LIAME
Bet창nia Silveira - 2011
Performance de abertura da exposição. Palácio Cruz e Sousa - Museu Histórico de Santa Catarina, Florianópolis SC, 2010/2011.
Interação.
Interação
Interação
Liame Betânia Silveira A quietude por si só é o potencial da criatividade. O movimento por si só é sua expressão. Deepak Chopra. O trabalho sob o nome de “LIAME” é a união de dois momentos de concepção e produção dos meus tridimensionais. O primeiro deles tem inicio no ano de 2000, com a exposição “Diaphana”, obra instalativa que percorre espaços expositivos e alternativos adequando-se a eles e modificando-se nessa itinerância1. O segundo momento referese à produção de objetos de cerâmica, nos quais exploro sonoridades próprias do material ligado a outros elementos e ao toque do corpo em ação de quem com eles empreender contato, projeto antigo que começa a ser concretizado a partir de 2009. Com esta união proponho a demarcação de um lugar, um sítio circundado por uma aparente barreira de diáfana membrana que é preciso transpor para ir além da forma e transformar matéria e materialidades em ação e sonoridades, e então vivenciar o espaço soante. O que oferto são parte da minha construção de mundo, meus objetos díspares, minhas antagonias, agonias, inquietação e fúria, meu tempo de bonança, minha resignação, re-significados no deleite com matérias duras e moles, transparentes e opacas, leves e pesadas, densas e etéreas. Minha subjetividade que se transforma em materialidade para transbordar no mistério do outro e reverberar em sinapses de seus encontros. O que espero ao expor é essa fruição de um corpo-sujeito que vai ao mundo, que com ele se envolve, e que ao fazer dele – o mundo - seu projeto, lapida a jóia preciosa do conhecimento de si mesmo. A proposição convida para uma experiência que se inicia no sensorial e reúne a possibilidade dos sentidos convergindo para o regozijo da experimentação, da relação com o que está concretamente posto, da sinestesia conseqüente da poesia própria de cada um. Portanto, nesse espaço que se propõe é o desejo individual, motor e motriz do corpo do fruidor em ação, que encaminha através da percepção olfativa, auditiva, visual e tátil, a apalpação, o toque, a fricção, a batida, o ritmo em que a mão apropria-se dos objetos e constrói o porvir desse vínculo que se concretiza como vibração e emissão sonoras. Acredito que esse tipo de contato estimula a memória, reaviva lembranças de lugares não visitados, de situações vividas na imaginação, além daquelas localizadas no passado do tempo que desta maneira atualizam-se como vivências do presente. Da contemplação branca de silêncio ao toque de ritmos que se pode tirar do mundo a nossa volta, vinculados àqueles internos do próprio corpo, o percurso que se faz na interação com este trabalho busca operar uma reconciliação entre o fruidor e os objetos que ganham vida de obra nesse ato. O lugar proposto tem valor relacional, assim precisa do desejo e da ação do outro para ser ativado. Sem essa colaboração a proposta permanece como possibilidade latente a espera de seus devires. Borriaud (2009) afirma que, desde os anos sessenta do sec. XX até os dias atuais, a formação de relações de convívio no campo da arte é uma constante histórica e muitos trabalhos artísticos possuindo essa dimensão relacional relevam a importância da função de ponto de encontro que os caracteriza. Duchamp (apud Borriaud, 2009, p.37) tem razão quando afirma que toda obra de arte é obra relacional já que, desde seu ponto de partida, “é preciso negociar, pressupor o outro...”, mas quando em uma proposta o que se tem como meta maior é oferecer a possibilidade para fazer surgir a expressão alheia, então sim ganha peso o valor relacional do trabalho. Em tempos de ligeirezas virtuais, de relações descartáveis, superficiais e orientadas pela extenuante comercialização que se estende até ao controle dos desejos humanos, espera-se proporcionar um lugar para um momento, fragmento de tempo no meio da correria, no qual o corpo revigora seu contato com o mundo através de relações que podem excitar a imaginação e instigar o convívio e a troca lúdica entre as pessoas, através do contato corpo a corpo entre sujeitos, objetos e a produção de sonoridades compartilhadas. O conjunto que hora apresento, feito de tramas de silicone desenhando redes de complexos labirintos e objetos de cerâmica associados a elementos naturais (como a água, sementes e pedras), contém em seu gérmen a possibilidade de certo dionisíaco encontro. Isto nos remete a tríade ancestral e mitológica que é formada por Dionísio, Ariadne e seu filho Kéramos, o primeiro oleiro. Portanto, se sob o olhar da mitologia grega, a cerâmica é filha da reunião e da festa, nesse momento de convivência proponho que celebremos. Referências BORRIAUD, Nicolas. Estética Relacional. São Paulo: Martins Fontes, 2009; PONTY, M. Merleau. A Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1996