vestido e que logo lhe pareceu um ladrão. Assustada, a menina saiu dali a correr e muito assustada foi ter com a avozinha contando-lhe o que tinha visto. A avozinha logo depreendeu tratar-se de um ladrão que, aproveitando um seu descuido se introduziu ali para as roubar. Mas, para não alarmar a netinha, com toda a prudência e habilidade, sempre acompanhada da netinha, dirigiu-se ao quarto onde verificou a veracidade dos factos. Perante a presença do intruso e sem se desmanchar, utilizando palavras afáveis e delicadas, fingindo não se aperceber das intenções deste, convidou-o a acompanha-las até à lareira onde lhe iria dar uma sopinha quentinha para lhe aconchegar o estômago e aquece-lo, pois, estava muito frio. E disse-lhe mais, que para o serão não se tomar tão penoso, pois, apesar da lareira estar acesa estava muito frio, lhe iria contar um episódio que se tinha passado com o seu pai e que já tinha contado a outros mendigos que ali tinham pernoitado. Já todos sentados à lareira, a avozinha, a netinha e o intruso, lá começou a história: -Sabe irmãozinho, quando eu era pequenina, mais ou menos da idade da minha netinha, vivia eu com o meu pai quando certo dia lhe nasceu um tumor e teve de ir ao médico. Já no consultório do médico, este disse ao meu pai que tinha de lhe extrair o tumor, ou melhor, que tinha de lho espremer e assim foi. Mal o médico lhe começou a espremer o tumor, o meu pai que era muito sensível, começou aos gritos: - Acudam! Acudam, que querem matar-me. Mas, a avó ao pronunciar tais palavras, pretendia era alertar os vizinhos para a situação que se estava a passar ali naquele momento, pelo que cada vez gritava mais alto, de forma a se fazer ouvir e pedir socorro. O indivíduo desconfiado da situação bem pedia para a avozinha não gritar tão
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alto e que continuasse a história. Mas a astuta avozinha, continuava a gritar em voz alta, dizendo que era assim que seu pai gritava e que quanto mais lhe espremiam o tumor mais ele gritava. E continuava a gritar: - Acudam! Acudam que me querem matar! E não tardou nada, logo alguém bateu à porta. Eram os vizinhos! Logo a avozinha aproveitou para lhes contar o que se estava a passar. Os vizinhos não estiveram com meias medidas, apanharam o indivíduo, levaram-no para um lugar ermo, nos arredores da aldeia e deram-lhe semelhante sova que o individuou ainda hoje se encontra escondido nas montanhas, tal o susto que apanhou. E foi assim, desta maneira astuciosa, que a avozinha protegeu a netinha e se livrou do malandro, cujas intenções não eram boas.
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Francisca Ferreira contada pelo avô Amândio Gonçalves
O ELEFANTE QUE QUERIA SER REI Certo dia, na selva, o elefante fez um banquete, para o qual convidou todos os animais, menos o leão. Após o banquete ter terminado, o elefante queria que todos o reconhecessem como o rei dos animais. O Tigre levantou-se e disse: - Desculpe senhor elefante, a mim sempre me informaram que o rei dos animais era o leão. O elefante muito enfurecido respondeu: - Então vamos lá ver se o rei é o leão ou se sou eu! O elefante partiu pela floresta à procura do leão. Quando o encontrou perguntoulhe: - Tu é que és o rei dos animais? - Rei? Eu? Eu não! O rei dos animais é o Homem.- Respondeu o leão. - Pensei que eras tu e vinha para travar uma luta contigo. Para ver quem é o rei. - Para mim, rei é o homem, como tal não disputo tal lugar. Mas se queres, vai lutar com ele, e se o venceres, depois vem ter comigo. Então o elefante foi à procura do homem. Procurou, procurou, até que encontrou um menino, de sete anos, que brincava ao lado dum ribeiro, e pergunta-lhe: - Tu é que és o Homem? - Não! Homem é o meu pai, que anda a trabalhar do outro lado daquele ribeiro.Responde o menino. O elefante atravessou o ribeiro e dirige-se para o homem: -Tu é que és o homem? - Sim sou! - Responde o homem. - Então vamos travar uma luta. O homem responde: - Aqui não. Como podes ver, estive a plantar couves e não podemos estragar o cultivo. Podemos lutar naquela clareira, do outro lado do ribeiro. O elefante foi andando à frente, enquanto o homem pegou na sua espingarda que havia trazido. Quando o homem atravessou o ribeiro, disparou um valente tiro para o ar. - Pppppuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmm!
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O elefante, assustado, começa a correr com toda a sua força pela floresta fora. Correu, correu, até que encontrou o leão. Este ao ver o elefante tão aflito pergunta-lhe: - Que se passa contigo? Que te aconteceu? O elefante, todo a tremer não consegue falar, apenas consegue fazer: - Uhhhhh! Uhhhhh! Uhhhhh! Após algum tempo, o elefante já mais calmo, diz para o leão: - Razão tens tu! Nem tu, nem eu somos reis! Rei é aquele grande bruto de duas pernas, que ao atravessar o ribeiro, constipou-se, e ao chegar ao outro lado deu cá tamanho espirro que me deixou sem sentidos!
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João Pedro Paquete contada pelo avô Bonifácio
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A FRAGA DO CAVALEIRO - FREIXEDELO -BRAGANÇA Há em Freixedelo, no concelho de Bragança, uma fraga a que o povo chama a "Fraga do Cavaleiro". Diz-se que, há muitos e muitos anos, se ouvia ali, nos dias 1,2 e 3 de Maio, um tear a trabalhar e que aparecia uma menina muito bonita. E que esta menina, depois de aparecer na forma de gente, transformava-se em serpente. Por isso, nem todas as pessoas tinham coragem de ir lá. E conta-se que uma vez um cavaleiro famoso não disse nada a ninguém e foi lá nos três dias. Ao terceiro dia, viu então a menina, e a ela se dirigiu. Ela disse-lhe que se ia transformar numa serpente e que, se ele não tivesse medo, ficava muito rico. Mas o cavaleiro, quando a viu transformar-se, teve medo. Dizem que por ter medo lhe dobrou o encanto e, por isso, desde aí nunca mais ninguém a voltou a ver nem ouviu bater o tear. A FONTELA DE CANDEGRELO - GRIJÓ DE PARADA 85
Conta-se em Grijó, concelho de Bragança, que um homem, que ambicionava ser muito rico, sonhou numa noite que havia um tesouro na Fontela de Candegrelo e que estava lá um figurão a guardá-lo. E no sonho também lhe foi dito que o tesouro seria seu se fosse de sua casa até à fontela sempre a ler, na ida e volta, o livro de S. Cipriano, e que bastaria dizer ao figurão onde queria que ele lhe levasse o tesouro. O homem assim fez. Chegou lá, aparece-lhe então o figurão que lhe diz: - Onde queres que te leve o tesouro? - Leva-o à minha quinta. O figurão pegou no tesouro e seguiu-o na direção da quinta. E o homem lá continuava sempre a ler o livro de S. Cipriano. Acontece que, antes de chegar à quinta, o homem emocionou-se de tal modo por sentir a grande riqueza que sonhara já ali tão perto, que acabou por se enganar na leitura do livro. E ao enganar-se, diz-se que se abriu um grande buraco na terra onde entraram ele, o figurão e o tesouro. Nunca mais o voltaram a ver.
Ana Sofia Ferreira Albino contada pela avó Justina
LENDA DA MOURA PONTE DE CHAVES Depois da retoma de Chaves pelos Mouros, em 1129, ficou alcaide do castelo, um guerreiro que tinha um filho, de seu nome Abed e uma sobrinha. Por vontade do alcaide, ambos ficaram noivos. Uns anos depois, os cristãos do reino de Portugal iniciaram a conquista da região de Chaves, tendo mesmo atacado a cidade. À frente do exército português estavam os cavaleiros Rui e Garcia Lopes, irmãos de D. Afonso Henriques. O alcaide e seu filho, encabeçaram a resistência moura e a defesa do castelo. Mas a população da cidade, perante os ataques cristãos, começou a fugir da cidade desesperadamente. Entretanto, o alcaide e o filho lutavam tenazmente, embora sem sucesso. Numa dessas ocasiões, enquanto apreciava os combates, a moura fixou os olhos num belo jovem guerreiro cristão que ganhava com os seus homens cada vez mais posições no castelo. No mesmo instante, o guerreiro parou a ofensiva. Dirigindo-se a ela, interpelou-a acerca da sua presença ali. O que fazia uma tão bela mulher num triste espetáculo daqueles? A jovem respondeu que queria perceber a guerra dando-lhe o exemplo da sua orfandade devido à guerra. O cristão lamentou o facto e quis saber se ela estava só. Quando a moura respondeu que vivia com o tio, alcaide do castelo, o guerreiro mandou levá-la para o seu acampamento.
A luta prosseguia. O castelo acabou por ser tomado e oferecido
pelos Lopes a D. Afonso Henriques. Contudo, a jovem moura manteve-se refém dos cristãos que não a trocaram por cativos mouros. Passou a viver com o cavaleiro que a raptara, num ambiente de felicidade. Abed, conhecedor da situação, nunca lhes perdoou. Depois de restabelecido de um ferimento de guerra, voltou a Chaves, disfarçado de mendigo. E como não conseguisse aproximarse da sua apaixonada, um dia esperou-a na ponte. Pediu-lhe esmola. A jovem estendeu a mão para o pedinte e, nesse momento, algo de fatídico aconteceu. Olhando-a nos olhos, Abed disse-lhe:
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- Para sempre ficarás encantada sob o terceiro arco desta ponte. Só o amor dum cavaleiro cristão, não aquele que te levou, poderá salvar-te. Mas esse cavaleiro nunca virá! Ouviu-se um grito de mulher. A jovem tinha reconhecido Abed. Contudo, como por magia, a moura desapareceu para sempre. Abed fugiu de seguida. Só as damas cristãs que a acompanhavam, testemunharam o sucedido. Desesperado, o guerreiro cristão que com ela vivia, tudo fez para a encontrar. Mas a moura encantada da ponte de Chaves nunca mais apareceu e o cristão morreu numa profunda dor e saudade, ao fim de alguns anos. Ora, diz o povo, que certa noite de S. João, pela ponte passou um cavaleiro cristão. Surpreso, ouviu murmúrios. Não viu ninguém, mas ouviu uma voz de mulher pedindo ajuda e que lhe disse docemente: - Estou aqui em baixo, na ponte, sob o terceiro arco. Estranhou a situação e procurou sob o dito arco; no entanto, continuava sem ver 87
a moura. Ouviu outra vez a moura que agora lhe dizia estar "encantada" e lhe pedia que descesse e a beijasse para a salvar. Mas o cavaleiro hesitou. Tocou no crucifixo que trazia ao peito e recordou-se dos contos que a mãe lhe costumava contar sobre as desgraças de cavaleiros entregues aos feitiços de mouras encantadas. Perante estes pensamentos montaram o cavalo partiu, jurando nunca mais ali passar à meia-noite. Assim, a moura da ponte de Chaves ali ficou para sempre encantada. Nas noites de S. João, conta o povo, ouvem-se os seus lamentos como castigo do amor que tivera por um cristão.
André Gomes contada pela avó Matilde
UMA BOA MENINA Há muito tempo atrás, existia um homem que tinha uma filha muito bonita e bondosa que passava o seu tempo a proteger os pobres e tratar os doentes que não tinham dinheiro para comprar remédios. Tudo corria bem até ao dia em que o pai resolveu casar-se pela segunda vez. A madrasta era má e não gostava da menina. Passou a gostar ainda menos quando nasceu a sua filha. Então é que as coisas se tomaram insuportáveis para a pobre menina. Enquanto a madrasta a insultava e lhe batia, o pai defendia a sua primeira filha das atitudes cruéis da sua nova esposa. Esta, ao verificar que não conseguia nada, começou a usar a intriga. Tantas coisas fizeram que o pai começou a acreditar. Um belo dia, bateu à porta um pobre homem com o fato todo roto e a tremer de frio e pediu à boa menina que lhe desse um dos fatos mais velhos do seu pai e que ele já não usasse. A menina teve tanta pena que foi buscar umas calças, um casaco e um colete, já muito usados e ofereceu-lhos. A madrasta viu fazer isto e logo que o marido chegou, disse-lhe que a filha tinha dado a um pobre o melhor fato que ele tinha. O pai não gostou do que a filha fez e bateu-lhe. A menina fugiu para o jardim a chorara. Por acaso nesse momento passou um príncipe e perguntou-lhe porque chorava. Ela contou o que lhe tinha acontecido e o ódio que a madrasta lhe tinha. O príncipe teve tanta pena que a levou com ele para o palácio e escondeu-a num quarto onde ninguém ia, porque só ele tinha a chave desse aposento. No entanto a rainha começou a desconfiar daquele mistério e queria saber o que se passava. Um dia o príncipe saiu do quarto e esqueceu-se da chave na porta, e a mãe foi ver o que se passava nesse quarto. Então viu uma menina muito bonita a bordar. Conversou com ela e ficou encantada com a sua beleza e bondade. Deu-lhe muitos beijos e despediu-se. Quando ia a sair apareceu o príncipe, a mãe disse-lhe que estava muito contente por ter conhecido uma menina tão boa e simpática que já sabia tudo, pelo que ficaria muito contente se casasse com ela.
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Poucos meses depois realizou-se o casamento. No entanto o príncipe teve de partir para a guerra e teve de deixar a nova princesa aos cuidados da rainha. A guerra durou muito tempo e nesse tempo nasceu uma menina. A rainha desejou que esta boa nova fosse comunicada ao príncipe, e mandou um criado da sua confiança levar uma carta ao filho, dando-lhe os parabéns por ser pai de uma bela criança. Quando anoiteceu o criado hospedou-se numa estalagem. O dono perguntou-lhe quem era e de onde vinha, e o homem contou-lhe tudo. O dono ao saber tudo foi contar a sua mulher. No entanto a mulher era a terrível madrasta, que ficou furiosa e pensou como evitar que a mensagem chegasse ao seu destino. Melhor o pensou e assim o fez. Foi ao quarto onde o criado dormia e tirou-lhe do bolso do casaco a carta que a rainha tinha escrito para o príncipe, levou-a e abriu-a. Depois trocou-a por outra, na qual o informava que tinha sido pai de um horrível monstro. O príncipe, ao receber a carta ficou horrorizado com a notícia e escreveu uma carta a dizer que não queria voltar a ver a esposa e a filha. Quando a rainha recebeu a 89
carta ficou indignada com a atitude do filho, mas não teve outro remédio senão ler a carta á princesa. A princesa chorou muito e resolveu partir com a sua menina para que o príncipe não as encontrasse ao regressar. Quando já estava longe alugou um quarto e começou a trabalhar na costura. Quando o príncipe regressou ao palácio foi recebido friamente pela rainha. Perguntou qual o motivo dessa atitude. A mãe criticou duramente o procedimento do filho: ter uma esposa tão bondosa e dedicada, uma filha encantadora e dizer por escrito que nunca mais as queria ver, era coisa que não merecia perdão. O príncipe disse que não foi isso que a mãe lhe tinha escrito na carta. Tirou-a do bolso e mostrou-a. A mãe ficou furiosa, alguém tinha trocado as cartas. O príncipe mandou então chamar o criado que tinha levado a carta onde comunicava o nascimento da sua filha e interrogou-o. De seguida o príncipe deu ordem para prender imediatamente o dono da estalagem e a sua mulher. Estes acabaram por confessar e ficaram presos. Logo que esclareceu o assunto o príncipe partiu á procura da princesa. Tanto andou de dia e de noite, que por fim encontrou á porta de uma modesta casa, uma linda rapariga com uma menina nos braços e viu pelo anel que trazia que era a sua princesa.
Ficou contente, chegou junto delas e pediu perdão contando tudo o que tinha acontecido. Regressaram todos ao palácio. A madrasta e o pai ficaram muito envergonhados e arrependidos. A princesa, que era muito bondosa, pediu ao príncipe que os pusesse em liberdade, pois já tinham tido o castigo que mereciam. O príncipe fez-lhe a vontade e foram felizes para sempre.
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Beatriz Silva contada pela avó Teresa
O PASTOR E O LOBO Era uma vez, um menino que todos os dias levava o rebanho de ovelhas a pastar para a montanha, próximo da sua aldeia. Certo dia, decidiu assustar os habitantes da sua aldeia com uma mentira. Correu em direção à aldeia, pela encosta da montanha abaixo e gritou para que todos ouvissem: - Socorro, socorro! Um lobo está a atacar as minhas ovelhas. Assim, todos os habitantes correram até à montanha para salvar as ovelhas, mas quando lá chegaram o menino ria dizendo: - Enganei-vos, enganei-vos! Os habitantes da aldeia, furiosos, regressaram às suas casas. No dia seguinte, o menino repetiu a mentira e os habitantes da aldeia voltaram a acreditar. Quando chegaram à montanha perceberam que mais uma vez tinham sido enganados e ficaram aborrecidos, dizendo ao pequeno pastor que, o que ele fez foi muito feio e que não se deve brincar com coisas sérias, pois um dia podem não acreditar nele. 91
Certo dia, ao escurecer, o menino preparava-se para regressar a casa com o seu rebanho, quando, de repente, foi surpreendido por um lobo que estava a atacar as suas ovelhas. O menino correu para a aldeia em busca de auxílio, gritando por socorro. Quando os habitantes da aldeia ouviram os gritos do pequeno pastor, pensaram que mais uma vez estava a mentir e ninguém o foi ajudar. E, assim, o pequeno pastor percebeu que não se deve mentir!
Pedro Tiago Oliveira contada pela avó Leonilde
LENDA DO SR. BOM JESUS DE PONTA DELGADA -ILHA DA MADEIRA Estava um pescador a pescar no mar e encontrou um crucifixo do Senhor Bom Jesus com a estatura de um homem. Este pescador, juntamente com os outros, levou o crucifixo para o centro da aldeia. Mas, o crucifixo desapareceu e os pescadores encontraram-no num canavial junto à beira – mar. Então os homens da aldeia construíram ali, junto ao canavial, uma capela ao Senhor Bom Jesus, que mais tarde veio a ser a igreja do Senhor Bom Jesus que hoje se encontra na freguesia de Ponta Delgada no norte da Ilha da Madeira.
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Vanessa Silva contada pela avó materna Ilda Vanessa
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SEMPRE VIVAS Quando eu era pequenina, vivia numa quinta onde havia um jardim com muitas flores. Eu gostava muito de todas elas, mas as minhas preferidas eram umas flores muito coloridas que eram diferentes de todas as outras, porque as suas pétalas pareciam feitas de papel duro e, quando se cortavam para colocar nas jarras, elas duravam, duravam, duravam, como se pudessem viver para sempre. Estas flores chamavam-se "Sempre Vivas". Um dia perguntei à minha avó porque se chamavam assim e então ela contou-me uma linda história:
Contou-me que há muito, muito tempo, havia uma
floresta muito bonita, onde, como em todas as florestas, havia muitas árvores, mas também muitos animais e flores. Nessa floresta, havia um animal muito especial que se chamava "Pássaro Azul" e que se chamava assim porque tinha umas penas azuis lindíssimas. Na floresta todos gostavam muito dele, porque cantava muito bem e voava durante todo o dia de árvore em árvore, de pedra em pedra, de flor em flor, conversando com todos os habitantes da floresta e, sobretudo, porque estava sempre disposto a ajudálos em tudo o que fosse preciso. Uma vez, preparava-se o pássaro para dormir no cimo de uma pequena árvore, quando, no silêncio da noite, já os olhos se lhe começavam a fechar, lhe pareceu ouvir alguém a chorar baixinho; abriu os olhos, sacudiu as asas e pôs-se à escuta... Sim, de facto alguém chorava baixinho, mas o pássaro, olhando à sua volta, não via ninguém. Olhava, olhava e não via ninguém até que, olhando para baixo, para uma pedra que havia junto ao tronco da árvore, viu uma florzinha pequenina que chorava, chorava. O pássaro desceu da árvore, poisou em cima da pedra e perguntou à florzinha porque chorava. Ela respondeu que se sentia muito triste e sozinha, pois tinha nascido ali, encostada àquela pedra grande, ninguém a via, ninguém conversava com ela e não tinha nem um amigo. - Não chores mais - disse o pássaro. - Eu passo os dias a voar pela floresta, sei tudo o que se passa e, a partir desta noite, prometo que todos os dias virei ter contigo e te contarei tudo o que se passar na floresta. Conversaremos muito, e seremos muito amigos. - A sério? - Perguntou a florzinha. - Prometo. - Respondeu o pássaro.
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Então, a partir daquela noite, todos os dias, ao entardecer, o pássaro, cumprindo a sua promessa, poisava junto da pequena flor e contava-lhe tudo o que acontecia na floresta. Contudo, chegou um dia em que o tempo passava, passava, o sol estava quase a passar para o outro lado da terra, e o pássaro sem aparecer; a pequena flor começou a sentir-se muito triste e já pensava que o pássaro se tinha cansado de ir todos os dias conversar com ela, e lá ia ela ficar outra vez sozinha, ali esquecida... Já as lágrimas lhe subiam outra vez aos olhos, quando começou a ouvir vozes de animais, e sentindo-os a correr de um lado para o outro: - O pássaro azul foi ferido, o pássaro azul foi ferido por um caçador! -diziam eles. O coração da florzinha começou a bater muito depressa e ali mesmo, num larguinho de terra à sua frente, juntaram-se vários animais que traziam, com muito cuidado, o pássaro azul; pousaram-no no chão mas ele não se mexia nem abria os olhos... - Chamem o Dr. Mocho! - Disse uma corça. -Eu vou, que corro muito depressa! - Disse a lebre, que desatou logo a correr. Passados poucos instantes chegou o Dr. Mocho que, olhando o pássaro no chão, 95
abanou a cabeça e disse: - Lamento muito, mas não posso fazer nada; só uma coisa poderia salvar o nosso pássaro azul, mas é uma coisa que nunca vi na nossa floresta. - O quê? O quê? - Perguntaram os animais em coro. - Só a seiva de uma flor poderia curar a ferida do pássaro, mas nunca vi nenhuma por aqui. Não vi mesmo. - E como é ela? - Perguntou a toupeira. Então o Dr. Mocho, com o seu bico, desenhou a flor na terra. A flor, que estava a assistir a tudo, olhou para o desenho na terra e gritou o mais forte que conseguiu: - Sou eu! Sou eu! Estou aqui, estou aqui! Olhem para mim! O Dr. Mocho mandou calar todos os animais. - Esperem! Calem-se! Estou a ouvir qualquer coisa! - Disse ele. Todos se calaram. - Olhem! Olhem ali, junto àquela pedra! - Disse a águia que vê muito, muito bem. Todos os animais olharam e viram a florzinha que era igualzinha à que o Dr. Mocho tinha desenhado na terra. - Cortem-me! Cortem-me! Por favor! - Disse a florzinha.
- Cortem-me e deitem a minha seiva na ferida do pássaro azul para o salvar. - Mas, se te cortarmos, tu morres - disse o Dr. Mocho. - Não faz mal! - Disse a florzinha - Se ele morrer, já não tenho quem venha falar comigo todos os dias e ele é a alegria desta floresta. - Cortem-me! Salvem-no com a minha seiva! Por favor! - Insistiu a flor. Então o Dr. Mocho, com o seu bico, cortou a pequena flor e fez cair a seiva do seu caule na ferida do pássaro azul. Em silêncio, esperando, todos olhavam para o chão, onde se encontrava o pássaro azul e, ao seu lado, a florzinha cortada. Então, devagarinho, o pássaro abriu primeiro um olho, depois outro, começou a mexer primeiro uma asa, depois outra. - O que se passa? - Perguntou ele. - O que me aconteceu? O Dr. Mocho contou-lhe tudo o que aconteceu. O pássaro azul, ainda muito fraquinho, olhou para a florzinha ali no chão, ao seu lado, a florzinha que tinha dado a vida por ele. - Estarás sempre viva no meu coração - disse ele, baixinho, ao ouvido da flor, enquanto uma lagrimazita lhe corria pelo bico... O tempo foi passando, veio o verão, o outono, o inverno, o sol quente, a chuva e a neve, os dias pequenos, as noites grandes e a vida na floresta corria normalmente. Normalmente, não é bem assim, pois uma coisa tinha mudado: o pássaro azul entristecera e tinha perdido a vontade de cantar, tais eram as saudades da sua amiga flor. Veio entretanto a primavera e houve uma noite em que o pássaro foi dormir na mesma árvore em que tinha ido dormir na noite em que conhecera a flor; aninhou-se entre as folhas da árvore, meteu a cabeça entre as asas e adormeceu. Na manhã seguinte, apareciam os primeiros raios de sol, quando, ainda com a cabeça entre as asas, o pássaro azul, sentindo uma brisa suave fazer-lhe cócegas nas penas, começou a ouvir uma vozinha que dizia: - Sempre viva! Sempre viva! O pássaro azul, ainda estremunhado, pôs-se em pé, e olhou em volta enquanto continuava a ouvir: - Sempre viva! Sempre viva! Olhando então para baixo para o larguinho de terra onde há muitos meses a florzinha tinha ficado caída depois de ter sido cortada para o salvar, o pássaro nem queria acreditar no que via. A flor voltara a nascer, e, piscando-lhe o olho, dizia: - Sempre viva! Sempre viva!
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O pássaro desceu da árvore deu-lhe um enorme abraço e só aí reparou numa coisa: as pétalas da flor estavam um pouco diferentes, menos frágeis, mais resistentes e com uma cor ainda mais viva. - Estás mais bonita e resistente! - disse o pássaro azul enquanto voltava a abraçála. - Sim, agora sou quase imortal! - Respondeu a flor. E foi assim que a partir de então, a estas flores se passou a chamar "Sempre Vivas"...Sim, porque mesmo depois de cortadas, elas podem durar muitos, muitos, muitos anos... Quanto à flor e ao pássaro azul, escusado será dizer que continuaram a ser grandes amigos durante muitas primaveras, muitos verões, outonos e invernos...
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Carlos Diogo contada pela avó Fátima Patronilho
O JOÃO E O LOBO Era uma vez um menino chamado João que vivia numa linda e agradável aldeia na montanha. O João tinha treze anos, e vivia com os seus pais, que eram agricultores e também tinham um pequeno rebanho de ovelhas. Naquele tempo era costume os meninos chegarem da escola e irem ajudar seus pais nas tarefas, como guardar as ovelhas. Então um dia em que o João regressa a casa depois da escola, prepara-se para sair com as ovelhas para o monte, levando na sua sacola a sua merenda. - João toma conta das ovelhas e não deixes que o lobo se aproxime e as leve. Diz-lhe o pai. - Está bem pai eu vou ter cuidado para que o lobo não as coma. -Responde o João ao pai. E com um assobiar de uma canção, o João leva as ovelhas para o monte. Enquanto as ovelhas pastavam o João estava sentado debaixo de uma árvore, muito aborrecido, e começou a pensar: - E se eu pregasse uma partida às pessoas da aldeia? Pensou, pensou, pensou e disse: - Já sei o que vou fazer! De repente o João levanta-se e repara que por ali perto andava gente a trabalhar nos campos, e começa a correr em direção a eles, gritando: - Acudam que vem lobo, acudam que vem lobo! As pessoas que estavam a trabalhar por ali perto, pegaram nas suas ferramentas (enxadas, foices, e outras ferramentas), e foram em direção ao rapaz, para o socorrer. Qual não foi o seu espanto quando viram que não passava de uma brincadeira de mau gosto que o menino quis pregar. Ralharam com o João dizendo-lhe que aquilo não se fazia. O João naquele momento não pensou e começou a rir. No dia seguinte o João volta a ir com as ovelhas para o monte, e volta a pregar a mesma partida e as pessoas que estavam a trabalhar no campo, voltaram a ir socorre-lo, mas quando lá chegaram o João estava às gargalhadas. Todas aquelas pessoas que tinham deixado os cultivos, ficaram muito zangados e disseram ao João:
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- Um dia vai vir o lobo e não vimos ajudar! O João como era cabeça no ar e não ligou ao que lhe disseram, no dia seguinte repete a história, e as pessoas voltam. No dia seguinte, estava o João com as ovelhas no monte quando de repente aparece o lobo e começa a atacar as ovelhas. O João cheio de medo, arranjou coragem e pôs-se a correr em direção às pessoas que estavam a trabalhar ali perto e começou a gritar: - Acudam que vem lobo, acudam que vem lobo! Mas ninguém apareceu, o lobo comeu as ovelhas todas ao João, e ele aprendeu uma grande lição: "Que nunca se deve brincar com coisas sérias, nem com a verdade, pois hoje estamos a pregar uma partida e amanhã precisamos de ajuda e ninguém nos ajuda. Por isso todos os meninos e adultos devem dizer sempre a verdade para que acreditem em nós," 99
Laura Carolina Rocha contada pelo avô João
A BORBOLETA AZUL Certo dia, andava a borboleta azul a brincar com as suas amigas no jardim encantado, quando de repente se viu presa num raminho de uma árvore. Aflita, tentou soltar-se, batendo com muita força as suas asas, mas quanto mais batia, mais presa ficava. Não sabia o que lhe estava a acontecer! As suas amigas, apercebendo-se do que tinha sucedido, vieram ao seu encontro e viram que a sua amiga estava presa numa teia de aranha. Tentaram acalmá-la e gritaram por socorro. Foi então que surgiu a Dona Aranha que estava a descansar, deitada na sua caminha feita na teia. Tentou acalmá-las dizendo-lhes: - Não se preocupem, eu vou já tratar de soltar a vossa amiga. E então, com as suas inúmeras patinhas conseguiu desenrolar a teia das asas da borboleta azul. Já solta e feliz, a borboleta azul agradeceu muito à Dona Aranha por tê-la salvo. A Dona Aranha aconselhou-as a terem mais cuidado, pois se ela não estivesse por perto seria fatal para a borboleta azul.
Margarida Pizarro Dias contada pela avó Antónia
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A GALINHA DOS OVOS DE OURO Certa manhã, um fazendeiro descobriu que a sua galinha tinha posto um ovo de ouro. Apanhou o ovo, correu para casa, mostrou-o à mulher, dizendo: -Veja estamos ricos! Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por bom preço. Na manhã seguinte, a galinha tinha posto outro ovo de ouro, que o fazendeiro, vendeu a melhor preço. E assim aconteceu durante muitos dias. Mas, quanto mais rico ficava o fazendeiro, mais dinheiro queria. Até que pensou: - Se esta galinha põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro! Matou a galinha e ficou admirado pois, por dentro, a galinha era igual a qualquer outra. Como diz o meu avô e avó e com razão Quem tudo quer tudo perde. 101
Tiago Tender contada pela avó Fátima.
LENDA DA ROSA ENCANTADA Contam os antigos uma lenda muito bonita sobre o ciúme. Ela fala-nos de uma princesa, que apesar de todo o conforto e de toda a riqueza que tinha no seu reino não era uma pessoa plenamente feliz. Faltava-lhe alguma coisa. Havia um imenso vazio na sua vida. Aborrecida, a princesa mandou chamar um velhinho que era conhecido no reino pela sua sabedoria e pela sua paciência. A princesa confessou-lhe a sua inquietação e pediu-lhe ajuda. O velho sábio, como conhecia o íntimo da princesa sorriu para ela e disse-lhe: - Está bem querida princesa, daqui a três semanas nascerá no jardim uma flor, a mais bela que os seus olhos já viram. Será uma rosa encantada, muito perfumada e em suas pétalas haverá um encantamento que vos dará a alegria de que tanta falta sentis. A jovem agradeceu ao velhinho. Mas o sábio advertiu a princesa de que tivesse cuidado com a flor. Ela teria que ser bem cuidada por ela, caso contrário, a flor e o encanto perder-se-iam. A jovem aguardava, ansiosa, o momento de conhecer a flor encantada. Todos os dias ia até ao jardim, para ver se a rosa já tinha nascido. Na data prevista aos primeiros raios de Sol, ouviu-se um barulho no jardim, bem por baixo da janela do quarto da princesa. Ela, irritada, levantou-se e foi à varanda para pedir silêncio. Mas, ao abrir a janela, viu no meio do jardim, uma flor como jamais houvera visto naquelas redondezas. Era realmente uma flor sem igual. A jovem encantada com a flor, ordenou ao jardineiro que lhe desse um tratamento especial. Todo o reino foi chamado a ver a flor. Por isso a princesa mandou chamar um guarda para guardar a rosa encantada, evitando assim que alguém a roubasse. Os visitantes eram cada vez mais. Todos queriam ver a rosa. Um dia, aborrecida com tantas visitas, a princesa dispensou o soldado que guardava a rosa durante a noite, sem que ninguém a visse, foi ao jardim, arrancou a rosa e levou-a para o seu quarto, plantando-a num vaso de muito valor. Então com a rosa protegida ela pensou: -Estou tão feliz, agora a rosa é só minha!
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Não deixava ninguém entrar no seu quarto, nem mesmo os seus pais, com medo que alguém pudesse levar-lhe a flor. Mas, durante a tarde daquele dia, a rosa começou a apresentar mudanças, seu perfume alterou-se e a sua cor escureceu. A princesa tentou reavivá-la mas todas as tentativas foram em vão. Agora, e de novo muito infeliz, a jovem princesa chorou arrependida e no meio daquela tristeza ela aprendeu que o ciúme teria sido o seu pior companheiro e o causador da sua infelicidade voltar. Então prometeu nunca mais ter ciúme de nada nem de ninguém.
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Diogo Fontoura contada pela avó Alice
LENDA DE COMO APARECEU O NOME DA ALDEIA DE PARADELA DE MONFORTE
Diz-se que em tempos muito antigos, quando começaram a aparecer aglomerados de casas, pequenas aldeias, mas que nenhuma tinha nome próprio, apareceram dois irmãos fidalgos, cavaleiros, exploradores ou fugitivos da sociedade e ninguém sabe o nome deles nem como eles vieram aqui parar, apenas se diz, que eles apareceram a sudeste desta aldeia num planalto que atualmente se chama portela. Pararam e deparam-se com o vale de Paradela: - Que linda e ampla veiga aqui se encontra! - Pára nela, disse-lhe o outro num gesto de desdém... - Pois hei de parar. E como disseste Pára nela, há de ser o nome do nosso acampamento. Fixaram ali residência e mandaram construir a igreja. E daqui veio, dizem os naturais, por mudança do N em D, o nome de Paradela. E daí também os naturais de Paradela se auto intitularem, Fidalgos de Paradela. Fidalgos esses, que se diz serem os que estão esculpidos em pedra na sacristia da igreja. Isto é o que a população atual diz ser lenda, mas que os mais velhos dizem ser realidade.
Tiago João Pereira contada pela avó Almerinda
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LENDA DO GALO DE BARCELOS Em tempos longínquos, dois aristocratas, pai e filho, dirigiam-se a pé a caminho de S. Tiago para cumprir uma promessa. Passando por Barcelos resolveram descansar. Bateram à porta de uma estalagem para ali pernoitarem. A dona da estalagem, como eles não quiseram comer, resolveu meter no saco do rapaz uns talheres em prata. Quando pai e filho de manhã cedinho se preparavam para seguir caminho foram detidos e acusados de roubo. O pai do rapaz gritava dizendo que o filho estava inocente mas os guardas insistiram que ele tinha roubado os talheres, e por isso iria ser julgado. Diante do juiz o rapaz repetia que estava inocente e disse: É tão verdade que estou inocente como o galo que o Sr. Dr. Juiz vai trinchar cantará. Então estava o rapaz para ser enforcado e quando o juiz ao trinchar o galo, este mesmo se levantou e cantou, correu para junto dos guardas e mandou soltar o rapaz que estava inocente. 105
A partir daí ficou conhecido o galo de Barcelos.
Tiago Teixeira Veras contada pela avó Fátima
LENDA DO PESO E PESINHO Conta a lenda que, uma vez, um homem vinha dos lados do Fundão, transportando um saco de algodão, às costas. Chegando a margem do rio Zêzere precisou de o atravessar para o lado direito. Ao atravessar o rio, molhou o saco de algodão sem dar pelo facto. Quando chegou à margem direita, deu conta que o saco estava mais pesado e disse: - Que peso! Ainda agora era um pesinho! A partir daí, a localidade da margem esquerda ficou a chamar-se Pesinho e a da margem direita ficou a chamar-se Peso.
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Fábio Daniel contada pela prima Janete
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LENDA DA FONTE DO MONTE DA MINA VILAR DE PERDIZES Na freguesia de Vilar de Perdizes, num lugar chamado Monte da Mina, já muito perto do rio que marca a linha de fronteira entre Portugal e Espanha, há uma fonte onde todos os contrabandistas queriam beber e descansar. Nas caminhadas que tinham de fazer para ir buscar os produtos de que precisavam para matara fome que se passava em Portugal, todos apressavam o passo para conseguirem passar junto da fonte enquanto havia claridade, pois tinham receio do que a moura lhes podia fazer se já fosse noite. Contava-se que, logo que o sol se escondia, aparecia uma moura encantada sentada à beira da fonte, com poderes de lançar feitiços para transformar qualquer homem num animal ou tomá-lo seu escravo. A Moura aparecia sempre a pentear os seus longos e brilhantes cabelos com um pente de ouro, enquanto cantava melancolicamente canções de amor infeliz, pois tinha sido traída pelo seu amado. Dizia-se também que até já havia dois casos de homens que tinham desaparecido na fonte e que ela os tinha transformado em cobras que guardavam a fonte. Era por isso que, no verão, quase sempre havia cobras a beber nessa fonte. As cobras eram os homens enfeitiçados. E, como prova do desejo de vingança da moura e do seu poder de enfeitiçar, todos podem confirmar que, lançando um cabelo longo na água da fonte, ele logo começa a contorcer-se com movimentos próprios de uma cobra e segue o curso da água para ir esconder-se. Atualmente, a fonte encontra-se no meio de um grande matagal e, pelo que se comenta, ainda é mais frequentada por cobras, o que a toma mais assustadora. E todos na aldeia sabem que se passam anos inteiros sem que ninguém se atreva a andar por ali em horas desaconselhadas, para ver se ainda se mantém a aparição da moura e o poder do seu feitiço.
Afonso Costa contada pela avó Cândida Alves e recontada pelo pai José Carlos Costa
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A BONECA Naquela altura eu tinha mais ou menos cinco anos de idade. O meu pai trabalhava na antiga Garagem Moderna e eu nunca tinha tido uma boneca. Certo dia, o meu pai apareceu em casa com dois embrulhos (um para mim e outro para a minha irmã), feitos em papel pardo, dizendo que tinha sido um freguês da garagem que era também seu amigo, que os tinha enviado. Cheia de curiosidade, rapidamente abri o embrulho e, qual o meu espanto, quando vejo uma bonita boneca. Mal eu sabia o que me esperava, face à minha inocência. É que quando peguei na boneca e a movimentei ela emitiu um ruído. Tal foi o susto que apanhei, que o entusiasmo se transformou em medo e eu quis foi ver-me livre daquele objeto. Então, sem grande demora, agarrei na boneca e atirei-a da varanda de minha casa (que, por sinal, ficava num sítio ermo) sem sequer me importar onde ela teria ido parar. Pois se eu queria era ver-me livre dela! Agora pensem em como os tempos mudaram... 109
Beatriz Alves contada pela avó Helena Matos
LENDA DE MARIA MANTELA Morava Maria Mantela com seu marido Fernão Gralho, numa casa da Rua da Misericórdia, nas proximidades da Igreja Matriz. Era um casal abastado, que vivia dos rendimentos, podendo assim Fernão Gralho entregar-se à caça de quando em vez, seu prazer favorito. Um dia, achando-se Maria Mantela grávida, passeava com o marido nos arredores da vila, quando foi abordada por uma mulher pobre com dois filhos gémeos abraçados ao peito, implorando lacrimosa uma esmola para minorar a sua miséria e das suas criancinhas. Dela se compadeceu o marido que generosamente a socorreu. A sua mulher, pelo contrário, tratou-a duramente, colocando em dúvida a sua honestidade, por não compreender que, mulher de um só homem, pudesse de uma só vez gerar mais que um filho. A mendiga, sentindo-se injuriada, respondeu-lhe fazendo votos de que Maria Mantela não fosse castigada pelo que acabava de dizer, já que também estava grávida. Esta mensagem ficou sempre no espírito de Maria Mantela e uma certa sensação de remorso angustiava-a diariamente. Quando Maria Mantela deu à luz, encontrava-se o marido ausente, numa das suas caçadas. E do parto, para surpresa dela, nasceram sete gémeos, todos gerados ao mesmo tempo, apesar de ela ser fiel ao marido. Ficou tão aflita lembrando-se do que tinha pensado e dito à mãe dos gémeos que não teve coragem de apresentar ao marido os sete filhos, pelo que ele poderia pensar dela. No seu estado de aflição e loucura, encarregou a ama da casa que lançasse ao rio Tâmega seis dos recém-nascidos, deixando ficar somente o que lhe parecesse mais robusto e bem constituído. A ama saiu, ao cair da tarde, para cumprir a missão, levando num cesto coberto os seis gémeos e preparava-se, a meio das Poldras, para lançar na forte corrente do rio os pequenos inocentes, quando avistou o Fernão Gralho que a observava da margem do rio. Veio ao seu encontro e inquiriu-a sobre o que fazia com aquele cesto, naquele local. A mulher procurou uma desculpa dizendo que a cadela tivera sete cachorrinhos e que ela vinha afogar seis, ficando em casa o de melhor raça. Porém o Gralho, pediu para os ver e então deparou com os seis meninos. Fernão Gralho, como homem compassivo que era, compreendeu a loucura da esposa que estivera a ponto de cometer um crime que a
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acompanharia toda a vida e perdoou-a desde logo. Tomou conta do cesto e ordenou à criada que fosse para casa participar o cumprimento das ordens que a senhora lhe dera, guardando segredo sobre a entrega dos recém-nascidos. De seguida, deslocou-se a seis aldeias do concelho de Chaves a confiar a outras tantas amas a sua criação. Passaram dez anos sem que Fernão Gralho desse a entender à esposa o segredo que guardava. Para ela era uma tortura o crime que havia cometido com os seus filhos. No dia de ano novo, desse ano que começava, decidiu o Gralho festejá-lo com um lauto banquete, do que informou a mulher pedindo- lhe que tratasse de tudo pois tinha seis amigos como convidados. À hora da refeição, quando Maria Mantela se dirigiu à mesa do banquete ficou muda de espanto; é que sentados, não estava só o filho, estavam sete rapazinhos todos iguais em feições e vestuário, de tal forma que ela não sabia dizer qual era o que ela tinha criado. O marido então esclareceu todos os acontecimentos acalmando enfim o sofrimento daquela alma tão longamente angustiada. Os sete gémeos, diz ainda a lenda, tornaram-se sete padres, paroquiando sete 111
igrejas que fundaram com a invocação de Santa Maria. São elas a Igreja de Santa Maria de Moreiras, Santa Leocádia, Santa Maria de Calvão, o Mosteiro de Oso, já desaparecido e metade da Igreja Matriz de Chaves, Santa Maria de Emeres no concelho de Valpaços e São Miguel de Vital de Perdizes do concelho de Montalegre. Na Igreja de Santa Maria Maior de Chaves, junto ao altar-mor, em tempos passados existia um epitáfio, testemunho real da fundamentação da lenda e que dizia: - “Aqui jaz Maria Mantela, com os seus filhos à roda dela”.
Bruno Pio contada pela avó Tina Fernandes
LENDA DA SENHORA DAS BROTAS Era uma vez uma costureira que ficou doente e perdeu o braço. Não podia costurar, pois havia ali uma senhora muito boa que ao ver a pobre mulher assim pediu a Jesus que desse o seu braço à senhora. Desta forma, Jesus, viu que a senhora das Brotas, era o nome dela era muito bondosa e fez dela uma santa milagrosa.
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Carolina Castro contada pela avó Adelaide Vaz Acúrcio
LENDA A UMA MOURA
Há muito, tempo andava um pastor no Castro e viu uma moura nua. A moura era uma rapariga muito bonita, de cabelos compridos e negros. O pastor não gostou de a ver nua e começou a atirar lhe pedras. A moura virouse para ele e disse-lhe, não me atires pedras porque senão quebras o feitiço. De imediato ela se transformou numa grande cobra. O pastor ficou tão assustado que fugiu. As pessoas contam que ainda hoje no Castro de Curalha aparece uma cobra que dizem ser a Moura.
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Carolina Castro contada pela avó Maria Emília Castro
OS VELHINHOS
Antigamente, os filhos não queriam os velhinhos em casa. Então levavam-nos ao monte. Um filho levou o seu pai e uma manta para o deixar no monte, mas o pai disse ao filho, para levar metade da manta para quando fosse velho e o filho o deixasse no monte, já teria uma manta. Foi nesse momento, que o filho percebeu que seria um dia velho e abandonado. Pegou então no seu pai, levou-o para casa e tratou com amor e carinho para o resto da vida.
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Cláudia Nogueira contada pela avó Maria Trinta Morais
O PAPAGAIO JACÓ Um tio do meu pai, nos anos 70, trouxe um papagaio da África Portuguesa. Ao cabo de algum tempo de conviver com os jovens dos anos 70, aprendeu a falar as frases típicas da época, da política, com "És um comunista" e assobiava a canção da gaivota. Chamava a minha tia Paula para cantar e ele dançava ao som da música. O meu avô ensinou-lhe a marcha de Chaves que ele assobiava muito bem. Metia-se com as pessoas que passavam na rua e chamava pelos nomes do meu pai e do meu tio.
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Ema Morais contada pela avó Pura Pião de Sá
LENDA DO SÃO MARTINHO Conta a lenda que, num dia rigoroso de Inverno muito frio, ia Martinho, Valente Soldado, montado no seu cavalo fazer a sua ronda habitual, quando na beira do caminho viu um pobre mendigo a tiritar de frio que lhe estendia a mão a pedir esmola. Martinho como não tinha ali nada para lhe dar, pegou na espada cortou a sua capa ao meio e deu metade ao mendigo. Quando se preparava para seguir o seu caminho a chuva parou e apareceu um sol radioso. Diz-se que foi uma recompensa Martinho, por ele ter sido bom. É por isso que todos os anos nesta altura durante alguns dias o tempo fica melhor e mais quente e se chama o verão de São Martinho.
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Gonçalo Pinho contada pela avó Maria Lúcia
OS TRÊS SOLDADOS Uma vez iam três soldados para o quartel. Ao chegarem a meio do caminho encontraram um lobo morto. Disseram uns para os outros: - Vamos fazer cada um seu verso e aquele que disser o verso melhor paga o almoço. Disse um dos soldados: - Este lobo quando no mundo andou tudo comeu nada pagou. O outro soldado acrescentou: -Este lobo quando era vivo comeu tudo cru e nada cozido. E por último o outro soldado disse: - Este lobo quando dormia a sesta nunca dormiu outra como esta. 117
Quando estavam a conversar acerca do melhor verso apareceu um estudante a dizer que estavam os versos todos muito bonitos e por isso pagavam os três e comiam os quatro. Foram ao restaurante e mandaram cozer um chouriço. Pediram ao empregado que o partisse em três bocados. Disse um soldado: - Em nome do pai este já cá vai. - E do filho este vai comigo. - Disse outro. - E do espírito santo antes que fique em branco. - Disse o estudante. Ficou um soldado sem comer.
Luís Filipe contada pelo avô António Batista
O MAMA NA BURRA Era uma vez um menino que ficou sem a mãe. O pai como era pobre, não tinha dinheiro para lhe comprar leite. Tinha uma burra que deu o leite ao menino e ele ficou muito forte. Como mamou o leite da burra ficou a ser conhecido como Mama na Burra. Depois cresceu e pensou em ir procurar trabalho, pelo mundo fora. Encontrou um homem a arrancar pinheiros e pediu-lhe trabalho, este riu-se dele, dizendo que tão pequeno, frágil e ainda criança não tinha força para semelhante tarefa. O Mama na Burra ficou furioso, mostrou que era forte e em pouco tempo arrancou muitos pinheiros. Terminada esta tarefa os dois decidiram continuar mundo fora à procura de novo trabalho. Encontraram um senhor a arrasar montanhas e pediram trabalho. Este disse: - Só dou trabalho a um, porque a criança não pode trabalhar! Afastaram-se para trabalhar quando por espanto do senhor Arrasa Montanhas, a criança pegou na pá, e num abrir e fechar de olhos terminou o trabalho todo. O senhor ficou sem palavras. Quando anoiteceu, os três encontraram uma casa abandonada na floresta e passaram lá a noite. No dia seguinte, o Arrasa Montanhas e o Mama na Burra foram trabalhar. Ficou em casa o Arranca Pinheiros. Estava este a preparar o jantar, quando apareceu um gato preto que o arranhou todo, deixando-o a sangrar. Chegaram os amigos e vendo tal situação, ficou para preparar o almoço o Arrasa Montanhas. O mesmo aconteceu a este: veio o gato e deixou-o todo marcado. Para preparar o jantar ficou então o Mama na Burra. Quando o gato chegou, envolveram-se numa tremenda luta e o Mama na Burra arrancou-lhe uma orelha. O gato fugiu para um buraco da lareira mas como o medo não existia para o Mama na Burra este meteu-se no buraco também. À medida que ia descendo, ia mordendo a orelha do gato e este miava cada vez mais alto. Até que se encontraram os dois num lindo salão prateado. O Mama na Burra correndo de um lado para o outro encontrou uma porta mágica que ao abrir-se mostrou um enorme quarto onde habitavam três lindas meninas. O gato, atrapalhado, corre dizendo: - Estão encantadas por mim! São minhas princesas e só as devolvo se me deres a minha orelha.
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O Mama na Burra aceitou mas com uma condição: o gato deixaria sair as princesas do encanto e levaria os quatro para fora daquele palácio. Com um sopro o gato colocou os três fora daquele encanto e foi-lhe devolvida a orelha. Em terra firme e já na presença dos seus amigos o Mama na Burra pediu uma das mais belas princesas em casamento, ficando as outras duas para desposar os amigos. Foi feita uma grande festa. Todos viveram felizes no castelo das princesas.
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Pedro Miguel Carvalho contada pela avó Teresa Guedes
A AVÓ, A RAPOSA E O LOBO
Era uma vez uma velhinha que vivia numa aldeia juntamente com os seus filhos. A filha da velhinha resolveu casar numa aldeia longe da sua. Na véspera do casamento, a boa da velha, a quem chamavam tia Ana, não pôde acompanhar a família logo de manhã. Assim, depois do sol posto, a tia Ana, meteu-se a caminho lembrando-se, então, de que tinha que atravessar um grande bosque. O bosque tinha árvores enormes, animais ferozes e era muito escuro metendo medo a quem por ali passava. Todavia, a tia Ana, para ir ao casamento não tinha outro caminho senão atravessar o bosque. Assim fez e meteu-se ao caminho. Contudo, a tia Ana, à medida que caminhava e atravessava o bosque ia sentindo cada vez mais medo. A dada altura, quando já se encontrava no interior do bosque, apareceu-lhe uma raposa que a queria comer. Imaginem como se sentiu com medo a pobre velhinha quando a raposa lhe disse que ia comer! Mas, enchendo-se de coragem disse a velhinha para a raposa: - Raposa, sou tão magrinha e não há em mim nada que comer! - Deixa passar esta velhinha, que do casório da filha voltará mais gordinha! Após a velhinha caminhar mais um pouco pelo bosque, apareceu um lobo com uma boca muito grande que também queria comer a tia Ana, dizendo-lhe: - Que velhinha apetitosa, vou comer-te! A velhinha, enchendo-se, mais uma vez, de coragem voltou-se para o lobo mau e disse-lhe: -Ó lobo, sou tão magrinha que não há em mim nada que comer! Deixa passar a velhinha que do casório da filha voltará mais gordinha! O lobo e raposa convencidos de que no regresso do casório iriam comer a velhinha, por esta estar mais gordinha, deixaram passar a tia Ana. No regresso do casório, a tia Ana, para conseguir atravessar o bosque e fugir ao lobo e à raposa, meteu-se dentro de uma cabaça grande para se disfarçar. A raposa, avistando a cabaça, perguntou-lhe: - Ó cabaça, não viste por aí uma velhinha gordinha? A cabaça, respondeu-lhe:
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- Não vi velha, nem velhão, corre, corre cabacinha, corre, corre cabação! A tia Ana conseguiu enganar a raposa e continuou o seu caminho pelo bosque. Mais à frente, surge-lhe o lobo mau que lhe pergunta: - Ó cabaça não viste por aí uma velha gordinha? A cabaça, responde-lhe: - Não vi velha, nem velhão, corre, corre cabacinha, corre, corre cabação! A tia Ana conseguiu também enganar o lobo e atravessou o bosque sem ser comida. A velhinha da tia Ana regressou a casa e não mais voltou, vivendo feliz para sempre.
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Rui Pedro Carvalho contado pela avó Maria Teresa
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O LOBO E A RAPOSA MATREIRA Numa noite de luar, o lobo e a raposa estavam a passear. De repente a raposa, vendo o reflexo da lua no fundo de um poço, disse para o lobo: - Ó compadre, olhe que grande broa de unto está no fundo deste poço? Vamos tentar apanhá-la? - Ó comadre e como vamos lá chegar se o poço tem tanta água? Disse o lobo. - Bebemos a água toda, compadre. - Retorquiu a raposa. Então o lobo começou a beber, a beber sem parar, enquanto a raposa que era muito matreira, só fingia que bebia. O lobo começou a inchar com tanta água e, de aflito que estava, fugiu para uma campo de trigo que estava a ser ceifado, para aliviar a bexiga. Os ceifeiros, que estavam a merendar, ao ver o trigo todo molhado, largaram a merenda pensando que estava a chover. Quando se aperceberam que tinha sido o lobo, correram até ele e deram-lhe uma valente tareia. A comadre raposa, que era muito astuta, não perdendo a oportunidade, lançou-se na merenda dos ceifeiros e encheu a barriguinha. Quando o lobo se conseguiu escapar e a raposa já estava satisfeita com o seu manjar, encontraram-se de novo. Vendo que o compadre lobo vinha destroçado com 123
tanta porrada, a raposa começou a lastimar-se, dizendo que também lhe tinham batido. - Ai compadre, levei uma tareia tão grande que quase não consigo andar! O lobo, coitado, com pena da comadre raposa, disse-lhe: - Ó comadre, suba para cima das minhas costas que eu levo-a. Não perdendo tempo, a raposa salta para o lombo do lobo e começa a cantar: - Ai que rico regalo, comer arroz e andar a cavalo! Ai que rico regalo, comer arroz e andar a cavalo! O lobo enquanto caminhava perguntava: - O que diz comadre? - Estou a dizer que corra, porque vêm os ceifeiros atrás de nós. - Dizia a raposa, enquanto o lobo corria cada vez mais. Mas como a raposa não parava de cantar "ai que rico regalo, comer arroz e andar a cavalo", o lobo percebeu que estava a ser gozado. Chegou perto de uma ribanceira e zás, atirou a comadre raposa por ali abaixo. A raposa como estava com o estômago cheio de mais, deu um estoiro como uma castanha. Ana Raquel Calvão contada pela avó Emília
VELHA MARICUTELHA Era uma vez uma velha Maricutelha ferrunfufelha Ferrou-lhe uma mosca Maricutosca ferrunfufosca E foi-se queixar ao juiz Maricutiz ferrunfufiz E o juiz maricutiz ferrunfufiz Disse à velha Maricutelha ferrunfufelha Quando visse uma mosca Maricutosca ferrunfufosca Lhe desse com a moca Maricutoca ferrunfufoca E a velha Maricutelha ferrunfufelha Ao ver uma mosca Maricutosca ferrunfufosca Na careca Maricuteca ferrunfufeca Do Juiz Maricutiz ferrunfufiz Deu-lhe com a moca Maricutoca ferrunfufoca. 124
Ana Raquel Domingues contada pela avó Ana Rosa
O PAJEM INVEJOSO Era uma vez D. Dinis e sua mulher, a Rainha Santa Isabel, a estanciar em Monte Real, o que faziam sempre que era possível. Certo dia, o Rei foi galopar, campos fora, levando consigo um pajem que tinha inveja de um outro pajem que era muito valoroso e estimado. Num abrandamento da corrida que fizeram o moço fidalgo invejoso disse ao rei que o outro pajem estava apaixonado pela Rainha. O Rei Lavrador acreditou na palavra do seu acompanhante e vendo, onde estavam, um forno de cozer cal a arder com enormes labaredas, imediatamente combinou com o forneiro de que, no dia seguinte, um pajem o iria procurar e lhe diria que ia para cumprir as ordens do seu Rei e Senhor. Logo que tais palavra dissesse, o deitasse ao forno, pois que assim convinha ao seu serviço. 125
Mas como o nosso bom povo diz: "O homem põe e Deus dispõe", o Rei mandou o pajem, vítima inocente da intriga do colega invejoso, ir ter com o forneiro. Este pajem, porém, que além, de destemido e considerado, era um homem justo e temente a Deus, ao passar por uma capelinha onde se dizia missa entrou e cumpriu os preceitos de bom religioso. E ali se demorou um bom pedaço. O pajem invejoso, ansiando por saber se as ordens do Rei já estavam cumpridas tão fielmente como haviam sido dadas, não teve mão na sua maldade e meteu a galope em direção ao forno para saber se as ordens do Rei seu Senhor, estavam cumpridas. Palavras não eram ditas e o forneiro e os seus ajudantes agarraram no pajem invejoso e forno com ele. E assim morreu queimado um invejoso e intriguista.
Beatriz Miranda contada pela avó Adelaide
TORRE DE ERVEDEDO A freguesia de Ervededo tem uma história antiga. Remonta pelo menos à estada dos romanos nos domínios da península. Era a antiga Ervedetuni. Em 1132 foi feita a doação sob a forma de Couto ao arcebispado de Braga, confirmado pelo então infante Afonso Henriques. Torre, aldeia que deve o seu nome à sua localização altaneira, era o celeiro do arcebispado de Braga. Possui um belo cruzeiro, fronteiro à capela de S. Sebastião, rodeado de casas de estrutura muito rudimentar. O grande número de pedras com siglas mostra a existência de uma ou mais importantes construções medievais. Certo é que por perto passavam as velhas muralhas, destruídas em 1641. Aqui se situa a casa que foi a última sede camarária transformada hoje em sede da Banda Musical.
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No alto da aldeia destaca se a capela do Senhor da Ajuda e mais adiante situavase a antiga colegiada feminina beneditina da Clériga, pertencente à ordem de Cister, que terá sido extinta no século XVI e, de cujo esplendor nos falam a plataforma amuralhada e que teria servido de abrigo aos peregrinos de Santiago de Compostela. I "p 'V
Beatriz Ferreira contada pelos avós Fernanda e João
BIGODE ENGANOSO Na aldeia de Moreiras vivia uma família apelidada de "Cavalheiros" constituída por pai, mãe e cinco filhas. O pai era um homem alto e com um bigode muito grande e farfalhudo, que o tinha desde muito novo. Este era muito severo com as suas filhas, não as deixava nunca sair para qualquer convívio, nem bailes. Elas na fase da adolescência, quando na aldeia havia bailes, deixavam- no dormir e saíam pela janela do seu quarto para dar uns pés de dança. Certo sábado comemorando-se o seu Carnaval, as raparigas estavam com sorte, pois o seu pai encontrava-se para fora em negócios, assim as mesmas com a autorização da mãe, foram ao baile, tendo dançado pela tarde adentro. A certa altura do baile a filha mais velha, Aida, foi pedida para dançar por um homem desconhecido, mas mesmo assim aceitou, pois não tinha reconhecido que o 127
homem era o seu pai. A certa altura da dança o homem, virou-se para ela e perguntou-lhe o seu nome, e nessa altura reconheceu que o homem era seu pai. Tal foi a atrapalhação da jovem que desmaiou. Quando acordou pediu desculpa a seu pai por ter saído de casa sem o seu consentimento e o pai pediu-lhe desculpa por ser tão rude e a partir dessa data passou a ir aos bailes com as suas filhas.
Constança Sofia contada pela avó Aida
A MENINA E O "MELEIRO" Era uma vez uma menina, muito mimada e que chateava muitos os pais para comer. Nunca comia o que devia e de poucas coisas gostava. Os pais já muito chateados pensaram, pensaram e perguntaram um ao outro o que poderiam fazer com a miúda. Ela não é doente, porque do que gosta e que nem lhe faz muito bem ela come! Estou a pensar numa coisa, diz a mãe: - Olha, homem, quando formos sachar as batatas, ela vai connosco e não levamos merenda. E se bem o pensaram, melhor o fizeram. Lá foram todos para o campo e passado algum tempo, ela perguntou aos pais se ainda demoravam muito e disse-lhe que queria ir para casa. A mãe respondeu-lhe que ainda era cedo para ir para casa e que o "meleiro" ainda não tinha passado. A menina ficou a pensar no que a mãe lhe disse 128
- O "meleiro"? - Então vai trazer mel! Estava admirada, mas foi esperando. Passado algum tempo, voltou a dizer o mesmo, levando o resto da tarde à espera que o senhor "meleiro" chegasse, e a resposta da mãe era sempre a mesma. Já noite, a filha desesperada diz à mãe: - Mãe, vamos para casa tenho tanta fome! Foi então que teve a resposta certa. -Olha filha esse é o "meleiro" que esperávamos. Quando chegaram, foi logo comer o pão seco, sem mais nada e sem resmungar nem pedir mais nada. Foi então que a menina percebeu a importância da comida e prometeu que nunca mais ia chatear os seus pais para comer, pois há muitos meninos que querem comer e não têm o que e os pais ficam incomodados por não ter que lhes dar. Outros que têm e por serem esquisitos incomodam e não comem.
Eva Inês contada pela avó Lucília Santos
A VELHINHA E A MENINA Era uma vez uma velhinha Quase cega coitadinha E já mal podendo andar Encostada ao seu bordão Sempre olhando o chão la na estrada a passar. Diga o que tem avozinha Que eu a levo á sua casinha Onde lhe dói e que tem? Diga que eu já vou buscar Vou pedir à minha mãe. Ouvindo um cão que ladrou A pobrezinha parou Olhando em roda assustada 129
Quis fugir, não conseguiu Tentou correr, mas caiu A pobrezinha coitada. Não foi nada meu amor Tu és um anjo uma flor Ajuda-me só a andar Deus pague tua bondade Com muita felicidade Disse a velhinha a chorar. Nisto surge uma menina Viva, formosa e ladina Que ao vê-Ia cair no chão Correu logo pressurosa Condoída e carinhosa À velhinha deu a mão. Inês Esteves contada pelo avô José Esteves
A VELHINHA E O LADRÃO Era uma vez uma velhinha que vivia sozinha numa casinha na aldeia. Um dia, à noite, quando estava a fiar à lareira, olhou para a sua cama e viu que estava um homem escondido debaixo dela. Ficou assustada, mas resolveu tentar enganar o homem. Então disse-lhe: - Ai, meu senhor, está aí ao frio? Venha aqui para junto de mim aquecer-se! O homem, uma vez que tinha tempo, lá decidiu aproveitar e chegou-se para junto da velhinha. - Deve estar com fome. Quer comer alguma coisinha? - perguntou a velhinha. Logo de seguida pôs-lhe uma chouriça ao lume. O homem começou a comê-la e a velhinha disse-lhe: - Enquanto come vou contar-lhe uma história que aconteceu à minha mãe. "Um dia ela andava no campo e apareceu-lhe um lobo. Ela, assustadíssima, começou a gritar - AQUI D'EL REI! ACUDAM! ACUDAM!" A velhinha gritava quanto podia para os vizinhos ouvirem. O ladrão, ouvindo tal gritaria ficou tão atrapalhado que pediu: - Ó senhora, não grite tão alto que pode acordar os vizinhos. - Não se preocupe que eles já estão habituados a ouvir-me contar esta história. E continuou a contar a história. A minha mãe, achando que ninguém a ouvia ainda gritou mais alto: - AQUI D'EL REI! ACUDAM! ACUDAM! Nessa altura, os vizinhos, ao ouvirem a velhinha a gritar tanto, vieram acudir e escorraçaram o ladrão à paulada.
Inês Margarida contada pela avó Glória
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CONTO DO AVÔ Era uma vez uma velhinha, quase cega coitadinha, que já mal podia andar, encostada ao seu bordão, ia na estrada a passar.
Nisto surge um cão que ladrou, a pobrezinha parou, olhando em volta assustada, quis correr não conseguiu, tentou fugir mas caiu, a pobrezinha coitada.
Nisto surge uma menina,
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fresca, formosa ladina, que ao vela cair ao chão, correu logo presunçosa, e à velhinha deu a mão.
Não é nada ó menina, não é nada ó meu amor, tua cara é de rosas, teu rosto encantador.
Inês Santos contada pelo avô João Bandeira
A VELHA E A CABACINHA Era uma vez uma menina que ficou sem a mãe ainda era muito pequenina. O pai viajava muito e um dia foi para uma viagem muito grande e arranjou uma namorada com quem casou. Essa namorada era muito má e tinha também uma filha que era muito má. Um dia foram todas a uma festa e não levaram a menina que ficou em casa. Nessa noite a menina pôs-se à janela e pediu às estrelas que lhe enviassem um coche para ela ir também à festa. As estrelas mandaram-lhe uma cabaça muito grande, e disseram à menina que se metesse na cabaça e fosse à festa. E assim foi, a menina meteu-se na cabaça e foi sempre rebolando. No caminho encontrou uma velhinha que lhe perguntou: - Ó cabacinha, viste por aí uma menina? A cabaça respondeu: - Não vi velhinha nem velhão, roda, roda cabacinha, roda, roda cabação....
Jorge Duarte Coelho contada pela avó Lucila Pereira Jorge
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O PRINCIPE SAPO Um dia, a princesinha estava sentada numa fonte a brincar com uma bola dourada e atirava-a o mais alto que conseguia. Subitamente deixou cair a bola na fonte. Um sapo espreitou à tona da água: - O que me dás se eu for buscar a tua bola dourada? - Dou-te os meus vestidos, as minhas jóias e até e até a minha coroa dourada disse a princesinha. - Não quero nada dessas coisas - respondeu o sapo. - Só quero ser teu amigo, comer contigo à mesa e dormir no teu quarto. - Podes ter todas essas coisas - prometeu a princesinha. O sapo mergulhou e trouxe-lhe a bola dourada. A princesa estava encantada. Agarrou na bola e correu de volta para o palácio. Saltitando, o sapo disse: - Espera por mim! Mas ela desapareceu para dentro do palácio. No dia seguinte, ao pequeno - almoço, ouve-se uma voz a chamar: - Filha do rei, deixa-me entrar! O rei estava surpreendido. - Quem está a chamar-te querida? - Oh! Ninguém - respondeu ela. - É só um sapo. E contou ao pai o que tinha acontecido. - Deves cumprir sempre as tuas promessas. - Disse o rei. - Deixa-o entrar e dálhe o pequeno-almoço. A princesa assim fez. Quando terminou o pequeno-almoço o sapo disse: - Estou cansado. A chorar, a princesa levou o sapo para o seu quarto. Ela estava tão furiosa que pegou nele e atirou-o para a cama. Depois que surpresa! Viu um clarão e, em vez do sapo estava um bonito príncipe. - Um feitiço malvado transformou-me num sapo - disse ele - mas tu quebraste-o. Queres ser a minha princesa? Eles casaram e viveram felizes para sempre. José Miguel Fernandes contado pelo avô José Carvalho
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LENDA DO PIO PARDO Conta-se que, há muitos anos atrás na aldeia de Bóbeda, era costume convidar todo e qualquer jovem rapaz que chegasse à aldeia, para participar na caça ao Pio Pardo. Era desta forma que a comunidade dava as boas vindas! O Pio Pardo era um animal do monte, muito apreciado para uma boa merendola. A caça ao Pio Pardo era realizada à noite, no monte, junto a uma "gateira". Ao jovem rapaz era-lhe atribuído o papel principal, apanhar o Pio Pardo. Este ficava no local a segurar um saco de lona, enquanto o grupo de jovens da aldeia, afugentava o Pio Pardo para o local pretendido. O jovem assustado, mas ao mesmo tempo digno na sua missão, ficava no local à espera que o Pio Pardo aparecesse. Os jovens da aldeia regressavam em euforia à aldeia, orgulhosos da sua façanha. Nunca nenhum jovem viu ou apanhou um Pio Pardo! 134
José Pedro contada pelo avô Zeca
A HISTÓRIA DO MINÉRIO Era uma vez um menino pastor que vivia numa aldeia e todos os dias depois da escola guardava as suas ovelhas. Num belo dia de sol foi com o seu rebanho para o monte onde havia muitos castanheiros e um bonito sobreiro. Ao passar junto a um dos sobreiros, viu reluzir uma pedra que estava no chão. Curioso, o menino aproximou-se, pegou na pedra e ficou a olhá-la com muita atenção, pois tinha algumas pintinhas douradas e cintilantes. Guardou a pedra no bolso e prossegui com o seu rebanho. À noite, quando se ia deitar tirou as calças e a pedra caiu-lhe do bolso, nesse instante correu em direção aos seus pais para lhe mostrar o que encontrara. O pai nunca tinha visto nada igual e imediatamente exclamou: - "Onde encontraste isto meu filho?" E o menino respondeu: - "Foi junto ao Sobreiro dos Castanheiros." No dia seguinte o pai foi pela aldeia fora contar a todos os vizinhos o que sucedeu, afirmando que na aldeia havia um minério. Rapidamente a notícia se espalhou e logo apareceram na aldeia uns senhores de fora a querer comprar as terras por 50 escudos, para explorar o minério. Começaram as escavações. Escavaram dias a fio mas o minério que eles tanto procuravam nunca aparecia. Fartos de escavar os homens desistiram, apenas descobriram pequenos pedaços de quartzo, mais conhecidos por Seixos brancos. Foram-se embora, deixando o poço do minério aberto até hoje. À aldeia onde reluziram essas pedras deram nome de "SEIXO", ela pertence ao concelho de Chaves.
Luís Salgado contada pela avó Filomena Salgado
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A RAPOSA E O MOCHO Era uma vez, uma raposa que pensava ser muito esperta e todos os dias, ao fim da tarde reunia com os animais seus amigos da floresta, debaixo de uma árvore, para contar as suas habilidades. O mocho cansado de a ouvir resolveu pregar-lhe uma partida. Numa linda tarde de Primavera, disse à raposa que ouviu falar numa festa muito bonita que ia haver no Céu mas só os animais mais importantes da Terra irão ser convidados. No dia seguinte, logo pela manhã, a raposa toda enfeitada para a festa foi ter com o mocho e pediu-lhe para a levar ao Céu, pois tinha recebido o convite para a famosa festa. O mocho vendo que a raposa tinha acreditado na mentira, mandou-a sentar-se numa das suas asas e lá começou a voar em direção ao Céu. Subiu, subiu... e a certa altura perguntou: -Amiga raposa ainda consegues ver o chão? -Sim. Respondeu a raposa. Então, o mocho continuou a subir mais e quando já estava muito alto, disse-lhe: -Raposa já estou cansado desta asa, muda agora para a outra. Quando a raposa ia mudar de asa, o mocho fugiu e a raposa quando ia a cair dizia; -Foge pau que te pico, foge rocha que te parto,..e dizia isto, porque como era muito importante o pau e a rocha deveriam sair da frente para ela cair.
Maria Anjos contada pelos avós Maria Amélia Gomes e Ernesto Machado
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O PROFESSOR E O PAVÃO O Antoninho andava na escola a brincar e matou o pavão do professor. O Antoninho foi a chorar para casa e o pai perguntou-lhe: - O que tens Antoninho que estás tão triste a chorar? Ele respondeu: - Matei o pavão ao mestre, quer que lo vá pagar. O pai do Antoninho foi à escola para lhe pagar o pavão e disse: - Tome lá 18 libras para pagar o seu pavão, e mais lhe virão para pagar o seu bicho de estimação. O professor respondeu: -Vá para casa senhor Albino, para amigos não é nada, mande o miúdo para a aula que a morte está perdoada. O pai do Antoninho quando chegou a casa disse: - Antoninho vai para a escola que já é tempo de aprenderes! Respondeu o filho: - Adeus ó meu pai que não o torno a ver! O pai diz: -Já lá vêm os outros estudantes, quer do meu Antoninho?! Responderam os colegas: - Ficou na sala do meio, morto como o passarinho! Lá vai o senhor Albino com um punhal de ouro na mão matar o professor à conta do pavão. Naquela cidade e vila metia dor e paixão, duas mortes inocentes à conta de um pavão!
Maria Carvalho contada pelos avós Maria Carvalho e Cândido Rodrigues
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O PRÍNCIPE, O LEÃO E A BRUXA Era uma vez, uma bruxa que morava num Castelo assombrado e quem lá tentasse entrar, nunca mais conseguia sair. Lá longe, todas as pessoas olhavam, mas ninguém se aproximava com o medo da bruxa e das suas maldades maquiavélicas. Um certo dia, um destemido príncipe resolveu desafiar a sua sorte e foi em direção ao castelo, com o seu Leão para tentar descobrir o que realmente se passava lá. Quando chegou, a porta estava trancada e ele bateu com toda a sua força para que alguém a viesse abrir! Truz, truz. De repente, a porta começou a abrir-se lentamente, sem aparecer ninguém. Muito desconfiado, ele foi entrando e dá com os olhos numa velha muito feia, com uns cabelos muito longos e uns olhos negros, enormes e assustadores. Sem demonstrar medo ele dirigiu-se a ela dizendo: - Bom dia! Linda Senhora... -Oh! Bom dia príncipe encantador! Bem-vindo ao meu Castelo. Diga-me, em que posso ajudá-lo? -Bem eu, precisava de descansar um pouco, se fosse possível é claro! -Ah! Meu jovem é claro que sim e vou buscar uns cobertores para te aconchegares. - Obrigada! Obrigada! A bruxa começou logo a planear o que fazer, para que ele ficasse para sempre no seu castelo. Por outro lado, o príncipe também pensava como iria descobrir o que se passava no castelo assombrado. Já muito tarde, a bruxa resolveu ir ter com o príncipe e para começar prendeu o leão com os seus cabelos, que eram muito fortes. Foi então, que começou a tentar agarrá-lo e o príncipe gritava: - Avança leão; avança leão! E a bruxa respondia: -Não avança não, que os cabelos da bruxa de ferro são! Assim iam gritando até que o leão conseguiu soltar-se e zás, zás, correu atrás da bruxa, que desatou a fugir para a floresta sem olhar para trás. O príncipe venceu a bruxa e no castelo fizeram uma festa enorme com muita alegria porque nunca mais viram a bruxa má. Maria Reis contada pela avó Tina
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O MILAGRE DAS ROSAS Era uma vez... …vivia o Rei D. Dinis com a Rainha Santa Isabel, no Castelo de Leiria. A Rainha tinha mandado fazer a igreja de Nossa Senhora da Penha, lá no Castelo, onde moravam, na qual trabalhavam muitos pedreiros. Santa Isabel, que era muito caridosa e dava muitas esmolas aos pobres, o que às vezes contrariava o Rei, que era bom administrador do reino e da sua fazenda, tanto mais que as esmolas da sua mulher eram grandes e repetitivas. Um dia, levava a Rainha, numa abada do seu manto, grande quantidade de pães para distribuir pelos mais pobres, quando lhe apareceu, de surpresa, seu marido e Rei, que conhecendo demasiado bem o espírito de bem-fazer da Rainha e calculando o que ela levava na aba do seu manto, lhe perguntou: "Que levais aí, Senhora?" Ao que a Rainha Santa lhe responde:
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"Rosas, Senhor!" E a Santa Rainha abrindo o manto em que levava os pães destinados aos pobres, deixou-os cair já transformadas em lindas rosas, frescas e viçosas. O Rei seguiu seu caminho, sorrindo contente e a Rainha ficou mais contente ainda.
Marta Santos contada pela avó Maria
A ALDEIA SEM ÁGUA Numa aldeia do concelho de Valpaços, freguesia de Curros, chamada Cabanas, há muito, muito tempo atrás não havia água. Foi então que a população queria formar uma povoação, mas a nascente mais próxima ficava a 7 quilómetros dali, na encosta da Serra da Padrela. O problema é que existiam mais povoações que estavam interessados em ter água e os Mouros tentaram levá-la para outra aldeia. A minha aldeia não tendo outra hipótese, teve de fazer um tanque e um moinho à beira da Igreja para poder ter água e ao mesmo tempo moer o centeio. Só desta maneira é que a população teve água. O moinho já foi remodelado, e tem água suficiente para regar a veiga.
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Mónica Lopes contada pela avó Irene
A LENDA DO MADEIRO DO NATAL Ainda hoje tudo nos parece segredar ali um passado enobrecido pelo valor guerreiro e devoção do seu povo. As mordeduras, do tempo, embora fundas, não conseguiram apagar as recordações dessa época longínqua em que os sarracenos andavam pela terra
lusitana e para sempre foram desalojados do castelo dessa
admirável Monsanto - encanto e orgulho da Beira Baixa. A cristandade contou com mais uma terra depois de um esforço gigantesco para a conquistar e o castelo e a velha capela de Santa Maria do Castelo são o eloquente testemunho de que o espírito guerreiro e a fé tiveram ali reduto inexpugnável. Namorando o luar e as estrelas pondo os olhos no azul do céu, praticando o culto católico com devoção extrema, sabendo rezar e ter o temor de Deus, os seus moradores, nesses tempos que se perdem na neblina dos séculos, levavam todos os anos por altura do Natal e a poder de sacrifício, do fundo da planície até à porta da capela de Santa Maria do Castelo, pesado tronco de árvore, para ali ser queimado em louvor do Deus Menino. Assim faziam sempre, robustecendo cada vez mais a sua fé. Um dia. porém o governador do castelo, tomado de capricho autoritário, proibiu àquela gente que o fizesse, mandando que o madeiro fosse cortado em achas para arderem na sua lareira. Nem os rogos dos homens e das mulheres. Nem o temor do Céu o fizeram desviar daquela ordem, e o madeiro começou a ser queimado como ordenara. Caíram sobre ele as pragas do povo, num anátema clamado com alma e com ira, e na casa do governador o madeiro foi sendo devorado pelo fogo. Temente e contrafeita lançara-o pouco a pouco na lareira uma velha criada a quem, queimadas todas as achas, por três vezes apareceu em sonhos Nossa Senhora do Castelo. que exclamava: Roubaram o madeiro ao Menino Jesus e grande castigo vai cair sobre o castelo! Os dias passaram, e uma tarde a atmosfera carregou-se de nuvens escuras, não demorando que tremenda trovoada desabasse sobre aquela terra, pondo tudo em alvoroço. Homens, mulheres e crianças erguiam os braços para o Céu, crentes e amedrontados. As faíscas riscavam o espaço; o ribombar dos trovões era cada vez mais temeroso. Súbito, um raio tombou ruidosamente sobre o paiol do castelo e, pegando
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fogo ao palácio, breve as labaredas tudo lamberam e reduziram a cinzas, deixando ali sepultados todos os seus moradores. Só um se salvou: a criada do governador. Ainda hoje, os monsantinos queimam todos os anos o madeiro do Natal. O costume vinha de longe e todos os anos, por altura do Natal, a gente de J\lIonsanto levava do fundo da planície até à pOl1a da capela de Santa Maria do Castelo pesado tronco de árvore para ali ser queimado em louvor do Menino. Um dia, porém o governador do castelo proibiu-o, ordenando que o madeiro fosse cortado para arder na sua lareira. Caíram sobre ele as pragas do povo, mas nada o demoveu e, pouco a pouco, não sem chorar uma lágrima, uma velha criada o lançou no fogo. Por três vezes depois viu em sonhos Nossa Senhora do Castelo que clamava: Roubaram o madeiro ao Menino Jesus e grande castigo vai cair sobre o castelo! Uma tarde o céu cobriu-se de nuvens e tremenda trovoada desabou sobre Monsanto. Um raio tombou sobre o paiol do castelo e pegando fogo ao palácio tudo deixou reduzido a cinzas: casa e moradores. Só um salvou: a criada do governador. Ainda hoje, todos os anos, os monsantinos queimam o madeiro do Natal.
Pedro Mosca contada pela avó Cândida Lopes
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O HOMEM QUE VINHA ABRIR A PORTA COM UM OSSO NA MÃO Era uma vez um homem que era muito vaidoso e tinha a mania das grandezas, Então, qualquer pessoa que falasse com ele ficava admirada com o que ele dizia e com o que tinha em sua casa. Tinha as salgadeiras cheias de boa carne, as talhas cheias de azeite, as pipas cheias de vinho, tinha também uma adega enorme, com tudo o que há de melhor, dizia ele. As pessoas ouviam isto e achavam estranho, porque nas aldeias as pessoas sabem o que se passa nas casas umas das outras e mostram tudo que têm aos seus vizinhos. Mas, este não mostrava nada a ninguém. As pessoas começaram a ficar muito curiosas e algumas começaram a ir visitar a casa do "gabarolas", tentando ver alguma coisa do que ele dizia que tinha, mas nada, porque ele não convidava ninguém para entrar. Ela vinha à porta com um grande osso na mão, dizendo que estava acabar de almoçar muita carne. O homem fez isto muitas vezes, vinha atender as pessoas à porta com o osso na mão, não deixava entrar ninguém, e dizia sempre o mesmo, que estava a almoçar ou a jantar muita carne. As pessoas começaram a pensar que era mesmo mentira, que tinham ali um aldrabão, que gostava de se gabar daquilo que não tinha. Juntaram-se todas, e tentaram maneira de descobrir se o que ele dizia era verdade ou não. Começaram a vigiá-lo e a seguir todos os passos do mentiroso. Um dia, ele tinha a janela aberta e enquanto um senhor da aldeia batia à porta outro vizinho subiu à janela e conseguiu ver. Quando batiam à porta ele pegava sempre no osso, que estava escondido atrás da porta, num buraco que ele fez. Pegava no osso e passava-o pelos lábios, fazendo de conta que estava acabar de almoçar ou jantar muita carne. Era tudo mentira, ele inventou tudo, para se tornar superior e mais poderoso em riquezas, que todos os vizinhos da aldeia, porque afinal ele era um pobrezito.
Rafael Carvalho contada pela mãe
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O CONTO DO MEU AVÔ... Em Cambedo da Raia, terra de meus Avós maternos existe um "castro", com muralha semidestruída, chamado Monte Vamba, em memória ao Rei Vamba. Conta-se, que aí viveu o Rei Vamba com o seu séquito. E o dito cujo Rei, apaixonou-se por uma mulher moura. Por razões desconhecidas nunca se casou com ela. Como nunca o conseguiu, por intermédio dos seus feiticeiros, encantou-a e segundo a lenda está soterrada no túnel do Monte Vamba, junto a uma talha que está cheia de oiro.
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Sofia Salgado contada pelo avô Zé
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2ยบC
CALENDÁRIO DOS CAMPONESES Em janeiro sobe ao outeiro, Se vires verdejar, põe-te a chorar Se vires terrear Põe-te a cantar. Quando não chove em fevereiro, Nem bom prado, nem bom centeio. março, marçagão Manhã de inverno, Tarde de verão abril frio, Pão e vinho Quando o maio chegar, Quem não arou há de arar Em junho, Foucinha no punho 146 Em julho, Ceifo o trigo e o debulho E em o vento soprando, Vou limpando. Nem em agosto caminhar Nem em dezembro malhar Agosto amadura Setembro derruba Outubro saca tudo. De Todos – os – Santos ao Natal, Ou bem chover ou bem nevar. Ande o frio por onde andar Há de vir pelo Natal Andreia Sousa contado pela avó Fátima
HAJA VENTO O Haja Vento era um homem que ia pela estrada fora a dizer: -Haja Vento! Encontrou um homem a semear alface e começou: -Haja vento! Então de repente veio tanto vento que levou a semente ao homem. O homem de nervoso bateu-lhe: -Diga, não haja nada. Então ele continuou: -Não haja nada! Encontrou um caçador, e ele disse: -Não haja nada. O caçador bateu-lhe e disse: -Diga haja sangue. O homem foi sempre a dizer: - Haja sangue! Ao chegar a outra povoação andavam nas malhas que nessa altura as malhadas eram feitas com malhos. Quando os homens ouviram: -Haja sangue! Começaram a bater-lhe e ele continuava sempre: -Haja sangue! Disseram-lhe então: -Apartem-se ou haja sangue! E bateram-lhe. Ele foi sempre pelo caminho fora: apartem-se, apartem-se. Chegou a outra aldeia, encontrou um homem morto e quando ele disse: apartem-se as pessoas bateram-lhe e disseram-lhe: rezai por ele, rezai por ele. Ao chegar a outra povoação no cruzamento encontrou um burro morto. Estava de lado do burro e dizia: -Rezai por ele, rezai por ele! Nesse momento vinha a Guarda Nacional Republicana e ouvindo o Haja Vento dizer que rezassem por ele deram-lhe umas coronhadas na cabeça e disseram-lhe: -Agora, reza tu! E ficou o Haja Vento morto ao pé do burro e os guardas seguiram o seu caminho.
Constança Vieira contada pelo avô Fernando Pereira
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A RAPOSA E O JOÃO POLEIRÃO Havia um galinheiro com várias galinhas e um galo chamado o João Poleirão. Uma noite, o galinheiro foi atacado pela raposa e foi apanhado o João Poleirão. A noite estava muito fria, caía uma geada muito forte a e ao passar perto de um castanheiro o João Poleirão disse para a raposa: -Gia! A raposa respondeu: -Deixa gear, que já levo que jantar. Quando a raposa quando abriu a boca, o João Poleirão fugiu para cima de um castanheiro e a raposa ficando com a boca cheia de penas disse para o João Poleirão: -Anda buscar a tua ronha e o João Poleirão respondeu: -Quem me deu essa me dará outra. No momento em que estavam a travar a conversa, sentiram barulho e eram dois caçadores que vinham e a raposa perguntou ao João Poleirão de onde vinham os caçadores. O João Poleirão mentiu-lhe, eles vinham de baixo e ele disse que vinham de cima. Nesse momento a raposa fugiu para baixo, os caçadores abriram fogo e mataram a raposa. O João Poleirão foi ter com a raposa, pôsse a olhar para ela e disse-lhe: -Ó raposinha, de mil manhas tu riste ou arreganhas! (Porque a raposa ficou com os dentes arreganhados). Depois O João Poleirão regressou ao seu poleiro, todo satisfeito pela morte da raposa traiçoeira.
Constança Vieira contada pelo avô Fernando Pereira
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AS HISTÓRIAS DO JOÃO SACRISTÃO Em Vila Pouca havia um sacristão a quem todos chamavam João Sacristão. O João Sacristão era muito comilão, roubava muitas vezes a comida aos outros por ser guloso. Um dia, quando o Lelo Panajoia organizou um passeio com as pessoas de Vila Pouca a Viana do Castelo, pediu, entre outras coisas, que o João Sacristão lhe fosse buscar um folar, que ele tinha encomendado para o lanche na Nossa Senhora da Bentinha. O João Sacristão foi ao local marcado buscar o folar mas nunca apareceu nem mais ninguém o viu, nem a ele nem ao folar... Outra história do João Sacristão foi quando o Albano recebeu um dinheiro e ia depositá-lo na tesouraria de Vila Pouca, tinha várias notas de vinte e cem escudos. Pelo caminho encontrou o João Sacristão que lhe fez um pedido, emprestar-lhe as notas para ele espetar com alfinetes na roupa. O João Sacristão foi ao Vira Disco (fotógrafo) tirar uma fotografia e depois mostrava-a a toda a gente e dizia que era muito rico. Mas não era só o João Sacristão que fazia patifarias aos outros, a ele também lhe faziam algumas. Um dia dois operários ficaram de lhe arranjar um muro de sua casa que tinha caído, ele fez as contas com os pedreiros e foi ajudar na missa. Quando acabou a missa um dos pedreiros foi lá e dizendo-lhe que o muro já estava em pé, o João Sacristão pagou-lhe mas era o outro pedreiro que o estava a segurar. Quando o João Sacristão chegou a casa o muro estava no chão...
Joana Cardoso contada pelo avô Albano Lopes
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O AMOR DE DOIS IRMÃOS João e Manuel eram dois irmãos que gostavam muito um do outro. Iam para a escola juntos, jogavam à bola, iam à catequese e faziam grandes brincadeiras. O tempo foi passando e tornaram-se homens, casaram, mas as suas mulheres que por má sorte não se davam nada bem, começaram com intrigas de um para o outro até que se zangaram e nunca mais se falaram. Mas nesse mesmo ano João colhera muitos alqueires de trigo ao contrário de Manuel que não colheu nenhum, mas em compensação colhera muitas batatas. O inverno estava à porta, muito frio e muito gelo e ambos tinham bocas para sustentar. Foi então que João se lembrou uma noite gelada de inverno de ir à adega onde tirou um saco de centeio e pela calada da noite o levara a casa de seu irmão. A mesma ideia tivera Manuel nessa noite, e levara um saco de batatas a casa do João. E assim fizeram, noite após noite. Até que um dia se encontraram e disse o João: -Agora, já sei porque nunca me faltavam as batatas! -E a mim, o trigo para fazer o pão! - Disse o Manuel. Os dois abraçaram-se e começaram a chorar, jurando nunca mais se chatearem por intrigas sem qualquer interesse. O amor vence sempre todas as barreiras!
Joana Sofia contada pela avó Carmo
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CONVERSA COM D. PALMIRA BRAGA RODRIGUES ALVES D. Palmira completou este ano, um século de existência, e é considerada das pessoas mais antigas da cidade. A quando do primeiro contacto, tive oportunidade de observar uma pessoa frágil, mas com uma vontade enorme de partilhar a sua vivência e testemunho dos tempos idos, prestando-se às questões de uma maneira ímpar a quando de outras entrevistas. Iniciamos a entrevista com perguntas referentes às Festividades Flavienses. Festa de Chaves, mais conhecida por "Festa da Nossa Senhora das Graças"; era acompanhada por andores vistosos, rodeados por anjos. Durante este dia (8 de Julho), os portões existentes entre o Jardim Público (na altura Jardim Sotto Mayor), e a sua quinta (Lar Amor de Deus), delimitavam a cidade até ao cimo da rua Direita, na Igreja Grande (Igreja Matriz). Eram abertos pela Câmara para deixar passar as procissões. Na altura, a D. Palmira (tratada por "Menina"), juntamente com as suas duas irmãs de Lebução, iam, a convite destes, lanchar a sua casa. A "careta", uma regateira da praça, chamada Verónica, era sempre convidada para cantar nestas festas. Outro momento importante, e porque Chaves era vila de carácter religioso, celebravam a Quaresma: quando se benziam os ramos, visitavam-se Igrejas mais assiduamente, beijando-se os " Passos " (considerados como os dados por Jesus, cujas imagens se espalhavam pela" Vila "). Na rua de Sto António, existia a imagem de Nossa Senhora, de joelhos (todas as Igrejas tinhas os " passos". Na igreja da Madalena era a imagem de Jesus Cristo a suar sangue no «orto». Na capela do Calvário ( em Sto Amaro) , terminava a procissão. Durante a semana Santa ( última semana da Quaresma), realizavam-se procissões. Na quinta - feira Santa, realizavam-se duas: uma que começava na Madalena ( um andar com a imagem de Nossa Senhora), e outra que iniciava na Igreja Matriz (imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo) e no final juntavam-se as duas. Na sexta-feira Santa, realizava-se a procissão do Enterro; os Anjos levavam os mantos pretos, e a menina Palmira assistia ao desfilar de imagens na rua de Santo António, numa casa de amigas, assistindo daí os cânticos de Verónica. No sábado da"
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Aleluia ", pelas 10 horas, a nossa menina ía ter com sua mãe (que fora educada no Convento de Freiras, onde é agora a Escola de Fernão de Magalhães). Iam buscá-la com uma charrete puxada a cavalos, e ainda recorda a roupa da avó, com um vestido até aos pés e um chapéu pequenino.
LENDA DO LOBO QUE COMIA GENTE (Valdanta) Diziam as pessoas que havia 3 ou 4 irmãs que andavam sempre a brincar. Os pais que iam sempre trabalhar para o campo, levavam-nas para bem perto do povo. Enquanto os pais ceifavam, elas comiam malápias (maças) e mais qualquer coisa. Entretanto, um lobo aproximou-se delas, e elas pensando que era o seu cão chamado "Pronto", chamaram por ele: - Pronto!, Pronto!, O lobo " chegou a boca a uma delas" e começou a correr com uma das meninas na boca, a menina Florência pelos centeios fora! Elas aflitas gritavam à mãe : - Mãe, o Pronto leva a Florência, olha! Olha!... O povo acudiu e viu que era um lobo, identificado como o "lobo que comia gente". Os homens que andavam a ceifar, vieram com as forquilhas para tirar a criança da boca ao lobo. E no final fizeram-lhe o curativo à criança! A menina Florência viveu ainda quase um século, mas as marcas dos dentes do lobo, essas nunca mais desapareceram!...
Guilherme Sousa contada pela D. Palmira
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O CEGO E O MEALHEIRO
O cego Filipe, com receio de uma velhice muito pobre, soube, ao longo da sua juventude, juntar uma grande quantidade de moedas. Isto passou-se há muitos e muitos anos quando nem sequer existiam Bancos para as pessoas depositarem dinheiro. Então o cego resolveu meter as moedas dentro de uma grande panela no quintal, debaixo de uma figueira. Sucedeu, porém, que o vizinho viu onde o cego Filipe enterrada a panela e, pela calada da noite, foi desenterrá-la e levou -a para sua casa. Passado algum tempo, o cego conseguira juntar mais umas tantas moedas e quis igualmente guardá-las na panela, mas qual não foi o seu espanto e desolação quando verificou que lha tinham roubado. Depois de muito pensar chegou à conclusão de que só poderia ter sido o vizinho e decidiu-se a falar com ele. Cego - Meu bom vizinho, quero ter uma conversa muito especial consigo. Vizinho - O que é que se passa, amigo Filipe? - Perguntou o vizinho receoso de o cego ter desconfiado dele. Cego - Ando a sentir-me muito doente do coração e, como sabe, não tenho nenhum parente a quem deixar o dinheiro que fui amealhando. E por isso resolvi deixálo ao vizinho que sempre me tem tratado com amizade. Parte desse dinheiro está enterrado no quintal dentro de uma panela, mesmo debaixo da figueira, a outra parte guardei-a num buraco, mas tenciono metê-la também na panela. O vizinho escutou aquilo de boca aberta, agradeceu muito ao cego e, logo naquela noite, foi enterrar a panela no mesmo sítio de onde a tirara, com o objetivo de «herdar» o resto das moedas. Mais tarde, o cego foi desenterrar a panela, levou-a para casa e, no dia seguinte, pôs-se numa grande gritaria: Cego - Roubaram-me tudo. Roubaram-me tudo, amigo vizinho. E não mais voltou a guardar o dinheiro no quintal…
Luís Matias contada pela avó Ana
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JOÃO PREGUIÇOSO Havia um menino que se chamava o João Preguiçoso e era um pouco parvo. Cansada de tanto lhe ralhar, a mãe, um dia, resolveu abandoná-lo. Então, pela primeira vez, ele pensou trabalhar. Trabalhou um dia inteiro para um lavrador que lhe pagou com uma bilha de leite. O João despejou o líquido todo no bolso da jaqueta e dirigiu-se para casa a cantar. Chegou a casa todo sujo e, na mão, com a bilha vazia. -És um tonto! - Disse-lhe a mãe. Devias trazer a bilha na cabeça. - Verá que na próxima vez não terá de ralhar comigo! No dia seguinte foi novamente trabalhar, mas para uma queijaria. O dono pagou os seus serviços com um queijo fresco. O João pô-lo à cabeça e foi para casa. Como o queijo era muito fresco, derreteu e empastou-lhe todo o cabelo e a cara. - És uma cabeça de alho chocho! - disse-lhe a mãe. Então não te lembraste de trazer o queijo na mão?
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- Para a próxima vez não me esqueço mãe! Vou lembrar-me! No dia seguinte foi trabalhar com um negociante de gado que, para lhe pagar, deu-lhe um burro. Com grande esforço o João pôs o animal às costas. A meio do caminho, havia uma casa de um lavrador muito rico que tinha uma filha surda muda. Os médicos diziam que se alguém a conseguisse fazer rir, ela conseguiria falar e ouvir. Então, quando o João passou com o burro às costas em frente à sua casa, a menina vem à janela e, surpreendida com o que via, soltou uma enorme gargalhada. O pai quando ouviu aquilo, acudiu de imediato e viu que a sua filha falava, ria e cantava. Depois de muita conversa, ficaram amigos e alguns anos mais tarde casaram. O João ganhou muito juízo e foi feliz com a sua amada.
Mariana Melo contada pela avó Fernanda
O LOBO E A RAPOSA Era uma vez um lobo e uma raposa que decidiram fazer uma aposta: tinham que ir a um rebanho, buscar um carneiro, mas como não o conseguiram acabar de comer foram enterrar o que sobrou. Mas a raposa foi mais esperta e foi acabar de comer o que faltava do carneiro, deixando o rabo de fora. O lobo também foi lá sem dizer nada à raposa mas como a raposa já tinha comido o resto, o lobo ao puxar o rabo caiu para trás. Após isso, a raposa disse ao lobo: -Compadre vamos acabar de comer o carneiro? E o lobo respondeu que sim, e disse-lhe para ela ir à frente e ele atrás. O lobo chegou primeiro, mas a raposa não apareceu porque já o tinha comido.
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Rafael contada pela avó Maria
O MISTÉRIO DA ÁGUA Reza a história, que há muitos anos atrás morava na vila de Vidago uma rapariga muito feia, tão feia que ninguém queria casar com ela. Por muitas tentativas que fizesse e muitos dotes que o pai prometesse, ninguém a queria como esposa. Um dia apareceu naquela vila um lindo rapaz com quem todas as raparigas queriam casar. Num dia quente de verão, estava este rapaz cheio de sede e a rapariga feia ofereceu-lhe um copo de água da fonte da vila. Após beber a água que parecia ter um feitiço, o rapaz apaixonou-se e casou com a rapariga. Ainda nos dias de hoje se diz que quem beber água daquela fonte casará com uma rapariga da vila.
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Rui Pedro Mota contada pela avó Lurdes
A VELHA E A CABAÇA Era uma vez uma velhota, que morava numa casinha à beira da serra. Quando queria visitar os netos, que moravam longe, tinha de dar uma grande volta para não atravessar a serra onde havia muitos lobos. Mas um dia em que a velhota foi ver os netos, resolveu ir pela serra por ser mais perto. No caminho encontrou um lobo. -Onde vais, velha? -Vou ver os meus netinhos. -Não vais, não que eu como-te. A velha pediu ao lobo que não a comesse ainda porque estava muito magrinha. E dizia mais isto: -Os meus netos tratam-me muito bem, eu engordo e depois à volta, tu comes-me e eu trago-te também arroz -doce para a sobremesa. Então o lobo deixou-a ir. Mais adiante, encontrou outro lobo a quem contou a mesma história. E o lobo deixou-a ir. Assim a velha chegou a casa dos netos, que a receberam e trataram muito bem. Mas ela que era uma velha muito corajosa, teimou que ia, que ia, mas dentro de uma cabaça grande para se proteger. Enfiou-se dentro da cabaça e lá foi. Um dos lobos, quando viu a cabaça, perguntou-lhe: -Ó cabaça, viste por aí uma velhinha? A velha dentro da cabaça disfarçou a voz e cantou assim: -Não vi velhinha nem velhão, corre, corre, cabacinha, corre, corre, cabação. E pôs-se a correr. Só se viam as pernas e as botas. Assim chegou a casa sem que os lobos lhe fizessem mal. Quanto aos lobos, parece que ainda estão à espera, de água na boca, que uma velha lhes traga uma tachada de arroz-doce.
Sophia Alexandra contada pela avó Lurdes Sophia
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2ยบD
LENDA SOBRE A ORIGEM DO MOSTEIRO DE SANTA MARIA DAS JÚNIAS Existe uma lenda de tradição sobre a origem do Mosteiro de Santa Maria das Júnias. Segundo essa história, o monumento religioso terá surgido por causa da aparição de uma imagem de Nossa Senhora com um menino nos braços, na cavidade de um carvalho, a um grupo de fidalgos que caçavam numa floresta a sueste da aldeia de Pitões. Encantados com a visão, os caçadores terão então prometido erguer naquele local um templo em honra de Nossa Senhora e um mosteiro anexo. O convento que agora está em ruínas, quando foi levantado, era formado por dois pavilhões em ângulo reto, com rés de chão e 1º andar. A parte interior do recinto, o denominado claustro, era fechado do lado oposto ao edifício por um muro e por uma arcádia gótica. Paralela a esta arcada foi erguida uma igreja, templo ogival, de uma nave, com a respetiva capela-mor. A igreja é atualmente, a construção que se encontra em melhor estado de conservação, apesar de precisar também de obras no telhado Ainda, segundo a lenda, além de construírem o mosteiro, os fidalgos dotaram-no também dos bens necessários ao sustento dos frades. Dai que as propriedades rurais situadas nas imediações de Pitões tenham pertencido ao convento. Apesar de não se saber ao certo, acredita-se que tenham sido treze frades, os primeiros a habitar o convento.
Adriana Azevedo contada pela mãe Cândida
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AS TRÊS MAÇÃZINHAS DE OURO Havia três irmãos, o mais novo tinha três maçãzinhas de ouro e os outros, para ver se lhas tiravam, mataram-no e enterraram-no no monte. Depois nasceu na sepultura uma cana. Certo dia passou por lá um pastor que cortou um pedaço de cana para fazer uma flauta. O pastor começou a tocar mas a gaita em vez de tocar dizia: -Toca, toca, oh pastor, os meus irmãos me mataram, por três maçãzinhas de ouro, e ao cabo não as levaram. O pastor quando ouviu isto, chamou o carvoeiro e deu-lhe a flauta. O carvoeiro começou a tocar, mas a flauta dizia: -Toca, toca, oh carvoeiro, os meus irmãos me mataram por três maçãzinhas de ouro, e ao cabo não as levaram. Assim foi a flauta andando de indivíduo em indivíduo até que chegou às mãos do pai e da mãe do morto. A flauta ainda dizia: -Toca, toca, oh meu pai…toca, toca, oh minha mãe, os meus irmãos me mataram por três maçãzinhas de ouro e ao cabo não as levaram. Chamaram o pastor que disse onde tinha cortado a cana. Foram lá e encontraram o cadáver com as três maçãzinhas de ouro.
Andreia e Daniela contada pela avó Preciosa Medeiros
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LENDA DA MOURA DA PONTE DE CHAVES Depois da conquista de Chaves pelos mouros ficou alcaide do castelo, um guerreiro. Este organizou o noivado entre o seu filho Abed e a sua sobrinha. A bela jovem não recusara Abed, pois nenhuns dos poucos mouros que ali ficaram lhe despertaram paixão Uns anos depois, os cristãos iniciaram a conquista da região de Chaves, tendo mesmo atacado a cidade. O alcaide e seu filho encabeçaram a resistência moura e a defesa do castelo. Numa ocasião, enquanto apreciava os combates, a sobrinha do alcaide fixou os olhos num belo guerreiro cristão que ganhava com os seus homens cada vez mais posições no castelo. No mesmo instante, surpreendido, o guerreiro parou a ofensiva. Interpelou-a acerca da presença de uma tão bela mulher num triste espetáculo daqueles. Perguntou-lhe também se estava só quando a moura respondeu que vivia com o tio, alcaide do castelo, o guerreiro mandou levá-la imediatamente para o seu acampamento. A luta prosseguiu entretanto. O castelo acabou por ser tomado, contudo, a jovem moura manteve-se refém dos cristãos e passou a viver feliz com o cavaleiro que a raptara. Abed nunca lhe perdoou. Depois de restabelecido de um ferimento de guerra, voltou a Chaves, disfarçado de mendigo. Um dia esperou a sua prometida na ponte e pediu-lhe esmola. A jovem estendeu a mão ao pedinte e nesse momento Abed olhandoa nos olhos disse-lhe que ficaria para sempre encantada sob o terceiro arco da ponte. Só o amor de um cristão, não aquele que a levou, poderia salvá-la. Disse-lhe também que esse cavaleiro nunca viria. Depois dessas palavras, a jovem moura, que tinha reconhecido Abed desapareceu para sempre. Desesperado, o guerreiro cristão que com ela vivia fez tudo para a encontrar. Mas a moura encantada da ponte de Chaves nunca mais apareceu…
Andreia e Daniela contada pela avó Preciosa Medeiros
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A HISTÓRIA DO LOBINHO Era uma vez três meninos que viviam com a mãe. Eram muito pobrezinhos. Um dia, a mãe disse para os filhos: -Ficai aqui que eu vou à cidade buscar comida para vós. Os meninos esperaram, esperaram...como a mãe não chegava eles resolveram ir procurá-la. Um decidiu ficar em casa e dois foram. Chegaram a meio do caminho, encontraram um lobinho que lhes disse: -Aonde ides, meus meninos? Pensando para ele: já tenho carne para comer! Os meninos desconfiaram e disseram-lhe: - Lobinho, tu tens fome? Anda connosco, nós temos lá uma perna de cordeiro que te damos. O lobinho todo contente foi com eles. Chegaram a casa e os três irmãos disseram-lhe: -Fica aqui na porta enquanto nós vamos preparar o cordeiro. Entretanto entraram e puseram uma panela com água a ferver e disseram ao lobinho: -Põe-te na janela e abre a boca. Quando o lobinho abriu a boca eles deitaram-lhe a panela de água a ferver. O lobinho fugiu muito descontente e foi assim que os três meninos se salvaram de ser comidos por ele.
Justin Chaves contada pela avó Rosa
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HISTÓRIA DOS 10 SOLDADINHOS Marcham 10 soldados, ai, ai como chove Um escorregou na lama, só ficaram 9, Os 9 soldados cearam biscoito Um comeu demais, só ficaram 8. Os 8 soldados seguem cadete, Perdeu-se um na estrada, só ficaram 7 Vão sete soldados apanhar papeis Um foge para casa, só ficaram 6 Estes seis soldados acharam um brinco, Um vai ao ourives, só ficaram 5 Os cinco soldados encontraram um rato, Um foge assustado e só ficaram 4 163
Os quatro soldados vão lavar os pés Cai um no ribeiro e só ficaram 3 Ficaram três soldados a guardar os bois Um vai para o terreiro e só ficaram 2 Dos dois, um deitou-se a fazer ó ó Foi-se embora o outro e ficou 1 só Este era o tambor e fez tum-tum-tum Cai de cansaço, não ficou nenhum.
Gonçalo Alves contada pela avó Maria Marcolina
A CARRUAGEM E A MOSCA Num caminho difícil, de pedras e muita areia, seis cavalos puxavam uma carruagem. Mulheres, um padre, velhos, todos desceram; os animais suavam, sofriam, não aguentavam mais. Uma mosca apareceu e aproximou-se dos cavalos tentando com o seu zumbido, animar os tão sofridos. Morde um, morde outro e voa sem parar certa de que fará a máquina funcionar. Senta-se nas rédeas e no nariz do cocheiro. Enquanto o carro vai rodando, vê as pessoas a caminhar e acha que o mérito é dela. Vai e vem, põe as mãos à obra, mais parece um sargento a fiscalizar a manobra. Precisa de fazer avançar a tropa e alcançar a vitória. A mosca a certa altura põese a reclamar que só ela tinha que trabalhar, que ninguém a ajudava a tirar os cavalos das dificuldades. O padre lia no seu livro, que perda de tempo! Uma mulher cantava, não era dessa música que ela precisava! Então resolve cantar-lhes ao ouvido e cria a maior confusão. Depois de muito trabalho, a carruagem chega ao destino -Vamos respirar, diz a mosca aliviada. Eu fiz tanto para que chegassem a planície que agora, senhores, quero o meu salário. Há muitas pessoas que, como a mosca, se metem nos problemas dos outros, acham-se insubstituíveis. Deveríamos correr com elas!
Gonçalo André contada pela Dona Ivone
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O QUE ESTÁ NA GAVETA? O que está na gaveta? Uma fita preta. O que está na varanda Uma fita à banda. O que está na janela? Uma fita amarela. O que está no telhado? Um gato pingado O que está no poço? Uma casca de tremoço O que está atrás da porta? Uma velha torta O que está no ninho? Um passarinho
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Vamos ver se ele chia? Chiiiiiiiiiiiiiii!
Gonçalo Alves contada pela avó Maria Marcolina
LENDA DE MARIA MANTELA Morava Maria Mantela com seu marido Fernão Gralho, numa casa da Rua da Misericórdia, nas proximidades da Igreja Matriz. Era um casal abastado, que vivia dos rendimentos. Um dia, achando-se Maria Mantela grávida, passeava com o marido nos arredores da vila, quando foi abordada por uma mulher pobre com dois filhos gémeos abraçados ao peito, implorando lacrimosa uma esmola para minorar a sua miséria e a das suas criancinhas. Dela se compadeceu o marido que generosamente a socorreu. A sua mulher, pelo contrário, tratou-a duramente, colocando em dúvida a sua honestidade, por não compreender que, mulher de um só homem, pudesse de uma só vez gerar mais que um filho. A mendiga, sentindo-se injuriada, respondeu-lhe fazendo votos de que Maria Mantela não fosse castigada pelo que acabava de dizer, já que também estava grávida. Esta mensagem ficou sempre no espírito de Maria Mantela e uma certa sensação de remorso angustiava-a diariamente. Quando Maria Mantela deu à luz, nasceram sete gémeos, todos gerados ao mesmo tempo, apesar de ela ser fiel ao marido. Ficou tão aflita lembrando-se do que tinha pensado e dito à mãe dos gémeos que não teve coragem de apresentar ao marido os sete filhos, pelo que ele poderia pensar dela. No seu estado de aflição e loucura, encarregou a ama da casa que lançasse ao rio Tâmega seis dos recém-nascidos, deixando ficar somente o que lhe parecesse mais robusto e bem constituído. A ama saiu, ao cair da tarde, para cumprir a missão, levando num cesto coberto os seis gémeos e preparava-se, a meio das Poldras, para lançar na forte corrente do rio os pequenos inocentes, quando avistou o Fernão Gralho que a observava da margem do rio. Veio ao seu encontro e inquiriu-a sobre o que fazia com aquele cesto, naquele local. A mulher procurou uma desculpa dizendo que a cadela tivera sete cachorrinhos e que ela vinha afogar seis, ficando em casa o de melhor raça. Porém o Gralho, pediu para os ver e então deparou com os seis meninos. Fernão Gralho, como homem compassivo que era, compreendeu a loucura da esposa que estivera a ponto de cometer um crime que a acompanharia toda a vida e perdoou-a desde logo. Tomou conta do cesto e ordenou à criada que fosse para casa participar o cumprimento das ordens que a senhora lhe dera, guardando segredo sobre a entrega dos recém-nascidos. E, de seguida deslocou-se a seis aldeias do concelho de Chaves a confiar a outras tantas amas a sua criação.
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Passaram dez anos sem que Fernão Gralho desse a entender à esposa o segredo que guardava. Para ela era uma tortura o crime que havia cometido com os seus filhos. O dia de ano novo, desse ano que começava, decidiu o Gralho festejá-lo com um lauto banquete, do que informou a mulher pedindo-lhe que tratasse de tudo pois tinha seis amigos como convidados. À hora da refeição, quando Maria Mantela se dirigiu à mesa do banquete ficou muda de espanto; é que sentados, não estava só o filho, estavam sete rapazinhos todos iguais em feições e vestuário, de tal forma que ela não sabia dizer qual era o que ela tinha criado. O marido então esclareceu todos os acontecimentos acalmando enfim o sofrimento daquela alma tão longamente angustiada. Os sete gémeos, diz ainda a lenda. Tornaram-se sete padres, paroquiando sete igrejas que fundaram com a invocação de Santa Maria. São elas a Igreja de Santa Maria de Moreiras, Santa Leocádia, Santa Maria de Calvão, o mosteiro de Oso já desaparecido e metade da Igreja Matriz de Chaves, Santa Maria de Émeres no concelho de Valpaços e São Miguel de Vilar de Perdizes do concelho de Montalegre. Na Igreja de Santa Maria Maior de Chaves, junto ao altar-mor, em tempos passados existia um epitáfio, testemunho real da fundamentação da lenda e que dizia: "Aqui jaz Maria Mantela, com seus filhos à roda dela".
Ivan Branco contada pelo avô Artur Branco
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O GALO E A PÉROLA Um galo achou num terreiro Uma pérola, e ligeiro Corre a um lapidário e diz: -Isto é bom, é de valia De milho um grão todavia Era achado mais feliz
Um néscio ficou herdeiro De um manuscrito, e a um livreiro Vai á pressa e diz: -É bom, é livro acabado Concordo, mas um ducado Valia mais para mim!
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Lívia contada pela avó Fernanda Maria
A LENDA DA FONTE DA URZE Em Carrazedo de Montenegro há uma fonte, que lhe chamam a fonte da urze. Dizem as pessoas mais velhas, que nessa fonte existe uma cobra que é uma moura encantada e um tesouro escondido. A cobra costuma aparecer à meia-noite e se quem por lá passar não tiver medo, ela transforma-se numa linda mulher e mostra onde está o tesouro. Mas, como toda a gente tem medo, nunca ninguém o encontrou!
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Sérgio Pinto contada pelo avô Sérgio Rogério Pinto
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2ยบE
O RAPAZ E O LOBO Numa aldeia perto da cidade de Chaves, morava um rapaz que namorava com uma moça que vivia numa aldeia vizinha. Entre as duas aldeias havia uma floresta com bastante mato e pinheiros. O rapaz quando chegava à noite saía de casa para se encontrar com a namorada sem ninguém saber. No caso de os pais irem ao quarto ver se ele estava a dormir, ele esperto, punha as almofadas e roupas a fazer de conta que estava lá deitado. Porém certo dia, uma senhora que era a madrinha dele sonhou que ele estava a ser atacado por um lobo. Aflita dirigiu-se à casa dos seus compadres a perguntar pelo afilhado. Eles responderam que descansasse que ele estava a dormir. A madrinha voltou para casa e durante a noite tornou a sonhar que o afilhado estava a lutar com lobos. Tornou à casa do afilhado e os compadres já aborrecidos foram ao quarto e viram que estava a dormir.
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Não satisfeita a madrinha quis ver e falar com o afilhado. Chegou-se à cama e viu as almofadas e as roupas mas não o rapaz. Ficou completamente em sobressalto. Juntaram-se umas quantas pessoas com lanternas e foices e foram à procura dele pelo caminho do monte. Quando a certa altura, para terror das pessoas encontraram um casaco e as botas ainda com os pés dentro e tudo cheio de sangue. Acontecera uma grande desgraça, o pobre do rapaz tinha sido mesmo atacado e comido pelos lobos. A madrinha completamente desfeita disse que se lhe tivesse dado ouvidos logo da primeira vez que a avisava, poderiam ter evitado o pior. Foi uma tragédia muito grande para toda a população.
André Filipe Alves contada pelo avô Quintas
HISTÓRIA DE VIDA DA MINHA AVÓ Os meus avós maternos vieram de Angola. A minha avó foi para lá com quatro anos e foi aquela terra que a viu crescer. Ela fala-me muito daquela terra que recorda com saudade. Vivia em Cabinda, terra de petróleo. Diz ela que não há coisa mais linda que aquelas plataformas no mar, com as suas chamas iluminando o céu. Fala-me das praias, com aquelas águas límpidas, calmas e quentes. Do pôr-dosol que prateia as suas águas, ou do nascer do sol grande e resplandecente. O clima e a cultura completamente diferentes daqui. Também me fala sobre o seu tempo de escola. Conta a minha avó que ao começar e acabar a escola se rezava e era obrigatório cantar o hino nacional por amor e dever com a pátria. Foi na escola que a minha avó aprendeu a bordar e a fazer certos trabalhos manuais e sente muitas saudades. Para a minha avó o regresso a Portugal, aos dezoito anos, foi um choque foi como se tivesse sido transplantada para outra dimensão. Não havia o calor humano, a maneira de vestir era outra, a escola era diferente, o clima frio, a comida era diferente. Se contasse nesta folha tudo o que a minha avó fala certamente não chegariam algumas dezenas de folhas. Estas são só meia dúzia de palavras para descrever a saudade da minha avó.
Beatriz Mendes contada pela avó Cristina
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A RAPOSA E A CEGONHA Eram dois colegas muito amigos. A raposa convidou a cegonha para o jantar, mas ela tentou enganar a cegonha. Fez um mexido e meteu-o dentro de um prato. A cegonha com o bico grande tentava, mas não apanhava nada. Noutro dia foi a vez da cegonha convidar a raposa. Fez o jantar e meteu-o dentro de uma garrafa. A raposa bem metia a língua mas não apanhava nada Ela bem olhava mas não comeu nada.
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Beatriz Sofia contada pela avó Joaquina
"ALGUNS PROVÉRBIOS DOS MESES DO ANO" - Em Janeiro um saltinho de carneiro. -Janeiro greleiro, não enche o celeiro. -Fevereiro afoga a mão no ribeiro. -Quando não chove Fevereiro nem bom prado, nem bom celeiro. -Março, Marçagão, de manhã Inverno, de tarde Verão. -Março virado de rabo, é pior que o diabo. -Em Abril águas mil coadas por um funil. -Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado. -Em Maio, as cerejas come-as a velha ao borralho. -Mês de Maio, mês das flores, mês de Maria, mês dos amores. -Em Junho, foucinha no punho. -Ande o Verão por onde andar, no S. João há-de chegar. -Em Julho abafadiço, fica a abelha no cortiço. -Julho quente, seco e ventoso, trabalho sem repouso. -Em Agosto dá o sol pelo rosto. -Em Agosto, toda a fruta tem seu gosto. -Em Setembro ardem os montes e secam as fontes. -Setembro molhado, figo estragado. -Em Outubro sê prudente: guarda pão e semente. -Outubro sisudo, recolhe tudo. -Novembro à porta, gado na horta. -No dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho. -Pelo Natal saltinho de pardal. -Ande o frio por onde andar, pelo Natal cá vem parar. Diogo Carvalho contado pelo avô Joaquim
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CACARACÁ Cacaracá ponte na pá, faz um bolinho ó Joãozinho, anda na arada com boi de palha, outro de nada foi um passarinho quebrou-lhe a aguilhada.
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Hugo Alves contada pela avó Delmina
A RAPOSA E O GALO Uma raposa viu um galo pousado em cima de um pinheiro e não podendo agarrá-lo, começou-lhe a falar cá de baixo. - Oh galo, não sabes? Veio agora uma ordem para que todos os bichos serem amigos uns dos outros. Nós cá as raposas já não temos guerra com os cães, estamos amigos e tu podes descer cá para baixo, que eu já te não faço mal. Estava nisto quando vem uma matilha de cães, e farejando-lhes a raposa, botamse atrás dela. A raposa ia sendo agarrada, mas fugia o mais que podia. O galo, de cima do pinheiro gritava-lhe: -Mostra-lhe a ordem! Mostra-lhe a ordem! A raposa, ainda de longe lhe respondia: -Não tenho vagar! Não tenho vagar! E fugia por entre uns tremoçais, que já estavam secos. Faziam uma grande bulha e ela dizia: -Ai que rica festa, e logo hoje que vou com tanta pressa.
UMA HISTÓRIA MEDIEVAL Igor, tinha eu mais ou menos a tua idade quando minha mãe Glória tua bisavó me contou esta história. Fiquei fascinado com a maneira que minha mãe a contava de viva voz, conforme a narrava eu me transportava para bem dentro dela, minha imaginação não tinha limites. Vem comigo, vamos vivê-la... Em tempos que já lá vão, em que a Península Ibérica estava dividida entre os Mouros e os descendentes dos Visigodos, nasceu uma lenda de um amor destinado a ser impossível. Vivia então no castelo de Almourol um nobre godo de seu nome D. Ramiro, com a sua mulher e uma filha única chamada Beatriz. D. Ramiro era um chefe guerreiro que travava frequentes batalhas contra os mouros, tendo fama de impiedoso e cruel. Um dia voltava das suas guerras quando já próximo do seu castelo avistou duas belas mouras, mãe e filha, transportando água numa bilha. O nobre godo parou o seu
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cavalo e pediu-lhes de beber mas as mouras assustara-se e deixaram cair a bilha de água que se partiu. O impaciente D. Ramiro ficou cheio de raiva e logo ali a matou com a sua lança, mas antes de morrer a moura mais jovem amaldiçoou o cavaleiro cristão e toda a sua descendência. Aos gritos de morte das mouras, acorreu um rapaz de onze anos, filho e irmão das infelizes, que ficou estarrecido perante o terrível e inevitável sucedido. D. Ramiro levou o jovem mouro como escravo para o castelo e pô-lo ao serviço de sua filha Beatriz. O mouro jurou vingar-se da morte das mulheres da sua família e, passados alguns anos, a mulher de D. Ramiro morreu envenenada, cumprindo-se assim a primeira parte da vingança. D. Ramiro, cheio de desgosto, resolveu ir combater os infiéis deixando Beatriz à guarda do mouro que não conseguiu cumprir a segunda parte da sua jura. Na verdade, Beatriz e o mouro apaixonaram-se perdidamente. Mas um dia D. Ramiro voltou ao seu castelo acompanhado pelo pretendente a quem tinha concedido a mão da sua filha. O apaixonado mouro preferia morrer a perder a sua Beatriz e contou-lhe a história da sua desgraça e as juras de vingança. Não se sabe muito bem o que se passou depois mas decerto que Beatriz lhe perdoou. A lenda conta que Beatriz e o mouro desapareceram como por encanto e que D. Ramiro morreu pouco depois cheio de remorsos. Diz quem sabe, que no dia de S. João as almas do mouro e de Beatriz ainda hoje aparecem na torre do castelo, e que D. Ramiro, rojado a seus pés, pede eterno perdão pelos seus crimes.
Igor Ferreira contado pelo avô Tony
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LENGALENGA DA TIA CARRIÇA - Para onde vais velha? - Vou pra serra! - Que vais lá fazer? - Vou à lenha? - Porque é a lenha? - Para cozer o pão! - Para que é o pão? - Para dar às galinhas! - Para que são as galinhas? - Para por os ovos! - Para que são os ovos? - Para dar aos padres!
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- Para que são os padre? - Para rezar a missa - Por alma da tia carriça!
João Carneiro contada pela avó Alcina
A AVÓ A avó que tem oitenta anos, Está triste e velhinha! Teve tantos desenganos! Ficou branquinha, branquinha, Com os desgostos humanos.
Hoje, na sua cadeira, Repousa pálida e fria, Depois de tanta canseira: E cochila todo o dia E cochila toda a noite.
Às vezes porém o bando Dos netos invade a sala… Entram rindo e papagueando: Este briga, aquele fala, Aquele dança, pulando…
A velha acorda sorrindo, E a alegria a transfigura Seu rosto fica mais lindo Vendo tanta travessura E tanto barulho ouvindo.
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Chama os netos adorados, Beija-os e tremulamente, Passa os engelhados, Lentamente, lentamente Por seus cabelos dourados.
Fica mais moça e palpita E recupera a memória Quando um dos netinhos grita: “Ó vovó! Conte uma história! Conte uma história bonita!”
Então com frases pausadas, Conta histórias de quimeras, Em que há palácios de fadas, E feiticeiros e feras E princesas encantadas…
E os netinhos estremecem Os contos acompanhando E as travessuras esquecem Até que a fronte inclinando Sobre o seu colo adormeceu…
Margarida Alexandra contada pela avó Olívia
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A PRIMAVERA Na primavera disse Deus: - Ponham-se à mesa as abelhas Todas as árvores se enchem de flores. No verão disse Deus: - Ponham-se à mesa as lagartas Todas as árvores se enchem de folhas tenras. No Outono disse Deus: - Ponham-se à mesa os passarinhos Enchem-se as árvores de deliciosos frutos. No inverno vêm das montanhas Os turbilhões do vento e disse Deus: - Cubra-se o resto Tudo dorme e descansa. 181 AS SEMENTES Deito as sementes à terra A terra que me dá o pão E com lágrimas regadas Terra do meu coração. As sementes ao calor No seio da terra mãe Rebentam em flores Tudo nela se dá bem Deito as sementes à terra Terra que me dá o pão.
Mariana Loivos contada pela avó Maria de Jesus
O LOBO E OS CABRITINHOS Era uma vez uma ovelha e sete cabritos que viviam numa casinha velha. A mãe deles tinha que ir à vila e todos os dias deixava os filhos sozinhos, mas havia um lobo muito mau que ia todos os dias bater à porta dos cabritinhos para os comer, mas a mãe deles antes de sair avisava os filhos para não abrirem a porta porque podia ser o lobo mau. Ela dizia aos filhos para perguntarem quem era. Um dia o lobo bateu à porta e eles perguntaram quem era e o lobo respondeu: - Sou a vossa mãe. Eles responderam: - Se és a nossa mãe mete a pata debaixo da porta. O lobo meteu a pata debaixo da porta, mas não era a pata da mãe porque a da mãe era branca e a do lobo era preta. Os cabritinhos disseram que não era a mãe. O lobo foi embora mas, passado um bocado voltou a bater à porta e os cabritinhos voltaram a perguntar quem era. O lobo respondeu: - Sou a vossa mãe já voltei.
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- Então mete a pata debaixo da porta. O lobo era esperto e tinha posto as patas na farinha e eles como viram as patas brancas pensavam que era a mãe e abriram a porta. O lobo comeu todos os cabritinhos menos um que se tinha escondido no relógio. Quando a mãe chegou perguntou o que tinha acontecido e onde estavam os irmãos. O cabritinho contou o que tinha acontecido. A mãe foi procurar a lobo e encontrou-o a descansar debaixo de uma árvore. Abriu a barriga do lobo e tirou-lhe os cabritinhos. Depois de saírem a mãe teve uma ideia. Meteu pedras na barriga do lobo e coseu. Quando o lobo acordou teve sede e foi beber ao lago, mas quando estava a beber caiu no lago e morreu afogado.
Mariana Isabel Teixeira contada pela avó Ermelinda
HISTÓRIA DA VIDA DO MEU AVÔ O meu avô foi para a guerra em 1961, no ultramar onde foi lutar pela pátria como voluntário durante muito tempo. Quando já não havia guerra veio à sua terra natal para ver os seus irmãos e os seus pais. Foi então que conheceu a minha avó, por quem se apaixonou e casou. Depois foi para Luanda onde formou a sua família. Foi lá onde a minha mãe e o meu tio nasceram e foram criados até que rebentou a guerra em 1975. Foi então que voltaram para Portugal e com ele trouxe a sua família e foi com muita pena que deixou para trás uma terra com lenda, com pessoas afáveis e de bom coração que não ligavam para as coisas materiais e eram muito humanas umas com as outras. O meu avô era um homem muito rico que teve que deixar para trás tudo quanto tinha para poder salvar a sua família, que era o tesouro que ele mais apreciava. Quando chegou teve que lutar para sobreviver à discriminação das pessoas que aqui viviam e teve que começar uma nova vida para a sua família e fazer novos amigos. Conseguiu apesar das dificuldades que encontro para ele e para a sua família até que a minha avó faleceu. O meu avô ficou triste e já não lutou para ter uma vida mais humana. Agora vive com uma família de acolhimento porque ele disse que a minha mãe não podia tomar conta dele e de quatro filhos e porque é uma mulher muito doente, mas ainda tem saudades do que deixou no ultramar que era gente muito diferente das pessoas que vivem em Portugal mas também não quer lá voltar, para não levar uma desilusão porque o que lá deixou já não está, para sua tristeza. Esta é a história do meu avô que se chama Alberto e da mulher que ele amou Maria a minha avó que deixou muita saudade e tristeza no dia que faltou para sempre.
Nuno Bispo contada pelo avô Alberto
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OS TRÊS PORQUINHOS Era uma vez três porquinhos. Eram três irmãos muito amigos, mas muito diferentes. O mais velho era o mais cauteloso e trabalhador. O do meio guardava sempre algum tempo para se divertir e o mais novo não pensava noutra coisa a não ser em brincadeira. O mais velho vivia preocupado com receio de que o Lobo Mau aparecesse inesperadamente e não se cansava de dizer aos irmãos mais novos: -Vou construir uma casa, quero evitar o perigo por isso vou usar tijolos, cimentos...Vamos ver o que consigo! Por isso, vou começar e vou ganhar tempo. Irmãos, venham comigo, não percamos tempo. Depois de ouvir estas palavras, o irmão do meio achou que talvez o mais velho tivesse alguma razão e sugeriu ao mais novo que, juntos, construíssem uma casa com paus e ramos de árvores. Mas o mais novo não lhe deu importância. Enquanto os irmãos mais velhos se ocupavam a construir as suas casas, ele continuou a brincar sozinho. Até que pensou um pouco e achou que, se calhar, o lobo podia aparecer a qualquer momento. Por isso, decidiu que também ele ia construir uma casa, mas de palha. Não perderia tanto tempo e, no final do dia, ainda podia divertir-se com os seus irmãos. O lobo, que andava por perto e que tinha sempre o faro muito apurado, seguiu o cheiro a porquinho, foi andando... Chegou à casa de palha e bateu à porta: -Abre, sou o Lobo Mau e quero entrar. .. O irmão mais novo respondeu: -Nem pense, não vou abrir. Aqui dentro não corro perigo! -Ah, ah, ah! Vou encher o peito de ar e fazer essa casa voar...Fiuuu, fiuuu, fiuuu... Num instante a casa de palha desapareceu e, cheio de medo, o porquinho fugiu rapidamente chegou a casa do irmão do meio e contou-lhe o que tinha acontecido.
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Estavam certos de que ali não iriam ter problemas com o lobo, mas logo a seguir, ouviram bater à porta: -Abram a porta! Sou o Lobo Mau e estou cheio de fome. Quero entrar! Os dois irmãos responderam: - Vai-te embora, deixa-nos em paz! - Isso é que era bom! Com um sopro de leão, esta casa vai ao chão. Fiuuu, fiuuuu, fiuuuu... E a casa passou a ser um monte de paus e de ramos. Os dois irmãos correram em direcção à casa do irmão mais velho, que era mais segura e feita de tijolos. O Lobo seguiu-os: -Agora que estão juntos, vou ter um almoço de Rei! Com um sopro de gigante, esta casa fica em nada, num instante.. . Fiuuu, fiuuuu, fiuuuu... Mas a casa continuava de pé e lá dentro ouviam-se os três irmãos. O lobo estava furioso. Não se conformava, queria mesmo deliciar-se com aqueles porquinhos. Então, deu uma volta à casa e percebeu que saía fumo da chaminé. Imediatamente, subiu até ao telhado. Primeiro enfiou uma pata dentro da chaminé, depois outra e deixou-se escorregar. Mal sabia o que estava, lá em baixo, à sua espera...um panelão cheio de água a ferver: -Aiiiiiii, aiiiiiii, aiiiiiii, que vou ficar escaldado! O lobo desatou a fugir e nunca mais se ouviu falar dele nas redondezas. Os três porquinhos ficaram radiantes. Finalmente tinham conseguido livrar-se do Lobo Mau e era preciso comemorar. Então começaram a cantar e a dançar.
Sérgio Nascimentos contada pela avó Isabel
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AVÓS, NETOS - NETOS, AVÓS" DUAS GERAÇÕES QUE SE COMPLETAM. Não há duvida que os avós por mais jovens que sejam, têm sempre histórias da sua infância para transmitir aos seus netos, aproveitando para tirar partido do tão célebre ditado popular" recordar é viver". E, assim sendo, eis a história.
O CAVALO DO CAPITÃO Estes factos que vou narrar passaram-se por volta de 1930 e são baseados na vida real das personagens. Numa aldeia, de Trás-os-Montes, perto da fronteira, havia um quartel da Guarda-fiscal pois o contrabando entre Portugal e Espanha era bastante, não só de volfrâmio durante a primeira e segunda Guerras Mundiais, mas de outros produtos como café, alpercatas, utensílios agrícolas, etc, etc. Havia também muita emigração para o Brasil e outros países, ficando muitas vezes as mulheres sozinhas a criarem os filhos e cultivar algumas terriolas. Ora muitas vezes, os guardas aproveitando-se da solidão das mulheres, abusavam delas e apareciam, de vez em quando, filhos de maridos ausentes. Nesse quartel havia várias praças e um capitão que era dono de um lindo cavalo branco, meio de transporte para a cidade mais próxima e de passeio pelos campos da aldeia. Esse capitão entrou de amores com uma mocinha bonita e roliça, cujo marido estava para o Brasil. A população indignada, pois não era a primeira mulher a ser seduzida, resolveu dar uma lição aos dois; a ele envenenou o cavalo, a ela deram uma grande tareia deixando-a cheia de nódoas e a escorrer sangue na cara e no nariz. Domingo, à saída da missa, estava grande cavalaria do exército à porta do adro, que tem duas entradas. Obrigaram o pessoal a sair pela porta debaixo que dá para o largo. Na outra colocaram uma sentinela e esperaram a saída dos populares. A senhora ferida ia identificando os que lhe tinham feito mal esse sim, aquele não, quase toda população foi presa e convocada. Sobraram velhos, crianças e a família do Professor que não se metiam nessas alhadas.
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À noitinha toca a marchar para o quartel no meio dos guardas, a cavalo que seguiam à frente, atrás e no meio. Uma vez que iam presos resolveram cantar e tocar com objetos improvisados. Das próximas aldeias corriam todos à estrada para ver o cortejo. Ora, o professor era amigo pessoal e tinha sido colega de turma do Comandante do quartel dessa cidade e seguiu por outro caminho pela serra para não ter maus encontros, foi procurar amigo. Descobriu-o num café. - Olha, a minha gente vem aí presa. Embora tenham procedido mal, só quiseram defender a honra dos maridos ausentes e dar um aviso à Guarda-fiscal que nem sempre procede como deve. Não cometeram nenhum crime grave. O Comandante dirigiu-se ao quartel, deu-lhe as guias de absolvição e disse-lhe: - Vai ter com eles antes que entrem na cadeia porque depois é mais difícil soltálos. Imagine-se a alegria daquela gente. Era madrugada quando chegaram à aldeia. A casa do professor ficava situada num largo onde há um pelourinho. Aí cantaram e deram vivas ao Professor e família até ser dia. Como gente agradecida pelo bem que lhe tinham feito, durante alguns anos encarregaram-se de podar e tratar das vinhas do seu benfeitor. Quando este ia para as mandar trabalhar já o serviço estava feito. Durante muito tempo falou-se na morte do lindo cavalo que morreu envenenado. Esta é das muitas histórias verídicas que gravo e guardo na minha memória.
Cláudia Sofia Matos Cardoso contada pela avó Francisca
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ROLA GALETTE... Numa pequena casa perto da floresta vivia um velho e uma velha. Um dia o velho diz à velha: - Gostaria de comer uma galette... -Poderia fazer-te uma - responde a velha - se tivesse farinha. Vamos encontrar um pouco - diz o velho. Sobe ao sótão, barre o chão, e talvez encontres grãos de trigo. -É uma boa ideia - diz a velha - e sobe ao sótão, barre o chão e apanha os grãos de trigo. Com os grãos de trigo ela fez farinha; Com a farinha fez uma galette e meteu-a a cozer ao forno. Aqui está a tua galette. - Ela está muito quente! - diz o velho. Deves mete-la a arrefecer! E a velha pousa a galette em cima da janela. Depois de um momento a galette começou a ficar aborrecida. Devagar, ela deixa-se escorregar do rebordo da janela, cai num jardim e continua o caminho. Ela roda, ela roda cada vez mais longe... e então ela encontra um coelho. - Galette, galette, eu vou-te comer - grita o coelho. -Não - diz a galette - em vez, escuta a minha pequena canção. E o coelho prepara os seus longos ouvidos. "Eu sou a galette, a galette, Eu sou feita de trigo apanhado no sótão. Meteram-me a arrefecer, Mas eu preferi correr" Apanha-me se puderes! E ela foge tão depressa, tão depressa que acaba por desaparecer na floresta. Ela rola, rola pelo caminho e encontra o lobo cinzento. Galette, galette, eu vou-te comer - grita o lobo cinzento. -Não, não - diz a galette; em vez, escuta a minha pequena canção. "Eu sou a galette, a galette, Eu sou feita de trigo apanhado no sótão.
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Meteram-me a arrefecer, Mas eu preferi correr” Apanha-me se puderes! E ela foge tão depressa, tão depressa que o lobo não a consegue apanhar. Ela corre, ela corre dentro da floresta até que encontra um grande urso. -Galette, galette, eu vou-te comer, grita o urso com a sua voz grossa -Não, não - diz a galette; em vez, escuta a minha pequena canção. "Eu sou a galette, a galette, Eu sou feita de trigo apanhado no sótão. Meteram-me a arrefecer, Mas eu preferi correr” Apanha-me se puderes! E ela foge tão depressa, tão depressa que o urso não consegue apanha-Ia. Ela rola, rola cada vez mais longe até que encontra uma raposa. -Bom dia, galette - diz a malandra da raposa. Como tu és redonda, como tu és dourada!
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A galette, com muito orgulho, canta a sua pequena canção e durante esse tempo, a raposa aproxima-se, aproxima-se, e quando ela está muito perto, muito perto, pergunta-lhe: - Que estas a cantar galette? Sou velha, sou surda, e queria bem te ouvir. Que estas a cantar? Para melhor fazer-se escutar-se, a galette salta para o nariz da raposa, e, da sua pequena voz, a galette começa a cantar: “Eu sou a galette, a galette Eu sou feita de... Mas, HAM! .............A raposa comeu-a.
Hugo Cunha contada pela avó Palmira Monteiro da Silva
A CAMINHO DO CASTELO Era um caminho muito comprido o que tinha de percorrer para chegar à casa onde vivia o feiticeiro. Era já meio-dia, quando os cinco caminhantes, deixaram o vale onde se tinham conhecido. Descansaram um pouco e, começaram a subir umas montanhas enormes e, quando já era quase noite, avistaram ao longe um castelo no alto de um pico da montanha mais elevada. Entre todos animaram o leão, que era o único que tinha medo de tudo porque era terrivelmente medroso. Por fim chegaram ao castelo do Feiticeiro de Oz com a esperança de que ele solucionasse todos os problemas dos três novos amigos.
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João Luís Moreira Martins contada pela avó São
O LAVRADOR E O POBRE Estando um lavrador em casa, um pobre à sua porta batia e esmola lhe pedia. Mandou entrar o pobre e à criada dizia: - Faz lume ao pobrezinho! E o pobre se aquecia. Mandou-lhe fazer a comida, do melhor que em casa tinha, mas o pobre não comia. Mandou-lhe fazer a cama de damasco e seda fina, mas o pobre não dormia. Durante a noite o pobrezinho gemia 192
Levantou-se o lavrador a ver o que o pobre tinha. Encontrou-o crucificado numa cruz de prata fina. O lavrador disse: - Ó Senhor, se eu soubesse que em minha casa vos tinha mandaria fazer preparos do melhor que encontraria. Disse-lhe Jesus: - Cala-te, cala-te, ó lavrador, não fales com ousadia! No céu está preparado um lugar para ti e para a tua criada que também o merecia. Moral da lenda: "quem dá aos pobres empresta a Deus João Ricardo Bento contada pelos avós maternos
O QUE MAIS SABIA Uma vez um pequenito perdeu-se numa montanha. Andou, andou muito tempo, até que, quase a chorar, viu uma porta tamanha que só visto... pois contado ninguém quer acreditar. Pensou até que um gigante ali estivesse escondido. Mas a noite vinha perto, andavam lobos no monte e a casa estava distante. Bateu à porta confiante. Talvez fosse recebido... Um velho é que veio abrir. Era alto, muito alto, mas não parecia ser mau, vinha encostado a um pau e ao ver quem tinha batido, o velho pôs-se a sorrir. - Andas perdido pequeno? - Ando perdido nos montes, não sei voltar à aldeia... - Então entra... – disse o velho. - Descansas cá esta noite e comes da minha ceia. E assim foi. Depois da ceia puseram-se a conversar. - Eu sou... – disse o velho –... Um sábio que quer o mundo salvar. Passei toda a minha vida curvado a ler pergaminhos. Mas a missão que me impus tenho-a quase terminada. Além naqueles cadinhos, por descoberta que fiz, já fabriquei muito ouro. E o mundo será feliz... todos terão um tesouro...O pequeno olhou em volta... Inocente como era, na ideia da riqueza, não via nada daquilo... Ser rico é correr à solta, é gozar a natureza, é amar a Primavera e ser leve como um esquilo. É abrir de par em par os olhos e o coração... É ter água para a sede, ter alegria e ter pão... - Ouro? Para quê o ouro? Eu cá não preciso dele... – declarou com decisão. - Eu até sou muito rico, pode crer, meu bom senhor. Tenho pai e tenho mãe, uma irmã e um irmão... Sou muito rico... de amor... Ao ouvir esta resposta o velho ficou pensando. Olhou para os seus cadinhos, olhou depois para o céu. E numa voz muito doce disse, ainda murmurando: - Sabes bem mais do que eu...
Maria Beatriz Ramos Aleixo contada pela avó Rosa
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LENDA DAS ANDORINHAS Num campo da Nazaré cheio de luz, o menino Jesus brincava amassando barro, fazia passarinhos e punha no chão. Um homem mau passou junto dele e tentou esmagá-los com os pés. Jesus aflito bateu as mãos e os passarinhos de barro voaram para muito longe. Assim nasceram as andorinhas! Que poisavam sobre o beiral da casa onde vivia Jesus. Diz a lenda que do barro de que foram feitas construiu com amor, o seu primeiro ninho. A lenda diz-nos que, quando Cristo foi crucificado as andorinhas com os seus bicos tiraram-lhe a coroa de espinhos que tanto o magoava. Perante tamanha dor as suas asas cobriram-se de luto.
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Tiago Alves contada pela avó Luísa
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HISTÓRIAS DE SANTO ESTÊVÃO Santo Estêvão fica próximo de Vila Verde da Raia. Os habitantes de Santo Estêvão não gostavam dos habitantes de Vila Verde da Raia e, nas festas de Verão que havia nas localidades próximas tentavam sempre fazer confusão. E diziam uns para os outros que os de Vila Verde eram “Raiotos” e os de Santo Estêvão eram Cucos. E chegou-se à conclusão de que os de Santo Estêvão eram Cucos porque em Santo Estêvão havia muitos pinhais e, os de Vila Verde eram “Raiotos” porque estavam perto da fronteira entre Portugal e Espanha. Esta história marca os habitantes de Vila Verde e os de Santo Estêvão.
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Daniela Alexandra Pinheiro contada pela avó Maria Fernanda Alves Dias
A SOPA DE PEDRA Era uma vez um frade que andava a pedir esmola, até que chega à porta de um lavrador, mas não lhe deram nada. O frade com demasiada fome, disse que ia fazer um caldo de pedra. Pegou numa pedra sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para a pedra para ver se era boa para fazer a sopa. A família do lavrador começou a rir do frade e da pedra. O frade perguntou-lhes se nunca tinham comido um caldo de pedra, que era coisa muito deliciosa. Eles responderam que queriam ver isso. O frade pediu um bocadinho de pucarinho. Deram-lhe a panela, o frade pôs-lhe água e a pedra e pôs a panela nas brasas. Quando a panela começou a chiar, o frade pediu um bocadinho de unto porque ficava muito boa. Deram-lhe o unto. Quando o frade provou a sopa disse que precisava de um bocado de sal. Foramlhe buscar o sal. Temperou-a e provou-a, disse que faltava as couves. A dona foi à horta e trouxe a couve. O frade limpou-as deitando as folhas para a panela. Voltou a pedir um bocado de chouriço. Levaram-lhe o chouriço. Quando ninguém via comeu a sopa toda. Os donos perguntaram pela pedra. Ele respondeu que a lavava para outra vez.
Joana Filipa Alves contada pela avó Manuela Silva
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PENEDO DOS MORTOS Perto do magnífico Santuário da Senhora da Aparecida em Calvão, encontra-se um fantástico mundo cheio de vegetação de onde surgem grandes morros em granito, conhecidos nas redondezas pelas suas lendárias histórias. Um deles é chamado o PENEDO DOS MORTOS. Conta-se que um rancho de segadores se abrigou de uma forte e terrível trovoada debaixo deste Penedo. Alguns destes homens e mulheres diziam grandes maldades e injúrias contra Deus, por tão grande tempestade. Os crentes, incomodados com tais palavras, abandonaram o local seguindo rumo à aldeia. Ainda mal tinham saído, a queda de um raio, matou os que ali tinham ficado, cinco homens e uma mulher. Depressa se espalhou pelo povo, ter sido castigo de Deus por tudo o que tinham dito. Era o ano de 1840, quando tudo aconteceu. Este lugar é conhecido até hoje com este nome. Uma parte deste PENEDO encontra-se na propriedade da minha Avó Ana
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Mariana Carvalho contada pela avó Ana
A LENDA DA ILHA DA MADEIRA A beleza da Ilha da Madeira tem dado origem a muitas lendas. Diz uma dessas lendas que a Virgem Maria chorava pelos sofrimentos de Jesus Cristo. Muitas eram as lágrimas que lhe corriam pela face depois caía no seu manto azul. Por cada lágrima vertida, uma estrela brilhante surgia no seu manto. E a Virgem Maria não parava de sofrer. Entretanto, das lágrimas que se tornaram estrelas, uma escorregou do manto de Nossa Senhora e foi cair no manto azul do mar. Aí se fixou e floriu. Assim a lágrima de Nossa Senhora se fez Terra, se fez Ilha da Madeira, se fez Pérola do Oceano. A Ilha, nascida de uma lágrima de Mãe, encheu-se de flores, perfumes, de águas que saltam e cantam e de gentes que trabalham e cantam.
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Verónica Silva contada pela avó Ilda
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A MINHA AVÓ Sempre adorei uma boa história. Ainda antes de andar na escola, as minhas preferidas tinham, cor e movimento. Passavam-se numa caixa quadrada onde viviam as minhas personagens favoritas. Para entrar neste mundo era necessário ultrapassar uma porta secreta. Esta só se abria depois de se reconhecer o código secreto e, a este ritual escancarava-se deixando descobrir os tesouros de que é guardiã. Este código é muito difícil de alcançar e só está ao alcance dos mais afortunados, dos escolhidos, daqueles que conseguem ver a forma de um arco-íris, onde outros sentem a melodia da chuva, chamo-lhe poção mágica, passagem secreta para um mundo de fantasia, o meu pai chama-lhe comando. Com o tempo aprendi que as historias estão em todo o lado, nas páginas dos livros, nas pedras dos edifícios, nos leitos dos rios e principalmente, na sabedoria da minha avó. As histórias da minha avó são mágicas, nelas também eu me sinto uma personagem onde sou herói ou vilão. É uma destas histórias que lhes vou contar, considerem-se por isso afortunados. Hoje é o vosso dia de sorte, pois vão ouvir uma história da minha avó.
David Gabriel contada pela Avó Fátima
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O LEÃO E OS GATOS Um leão encontrou um grupo de gatos conversando. -Vou devorá-los, pensou. Mas começou a sentir-se estranhamente calmo e resolveu sentar-se com eles para prestar atenção ao que diziam. -Meu bom Deus – disse um dos gatos sem notar a presença do leão. -Oramos a tarde inteira, pedimos que chovessem gatas do céu. -E até agora, nada aconteceu – disse o outro. -Será que o Senhor não existe? O céu permaneceu mudo e os gatos perderam a fé. O leão levantou-se e seguiu o seu caminho, pensando: -Vejam como são as coisas! Eu ia matar estes animais, mas Deus impediu-me. Mesmo assim, eles deixaram de acreditar nas graças divinas, estavam tão preocupados com o que lhes fazia falta que, nem repararam na proteção que receberam!
David Gabriel contada pela Avó Fátima
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A HISTÓRIA DO PITA (VERÍDICA) Numa aldeia nos arredores de Chaves vivia um ladrão chamado Pita, que poucos sabiam quem ele era mas todos o temiam. Pita era um homem que fazia facilmente amigos sem dizer a sua identidade. O lugar perfeito para roubar, criando amigos, era nas feiras. Foi então, que numa feira em Chaves, Pita decidiu fazer das suas, porque se apercebeu que umas senhoras, que estavam a vender produtos na feira, tinham feito uma boa venda e iam encerrar a sua banca. Ele foi-se dirigindo para perto delas e ouviu propositadamente a conversa. Elas diziam que estavam assustadas porque andava por aí o Pita, que lhes podia roubar o dinheiro das vendas porque elas iam para muito longe a pé. Pita fingindo de bom senhor interrompeu-lhes a conversa: "Desculpem interromper-vos a conversa, minhas senhoras, mas vocês precisam mesmo de ter cautela, porque até eu sendo homem, tenho um pouco de medo desse bandido. Se quiserem eu posso acompanhar-vos até casa e até vos guardo o dinheiro. É menos provável que Pita queira roubar a um homem." As senhoras muito admiradas pelo cavalheirismo do senhor agradeceram e aceitaram a proposta. Meteram-se a caminho e ao chegarem às suas casas voltaram a agradecer e pediram-lhe o dinheiro. E ele respondeu: "Agora não vão dizer que foi o Pita que vos roubou porque foram vocês que deram o dinheiro ao Pita." Pita acabou por fugir e continuou a roubar com muita astúcia em feiras onde não fosse reconhecido.
Débora Barroso Fernandes contada pelo avô Lucinio
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HISTÓRIA Esta história foi contada por uma senhora de 74 anos de nome Tia Toninha. "Eu só conheci a minha avó materna, ela contava uma história que era verdadeira, passou-se em Faiões com a família Sarmento, que era uma família tão boa que se dedicava aos mais pobres e infelizes. Construíram uma escola em Faiões, uma cantina para todas as crianças necessitadas e ainda fizeram 9 casas em pedra para os mais pobres. O doutor Sarmento era Médico e Reitor da Universidade de Coimbra e tratava dos pacientes sem querer pagamento. Deslocava-se de Coimbra a Faiões para cuidar dos doentes mais pobres, davalhes comida e alegria. Foi uma pena ter morrido tão novo. Fazia bem a toda a gente, ele era uma bondade em pessoa que hoje é difícil de encontrar. Um ensino de vida para todos. E será único em pensamento e bondade."
Diogo Diz contada pela D. Tininha
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OS TRÊS PORQUINHOS Eram uma vez três porquinhos que não tinham casa para viver e viviam num campo enorme, cheio de ervas. Então o irmão mais velho pensou em fazer uma casa grande para os três irmãos, quando o porquinho foi buscar os tijolos e o cimento ele pensou assim. - Será que isto chega! Então ele levou todos os tijolos e fez a sua casa, só para ele porque a casa era pequena. Então o irmão do meio fez uma casa de madeira, só para ele. E ao irmão mais novo não lhe sobrou nada, só a palha que o agricultor lhe punha para ele fazer esterco, então ele lá foi buscar a palha e fez a sua casinha. E às vezes também iam os três porquinhos ao supermercado buscar a sua comida, e as pessoas iam lá dar as sobras das três refeições do dia. Mas um dia viram um lobo, e esconderam-se nas suas casas, o lobo viu os três porquinhos a fugir e então o lobo foi a casa do porquinho mais novo e bufou, a casa caiu, e o porquinho mais novo foi para casa do porquinho do meio. O lobo chegou a casa do porquinho do meio e bufou! Bufou! E a casa caiu e fugiram os dois irmãos para a casa do irmão mais velho. O lobo foi lá e bufou! Bufou! Bufou! Mas não conseguiu, então ele foi à chaminé e desceu, mas os três porquinhos tinham a lareira acesa e o lobo queimou-se e nunca mais apareceu na vida dos três porquinhos.
Hilário Ramos Furtado contada pela avó Faustina
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O TOURO AZUL Era uma vez um rei e uma rainha que tinham uma filha, a rainha morreu, tinha a filha 8 anos e o rei voltou-se a casar com uma mulher muito feia e má. Um dia o rei foi para a guerra ficando a mulher a cuidar da menina, a malvada rainha punha a menina a Guardar os touros e a fazer as tarefas domésticas. A menina chorava muito, e um dia o touro azul foi falar com ela. -Porque choras? (Disse o touro) -Tenho muita fome e estou cansada. (Disse a menina) -Olha para a minha orelha esquerda o que vês? -Vejo um pano branco (respondeu a menina) -Então tira-o e estende-o. A princesa assim o fez. No pano apareceu tudo o que a menina queria comer. Passado alguns dias, a menina começou a engordar e a ficar cada vez mais bonita, a rainha começou a desconfiar e enviou um espião. Quando a rainha descobriu tudo, fez-se de doente e disse que a única cura seria comer um bife de carne de touro azul. A princesa ao ouvir isto foi contar ao touro azul. O touro ao ouvir isto disse: -Muito bem vamos ter de fugir, hoje à noite quando estiverem todos a dormir vamos partir. Mal chegou a noite a princesinha e o touro deram início à sua missão. Passado umas horas, o touro e a menina chegaram a uma floresta e o touro disse: -Vamos passar por 3 florestas, a de cobre, prata e ouro, em cada floresta há um monstro, temos de ter cuidado para não partir nenhum galho se não vou ter de lutar contra esses monstros. Mas entretanto a menina sem querer partiu um galho em cada floresta, o touro teve de lutar contra os 3 monstros, mas conseguiu vence-los. Depois de muito caminhar chegaram a um castelo e o touro disse: agora vais trabalhar como empregada no castelo. -Está bem. (respondeu a menina) -Estás a ver aquele buraco ao pé daquela oliveira? (disse o touro azul) -Sim, estou a ver.
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Vais ter de me matar e enterrar-me ali. A menina começou a chorar e disse que não podia fazer aquilo, o touro disse: -Não te preocupes eu não vou morrer isto é para o bem dos dois. Quando precisares alguma coisa puxa um galho da oliveira. A menina assim o fez. No primeiro dia de trabalho o príncipe que lá morava pediu um pente, a menina foi levar-lhe o pente e ele atiro-o à cara dela. Quando todos foram para a missa a menina foi puxar um galho da oliveira, e o touro respondeu: -O que desejas princesa? -Quero um vestido uns sapatos e uma coroa de cobre cor fava; O touro assim o fez. Quando a menina chegou á missa todos olharam para ela, o príncipe que lá também estava ficou apaixonado e foi-lhe perguntar de que país era e ela respondeu: -Sou do país do pente. Na semana seguinte o príncipe pediu um sabonete e a menina foi-lhe levar o sabonete, e ele voltou a atirá-lo à cara. Nesse dia havia missa e a menina foi puxar um galho da oliveira e o touro respondeu: -O que desejas princesa? -Quero um vestido, uns sapatos e uma coroa de prata por favor. O touro assim o fez. Quando chegou á missa todos olharam para ela e o príncipe ficou ainda mais apaixonado do que na outra vez. E foi-lhe perguntar de que país era. -Sou do país do sabonete. (respondeu-lhe a menina) Na semana seguinte o príncipe pediu uma toalha e a e menina foi-lha levar, o príncipe voltou a atirar com a toalha à cara da menina. Nesse dia havia missa e a menina foi puxar um galho da oliveira e o touro respondeu: -Que desejas princesa? -Quero um vestido, uns sapatos e uma coroa de ouro por favor.
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O touro assim o fez. Nesse dia quando a menina chegou à missa ficaram todos espantados, o príncipe que lá também estava, ficou ainda mais apaixonado que nas outras vezes, e foi perguntar-lhe de que país era. -Sou do país da toalha (respondeu a menina) Quando a menina ia embora deixou cair um sapato de ouro, o príncipe foi apanhá-lo e no dia seguinte ordenou que todas as raparigas do reino deveriam calçá-lo. Quando chegou a vez da princesinha, o sapato serviu e as roupas com que ela vinha vestida transformaram-se num vestido de ouro, o príncipe ficou apaixonado por ela, casaram-se e viveram felizes para sempre. E sabem quem era o príncipe? Era o touro azul que estava enfeitiçado.
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Luana Noira contada pela Avó Lídia
LENDA DA SERRA DA ESTRELA Era uma vez um jovem pastor que vivia numa longínqua aldeia. Por único amigo tinha um cachorrinho, que nas longas noites de solidão se deitava a seus pés sem esperar nenhum gesto, nenhuma palavra. Sofria este pastor de uma estranha inquietação: cismava alcançar uma Serra enorme que via muito ao longe, as terras que existiam para lá da muralha rochosa que constituía o seu horizonte desde que nascera. E muitas noites passavam em claro, meditando nesse seu desejo infindável. Certa noite, em que se julgava acordado, sonhou que uma estrela descia até si e lhe segredava que o guiaria até ao objeto dos seus desejos. Acordou o pastor mais inquieto e angustiado que nunca, e procurou no céu a verdade do que sonhara. Lá estavam todas as estrelas iguais a si mesmas, imutáveis e eternas aparentemente. Mas também estava uma que lhe pareceu diferente, a mais sua. Passavam-se os dias e o desejo do pastor aumentava, fazia-lhe doer o corpo, ardia-lhe febril na cabeça. De noite, todas as noites, procurava no céu a sua estrela diferente. E em sonhos ela aparecia-lhe muitas vezes, desafiando-lhe sempre a vontade. Mas a vontade por vezes é tão difícil! Uma noite, num ímpeto, decidiu-se. Arrumou tudo o que tinha e era nada, chamou o cão e partiu. Ao passar pela aldeia o cão ladrou e os velhos souberam que ele ia partir. Abanaram a cabeça ante a loucura do que assim partia à procura da fome, do frio, da morte. Mas o pastor levava consigo toda a riqueza que tinha: a fé, a vida e uma estrela. E o pastor caminhou tantos anos que o cão envelheceu e não aguentou a caminhada. Morreu uma noite, nos caminhos, e foi enterrado à beira da estrada que fora de ambos. Só com a sua estrela, agora, o pastor continuou a caminhar. Sempre com a serra adiante e à medida que caminhava a serra ia sempre ali, no mesmo sítio e à mesma distância. Passou todas as fomes e frios que os velhos lhe tinham vaticinado. Atravessou rios, galgou campos verdes e campos ressequidos, caminhou sobre rochedos escarpados, passou dentro de cidades cheias de muros e gente, mas a montanha dos seus desejos nunca a baniu do coração. Por fim, já velho alcançou a
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muralha escarpada que desde a infância o chamava. Subiu até ao mais alto da serra ali pôde então largar o desejo do seu coração, agora em paz e sem desejo. O horizonte era vasto, tão vasto e maravilhoso, a impressão de liberdade tão avassaladora que o pastor, sem falar, gritava dentro de si um hino de louvor que mais parecia o vento uivando por entre os penhascos rochosos de silêncio. Instalou-se o velho pastor e a sua estreia com ele, no céu. O rei do mundo, porém, ouviu falar naquele velho pastor e na sua estrela fantástica. Mandou emissários à serra: todas as riquezas do mundo dariam ao pastor em troca da sua pequena estrela. O pastor ouviu com atenção o que lhe mandava dizer o rei. Depois, olhou em volta. Tudo eram pedras e rochedos. Uma côdea de pão negro e uma gamela de leite as suas refeições. A sua distração, a paisagem "infinitamente" igual e diferente do mundo lá em cima.
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A sua única amiga, a estrela. Suavemente, como quem sabe o segredo das palavras e o valor de todos os bens possíveis, virou-se para os emissários do rei do mundo e rejeitou todos os tesouros da terra; escolhendo a pequenez da sua estrela. Passaram os anos e o velho morreu. Enterraram-no debaixo de uma fraga e nessa noite, estranhamente, a estrela brilhou com uma luz mais intensa. Os pastores da serra notaram essa diferença porque a reconheciam também entre as outras, pelo que o velho lhes contava em certas noites. E desde então a serra passou a chamar-se, para sempre Serra da Estrela.
Vera Lúcia Gomes Lima escrita pela mãe
O CAVALEIRO VALENTE DOS ARCOS DA AMOREIRA Contam as pessoas idosas, que em tempo de Reis, no Castelo de Elvas reinava um rei e sua filha. Diz a lenda que a filha do rei conhecera um cavaleiro pelo qual se apaixonou. Naquele tempo, não era permitido que a filha do rei se casasse com nenhum rapaz que não pertencesse à realeza. Como o cavaleiro e a princesa se amavam, o rei decidiu, impor uma prova de valor ao cavaleiro. O rei mandou chamar à sua presença o cavaleiro, dizendo-lhe que se ele conseguisse roubar, o estandarte de Espanha, e lho trouxesse, lhe concedia a mão da princesa. O cavaleiro ouvindo isto, alimentou o seu cavalo durante vários dias a favas. Quando chegou o dia, da festa de Espanha, o cavaleiro partiu cavalgando dia e noite sem parar. Este chegou à festa roubou o estandarte e regressou cavalgando sem parar. Ao chegar a Elvas dirigiu-se ao Castelo. Para sua surpresa o Castelo estava fechado, por ordem do Rei. O cavaleiro não sabendo o que se passava cavalgou todas as muralhas em volta do castelo procurando uma entrada aberta mas não conseguiu. Desesperado fugiu da perseguição dos espanhóis, mas o seu cavalo cansado rebentou, dando então hipótese à sua captura e morte. Antes de morrer disse: - Morra o homem e deixe a fama.
Vera Lúcia Gomes Lima contada pela mãe
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3ยบD
AMIZADE VIDA Ele usava óculos e, na escola, era por vezes gozado pelo seu ar trapalhão e ingénuo. Muitas vezes queria participar nos jogos com os amigos, jogar futebol, mas eles não o aceitavam. As raparigas desprezavam-no. Eu não o conhecia, mas, certa vez, uma sexta-feira encontrei-o à saída da escola, quando havia deixado cair os livros. Vinha carregado de livros, pois fora esvaziar o seu cacifo. Ajudei-o a apanhálos, perguntei-lhe onde morava e, como era perto de onde eu vivia, fiz-lhe companhia. Pelo caminho quis meter conversa mas ele mal respondia. No entanto, como o caminho era longo, pouco a pouco foi cedendo e falando com mais à vontade. Perguntei-lhe se ia jogar futebol com amigos no fim de semana e ele respondeu-me que não o aceitavam. Então convidei-o para ir jogar com a minha equipa e ele, depois de pensar um pouco aceitou. Foi um fim-de-semana excelente e divertido. Jogou, divertiu-se e a partir daí, tornámo-nos bons amigos. O tempo foi passando e fomos cimentando a nossa amizade e eu apoiava-o nos seus estudos. Com o tempo foi-se tornando melhor aluno e bem sucedido, junto dos colegas e das raparigas, às vezes até eu tinha inveja. Uns anos mais tarde terminou, como eu, o curso. Na cerimónia de entrega de diplomas, alguns alunos usariam da palavra e ele seria um. Quando chegou a sua vez, parecia nervoso, olhou o público, olhou-me, dei-lhe uma pancadinha nas costas e disse-lhe que se acalmasse, pois tudo correria bem. Começou o seu discurso: -Quando se acaba um curso, temos que agradecer a muitas pessoas: aos pais, irmãos, familiares, professores, mas sobretudo aos amigos. Hoje quero agradecer a todos mas em especial a um amigo que aqui está, sem ele nada teria sido possível… E olhando-me nos olhos, para meu espanto, contou como tinha planeado por fim à vida naquele fim de semana em que nos conhecemos e jogámos futebol juntos. Que por isso esvaziara o cacifo e escrevera uma carta de despedida aos pais, e só não o fizera porque o nosso jogo de futebol o trouxera de novo à esperança e à vida. Nunca vou esquecer o olhar de agradecimento dos seus pais ao olharem-me! Nunca deixes os teus amigos. Celestino Ferreira contada pelo avô David Magalhães Ferreira
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A OVELHA Era uma vez uma ovelhinha que tinha uma filha e um lobo andava atrás das ovelhinhas. A mãe ovelhinha disse ao lobo: -Antes de me matares a mim e à minha filha, vou ensinar-te um jogo. É um jogo muito fácil, tens de contar até dez. E ele começou a contar: -1,2,3,4,5,6,7,8,9,10! E a mãe ovelhinha foi com a sua filha para outro sítio. E o lobo seguiu com a sua vida e as pobres ovelhinhas também fizeram o mesmo.
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Érika Anjos contada pela avó Teresa
ANTONINHO VAI À AULA Era uma vez um menino que matou o pavão ao professor. Ele chamava-se Antoninho e não queria ir às aulas. Então o pai dizia: -Antoninho, vai às aulas que é preciso aprender! -Ó pai eu não vou às aulas que eu bem sei que vou morrer. Então o pai foi falar com o professor e disse: -Venho-lhe pagar o pavão que o Antoninho matou. E o professor disse: -Vá para casa amigo porque amigo não paga nada. Mande o Antoninho às aulas. Diz o pai: -Antoninho, vai às aulas que é preciso aprender! E o Antoninho: -Ó pai eu não vou ás aulas, que eu sei que vou morrer. Eram as onze para as doze, e o meio-dia a bater. Todos os meninos vinham da aula, só o Antoninho por aparecer. Diz o pai: -Vistes o Antoninho? -O Antoninho ficou na sala do mestre, com o seu corpo aos saltinhos. O pai que aquilo ouviu, chorava e metia terror, pegou num punhal de ouro e foi matar o professor.
Diana Teixeira dos Reis contada pela avó Luísa
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A LENDA DAS AMENDOEIRAS Diz a lenda que um poderoso rei mouro, andou em guerra por terras do Norte frio onde a neve cobre tudo durante parte do ano. Dessas lutas trouxe consigo prisioneiros e escravos. Aconteceu porém que, entre os escravos, vinha uma jovem princesa linda, de olhos muito azuis, cabelos cor de ouro, pele luminosa e porte altivo de rainha. Pois foi por essa jovem que o rei mouro se apaixonou. Para ele, era a Bela Princesa do Norte. Ela era sua prisioneira, sua escrava, mas o rei, fascinado pela beleza da jovem, deu ordens para que ela vivesse livre no seu reino. “Que não a persigam, que não a molestem”, foram as ordens do rei. A bela princesa nórdica agradeceu com um lindo sorriso e o rei ficou feliz. Algum tempo depois, o rei foi encontrá-la em preparativos para regressar à sua terra Natal. Alarmado, o jovem mouro quis saber que razões a levaram a desejar abandonar o seu reino. A Bela Princesa do Norte disse-lhe que eram muitas as saudades que sentia da sua terra onde nascera. Preso àqueles olhos azuis, logo ali, o rei lhe declarou o seu amor e lhe pediu que ficasse para casar com ele, pois já não podia viver sem ela. Mais uma vez a Princesa do Norte agradeceu com o seu belo sorriso. Fez-se o casamento, as festas e a alegria pareciam nunca mais acabar. Foi no meio do último dia de festas que, o rei deu falta da Bela Princesa que era agora sua esposa. -Procurem-na, procurem-na. -dizia o rei desesperado. Acabaram por encontrá-la doente, estendida na cama, quase morta e chorando, chorando. Vieram médicos e sábios, mas ninguém conseguia curar a jovem que já mal tinha forças para sair da cama. Abatido e desgostoso, o rei já não sabia o que fazer para salvar a sua mamada. Foi, então que, pediu para falar com o jovem apaixonado um velho prisioneiro que também viera das terras do Norte. E disse que sabia como curar a princesa. Entre desconfiado e esperançoso o rei deixou que o velho falasse com a enfraquecida princesa.
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O velho era um poeta e começou a falar-lhe das recordações e saudades que ambos sentiam das suas terras do Norte. A Bela princesa do Norte abriu os olhos e sorriu. E a esperança voltou ao coração do mouro. O poeta disse ao rei como podia fazer voltar a alegria à sua amada. Falou-lhe da neve que cobria os campos e caminhos lá do norte e explicou-lhe que a princesa sentia a falta desse manto branco por onde costumava passar o seu olhar. Aconselhou o pequeno rei a mandar plantar muitas e muitas amendoeiras pois estas ao florirem, dariam a ilusão de que a neve cobria os campos. O rei assim fez e algum tempo depois ele próprio acompanhou a princesa para que ela olhasse os campos em frente à sua janela. -Neve! A minha querida neve! O lindo sorriso e as juras de amor foram o agradecimento. Ambos estavam felizes e o reino encheu-se de amendoeiras com flores brancas que davam à bela nórdica a ilusão de estar na sua terra Natal. 217
Cláudia Isabel Rodrigues Ferreira contada pela avó Helena
A MOLEIRINHA Amanhã é Domingo Vou ao moinho... Se me queres ver Vai ter ao moinho
Filho duma mãe Não me compreende. -O pai do menino Na cama se estende
Chegas ao caminho A estrada é estreita Entramos no mato Está a cama feita
A cama está feita Não precisa enxerga Só é preciso teres Tesa bem a verga
A cama está feita Logo se ajuda Pega-se na verga Mete bem na rocha
-Medida na rocha Até o mato a dança Bates à vontade A rocha não cansa
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Depois da primeira Primavera É a tua vez Em vez de uma só Dás duas ou três.
Está o trabalho feito Olha bem para o lado Lá vou para o moinho. E tu para o valado
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Tânia Sofia da Rosa contada pela avó Diamantina
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FLORA DA SERRA – RAÍZES DA MANTIQUEIRA Quando meu neto era pequenino, eu lhe mostrava as belezas e surpresas da natureza, enquanto passeava com ele pelo nosso sítio Os cogumelos eram seus preferidos, nessa descoberta da mãe terra, e eu estava sempre a descobrir espécies diferentes para encantá-lo. Eram muito prazerosos para mim esses momentos, em que eu repassava conhecimentos para aquele serzinho tão pequeno e curioso. Outro dia, pude novamente surpreender meu neto, agora um jovem de dezoito anos, mostrando para ele as belezas de hotéis antigos e carregados de história. Estando em Caxambu, cidade que gosto muitíssimo, justamente pela quantidade de prédios lindos e antigos que lá existem, e precisando “fazer hora” até o horário de saída do ônibus, levei-o a visitar alguns desses preciosos locais.
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Ana Catarina contada pelo avô Joaquim
A LENDA DA PRINCESA ENCANTADA Existe na Serra do Cadeirão, sita na Aldeia do Franco, Concelho de Mirandela, uma rocha pouco vulgar, ou seja, um tanto anormal... Tem umas fendas, que os populares diziam, que, ao passarem perto dessa rocha, as fendas se abriam e que por ali saiam gemidos dolorosos de uma jovem, que, em tempos muito, muito longínquos, teria sido uma bela Princesa Árabe, que se tinha apaixonado, por um belo jovem, mas como ele não era Nobre, os pais desta, não consentiam o casamento entre os dois. A Princesa, com tanta tristeza e como não queria casar com outro jovem, começou a emagrecer muito e morreu de paixão! Após a sua morte, de tempos em tempos, dizia o povo daquela aldeia, que a Princesinha apaixonada, vinha ali “carpir” o seu desgosto de amor e à rocha daquela aldeia, ainda hoje lhe chamam, a rocha da Princesinha Encantada.
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Andreia Fontoura contada pela avó São
O LEÃO E O RATO É bom não esquecer que um dia podemos precisar de alguém mais pequenino que nós. Esta verdade, uma fábula vai confirmar. Tantas histórias que há para o provar. Um rato estouvado saído da toca e meteu-se nas patas de um leão. O rei dos animais, por esta ocasião, mostrou ter bom coração e poupou-lhe a vida. Tanta bondade não foi perdida. Quem podia imaginar que de um rato, um leão um dia iria precisar? Enquanto passeava pelos seus domínios, sem querer, um dia, o leão caiu numa armadilha e ficou preso. Em vão rugia e tentava soltar-se. O ratinho então tratou de socorrer o amigo, roendo as malhas e destruindo a rede. Paciência e tempo valem mais que força e raiva. 223
António dos Anjos Martins
A LENDA DO SOL E DA LUA A Lua era mais linda que o Sol e muito namoradeira. E o Sol apaixonado queria casar com ela, mas a Lua pouco lhe ligava. Então um certo dia desentenderam-se, o Sol ficou furioso e atirou-lhe com cinza para a face da Lua, deixando-a toda empoeirada. A Lua era costureira e só tinha ali à mão uma caixa de agulhas, cheia de raiva espetou-as todas no Sol. Assim, a Lua ficou sem brilho e o Sol cheio de raios. E ainda agora, de vez em quando, a Lua resolve pôr-se à frente do Sol para o chatear, dando origem aos chamados eclipses.
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Cláudia Baptista contada pela avó Helena
A MATANÇA DO PORCO Eram uma vez cinco irmãos, que andavam a brincar na altura das matanças do porco e lembraram-se, e simularam o ato da matança, mas quem ia fazer de porco era o irmão mais novo… Vou contar a história: Era já de noite, estavam cá a fazer uma barulheira tremenda porque mataram o porco, chamuscaram-no e por fim penduraram-no! Estavam todos animados e fartos de se rirem. A mãe desconfiada e já chateada com tanto barulho foi ver o que se passava e… Fugiram todos menos o coitado do porco que estava pendurado. A mãe pegou numa vassoura de giesta e pimba, pimba, deu-lhe uma valente sova ao porco. Passados breves instantes voltaram e cortaram o baraço onde o porco estava pendurado. Saiu cara a brincadeira, coitado do porco! 225
Daniel Borges da Rosa contada pela avó Rosária Melo
A PASTORA RAINHA Uma vez um rei queria casar -sem mas não conseguia arranjar uma noiva que lhe agradasse, até que um dia viu uma pastora muito bonita, por quem se apaixonou. Foi ter com ela e disse-lhe: - Tu és a única mulher de quem gosto. Queres casar comigo? - Isso não pode ser, eu sou uma pobre pastora. - Não faz mal, caso contigo. Tenho apenas uma condição. - Qual é? - Nunca me contrariares, naquilo que eu decidir. Realizou-se o casamento e ao fim de nove meses nasceu uma menina muito bonita. Passados três dias entrou o rei no quarto da esposa e disse-lhe: - Trago-te uma triste notícia: os meus vassalos querem que eu mande matar a nossa filha, porque não se conformam ser um dia governados pela filha de uma pastora. - Vossa Majestade manda, e cumpre-me obedecer, respondeu a rainha, quase a saltarem-lhe as lágrimas dos olhos. O rei recebeu a menina e entregou-a a um conselheiro. O tempo foi passando e um dia o rei apareceu muito alterado e disse à rainha: -Vou dar-te uma notícia, de todas a mais triste, os meus vassalos estão indignados comigo; não querem que estejas em lugar de rainha, e dizem-me, que te expulse do palácio. Por isso, prepara-te, que tens de voltar para ao pé do teu pai. A rainha muito triste respondeu: -Estou pronta a obedecer, parto já. E lá foi a rainha para a sua antiga vida de pastora. Para ela a sua vida de rainha fora apenas um sonho. Passados uns anos, voltou a aparecer o rei a dizer que tinha resolvido casar com uma formosa princesa de quinze anos e pediu-lhe, como ela sabia fazer tudo bem, o favor de voltar ao palácio para tomar conta das criadas e de outros serviços no dia do casamento. Quando estavam no palácio o rei foi ter com ela e pediu-lhe que fosse conhecer a noiva.
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- É muito linda! Disse a pastora, beijando a mão da noiva. - Deus conserve muitos anos a sua preciosa saúde. É digna do rei que vai receber por seu marido. Então o rei ajoelhou-se em frente da pastora, e disse: - Olha que é nossa filha. Quis experimentar o teu coração, és uma pastora que vale mil rainhas. Houve então mil abraços e beijos de parte a parte. O rei mandara a filha para casa de uma tia, que a educou como uma princesa, em vez de a mandar matar como tinha dito à rainha.
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Daniel Emídio contada pelo pai Emídio Santos
O VELHO, O RAPAZ E O BURRO Num monte, habitava um rapaz com um homem muito velho. Avô e neto foram à feira vender o burro. Para que o animal tivesse um aspeto fresco o avô decidiu que não montassem o animal pelo que caminhavam a pé junto dele. Ao passarem por um grupo de pessoas estas riram-se e comentaram: -Olha, estes dois vão-se a cansar e o animal todo fresco! Ouvindo isto o avô disse ao neto que montasse, sempre era mais leve e assim o povo não falaria. Mais adiante, outros criticaram: -Se tem jeito, o rapaz que é forte vai consolado no burro e o velho já cansado da vida, vai a pé. De imediato o avô pediu ao neto para se apear e montou ele o burro. Não foi preciso andar muito para alguém comentar: -Não acredito! O velho obriga o rapaz a ir a pé quando o burro pode bem com os dois. O avô nem pensou e disse ao neto para montar também e seguiram os dois no burro. Pouco andaram foi com espanto que ouviram: -Malvados! O pobre animal vai com o peso destes dois. O burro merecia era que o levassem às costas. Ia pouco satisfeito o avô disse ao neto que iam demonstrar e de seguida pediu-lhe que o ajudasse a pegar no burro às costas. Alguns metros adiante, um grupo que passava, parou espantado e um deles comentou: -Mas afinal, quem é o burro? Nunca vi nada assim! o mundo está ao contrário. Finalmente o avô disse ao neto para pousarem o burro e caminharem ao lado dele como quando tinham saído de casa. Feito isto, comentou com o neto: -Que nos sirva de lição, devemos agir pela nossa cabeça. Se dermos ouvidos a toda a gente já sabemos: cada cabeça, sua sentença.
Diogo Filipe Ferreira dos Anjos contada pela avó Maria de Fátima
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O ANIVERSÁRIO DA AVOZINHA
Era uma vez um casal com cinco filhos. Eram muito pobrezinhos, e tudo quanto os pais ganhavam era para sustentar os filhos. Naquela época também não havia trabalho, os pais deixaram de comer para dar aos filhos. Um dia os pais ficaram doentes e morreram. Os filhos foram a viver com uma avó muito velhinha, mas a pobre senhora mal podia trabalhar para sustentar os seus netos. Chegou o dia em que a avó fazia 80 anos e os netos queriam dar um presente à avó, mas não tinham com que comprar nada. O irmão mais velho disse para os outros irmãos: -Vamos arrumar e limpar a casa, e vamos à floresta buscar flores para a enfeitar, mas como era Inverno não havia flores. Mas lá foram pelo caminho e encontraram uma senhora muito bondosa, que lhes perguntou para onde iam e eles contaram-lhe. Então a senhora disse: - Muito bem pois é uma boa ação, meus meninos vós ides encontrar muitas flores.
229 Quando chegaram ao cimo da montanha encontraram muitas flores, todos
radiantes apanharam as que puderam trazer. Quando chegaram ao local onde encontraram a senhora ela ainda lá estava e eles vinham radiantes, mas o irmão mais velho triste disse que não tinham comida. A senhora deu-lhes uma toalha e disse para a estenderem no chão quando chegassem a casa. Quando chegaram a casa arrumaram-na e puseram as flores. Quando estenderam a toalha no chão ergueu-se uma mesa com comida. A avó já ia no fundo da rua e eles foram-na chamar, depois disseram para fechar os olhos e eles levaram-na pela mão. A seguida disse para abrir os olhos e quando ela viu aquilo pensou que eles tinham roubado tudo, mas eles contaram-lhe como tudo aconteceu. Depois de cantarem os parabéns à avozinha agradeceram a Nossa Senhora e foram felizes para sempre.
Ema Martins contada pela avó Filomena Ferreira
O TONINHO E A MARQUINHAS O Toninho e a Marquinhas andavam à lenha, apareceu-lhe uma velhinha e disselhe: - Que andais a fazer meus netinhos? - Andamos à lenha para nos aquecer. - Então vinde comigo que vamos cozer umas bolinhas de pão. Ela acendeu o forno e disse: - Oh meus netinhos, ponde-vos aqui na pá do forno a ver se dançais bem. Ela queria-os por no forno e então eles disseram-lhe: - Ponha-se a avozinha para nos ensinar. Eles então, puseram-na dentro do forno e ela gritava: - Água, água meus netinhos! E eles diziam: - Azeite, azeite minha avozinha!
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Ester Mora contada pela avó Ester
LENDA DAS MAIAS Uma vez, num certo dia, andavam os Judeus à procura de Jesus para o matarem. Ao anoitecer viram que Jesus se recolheu numa humilde casinha. Então, Para na manhã seguinte poderem prender Jesus, colocaram um ramo de giestas no fecho da porta, para não terem dificuldade em conhecer a casa. Mas, ao amanhecer, todas as portas estavam enfeitadas com ramos de giestas .E, assim, os Judeus desorientados, não puderam descobrir a casa em que estava Jesus. Ainda hoje há o costume de, no dia um de Maio, se enfeitar as portas das casas com giestas às quais também se dá o nome de Maias por florirem em Maio.
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Filipa Nascimento contada pela mãe Helena
LENDA DA DONA MACHORRA Na vila de Torre de Dona Chama, no tempo dos mouros, existia uma torre num castelo, onde morava uma senhora chamada Dona Chamorra. A senhora mandava chamar os homens cristãos de melhor perfeição e convidava-os a jantar e a passar o serão com ela. No dia seguinte todos estes homens desapareciam. Muitas foram as vezes em que isto aconteceu, tornando-se um mistério!... Um interregno houve em que a senhora não mandou chamar ninguém. Mas, no dia em que a senhora voltou a chamar, o homem avisado, já desconfiado, procurou saber a verdade. A verdade era dura e cruel. Saber a verdade significava não sair do castelo com vida. O homem astuto descobriu qual era a única hipótese que tinha de o conseguir, então, deixou adormecer a senhora e retirou-lhe o anel que tinha no dedo, objeto de grande valor, e bem conhecido pelos criados, constituindo uma autorização para deixar sair as pessoas do castelo. Ora, o homem colocou o anel no dedo, enganando os criados e saiu do castelo. Estando já livre contou ao povo o segredo da Dona Chamorra. Entretanto, a Dona Chamorra acordou e dandose conta da falta do anel, gritou, mandando-o chamar, daí o nome da vila Torre de "Dona Chama". Desconfiada de que o povo já conhecia a verdade, matou-se a si mesma, confirmando-se toda a verdade na seguinte lira popular: Dona Chamorra; Pernas de cabra e Cara de senhora.
Gabriela Costa contada pela mãe Dina
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O HOMEM E A RAPOSA Uma vez, a minha avó tinha umas “pitas” no galinheiro e depois a raposa fez um buraco na rede e conseguiu entrar. Mas pelo buraco por onde tinha entrado não conseguiu sair porque comeu muitas galinhas. Depois ela deitou-se no galinheiro e o meu avô foi buscar uma enxada para lhe dar com ela, mas como a raposa viu a porta aberta fugiu e disse: -Fugi pernas que vos dou umas meias! E depois o rabo perguntou: -E a mim o que me dás? E a raposa respondeu: -Dou-te um corno que puxa para trás!
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Marco António contada pela mãe Odete
LENDA DA BISAVÓ MARIA LUÍSA Um dia um lavrador que ia para o monte trabalhar, ao aproximar-se de uma grande Fraga, viu então aparecer uma mulher muito bonita, de cabelos negros, longos e belos, e na mão esta trazia um pente de ouro e diamantes, que brilhava muito com os raios de sol. - Sou uma moura e chamo-me Maria. Vivo aqui há muitos e muitos anos. Debaixo desta fraga há um palácio onde eu tenho estado encantada. Ajudas-me? - Ajudo – Disse o lavrador. - E o que queres em troca: os meus cabelos ou o meu pente? O lavrador pensou, o cabelo era bonito, mas o pente era melhor, pois era de ouro e diamantes. Por isso pediu o pente. - Estragaste tudo! - Disse a moura - A mim, dobraste-me o encanto! E a ti, a ganância fez-te perder! Após isto desapareceu e nunca mais ninguém a viu e o lavrador foi pobre a vida toda.
Mariana de Barros Fernandes contada pela bisavó Maria Luísa
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A RAPOSA, O LOBO E O QUEIJO Uma certa noite de lindo luar uma raposa preparava-se para ir fazer uma caçada, decidiu chamar o seu compadre lobo. Ao passar por uma eira onde havia uma poça cheia de água, que era usada pelas pessoas para pôr o linho de molho, como era de costume para tapar a água punha-se no fundo da poça um saco de pano e em cima uma pedra que por acaso era um seixo, que no fundo da água branquejava. A raposa pensou que era um queijo, logo imaginou como poderia conseguir comê-lo. Chamou o compadre e disse-lhe: -Ó compadre! Que rico queijo que está no fundo da poça, mas só tem uma maneira de o conseguir! -Como? E a raposa respondeu: -Bebemos a água toda e já conseguimos comer o queijo. O lobo logo disposto a ajudar a comadre perguntou: -Mas o queijo é a meias, senhora comadre? - É claro que sim! Respondeu logo muito gulosa. O pobre lobo a pensar que ia comer a sua metade do queijo começou logo a beber muita água, e a gulosa da raposa só molhava a língua. Ela dizia-lhe: -Beba, beba, compadre! Que eu não posso mais, já estou quase a rebentar de tanto beber. O pobre lobo com os olhos postos no queijo continuou sempre a beber, até que já faltava pouco para poder chegar ao tão esperado queijo. O lobo já não podia mais com aquele bombo cheio de tanta água. Então a raposa matreira já estava a pensar como deixar o pobre lobo sem nada, mandou um salto com a boca aberta para comer, só que quando bateu com os dentes no tão desejado queijo teve uma surpresa! Era uma pedra parecida a um queijo redondo e ao bater nele partiu os dentes todos. A raposa matreira ficou com os dentes todos partidos e fugiu. O lobo com aquele bombo cheio de água que nem conseguia fugir e deitou-se. Os cães da aldeia ouviram esse barulho todo e foram se aproximando e, quando chegarão ao local já só estava ali o lobo deitado na eira. Os cães atacaram-no na barriga que rebentou com muita força, e aquilo parecia uma trovoada de água, que até molhou o linho que estava já a secar pela eira fora. Moisés Fernandes Morais contada pelo pai Moisés Morais
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O NOME DAS PEDRAS SALGADAS Reza a lenda que algures, perto de Rebordochão viviam duas senhoras muito ricas, que tinham por nome “Salgadas”. Eram as mais ricas de toda a região. Por serem tão ricas, eram cobiçadas por muita gente, até que um dia foram assaltadas. A casa das “Salgadas” ardeu completamente e estas desapareceram. Decorrido muito tempo, um pastor andava a guardar o seu rebanho e descobre por acaso, uns dedos de pés humanos. Corre até à aldeia e avisa tudo e todos. Foram todos para o local escavar, mas os corpos estavam irreconhecíveis. Diz-se que, os ladrões depois de terem roubado as “Salgadas” tivessem matado e enterrado naquele local, pois fazia muito tempo que estavam desaparecidas. O assunto caiu na boca do povo e na aldeia não se falava de outra coisa: -Ai, encontraram o pé das “Salgadas”! Com o tempo evoluiu para Pedras Salgadas. 236
João Firmino contada pelo pai Morgado
CANÇÃO DA PRIMAVERA Já no céu, bem longe Voam as pretas Chegam as andorinhas, Nascem borboletas.
Refrão O canto das aves A todos seduz, Quando a primavera Vem cheia de luz
Da terra feliz, Rompem cores sem fim
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Amarelo, encarnado, Turquesa e marfim
Refrão
O sol vem mais vezes, Sorriem os campos, Onde, pela noite, Brilham pirilampos.
Ruben Oliveira contada pela avó Maria de Fátima
O VEADO VAIDOSO Era uma vez um veado vaidoso que ficava horas a contemplar a sua imagem refletida na ribeira. -Como sou belo! – Pensava – Ninguém na floresta tem uns chifres como os meus! O veado também tinha umas patas longas e finas, mas dizia muitas vezes que preferia antes partir uma pata, do que perder um só ramo dos seus magníficos chifres. Pobre veado, como se enganava! Um dia, enquanto se regalava tranquilamente de plantas tenras, ouviu um tiro ao longe, seguido de latidos. O pânico apoderou-se dele, pois sabia que os cães eram seus inimigos. Era preciso fugir o mais rápido possível! Meteu-se no carreiro e pôs-se a correr em frente. Finalmente chegou a uma grande clareira. -Talvez esteja salvo – Disse, correndo sem parar sobre as suas patas ágeis. Mas quando passou debaixo duma árvore, os seus chifres ficaram presos nos ramos baixos. Com todas as suas forças procurou libertar-se, mas não conseguiu e ficou prisioneiro na árvore. Os cães apareceram logo perto dele e, vendo a morte chegar, pensou tristemente: -Como me enganei! Eu pensava que os meus chifres eram a parte mais bela e preciosa do meu corpo, mas não, eram as minhas patas. Elas procuraram salvar-me enquanto os meus chifres me perderam!
Sílvia Santos contada pela avó Marina
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A GAITA MÁGICA Numa aldeia havia um homem que tinha uma gaita mágica. Quando ela tocava todos os que ouviam dançavam. Uma ocasião, ao anoitecer, quando já se via a lua no céu, passou outro homem carregado de louça. Quando ouviram a gaita tocar, tanto o dono do jumento como este, puseram-se a bailar. Em pouco tempo a louça ficou toda feita em cacos. O dono da loiça foi queixar-se ao juiz e o tocador foi chamado à sua presença -És acusado de ter quebrado toda a loiça deste homem, disse o juiz. -Eu não sou culpado, toquei a minha gaita e esse senhor e o seu jumento puseram-se a bailar! -Ora toca, ordena o juiz. O gaiteiro pôs-se a tocar. O dono da loiça pegou numa cadeira e bailou. O juiz começou aos pulos, a mãe do juiz que estava acamada, no quarto próximo, levantou-se, bateu palmas e cantou. Passados momentos, o juiz pediu ao tocador que deixasse de tocar e disse-lhe:
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-Podes ir-te embora sem qualquer castigo, porque curaste a minha mãe que há sete anos que não se podia mexer. O tocador saiu da presença do juiz muito contente e satisfeito.
Sofia Batista contada pelo avô Anselmo
LENGALENGA Bichinha gata, Que comeste tu? Sopinhas de mel. Guardaste-me delas? Guardei, guardei. Onde as puseste? Atrรกs da arca. Com que as tapaste? Com o rabo da gata.
Sape gato, Lambareiro, Tira a mรฃo do aรงucareiro. 240
Sofia Batista contada pelas avรณs
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A LENDA DE MONTALEGRE No tempo dos mouros, construíram um lindo castelo que ainda hoje existe, numa serra que se chamava Monte Triste, por serem montes muito tristes. As pessoas e o rei, também viviam ali, já há muito tempo. Como era um castelo havia muitas batalhas, e nessas batalhas faziam-se prisioneiros. Esses prisioneiros ficavam nas masmorras do castelo. Certo dia, um cavaleiro doutro exército, a mando do rei disse-lhes para eles montarem alegres, visto irem-se embora dali: -Monte alegre o cavalo! Desde esse dia, isso é a lenda e aquele local ficou a chamar-se Montalegre. E hoje é a linda vila transmontana de Montalegre e a terra da minha avó paterna Fernanda.
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Beatriz Calvão contada pela avó Fernanda
O CARNAVAL NA MINHA ALDEIA A minha aldeia chama-se Campo D’Égua e pertence ao concelho de Valpaços. Quando eu era pequena havia várias tradições que se faziam na minha aldeia na altura do Carnaval. Assim, havia a chamada “Serra da Velha”. Chamava-se assim porque os rapazes da aldeia iam pelas ruas à procura da mulher mais velha da aldeia para a “serrarem”, pensava eu. Então eu tinha muito medo porque a minha avó era já muito velhinha, e eu fechava a porta de casa à chave e dizia à minha avó para se esconder bem e, começava a chorar com medo que os rapazes lá fossem, mas não, os rapazes passavam e a minha avó dizia que eles tinham ido a casa da D.Elvira. Então eu ficava com pena dela por ser serrada. Mas é claro que no dia seguinte a D.Elvira estava lá inteirinha, sem um único arranhão. Uma outra tradição era a “Partilha do Burro”. Alguns homens iam para o ponto mais alto da aldeia com um funil e começavam a dividir as várias partes do burro pelas pessoas da aldeia, de maneira que rimasse com o nome e profissão de cada pessoa. Por exemplo à minha mãe que era padeira diziam: -À Sra. Miquelina por ser padeira Deixamos o rabo do burro Para varrer a maceira. Era assim o Carnaval na minha aldeia.
Carolina Pereira história contada pela avó Maria da Conceição Rodrigues
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A LENDA DA MINHA ALDEIA Conta-se que um homem que viveu em Santo António de Monforte estava encantado por uma moura. Todas as noites ela aparecia no seu quarto para conversar. A mulher do homem nunca se apercebeu da conversa entre os dois. Uma noite, estando o homem e a mulher na cama, apareceu a moura. A mulher acordou e perguntou ao marido: -O que é que estás para aí a dizer que não te calas? A moura desapareceu como que por encantamento. O homem aborrecido com a interrupção volta-se para a mulher e diz-lhe: -Ò mulher, eu estava a falar com a moura encantada. Agora que tu falaste ela desapareceu para sempre.
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Duarte dos Santos Ferreira
AS LAVADEIRAS Eram tempos difíceis. A minha avó ia com uma burrinha chamada Gírica, de porta em porta dos senhores ricos para levar as Roupas para Lourenço. A minha avó ia pela calçada romana com a Gírica, quando se virou a carga e, a minha avó ficou debaixo da carga e da Gírica. As outras senhoras tiraram-na debaixo da Gírica. A Gírica fugiu e, todas as senhoras tiveram que levar a roupa às costas até ao ribeiro e para casa.
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A aluna
OUTRAS HISTÓRIAS Histórias contadas pelos meus bisavós à minha avó, em tempo de inverno junto da lareira depois de jantar e rezar o terço. Como não havia televisão nem luz elétrica, o tempo era passado a contar e a ouvir histórias. Meu bisavô Manuel Gonçalves Chaves “Pispalhas”, tinha sempre que dizer ladainhas:
O fato novo
Tenho um fato novo Que me está cá numa conta Quando o visto ao domingo Ao longe ninguém me afronta.
O chapéu custou um cruzado Não tem copa, não tem aba Está roto e esfarrapado
O casaco foi feito de novo modelo Não tem costas, não tem mangas Está roto no cotovelo.
A camisa foi feita de pano de linho Não tem costas, não tem mangas Está rota no colarinho.
O colete é dos unidinhos ao peito Remendo sobre remendo Ninguém diz do que foi feito.
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As calças foram feitas em moda primeira Toda a gente as tem gabado Para o espantalho de uma figueira.
Pares de meias tenho dez Calço umas por cima das outras Fico com o mesmo frio aos pés.
Os sapatos foram feitos da melhor sola Quando os vou calçar Fico com os dedos de fora
A capa não sei se a leve se a deixe Toda a gente a tem gabado Para rede de pescar peixe
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Pedro Manuel Cunha Pipa contada pela avó
AMOR DE MÃE Era uma vez um casal que teve uma filha. Eles eram muito humildes e ela saiu muito rabina e impertinente. Quando era pequenina e estava no berço a dormir, a mãe foi à horta e olhando para trás, verificou que de casa saia muito fumo. Deitou a correr, entrou pela casa dentro, conseguindo salvar a filha sem nenhuma queimadura. Mas ao contrário da filha, a mãe ficou muito queimada nas mãos e até mesmo com deficiência. Quando contou ao marido o que tinha acontecido, fez-lhe jurar que nunca revelaria à filha tal segredo. E ele prometeu. A filha à medida que ia crescendo, começou a ter vergonha da mãe devido às suas mãos, não saia com ela para lado nenhum, e quando saia obrigava a mãe a calçar luvas, e nunca a apresentou às amigas pois tinha vergonha. Um dia o pai adoeceu e os médicos, verificaram que tinha uma doença incurável, ficando acamado. Quando soube do final da sua sorte, chamou junto dele a mulher e a filha, divulgando à filha o motivo da mãe ter assim as mãos.
Pedro Manuel Cunha Pipa contada pela avó
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AS CARVOEIRAS São tão bonitas São tão catitas Oh que belo rancho Dançai raparigas
As carvoeiras As feiticeiras Da mocidade Viva a liberdade.
Que embarca, quem embarca Que vem comigo quem vem Que embarca nos meus olhos Oh que linda maré tem…
Não tenho inveja de nada Nem da coroa de rainha Não há no mundo quem tenha Uma trança igual à minha.
Para ser bonita e bela Não preciso andar ornada Basta o marfim dos dentes Não tenha inveja de nada.
A cor parda é excelente E a branca é muito fina Mas também há muita gente Que à morena se inclina! Alcina Rodrigues contada pela avó Maria da Conceição Pereira
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CAPUCHINHO VERMELHO Era uma vez uma menina a quem chamavam capuchinho vermelho, sua mãe um dia disse-lhe: -Vais levar estes bolos à avozinha que está muito doente, mas atenção aos perigos do bosque. O capuchinho vermelho, contrariando o que a mãe lhe dissera, foi mesmo pela floresta. Todos os animais da floresta eram bons, menos o lobo mau. Nesse mesmo dia, pelo caminho encontrou o lobo mau que lhe perguntou: -Para onde vais capuchinho vermelho? -Vou levar estes bolinhos à minha avozinha que está muito doente. -Não vás por aí, esse caminho é muito perigoso! Vai por ali, que é mais perto! Ele, matreiro, foi por um caminho mais rápido para chegar primeiro. A menina ficou a apanhar um bonito ramo de flores para levar à sua avozinha. A sua avozinha, assim que viu o lobo, saltou da cama e foi de imediato esconder-se no armário. Não era a primeira vez que via o lobo a andar por ali, às voltas. Quando o Capuchinho Vermelho chegou à porta e bateu, o lobo disse: -Podes entrar netinha, a porta está aberta! O capuchinho vermelho percebeu que algumas coisas não estavam bem, quando viu a avozinha. Admirada, Capuchinho perguntou-lhe: - Avó, porque tens umas orelhas tão grandes? - É para te ouvir melhor, minha netinha. - Porque tens uns olhos tão grandes? -É para te ver melhor, minha netinha. - Porque tens uma boca tão grande? Saltou da cama e gritou: - É para te comer melhor! A avó saltou do armário onde estava escondida, gritou avisando o capuchinho vermelho que fugiu para a porta, assustando o lobo que se pôs a correr atrás dela. Por sorte, um caçador que andava por ali, apercebeu-se e sem pensar duas vezes deu dois tiros afugentando o lobo que nunca mais por ali apareceu. Depois deste incidente, o capuchinho vermelho nunca mais vai desobedecer à mãe. As duas foram salvas pelo caçador e festejaram. Fizeram um piquenique com as guloseimas que a mãe do capuchinho vermelho tinha preparado. Cassandra Christina da Silva Teixeira contada pela avó Fátima
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A RAPOSA E O MOCHO Estava um mocho piando num galho de castanheiro. Ouvindo-o, a raposa aproximou-se cautelosa, saltou-lhe em cima, filando-o. -Cá tenho ceia! O mocho, sabendo a sorte fatal, pensou num ardil para livrar-se da morte certa. E começou a dizer para a raposa: -Oh raposa! Hoje apanhaste caça real. Não deves calar essa façanha e sim proclamá-la para que todos a ouçam, conhecendo teu valor. Vai a raposa, toda orgulhosa, ouvindo. Continua o mocho: -Ah passam uns lavradores. Grita alto, colhi mocho, mocho comi! A raposa, convencida pela lisonja, abriu a bocarra, gritando: -Mocho colhi! Mocho comi! E logo o mocho atirou-se num voo, pelo ar fora, livre e gritando por sua vez: -Coma a outro e não a mim...
Iara Gomes Ferreira contada pelo avô António Ferreira
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A RIQUEZA Era uma vez uma mulher pobre que tinha um filho. Um dia, passou em frente de uma caverna quando ouviu uma voz misteriosa que, de lá de dentro dizia: -Ei, senhora…Entre nesta caverna e pegue tudo o que você quiser, mas cuidado com as riquezas materiais pois elas não são tudo na vida! A mulher ficou como perdida tentando adivinhar de onde vinha aquela voz. E a voz continuava: - Lembre-se de uma coisa, depois de sair da caverna, a porta vai-se fechar para sempre, aproveite o tempo e não se esqueça do que eu lhe disse: -Cuidado com as riquezas materiais! A mulher não teve dúvidas e entrou na caverna com o seu filho no colo, e dentro da caverna encontrou muitas riquezas. Ela ficou com os olhos brilhando, fascinada, com tanto ouro e joias. A mulher pôs o filho no chão e começou a apanhar tudo o que podia para o avental. A voz continuou a dizer: -Ei, você tem cinco minutos!
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O tempo acabou-se, a mulher estava carregada de ouro e pedras preciosas. Ela foi embora correndo e a porta da caverna fechou-se. Deixou a imaginação voar, e calculou que teria dinheiro para ter uma vida de luxo. Foi aí que se lembrou que tinha deixado o filho lá dentro da caverna, mas a porta ficou fechada para sempre. A mulher ficou desesperada e ainda tentou falar com a voz misteriosa, mas nenhuma resposta lhe foi dada. A mulher sem saber o que fazer, foi embora levando toda a riqueza no seu avental, e também um enorme peso no coração por ter deixado lá ficar o filho. A riqueza foi consumida em pouco tempo, mas a mulher ficou com desespero e os remorsos ficaram no seu coração, até ao fim dos seus dias. Essa mulher foi castigada por Deus, e teve que viver mais de duzentos anos. O seu filho ficou para sempre preso na caverna.
André Santos
A LEITEIRA Angelina sentia-se muito feliz por viver na sua granja, que era muito bonita. Um dia, a mãe disse-lhe: -Se ordenhares a vaca, o leite que tirares, poderás ir vendê-lo ao mercado e com o dinheiro que conseguires, poderás comprar o que quiseres. Dito e feito. Angelina, depois de encher um canado de leite, despediu-se da mãe: -Adeus, mamã! - E partiu contente e feliz pensando no que havia de comprar com a venda. A meio do caminho, parou a pensar mais demoradamente no que poderia empregar o dinheiro obtido com a venda do canado de leite. -Já sei em que o vou gastar! E pensava, sem cessar nos seus projetos. -Querido passarinho tive uma ideia colossal: comprarei uma galinha e a galinha dar-me-á ovos e destes nascerão pintainhos. Mais tarde, no caminho para o mercado, encontrou um pastor a quem disse: -Vou ao mercado vender o leite deste canado. Com o dinheiro que obtiver, comprarei uma galinha, a galinha dará pintainhos, os pintainhos trocá-los-ei por um vitelo e o vitelo se transformará num formoso touro que venderei e comprarei uma casinha. Ao barqueiro que a ajudou a atravessar o rio também explicou todos os seus planos. O barqueiro ficou assombrado como aquela menina pudesse ser tão esperta. Na outra margem do rio, encontrou um burrinho, ao qual disse: -Vou ao mercado vender o leite deste canado, com o dinheiro que obtiver, comprarei uma galinha, a galinha dará pintainhos, os pintainhos trocá-los-ei por um vitelo e o vitelo se transformará num formoso touro que venderei e comprarei uma casinha. -Que esperta que és, menina! Tu sim, sabes fazer bons negócios! E ela sentindose feliz com o que o burrinho lhe dissera, deu um grande salto de contentamento. Ao saltar, caiu o canado que se partiu, espalhando-se todo o leite pelo chão. E, adeus galinha, adeus pintainhos, adeus vitelo, adeus touro, adeus casinha, adeus todos os bens com que a menina tinha sonhado! Isto ensinou a Angelina a nunca contar com o que não se tem. A confiar apenas no seguro e não no ilusório. Cátia Nepomuceno contada pela avó Maria Isalinda
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O AFILHADO DO LOBO Havia uma raposa muito manhosa que gostava de se esquivar ao trabalho. Mesmo para arranjar comida procurava sempre maneira de que outros fizessem o trabalho por ela. Um dia, resolveu fazer um contrato com o lobo. Dirigiu-se a ele e disse-lhe: -Tenho aí um filhote para batizar e resolvi escolher-te a ti para padrinho. Aceitas? -É claro que aceito - respondeu o lobo - E quando é o batizado? -Primeiro vamos ter de arranjar um carneiro bem gordo para a festa. Vamos a isso? - Propôs a raposa. -É para já - aceitou o lobo. Foram procurar um rebanho e a raposa depois de escolher o carneiro que mais lhe convinha, disse: -Vês ali aquele carneiro? É o ideal para a festa do afilhado. Vai lá buscá-lo. O lobo assim fez. Agarrou no carneiro, trouxe-o até à raposa e, juntos levaramno para uma bouça. -Ai - diz a raposa -como ainda tenho de pensar num nome para o teu afilhado, vamos enterrá-lo aqui para que as moscas não o vejam. Deixamos-lhe o rabo de fora para sabermos onde está. O lobo aceitou. Contudo, mal este virou costas, a matreira foi sobre o carneiro, desenterrou-o e comeu-lhe um bocado. No dia seguinte, o lobo procurou a raposa e disse-lhe: -Então, comadre, já pensou num nome para o meu afilhado? -Comecei-o -respondeu a raposa. -Então vamos a isso! - diz o lobo. -Tem calma -diz a raposa – este foi só o primeiro ensaio! Mais um dia passado, a raposa voltou a ir desenterrar o carneiro e comeu mais um bocado, deixando-o ficar a meio. E voltou a por o rabo à vista, para que o lobo pensasse que o carneiro ainda estava como o deixaram. Entretanto, como a velhaca ainda não se decidira a fazer o batizado, o lobo voltou a procurá-la. -Então comadre, o meu afilhado já tem nome?
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-Meeio -respondeu ela. -Então porque esperamos? -Tem calma -disse a raposa -este foi só um segundo ensaio! Ao terceiro dia, a raposa voltou lá e comeu o resto do carneiro apenas lhe deixando o rabo de fora. No regresso encontrou-se com o lobo. -Então, qual é o nome do meu afilhado? – Perguntou. -Acabei-o! -E está muito bem assim -diz o lobo, com a barriga já colada às costas, tanta era a fome que tinha. Vamos lá desenterrar o carneiro e tratar do batizado. -E vamos pois -concordou ela. Quando chegaram ao local, diz a raposa: -Ó compadre lobo, como tens mais força do que eu pois estou cheinha de fraqueza, puxa tu pelo rabo! O lobo, como julgava que o carneiro estava lá inteiro, preparou-se para puxar com tanta força tinha, e puxou. Neste meio tempo, a raposa havia posto atrás dele um ferro aguçado. Por isso, o lobo ao puxar o rabo do carneiro caiu para trás e espetou-se no ferro ,desatando a correr para longe e a soltar gritos e pragas contra a raposa. Prometeu a si próprio nunca mais se deixar enganar pela conversa de nenhuma raposa. Quanto à espertalhona, aproveitou para desaparecer para longe dali, antes que o lobo a apanhasse.
Fátima Pereira contada pela tia Agostinha
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ERA UMA VEZ O LOBO E A RAPOSA Certo dia, o lobo e a raposa encontraram um rebanho de cordeiros. A raposa que era mais esperta, lembrou-se de entreter o pastor para o lobo poder roubar um cordeiro. O lobo levou o cordeiro para longe para o pastor não o apanhar, a raposa que era mais esperta, disse: -Olha, vamos mas é fazer um buraco e enterra-lo porque pode vir o pastor e matar-nos, mas deixamos o rabo de fora. A raposa disse para o lobo: -Amanhã vimos comer o cordeiro. No dia seguinte, o lobo encontrou-se com a raposa e disse-lhe: -Vamos lá comê-lo! Então a raposa respondeu: -Olha, não posso ir porque tenho um batizado, fica para amanhã. No dia seguinte, o lobo viu a raposa e perguntou-lhe: -Como se chamava o teu afilhado? -“Comeceixe” O lobo disse-lhe: -Vamos lá amanha! -Ó compadre, tenho outro batizado -respondeu a raposa. Quando se encontraram no outro dia o lobo perguntou como se chamava o afilhado. A raposa respondeu: -“Meieixe” O lobo disse: -Vamos amanhã? -Ó compadre, amanhã também não posso, disse a raposa- tenho outro batizado, já estou farta de tantos batizados! Mas esteja descansado que iremos lá amanhã. No dia seguinte a raposa perguntou-lhe como se chamava o afilhado. -Acabou-se. -Então vamos lá. E lá foram até ao sítio onde enterraram o cordeiro. -Ó compadre, você como é mais forte, meta-lhe esses dentes no rabo e puxe bem forte. Quando o lobo fez o que a comadre lhe mandou, ele dá dois tombos e ela foge. Ele foi atrás dela, mas coitado do lobo tanto correu que teve azar não a apanhou. Não comeu o cordeiro e ainda se espetou nos tojos. Teve que parar para tirar os picos, a comadre tanto correu que nunca mais se viu.
Maria Inês, contada pela avó Helena
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O LOBO, A RAPOSA E AS SARDINHAS Certo dia, andava o Tio Motreco a vender sardinhas, até que ao passar por ali a raposa deitou-se no meio da estrada a fingir-se morta. Quando o Tio Motreco a viu, disse: -Ai, que bela raposa para cobrir as minhas sardinhas! Assim que acabou de dizer isto pegou na raposa e pô-la em cima da caixa das sardinhas e seguiu caminho. Vendo o Tio Motreco distraído, a raposa atirou com as sardinhas para o meio da estrada e quando acabou, de mansinho saltou para o chão também. Depois agarrou em todas as sardinhas e foi deitá-las a um poço que havia ali perto. De seguida, gritou: -Ó lobo, vem cá que tenho aqui um belo banquete. O lobo que era muito guloso, não tardou a aparecer. Quando ele chegou disse de imediato à raposa: -no fundo deste poço está uma canastra de sardinhas. Mas para as comermos, primeiro temos que beber a água. Então meteram mãos a obra. O lobo começou logo a beber, mas a raposa só fingia que bebia. Quando a água do poço acabou o lobo já não aguentava mais com tanta água e foi fazer xixi. Enquanto a raposa comia as sardinhas.
Mónica Tomé contada pela avó Fernanda
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O MENINO MENTIROSO Era uma vez um menino chamado Luís, que vivia numa aldeia com os seus pais e um irmão mais novo. Esse menino era muito trabalhador, pois ajudava os seus pais na agricultura e tinha a seu cargo um rebanho de ovelhas que ele guardava com muito carinho e também com muita atenção para não perder nenhuma. Cada vez que uma ovelha tinha cordeirinhos, para ele era uma enorme alegria. Ele era um menino muito meigo, muito carinhoso e sempre pronto a ajudar quem necessitasse, mas com um defeito enorme, era muito mentiroso. Eram mentiras que não prejudicavam ninguém mas ele adorava mentir e pregar partidas as pessoas das aldeias. O que lhe dava imenso gosto era enganar muita gente ao mesmo tempo. Umas vezes chegava à capela, tocava o sino e gritava que havia um incêndio na eira junto aos palheiros, ora toda a gente corria para tentar salvar o seu palheiro. Quando as pessoas chegavam lá era tudo mentira. Outras vezes dava sinais no sino que alguém tinha falecido e lá ficava a aldeia toda preocupada para tentar saber quem tinha sido e assim sucessivamente. O prazer dele era mesmo enganar muita gente ao mesmo tempo. Os seus pais por vezes, até lhe batiam por ele ser assim, um grande mentiroso. Certo dia, andava ele a guardar o seu rebanho perto da aldeia quando se lembrou de inventar mais uma das suas mentiras. Começou a gritar que andavam lobos a atacarlhe o rebanho, e então pedia ajuda para salvar as ovelhas e cordeiros. Passados mais ou menos cinco minutos estavam lá os habitantes todos aflitos para o ajudar. Quando chegavam lá, claro que era tudo mentira e ele ria-se, ria-se, ria-se. As pessoas ficavam zangadas mas no fundo contentes por ser mentira. Passados uns dias tornou a fazer a mesma graça e as pessoas voltaram a “cair “novamente. Quando foi à terceira vez era mesmo verdade, pois andavam ali perto três lobos esfomeados que decidiram atacar o rebanho. Ele bem gritava a pedir ajuda e socorro, mas as pessoas na aldeia comentavam umas com as outras: - Oh! É o Luís mentiroso que anda sempre a enganar-nos. Deixem-no gritar a vontade! Os lobos mataram-lhe praticamente o rebanho todo, pois ele sozinho nada conseguiu fazer para evitar tamanha desgraça. Aprendeu uma enorme lição pelas
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mentiras e partidas que pregava aos habitantes da aldeia, pois apesar de ele estar a dizer a verdade nesta ultima vez que pediu ajuda, as pessoas tinham deixado de acreditar nele. Ele prometeu nunca mais mentir a ningu茅m, mas as pessoas ainda levaram um certo tempo para poderem confiar nele. Em certas alturas quando ele contava algum acontecimento, as pessoas ficavam sempre com receio que fosse mentira, pois da fama de mentiroso nunca mais se livrou!
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Tatiana Barreto Nepomuceno contada pelo av么 Manuel Barreto