1
Livro dos Av贸s
Ano Lectivo 2007/08 2
Introdução A estrutura escolar dá-nos grandes possibilidades para organizar no seu seio actividades de carácter especial, que estimulem a valorização e o uso do livro, por parte dos alunos. Na organização, deste tipo de actividades, temos que ter presentes os dois elementos dinamizadores que continuam a desempenhar um papel que se supõe importante: o professor e a família. A participação nas actividades de animação e dinamização da leitura e o uso da Biblioteca Escolar pretendem descobrir na criança valores, utilidades e estratégias de leitura que estimulem o interesse pela mesma. Este livro surgiu da recolha de histórias contadas no seio familiar, através da proposta da Biblioteca Escolar, adiante transcrita. Os textos recolhidos, que constam deste livro, foram organizados por turmas. Pensamos que, com esta actividade, conseguimos aproximar a criança à literatura infantil e estabelecer um laço com as suas famílias. Filomena Freitas 3
O Livro dos Avós O Livro dos Avós é um projecto que a Biblioteca Escolar
da escola quer
organizar, em conjunto com todos os alunos da mesma, a fim de realizar um livro, por turma, que contenha histórias, contos ou lendas que os avós queiram contar ou escrever. Cada aluno encarregar-se-á de levar a capa, com folhas, onde cada família escreverá o seu texto. Para isso, os pais ou encarregados de educação, podem ajudar o seu educando a escrever uma história, uma lenda ou um conto. A história pode ser escrita pelo aluno, familiar ou pelo encarregado de educação. Se por acaso, no dia em que o aluno levar a capa para casa, a família não estiver preparada para contribuir com o seu texto, era favor devolver a capa para ir rodando pelos restantes alunos da turma. Logo que tenham um texto, que achem conveniente, a capa voltará a vossa casa. No fim, todos os textos serão compilados e organizar-se-á o livro dos avós de cada turma. Os livros ficarão na biblioteca da escola para poderem ser consultados por toda a comunidade escolar. Obrigado a todos pela vossa participação.
A professora da Biblioteca Escolar 2007/01/15
4
1º Ano – Turma A Alexandra Esteves Cardia Andreia Catarina Alves Castro Beatriz da Costa Melo Eduarda Isabel M. Gomes Hugo Gabriel Mendes Morais Inês Setas Carneiro Luís Miguel Ramos Aleixo Mafalda Francisca dos Santos Pires Manuel Orsini Vilhena Pereira Sampaio Margarida Lobo Silva Miguel Setas Carneiro Pedro Manuel Cunha Pipa Sofia Bermudez Vogensen Tiago José Chaves Seabra
5
LENDA DO RIO MONDEGO
Era uma vez uma princesa moura, de olhos negros como a noite, que vivia na Serra da Estrela. Um dia, passou por ali um cavaleiro do sul de França, loiro como o trigo maduro e viu a linda moura. Diego, assim se chamava o cavaleiro, casou com ela e foram muito felizes. Um dia, porém, o rei do seu país mandou-o chamar para combater os exércitos inimigos que estavam a atacar o seu país. Diego abandonou o castelo da Serra da Estrela, cavalgando, cavalgando… Sozinha, a sua princesa moura, chorava sentada num penhasco e chamava: - Meu Diego!... Meu Diego|… E tanto chorou, pelo seu cavaleiro, que as lágrimas formaram um rio a deslizar pela serra, enquanto o eco da sua voz se espalhava pelo ar.: - Meu Diegoooooo!... Meu Diegoooooo! Com o tempo o eco enfraqueceu e as palavras da princesa perderam-se no vento, mas, ao passar em Coimbra, no choupal, as águas do rio gemem à noitinha imitando as lágrimas da princesa: Mondego! Glu…glu…glu… Mondego! Glu…glu…glu…
A aluna:
Beatriz Melo Contada pelo avô Francisco
6
O HOMEM DE PERNANBUCO
Conheço um homem natural de Pernambuco que andava mesmo maluco com a mania do bilhar. Só come ervilhas, mesmo essas não as mastiga, para sentir na barriga a bola carambolar. Mulher viúva é o melhor que pode haver, nada pode acontecer, só nos pode dar vantagem. Porque o marido foi para a cova de pé junto continua a ser defunto e defunto não reage.
O aluno:
Manuel Orsini
Contada pelo avô Orsini
7
A CABRITINHA DA PATINHA BRANCA
Era uma vez uma cabritinha que vivia com a sua mãe cabrita, numa humilde casinha, junto à montanha. Viviam sozinhas e um pouco isoladas, sendo assim, cumpriam à risca certas regras de segurança, para que o lobo mau não as atacasse. Qualquer descuido delas, era o suficiente para o lobo as atacar com maldade. Foi então, que certo dia, a mamã cabritinha teve de sair e avisou a sua filhota para os perigos, pedindo-lhe que não abrisse a porta a ninguém e que perguntasse sempre quem era. Além do mais, quem fosse a sua casa, teria de colocar a patinha num orifício que havia sido feito na porta, com a finalidade de as cabritinhas poderem ver a cor e o tamanho das patas de quem estava do lado de fora, ficando assim a saberem, de quem se tratava. Ora, com este método, as cabritinhas saberiam imediatamente se o visitante era o famoso e tão temido lobo mau. E assim foi, certo dia, a mamã cabritinha partira de casa para a cidade, mas confiante e segura de que a sua filhota estaria a salvo. No entanto, o lobo mau, para alem de malvado era muito manhoso!... Mal a mama cabritinha se afastou de casa, o lobo mau correu para esta e bateu a porta. - Truz, truz! - Quem é? - Perguntou desde lá de dentro, a cabritinha bebé. -Sou eu, a tua mãezinha! Imitando a voz desta. A cabritinha até que estranhou, pois sua mãe havia saído a tão pouco tempo e já estaria de regresso!?... foi então, que a cabritinha se lembrou das advertências da sua mãe pedindo logo de seguida, a quem se encontrava da parte de fora da casa, que colocasse a pata no buraco da porta, a fim de ver a cor. Se fosse branca ela saberia que era na verdade a sua mamã, caso contrário, era porque o visitante misterioso, era o maldito e atrevido lobo mau. Sem mais demoras, o lobo impaciente, apressou-se a colocar a pata no buraco da porta, mostrando a sua feia pata preta. Assustada, a cabritinha bebé, gritou desde dentro de casa: -Não és a minha mamã, tu és o lobo mau! A pata da minha maizinha é branca e a tua é preta!
8
Ouvindo aquilo, o lobo mau, correu logo a um moinho, onde pediu um pouco de farinha e polvilhou a sua pata, ficando esta branca! Regressou a casa da cabritinha e voltou a fingir ser a sua mãe. A cabritinha preocupada, insistiu novamente para que o visitante, colocasse a pata no buraco da porta, e assim foi; realmente a pata era branca (devido à farinha) e a voz era doce e fina como a da sua mãe!?.. um pouco confusa a cabritinha acabou por abrir a porta. De repente o lobo salta sobre ela e devorou-a de uma só vez! … Mas para azar deste, os caçadores alertados pelos gritos da mãe cabrita que surgira naquele instante, desataram a correr e foram em auxílio dela. Foi então que deram com um lobo feio e barrigudo que queria fugir, mas não conseguia, porque lhe pesava demasiado a barriga. Sem mais demoras, agarraram nele, prenderam-no e abriram-lhe a barriga, retirando dela, a cabritinha bebé ainda com vida (é que o lobo havia sido demasiado guloso e com a pressa engoliu-a inteira e viva). Então, os caçadores e a cabrita mamã tiveram uma ideia para castigar assim o lobo mau; colocaram um saco cheio de pedras e areia, dentro da barriga do lobo e depois é que o cozeram. Este, aprendeu certamente a lição, porque com a indigestão que apanhara, ficou sem vontade de voltar a atacar e de comer cabritinhas indefesas! Esta, era a história que a minha avó “Mela” , que já faleceu me costumava contar antes de eu dormir. Agora entendo o porquê de ser esta a história que ela mais vezes me contava! Talvez… talvez, porque “nem tudo o que parece, o é!”, ou talvez, porque queria que eu fosse cuidadosa, que aceitasse os conselhos e advertências dos mais velhos, mas principalmente que não abrisse a porta a estranhos, sempre que estivesse sozinha em casa! É que não faltam por aí, outros, LOBOS MAUS!?... Por isso, atenção, meninos tenham cuidado!
A aluna:
Andreia
Contada pela mãe 9
A VELHA E A CABACINHA
Era uma vez uma menina que ficou sem a mãe, ainda era muito pequenina. O pai viajava muito e um dia foi para uma viagem muito grande e arranjou uma namorada com quem casou. Essa namorada era muito má e tinha também uma filha que era muito má. Um dia foram todas a uma festa e não levaram a menina que ficou em casa. Nessa noite a menina pôs-se à janela e pediu às estrelas que lhe enviassem um coche para ela ir também à festa. As estrelas mandaram-lhe uma cabaça muito grande, e disseram à menina que se metesse na cabaça e fosse à festa. E assim foi: a menina meteu-se na cabaça e foi sempre rebolando. No caminho encontrou uma velhinha que lhe perguntou: - Ó cabacinha, viste por aí uma menina? A cabaça respondeu: - Não vi velhinha nem velhão, roda, roda cabacinha, roda, roda cabação….
O aluno:
Luís Miguel
Contada pela avó Lurdes 10
ERA UMA VEZ UM GALO QUE SE CHAMAVA JOÃO PLOURÃO
João Plourão estava acompanhado por suas galinhas numa noite de geada. Bateulhe à porta uma raposa que levou o João Plourão. Ao passar perto de um castanheiro, o galo disse para a raposa. - Gia!!! A raposa respondeu: - Deixa gear, que eu já levo que jantar. Quando a raposa respondeu ao galo, este fugiu para cima de um castanheiro e deixou-lhe penas na boca da raposa. Então a raposa chamava pelo galo e dizia-lhe: - Ó João Plourão, anda buscar a tua roupa? O galo respondia: -Quem me deu essa, me dará outra. No momento que estavam a falar, apareceram os caçadores e a raposa perguntoulhe ao galo de onde vinham os caçadores. O galo enganou a raposa. Eles vinham do lado esquerdo e ela disse-lhe que vinham do lado direito. Então a raposa corre para o lado esquerdo e os caçadores apanharam a raposa. Nessa altura o João Plourão desce do castanheiro e chega ao pé da raposa e pergunta-lhe: - Rapozinha de mil manhas, tu ris-te ou arreganhas? Porque a raposa estava com os dentes arreganhados. Nessa altura, o João Plourão regressou a sua casa, para junto das suas queridas galinhas.
O aluno:
Tiago
Contada pelo avô Fernando 11
O BURRO MÁGICO
Era uma vez, um burro muito triste e solitário, porque todos os animais o desprezavam. Resolve então dedicar-se à magia e…. assim o pensou, assim o fez . Um dia, para chamar a atenção dos outros animais pôs-se debaixo de uma grande árvore e começou a zurrar com quantas forças tinha. Atraídos pelo barulho, todos os animais se aproximaram. Os ramos ficaram cheios de aves e à volta do tronco estavam muitos outros animais, como vacas, bois, cavalos, ovelhas, lobos, raposas, etc. O burro sentindo-se muito importante, encheu-se de coragem e disse: - A partir de agora vou dedicar-me à magia. Olharam uns para os outros e interrogaram-se: -Como pode ser, se ele é tão burro? - Atenção diz o burro, bastará que eu diga “perlim, pim, pim” e esta árvore desaparecerá e à minha volta, abrir-se-á um grande buraco e todos serão engolidos. Antes que o burro dissesse “perlim, pim, pim” , as aves voaram abandonando a árvore e os outros animais viraram costas e fugiram o mais rápido possível, cheios de medo. O burro ficou a rir-se da ingenuidade dos outros animais e a partir daí ficou a ser mais respeitado e considerado o MÁGICO DO CAMPO.
Os alunos:
Inês eMiguel Setas Contada pela avó Nini 12
A LENDA DE PALHEIROS
Na minha aldeia existe uma serra com o nome de "Crasto", onde em tempos habitavam os mouros, hoje encontram-se lá as escavações de arqueologia onde têm aparecido supostos objectos pertencentes à vida dos mouros. Antigamente, havia enormes cearas de centeio e trigo que era ceifado por ranchos de homens e mulheres, depois apertado em molhos e ficavam quinze dias em tendais na terra onde era ceifado. Depois era transportado para as ciras, em carros de bois, onde ficava numa meda e era malhado, por homens, com uns malhos em madeira. Faziam-se grandes medas de palha que era utilizada na alimentação e estrumar as cortes dos animais e daí ia para as terras em vez de adubos. Mais tarde começaram a aparecer malhadeiras puxadas por um motor para então malhar os cereais, já sai a palha para um lado e o grão para outro. Já dizia a minha avó que o nome da sua aldeia tenha a origem nos palheiros por haver muitos palheiros de palha. Por isso se chama Palheiros.
A aluna:
Alexandra
Contada pela avó 13
UMA NOITE A BEIRA DO RIO TÂMEGA
Gonçalo e Marisa eram dois alunos apaixonados da Universidade de Chaves e estavam sentados num Citroen AX numa estrada de terra ao lado do Rio Tâmega. Era o mês de Janeiro e eram as 11 horas da noite. Havia uma densa névoa lá fora e podia-se ouvir as rãs a fazer "croak, croak, na distância. Não se via nada , mas os dois meninos estavam sossegados porque estavam sozinhos e Chaves era um lugar calmo. Não havia razão para ficar com medo. Pelo menos até esta noite. Os dois estavam a escutar música pimba na Rádio Larouco e conversando sobre os professores chatos, especialmente sobre o professor de História, Seu Melancias, que dormia em pé na sala enquanto falava sobre Afonso Henriques. De repente uma voz interrompeu a música no rádio. "Atenção para esta notícia que acaba de chegar. O maníaco Bibi Cruz, autor de 10 homicídios, que cumpria pena de trinta anos no manicómio de Vila Pouca de Aguiar, conseguiu escapar hoje a tarde e teme-se que tenha se dirigido para o norte. As autoridades pensam que ele tentará passar pela fronteira com Espanha em Vila Verde da Raia. Recomenda-se a todos os habitantes que não saiam de suas casas hoje. Lembrem-se que o homem é muito perigoso e pode ser reconhecido por ter um gancho no lugar da mão direita." Mal a notícia tinha terminado, a Marisa pediu para ir para casa. Gonçalo não tinha muito medo e ficou até zangado com a insistência de Marisa de ir embora. Irritado, ele pisou no acelerador. O carro tremeu como se alguém tivesse tentado segurá-lo. Mas Gonçalo pisou mais forte e o carro correu pela estrada de terra deixando para trás um grito de dor facilmente abafado pelo coachar das rãs. Chegando na casa da Marisa, uma vivenda com dois leões adquiridos no Catonho Tonho no portão, no Alto da Forca, podia-se ver que as luzes estavam acesas. Os pais da Marisa não tinham dormido ainda. Como o bom cavalheiro que era, o Gonçalo abriu a porta do motorista e deu a volta pelo carro para abrir a porta do passageiro. Quando chegou
à porta do lado da Marisa, mal conseguiu controlar um grito mistura de horror e nojo: pendurado na maçaneta da porta estava um gancho sangrento.
A aluna:
Sofia Vogensen
Contada pelo avô Ray 14
A LENDA DA PORCA DE MURÇA
A lenda da " Porca de Murça ", tal como todas as outras é fruto do imaginário popular. Esse conhecimento é geralmente perpetuado pela memória colectiva de gerações. O sentido da existência desta lenda prende-se com a explicação do significado na, Praça de Janeiro ou 25 de Abril, em Murça de uma porca.
"Segundo a lenda, era no século VIII esta povoação e seu termo assolados por grande quantidade de ursos e javalis. Os senhores da Vila, secundados pelo povo, fizeram tantas montarias, que extinguiram tão daninha fera ou a escorraçarem para muito longe. Entre multidão de quadrúpedes, havia uma porca (ursa) que se tinha tomado o terror dos povos, pela sua monstruosa corpulência, pela sua ferocidade, e por ser tão matreira, nunca esta poderia ter sido morta por caçadores. Em 775, o Senhor de Murça, cavaleiro de grandes forças e de não menor coragem decidiu matar a porca, e tais manhas empregou que conseguiu, libertando a terra de tão incómodo hóspede. Em memória desta façanha, se construiu tal monumento alcunhado a " Porca de Murça "e os habitantes da terra se comprometeram, por si e seus sucessores, a darem ao senhor, em reconhecimento de tal benefício, para ele e seus herdeiros, até ao fim do mundo, três árráteis de cera anualmente, por cada fogo, sendo pago este foro mesmo junto à porca ".
A aluna:
Margarida Silva
Contada pelo avô 15
LENDA DA PRAGA DE FOGO
Há muitos, muitos anos, vivia em Mourilhe, na região de Montalegre, Abed Ahmid, filho do chefe dessa aldeia moura. A sua tribo estava proscrita em relação aos outros muçulmanos que a abandonaram aquando do avanço cristão. Ora um dia, Abed decidiu sair do reduto mouro de Mourilhe e cavalgou até ao Minho. Aí, conheceu uma bela jovem cristã chamada Leonor. Foi amor à primeira vista e como a jovem também o amava, Abed pediu-lhe que partisse com ele para Mourilhe. Depois de recusas e hesitações, pois era cristã, Leonor cedeu aos impulsos do coração e foi com Abed. Contudo, a aldeia e o pai de Abed não receberam bem os jovens apaixonados, principalmente Leonor, que logo quis regressar à sua terra. Expulsos da casa do chefe, foram recolhidos por Almira, a mulher que criara Abed desde pequeno, pois era órfão de mãe. Almira acolheu muito bem Leonor, o que fez com que Mohamed, pai de Abed, ficasse colérico. E como gostava muito de Abed, correu a falar com Mohamed que já não o considerava seu filho. Depois do seu conselho se ter retirado, o chefe ficou a sós com Almira, que lhe pediu para se reconciliar com o filho e aceitar Leonor. Mohamed lembrouIhe, então, que Abed estava prometido a Zoleida, uma moura da aldeia. - Teu filho não a ama. Ninguém pode mandar no coração - lembrou Almira ao renitente Mohamed e recordou-lhe que, na sua juventude, também ele se apaixonara por Anália, uma jovem cristã, abandonando Zuraida em vésperas de ser mãe de Abed. Só voltara porque Anália caíra doente e morrera pouco tempo depois. Zuraida recebeu-o e perdoou-lhe, mas foi maltratada por Mohamed e acabou por morrer também, deixando o pequeno Abed sem mãe. Perante estas lembranças, era cada vez maior a ira do chefe mouro que, intransigente, correu com Almira. Leonor era, pois, um remorso vivo para Mohamed. O insucesso de Almina era evidente, que fez com que Abed decidisse abandonar a aldeia, com a ama e Leonor. Mas não sem antes se despedir de seu pai, que adorava devotamente. Ainda na aldeia e em conversa com Leonor, Almina lembrou-se de um último estratagema para alterar a situação: tinha de falar com Zoleida, que amava Abed desde criança, ainda que este nunca tivesse correspondido a tal paixão.
16
Zoieida, contudo, não se encontrava em casa quando Almina a procurou. Ao saber da vinda de Abed para a aldeia com uma cristã, louca de dor e raiva, tinha corrido para a casa do jovem. Mas vendo-o, escondeu-se, até conseguir estar sozinha com Leonor. Mal Almina saiu ao seu encontro, Zoleida, silenciosa e esquiva, acercou-se de Leonor pelas costas e apunhalou-a, fugindo de imediato. Pouco depois, surgiram Abed e Almina, que depararam já com a pobre Leonor morta, envolta numa poça de sangue. A dor logo invadiu Abed e Almina, deixando-os aterrados e inconsoláveis. Então, Abed decidiu cobrir com um manto o corpo sem vida de Leonor e levá-lo consigo para bem longe dali, com Almina. Esta ainda o tentou demover, mas nada conseguia vencer o desespero de Abed, louco de tristeza e dor. - Leonor está morta - lembrava-lhe Almina. O jovem respondeu que fugiria só com a sua amada, caso Almina não o quisesse acompanhar. Abed pegou então em Leonor e montou no seu cavalo, partindo de imediato em feroz galope para fora da aldeia. Almina, petrificada, chamando insistentemente por Abed, sem sucesso, voltou-se para a aldeia atrás de si e disse: - Malditos sejam todos os desta terra! Que o fogo destrua estas casas! O fogo que hei-de pôr com estas minhas mãos! Hão-de saber quem é Almina, malditos cães danados. Esta terra só estará purificada depois de por três vezes ser destruída pelo fogo! Mourilhe, esta é a praga de Almina! Verdade ou não, Mourilhe foi, de facto, três vezes devastada pelo fogo (na Reconquista Cristã, em 1854 e em 1875).
A aluna:
Eduarda Contada pela mãe 17
LENDA DO OVO
Há muito, muito tempo vivia num belo país um casal humilde e feliz. O casal tinha tudo o que necessitava para viver em alegria. Um belo casebre, embora pequeno, com um bonito jardim, comida, um rio que passava perto e um belo conjunto de árvores de diversos tipos. O sol brilhava radiante. Mas um dia a tristeza começou a cobrir a casa. Havia uma coisa que o casal não tinha e desejava muito: filhos. Faltava-lhes o riso e as brincadeiras das crianças. Todos os dias acordavam com o mesmo desejo no coração. Ora, numa bela noite estrelada, um raio de luz intensa entrou pela janela do quarto. Na sua cauda vinha sentada uma fada. O casal ficou muito espantado, mas não se assustou porque sabia que a fada era boa. Então a fadinha começou a falar: - Eu conheço o vosso desejo, e já estava à espera que um dia isto vos acontecesse. Fiz todo o possível para a vossa vida ser feliz, mas calculei que não seria o suficiente. O casal já estava calmo e escutava com muita atenção a fada que continuava a falar. - Pois bem, vou dar-vos duas filhas, com dois anos de diferença. Terão de fazer com que elas sejam muito unidas, para que continuem a ser uma família feliz. - Oh, sim! Nós prometemos, boa fada. Isto foi tudo o que sempre desejámos replicou o casal. - Aviso-vos que a tarefa não é fácil. Se o desejarem conseguirão cumpri-la, senão eu voltarei com melhor solução. E com estas palavras a fada desapareceu. O casal ficou muito feliz e esperou ansiosamente pela chegada da primeira filha. Um dia, finalmente, chegou. Era uma linda menina, das mais lindas que alguém jamais havia visto. Tinha uma pele muito rosada, uns olhos claros e brilhantes e um belo cabelo muito louro,que mais tarde se tornou numa cabeleira loura. A esta filha, o casal deu o nome de Gema. Tinham desejado tanto esta filha que lhe dedicaram todo o seu amor e acabaram por mimá-la demais. Gema tornou-se indolente, vaidosa e preguiçosa, mas os seus pais não a achavam assim.
18
Passaram-se dois anos e a outra filha nasceu. Esta, ao contrário de Gema, não era tão bonita. O cabelo era muito claro, quase transparente como a água, a pele era muito branca - os olhos, esses, eram claros, cintilantes, a única semelhança com Gema. Os pais deram-lhe o nome de Clara. As duas crianças cresceram felizes e muito brincalhonas, apesar das partidas que Gema fazia a Clara. Elas pareciam gostar muito uma da outra. Gema era muito mais viva e brincalhona que Clara e muito mais forte também. Queria brincar, e por isso passava a vida a arreliá-la. Clara era mais séria e trabalhadora. Gema irritava-se com Clara pois esta nem sempre queria brincar, e por isso passava a vida a arreliá-la. Por este motivo, Clara não gostava da irmã. O tempo foi passando e as maldades crescendo, assim como as arrelias que faziam uma à outra. Quando os pais repararam, já era tarde demais para que conseguissem mudar alguma coisa. A felicidade nunca mais voltou a reinar naquela casa. O tempo passou e a situação mantinha-se. Um dia a fada voltou: - Eu avisei-os, a tarefa não era fácil, não quiseram ouvir-me e deixaram que a alegria desaparecesse. Infelizmente, terei que agir e como castigo ordeno que Clara e Gema se unam num só alimento, rico e completo. As duas partes serão indispensáveis e assim vivam em conjunto para sempre. Dizendo isto, apontou a varinha para Clara e Gema, apareceu uma luz muito forte e quando desapareceu no lugar das duas estava um ovo. E assim, Clara e Gema viveram juntas para sempre, tornando-se úteis para nós. O casal aprendeu bem a lição e a partir daí tiveram muitos filhos e filhas que souberam educar convenientemente e foram muito felizes.
19
OS DOIS CHAPÉUS
Na montra de uma loja havia um chapéu de feltro, para homem e um chapéu de palha, para senhora. De tanto estar juntos os dois resolveram conversar. Ficaram a saber que ele se chamava João e ela Alice e, aos poucos, descobriram que gostavam muito um do outro. João fez planos de, um dia, ele e Alice viajarem por mar. Ela, porém, achava que chapéus não podiam escolher o que fazer, nem sequer para onde ir. Um dia uma cliente entrou na loja e pediu: "Quero aquele chapéu de palha azul que está na montra." Mal deu tempo a Alice de despedir-se de João. A compradora experimentou o chapéu, gostou e comprou-o. Alice foi levada num táxi. De dentro deste, deitou um último olhar a João, que ficou na montra, só. Pouco tempo depois, João foi retirado da montra. Tinha sido comprado. Agora ia sair para a rua e pensava: "Quem sabe se ainda volto a ver Alice?" Na rua, João olhava para todos os chapéus. E um dia viu mesmo Alice. Gostaria que o seu dono se apressasse, para poder falar com ela. Mas havia muita gente na rua e João receava perder Alice de vista. Que fazer? A dona de Alice dirigia-se para um eléctrico e João percebeu que precisava fazer alguma coisa bem depressa para não perder aquela oportunidade. Com grande esforço, João fugiu da cabeça do seu dono e voou em direcção ao carro eléctrico. Mas João, apesar do esforço, não o conseguiu apanhar, caindo no meio do chão. Foi então apanhado por dois cães que brigaram por sua causa. Nesse momento, apareceu um pobre homem andrajoso, que gostou de João e o apanhou do chão. Com o seu novo dono, João conheceu um barzinho onde havia tipos esquisitos. O chapéu escondeu-se atrás do piano a pensar em Alice. Dois homens discutiam muito zangados. A briga entre os dois sujeitos ganhou tais proporções que a policia foi chamada. Pela porta do bar uma corrente de ar levou de novo João para a rua. O pobre chapéu lamentou-se: "Agora perdi o meu lugarzinho atrás do piano por causa daqueles brigões... e estou outra vez na rua, no meio do lixo e das folhas caídas." 20
Resolveu então abrigar-se junto ao tronco de uma árvore para ali passar o Inverno. Veio a neve e, com ela, o frio. João sentiu uma grande amargura. De vez em quando pensava em Alice. Por onde andava ela? O vento arrastava-o pelas ruas desertas. Quando chegou de novo a Primavera, João viu-se junto à montra da loja onde tinha conhecido Alice.
A aluna:
Mafalda Pires
Contada pela irmã 21
LENDA DE MARIA MANTELA
Morava Maria Mantela com seu marido Fernão Gralho, numa casa da Rua da Misericórdia, nas proximidades da Igreja Matriz. Era um casal abastado, que vivia dos rendimentos, podendo assim Fernão Gralho entregar-se à caça de quando em vez, seu prazer favorito. Um dia, achando-se Maria Mantela grávida, passeava com o marido nos arredores da vila, quando foi abordada por uma mulher pobre com dois fIlhos gémeos abraçados ao peito, implorando lacrimosa uma esmola para minorar a sua miséria e a das suas criancinhas. Dela se compadeceu o marido que generosamente a socorreu. A sua mulher, pelo contrário, tratou-a duramente, colocando em dúvida a sua honestidade, por não compreender que, mulher de um só homem, pudesse de uma só vez gerar mais que um fIlho. A mendiga, sentindo-se injuriada, respondeu-lhe fazendo votos de que Maria Mantela não fosse castigada pelo que acabava de dizer, já que também estava grávida. Esta mensagem ficou sempre no espírito de Maria Mantela e uma certa sensação de remorso angustiava-a diariamente. Quando Maria Mantela deu à luz, encontrava-se o marido ausente, numa das suas caçadas. E do parto, para surpresa dela, nasceram sete gémeos, todos gerados ao mesmo tempo, apesar de ela ser fiel ao marido. Ficou tão aflita lembrando-se do que tinha pensado e dito à mãe dos gémeos que não teve coragem de apresentar ao marido os sete fIlhos, pelo que ele poderia pensar dela. No seu estado de aflição e loucura, encarregou a ama da casa que lançasse ao rio Tâmega seis dos recém nascidos, deixando ficar somente o que lhe parecesse mais robusto e bem constituído. A ama saiu, ao cair da tarde, para cumprir a missão, levando num cesto coberto os seis gémeos e preparava-se, a meio das Poldras, para lançar na forte corrente do rio os pequenos inocentes, quando avistou o Fernão Gralho que a observava da margem do rio. Veio ao seu encontro e inquiriu-a sobre o que fazia com aquele cesto, naquele local. A mulher procurou uma desculpa dizendo que a cadela tivera sete cachorrinhos e que ela vinha afogar seis, ficando em casa o de melhor raça. Porém o Gralho, pediu para os ver e então deparou com os seis meninos. Fernão Gralho, como homem compassivo que era, compreendeu a loucura da esposa que estivera a ponto de cometer um crime que a acompanharia toda a vida e perdoou-a desde logo. Tomou conta do cesto e ordenou à criada que fosse para casa participar o cumprimento das ordens que a senhora lhe dera, guardando segredo sobre a entrega dos recém nascidos. E, de seguida deslocou-se a seis aldeias do concelho de Chaves a confiar a outras tantas amas a sua criação. 22
Passaram dez anos sem que Fernão Gralho desse a entender à esposa o segredo que guardava. Para ela era uma tortura o crime que havia cometido com os seus filhos. o dia de ano novo, desse ano que começava, decidiu o Gralho festejá-lo com um lauto banquete, do que informou a mulher pedindo lhe que tratasse de tudo pois tinha seis amigos como convidados. À hora da refeição, quando Maria Mantela se dirigiu à mesa do banquete ficou muda de espanto; é que sentados, não estava só o fIlho, estavam sete rapazinhos todos iguais em feições e vestuário, de tal forma que ela não sabia dizer qual era o que ela tinha criado. O marido então esclareceu todos os acontecimentos acalmando enfim o sofrimento daquela alma tão longa mente angustiada. Os sete gémeos, diz ainda a lenda. Tornaram-se sete padres, paroquiando sete igrejas que fundaram com a invocação de Santa Maria. São elas a Igreja de Santa Maria de Moreiras, Santa Leocádia, Santa Maria de Calvão, o mosteiro de Oso já desaparecido e metade da Igreja Matriz de Chaves, Santa Maria de Émeres no concelho de Valpaços e São Miguel de Vilar de Perdizes do concelho de Montalegre. Na Igreja de Santa Maria Maior de Chaves. junto ao altar mor, em tempos passados existia um epitáfio, testemunho real da fundamentação da lenda e que dizia: "Aqui jaz Maria Mantela, com seus filhos à roda dela". Esta lenda, teve o privilégio de ser descrita, já em 1634 por D. Rodrigo da Cunha, Arcebispo de Braga e primaz das Espanhas que depois foi nomeado Arcebispo de Lisboa.
O aluno:
Pedro Pipa
Contada pelos avós 23
LENDA DA MOURA DA PONTE DE CHAVES
Depois da reconquista de Chaves pelos Mouros, em 1129, ficou alcaide do castelo um guerreiro que tinha um filho que adorava, de seu nome Abed, e uma sobrinha. Por vontade do alcaide, ambos ficaram noivos. A bela jovem não recusara Abed, pois os mouros poucos eram ali e nenhum lhe despertara paixão. Uns anos depois, os cristãos do jovem reino de Portugal iniciaram a conquista da região de Chaves, tendo mesmo atacado a cidade. À frente do exército português estavam os cavaleiros Rui e Garcia Lopes, irmãos de D. Afonso Henriques. O alcaide e seu filho encabeçaram a resistência moura e a defesa do castelo. Mas a população da cidade, perante os ataques cristãos, começou a fugir da cidade desesperadamente. Era grande a confusão entre guerreiros e fugitivos. Impassível àquelas correrias, mantinha-se a sobrinha do alcaide. A vida pouco lhe dizia, desde que ficara órfã devido à guerra. Entretanto, o alcaide e o filho lutavam tenazmente, embora sem sucesso. Numa dessas ocasiões, enquanto apreciava os combates, a moura fixou os olhos num belo jovem guerreiro cristão que ganhava com os seus homens cada vez mais posições no castelo. No mesmo instante, o guerreiro parou a ofensiva. Dirigindo-se a ela, interpeloua acerca da sua presença ali. O que fazia uma tão bela mulher num triste espectáculo daqueles? Respondeu a jovem que queria perceber a guerra, coisa que o cristão lhe disse ser só para homens que na guerra jogam a vida. Retorquiu a moura, que o mesmo faziam as mulheres, dando-lhe o exemplo da sua orfandade devido à guerra. O cristão lamentou o facto e quis saber se ela estava só. Quando a moura respondeu que vivia com o tio, alcaide do castelo, o guerreiro mandou levá-la imediatamente para o seu acampamento. A luta prosseguiu, entretanto. O castelo acabou por ser tomado e oferecido pelos Lopes a D. Afonso Henriques. Contudo, a jovem moura manteve-se refém dos cristãos que não a trocaram por cativos mouros. Passou a viver com o cavaleiro que a raptara, num ambiente de felicidade. Abed, conhecedor da situação, nunca lhes perdoou. Depois de restabelecido de um ferimento de guerra, voltou a Chaves, disfarçado de mendigo. E como não conseguisse acercar-se da sua apaixonada, um dia esperou-a na ponte. Pediu-lhe esmola.
24
A jovem estendeu a mão para o pedinte e, nesse momento, algo de fatídico aconteceu. Olhando-a nos olhos, Abed disse-lhe: - Para sempre ficarás encantada sob o terceiro arco desta ponte. Só o amor dum cavaleiro cristão, não aquele que te levou, poderá salvar-te. Mas esse cavaleiro nunca virá! Ouviu-se um grito de mulher. A jovem tinha reconhecido Abed. Contudo, como por magia, a moura desapareceu para sempre. Abed fugiu de seguida. Só as damas cristãs que a acompanhavam testemunharam o sucedido. Desesperado, o guerreiro cristão que com ela vivia tudo fez para a encontrar. Procurou incessantemente na ponte e até pagou para que lhe trouxessem Abed vivo para quebrar o encanto. Mas a moura encantada da ponte de Chaves nunca mais apareceu e o cristão morreu numa profunda dor e saudade, ao fim de alguns anos. Ora, diz o povo, que certa noite de S. João, cheia de luar, pela ponte passou um cavaleiro cristão. Ouviu, surpreso, murmúrios. Não viu ninguém, mas ouviu uma voz de mulher pedindo ajuda e que lhe disse docemente: - Estou aqui em baixo, na ponte, sob o terceiro arco. Estranhou a situação. Procurou sob o dito arco; no entanto, continuava sem ver a moura. Ouviu outra vez a moura que agora lhe dizia estar "encantada" e lhe pedia que descesse e a beijasse para a salvar. Mas o cavaleiro hesitou. Tocou no crucifixo que ao peito trazia e recordou-se dos contos que a mãe que lhe costumava contar sobre as desgraças de cavaleiros entregues aos feitiços de mouras encantadas. Perante estes pensamentos, olhou para o cavalo, montou-o e partiu, jurando nunca mais ali passar à meia-noite. Assim, a moura da ponte de Chaves ali ficou para sempre encantada. E nas noites de S. João, conta o povo, ouvem-se os seus lamentos como castigo do amor que tivera por um cristão.
Retirada de : http://www.lendasdeportugal.no.sapo.pt/ 25
MARIA MANTELA
Na Igreja Matriz de Chaves existiu, em tempos, uma lápide, no colateral direito, com o seguinte epitáfio: «Aqui jaz Maria Mantela com sete filhos ao redor dela».
Diz a lenda, que rememora Maria Mantela, que certa vez era ela ainda menina, criticou severamente uma pobre que lhe pediu esmola, levando ao colo dois gémeos. Anos mais tarde Maria Mantela casou e, passado tempo, engravidou. Iniciado o trabalho de parto, quando a parteira lhe disse, depois de ter nascido o primeiro filho, que se esforçasse para sair o segundo, e o terceiro, e o quarto, e por aí fora até ao sétimo, a mulher ficou louca de vergonha. Assim que recuperou o ânimo, pagou muito bem à parteira para que escondesse o facto de ter tido sete filhos gémeos e entregou os recém-nascidos à serva que assistira aos nascimentos para que os deitasse ao rio. A criada, cheia de pena dos meninos, meteu-os num cesto e pôs-se a caminho do rio para cumprir o que lhe tinha sido ordenado. Não replicou ante a desumanidade do seu mandado porque bem sabia que isso só lhe podia valer aborrecimentos. Além de que a ama, no estado de espírito em que se encontrava, não lhe daria ouvidos, sendo provável até que lhe desse o mesmo fim que aos meninos. Perto das Caldas de Chaves, assim entregue a estes pensamentos e com a asa do cabaz enfiada no braço, a serva encontrou o marido de sua senhora Maria Mantela, o qual lhe perguntou o que levava no cesto. Apanhada de surpresa, a pobre rapariga, depois de titubear umas palavras incompreensíveis, acabou por achar a solução: - São cachorrinhos que eu vou deitar ao rio, senhor. O amo, ou por curiosidade ou por já desconfiar de qualquer coisa, levantou a cobertura e percebeu. Pegou no cesto, pô-lo sobre o cavalo e disse à rapariga que fosse dizer à ama que estava cumprida a ordem. Dali partiu com os filhos em busca de amas que os criassem. Deixou cada um em sua aldeia e durante muito tempo Maria Mantela não desconfiou que os meninos estavam vivos e se iam criando e educando.
26
Diz a lenda, ao mesmo tempo que especifica os nomes das igrejas, que estes sete meninos foram ordenados padres e viveram a sua vida em sete aldeias circunvizinhas de Chaves. E Maria Mantela viveu o resto da sua vida grata ao seu marido por ter aceite aqueles sete filhos de um só parto. E tanto os amou que exigiu descansar juntamente com os sete, no seu leito de eternidade: «Aqui jaz Maria Mantela com sete filhos ao redor dela». Poderá parecer estranho ao nosso entendimento de homens do século XX o problema posto nesta lenda em que se fala de gémeos que por o serem devem morrer. Creio não errar ao dizer que o problema se funda em antigas crenças segundo as quais as mulheres honestas só podiam, e deviam, ter um filho de cada vez do seu marido. O facto de lhes nascer mais do que um filho no mesmo parto deveria pressupor desonestidade no seu comportamento e consequente desonra do marido.
27
HISTÓRIA DE DOIS PORQUINHOS Dois Porquinhos, ainda pequenos, que viviam na margem do Rio Tâmega acabaram por fugir para o campo á procura de comida. Eles foram crescendo. . . A certa altura a porquinha ficou cheia, com filhotes na barriga, e quando chegou o tempo, nasceram oito porquinhos. A mãe porca não tinha leitinho para todos e ficou triste porque os filhos tinham fome. Apareceu, então, uma mãe loba que tinha perdido os filhos dela. Como tinha muito leite, ofereceu-se para lhe dar de mamar. A mãe dos porquinhos não queria aceitar porque ficou com medo que lhe fizesse mal. A loba aproximou-se com alguma meiguice, insistiu e a porca aceitou. Os porquinhos ficaram gordos e fortes e resolveram voltar para a Beira do Rio. Quando chegaram viram a Ponte Romana e cantaram: A nossa Ponte Romana Tem grande dimensão Só em falarmos dela Enchemos o coração
E foi assim que viveram juntos e felizes.
O aluno:
Hugo Morias
Contada pela avó 28
Índice
Lenda do Rio Mondego
5
O Homem de Pernambuco
6
A Cabritinha da Patinha Branca
7
A Velha e a Cabacinha
9
Era um Galo Que se Chamava João Plourão
10
O Burro Mágico
11
A Lenda de Palheiros
12
Uma Noite à Beira do Rio Tâmega
13
A Lenda da Porca de Murça
14
Lenda da Praga de Fogo
15
Lenda do Ovo
17
Os dois Chapéus
19
Lenda de Maria Mantela
21
Lenda da Moura da Ponte de Chaves
23
Maria Mantela
25
História dos dois porquinhos
27
29
1º Ano – Turma B Ana dos Santos Pereira Ana Isabel dos Santos Salgado Carolina Azevedo G. da Costa Diogo José Santos Alves Eva Domingues da Fonte Grazuna Bemardes Gonçalo José Chaves Cortinhas Alves Inês Pereira Esteves Joana Sofia Coutinho Chaves João Alexandre Durão Batista João Gabriel Silva Dias Leandro Filipe Martins Teixeira Mariana Rodrigues Barrigas Maria Inês Afonso G. da Cruz Pedro Filipe Pereira Costa Ruben Miguel Fernandes Ferreira Sara Alexandra Dias Pereira
30
A VELHINHA ADIVINHA
Era uma vez três meninos que viviam à beira do rio. Um dia, na Primavera, foram tomar banho ao rio. Pelo caminho encontraram uma Velhinha Adivinha, que lhes disse que não era bom eles irem tomar banho naquele dia, pois tudo se preparava para uma tarde de grandes trovoadas. Os meninos olhando para o céu não viram qualquer nuvem, nem qualquer sinal de mau tempo. E assim não acreditaram no que disse a velhinha. Entretanto ao chegarem ao rio, antes de poderem tomar banho, logo, logo, começou a trovoar e a chover com grande intensidade, não podendo assim fazê-lo, obrigando-os a fugir para casa. Os meninos ficaram muito admirados, pois a velhinha, tinha razão no que dissera e dali em diante os meninos resolveram ouvir com muita atenção o que a Velhinha Adivinha dizia.
A aluna:
Ana Isabel
Contada pela avó Aida 31
A LENDA DE SÃO GONÇALO
A minha avó paterna, que é do Douro, conta-me, que o meu nome está associado a uma lenda, que é a lenda de são Gonçalo de Amarante. Então, diz a lenda, que um dia um casal se zangou e para não ser espancada a mulher fugiu ao marido numa grande correria, pois ia ser espancada por ele, e foi esconder-se na Igreja de são Gonçalo. O marido muito nervoso procurava a mulher e foi encontrá-la atrás do altar-mor. No meio desta confusão, ouvia-se uma voz, sem saber de onde vinha, que dizia: - Na casa de são Gonçalo pode mais a galinha do que o galo. A partir desta altura a mulher foi para casa e o marido nunca mais lhe ralhou. A minha avó disse-me que esta lenda vem explicar-nos, que em casa mandam as mulheres.
O aluno:
Gonçalo Chaves Contada pela avó Carminda 32
OS IRMÃOS ARREPENDIDOS
Esta história foi contada há muito tempo numa aldeia de Coimbra, ao meu avô Joaquim, pela sua avó. Era uma vez, dois homens, irmãos muito ricos e muito maus. Possuíam muitos terrenos na aldeia mas, não deixavam que nenhuma pessoa os pisasse, nem criança nem adulto. Só eles, suas esposas e filhos podiam cultivá-los. As outras pessoas estavam proibidas de entrar nos campos, montes e hortas que lhes pertenciam. Há medida que os anos passavam, eles foram ficando cada vez mais maus e tratavam mal os vizinhos que os cumprimentavam, só porque eram ricos e não precisavam de ninguém. Então, as pessoas foram deixando de lhes falar. E com o passar dos anos ficaram sozinhos com as suas mulheres, porque os filhos casaram e foram viver para longe. Quando se aproximou a hora da sua morte e vendo como tinham tratado mal as pessoas ao longo de toda a vida, não deixando que ninguém pusesse os pés nas suas terras em sinal de arrependimento pediram para serem sepultados no corredor central da igreja. Assim, ainda hoje podem ser vistos dois túmulos na igreja desta aldeia onde todos passam sempre que vão à missa.
O aluno:
Pedro Costa
Contada pelo avô Joaquim 33
O COELHINHO DESOBEDIENTE
Um dia a Mãe Coelha foi às compras, mas antes de sair recomendou aos seus três filhos para não se afastarem de casa, pois na floresta existem muitos perigos (raposas, lobos, caçadores, etc). Todos obedeceram, excepto o Branquinho, que resolveu fazer troça dos seus irmãos, dizendo que eles eram uns medrosos e ei-lo a correr, alegre monte fora. De repente au- au – au, um enorme canzarrão apareceu vindo dos lados dos ribeiros. A correr, a correr muito (e a tremer também), o Branquinho coração aos saltos, fugia do deu inimigo quando… saída não se sabe de onde, uma raposa, que se tinha assustado com o ladrar do cão, começou a correr também. O cão ao ver a raposa esqueceu-se do pequeno coelho e lá foi ele monte acima, au – au- au, atrás da raposa. O branquinho, esse suspirou de alívio ao ver que estava fora de perigo e nunca mais se riu dos seus irmãos cuidadosos, nem se esqueceu das recomendações dos mais velhos.
O aluno:
Diogo Alves
Contada pela avó Armanda
34
O GATO SÁBIO
A mãe e o filho viviam junto do bosque, onde não muito longe havia uma cidade chamada “Nunca lá fui “. Um dia a mãe foi apanhar lenha para acender a fogueira e fazer a comida. Quando a mãe saáa o gato sábio ficava a guardar o filho que se chamava Piu Piu. Nesse dia a mãe não voltou, a bruxa má levou-a e o gato sábio e o filho Piu Piu ficaram muito tristes. O gato sábio e o Piu Piu resolveram ir procurar a mãe. Depois de muitas voltas darem, chegaram à cidade Nunca lá fui”, onde se estava a realizar uma grande festa em honra do Rei. Como havia muita gente o Piu Piu e o gato sábio, subiram para uma árvore para ver passar o desfile, foi então que o gato sábio viu a bruxa má a apanhar pessoas e levá-las para o castelo do Gigante Papa Tudo. O gato sábio cheio de coragem resolveu ir salvar a mãe do Piu Piu. Quando a bruxa má saiu do castelo o gato sábio que estava a espreitar, entrou no castelo, salvou a mãe e levou-a para junto do Piu Piu, que ficou muito feliz. Regressaram os três para casa junto do bosque e enquanto festejavam o gato sábio transformou-se num belo príncipe. Em criança ele era muito endiabrado e fazia muitas asneiras, por isso tinha sido enfeitiçado pela sua Fada Madrinha, o qual só voltaria a ser príncipe depois de praticar uma boa acção. O príncipe levou o Piu Piu e a mãe para o palácio do Rei, onde viveram todos muito felizes
O aluno:
João Alexandre
Contada pela mãe 35
O MESTRE
Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, resolveu descer à terra e visitar um mosteiro. Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila e cada um se apresentava diante da Virgem para prestar a sua homenagem. Um declamou belos poemas, outro mostrou as suas iluminuras para a Bíblia, um terceiro disse o nome de todos os santos. E assim por diante, monge após monge, cada um homenageou Nossa Senhora e o Menino Jesus. No último lugar da fila, havia um padre, o mais humilde do convento, que nunca tinha aprendido os sábios textos da época. Os seus pais eram pessoas simples, que trabalhavam num velho circo das redondezas e tudo o que lhe tinham ensinado era atirar bolas para o ar e fazer alguns malabarismos. Quando chegou a sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens, porque o antigo malabarista não tinha nada de importante para dizer e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu coração, também ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si a Jesus e à Virgem. Envergonhado, sentindo o olhar reprovador dos seus irmãos, tirou algumas laranjas do bolso e começou a atirá-las ao ar, fazendo malabarismo, que era a única coisa que sabia fazer. Foi só nesse instante que o Menino Jesus sorriu e começou a bater palmas no colo de Nossa Senhora. E foi para esse padre que a Virgem estendeu os braços deixando que ele segurasse um pouco o menino.
A aluna:
Inês Esteves
Contada pela bisavó Isabel 36
O MILAGRE DAS ROSAS
D. Isabel, filha do rei de Aragão, foi esposa de D.Dinis, herdeiro do trono de Portugal. Conta-se que, no ano de 1333, em Portugal, houve uma fome terrível. Para a aliviar D. Isabel empenhou jóias e mandou vir trigo para o celeiro real, tendo continuado a distribuir pão aos pobres. Um nobre informou o rei de que a rainha gastava demais nas obras das igrejas, nas doações e na caridade que fazia. O rei, desconfiado, decidiu surpreender a rainha numa manhã em que esta levava algo no manto. O rei perguntou-lhe: - Que levais no manto? A rainha com as suas mãos a tremer, respondeu-lhe: - São rosas, Senhor! O rei voltou a perguntar: - Rosas, em Janeiro? Deixai que as veja e cheire o seu perfume. A rainha abriu o manto e perante os olhos espantados de todos, caíram rosas frescas e perfumadas. O rei ficou sem palavras e beijou as mãos da rainha, enquanto os pobres gritavam: - Milagre, milagre…
O aluno:
João Gabriel
Contada pela avó Maria
37
A PADROEIRA DA FREGUESIA DE PARADELA DE MONFORTE
Reza a lenda, que num mês de Agosto, há muitos anos atrás, uma senhora apareceu debaixo de um arbusto no adro da igreja de Paradela de Monforte, com neve à volta dela. Como a igreja da aldeia vizinha (Águas Frias) era muito rica, tentaram levá-la para lá, colocando-a num andor e transportando-a aos ombros os homens. Quando chegaram ao local onde se dividem os terrenos de ambas as aldeias sentiram um peso enorme que diminuía enquanto viravam para trás, regressando ao local de onde a tinham tirado. Não se dando por vencidos tentaram transportá-la num carro de bois, mas quando chegaram ao mesmo sítio, os bois pararam e não havia quem os fizesse andar mais para diante. Depois de se aperceberem do que acontecia quando chegavam aquele sítio, decidiram voltar a colocá-la no local onde tinha aparecido e onde se mantém até aos dias de hoje, na Igreja de Paradela de Monforte, como padroeira e de nome Senhora das Neves.
A aluna:
Ana Pereira
Contada pelo avó Ana 38
O PASTOR E O LOBO
Era uma vez, um menino que guardava rebanhos de ovelhas numa montanha próximo da aldeia onde vivia. Certo dia, lembrou-se de assustar os habitantes da aldeia com uma mentira. Desceu a encosta da montanha e correu em direcção à aldeia gritando, para que todos ouvissem: - Socorro, socorro! Um lobo está a atacar as minhas ovelhas. E, todos os habitantes da aldeia correram até à montanha para salvar o menino e as suas ovelhas. Quando chegaram junto das ovelhas, o menino ria dizendo: - Enganei-vos, enganei-vos! Os habitantes da aldeia, furiosos, regressaram às suas casas. No dia seguinte, o menino voltou a repetir a mentira e os habitantes da aldeia voltaram a acreditar. Chegando à montanha perceberam que mais uma vez foram enganados pelo menino pastor e ficaram muito aborrecidos, dizendo ao pequeno pastor que, o que ele fez foi muito feio e que não se deve brincar com coisas sérias, pois mentindo desta forma, mesmo que um dia diga a verdade, ninguém acreditará nele. Um belo dia, ao escurecer, o menino preparava-se para regressar a casa com o seu rebanho, quando, de repente, foi surpreendido por um lobo que estava a atacar as suas ovelhas. O menino correu para a aldeia em busca de auxílio, gritando por socorro. Quando os habitantes da aldeia ouviram os gritos do pequeno pastor, pensaram que mais uma vez este estava a mentir e ninguém foi o ajudar. E, assim, o pequeno pastor percebeu que não se deve mentir!
A aluna:
Eva Bernardes
Contada pela avó Helena 39
A LENDA DA LAGOA DAS SETE CIDADES
Há muitos, muitos anos, vivia num reino das Sete cidades uma princesa chamada Antília. A menina era a filha única de um velho rei viúvo, que vivia em exclusivo para ela. A menina ora estava com o pai, ora estava com a velha ama que a criara desde o nascimento, altura em que a rainha, sua mãe, falecera. Os anos foram passando, Antília foi crescendo, transformando-se numa linda jovem, um princesa capaz de encantar qualquer rapaz do seu reino. Contudo, se todos ouviram falar na beleza da jovem princesa, eram poucos ou nenhuns os que a conheciam, pois o Rei não gostava que ela saísse do castelo. Mas, Antília não se deixava intimidar pelo pai, com a ajuda da velha ama costumava esquivar-se todas as tardes, enquanto o rei dormia a sesta, depois do almoço. Saía pelas traseiras sem que ninguém a visse, e ia passear pelos montes e vales próximos. Num desses passeios pela floresta, a princesa escutou uma música. Encantou-a de tal forma, que ela se deixou guiar pelo som e foi descobrir um jovem pastor a tocar flauta, sentado no cimo de um monte. A princesa, encantada, deixou-se ficar escondida a ouvir o jovem a tocar flauta. Ouviu-o escondida durante semanas. Até que um dia o pastor a descobriu por detrás de uns arbustos. Ao vê-la foi amor à
primeira vista, e era recíproco, pois ela também estava
apaixonada por ele. Os jovens continuaram a encontrar-se. Passavam as tardes a conversar e a rir, o pastor a tocar para a princesa e ela a escutá-lo encantada. Sentiam-se muito felizes juntos. Um belo dia, o pastor decidiu pedir a princesa em casamento. Logo pela manhãzinha, o jovem bateu à porta do rei. Pouco depois o criado voltou e levou-o `presença do soberano. Muito nervoso, mas determinado, o pastor fez-lhe uma vénia e, olhando-o nos olhos, disse: - Majestade, gosto muito de Antília, sua filha, e gostaria de pedir a sua mão em casamento. - A mão da minha filha, NUNCA…Ouviste… NUNCA! – disse o rei aos gritos. Criado põe este pastor atrevido na rua. 40
O jovem bem tentou argumentar, mas ele não o deixava falar, expulsou-o do castelo. Em seguida, o rei mandou chamar Antília e proibiu-a de ver o pastor. Antília não mais fez do que acatar as ordens do rei, seu pai. E, nessa mesma tarde, foi ter com o seu amor e disse-lhe que nunca mais se podiam encontrar. Os dois jovens choraram toda a tarde abraçados. As suas lágrimas, de tantas serem, formaram duas linhas e grandes lagoas, uma verde da cor dos olhos da princesa e outra azul da cor dos olhos do pastor. E, ainda hoje, estas duas Lagoas continuam no Vale das Sete Cidades, na ilha de São Miguel, lá nos Açores, para avivar a memória de todos quantos por ali passam e recordar o drama dos dois apaixonados.
A aluna:
Maria Inês
Contada pela avó Delfina 41
A MOIRA ENCANTADA
A minha avó é natural de Chaves, ela conta que existe a lenda do Forte de S.Neutel, chamada Fonte da Moura. Diz a lenda que todos os dias por volta da meia-noite vinha uma cobra à beira da fonte cantar. Um dia, um cavalheiro, muito destemido, pensou quebrar o encanto. Esperou a cobra com uma vara a que davam o nome de aguilhada, para a cobra subir. Ele tinha de ser beijado pela cobra. Se tivesse medo morreria, se não tivesse medo o encanto se quebraria e assim aconteceu. Ao mesmo tempo que o beijou, a cobra transformou-se numa bela menina de cabelos loiros, a chamada “Moira Encantada”. Nesse dia foi o fim do feitiço, quebrou-se o encanto. Tempos mais tarde, eles casaram-se e foram felizes para sempre.
Leandro Teixeira Contada pela avó Maria do Céu Braz O aluno:
42
A ROSA AZUL
Há muitos anos vivia numa aldeia um velho, muito doente, com o seu filho Raul. O rapaz, desejoso de tornar o pai forte e saudável, resolveu procurar uma rosa azul, capaz de devolver a saúde a quem lhe tocasse. Pelo caminho, encontrou uma velha com quem dividiu o seu farnel. Esta, reconhecida, deu-lhe um anel mágico que ao rodar no dedo tudo paralisava. O Sol desaparecia no horizonte, quando, ao longe, avistou o castelo, rodeado por uma floresta. Atravessou a floresta na direcção a terrível voz do gigante que a guardava. Tremendo de medo, lembrou-se de rodar o anel no dedo e, de imediato, o gigante ficou imóvel. Avistou uma torre muito alta, subiu a sua escadaria e encontrou um soldado com ar ameaçador que guardava a chave do castelo. Rodou o anel e, como o soldado não se podia mexer, tirou-lhe a chave. Com a chave, abriu o pesado portal, entrou e viu uma menina que despertava do seu sono. Pediu-lhe que lhe desse a rosa azul para o seu pai, que estava muito doente. A menina, cheia de pena, proferiu as palavras mágicas que fizeram aparecer a rosa azul, que o Raul levou para salvar o pai.
A aluna:
Joana Chaves
Contada pela mãe 43
HISTÓRIA DA RAPOSA E DA CEGONHA
Numa aldeia distante, vivia uma cegonha e uma raposa. Andavam num campo à procura de comida, pois a raposa tinha os filhotes no ninho. Puseram-se a conversar e a dona raposa convidou a dona cegonha para madrinha dos seus filhotes, ao que ela respondeu logo que sim. Então, num belo dia, a dona raposa convidou a dona cegonha para um jantar. A raposa cozeu uma panela de milhos e deitou-os numa fraga escorregadia. A cegonha, com o seu longo bico, não conseguia comer. Então dizia a raposa toda empanturrada de comida: - Comadre, coma os milhos, estão deliciosos. Ela respondeu: - Pois estão, obrigada, mas não tenho fome. A cegonha foi para casa e pensou “ vais pagar da mesma maneira”. A cegonha cozeu os milhos e serviu-os numa garrafa. A cegonha metia lá o bico e comia. A raposa, bem que tentou de várias maneiras, mas não conseguiu comer. Moral da história não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti.
O aluno:
Ruben Ferreira Contada pelo avô José Maria 44
A OVELHA
Era uma vez, uma ovelha e um cordeirinho que andavam a pastar. Começou a anoitecer e o cordeirinho dizia: - Mãe, vamos embora que vem o lobo e papa-nos! - Pasta, pasta cordeirinho, que amanhã choverá e nevará e não voltaremos cá! Isto repetiu-se várias vezes até que apareceu o lobo… O lobo, queria comer os dois, mas a ovelha convenceu-o a deixar o cordeirinho, porque a sua carne tenrinha podia dar-lhe cabo dos dentes. Só ficou a ovelha que antes de ser comida queria ensinar o jogo do rato ao lobo. - Lobo, mete a cabeça nessa buraco que eu vou por trás e mando-te ratos. O lobo assim fez. Esperou, esperou, mas os ratos nunca mais chegavam. Quando o lobo foi ver o que se passava, já a ovelha estava em casa ao pé do filho. Então o lobo disse: - Sou lobo Lobato, nunca ninguém me tinha ensinado o jogo do rato. Entretanto, a ovelha cansada de tanto correr dizia: - Eu sou ovelha, velha e russa, nunca na vida apanhei tamanha escaramuça.
A aluna:
Mariana Rodrigues Contada pela avó Graça
45
MARIA MANTELA
Na igreja Matriz de Chaves, existiu, em tempos, uma lápide no colateral direito, com o seguinte epitáfio: «Aqui jaz Maria Mantela com sete filhos ao redor dela». Diz a lenda, que rememora, que certa vez era ela ainda menina, criticou severamente uma pobre que lhe pediu esmola, levando ao colo dois gémeos. Anos mais Maria Mantela casou e, passado tempo, engravidou. Iniciado o trabalho de parto, quando a parteira lhe disse, depois de ter nascido o primeiro filho, se esforçasse para sair o segundo, e o terceiro, e o quarto, e por aí fora até ao sétimo. A mulher ficou louca de vergonha. Assim que recuperou o ânimo, pagou muito bem à parteira para que escondesse o facto de ter tido sete filhos gémeos e entregou os recém-nascidos à serva, que assistira aos nascimentos, para que os deitasse ao rio. A criada, cheia de pena dos meninos, meteu-os num cesto e pôs-se a caminho do rio para cumprir o que lhe tinha sido ordenado. Não replicou ante a desumanidade do seu mandado porque bem sabia que isso lhe podia valer aborrecimentos. Além de que a ama, no estado de espírito em que se encontrava, não lhe daria ouvidos, sendo provável até que lhe desse o mesmo fim que aos meninos. Perto das Caldas de Chaves, assim entregue a estes pensamentos e com a asa do cabaz enfiada no braço, a serva encontrou o marido de sua senhora Maria Mantela, o qual lhe perguntou o que levava no cesto. Apanhada de surpresa, a pobre rapariga, depois de titubear umas palavras incompreensíveis, acabou por achar a solução: - São cachorrinhos que eu vou deitar ao rio, senhor. O amo, ou por curiosidade ou por já desconfiar de qualquer coisa, levantou a cobertura e percebeu. Pegou no cesto, pô-lo sobre o cavalo e disse à rapariga que fosse dizer à ama que estava cumprida a ordem. Dali partiu com os filhos em busca de amas que os criassem.
46
Deixou cada um em sua aldeia e durante muito tempo Maria Mantela não desconfiou que os meninos estavam vivos e se iam criando e educando. Diz a lenda, ao mesmo tempo que especifica os nomes das igrejas, que estes sete meninos foram ordenados padres e viveram a sua vida em sete aldeias circunvizinhas de Chaves. E Maria Mantela viveu o resto da sua vida grata ao seu marido por ter aceite aqueles sete filhos de um só parto. E tanto os amou que exigiu descansar juntamente com os sete, no seu leito de eternidade: «Aqui jaz Maria Mantela com sete filhos ao redor dela». Poderá parecer estranho, ao nosso entendimento de homens do século XX, o problema posto nesta lenda em que se fala de gémeos, que por o serem devem morrer. Creio não errar ao dizer que o problema se funda em antigas crenças, segundo as quais as mulheres honestas só podiam, e deviam, ter um filho de cada vez do seu marido. O facto de lhes nascer mais do que um filho, no mesmo parto, deveria pressupor desonestidade no seu comportamento e consequente desonra do marido.
A aluna:
Carolina Azevedo Contada pela avó Ana 47
MARIA LANDAINAS
Eu sou a avó materna da Sara Alexandra Dias Pereira, mas não vou falar de mim! Vou contar o que me chamou mais a atenção quando vim para Chaves. Oriunda de Luanda, cheguei a esta cidade e sentia que as gentes e a cidade eram demasiado escuras. Com o tempo comecei a compreender a verdadeira alma do povo transmontano. Foi nesta fase da minha vida que conheci a lendária figura desta mulher "Maria Landainas". Tudo que disser ao seu respeito vou ficar muito aquém da Grande Mulher que ela foi. Popular, mulher do povo, humilde, mãe de muitos filhos sem nunca o ter sido, e "grosseira" quanto bastasse para não deixar ninguém sem tecto, pão ou uma palavras, Todas as pessoas a cumprimentavam e ela tinha sempre um gesto ou acção que prendia o olhar. As historias que proferiam a sua boca encantavam com horas difíceis de tempos difíceis que se passavam na altura, mas de festa, de muita festa, pois não havia festa, acontecimento, ajuntamento, inauguração ou recepção que não contasse com a sua presença, acho mesmo que em Chaves nada acontecia sem a sua presença. Entre muitas histórias ou episódios que se contavam desta senhora, um deles merece aqui o devido destaque: quando o General Humberto Delgado se deslocou a Chaves (Maio de 1958), em plena campanha eleitoral, e, no meio de um enorme banho de multidão, surge a dita senhora a dar um efusivo abraço ao general. Parabéns diz o povo por falar nessa grande mulher flaviense que se chamou Maria Landainas, era uma mulher fabulosa para a altura. Esta mulher falava da mesma maneira com os ricos, os pobres, e todos tinham um grande respeito por ela. Era de tal maneira que quando organizava o seu coro de mulheres para cantar os Reis ela era recebida na casa dos mais poderosos como que fosse um deles. Apesar de ser uma mulher que dizia palavrões, daqueles que só os flavienses sabem dizer, era ela que organizava as mulheres para lavar à mão a Igreja Matriz. Esta era daquelas figuras que tinham direito a uma Rua em Chaves. Nunca ninguém fez uma homenagem pública e oficial, merecedora de nome de rua, largo ou travessa de modo a que o seu nome se perpetue para sem pre na história flaviense para que não morresse com a memória dos que a conheceram. 48
Por de trás desta "mulher do povo", estava um excelente ser humano e uma lutadora para o trabalho, e no que tocava a eventos culturais, lá estava ela sempre presente, desde as famosas verbena do Jardim Público, às visitas de altas figuras do país à cidade. Maria Landainas era das primeiras a fazer as honras. Meus filhos conheceram, minha neta, não! Mas com certeza que ficará para sempre, na memória de todos aqueles que um dia a conheceram ou ouviram falar dessa grande mulher do povo Flaviense. Maria da Anunciação, ou como era conhecida – Maria Landainas ou simplesmente Maria (Tia Maria), nasceu em 20de Fevereiro de 1898 e faleceu em 6 de Outubro de 1987 com a bonita idade de 89 anos.
MARIA LANDAINAS "Qual farrapo vagueando pela calçada, Com marca bem exposta no debrum, Usando, maltratado, sem pejo algum, Era corpo de mulher de vida amarga.
Propus-lhe um retrato, mas nada honrada, Opôs-se com remoque pouco comum, Com a mão entre as pernas – disse: Hum! Faz-me um retrato, mas desta malvada! Tal proposta em de barato foi dita, Mas os traços do rosto ela consente Que reflictam, no papel, sua dura vida. Então chorou com o retrato em frente Quem, sem parir, foi mãe conhecida Por Landainas ou Maria simplesmente". Armando Ruivo
A aluna:
Sara Pereira Contada pela avó Guilhermina
49
Índice A Velhina Adivinha
30
A Lenda de São Gonçalo
31
Os Irmãos Arrependidos
32
O Coelhinho Desobediente
33
O Gato Sábio
34
O Mestre
35
O Milagre das Rosas
36
A Padroeira da Freguesia de Paradela de Monforte
37
O Pastor e o Lobo
38
A Lenda da Lagoa das Sete cidades
39
A Moira Encantada
41
A Rosa Azul
42
A História da Raposa e da Cegonha
43
A Ovelha
44
Maria Mantela
45
Maria Landainas
47
50
2º Ano – Turma C Ana Rita de Sã Gomes Casimiro André Santos Lázaro Edna Letícia Carneiro Rosa Eduardo da Cruz Pedroso João Miguel Abreu Torres José Pedro Ferreira Aguiar Luís Filipe Frederico de Morais Margarida Barros Files Margarida Pinheiro Teixeira Mariana de Almeida Teixeira Ricardo Magalhães Fernandes Telmo Pereira Peixoto Correia Braga Vítor Hugo Soares Oliveira
51
A LENDA DA ANDORINHA
Um bando de andorinhas seguia um lavrador que arava as terras, para se alimentar dos bichinhos que saíam dos sulcos, que ele cavava. Apenas, uma estava poisada num canto sozinha e triste. O lavrador ficou a saber que era por lhe terem morto a companheira. Isolada, no seu canto, a Andorinha vê aproximar-se um homem muito aflito que puxava à rédea de uma jumenta, montada por uma nazarena, mãe de um filhinho que trazia embrulhado num manto azul. A Andorinha reconheceu o bebé. Era Jesus. E, ao longe, avistou um bando de soldados que perseguiam aquela família e que a ameaçavam de morte. Adivinhou. A andorinha levantou voo e, batendo as asas, levantou a poeira e a areia do chão, apagando rasto que o homem e jumenta deixavam no caminho. Os soldados ficaram desorientados e não puderam continuaram a perseguição pois, não havia rasto algum para perseguir. A Andorinha salvou Jesus dos soldados e, nesse dia, Deus abençoou-a proibindo qualquer homem de a matar, caçar ou comer. A Andorinha voou e continuava a voar por todo o mundo em paz , contando às suas irmãs a bênção que Deus lhe deu.
João Abreu
O aluno :
Contada pela avô Artur 52
O DENTE DO JOSÉ
Um dia, quando o José estava a comer uma maçã sentiu algo estranho … - O meu dentinho caiu! Muito aflito com o que lhe tinha acontecido, o menino começou a chorar. - Ai, o meu dentinho caiu… À noite, quando o José foi para o seu quarto, fez o que a mãe lhe tinha aconselhado, colocou o dente debaixo da almofada para ter uma surpresa na manhã seguinte. De madrugada, quando o menino dormia, entrou no quarto um ratinho transportando um presente. Esse ratinho vivia no Real Palácio dos Presentes, onde trabalhavam muitos ratinhos fazendo brinquedos para os meninos que colocam os dentinhos debaixo da almofada. De manhã, quando ele acordou, ficou muito contente com a surpresa que teve. Era um bonito automóvel, com o qual brincou muito. O José nunca mais chorou quando lhe caíam os dentinhos para nascerem outros novos.
O aluno:
Eduardo da Cruz
Contada pela avó Natércia 53
OS POTES DA MOURA
Conta a lenda que há muito tempo atrás na serra da Pastoria havia uma muralha. Dentro dessa muralha viviam os mouros. Vivia lá uma moura que estava apaixonada por um cristão. Essa moura guardava dois potes, um cheio de ouro e outro cheio de peste. Os dois apaixonados encontravam-se debaixo de um túnel, mas um certo dia foram vistos por um pastor. Esse pastor e o seu cão correram atrás deles e depois de os encontrarem o pastor fez com que fossem separados. Assim, a moura morreu de tristeza deixando de guardar os seus potes. Perto da Pastoria havia uma terra com o nome de Casas Novas. Quando souberam da morte da moura, as pessoas da Pastoria e Casa Novas foram atrás do pote de ouro, mas este foi encontrado pelas pessoas de Casa Novas e assim a povoação da Pastoria só encontrou o pote da peste, que matou muitos habitantes da aldeia. Diz-se, por isso, que os habitantes de Casas Novas ficaram ricos e os da Pastoria pobres. Também se diz que, em noites de tempestade, se ouve a moura a chorar pelo seu amado e pelo ouro que não soube guardar.
O aluno:
Vítor Hugo Oliveira
Contada pela avó Leonilde 54
O TRABALHADOR MANUEL
Este conto que vou contar era-me contado quando ainda criança, em Africa, pela minha mãe, que por sua vez já lhe tinha sido contado por sua mãe, minha avó, quando também era pequena. Hoje sou eu que o conto aos meus filhos e contei-o pela primeira vez ao meu sobrinho neto Victor Hugo, com a ajuda da minha mãe, sua bisavó, depois do almoço de aniversário da mesma (fazia 83 anos). E lá vai o conto: Havia um homem que vivia sozinho, tinha trinta anos e era solteiro e chamava-se Manuel e o seu trabalho era servir pelas casas abastadas dos agricultores. E como já era costume bateu à porta de um agricultor abastado da região para pedir trabalho. O que foi logo aceite, começando logo a trabalhar. Quando chegou a noite e veio a hora de jantar foi-lhe servido um prato de sopa quente. O Manuel disse para o patrão: - Ó meu amo a sopa está quente! - Deita-lhe água – respondeu-lhe o patrão. Como não gostou muito daquela resposta no dia seguinte logo cedo abalou e foi bater a outro agricultor ali de perto. E tudo se repetiu. Chegando a noite foi-lhe servido um prato de sopa quente. - Ó meu amo a sopa está quente! - Deita-lhe vinho. Esta resposta já era melhor, mas ainda não era a que desejava e logo cedo voltou a partir. Desta vez foi a casa de um agricultor que vivia com algumas dificuldades e tinha muitos filhos. E lá ficou a trabalhar. Quando a noite chegou foi-lhe dado uma malga de sopa quente. - Ó meu amo a sopa está quente! - Deita-lhe pão. - Bom, bom, aqui já me agrada esta resposta. Gostou daquilo que ouviu e comeu a sopa quentinha com pedaços de pão acompanhada de um bom copo de vinho. O que é certo é que ele ficou a trabalhar para sempre e casou mais tarde com uma das suas filhas e viveram felizes para sempre.
O aluno:
Vitor Hugo
Contada pela bisavó Maria 55
A MENINA PIRATA Era uma vez uma pirata que andava há dois anos à procura de um tesouro. Ela viu no seu mapa que tinha de encontrar três palmeiras juntas e, no livro dos piratas, dizia que o tesouro estava na terceira palmeira. Construiu um barco para ir procurar a ilha do tesouro. Ela sabia que tinha uma montanha em forma de dinossauro. A pirata Emma e o seu papagaio loiro e os seus piratas marinheiros viajaram por muitos mares, visitaram muitos países, até que, quando estavam a ver a Torre Eiffel, em Paris, encontrou um menino francês que queria ser pirata e sabia muitas coisas de tesouros dos piratas e disse à pirata Emma: - Se tu me deixares ser um pirata no teu barco, eu digo-te o caminho para a ilha do tesouro. A pirata Emma aceitou o convite e partiram numa aventura. Viajaram três noites e três dias até que, de repente, o pirata Pierre viu a ilha da montanha do dinossauro. Todos ficaram muito contentes e foram logo explorar a ilha. Encontraram três palmeiras, mas faltava saber qual era a terceira palmeira, porque a Emma contava até três, da esquerda para a direita e o pirata Pierre contava da direita para a esquerda. Mas quem tinha a solução do problema era o loiro, o papagaio da pirata Emma. O loiro disse: - Eu sei um segredo. O mapa do tesouro está escondido num buraco da palmeira do meio. Esse mapa tinha um xis e dizia que o tesouro estava na palmeira do meio. Eles escavaram, escavaram, escavaram, mas não encontraram nada. Escavaram, escavaram e encontraram uma carta que dizia: “ O tesouro é invisível porque o que importa é viajar, brincar e fazer amigos” A comandante do barco, a pirata Emma, mandou fazer uma festa e todos comeram muitas bolachas com leite e sumo de laranja. Vitória, vitória, acabou-se a história.
O aluno:
André
Contada pela avó Henriqueta 56
A LUZINHA
Em tempos que já lá vão, conta-se que havia uma família, pai, mãe e sete filhos (ainda pequenos), que devido a uma guerra tiveram que fugir para bem longe. Eram pobres, unidos e muito felizes. Um dia, enquanto as crianças dormiam o pai e a mãe conversavam e resolveram sair daquela casa, que muito lhes custou. Pegaram numa carroça e um burrinho que tinham e abalaram, juntamente com as crianças. Sem destino, lá foram andando, alguns dias e noites, pedindo ajuda aqui e ali, até que chegaram a uma pequena aldeia onde habitavam pouco mais do que vinte pessoas. Pararam, olharam, viram uma pequena casa em ruínas, resolveram ir até lá, instalaram-se e ali dormiram aconchegados em velhos cobertores. Quando ficou dia, os habitantes daquela aldeia foram lá dar-lhes as boas vindas e prometeram ajudá-los. Arranjaram-lhes um pouco de terra para eles cultivarem. Pai, mãe e filhos ajudando-se uns aos outros foram vivendo, mas com muitas dificuldades, tinham sete filhos para criar. Era noite, estavam a começar a cear, quando alguém bateu à porta. Era um velhinho, chovia muito e o senhor estava todo molhado. - Entre. Aqueça-se aqui na lareira e sente-se para comer uma sopa junto da minha mulher e dos meus filhos. As crianças estavam felizes, brincaram com o velhinho e queriam que ele ficasse para sempre junto deles, só que no dia seguinte, muito cedo, o velhinho abalou sem que ninguém o visse. Ficaram todos muito tristes. O velhinho foi pelos montes fora andando, até que, lhe apareceu uma luzinha pela frente, como que a pedir que a seguisse, e assim o fez. Entretanto, essa luz entrou numa caverna. O velho ficou muito assustado, mas entrou também. Ficou maravilhado com o que viu, tudo cheio de luzes muito brilhantes, mas a tal luzinha que ele seguiu era diferente. Colocou-se em cima de um saco e acendia-se e apagava-se, como que a dizer que o velhinho pegasse no saco.
57
Ele chegou-se mais perto e abriu o saco. Estava cheia de moedas muito valiosas. De repente, as luzes apagaram-se, só ficou a que conduzia o velho. Ele pegou no saco e continuou a seguir a luzinha, até que foram parar junto à casa da família onde estivera na noite anterior. O velho bateu à porta, entregou o saco à família e, de repente, desapareceu. A partir daí, aquela família, com aquela fortuna, renovou a aldeia, construiu uma escola e muito mais. E assim todos viveram felizes para sempre. Conta a lenda que o velhinho foi mandado por Deus para ajudar aquela boa família.
A aluna
Margarida Files
Contada pela avó Luísa Neves
58
HISTÓRIA DO LOBO E DA RAPOSA Era uma vez um lobo e uma raposa, os quais eram compadres. Uma noite pensaram ir dar um passeio à beira de um lago, onde a lua reflectia no fundo. A raposa como era muito traiçoeira e mentirosa, disse para o lobo: - Oh! Compadre! Olha um queijo no fundo do lago, vamos beber toda a água para o apanhar? O lobo, como era muito bobo e gulosos, respondeu logo que sim. Bebeu, bebeu até a água acabar. Isto é, só bebeu o lobo, pois a raposa fingia que bebia. Quando o lobo viu que não havia queijo no fundo do lago, disse para a comadre raposa: - Foste tu que comeste o queijo! A raposa respondeu: - Não, foste tu que comeste o queijo! Assim, começou uma grande discussão. A raposa fugiu e o lobo foi atrás dela até de manhã. A raposa avistou um grupo de segadores de centeio, procurou de seguida o cesto da merenda, quando o viu, disse para o compadre lobo: - Ó compadre, tu ficas aqui, que eu vou buscar o almoço. Ora como o lobo tinha bebido muita água começou a fazer chichi, fez tanto que chegou aos segadores, que logo se puseram a correr atrás do lobo, deram-lhe tanta pancada que ficou todo ferido. Disse para a raposa: - Ai comadre! Deram-me tantas, tantas que já não posso mais. Respondeu a raposa: - Ai! Compadre! A mim deram-me tantas, mas tantas, que me deixaram os miolos de fora! O compadre teve tanta pena dela que lhe disse: - Ponha-se nas minhas costas que eu não estou tão aleijado como a comadre! A raposa foi o que quis ouvir, ela o que estava era cheia da açorda que tinha comido da merenda dos segadores, até tinha açorda na cabeça, pois ela não tinha levado pancada nenhuma, disse isso de manhosa, mais uma vez enganou o lobo. Feliz em cima do lobo e com a barriga cheia de açorda, cantarolava: - Raposinha galgueira cheia de sopas e ainda vai de cavaleira!...
O aluno:
Telmo
Contada pela avó 59
LENDA DE SANTA CRUZ
Conta-se que um lavrador açoriano estava a arar um terreno com a sua junta de bois. Na ilha das Flores, o solo é acidentado, mas o terreno é macio e a paisagem muito agradável. Os bois, criaturas fortes e potentes, eram meigos e muito obedientes, mas ao chegar a certo ponto, sempre no mesmo sulco, negavam-se a continuar a arar! Ajoelhavam-se os bois e não se levantavam, nem continuavam o seu trabalho. O lavrador, muito aborrecido, tentava em vão, obrigar os animais a trabalhar. Em qualquer ponto do terreno, os bois trabalhavam sem recusa mas, aquele sulco, não queriam completá-lo. Teimoso, o lavrador insistia mas, o chegar ao tal ponto” ao bois ajoelhavamse e não aravam”. O lavrador pegou na enxada e cavou ali a terra. Encontrou um pano que embrulhava qualquer coisa. Quando desfez o embrulho, deparou-se com um crucifixo muito bonito e muito antigo. Aquela terra, passou a ser muito especial…Santa Cruz das Flores.
60
A LEBRE E O SAPO-CONCHO
Um dia a lebre e o sapo-concho encontraram-se no campo . Tratavam-se por comadre e compadre. O sapo-concho convidou a lebre para um desafio dizendo-lhe: -Ó comadre aposto que sou capaz de chegar primeiro aquele silvado… -O compadre, de certeza, não está a regular bem da cabeça. O que deve fazer é procurar quem o trate - disse a lebre. Mesmo julgado como doido, o sapo-concho repetiu o desafio à lebre, dizendo-lhe: - A comadre só chegará depois de mim. E pergunta-lhe: aceita ou tem medo da aposta. A lebre aceitou, mas falou ao sapo-concho: - Olhe que se vão rir do compadre. Para vencer o rival, a lebre tinha apenas de dar umas dúzias de saltos, pelo menos daqueles que ela dá, quando, acossada pelos cães, deles se distância depressa, com as suas pernas ágeis e os deixa para trás ofegantes, na primeira encosta. Ela sabia isto bem demais. Convencida de que atrás de tempo, tempo vem. Foi com um sorrisinho de desdém que viu o sapo-concho pôr-se a caminhar no seu passo lento e miudinho. - Ora, deixá-lo ir, coitadito, pois no momento lhe direi como se corre - disse a lebre. E voltou-se para trás a tocar numas couves tenras que ali estavam mesmo a apetecer. O outro vai andando, esforçando-se quanto pode, na sua lentidão, mas avança, pouco a pouco, avançando sempre. Ela nem o olha. Julga obter facilmente a vitória ganhá-la no fim, quando o sapo estiver próximo do silvado. Não faz caso e, depois de comer, estende-se no chão. Quando repara já o rival estava atingir a meta. A lebre lança-se como uma flecha, corre quanto pode, mas em vão. Era tarde e o sapo-concho foi o primeiro a chegar. Ele riu da lebre e esta desculpou-se dizendo: - Porque deitei a correr muito tarde. Então, o sapo-concho chamou-lhe preguiçosa e estouvada. Esta não se calou e ripostou: - Mas corro muito mais que o compadre.
61
O sapo-concho perguntou-lhe: - Mas quem chegou primeiro? E se eu tivesse pernas como as suas? O sapo-concho gastou muito tempo. Andou devagar, andando sempre e chegou a tempo. Aprendei com a história da lebre e do sapo-concho “Vale muito ser inteligente, mas é preciso não deixar para o dia seguinte o estudo das lições ou os exercícios que se têm de fazer hoje. Quem assim procede vem a ficar atrás de outros menos dotados, porém mais trabalhadores e diligentes, por isso merecem louvor e recompensa”. À maneira dela, era assim que a minha mãe já me ensinava e eu li e contei esta história aos meninos da escola. E é assim que ensino e aconselho as minhas netas, incluindo a Margarida, agora, com oito anos de idade.
A aluna:
Margarida Pinheiro Contada pela avó Carolina 62
O CAPUCHINHO VERMELHO
A mãe pediu ao Capuchinho para levar o lanche à avó que estava doente, mas que não passasse pelo caminho. - Não te preocupes, mamã, não me demoro nada. Até logo – disse o Capuchinho. O Capuchinho Vermelho pára para apanhar umas flores para levar à avó. De repente, apareceu um lobo. O lobo desafia – a para fazer uma corrida e ganhava quem chegasse primeiro a casa da avó. O lobo foi mais rápido. Num abrir e fechar de olhos come a avó, veste a camisa de noite, coloca a touca, deita-se na cama da avó e fica à espera do Capuchinho Vermelho. O Capuchinho chega a casa da avó e vê uma grande boca e diz: - Que grande boca avó! - É para te comer. O lobo salta sobre ela e engole-a de uma só vez. Mas, um caçador valente mata o lobo, abre-lhe a barriga e tira de lá a avó e o Capuchinho Vermelho. Elas agradecem muito. E ainda bem que são horas do lanche.
A aluna:
Edna
Contada pela avó 63
LENDA DO SÃO MARTINHO
Martinho era um valente soldado que estava a regressar à sua terra natal. Conta a lenda que, num dia de Inverno, com muito frio, quando Martinho montado no seu cavalo seguia, apressadamente, para fugir à tempestade, se deparou com um homem muito pobre, vestido de roupas velhas e rotas, cheio de frio, que lhe pediu esmola. Infelizmente, Martinho não tinha nada para lhe dar, mas, como estava bem agasalhado para a época, lembrou-se de repartir com ele a sua capa. E assim fez. Pegou na espada que trazia consigo, cortou a capa ao meio e deu metade ao pobre, cobrindo-o para que ficasse mais quentinho. Nesse momento, de repente, as nuvens e o mau tempo desapareceram. Parecia Verão! Foi como uma recompensa de Deus a Martinho, por ele ter sido bom. É por isso que todos os anos, nesta altura do ano, durante cerca de três dias o tempo fica melhor e mais quente: é o Verão de são Martinho.
A aluna:
Rita Casimiro
Contada pela avó Laura 64
O MENINO QUE TINHA DOIS OLHOS Entre ontem à noite e esta manhã existiu um planeta que era muito parecido com a Terra. Os seus habitantes distinguiam-se dos terrestres por terem somente um olho. Era na verdade um olho maravilhoso com o qual se podia ver no escuro e a muitos quilómetros de distância e através das paredes… Com aquele olho podiam ver-se os astros como através de um telescópio e os micróbios como através de um microscópio… Todavia, naquele planeta, as mães tinham os filhos tal como as mães da Terra têm os seus. Um dia, nasceu um menino com um defeito físico muito estranho: tinha dois olhos. Os pais ficaram muito tristes. Não tardou muito a ficarem contentes; afinal era o menino muito alegre…e, além disso, parecia-lhes bonito …estavam cada vez mais contentes com ele e tratavam-no muito bem. Levaram-no a muitos médicos … mas o seu caso era incurável. Os médicos não sabiam que fazer. O menino foi crescendo e os seus problemas eram cada vez maiores: à noite tinha necessidade de luz para não tropeçarem na escuridão… Pouco a pouco, o menino que tinha dois olhos ia-se atrasando nos estudos; os professores dedicavam-lhe uma atenção muito especial… Precisava de ajuda constantemente. Aquele menino pensava já que não ia prestar para nada quando fosse maior…Até que um dia descobriu que via qualquer coisa que os outros não podiam ver … então, foi contar aos pais como ele próprio via as coisas … os pais ficaram maravilhados …na escola, as suas histórias encantaram os companheiros. Todos queriam ouvir o que ele dizia sobre as cores das coisas. Era emocionante escutar o menino dos dois olhos. E, passado algum tempo, era já tão famoso que ninguém se importava com o seu defeito físico. Ele próprio chegou a não se importar também com isso, porque mesmo que houvesse muitas coisas que não podia fazer, não era, de maneira nenhuma, uma pessoa inútil. Chegou a ser um dos habitantes mais admirados de todo o seu planeta. Quando nasceu o seu primeiro filho toda a gente reconheceu que era muito bonito. Além disso, era como as outras crianças: só tinha um olho.
A aluna:
Mariana Teixeira
Contada pela avó Laura 65
OS DEZ ANÕEZINHOS DA TIA VERDE ÁGUA
Era uma vez uma mulher casada, mas que se dava muito mal com o marido, porque não trabalhava nem tinha ordem no governo da casa; começava uma coisa e logo passava para outra, tudo ficava em meio, de sorte que quando o marido vinha para casa nem tinha o jantar feito, e à noite nem água para os pés, nem a cama arranjada. As coisas foram assim, até que o homem lhe pôs as mãos e ela a passar muito má vida. A mulher andava triste por o homem lhe bater, e tinha uma vizinha a quem se foi queixar, a qual era velha e se dizia que as fadas a ajudavam. Chamavam-lhe a Tia Verde Água: - Ai, Tia! Vossa mercê é que me podia valer nesta aflição. - Pois sim, filha; eu tenho dez anõezinhos muito “arranjadores” e mando-tos para tua casa para te ajudarem. E a velha começou a explicar-lhe o que devia fazer para que os dez anõezinhos a ajudassem; que quando pela manhã se levantasse fizesse logo a cama, em seguida acendesse o lume, depois enchesse o cântaro da água, varresse a casa, ponteasse a roupa e no intervalo em que cozinhasse o jantar fosse dobando as suas meadas, até o marido chegar. Foi-lhe assim indicando o que havia de fazer, que em tudo isto seria ajudado sem ela o sentir pelos dez anõezinhos. A mulher assim o fez, e se bem o fez melhor lhe saiu. Logo à boca da noite foi a casa da Tia Verde Água agradecer-lhe o ter-lhe mandado os dez anõezinhos, que ela não viu nem sentiu, mas porque o trabalho correu-lhe como por encanto. Foram-se assim passando as coisas, e o marido estava pasmado por ver a mulher tornar-se tão “arranjadeira” e “limposa”; ao fim de oito dias ele não se teve que não lhe dissesse como ela estava outra mulher e que assim viveriam como Deus com os anjos. A mulher contente por se ver agora feliz, e mesmo porque a féria chegava para mais, vai a casa da Tia Verde – Água agradecer-lhe o favor que lhe fez: - Ai, minha tia, os seus dez anõezinhos fizeram-me um serviço; trago agora tudo arranjado e o meu homem anda agora muito meu amigo. O que eu lhe pedia agora é que os deixa-se lá ficar. 66
A velha respondeu-lhe: - Deixo, deixo. Pois tu ainda não viste os dez anõezinhos ? - Ainda não; o que eu queria era vê-los. - Não sejas tola; se tu queres vê-los olha para as tuas mãos e os teus dedos é que são os dez anõezinhos. A mulher compreendeu a causa e foi para casa satisfeita por saber como é que se faz luzir o trabalho.
O aluno:
Ricardo Fernandes
Retirada do Livro Contos Tradicionais do Povo Português 67
A CHALEIRA ENTUPIDA
Este é um dos contos favoritos de sempre do Luís para adormecer, daí a sua escolha. Pff! Pff Não dá, a chaleira já não consegue apitar! “ Que azar! Será que continuo a ser uma verdadeira chaleira se já não conseguir apitar?” , pergunta ela muito triste. Os tachos e as frigideiras, as tigelas, os pratos e os talheres ouvem-na queixar-se. Todos dão as suas ideias. “ Obrigada” diz a chaleira, agradecendo as muitas ideias. Sopra e saltita, mas nada ajuda. “Continuo entupida”, choraminga ela muito triste. “ O que devo fazer?” Os outros não sabem mais o que lhe surgir. De repente, ouve-se um grande barulho. “ Uma lavagem! O que é preciso é uma lavagem! Vou encher-te com um jacto de água bem forte para poderes apitar outra vez!” E a torneira. Ninguém se tinha lembrado dela. Normalmente nunca diz nada. Limita-se a estar muda ali junto á parede a observar o que se passa na cozinha. “ Achas mesmo que isso funciona?”, pergunta a chaleira. “ Claro que sim! Vá lá, tira a tampa que eu trato do resto!”. A chaleira mete-se no lava-louça sem tampa, fecha os olhos e espera. De repente, Splash!, um grande jacto de água começa a enchê-la. A borbulha e…começa de novo a sair pelo bico. “ Já está!”, exclama a torneira. “ Vamos experimentar, outra vez”. A chaleira metese em cima do fogão. Passado pouco tempo, a água começa a ferver e a apitar. “ Obrigada, querida torneira! “ agradece a chaleira. Todos gritam e batem palmas e cumprimentam a torneira pela bela dica que teve. E a torneira fica envergonhada.
O aluno:
Luís Morais
Retirada do livro: Histórias de Embalar, Circulo de Leitores 68
LENDA DA MOURA DA PONTE DE CHAVES
Depois da reconquista de Chaves pelos Mouros, em 1129, ficou alcaide do Castelo um guerreiro que tinha um filho que adorava, de seu nome Abed e, uma sobrinha. Por vontade de alcaide, ambos ficaram noivos. A bela jovem não recusava Abed, pois os mouros poucos eram ali e nenhum lhe despertara paixão. Uns anos depois, os cristãos do jovem reino de Portugal iniciaram a conquista da região de Chaves, tendo mesmo atacado a cidade. À frente do exército português estavam os cavaleiros Rui e Garcia Lopes, irmãos de D.Afonso Henriques. O alcaide e o seu filho encabeçaram a resistência moura e a defesa do castelo. Mas a população da cidade perante os ataques cristãos, começou a fugir. Era grande a confusão entre os guerreiros e os fugitivos. Impassível àquelas correrias, mantinha-se a sobrinha do alcaide. A vida pouco lhe dizia, desde que ficara órfã devido á guerra. Entretanto, o alcaide e o filho lutavam tenazmente, embora sem sucesso. Numa dessas ocasiões, enquanto apreciava os combates, a moura fixou os olhos num belo jovem guerreiro cristão que ganhava com os seus homens cada vez mais posições no castelo. No mesmo instante, o guerreiro parou a ofensiva. Dirigindo-se a ela, perguntando acerca da sua presença ali. O que fazia uma tão bela mulher num triste espectáculo daqueles? Respondeu a jovem que queria perceber a guerra, coisa que o cristão lhe disse ser só para homens, que na guerra jogam a vida. Retorquiu a moura, que o mesmo faziam as mulheres, dando-lhe o exemplo da sua orfandade devido à guerra. O cristão lamentou o facto e quis saber se ela estava só. Quando a moura respondeu que vivia com o tio, alcaide do castelo, o guerreiro mandou levá-la para cativeiro no seu acampamento. O castelo acabou por ser tomado e oferecido pelos irmãos Lopes a D. Afonso Henriques. Contudo, a jovem moura manteve-se refém dos cristãos que não a trocaram por cativos mouros. Passou a viver com o cavaleiro que a raptara, num ambiente de felicidade. Abed, conhecedor da situação, nunca lhes perdoou. Depois de restabelecido de um ferimento de guerra, voltou a Chaves, disfarçado de mendigo. E como conseguia acercar-se da sua apaixonada, um dia esperou-a na ponte. Pediu-lhe esmola. A jovem estendeu a mão para o pedinte, nesse momento, algo de fatídico aconteceu. Olhando-a nos olhos. Abed disse-lhe: 69
- Para sempre ficarás encantada sob o terceiro aço desta ponte. Só o amor dum cavaleiro cristão, não aquele que te levou, poderá salvar-te. Mas esse cavaleiro nunca virá! Ouviu-se um grito de mulher. A jovem tinha reconhecido Abed. Contudo, como por magia, a moura desapareceu para sempre. Abed fugiu de seguida. Só as damas cristãs que a acompanhavam testemunharam o sucedido. Desesperado, o guerreiro cristão que com ela vivia tudo fez para a encontrar. Procurou incessantemente na ponte e até pagou para que lhe trouxessem Abed vivo para quebrar o encanto. Mas a moura encantada da ponte de Chaves nunca mais apareceu e o cristão morreu numa profunda dor e saudade, ao fim de alguns anos. Diz o povo, que certa noite de S. João, cheia de luar, pela ponte passou um cavaleiro cristão. Ouviu, surpresos murmúrios. Não viu ninguém, mas ouviu uma voz de mulher pedindo ajuda e que lhe disse docemente: - Estou aqui em baixo, na ponte, sob o terceiro arco. Estranhou a situação. Procurou sob o dito arco, no entanto, continuava sem ver a moura. Ouviu outra vez a moura que agora lhe dizia estar “ encantada” e lhe pedia que descesse e a beijasse para a salvar. Mas o cavaleiro hesitou, tocou no crucifixo que trazia ao peito e recordou-se dos contos que a mãe lhe costumava contar sobre as desgraças de cavaleiros entregues aos feitiços de mouros encantados. Perante estes pensamentos, olhou para o cavalo, montou-o e partiu, jurando nunca mais até passar a meia-noite. Assim, a moura da ponte de Chaves ali ficou para sempre encantada. E nas noites de S. João, conta o povo, ouvem-se os seus lamentos como castigo do amor que tivera por um cristão.
O aluno:
José Pedro Aguiar
Retirada de : http://www.lendasdeportugal.no.sapo.pt/ 70
Índice
A Lenda da Andorinha
51
O Dente do José
52
Os Potes da Moura
53
O Trabalhador Manuel
54
A Menina Pirata
55
A Luzinha
56
História do Lobo e da Raposa
58
Lenda de Santa Cruz
59
A Lebre e o Sapo-Concho
60
O Capuchinho Vermelho
62
Lenda do São Martinho
63
O Menino que Tinha Dois Olhos
64
Os Dez Anõezinhos da Tia Verde – Água
65
A Chaleira Entupida
67
Lenda da Moura da Ponte de Chaves
68
71
2º Ano – Turma D Ana Bárbara Morais Barreira André Manuel da Silva Souto Bárbara Nunes Videira Lopes Ferreira Bruno Daniel dos Santos Crespo Catarina Pereira da Silva Diogo Lopes Martinho Francisco João da Silva Lopes Inês Alexandra Salgueiro Fernandes Jorge Miguel F. Bernardo Chaves José Carlos Ferreira Albino Lara Doutel Ribeiro Mário Miguel Teixeira Ferreira Nuno Albano Cardoso Lopes Pedro Daniel de Melo Gouveia Pedro Francisco de Seixas Paulos Rui Filipe Gonçalves Ferreira Rute Carlos Cardoso Simão Romão Pereira Tiago Marques Chaves Thiago Persegani Loureiro 72
TANTOS E TÃO POUCOS Nos tempos em que os serões eram passados à lareira, em reuniões familiares, os lobos eram os protagonistas de muitas histórias contadas quase sempre com final trágico. Daí que esse animal fosse respeitado e temido, sobretudo pelas crianças. Conta-se que certa vez Rufino Coelho, no largo, procurava impressionar o seu público, afirmando categoricamente que vira sete lobos ao anoitecer nas fragas das Alminhas, quando ia de Valdanta para a vila de Chaves. As crianças tremiam só de imaginar a alcateia e escondiam-se atrás das pernas dos pais. Mas os adultos achavam que era proeza a mais para um homem tão franzino e de baixa estatura. Vira-se o Zé Taberneiro e pergunta-lhe: - Ó Rufino tens a certeza que eram sete?
- Tenho, eram mesmo sete!- respondia o Rufino procurando ser convincente. - Será que não eram seis? - Bem, se calhar até só eram seis!... - hesitava o Rufino. - Contaste bem? Não seriam só cinco? - insistia o Zé Taberneiro. - Era capaz! …Só seriam cinco! - Não, de certeza que contaste mal! Deviam ser p'ra aí uns quatro! - Seriam, seriam... não digo que não - balbuciava o pobre homem, já atarantado com tantas desconfianças. - Tantos lobos? Quatro?! Não, não pode ser! Eram provavelmente uns três e nada mais! - Talvez! ... Talvez!. .. - respondia o Rufino. - Ora! Ora! Se calhar só eram dois! - retorquiam os seus interlocutores. - Bem, seriam, então, dois! - concordava ele. - Não viste bem, era provavelmente só um lobo! - concluiu o Zé Taberneiro. No meio de tanta hesitação e sabendo que Rufino era um medricas, levanta-se o André Valente e remata: -Ó Rufino, cá p'ra mim enganaste-te! Não seria apenas uma giesta?
- Ó André, se calhar tens razão! Só devia ser uma giesta!..
O aluno:
Simão Romão Pereira Contada pela mãe 73
O CALDO DE PEDRA Um frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador mas não lhe quiseram aí dar nada. O frade estava a cair com fome e disse: - Vou ver se faço um caldinho de pedra. E pegou numa pedra do chão sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, para ver se era boa para um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança. Diz o frade: - Então nunca comeram caldo de pedra?! Só lhes digo que é uma coisa muito boa. Responderam-lhe: - Sempre queremos ver isso. Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra disse: - Se me emprestassem aí um pucarinho ... Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro. - Agora se me deixassem estar a panelinha aí, ao pé das brasas ... Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele: - Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor! Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via. Diz o frade, provando o caldo: - Está um bocadinho insonso. Bem precisa de uma pedrinha de sal. Também lhe deram o sal. Temperou, provou e disse: -Agora, é que com uns olhinhos de couve ficava, que os anjos o comiam. A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves. O frade limpou-as e ripou-as com os dedos, e deitou as folhas na panela. Quando os olhos já estavam aferventados disse o frade: - Ai! Um naquinho de chouriça é que lhe dava uma graça! ... Trouxe-lhe um pedaço de chouriço. Ele pô-lo na panela, e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava, que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço. Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo. A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe: - Ó senhor frade, então a pedra? Respondeu o frade: -A pedra ... lavo-a e levo-a comigo para outra vez. E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.
A aluna:
AnaBárbara Barreira Contada pela mãe 73
COITADO DO MENTIROSO
Era uma vez um rapaz que vivia numa pequena aldeia. Um dia, resolveu brincar com a população da aldeia e começou a gritar: "socorro que aí vem lobo". As pessoas correram a tocar o sino da igreja para reunir a população para socorrer o rapaz, entretanto ele escondeu-se atrás de uma parede a rir-se de toda aquela azáfama das pessoas a tentar socorrê-lo. Quando as pessoas se aperceberam que era brincadeira, ficaram bastante zangadas e foram-se embora. Passados alguns dias, o rapaz repetiu a brincadeira, as pessoas foram novamente socorrê-lo, e quando se aperceberam que foram novamente enganadas ficaram muito zangadas e prometeram que nunca mais acreditariam nele. Passados mais alguns dias, ele foi mesmo atacado pelo lobo. Bem pediu ajuda à população, bem gritou por socorro, mas ninguém na aldeia acreditou nele, porque ele já tinha enganado as pessoas por duas vezes. Por isso é que o velho ditado popular diz: "coitado do mentiroso mente uma vez mente sempre, ainda que diga verdade todos lhe dizem que mente".
O aluno:
Tiago Marques Contada pela avó Eulália 75
A PREGUIÇOSA
Era uma vez uma rapariga muito preguiçosa que foi pedida em casamento. O pai da rapariga disse ao pretendente que a sua filha não lhe serviria por ser muito desleixada e preguiçosa. - Deixe-a comigo, respondeu-lhe o mancebo, sem desanimar. E ao fim de pouco tempo casaram e foram viver para outra aldeia. Logo no dia seguinte ao casamento o marido foi trabalhar para o campo e só voltou a casa ao anoitecer. Foi encontrar a mulher sentada com os braços cruzados, sem jantar feito, a casa por varrer e a loiça por lavar. O marido não lhe disse nada. Varreu a casa, lavou a loiça, preparou o jantar e sentou-se sozinho a comer. Ao primeiro bocado que meteu à boca, disse: -Este é para quem varreu a casa. Ao segundo: este é para quem lavou a loiça; ao terceiro: este é para quem fez o jantar. O resto é para quem trabalhou o dia no campo. E assim comeu o jantar todo. Em seguida disse para a mulher: - Vamo-nos deitar, são horas. No dia seguinte repetiu-se a mesma cena. Porém, ao terceiro dia, quando regressou a casa, encontrou-a toda varrida, a loiça bem lavada e o jantar preparado. Então, ambos comeram muito satisfeitos. Dias depois, o pai da rapariga resolveu ir visitar a filha e o genro. Montou a mula e pelo caminho ia pensando: - O que não irá lá por casa! Uma vergonha certamente! Daquela rapariga não faz o marido nada de jeito. Mas ainda não tinha chegado e já avistara à porta sua filha a fiar à pressa e a gritar-lhe: - Ó meu pai, salte da mula! Venha daí trabalhar, Que na casa do meu «home» Quem não trabalha não come!
O aluno:
Mário Miguel
Contada pela mãe 76
MARIA MANTELA COM SETE FILHOS À VOLTA DELA
Era uma vez uma senhora que estava para ter bebé. Numa manhã em que o marido foi à caça, a senhora entrou em parto, mas em vez de um, nasceram sete. Ela ficou tão envergonhada que não os quis mostrar, com receio que pensassem que ela tinha estado com sete homens. Então ela pediu aos empregados que levassem os bebés para longe dali, para serem criados, por alguém, a quem ela pagasse por esse trabalho. Ficou só com um, para ser criado em casa. Pois quando o menino ia fazer sete anos, o marido descobriu o segredo e, apresentou-lhe os sete filhos à mulher, e perguntou-lhe qual deles era o seu filho. Ela ficou tão surpreendida que começou a chorar de vergonha e alegria. O marido abraçou-a e ficaram com muito felizes, com os seus sete filhos. Chama-se a esta senhora a Maria Mantela com sete filhos à volta dela.
A aluna:
Lara Doutelb
Contada pela avó Natércia 77
FREI JOÃO SEM CUIDADOS
Era uma vez um frade que se gabava de nunca se atrapalhar com nada. Das perguntas mais difíceis às situações aflitivas, ali estava ele. Por isso era o Frei João Sem Cuidados. Mas um dia, farto de ouvir falar do frade, o rei mandou-o chamar e disse-lhe: - Frade, fradinho, vou experimentar a tua esperteza. Ora toma lá nota de três perguntas a que me responderás dentro de três dias. Se não, mando os meus soldados meterem-te na cadeia o resto da vida, e a pão e água! - Queira dizer, majestade - murmurou o frade, já cheio de medo. - Pois quanto pesa a Lua, quanta água tem o mar e o que é que eu penso? Muito atrapalhado, Frei João, cheio de cuidados, foi para casa. No caminho, o amigo moleiro, vendo-o triste, quis saber o que se passava. O frade disse-lhe e o moleiro desatou a rir, pois sabia que para aquilo também havia remédio. No dia e na hora marcados, para as respostas do frade, o rei sorriu ao ver a sua figura muito encolhida, metida no hábito, capucho puxado à frente. Afinal, pensou, conseguira atrapalhá-lo! Perguntou-lhe então o peso da Lua. - Não pode ir além de um quilo, pois sabemos que tem quatro quartos. - E quanta água tem o mar? - É fácil calcular, mas vossa majestade terá de, primeiro, mandar tapar os rios que correm para lá! O rei achou que o frade até ali bem respondera, mas que não saberia adivinhar o que é que ele estaria a pensar. - Também é fácil! Vossa majestade julga que está a falar com o Frei João e eu sou o moleiro amigo dele! – e dizendo isto o moleiro tirou o capucho da cabeça. O rei achou tanta graça à esperteza, que convidou o frade e o moleiro para um belo jantar.
O aluno:
Pedro Daniel
Contada pela mãe 78
A LENDA – FILHO ÉS... PAI SERÁS...
Reza a historia que um belo dia um senhor se dirigiu ao seu pai já muito velhinho dizendo-lhe estas palavras: - Pai, como já estás muito velho vou dar-te uma manta para ires para a floresta esperar pela tua morte. O pai ouviu o filho com atenção, levantou-se e com uma tesoura cortou a manta ao meio dando uma das metades ao filho dizendo: - Toma meu filho a parte da manta que o teu filho te dará quando chegares a ser velho como eu. O filho reflectiu e com lágrimas nos olhos pediu desculpa ao pai e desde então cuidou dele com muito carinho.
A moral da história é:
Filho és Pai serás Conforme fizeres Assim encontrarás.
O aluno:
Pedro Franciscos Paulos
Contada pela mãe 79
LENDA DO PENEDO DOS MOUROS É do conhecimento geral que a nossa região foi habitada há muitos e muitos séculos por diversos povos pré-históricos, entre eles os mouros. E a confirmá-lo, basta atendermos às histórias que frequentemente se ouvem das "Mouras Encantadas" ¬ mulheres muito bonitas, vestidas de branco, que supostamente apareciam e desapareciam em determinados lugares. Pois esse povo dos mouros habitou esta região em tempos imemoriais e faziam parte de uma civilização imensamente menos desenvolvida que a nossa. Assim, viviam em grutas e não em casas. Ora, existem na povoação de Ca!vão deste Concelho, nas imediações do Santuário da Senhora da Aparecida, uns penedos muito grandes, um dos quais com uma cavidade enorme no seu interior e com uma entrada na base por onde se pode entrar apenas rastejando. E reza a lenda que essa caverna teria sido utilizada pelos mouros como habitação e daí, o penedo ser conhecido como "Penedo dos Mouros". Acontece que, já em tempos mais recentes, embora este acontecimento apenas seja conhecido por tradição, transmitida de geração para geração, um rancho de segadores que andava por ali a ceifar centeio, foi surpreendido por uma trovoada muito violenta e, para fugirem aos raios, à chuva e ao granizo, resolveram refugiar-se nessa gruta, já que não dispunham de outro abrigo por perto. Ali não se molhariam e estariam em segurança. Entretanto a trovoada ia aumentando de intensidade e eles, como se julgavam seguros, cada vez que se sentia uma descarga mais violenta, brincavam dizendo: "Olha Deus lá no Céu não está satisfeito", "Não, são as risadas dos Anjos", "Força, força, venha outra". E continuaram praguejando e desafiando as forças da natureza. De repente sente-se um ribombar violentíssimo, seguido de um raio que atingiu o penedo e acabou com as suas gracinhas, matando-os a todos!... É esta a Lenda do "Penedo dos Mouros", onde os segadores em vez de encontrarem abrigo contra a trovoada, encontraram a morte, devido às suas brincadeiras. Podemos, pois, tirar daí uma lição, com coisas sérias não se brinca.
A aluna:
Rute Matos
Contada pelo tio-avô Paulo Morais 80
O HOMEM QUE ENGANOU OS LOBOS ...
Certo dia um homem que andava a trabalhar no campo, teve necessidade de ali permanecer até mais tarde, acabando por escurecer e anoitecer sem se ter dado por isso. De repente foi surpreendido e atacado por um lobo esfomeado. Como não tinha qualquer arma ou objecto para se defender, ficou muito aflito. De súbito teve a feliz ideia de trepar a uma árvore com ramos espessos e cheia de folhagem. Mas o lobo esfomeado apercebeu-se que o homem se tinha refugiado na árvore, sem que o tivesse apanhado, e ficou ainda mais furioso. Como não podia, nem sabia subir à árvore, não lhe restou outra alternativa se não ficar a olhar para a árvore na esperança que o homem caísse de cansaço. Porém, o homem, como rei dos animais em inteligência, teve uma feliz ideia: Pensou " e se tirasse as calças e a camisa e as enchesse de folhagem?" Se bem o pensou, melhor o fez. De uma assentada, enquanto o diabo esfrega um olho, encheu as duas peças de roupa com folhagem e lançou-as aos lobos, que entretanto já eram mais que um. Os lobos ao verem cair as peças de roupa, pensando que era o homem, que por fim tinha caído, não hesitaram um segundo e lançaram-se famintos sobre a presa numa guerra entre eles, não se apercebendo que tinham sido enganados. O camponês, vendo os lobos naquela luta feroz, entre eles, aproveitou e num ápice saltou da árvore, correu a bom correr, sem sequer olhar para trás, tendo chegado a casa são e salvo. A inteligência valeu sempre mais que a força!
O aluno:
Rui Ferreira
Contada pelo avô Amândio 81
CADA UM DÁ O QUE TEM E A MAIS NÃO É OBRIGADO
Havia um menino chamado João e tinha um gatinho muito bonito, a quem chamava "Companheiro miau". O João todos os dias brincava muito com ele e arranjava-lhe coisas boas para o gatinho comer. Eram muito, mesmo muito amigos. Então um dia, o João vai da escola para casa, para almoçar e ficou muito espantado quando viu no prato onde ia comer, um ratinho. Ficou todo enjoado e até chorou, e o gatinho não saía de junto dele. Pois apanhou o rato para dar ao João como agradecimento por tantos mimos que o menino lhe dava e fazia. O pai do João ao vê-lo assim triste disse-lhe: -Não te zangues com o "miau" meu filho! Ele só te queria agradecer, e como não tinha mais nada, foi o que te podia dar. Foi também uma prova de amizade que tem por ti. Pensa que cada um só dá o que tem. O João pensou que, realmente, era verdade e ficou muito emocionado. A amizade deles, com a atitude do gatinho, tornou- se muito maior. O João compreendeu, que cada um só dá o que tem. E o miau só tinha um ratinho e assim pagou.
O aluno:
Diogo Martinho Contado pela avó Ana Maria 82
A LARANJEIRA DE SANTA ISABEL
Depois da morte del-rei D. Dinis, sua esposa D. Isabel resolveu ir em peregrinação a Santiago de Compostela. Já o povo lhe chamava Rainha Santa, e acudia aos lugares por onde ela passava, a implorar a sua caridade. Quando seguia pela estrada de Coimbra ao Porto, entrou D. Isabel numa casa que servia de estalagem, a descansar das fadigas da jornada. Estava lá urna criança cega de nascença, e bastou que a Santa Rainha lhe pusesse a mão na cabeça para que os olhos se lhe abrissem à luz do sol. - Real Senhora, corno vos hei-de agradecer tamanho milagre? - perguntou a mãe da criancinha. - Está muito calor! - disse D. Isabel - Dá-me uma laranja do teu quintal. Grande foi a confusão da mulher, porque só tinha laranjas azedas; mas, para não desobedecer à Santa, correu a buscá-las. Ao comer urna, D. Isabel deixou cair no chão urna semente, e desta nasceu uma laranjeira, que dava laranjas doces. Cada laranja trazia junto ao pé as cinco quinas das armas de Portugal. Nessa terra, chamada Arrifana de Santa Maria, nunca mais se puderam esquecer os milagres da Rainha. A árvore secou há muito, mas toda a gente ainda fala na laranjeira de Santa Isabel.
O aluno:
José Carlos Albino
Contada pela mãe 83
O URSO E OS DOIS CAÇADORES
Dois amigos, muito pobres, decidem, um belo dia, mudar a sua sorte. E, por isso, pensam em mil projectos, qual deles o mais louco! Pois precisamente a mais maluca de todas as suas ideias é a que eles decidem pôr em prática! Vão ter com um peleiro e vendem-lhe uma bela pele de urso, gigantesca e soberba. Só que o urso ainda está bem vivinho da silva, com pele vestida, passeando na floresta. Assim, certa manhã, os dois amigos partem à procura do tal urso. Então, numa curva do caminho, dão de caras com o bicho, erguido sobre as patas traseiras e de dentes arreganhados. Apavorados, os caçadores dão às pernas. O primeiro trepa pelo tronco da primeira árvore que encontra. O segundo tropeça numa pedra e fica estatelado no chão. Estendido no chão, o caçador nem sequer pestaneja e finge-se de morto, pois sabe que um urso não ataca os mortos. O urso aproxima-se, fareja-o e depois vai-se embora. -Uf! Que sorte! O seu amigo que se tinha escondido na árvore desce e vem a correr ter com ele. Então escuta um conto espantoso da boca do amigo estendido no chão. - O urso falou comigo! - diz-Ihe este. - Falou contigo? E o que é que te disse? - Disse-me que nunca se deve vender a pele de um urso antes de conseguir caçá-lo. Ainda meio atordoados do susto, mas conscientes da lição aprendida, os caçadores regressam à aldeia para contar a história ao peleiro desiludido.
O aluno:
Thiago Persegani Contada pela mãe 84
A LAGOA DAS SETE CIDADES
Conta a lenda que, um rei que morava nos Açores vivia no desgosto de não ter filhos. Então, pediu aos deuses daquela terra, para que lhe concedessem um filho ou uma filha. Se isso acontecesse o rei prometeu que mandaria construir sete cidades, nas quais iria viver o seu "filho" e até que ele completasse dezoito anos, o rei não iria vê-lo. Assim o seu pedido foi concedido. A sua esposa ficou grávida e teve uma linda menina, que foi enviada para viver nas sete cidades que o pai mandara construir. Mas, as saudades foram tantas que o rei não conseguiu cumprir a promessa que tinha feito. E, quando a filha completou quinze anos ele quis vê-la. Nesse momento, rebentou um vulcão e as sete cidades ficaram destruídas onde morreram todos os habitantes incluindo a filha do rei. Daí surgiram duas lagoas (Lagoa Azul e Lagoa Verde) que há nos Açores. Diz-se que numa delas ficaram os sapatos azuis da princesa e na outra o seu chapéu verde.
O aluno:
Jorge Miguel Chaves Contada pela avó Laurinda 85
CONTO DE NATAL Aproxima-se a noite de Natal! As pessoas andam muito apressadas nas ruas à procura das últimas prendas ou de algo que ainda falta para a grande noite de consoada. Mas no meio de tanta confusão, há crianças que não correm; que estão paradas à procura que alguém lhes dê carinho e amor. Quem sabe bem desta história é a Teresa uma menina sem pai nem mãe que anda pelas ruas vivendo de esmolas. As vezes subia para o parapeito de uma janela e espreitava as famílias felizes, desejosa de poder ter alguém que lhes desse atenção, ou pelo menos um pedaço de pão. Naquele dia, véspera de Natal, de repente algo de esquisito, tinha acontecido! Não havia ninguém! As pessoas tinham desaparecido. A neve caía e enfeitava as ruas. As luzes que dantes iluminavam as ruas tinham sido apagadas. As ruas apenas continuavam iluminadas pelos focos de luz que vinham de dentro das casas. A Teresa vagueava pelas ruas e depois de tanto hesitar decidiu espreitar por uma das várias janelas que de uma grandiosa casa. Era uma casa, mesmo ali à sua frente que já várias vezes tinha despertado a sua curiosidade. Enquanto se empoleirava na janela mais próxima de si, ia observando o grande pinheiro enfeitado com uma estrela lá no alto, bolas e luzes de muitas cores nos seus ramos. Ao pé do pinheiro prendas sem conta e um imponente presépio. Nesse presépio encontrava-se uma vaquinha, às manchas pretas e brancas, que aquecia o menino Jesus com o seu caloroso bafo. Nisto, a menina que estava dentro de casa, junto a uma grande lareira, viu-a e, pensando que queria roubar alguma coisa, dirigiu-se à janela e disse: - Quem és? - Sou a Teresa. E tu? - Eu sou a Joana. Que fazes aqui? - Sabes, eu gosto de espreitar pelos parapeitos das casas a contemplá-las. - Está bem! Entra, vem vê-la por dentro. Vou chamar a minha mãe. Joana foi chamar a sua mãe que por sua vez disse à menina: - Que fazes em minha casa? És colega da Joana? Não – disse a Teresa, um bocado embaraçada.
86
A Teresa contou a sua história. A Joana e a sua mãe escutaram-na atentamente. No fim a mãe da Joana disse: - Que pena! Mas este ano vais passar connosco a ceia de Natal. Tenho a certeza que o meu marido vai adorar. Quando o Sr. José chegou, o pai de Joana, esta e a sua mãe contaram-lhe a história da Teresa. Ele muito comovido, quase a chorar, concordou plenamente em que ela passasse a ceia de Natal com eles, mas disse ainda: -Teresa aquece-te na lareira enquanto a nossa empregada te vai buscar uma roupas da Joana. A Teresa ficou surpreendida. Nunca na sua vida houvera visto tanta comida junta. Uma sopa de legumes para abrir, ainda mais, o apetite. De seguida havia dois pratos à escolha: peru recheado com puré e bacalhau gratinado. E no fim um saboroso bolo que todos acharam uma delícia. Esta, decidiu provar um pouco de tudo. Mas, o melhor estava guardado para a meia – noite. Havia várias iguarias de fazer crescer a água na boca. Todos comeram, menos a Joana que, com a ansiedade de abrir as prendas, já tinha perdido o apetite. Mas a noite foi inesquecível! Estava radiante. Quando no dia seguinte, a Teresa se preparava para ir embora, a D. Elisa, mãe da Joana, disse: - Não vás! Fica connosco! Nós gostaríamos de ficar contigo, podias viver aqui, em nossa casa, e fazer parte da nossa família. É claro, só se quiseres!... Teresa aceitou de imediato. Nunca na sua vida se tinha sentido tão feliz! Para ela este fora o primeiro Natal da sua vida. Como é bom, alguém desprotegido, encontrar uma família para crescer!
O aluno:
André Souto
Contada pela avó Maria 87
UM MILAGRE DE NATAL
Inverno. Lá fora a neve cobriu todos os caminhos no seu cair lento e leve que lembra o voo de arminhos. Na choupana pobrezinha, junto à lareira apagada, dormem Pedro e a irmãzinha - ambos na mesma caminha sobre a manta remendada. Noite de Natal tão fria, Noite de Natal gelada que nem lhes trouxe a alegria de modesta consoada. É como se o Deus -Menino se esquecesse da choupana, do Pedrinho e mais da mana, de toda aquela pobreza, daquela Avó tão velhinha que olha com funda tristeza os dois netos na caminha. Na noite fria e deserta só a avó está acordada. Sozinha, muito curvada, com a tremura dos velhos, segura sobre os joelhos uns tamancos pequeninos que foi buscar à lareira. E, numa tristeza imensa, a pobre avozinha pensa, tenta encontrar a maneira de manter uma ilusão. E os seus lábios vão dizendo, num murmúrio de oração: - Tão pobres somos, meu Deus... tão pobres, tão desprezados que não nos vedes dos céus. Para mim nada vos peço... que já tive o meu quinhão, mais largo do que mereço. Mas as crianças, senhor, os meus netos pequeninos merecem o vosso amor... Velai pelos seus destinos, Jesus de bondade imensa... Que eles não percam a fé, que nunca percam a crença das suas almas branquinhas... Calou-se a pobre Avozinha. Adormecera a rezar. Mas dos seus olhos cansados duas lágrimas rolavam, que foram depois tombar nos tamancos pequeninos que as suas mãos seguravam... E quando a manhã rompeu, numa alegria tão clara, que parecia vir do céu, os netinhos acordados viram esta coisa rara: Dormia ainda a Avozinha, aninhada na cadeira. Mas na pedra da lareira, sobre as cinzas apagadas, como nos contos de fadas,- havia lindos brinquedos. E os tamancos pequeninos que a Avozinha segurava entre os seus trémulos dedos, tinham brilho que ofuscava. 88
Eram dois tamancos de ouro, que valiam um tesouro, e dentro deles, enormes como jóias de rainha, refulgiam diamantes... as lágrimas da Avozinha...
Dedico estas curtas linhas aos que conservam a fé, e a todas as Avozinhas que à noite rezam, sozinhas ao cantinho da chaminé .
A aluna:
Inês Fernandes
Contada pela mãe 89
O PRÍNCIPE SAPO Era uma vez um rei que não tinha filhos e queria muito ter um. A mulher pediu a Deus que lhe desse um filho mesmo que fosse sapo. Teve então um filho sapo mas, não gostaram muito e procuraram quem o quisesse criar. Como não aparecia ninguém, o rei prometeu a quem o quisesse criar, que lho dava em casamento, assim como o seu reino. Apareceu então uma rapariga que criou o sapito. Com o passar do tempo o sapito cresceu com todos os cuidados como se fosse uma criança, ele ficou com uns olhos muito bonitos e falava e a rapariga dizia: -Os olhos dele e a fala não são de sapo. Uma noite ela teve um sonho, que lhe dizia que o sapo era gente mas ela não disse nada aos reis até se casar com ele. No sonho ela teria que na noite de casamento levar sete saias pois ele tinha sete peles e quando ele dissesse tira uma saia ele tirava uma pele. Assim foi, ela casou com o sapo e ele fez-lhe o pedido, quando terminou era um homem. No outro dia voltou a vestir as peles. Ela perguntou: -Por que vestes as peles, que és tão bonito? Ao que ele respondeu: -Cala-te que assim é preciso... Ela, assim que se pôs a pé contou aos reis, ao que eles lhe responderam: -Quando hoje te deitares deixa a porta aberta que nós queremos ir vê-lo. Foram e viram que era um homem. Ao outro dia o príncipe voltou a vestir as peles e o pai disse-lhe: -Por que vestes as peles, queres ser feio? -Eu quero ser sapo, porque se for bonito o pai impõe-me uma mulher... O rei não ficou contente e na noite seguinte pediu à mulher que lhe tirasse as peles e queimou-as. Quando, de manhã o príncipe ia vestir as peles e não as viu disse à mulher, adeus vou-me embora, se um dia me voltares a ver dá-me um beijo na boca. Quando os reis deram pela falta do filho, puseram a mulher fora do seu castelo.
90
A pobre coitada procurou tempos infinitos pelo seu prĂncipe, que tinha criado com todo o amor. Quando o encontrou longe do seu reino olhou para ele e deu-lhe um beijo na boca. Como ele prometeu foram para sua casa e foram muito felizes e tiveram muitos filhos.
O aluno:
Nuno Lopes
Contada pela mĂŁe 91
O MILAGRE DAS ROSAS
Tendes visto essas imagens da Rainha Santa com o regaço cheio de flores? Recordam um milagre que ela fez. Saía, D.Isabel do Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, com o manto cheio de pão e moedas de oiro para dar aos pobrezinhos, quando apareceu el-rei D.Dinis e lhe perguntou: - Que levais escondido no vosso manto, senhora? - São rosas, meu senhor. - Rosas em Janeiro! – observou o rei incrédulo. Santa Isabel abriu então o regaço, desdobrou o manto e mostrou ao rei as mais lindas flores que seus olhos viram. O pão e o dinheiro das esmolas tinham-se transformado em rosas brancas e vermelhas, que cobriram e perfumaram o chão.
O aluno:
Bruno Daniel
Contada pela avó Beatriz 92
LENDA DE PARADELA DE MONFORTE
Conta a lenda que: Um certo dia apre ceram três senhores na freguesia de Paradela, os quais eram três fidalgos daquele tempo. Procuraram o nome da aldeia e houve uma pessoa que lhe disse que ali era Paradela. Um deles disse “ Paradela!”, “ Paramos nela”. Como a gente desta terra foi sempre muito hospitaleira, eles quiseram dar o seu nome de fidalgos à nossa freguesia, por isso ainda hoje se mantém a alcunha de “Fidalgos de Paradela”.
“ Fidalgos não é povo quem diz é uma lenda escrita na sua Igreja Matriz”
A aluna:
Catarina
Contada pelo avô Manuel 93
LENDA DA FONTE DO FORTE DE SÃO NEUTEL
Há muito, muito tempo viveu por estas terras uma jovem encantadora, estimada pelo povo devido à sua bondade e à sua Humildade. Adorava passear pelo campo e misturar-se com as gentes da terra, às escondidas de seu pai, que era um homem severo e orgulhoso, que não olhava aos males e necessidades do povo. Certo dia, a donzela encontrou um jovem humilde por quem se apaixonou perdidamente. O jovem correspondeu logo à sua paixão. Os dois enamorados passaram a encontrar-se todos os dias à tardinha, junto à fonte do Forte de São Neutel, em Chaves, onde trocavam conversas, sorrisos e juras de amor eterno. O namoro veio a ser descoberto pelo pai, que ficou muito desiludido com a sua filha pela paixão por um homem que não pertencia à sua classe social. Em consequência disso, o pai mandou enfeitiçar a filha: a donzela foi transformada numa enorme cobra, podendo ser este feitiço apenas quebrado pelo verdadeiro amor. Um dia, o jovem passava pela fonte e parou para beber água. Mas quando viu a cobra, assustou-se e fugiu, continuando assim a donzela envolta no feitiço. Passado muito tempo, uma lavadeira foi ao Forte para lavar junto à fonte, onde viu algo a cintilar. Curiosa, a lavadeira aproximou-se e viu um cordão de ouro que puxou, puxou e parecia não ter fim. Aquele cordão pertencia a um tesouro que o pai da donzela havia ali escondido, pensando que ninguém o encontraria. A cobra, ou antes, a donzela, que estava na fonte, não se atreveu a sair para não assustar a lavadeira, mas disse-lhe que podia ficar com o cordão para melhorar a sua vida. Reza a lenda, que ainda hoje a donzela vai pela tardinha à fonte do Forte esperar o seu amor que um dia perdera Francisco João Silva Lopes
O aluno:
Francisco Lopes
Contada pela prima Maria 94
O SAL E A COMIDA
Um rei tinha três filhas e perguntou a cada uma delas, por sua vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu: - Quero mais a meu pai do que à luz do Sol. Respondeu a do meio: - Gosto mais de meu pai do que de mim mesma. A mais moça respondeu: - Quero-lhe tanto como a comida quer o sal. O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza. Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha: - É porque a comida não tem sal. O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha colocado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.
O aluno:
Francisco Lopes
Contada pela prima Maria 95
Índice
Tantos e tão Poucos
72
O Caldo de Pedra
73
Coitado do Mentiroso
74
A Preguiçosa
75
Maria Mantela com Sete Filhos à Volta Dela
76
Frei João Sem Cuidados
77
A Lenda- Filho És…Pai Serás…
78
Lenda do penedo dos Mouros
79
O Homem que Enganou os lobos
80
Cada um Dá o que Tem e a Mais Não é Obrigado
81
A Laranjeira de Santa Isabel
82
O Urso e os Dois Caçadores
83
A Lagoa das Sete Cidades
84
Conto de Natal
85
Um Milagre de Natal
86
O Príncipe Sapo
87
O Milagre das Rosas
89
Lenda de Paradela de Monforte
91
Lenda da Fonte do Forte de São Neutel
92
O Sal e a Comida
94
96
3-º Ano – Turma F Afonso Miguel Maia Correia Alves Ana Carolina Calvão dos Santos Ana Filipa Esteves Carvalho Fernandes Ana Lúcia Teixeira Cabugueira Ana Margarida Teixeira Gil Beatriz Castro Alves Daniel Moreira Moura Francisco José Alves Laço João Miguel dos Santos Freitas João Pedro Pereira da Mota José Miguel Reis Afonso Letícia Morais Lopes Marta Fernandes Lage
97
A MENINA E OS LOBOS
Contam os antigos, que quando um casal tivesse sete filhas todas a eito, a sétima aos sete anos de idade ia para a serra guardar lobos. Assim tinha acontecido a uma, que foi para um caminho muito longe, onde costumavam passar os almocreves que acarravam os produtos da época (vinho, centeio, azeite, …) das aldeias para as cidades e vilas. Um dia, já noite, um desses almocreves avistou uma fogueira e dirigiu-se lá. Viu então uma menina sentada junto à fogueira e com sete lobos à sua volta, ficou cheia de medo, mas a menina disse aos lobos que a rodeavam para a ajudarem a descarregar os odres do animal, que aquele homem ia passar a noite com eles. E assim foi. Mal amanheceu o dia, o almocreve, o que queria era ir-se embora. A menina mandou os lobos acompanhá-lo até estar em segurança dos perigosos montes e florestas. Os lobos acompanharam o homem e o burro até lugar seguro e tudo correu bem, nada de mal lhe aconteceu.
Ana Gil pela mãe A aluna:
Contada 98
O MENINO DE VERMELHO
Contam os antigos, que noutros tempos, houve uma velha, que todas as noites era incomodada por ruídos de bancos a arrastar de um lado para o outro em sua casa. E, por isso, não conseguia dormir uma noite inteira descansada. Um dia, para tentar livrar-se do espírito que ali a importunava, resolveu procurar outra casa para se mudar. Quando estava nas mudanças, a carregar loiças, móveis e outros haveres, encontrou no percurso entre as duas casas um menino de vermelho com um banco às costas. A velha muito admirada perguntou-lhe: - Olha lá, esse banco é meu! Para onde vais com ele? E o rapaz, com ar mais admirado ainda, exclamou: - Então não estamos a mudar de casa? Era um trasgo. Passou então a ser conhecido como o “ menino de vermelho”.
A aluna:
Ana Gil
Contada pela
mãe 99
A MULHER QUE AMAMENTOU UMA COBRA
Contava a minha avó, que, há muitos anos, uma cobra ia ter todas as noites à cama de uma mulher, atraída pelo leite que ela dava a mamar a uma filha recém-nascida. A cobra esperava que a mulher adormecesse, e punha-se depois a mamar no lugar da menina. E para que ela não chorasse metia-lhe o rabo na boca a fazer de chupeta. Passados vários dias, as pessoas começaram a notar que a menina estava a ficar cada vez mais magra. E a mãe não sabia explicar o que realmente se passava. Apenas dizia que tinha “ ubre” (leite) quando se deitava e que acordava sempre sem ele. Acreditava, pois, que a menina passasse a noite inteira a mamar. Pelo sim pelo não, numa certa noite deixou-se estar acordada e, a dada altura, sentiu a cobra a deslizar pela cama na direcção dos seios. Cheia de medo, deixou-se estar o mais quieta que pôde. Na manhã seguinte contou ao marido e este resolveu ficar, também, de vela até que a cobra aparecesse. Tiveram de deixar que ela sugasse todo o leite, como fazia nas noites anteriores, e, no fim, a mulher chamou o marido que conseguiu matar a cobra à paulada quando ela seguia na direcção do telhado.
A aluna:
Ana Gil
Contada pela mãe 100
O APARECIMENTO DA NOSSA SENHORA DOS PRAZERES
Há longos anos na minha aldeia, os mais idosos contam que apareceu Nossa Senhora dos Prazeres no lugar onde existe hoje uma capelinha. Essa aldeia é dividida em dois bairros: o bairro de cima e o bairro de baixo. Um dos bairros teimava fazer a capelinha noutro lugar. O povo levava algum material de dia para o meio dos dois bairros mas, como Nossa Senhora queria ficar no mesmo lugar, no dia seguinte o material encontrava-se no lugar onde Nossa Senhora dos Prazeres apareceu. O bairro de cima culpava o bairro de baixo até que chegaram à conclusão que era um milagre da Nossa Senhora dos Prazeres. Assim, o povo se convenceu que era naquele lugar que queria ficar a Nossa Senhora e lá ficou a capelinha da Nossa Senhora dos Prazeres no bairro de baixo.
A aluna:
Letícia
Contado pelo pai 101
O GATINHO
Era uma vez um gatinho muito bonito, era todo branquinho com uma estrelinha preta na testa. Mas o gatinho andava sempre triste porque não tinha ninguém com quem brincar. Já não tinha pai nem mãe nem irmãos. Vivia sempre sozinho. Um dia passeava à beira dum rio e um peixinho veio ter com ele e perguntou-lhe: - Porque estás tão triste? - Porque não tenho nenhum amigo. Então, na próxima vez que foi visitar o peixinho estava lá uma menina que começou logo a brincar com ele. A menina disse-lhe que se chamava Mariana e se queria ir para casa dela. O gatinho disse logo que sim. Então iam os dois pelo bosque fora sempre a brincar e encontraram um esquilinho que lhes perguntou: - Onde é que vais, gatinho? - Vou para casa da Mariana. - Também posso ir? Perguntou o esquilinho. - Sim. Disse a Mariana Foram os três para casa da Mariana e a partir daí o gatinho já não ficou triste, brincava, saltava, miava, porque tinha arranjado muitos amigos.
O aluno:
Francisco Laço Contada pela tia Claudina 102
O PAI NATAL E A BRUXA MÁ DO NORTE
Na véspera de Natal, o Pai Natal acordou e achou que algo de diferente se passava. É que não conseguia lembrar-se onde tinha guardado o saco das prendas. Então começou a procurar por todo o lado: - Em cima do armário... mas não estava. - Debaixo da cama … mas não estava. - Dentro do fogão …mas não estava. - Atrás do frigorífico… mas não estava. - Debaixo da mesa...mas não estava. - Dentro da chaminé... mas não estava. - Em cima do frigorífico... mas não estava. E o pior - pensou o Pai Natal - é que se eu não encontro o meu saco, todos os meninos do mundo ficam muito tristes. E se havia coisa que o Pai Natal não gostava, para além de açorda de bacalhau, era de meninos tristes. Nisto, um duende, ajudante do Pai Natal, entrou a gritar: - Pai Natal, Pai Natal, a Bruxa Má do Norte roubou o saco das prendas! O Pai Natal, ao ouvir isto, montou no seu trenó e gritou: - Força renas, voem depressa até ao castelo da Bruxa Má do Norte. O castelo da Bruxa Má do Norte ficava na parte mais longínqua da floresta. As renas voaram, voaram, passaram a floresta e chegaram a um sítio escuro, feio, que cheirava mal: era o castelo da Bruxa Má do Norte! O Pai Natal, bateu na porta do castelo e lá de dentro a Bruxa perguntou: - Quem é? - Sou eu, o Pai Natal. - E o que queres? perguntou a Bruxa Má do Norte. - Quero o meu saco das prendas, respondeu o Pai Natal. - Isso é que era bom! disse a Bruxa Má do Norte. O saco das prendas vai para a lareira e as crianças vão ficar sem presentes e eu fico a bruxa mais feliz do mundo por deixar toda a gente triste. Agora desaparece da minha vista, seu velho tolo!
103
O Pai Natal foi embora, mas não foi! Muito devagarinho, com pezinhos de lã e em silêncio aproximou-se da janela do quarto da Bruxa Má do Norte. Espreitou lá para dentro e ... lá estava o saco das prendas, em cima da cadeira do quarto da Bruxa Má do Norte! Saltou pela janela e, muito devagarinho, com pezinhos de lã e em silêncio foi buscar o saco das prendas. Colocou o saco no ombro e sempre muito devagarinho, com pezinhos de lã e em silêncio foi para o trenó e disse, muito baixinho, às renas: - Renas, voem para casa. E lá foram eles a voar para casa. De repente, ouviram um grito horrível: - AAAAAAAAAAAAHHHHHHH! Pai Natal malvado! Seu velho gordo e descarado! Era a Bruxa Má do Norte que deu conta que, o Pai Natal, lhe tinha tirado o saco das prendas. Muito rápida, a Bruxa Má do Norte pegou na vassoura mágica, que tinha turbo e começou a perseguir o Pai Natal pelo céu. O Pai Natal quando viu que a Bruxa Má do Norte vinha atrás dele disse para as renas: - Voem renas, voem muito depressa. Mas a Bruxa Má do Norte tinha turbo na sua vassoura e estava quase, quase a apanhar o Pai Natal. Então o Pai Natal subiu no céu para despistar a Bruxa e a Bruxa subiu também. O Pai Natal desceu e a Bruxa desceu também. O Pai Natal subiu e a Bruxa subiu sempre atrás do trenó. O Pai Natal desceu e passou por baixo de uma ponte. A Bruxa desceu também e quando ia a tentar passar por baixo da ponte, bateu contra a ponte e caiu na água do rio. Ora, o que acontece quando as bruxas caem à água? Desfazem-se, desfazem-se em pó. E assim, o Pai Natal pode seguir a sua viagem até casa, vestiu a sua roupa de Pai Natal (porque ele com a pressa tinha saído de pijama) e foi levar os presentes a todas as crianças. A aluna:
Beatriz Alves
Contada pela avó Zé 104
A HISTÓRIA DO NOME DE PEDRAS SALGADAS
Reza a lenda que, algures, perto de Rebordochão, viviam duas senhoras muito ricas, que tinham por nome “ Salgadas”. Eram as mais ricas de toda a região! Por serem tão ricas, eram cobiçadas por muita gente, até que um dia foram assaltadas. A casa das “ Salgadas” ardeu completamente e estas desapareceram. Decorrido muito tempo, um pastor que andava a guardar o seu rebanho, descobre, por acaso, uns dedos de pés humanos. Corre até à aldeia e avisa tudo e todos. Foram todos para o local, começou-se a escavar, mas os corpos estavam irreconhecíveis. Futurou-se que os ladrões, depois de terem roubado as “ Salgadas”, as tivessem matado e enterrado naquele local, pois fazia tempo que estavam desaparecidas. O assunto caiu na boca do povo e na aldeia não se falava de outra coisa: - Aí, encontraram o pé das Salgadas! Com o tempo evoluiu para Pedras Salgadas.
O aluno:
João Freitas
Contada pela avó 105
A LENDA DA BANDEIRA DE CHAVES
Nos tempos em que a nossa cidade era ainda rodeada de muralhas, aconteceu algo de importância. Chaves encontrava-se cercada pelo exército castelhano que querendo apoderar-se da cidade roubou a bandeira de maneira que os habitantes de Chaves se sentissem humilhados e cedessem mais facilmente. Como o exército castelhano era o mais poderoso, os portugueses tinham receio de os combater. No entanto, um cavaleiro de uma família nobre, querendo defender a honra da sua cidade, decidiu enfrentar os castelhanos sozinho a fim de recuperar a bandeira. Começou a viagem, que durou dois dias e duas noites durante a qual teve vários problemas: falta de mantimentos, os perigos dos animais selvagens, falta de água, cansaço, as condições climatéricas… Chegando à noite ao acampamento dos castelhanos, o jovem corajoso entrou matando os guardas sem levantar suspeitas. Recuperou a bandeira e montou no seu cavalo com o intuito de regressar à sua cidade, são e salvo. Cavalgou outra vez através do perigoso caminhou e quando avistou a sua cidade ficou feliz. Empunhava a bandeira da cidade com certa glória, mas quando se apercebeu que era perseguido pelos castelhanos, os quais vinham montados nos seus cavalos velozes e com as suas vastas armas guerreiras, não teve alternativa senão ir a pé porque o seu cavalo morria de cansaço devido à longa viagem. Ele corria o mais depressa possível empunhando sempre a bandeira. Como os guardas avistaram os perigosos inimigos, não puderam abrir as portas da cidade. Então, vendo que não tinha salvação, heroicamente retorquiu: “ Morro eu, morro queimado, mas salve-se a bandeira de Chaves”. E dizendo isto lançou a bandeira por cima das muralhas da cidade de Chaves, tendo assim salvo a honra da cidade e a dos seus habitantes, assinalando assim a história da cidade. O aluno:
João Mota
Contada pela mãe 106
PLATÃO E OS AMIGOS
Platão, um grande filósofo da Grécia Antiga, estava a construir uma casa e, como contava com pouco dinheiro, a casa era muito modesta, simples e sem luxos. Não tinha jardim, piscina, varandas, nem campos de ténis. Ao ver a obra, quem por ali passava costumava criticá-lo: - Vejam, que casa mais ridícula, pequena e pobrezinha. Não tem jardim nem varandas! - Com tanto dinheiro que tens, estás a construir uma casa tão pequenina? - Que espécie de filósofo és tu, que nem podes pagar uma casa luxuosa e importante? Porém, Platão respondia a todos da mesma forma: - Na verdade, a casa não é grande, não tem varandas e outros luxos, mas será a melhor do mundo quando a encher de bons amigos. Não se esqueçam que a amizade é mais importante do que todas as riquezas e luxos deste mundo.
O aluno:
Afonso Martins
Contada pela mãe 107
O CÃO CHAMADO BILL
Uma das histórias que a minha mãe Sara mais gosta é a do cão que tínhamos quando éramos pequenos. Nesta altura já éramos seis irmãos e eu já devia ter dezoito anos. Este cão a quem demos o nome de «Bill», e era filho da nossa «Fifi», a cadela mais linda e querida que tivemos. Era parecido com o cão da fotografia, mas com o pêlo castanho dourado, parecia uma salsicha, talvez por ser de cor das salsichas, muito comprido para o tamanho das pernas e com umas orelhas que quase batiam no chão. Este cão era meio tolo. Havia por perto uma macaca, que volta meia volta, se soltava e vinha para o nosso jardim. Colocava-se numa árvore baixa para ficar com a cauda quase a bater no chão e assim roçar no focinho do Bill. E roçava a cauda até que este ficava zangado. E como era meio tolo, ficava junto da árvore a latir até ficar cansado. Quando parava de latir para descansar, ou porque se distraía, a macaca descia do galho e pregava-lhe dois estalos com força, trás-trás, com aquelas mãozinhas muito pequenas. O Bill ficava louco e lá voltava tudo ao princípio, latir. A cena repetia-se uma vez mais, a macaca roçava a cauda no focinho do Bill, o Bill latia, latia, cansava-se, parava de latir e a macaca com a destreza dos macacos, descia do galho e voltava a dar-lhe dois estalos, trás, trás. Coitado do Bill, sofria a bem sofrer por não poder dar uma dentada na macaca.
A aluna:
Ana Lúcia
Contada pela avó São 108
O ELEFANTE BEBÉ
Na altura em que esta história se passava só éramos quatro irmãos e já vivíamos em Luanda. O elefante bebé veio para a nossa casa por um período muito pequeno e porque era o único lugar onde havia quem olhasse pelo animal. Na altura capturavam animais para o jardim zoológico de Lisboa. Eu devia ter uns cinco ou seis anos. Mas lembro-me bem do elefante e de estarmos todos à janela a vê-lo. O nosso pai resolveu ir ao jardim onde estava preso o elefante. Estava calor e os elefantes precisam de ter a pele molhada. O nosso pai pegou na mangueira de regar o jardim, abriu a torneira e começou a molhá-lo. O elefante, todo contente, enchia a tromba de água e molhava-se todo. Enchia novamente a tromba e voltava a borrifar-se. Ninguém contava que no encher uma vez mais a tromba fizesse o que fez. - Oh! Que loucura! O elefante, levantou a tromba e borrifou com aquela água todo o nosso pai, ficando todo molhado. Fartámo-nos de rir com o banho. Quem não gostou da brincadeira foi o nosso pai, mas como nós nos ríamos a bom rir, também começou a rir.
A aluna:
Ana Lúcia
Contada pela avó São 109
A GAITA MILAGROSA
Era uma vez um gaiteiro que tinha uma gaita, que tinha a virtude de fazer dançar toda a gente quando tocava. Um certo dia, passou um senhor com um burro carregado de loiça e o gaiteiro pôsse a tocar. Tanto o dono como o burro puseram-se logo a bailar e tanto bailaram, que em pouco tempo toda a loiça estava em cacos. O dono da loiça gritou a pedir ao gaiteiro que não tocasse, mas este só parou quando já não havia uma peça de loiça inteira. Furioso, o pobre homem foi queixar-se ao juiz e o tocador foi chamado à sua presença. -És acusado de ter quebrado a loiça deste homem – disse o juiz ao gaiteiro. - Eu não sou o culpado. Toquei a minha gaita e esse senhor mais o burro puseramse a dançar. - Tens contigo a gaita? - Tenho. Disse o gaiteiro. - Então toca. Ordenou o juiz, sentado na sua poltrona. O gaiteiro tirou a gaita do bolso e começou a tocar. O dono da loiça, que estava sentado numa cadeira pegou na cadeira e começou a dançar com ela. O juiz começou a dançar. A mãe do juiz, que estava entravada na cama, num quarto próximo, levantou-se imediatamente, bailando, batendo as palmas e cantando: -Vá de folia, Vá de folia, Que há sete anos Eu não me mexia! E assim o escritório do juiz se converteu numa animada sala de baile, pois até as cadeiras, mesas e armários se puseram a bailar. Passado momentos, o juiz pediu ao tocador que parasse e ele obedeceu, pois viu que já todos transpiravam, por causa da dança. O juiz, depois de limpar o suor, disse para o gaiteiro: - Podes ir-te embora sem culpa nem pena, pois até curaste a minha mãe, que há muitos anos estava entravada na cama. E o gaiteiro foi embora, muito contente e satisfeito.
A aluna:
Ana Carolina Calvão Contada pela mãe 110
A VELHINHA E A MENINA
Era uma vez uma velhinha
Diga o que tem avozinha
Quase cega coitadinha
Que eu a leva á sua casinha
E já mal podendo andar
Onde lhe dói e que tem?
Encostada ao seu bordão
Diga que eu já vou buscar
Sempre olhando para o chão
Qualquer coisa para a curar
Ia na estrada a passar.
Vou pedir à minha mãe.
Ouvindo um cão que ladrou
Não foi nada meu amor
A pobrezinha parou
Tu és um anjo uma flor
Olhando em roda assustada
Ajuda-me só a andar
Quis fugir, não conseguiu
Deus pague a tua bondade
Tentou correr, mas caiu
Com muita felicidade
A pobrezinha coitada.
Disse a velhinha a chorar.
Nisto surge uma menina Viva formosa e ladina Que ao vê-la cair no chão Correu logo pressurosa Condoída e carinhosa À velhinha deu a mão.
A aluna:
Ana Filipa
Contada pelo avô Zé 111
A PULGA VALENTE
Certo dia uma Pulga andava no monte a passear. Caiu uma nevada muito grande e a Pulga, ficou com ambos os pés presos na neve. Pensando que ia morrer, a pequena pulga, pediu auxílio a mais valente das coisas, para que a libertassem da morte. Entretanto, abriu o Sol que derreteu a neve, que prendia os pés da pequena pulga. Visto o acontecido, a Pulga exclamou: - Oh! Valente Sol, que derretes a neve, que os meus pezinhos prendia. O Sol Disse: - Eu sou valente, mas as Nuvens me encobrem. A pulga disse: -Oh! Valentes Nuvens, que encobrem o Sol, que derrete a neve, que os meus pezinhos prendia. As Nuvens disseram: - Nós somos valentes, mas a Chuva nos desfaz. A pulga disse: - Oh! Valente Chuva, que desfaz as Nuvens, que encobrem o Sol, que derrete a neve, que os meus pezinhos prendia. A Chuva disse: -Eu sou valente, mas as Árvores me colhem. A pulga disse: - Oh! Valentes Árvores, que colhem a Chuva, que desfaz as Nuvens, que encobrem o Sol, que derrete a neve, que os meus pezinhos prendia. As Árvores disseram: - Nós somos valentes, mas o Machado nos corta. A pulga disse: - Oh! Valente Machado, que corta as Árvores, que colhem a Chuva, que desfaz as Nuvens, que encobrem o Sol, que derrete a neve, que os meus pezinhos prendia. O Machado disse: -Eu sou valente, mas o Ferreiro me amola. A pulga disse: - Oh! Valente Ferreiro, que amolas o machado, que corta as Árvores, que colhem a
112
chuva, que desfaz as Nuvens, que encobrem o Sol, que derrete a neve, que os meus pezinhos prendia. O Ferreiro disse: -Eu sou valente, mas a Morte me mata. A pulga disse: -Oh! Valente Morte, que matas o Ferreiro, que amola o machado, que corta as Árvores, que colhem a Chuva, que desfaz as Nuvens, que encobrem o Sol, que derrete a neve, que os meus pezinhos prendia. A Morte disse: - Eu sou valente, mas deixei a pulga fugir. A pulga muito admirada disse: - Mas ... afinal eu, que sou a mais pequenina de todas, hoje consegui fugir à morte. Sou muito valente, Viva, Viva a pequena Pulga.
Daniel Moura Sargento O aluno:
Contada pela trisavó Maria 113
O MENINO MESTIROSO Era uma vez um menino que vivia numa pacata aldeia do interior. Nessa pequena aldeia todos os dias eram iguais e o menino, como as poucas crianças que lá viviam, de manhã iam para a escola e de tarde ajudavam os pais na lavoura. Como os pais do nosso amiguinho tinha um rebanho de ovelhas, as tardes dele eram passadas no monte para que elas pudessem pastar. Dia após dia as tardes do menino eram sempre iguais e apesar dele gostar muito dos animais, o nosso amigo começou a ficar aborrecido por ser sempre a mesma coisa e nada de diferente acontecer. Um belo dia estando ele no monte olhou para baixo e vendo a sua querida aldeia onde nunca nada acontecia, teve uma ideia que iria movimentar toda a gente. E se assim o pensou o fez, começou a gritar. -AÍ VEM LOBO! AÍVEMLOBO!!! Cá em baixo, na aldeia, ouviram-se gritos do rapazinho e numa enorme aflição todos correram monte acima armados de grandes paus para ajudar o menino. Quando lá chegaram, o menino, fingindo-se aflito disse que o lobo já se tinha ido embora. Claro que as pessoas estranharam que o lobo não atacasse nenhuma ovelha, mas desconfiados, lá regressaram a suas casas. Passaram uns dias e a vida pacata da aldeia lá continuava na mesma e o nosso amigo, todas as tardes, subia ao monte com as ovelhas, mas a ideia de repetir a mentira não lhe saia da cabeça. Até que um belo dia não aguentou mais e volta a gritar. -AÍ VEM LOBO! AÍ VEM LOBO!!! Novamente a agitação na aldeia levou todas as pessoas monte acima para defender o menino e novamente o menino disse que o lobo já tinha ido embora. Desta vez todas as pessoas ficaram com a certeza que o rapaz mentia e que não havia lobo nenhum, mas o menino achou imensa graça ter feito as pessoas mudarem o seu dia a dia. O tempo foi passando e o menino continuava com as suas ovelhas. Mas certo dia reparou que lhe faltava uma ovelha e depois de contar bem viu que eram duas que lhe faltavam e de repente viu o lobo entre elas, enorme e feroz, que vinha buscar a terceira ovelha. Então gritou, gritou: -AÍ VEM LOBO! AIVEMLOBO!!!!!
114
Mas a gente da aldeia ficou quieta e ninguém subiu o monte para o ajudar. O menino, como pode, correu, correu, correu e lá conseguiu chegar esbaforido á aldeia pedindo ajuda. Então todos lhe disseram: - Lobo? AH, AH, AH, AH…Não acreditamos em ti, já te ajudámos muitas vezes e era tudo mentira. Só que desta vez era mesmo verdade e por ele ter mentido ninguém mais acreditou no rapazinho. Esta história contém uma grande lição de vida. Nunca se deve mentir, porque depois, mesmo quando se diz a verdade, corre-se o risco de ninguém acreditar em nós. Esta história foi contada pela minha avó Manuela pois ela ensinou-me a não mentir.
A aluna:
Marta Lage Contada pela avó Manuela
115
O SENHOR GORDO
Era uma vez um senhor muito gordo. Foi ao médico dos gordos, que querem passar a magros ou a menos gordos. Um médico muito famoso. - O que o senhor preciso é de fazer exercício – disse-lhe médico. - Que género de exercício? - perguntou o senhor muito gordo. - Desporto - explicou-lhe o médico. - Ginástica, natação, corrida... O senhor gordo, que também era muito preguiçoso, preferiu a corrida, mas a cavalo. Sempre era mais confortável. No mês seguinte, voltou ao médico. - O senhor está na mesma – disse-lhe o médico, depois de medir-lhe a cintura. Não emagreceu nada. - Mas emagreceu o cavalo – esclareceu o senhor gordo. - Depois deste mês de exercício, a carregar comigo, está só pele e osso. E o senhor continuou gordo, para o resto da vida. O cavalo, esse, teve de ir consultar um veterinário, a ver se engordava.
O aluno:
José Miguel 116
Índice
A Menina e os Lobos
97
O Menino de Vermelho
98
A Mulher que Amamentou uma Cobra
99
O Aparecimento da Nossa Senhora dos Prazeres
100
O Gatinho
101
O Pai Natal e a Bruxa Má do Norte
102
A História do Nome de Pedras Salgadas
104
A Lenda da Bandeira de Chaves
105
Platão e os Amigos
106
O Cão Chamado Bill
107
O Elefante Bebé
108
A Gaita Milagrosa
109
A Velhinha e a Menina
110
A Pulga Valente
111
O Menino Mentiroso
113
O Senhor Gordo
115
117
4º Ano – Turma H
Cláudia Patrícia Reis Rodrigues Dimitri Alexandre da Silva Hugo Daniel Teixeira Rodrigues Ivo dos Santos Pinheiro Jéssica Nelson Feijó Luís da Fonte Santos Núria Filipa Salvador Rodrigues Renato Henrique Morais
118
A LENDA DA D. CHAMA No Outeiro, sobranceiro à vila, segundo a lenda, existia a torre habitada por D. Chama, castelã lúbrica, sempre pronta a dormir com quantos cavaleiros a procuravam e, para que não divulgassem o segredo de que tinha pernas de cabra, mandava -os matar no dia seguinte. Um dos mais espertos tirou-lhe o anel do dedo enquanto dormia e, ao sair, apresentou-o aos guardas do castelo como sinal de aliança com a dama, que o deixaram passar. Quando D. Chama acordou e deu por falta do anel e do homem, mandou os criados atrás do fugitivo, gritando-lhe: a dona chama, a dona chama; de onde o nome de D. Chama à vila, mas nada conseguiram, e então ela, vendo-se desacreditada e descoberto o segredo, ficou encantada com os seus tesouros nunca mais quis ver mais ninguém, e com os populares a dedilhar:
D. Chama chamorra Pernas de cabra Cara de senhora
No outeiro ainda hoje lá existe a ermida que é a capela do Senhor São Braz, a sua festa celebra-se no primeiro Domingo de Fevereiro, protector da "Goela", protege e cura as doenças da garganta! Esta lenda é contada pelos populares da vila de Torre de Dona Chama, que fica no concelho de Mirandela de onde é natural o meu Avô.
O aluno:
Dimitri
Contada pelo Bisavô 119
O BARRIL DO CAVALEIRO
Um homem muito rico e poderoso era infeliz. E conhecia, na montanha, um homem muito pobrezinho, mas feliz. Lembrou-se de visitar o pobre e perguntar-lhe porque era feliz? O homem da montanha respondeu-lhe que era bom, honesto e trabalhador. Entregando-lhe um barril muito pequenino disse-lhe que quando o enchesse seria feliz como ele. O cavaleiro com os seus criados correu montes, vales, fontes e rios. Metia o barril na água e vinha sempre vazio. Um dia, muito triste, despediu os seus criados, deu-lhe a sua riqueza, meteu o barril entre as mãos e chorou arrependido de ter sido mau na vida. Uma lágrima caiu no barril, que imediatamente ficou cheio. Levantou-se cheio de alegria e disse que era feliz. Na verdade foi feliz para sempre.
O aluno:
Hugo Rodrigues ontado pela avó Céu 120
O MORTO
Eram dois irmãos e tinha-lhes morrido o pai, no dia anterior. O pai foi levado para uma igreja afastada da aldeia deles, e tinham que ficar lá toda a noite a guardá-lo. Um dos seus filhos era mais medricas enquanto que o outro era corajoso. Por perto da igreja, em que eles se encontravam, havia uma vinha. O que não tinha medo disse ao seu irmão: - Preferes ir tu buscar as uvas ali à vinha, ou ficas aqui a guardar o pai? Este lhe respondeu: - Vou eu à vinha e ficas tu aqui. Enquanto que o medricas foi às uvas, o irmão pensou em tirar o pai do caixão e sentá-lo na cadeira onde ele estava, metendo-se ele lá dentro. O irmão chegou com as uvas, ofereceu-as a quem estava na cadeira, pensando que era seu irmão, e com o medo que este tinha não parava de olhar para o caixão. E dizia ele para o pai: - Toma as uvas, toma as uvas. De repente, o irmão, que estava no caixão, levantou a cabeça para ver o que o medricas estava a fazer. Quando este o viu, pensando que era o pai, deixou cair as uvas e começou a fugir. O irmão levantou-se do caixão e continuou a guardar o pai. De manhã, o seu irmão regressou à igreja e contou-lhe o que tinha visto: -Quando voltei da vinha e tu estavas a dormir na cadeira, eu ofereci – te as uvas e tu não acordavas. Como eu estava a olhar para o caixão, vi o pai a levantar-se para me apanhar e eu fugi. O seu irmão, depois, contou-lhe que tudo não tinha passado de uma brincadeira. E assim os dois irmãos continuaram a guardar o seu pai até ao seu funeral.
O aluno:
Renato 121
FILHO ÉS, PAI SERÁS
Num país distante, um homem, vendo que seu pai era velho e não podia trabalhar, resolveu livrar-se dele. Assim, num certo dia de Inverno, pegou numa manta e numa broa e convidou o pai a acompanhá-lo até ao cimo do monte. Chegado lá, o filho disse ao pai que não o podia alimentar e que, por isso, ali o deixava. O pai de lágrimas nos olhos, pela tristeza de se ver assim tratado pelo filho, ainda teve forças para lhe perguntar: - Filho, não trazes, por acaso, uma faca? - Para que a quer, meu pai? - Olha, filho, lembrei-me de cortar esta manta e esta broa ao meio para que leves uma parte para casa. - Para quê, pai? – perguntou o filho, intrigado com a atitude do velho. - É para o teu filhote te
dar quando fores velho como eu e já não puderes
trabalhar… O filho olhou para o pai e compreendendo a lição que este lhe dera, chorou de arrependimento e trouxe-o de novo para casa, onde o tratou com carinho até à hora da morte.
A aluna:
Núria
Contado pela avó Rosa 122
A HISTÓRIA DA MINHA AVÓ
No recanto de um bosque, próximo de um riacho, existia um moinho onde vivia uma velhinha. Um dia, um garoto aproxima-se dela levando-lhe um convite de casamento da sua neta, que vivia na aldeia próxima, no cimo do monte. Passado um mês, a velhinha prepara-se para subir o monte, levando consigo uma cestinha com a merenda. A meio do caminho, pára para descansar e, começa a comer alguma coisita. Aparece repentinamente um lobo que a pretende comer. Diz a velhinha: - Não me coma senhor lobo, que vou ao casamento da minha netinha e, quando voltar, trago a cestinha cheia de coisinhas boas. O lobo confiou na velhinha e deixou-a continuar a viagem. Próximo da noite, outro lobo mais esfomeado que o primeiro pretende, também, comê-la. A velhinha responde. - Não me comas, que vou à festa da minha netinha e quando vier trago-te esta cestinha cheia de coisas boas para ti. Este lobo não confiou e, como a fome era muita, insistiu em comê-la. Então, a velhinha, esperta, diz-lhe: - Vê bem, senhor lobo, estou magrinha e de certeza que depois de comer várias coisas boas na festa, estarei mais gordinha e ainda terei a cestinha cheia de coisa boas para comeres. O lobo aceitou a proposta e deixou seguir a velhinha. À noite chegou à aldeia e, cansada após a ceia com a família, foi deitar-se. Pela manhã arranjou-se para assistir ao casamento. A festa foi bonita e, como acontece tradicionalmente em Trás-os-Montes, durou dois dias. A velhinha esqueceu os problemas dela (as promessas que fez aos lobos). No último dia do casamento, partilhou-se irmãmente a restante comida pelos convidados e, com o fim do bailarico, a festa terminou.
123
Só, então, quando se ia deitar a velhinha, com saudades do seu cantinho, recordou o que tinha prometido aos lobos e contou o que lhe sucedeu à filha. Acalmando a mãe, a filha disse-lhe que se deitasse, pois no dia seguinte arranjaria uma solução. Qual foi a solução? Decidiram colocar a velhinha num cortiço, fechá-lo bem e, como a casinha ficava no fundo do monte, quando mandassem o cortiço ela chegaria rapidamente a casa sem ser incomodada pelos lobos. O cortiço rebolava, rebolava, até que apareceu um lobo. - Ó cortiço!!! Tu viste uma velha? - Nem vi velha, nem velhão, rebola cortiço - responde a velhinha com voz de falsete. E o cortiço continuava a rebolar. Mais à frente, outro lobo faminto vê o cortiço e corre para ele perguntando: -Ó cortiço!!! Tu viste alguma velha? - Nem vi velha, nem velhão, rebola cortiço – repete a velhinha. O cortiço rebola e rebola até que perto da casa da velhinha bate numa árvore e parte-se. A velhinha levanta-se e abrindo a cancela do seu quintal, entra na sua casinha, feliz e contente com a esperteza da filha.
A aluna:
Cláudia Patricia Contado pela Mãe 124
O SOLDADO QUE VINHA DA GUERRA
Quando regressou à sua terra o soldado passou por uma floresta, onde vivia uma velhinha. Bateu-lhe à porta e a velhinha abriu a porta dizendo: - Entre, entre meu bom soldado. Em seguida, perguntou-lhe o que queria comer e ele respondeu: - Eu comer não quero, tenho é muita sede. Então a velhinha foi buscar uma caneca com água. O soldado, em vez de beber pelo lado que pertencia da caneca, bebeu pela asa, pois pensava que a velha não bebia por lá. Então a velha ficou muito contente e admirada dizendo. - Bem-haja o senhor soldado que bebe por onde eu bebo! O soldado quando soube que a velha também bebia pela asa da caneca ficou todo agoniado.
O aluno:
Ivo Pinheiro Contado pela avó Fernanda 125
LENDA DA NOSSA SENHORA DA APARECIDA
Na aldeia da minha avó, Calvão, há uma lenda que há muitos anos aconteceu num monte, onde havia muitos penedos, muito altos. Andavam lá crianças a guardar gado, quando olharam para o penedo mais alto e apareceu uma senhora muito linda. Eles quando foram para casa contaram aos pais o que tinha acontecido. Todas as pessoas da aldeia ficaram a saber e então juntaram-se todas para construir uma capelinha no penedo mais alto. À volta fizeram uma varanda, onde as pessoas rezam o terço e fazem as promessas. Como é muito alto avistam-se os montes a toda a volta. Para subir até lá construíram uma escadaria em pedra. Conta-se, também, que um senhor da aldeia subiu até lá cima e as pegadas ficaram marcadas. Mais tarde, construíram uma igreja muito linda, com nichos e um grande recinto, com bancos e mesas de pedra. Agora todos os meses, no segundo domingo de Setembro fazem uma grande festa à Nossa Senhora da Aparecida.
O aluno:
Luís Santos
Contado pela avó 126
A CARROÇA VAZIA
Certa manhã, o meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque. Deteve-se, subitamente, numa clareira e perguntou-me: - Além dos pássaros, ouves mais alguma coisa? Apurei os ouvidos e respondi: - Estou a ouvir o barulho de uma carroça. -Isso mesmo – disse o meu pai – de uma carroça vazia. Perguntei-lhe: - Como sabe que está vazia, se ainda não a vimos? - Ora é fácil! Quanto mais vazia está a carroça, maior é o barulho que faz. Cresci, e hoje, já adulta, quando vejo uma pessoa a falar de mais, aos gritos, tratando o próximo com absoluta falta de respeito, prepotente, interrompendo toda a gente, a querer demonstrar que só ele é dono da verdade, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai a dizer: - Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz!
A aluna:
Jéssica Feijó
Contado pela avó 127
Índice
A Lenda da Dona Chama
118
O Barril do Cavaleiro
119
O Morto
120
Filho És, Pai Serás
121
Uma História da Minha Avó
122
O Soldado que vinha da Guerra
124
Lenda da Nossa Senhora da Aparecida
125
A Carroça Vazia
126
128
129