CIDADE PARA PESSOAS
No livro Cidade para pessoas, o autor Jan Gehl defende a humanização das cidades, isto é, que as mesmas sejam pensadas e executadas privilegiando o pedestre. Criando espaços que beneficiem os mesmo, espaços de uso comum. Dessa forma, para o correto planejamento dessas cidades, entender o corpo humano, suas limitações e possibilidades, como seus sentidos funcionam e interagem com os espaços, como a visão ganha destaque no que concerne a leitura e interpretação do espaço a priori, é fundamental para a correta execução desses espaços com Escala Humana — espaços projetados principalmente para os transeuntes e não para os automóveis.
A Praça Procpio Ferreira, localizada no centro do Rio de Janeiro, destaca-se pelo alto fluxo de pessoas que diariamente transitam por ali, devido, principalmente, aos modais de transporte próximos a ela. Tendo aproximadamente 10.000m², a praça é majoritariamente plana, sendo um local muito vivo, muito elétrico, em que muitas coisas ocorrem ao mesmo tempo — servindo desde percurso para aqueles que buscam o transporte público (metrô, trem, ônibus e vlt) a palco de eventos culturais e local de comércio intenso, a partir dos camelôs que ali trabalham. É uma praça, sendo por sua natureza um local de encontro. Por isso, para entender toda essa complexidade, essas coisas que ocorrem simultaneamente e de maneira totalmente intensa, um campo de visão amplo é imprescindível para que as pessoas possam captar e ent ender esse entorno tão caótico, entender toda essa movimentação. Suas dimensões, portanto, permitem que uma visão ampla exterior da praça seja feita, que uma rápida leitura e interpretação do que ocorre ali aconteça. Essa visão mais abrangente, diante desse entorno tão diverso, é fundamental para os pedestres que habitam esse espaço, pois só com essa amplitude tal complexidade é compreendida. Dessa forma, suas medidas permitem que ao se aproximar da praça, já se absorva parcialmente seu conteúdo, se entenda a movimentação de pessoas que estão ali e, uma vez dentro dela, já podemos reconhecer melhor esses usuários e entender melhor as atividades ali desenvolvidas. O sentido humano da visão, juntamente à amplitude visual permitida pelo tamanho da praça, colaboram para o rápido entendimento desse espaço.
Praça Procópio Ferreira
No centro da praça Procópio Ferreira, tem-se um local/estrutura em que um foco maior é necessário. Aqui, uma visão mais próxima ao espaço é muito importante para o melhor aproveitamento do mesmo. A estrutura, uma espécie de palco de concreto em nível mais baixo que o da praça, reúne pessoas, que se sentam nos degraus-arquibancada para assistir apresentações diversas. Aqui a proximidade entre o público e o artista/locutor do evento a ser apresentado é primordial. Aqui a distância de cerca de 25m é necessária para que as emoções, expressões faciais e até voz cheguem ao público e portanto, que a mensagem seja passada— isso claro sem o uso de aparelhos que amplificam a voz ou métodos que acentuam a linguagem e expressão corporal. Por estar em uma praça aberta, não há um limite máximo de pessoa suportadas nessa estrutura, entretanto, assim como na pequena arquibancada, os lugares, mesmo em pé, não são infinitos, pois a pessoa que fica em posição desfavorável, ou seja, fora do campo de visão de 25m, não pode acompanhar com qualidade o que se passa no palco, no centro dessa estrutura, resultando em uma experiência menos rica e mais desconfortável.
Palco/estrutura de concreto
Em frente à Praça Procópio Ferreira, tem-se a histórica Av. Presidente Vargas. Uma via expressa criada a partir de intensas demolições no Rio de Janeiro. Tendo aproximadamente 65m de largura, a escala humana nessa via e em seu entorno imediato não é uma prioridade, já que os edifícios do entorno não se relacionam com a rua de maneira satisfatória, devido a grande altura dos mesmos. A falta de escala humana nessa área também está relacionada à largura da própria via que, por ter dimensões tão grandiosas, torna seus dois lados bem afastados uns dos outros. A Av. Presidente Vargas pode ser entendida como uma barreira que limita a Praça Procópio Ferreira a apenas um de seus lados. Assim, as pessoas do outro lado dessa via ficam distantes demais para interagir com a praça e aproveitá-la, ao menos que atravesse seus 65m. Tudo isso, torna a experiência humana de vivência desse espaço bem empobrecida e desestimulante.