Gabriel Bottaro Rodrigues - SER TÃO: IMAGENS DO CERRADO

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UFMG ARTES VISUAIS

GABRIEL BOTTARO RODRIGUES

SER TÃO IMAGENS DO CERRADO

BELO HORIZONTE 2018


GABRIEL BOTTARO RODRIGUES

SER TÃO IMAGENS DO CERRADO

Trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado ao Colegiado de Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Artes Visuais. Habilitação: Desenho Orientador: Wagner Leite Viana

BELO HORIZONTE 2018


À minha família, por acreditarem e investirem em mim. Mãe, seu ensino de amor e humanidade me dão força e esperança para seguir. Pai, seu olhar sobre a natureza e amor pela terra me inspiram para criar. Irmão, seu espírito

revolucionário

e

seu

altruísmo

incondicional me dão forças para alterar a realidade ao meu redor. Silvânia, pelos ensinamentos alquímicos na cozinha e por me ensinar a falar com plantas.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Maceração do Pigmento ............................................................ 9 Figura 2 - Árvore da Alma ........................................................................ 14 Figura 3 - Árvore da Pansofia ................................................................... 15 Figura 4 - O Mago .................................................................................... 18 Figura 5 - Boi ............................................................................................ 19 Figura 6 - Cágados ................................................................................... 20 Figura 7 – Pena I ...................................................................................... 21 Figura 8 - Pena II ...................................................................................... 21 Figura 9 - Mourão ..................................................................................... 22 Figura 10 - Carro de Boi ........................................................................... 23 Figura 11 - Salgueiro ................................................................................ 24 Figura 12 - Lunar ...................................................................................... 25 Figura 13 - Barro ...................................................................................... 26 Figura 14 - I .............................................................................................. 27 Figura 15 - II ............................................................................................. 28 Figura 16 - III ............................................................................................ 29 Figura 17 - IV............................................................................................ 30 Figura 18 - V............................................................................................. 31 Figura 19 - VI............................................................................................ 32 Figura 20 - VII........................................................................................... 33 Figura 21 - VIII .......................................................................................... 34 Figura 22 - IX............................................................................................ 35 Figura 23 - X............................................................................................. 36 Figura 24 - Sem Título .............................................................................. 37 Figura 25 - Árvore da Pansofia ................................................................. 38 Figura 26 - Oroboro Filosofal.................................................................... 39 Figura 27 - Açude ..................................................................................... 40 Figura 28 - Brejo Primordial...................................................................... 41


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 4 2. PRIMEIRA PARTE ............................................................................................... 7 2.1 Processo: Matéria, Suporte, Mestres ................................................................ 7 2.2 Ser-Tão: Natureza, Memória, Misticismo......................................................... 10 3. SEGUNDA PARTE ............................................................................................. 19 3.1 Cerrado Em Carvão - 2015 ................................................................................ 19 3.2 Presenças - 2015 ............................................................................................... 23 3.3 Arqueologia Do Sertão: Necro Sacro - 2016 ................................................... 27 3.4 Ser Tão - 2018 .................................................................................................... 37 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 42 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44


1. INTRODUÇÃO Este trabalho é fruto de uma conjunção de reflexões e conversas acerca de minhas incursões pelo sertão mineiro nas regiões banhadas pela represa de Três Marias. Propus, através de minhas criações e palavras, comunicar em linguagem poética uma narrativa que complementasse escrita e imagem, inspirando-me em fenômenos inerentes a este bioma que vive pelo processo cíclico de findar-se e renascer. O presente trabalho foi estruturado em duas partes: na primeira concentrase elementos textuais e de pesquisa e na segunda reúnem-se os desenhos. Diversas imagens da graduação, principalmente produções em ateliê, compõe a trajetória percorrida por mim dentro dessa vivência sertânica, marcada por ensinamentos humanitários, diálogos místicos e acesso às faces, divina e infernal, da natureza. O ponto inicial da construção desse trabalho de conclusão de curso se dá ao reunir produções desde meu ingresso na universidade. Traçando uma linha de análise sobre estes materiais pude estabelecer um fio condutor que permeava a maioria desses escritos e desenhos, uma constante revisita ao lugar de memória de minha vivência, tanto paisagística quanto por suas personagens: animais vivos e mortos, a forma, a entidade (ou a manifestação física daquele elemento, fenômeno). Tenho como interesse de pesquisa tratar sobre as dicotomias que se movimentam nos ciclos do cerrado: da chuva, da seca, do incêndio – fundamentais para existência do bioma – fenômenos que inspiraram uma série fotográfica em 2015. De caráter arqueológico, o ensaio propunha o registro de uma trajetória buscando compreender, através do fenômeno da morte, uma mitologia sertânica marcada pela presença de energias destrutivas e criadoras. Inspirei-me em algumas obras literárias como: “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, romance que aborda a vida de uma família em meio às dificuldades do sertão e que tem sua vivência alterada de acordo com os ciclos da chuva e da seca, “Ser-tão natureza” de Mônica Meyer, uma investigação sobre manuscritos de Guimarães Rosa durante sua incursão pelo sertão mineiro, dentre outros artigos e textos de autoras como Ana Cecília1, Vera Beatriz2 e Maria Elena Merege3, as quais auxiliaram a pesquisa dentro do campo da paisagem e do significado de natureza.

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MARTINS, Ana. História, Arte & Ciência. São Paulo: Casa da palavra, 2009. SIQUEIRA, Vera. Burle Marx. Espírito Santo: Cosacnaify, 2009. 3 VIEIRA, Maria Elena; O jardim e a paisagem, São Paulo, 2007. 2

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Pude estabelecer relações substanciais com minha pesquisa e selecionar passagens nestas obras que, concomitantemente, apresentam um novo olhar sobre o sertão e o resgate de minha produção e pesquisa durante o percurso curricular, o aparato teórico deste trabalho interligou interesses pessoais estéticos à um repertório de pesquisa. A temática do paganismo: o grotesco e o sublime, questões da fé e simbologias mítico religiosas, estão presentes em minha obra e processo de formação. Através da aproximação com determinados artistas como: Goya, Ana Mendieta, Waterhouse, Joseph Beuys e Antônio Oba, que trazem no trato de suas obras uma perspectiva religiosa, foi possível traçar uma nova ordem religiosa e pessoal acerca do meu tema. Outras obras textuais como: “Banguê”, “Grande Sertão Veredas”, “A Flora Nacional na Medicina Doméstica” e “Alquimia e Misticismo: O Gabinete Hermético”4, também foram utilizadas tanto para leitura e construção do argumento, quanto para colagens. Bem como os trabalhos teóricos da graduação que serviram de apoio inicial para criação do corpo texto e referencial imagético da série de desenhos que ilustram minha própria vivência na região de Morada Nova de Minas, cidade abraçada pela represa de Três Marias que manifesta o ciclo do cerrado mineiro, não o mesmo do agreste em “Vidas Secas”, mas semelhante em seus personagens e cenários. Partindo da análise de meus trabalhos, buscando entre eles o fio condutor de minha obra dentro da academia, pude iniciar o discurso sobre este trabalho, propondo a criação de uma série de desenhos que articularia o repertório referencial aos escritos e fotografias que desenvolvi durante o processo de ateliê, série essa intitulada Ser Tão. Elegendo os temas mais caros a mim, como o trato sobre os polos: vida – morte, noite – dia, claro – escuro, espiritual – carnal, mas também demais conceitos recorrentes como: o grotesco, mitologia, questões da fé, desenhos de observação de animais e paisagens do cerrado, foi concebível o desenvolvimento de uma narrativa outra pro cerrado enquanto lugar edênico e infernal ao mesmo tempo, espiritual por (ser) natureza, alquímico por ser elemental e misterioso, habitado pela fauna necrosacra responsável pelo equilíbrio dessa natureza.

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Respectivos autores: José Lins do Rego, João Guimarães Rosa, Alfons Balbach e Alexander Roob.

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Tratar sobre o ciclo do cerrado é também falar sobre sofrimento e luta das pessoas que advém desses lugares, de sua fauna e flora que, assim como as pessoas, circulam pelo bioma em busca do “melhor lugar”, esse sentimento de fuga, mas que traz consigo a sensação de estar deixando algo para trás, é abordado de forma subliminar nas linhas escritas por Graciliano Ramos em “Vidas Secas”. Procurei em meu trabalho a melhor forma de utilizar desta e outras obras consagradas que falam deste lugar buscando nesta trajetória manter o respeito para com esses seres que habitam o bioma e sofrem pela seca e recebem em jubilo a época da chuva. Optando pela reavaliação das técnicas desenvolvidas durante a trajetória acadêmica: a descoberta dos materiais e suas aplicações, a elaboração dos mesmos e suas qualidades, trago para pesquisa outro fator muito querido aos diálogos em artes: o fazer. O ato criativo que traz em si apontamentos sobre as qualidades imbuídas no próprio trabalho: textura, cor, forma, técnicas, matéria, tamanho, exposição. Para feitura do rastro fiz uso dos materiais com os quais me familiarizei durante a graduação, tendo disponibilidade de alguns pasteis, guaches, aquarelas e acrílicas que pude construir desde a maceração do pigmento mineral até as etapas finais de adição dos aglutinantes e armazenamento. Além dos materiais que sempre fiz uso: carvão, pastel oleoso, grafite, canetas de nanquim e papel recortado para colagem que se fazem presentes na criação das texturas e camadas dos desenhos. Em primeiro momento: as experimentações e tentativas do que pensava ser o caminho a ser trabalhado. As primeiras imagens vieram com o pensamento idealizado do trabalho e aconteceram mudanças durante o processo de pesquisa. Mutações que partiram do amadurecimento da mesma e pela materialização de sentimentos conectados ao tema. Uma vez materializadas em imagem, estão sujeitas a uma leitura que transborda outras poéticas e desse novo prisma criado pelo diálogo com colegas artistas, professores e familiares a pesquisa e o eixo de produtividade foram se aperfeiçoando. Levo em conta que criar reflete minha condição emocional, pondo então no trabalho a medida da intimidade. Aquilo que se pensa metamorfoseia no caminho da memória para as mãos e quando chega ao papel é algo novo.

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2. PRIMEIRA PARTE 2.1 Processo: Matéria, Suporte, Mestres Ao apresentar a proposta artística, uma visão poética do sertão mineiro, atravessada por analogias de natureza mística advindas da interpretação dos elementos e das formas cíclicas inerentes à natureza, vi necessário o ato de dissecar meu decurso dentro da academia, elucidando conceitos sólidos presentes em meus trabalhos, tais como a presença de seres santificados e a persistência no discurso sobre os elementos e sua influência no registro pictórico. O processo revelador de espelhar a produção do percurso acadêmico sobre o atual trabalho foi o ponto de ação mais importante. Deparei-me finalmente com meu lugar de trabalho - aqui aponto lugar de trabalho como sendo essa atmosfera de conceitos margeadora daquilo que se faz, atualmente, meu tema predileto. Revisitar antigos textos e desenhos trouxe à tona meus potenciais criativos, pude localizar referências constantes, tais como: Animais, a presença da morte, mitologias. Identifiquei minha paleta com suas cores terrosas, meus marrons, meus carvões, felicitei-me com o amadurecimento da linha, meu trabalho com hachuras (este que se modifica constantemente) e deparei-me com rostos familiares, formas grotescas, detalhes sensíveis e texturas deliciosas. Como magia eu descobri em algumas horas que tudo que eu havia feito até então era uma trajetória de amadurecimento dentro do campo da imagem e da escrita. O traçar da trajetória se construiu em mim partindo muitas vezes de interesses pessoais de pesquisa, mas não somente. Associo a formação artística e meu amadurecimento principalmente aos mestres, meus professores, estes que me desnudaram em primeiro contato, trazendo questionamentos sobre o fazer artístico que até então eram intangíveis para mim, apontando vícios em meu ato criativo, despertando em mim a noção de que muito tinha a aprender, mas também, no ato de desnudar, apontando o que já havia de forte em meu fazer. Havia sido instaurando um ritual de constante desconstrução e edificação de minhas ideias. No trato do material e suporte, ponto este muito querido nos diálogos em arte, devo minhas descobertas a professores como: Conceição Bicalho, Maria do Céu, Antônio Signorini e Eugênio Horta, assim como outros não citados, mas que se fizeram fundamentais em minha formação básica. Leituras, diálogos e críticas que me atravessaram e me despertaram para o potencial do desígnio como uma distinta forma 7


de conhecimento e interpretação do universo. Proposto a criar: cadernos de processo, desenhos de objetos, retratos e abstração da forma humana, todas técnicas, ferramentas fortes para desenvolvimento de fluidez e precisão da linha, compreensão de fenômenos ópticos tais como: escorço, perspectiva, forma e contra-forma e que consolidaram um marco caracterizado por significativa melhora em minha trajetória. Através da experimentação dos mais diversos materiais e suas interações, buscando nas variadas qualidades as texturas e tons que respondiam melhor sobre o papel e investigando as possibilidades de rastro com pinceis e canetas, fui capaz de selecionar as ferramentas que melhor respondiam às minhas necessidades durante a realização de uma imagem. Assumindo uma paleta de baixa vibração tonal, sobretudo terrosa composta de guache, aquarela e café, canetas de nanquim, pasteis secos e carvão, bem como colagens. Outra herança do “pensar desenho” interage com a escolha do suporte, pensando em aspectos físicos como: textura, cor, gramatura; e em aspectos conceituais e de leitura, elejo formas que se relacionam com as temáticas do trabalho e que alteram a dinâmica tradicional de leitura dos papeis de fábrica, trazendo possibilidades de imersão na obra a partir da exploração dos quadrados e retângulos. Rememoro outras experiências em aulas, as que, em particular, lidaram com o trato do fazer, da matéria e do material, oficinas de elaboração de tintas, pasteis e carvões; estudos sobre aglutinantes e pigmentos com a professora Joyce que ampliaram ainda mais o conhecimento sobre minhas práticas do fazer, minha paleta e arsenal de material. Experiência fundamental para minha formação como artista por me dar a oportunidade de entender melhor os sistemas de produção dos materiais que faço uso, os recursos tecnológicos disponíveis para construção dos mesmos, bem como por ampliar minha relação temporal com meu desenvolver artístico, entendendo mais sobre a relação química envolvida no ato da criação em arte. Poder construir uma tinta do processo inicial de maceração dos pigmentos minerais até o instante final, quando, selecionado o aglutinante, decidir qual médio aquela substância imputará, evoca a relação primeva do artista com seu lugar de trabalho e seus materiais, imputando subjetividade e intenção ao ato criativo a nível estrutural da obra.

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Figura 1 - Maceração do Pigmento

Figura 2 - Maceração do Pigmento

Figura 3 - Maceração do Pigmento

Figura 4 - Maceração do Pigmento

Figura 5 - Maceração do Pigmento

Figura 6 - Maceração do Pigmento

Figura 7 - Maceração do Pigmento Fonte: Gabriel Bottaro (2017). Ressalto a presença de outros mestres em minha formação, estes que Figura 8 - Maceração do Pigmento mantiveram diálogo fiel a mim durante minha trajetória em artes sem nunca ter ouvido suas vozes, mas suas obras, estes mestres: Artistas, escritores, pensadores de outras Figura 9 - Árvore da AlmaFigura 10 eras com os quais tive contato, que me inspiram a pensar formas de descrever a - Maceração do Pigmento realidade. Exalto Goya por ser meu preferido, tanto pela fluidez de seus traços, quanto pela subversão de seus temas; pelo trato do grotesco presente nas sociedades e seus Figura 11 - Maceração do reflexos no prisma espiritual, retratando imagens de tabus religiosos, peças sobre Pigmento paganismo e bruxaria. Às mestras: a Figura artista Edith e a pesquisadora 12 Derdyk - Maceração do Mônica Meyer, aquela Pigmento por ampliar em mim concepções de desenho que extrapolam o plano bidimensional, revelando um novo campo de estudo sobre a trajetória das linhas e capacidade cognitiva inerente ao rabisco; Figura e esta 13por- elucidar Maceração meu pensamento do sobre natureza e Pigmento então descrever as múltiplas possibilidades de se pensar a mesma. Reservo, então, este espaço de minha monografia para gratular meus Figura Maceração mestres da EBA. Por terem tornado14 mais -palpável a energia do criativa, por terem dividido Pigmento comigo seu conhecimento raro, por me criticarem e enaltecerem quando necessário, pelas prosas brandas de corredor, discordâncias e debates, estes que foram sempre Figura 15 - Maceração do horizontais e democráticos, mas principalmente por me edificarem enquanto artista, Pigmento enquanto poeta das imagens. Meu muitíssimo obrigado pelos caminhos abertos! 9 Figura 16 - Maceração do Pigmento


2.2 Ser-Tão: Natureza, Memória, Misticismo Foi no processo de orientação mediado pelo professor Wagner que, após as primeiras conversas nas quais expus o eixo e tema de minha pesquisa, recomendou-me alguns textos que tratariam do assunto relacionado à natureza, mais especificamente o cerrado. A partir dessas leituras é que pude intentar primeiras passagens deste que escrevo. As imagens que já havia criado firmaram-se na série a partir do momento que pude identificar referências e ramificações dos conceitos previamente estabelecidos nos artigos, revistas e livros que agora faziam parte do repertório de pesquisa, também se fixou uma trajetória geradora de novos pensamentos que conferiu fôlego no seguimento da coleção. Dentre as produções selecionadas e estudadas uma em particular acoplava definições, desdobramentos e identificação suficientes para tornar-se a predileta, consequentemente aquela que serviu de apoio metodológico, estrutural e referencial para este texto, ainda que os demais viessem a compor a sequência. Por se tratar de uma tese sobre os manuscritos de Guimarães Rosa relativos à sua incursão pelo sertão de Minas Gerais, “Ser-tão natureza – a natureza de Guimarães Rosa” de Mônica Meyer apresenta aspectos técnico-metodológicos e de mesma semente temática à minha monografia. O sertão é duplo, espaço físico de trajetória, um caminho de travessia (sertão) para se transformar em um ser repleto de vida espiritual (ser-tão). Dentro desse contexto, a viagem significa, além de um deslocamento geográfico, um ritual de passagem para um encontro interior. (MEYER, 2008, pg. 207)

Inspirado por estas palavras me dei conta dum sentimento até então subliminar e que se manifestava particularmente quando em contato íntimo com a natureza, que em memória se manifesta como sendo os cerrados, os campos queimados, as beiras de açudes e as criaturas. O termo “Ser tão” concebe, utilizando do neologismo: definição para este sentimento singular que me acomete desde infância, bem como o nome desta monografia. Conjuntamente aos escritos de Mônica, percorria com admiração um facsímile do conjunto de cadernos denominados “A Boiada”. Durante a leitura dos diários de viagem intitulados “A Boiada” (B1 e B2)5 fui atravessado pela escrita de Guimarães,

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Abreviação utilizada por Meyer.

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não apenas pela profundidade inerente de sua escrita, mas principalmente pela reconstituição de memórias sensoriais que somente são proporcionadas àqueles que experienciaram o sertão Mineiro. A relação com o tempo (que também é relacionado à natureza), a complexidade cromática do sertão e a frequência do marrom mesclado com cor de flor. Com acesso aos diários originais a autora suscita questões sensíveis dessa incursão do escritor pelo cerradão das Minas, apontando leituras que se realizam por meio de vivências impregnadas de sensações corporais. A viagem pela natureza do sertão é um encontro com a vida no seu tênue e forte equilíbrio de interações. Guimarães Rosa estabelece uma relação religiosa com a natureza. Os sentidos aguçados são a chave para captar a beleza da criação e reintegrar-se à natureza [...] A natureza, como um mestre iniciático, guia Guimarães pelo sertão para ser-tão. (MEYER, 2008, pg. 207)

Uma vez identificada a relação espiritual entre o ser e o evento da natureza, e aquela estando aberta às interpretações e analogias mais variadas, comecei a nomear meus personagens e a emaranha-los à uma trama de signos e sistemas que remetessem ao meu universo religioso, às minha deidades e ideais filosóficos. Busquei no vestígio arqueológico a presença daqueles seres que inundavam-se de Ser Tão, estes que jazem etéreos em meu imaginário, que não participam mais do mundano, provavelmente por terem transitado desse plano para a superfície mais formosa da natureza, decerto por transbordarem-se de Ser Tão e adentrarem o próprio cosmo e lá permanecerem perpétuos, quiçá por terem sidos consumidos pelo próprio caos elemental típico da natureza e especificamente dessa natureza sertânica, autoconsumida por: incêndios, inundações, fogos fátuos e tremores de terra. Ao encontrar vestígios desses seres: uma cornucópia, uma canoa, uma carcaça. Fui capaz de conceber forma, depois memória para cada criatura e então - a partir da constatação empírica de quais elementos relacionavam-se com aquele ser e mais notadamente com a causa de sua passagem para o plano extra material, em estado de libertação harmônica dos elementos6 - associar energias análogas àquela presença que transcendeu ao macrocosmo por imergir-se tanto em seu microcosmo.

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Alusão à Opus Magnum e o processo de redenção nela contido.

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A Opus Magnum tinha duas finalidades: o resgate da alma humana e a salvação do cosmos...". Esse trabalho é difícil e repleto de obstáculos; a opus alquímica é perigosa. Logo no começo, encontramos o "dragão", o espírito ctônico, o "diabo" ou, como os alquimistas o chamavam, o "negrume", a nigredo, e esse encontro produz sofrimento... Na linguagem dos alquimistas, a matéria sofre até a nigredo desaparecer, quando a aurora será anunciada pela cauda do pavão (cauda pavonis) e um novo dia nascer, a leukosis ou albedo. Mas nesse estado de "brancura", não se vive, na verdadeira acepção da palavra; é uma espécie de estado ideal, abstrato. Para insuflar-lhe vida, deve ter "sangue", deve possuir aquilo a que os alquimistas denominavam de rubedo, a "vermelhidão" da vida. Só a experiência total da vida pode transformar esse estado ideal de albedo num modo de existência plenamente humano. Só o sangue pode reanimar o glorioso estado de consciência em que o derradeiro vestígio de negrume é dissolvido, em que o diabo deixa de ter existência autônoma e se junta à profunda unidade da psique. Então, a Opus Magnum está concluída: a alma humana está completamente integrada. (JUNG, 1982, Editora Cultrix)

Imerso nos pensamentos da alquimia e através da escrita de Meyer, descubro a trajetória do escritor Rosa por um sertão de aromas, cores e sensações táteis que aproximam o autor dos elementos ao seu redor, mas que também se espelha pelo vidro dos olhos para dentro do próprio universo. Como na passagem de “Boiada 1” quando Rosa descreve uma madrugada, uma temporalidade outra, esta do sertão que se conta pelo movimento da lua. Esta madrugada, deitado, via a lua, já baixa, lua cheia, pronta a ir-se. (Lado meu era o poente). Poente da lua cheia (ainda alto, eclipsado). Depois às 4hs 30’, as nuvens cinzento-verde, leve. Hora em que as nuvens (isoladas) refletem os verdes do mundo. Depois, elas ficam azul e rosa. (ROSA, 1952, pg. 4)

Seria a luz dessa lua cheia o fenômeno macro que, pela sutileza de sua energia, atravessaria o cristal ocular em encontro de uma energia íntima, tão próxima, quente e obscura de nós que, por fim, ilumina-se pelo contato com a natureza. Ele, como parte do mundo, está integrado ao cosmos. Respira com a terra, sorve a aurora e o crepúsculo no ar, sonha com a noite, canta com as águas, desenha com o dedo os morros e os caminhos [...] O autor escuta os sinais da natureza para exercer sua função como testemunho desta epifania do ser. Boiada marca a trajetória de uma viagem pelo interior de Minas e pelo interior do indivíduo (MEYER, 2008, pg. 208. Ibidem pg. 209)

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Penso que Rosa, em sua encruzilhada pela terra vermelha, afetando-se pelo dinamismo orgânico dos fenômenos, provou da Obra Prima alquímica do cerrado e sorveu doses herméticas que capacitaram-lhe acessar planos elevados do cosmo. O escritor, munido de seus diários e um arsenal de vocábulos fez desses aromas indecifráveis, palavras e da cor das montanhas, parágrafos, e dessas passagens tirou fôlego para, futuramente, lançar sua principal obra literária “Grande Sertão: Veredas”, sua Opus Magnum. “A expressão dessas diversas naturezas nasce, é filtrada e amalgamada dentro do autor para depois transbordar, dando-lhe identidade e significado.” (MEYER, 2008, pg. 209)

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Figura 2 - Árvore da Alma

Figura 18 - Árvore da Alma

Figura 19 - Árvore da Alma

Figura 20 - Árvore da Alma

Figura 21 - Árvore da Alma

Figura 22 - Árvore da Alma

Figura 23 - Árvore da Alma

Figura 24 - Árvore da Alma

Figura 25 - Árvore da PansofiaFigura 26 Árvore da Alma

Figura 27 - Árvore da Alma

Figura 28 - Árvore da Alma

Figura 29 - Árvore da Alma

Figura 30 - Árvore da Alma Autor: D. A. Freher (1764) Figura 31 - Árvore da Alma

Figura 32 - Árvore da Alma

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Figura 3 - Árvore da Pansofia

Figura 34 - Árvore da Pansofia

Figura 35 - Árvore da Pansofia

Figura 36 - Árvore da Pansofia

Figura 37 - Árvore da Pansofia

Figura 38 - Árvore da Pansofia

Figura 39 - Árvore da Pansofia

Figura 40 - Árvore da Pansofia

Figura 41 - O MagoFigura 42 - Árvore da Pansofia

Figura 43 - Árvore da Pansofia

Figura 44 - Árvore da Pansofia

Figura 45 - Árvore da Pansofia

Autor: Theophilius Schweighart (1604) Figura 46 - Árvore da Pansofia

Figura 47 - Árvore da Pansofia

Figura 48 - Árvore da Pansofia

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Motivado pela energia desse sertão inspirador, que nos faz transitar por memórias e nos conecta ao que há de mais maternal, íntimo de nós mesmos, trago para meus desenhos o máximo que posso das experiências adquiridas nas travessias pelas terras das veredas: o nome do pássaro, a cor do morro, o fogo no campo, o bicho do brejo, o cheiro do rio seco. A proximidade com as energias: da morte e da vida, e com os elementais: estes que nos fazem sentir sensações místicas ao redor da fogueira, são criaturas da noite, incorporam a onça, o Caboclo D’água, a cobra, o sapo, o toco de raiz, manifesta-se no gosto da seriguela, no grito da arara, sorve da lama e nela se torna. No homem moderno, o Éden traduz-se como uma crítica à sociedade contemporânea, que se encontra separada da natureza e anseia por uma reintegração; constitui um conhecimento secreto, acompanhado de um poder mágico – religioso [...] Ao evocar a presença de seus personagens, o indivíduo torna-se contemporâneo deles e, como consequência, deixa de viver o tempo cronológico e passa a viver o tempo primordial [...] Ao ‘viver’ os mitos, sai-se do tempo profano, cronológico, ingressando num tempo quantitativamente diferente, um tempo sagrado, ao mesmo tempo primordial e infinitamente recuperável.” (CAMPBELL, 1991, pg. 39 apud VIEIRA, 2007, pg. 54)

Experienciar o extremo da seca do cerrado e encontrar no rastro da devastação a morte exposta, simbolizou o encontro com aquilo de mais lúgubre que se encontrava em mim, o contato com a terra árida, ácida. Menor seria minha surpresa, não fosse presenciar a chegada da chuva e com ela a fusão dos elementos da terra com a água, o encontro com o fundo do brejo, a pele exposta do açude que evocou em mim o retorno à lama primordial, o reencontro com a Mãe Terra, a mantenedora de seu eterno ventre exposto. Uma energia de cura poderosíssima que da natureza e de mim tomou conta, alinhando-me então à uma outra chave temporal, conectado ao veio exposto de Gaia. A teoria de Gaia de Lovelock (1989) propõe um novo olhar sobre a vida evolutiva no Planeta, cuja história geológica e biológica é uma relação construída por meio da reciprocidade entre as criaturas e a terra [...] Gaia representa uma linha de pensamento que reintegra o ser humano na natureza. (apud MEYER, 2008, pg. 106)

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Foi tomado pela mesma aura que inspirou Rosa, mais de sessenta anos atrás, a criar sua Opus Magnum e afetado por todo este novo campo da investigação em misticismo, que pude finalmente entender o diálogo que estava criando com minha série “Ser Tão”. As personagens agora traduziam-se e apresentavam-se a mim, assumindo em sua carga os diversificados atributos estudados na alquimia, vivenciado nas religiões e tratados nos ditos causos de pescador. O tom de terra entrou em meu guache, a planta queimada é meu carvão, o café aguado é o mesmo que bebo nas alvoradas cortejando o brejo. A argila do rio que suja meus pés é a matéria prima dos primeiros ancestrais, são o corpo maleável e eterno do Adão e da Lilith que habitam em mim. O toque do divino está presente naqueles que se apaixonam pela sua obra. Os seres que me relacionei de infância até os dias atuais, nomeados de imaginários, subjetivos, e que hoje manifestam-se como espirituais, criaturas que um dia habitaram este plano, mas integraram-se ao corpo dos cosmos: material e imaterial. Criei a partir dessa esfera de pensamentos, que passaram a integrar uma linha de raciocínio espiritual, humanista, como descreveria Meyer (2008) “A natureza é um ritual de passagem para alcançar a espiritualidade, e assim se tornar, transformando-se, cada vez mais SER-TÃO.” E isso é externalizado pelos fenômenos cíclicos da natureza, necessariamente pela transmutação dos elementos. Em Boiada temos os sentidos do corpo ligados aos três elementos – terra, ar, água – simultaneamente. Todos fazem parte da mesma teia, percebida através do ver, cheirar e escutar. Assim não há fronteiras entre a terra, o ar e a água. O conjunto em movimento, em animação, proporciona deleite ao escritor. (MEYER, 2008, pg. 210)

Proponho aqui anunciar a presença marcante do fogo que se deu, pelos mesmos meios sensoriais, como complementar nos ciclos do cerrado, concluindo assim o percurso dos elementos, seus estados e a energia associada a cada um, sua capacidade destrutiva, mas também sua função no processo de cura. Elemento responsável pelo ciclo de incêndios, este que se faz necessário para Contemporâneo de Kant, o místico Schelling exaltou a natureza romântica. Ligado à ideia de uma natureza artística percebida como uma manifestação divina, acrescentou que o Belo na natureza depende de uma atividade autônoma, produtora de formas e ritmos, um prolongamento de trabalho artístico. (VIEIRA, 2007, pg. 45)

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Figura 4 - O Mago

Figura 50 - O Mago

Figura 51 - O Mago

Figura 52 - O Mago

Figura 53 - O Mago

Figura 54 - O Mago

Figura 55 - O Mago

Figura 56 - O Mago

Figura 57 - BoiFigura 58 - O Mago

Figura 59 - O Mago

Figura 60 - O Mago

Figura 61 - O Mago

Figura 62 - O Mago Autor: Marcelo Del Debbio Rodrigo A. Grola Figura 63 - O eMago

Figura 64 - O Mago

Figura 65 - O Mago

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3. SEGUNDA PARTE 3.1 Cerrado Em Carvão - 2015

Figura 5 - Boi

Figura 66 - Boi

Figura 67 - Boi

Figura 68 - Boi

Figura 69 - Boi

Figura 70 - Boi

Figura 71 - Boi

Figura 72 - Boi

Figura 73 - CágadosFigura 74 - Boi

Figura 75 - Boi

Figura 76 - Boi

Figura 77 - Boi

Figura 78 - Boi

Figura 79 - Boi 19 Figura 80 - Boi


Figura 6 - Cágados

Figura 82 - Cágados

Figura 83 - Cágados

Figura 84 - Cágados

Figura 85 - Cágados

Figura 86 - Cágados

Figura 87 - Cágados

Figura 88 - Cágados

Figura 89 – Pena IFigura 90 - Cágados

Figura 91 - Cágados

Figura 92 - Cágados

Figura 93 - Cágados

Figura 94 - Cágados

Figura 95 - Cágados 20 Figura 96 - Cágados


Figura 7 – Pena I

Figura 98 – Pena I

Figura 99 – Pena I

Figura 100 – Pena I

Figura 101 – Pena I

Figura 102 – Pena I

Figura 103 – Pena I Figura 8 - Pena II Figura 104 – Pena I Figura 114 - Pena II Figura 105 - Pena IIFigura 106 – Pena I Figura 115 - Pena II Figura 107 – Pena I Figura 116 - Pena II Figura 108 – Pena I Figura 117 - Pena II Figura 109 – Pena I Figura 118 - Pena II Figura 110 – Pena I Figura 119 - Pena II Figura 111 – Pena I Figura 120 - Pena II Figura 112 – Pena I Figura 121 - MourãoFigura 122 - Pena II

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Figura 9 - Mourão

Figura 130 - Mourão

Figura 131 - Mourão

Figura 132 - Mourão

Figura 133 - Mourão

Figura 134 - Mourão

Figura 135 - Mourão

Figura 136 - Mourão

Figura 137 - Carro de BoiFigura 138 Mourão

Figura 139 - Mourão

Figura 140 - Mourão

Figura 141 - Mourão

Figura 142 - Mourão

Figura 143 - Mourão

Figura 144 - Mourão

Figura 145 - Mourão

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3.2 Presenças - 2015

Figura 10 - Carro de Boi

Figura 146 - Carro de Boi

Figura 147 - Carro de Boi

Figura 148 - Carro de Boi

Figura 149 - Carro de Boi

Figura 150 - Carro de Boi

Figura 151 - Carro de Boi

Figura 152 - Carro de Boi

Figura 153 - SalgueiroFigura 154 - Carro de Boi

Figura 155 - Carro de Boi

Figura 156 - Carro de Boi

Figura 157 - Carro de Boi

Figura 158 - Carro de Boi

Figura 159 - Carro de Boi

Figura 160 - Carro de Boi

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Figura 11 - Salgueiro

Figura 162 - Salgueiro

Figura 163 - Salgueiro

Figura 164 - Salgueiro

Figura 165 - Salgueiro

Figura 166 - Salgueiro

Figura 167 - Salgueiro

Figura 168 - Salgueiro

Figura 169 - LunarFigura 170 - Salgueiro

Figura 171 - Salgueiro

Figura 172 - Salgueiro

Figura 173 - Salgueiro

Figura 174 - Salgueiro

Figura 175 - Salgueiro

Figura 176 - Salgueiro

Figura 177 - Salgueiro 24


Figura 12 - Lunar

Figura 178 - Lunar

Figura 179 - Lunar

Figura 180 - Lunar

Figura 181 - Lunar

Figura 182 - Lunar

Figura 183 - Lunar

Figura 184 - Lunar

Figura 185 - BarroFigura 186 - Lunar

Figura 187 - Lunar

Figura 188 - Lunar

Figura 189 - Lunar

Figura 190 - Lunar

Figura 191 - Lunar

Figura 192 - Lunar

Figura 193 - Lunar 25


Figura 13 - Barro

Figura 194 - Barro

Figura 195 - Barro

Figura 196 - Barro

Figura 197 - Barro

Figura 198 - Barro

Figura 199 - Barro

Figura 200 - Barro

Figura 201 - IFigura 202 - Barro

Figura 203 - Barro

Figura 204 - Barro

Figura 205 - Barro

Figura 206 - Barro

Figura 207 - Barro

Figura 208 - Barro

Figura 209 - Barro 26


3.3 Arqueologia Do Sertão: Necro Sacro - 2016

Figura 14 - I

Figura 210 - I

Figura 211 - I

Figura 212 - I

Figura 213 - I

Figura 214 - I

Figura 215 - I

Figura 216 - I

Figura 217 - IIFigura 218 - I

Figura 219 - I

Figura 220 - I

Figura 221 - I

Figura 222 - I

Figura 223 - I

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Figura 15 - II

Figura 226 - II

Figura 227 - II

Figura 228 - II

Figura 229 - II

Figura 230 - II

Figura 231 - II

Figura 232 - II

Figura 233 - IIIFigura 234 - II

Figura 235 - II

Figura 236 - II

Figura 237 - II

Figura 238 - II

Figura 239 - II 28 Figura 240 - II


Figura 16 - III

Figura 242 - III

Figura 243 - III

Figura 244 - III

Figura 245 - III

Figura 246 - III

Figura 247 - III

Figura 248 - III

Figura 249 - IVFigura 250 - III

Figura 251 - III

Figura 252 - III

Figura 253 - III

Figura 254 - III

Figura 255 - III 29 Figura 256 - III


Figura 17 - IV

Figura 258 - IV

Figura 259 - IV

Figura 260 - IV

Figura 261 - IV

Figura 262 - IV

Figura 263 - IV

Figura 264 - IV

Figura 265 - VFigura 266 - IV

Figura 267 - IV

Figura 268 - IV

Figura 269 - IV

Figura 270 - IV

Figura 271 - IV 30 Figura 272 - IV


Figura 18 - V

Figura 274 - V

Figura 275 - V

Figura 276 - V

Figura 277 - V

Figura 278 - V

Figura 279 - V

Figura 280 - V

Figura 281 - VIFigura 282 - V

Figura 283 - V

Figura 284 - V

Figura 285 - V

Figura 286 - V

Figura 287 - V 31 Figura 288 - V


Figura 19 - VI

Figura 290 - VI

Figura 291 - VI

Figura 292 - VI

Figura 293 - VI

Figura 294 - VI

Figura 295 - VI

Figura 296 - VI

Figura 297 - VIIFigura 298 - VI

Figura 299 - VI

Figura 300 - VI

Figura 301 - VI

Figura 302 - VI

Figura 303 - VI 32 Figura 304 - VI


Figura 20 - VII

Figura 306 - VII

Figura 307 - VII

Figura 308 - VII

Figura 309 - VII

Figura 310 - VII

Figura 311 - VII

Figura 312 - VII

Figura 313 - VIIIFigura 314 - VII

Figura 315 - VII

Figura 316 - VII

Figura 317 - VII

Figura 318 - VII

Figura 319 - VII

Figura 320 - VII

Figura 321 - VII

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Figura 21 - VIII

Figura 322 - VIII

Figura 323 - VIII

Figura 324 - VIII

Figura 325 - VIII

Figura 326 - VIII

Figura 327 - VIII

Figura 328 - VIII

Figura 329 - IXFigura 330 - VIII

Figura 331 - VIII

Figura 332 - VIII

Figura 333 - VIII

Figura 334 - VIII

Figura 335 - VIII 34 Figura 336 - VIII


Figura 22 - IX

Figura 338 - IX

Figura 339 - IX

Figura 340 - IX

Figura 341 - IX

Figura 342 - IX

Figura 343 - IX

Figura 344 - IX

Figura 345 - XFigura 346 - IX

Figura 347 - IX

Figura 348 - IX

Figura 349 - IX

Figura 350 - IX

Figura 351 - IX 35 Figura 352 - IX


Figura 354 - X

Figura 355 - X

Figura 356 - X

Figura 357 - X

Figura 358 - X

Figura 359 - X

Figura 360 - X

Figura 361 - X

Figura 362 - Sem TítuloFigura 363 - X

Figura 364 - X

Figura 365 - X

Figura 366 - X

Figura 367 - X

Figura 368 - X 36 Figura 369 - X


3.4 Ser Tão - 2018

Figura 23 - Sem Título

Figura 371 - Sem Título

Figura 372 - Sem Título

Figura 373 - Sem Título

Figura 374 - Sem Título

Figura 375 - Sem Título

Figura 376 - Sem Título

Figura 377 - Sem Título

Figura 378 - Árvore da PansofiaFigura 379 - Sem Título

Figura 380 - Sem Título

Figura 381 - Sem Título

Figura 382 - Sem Título

Figura 383 - Sem Título

Figura 384 - Sem Título 37 Figura 385 - Sem Título


Figura 24 - Árvore da Pansofia

Figura 387 - Árvore da Pansofia

Figura 388 - Árvore da Pansofia

Figura 389 - Árvore da Pansofia

Figura 390 - Árvore da Pansofia

Figura 391 - Árvore da Pansofia

Figura 392 - Árvore da Pansofia

Figura 393 - Árvore da Pansofia

Figura 394 - Oroboro FilosofalFigura 395 Árvore da Pansofia

Figura 396 - Árvore da Pansofia

Figura 397 - Árvore da Pansofia

Figura 398 - Árvore da Pansofia

Figura 399 - Árvore da Pansofia

Figura 400 - Árvore da Pansofia

Figura 401 - Árvore da Pansofia

Figura 402 - Árvore da Pansofia 38


Figura 403 - Oroboro Filosofal

Figura 404 - Oroboro Filosofal

Figura 405 - Oroboro Filosofal

Figura 406 - Oroboro Filosofal

Figura 407 - Oroboro Filosofal

Figura 408 - Oroboro Filosofal

Figura 409 - Oroboro Filosofal

Figura 410 - Oroboro Filosofal

Figura 411 - AçudeFigura 412 - Oroboro Filosofal

Figura 413 - Oroboro Filosofal

Figura 414 - Oroboro Filosofal

Figura 415 - Oroboro Filosofal

Figura 416 - Oroboro Filosofal

Figura 417 - Oroboro Filosofal

Figura 418 - Oroboro Filosofal

Figura 419 - Oroboro Filosofal 39


Figura 25 - Açude

Figura 420 - Açude

Figura 421 - Açude

Figura 422 - Açude

Figura 423 - Açude

Figura 424 - Açude

Figura 425 - Açude

Figura 426 - Açude

Figura 427 - Brejo PrimordialFigura 428 - Açude

Figura 429 - Açude

Figura 430 - Açude

Figura 431 - Açude

Figura 432 - Açude

Figura 433 - Açude 40 Figura 434 - Açude


Figura 26 - Brejo Primordial

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conduzido por um fluxo orgânico de pesquisa que se revelou aos poucos pela influência das leituras sobre: natureza, arte religiosa, misticismo e alquimia, fui capaz de criar um discurso que abrangesse criação visual e textual, atrelado a meu desenvolvimento no campo da espiritualidade. Volto o olhar para trás; no tempo lunar das coisas. Revisito pela superfície das imagens uma época que não mais existe, mas que se repete por ser também cíclica, remonta-se com novos valores, novas formas, ainda que preservando seus signos. Revivo as estações, revisito o açude que já secou e agora transborda, redescubro o amarelo dos girassóis e o som da mamangaba. Há novidade no que já se viu e familiaridade com o que há de se descobrir; ciclos. Foi essa relação sólida com os ciclos e seus múltiplos signos que trouxe à luz os caminhos que segui durante o desenvolvimento desta monografia e da contextualização das séries desenvolvidas durante os ateliês na escola de Belas Artes. Pensei a morte como parte de um ciclo e assim pude trazer desdobramentos sobre o que veio antes e as possibilidades para o depois, movimentando em fluxos criativos uma narrativa de sobrevida para as imagens e seus personagens. A aproximação com outros artistas foi também ponto eixo da pesquisa, seja com professores e colegas, com os quais estabeleci diálogos e expus meu processo, obtendo desse exercício uma leitura distanciada e menos pessoal de minhas criações, seja com artistas como Waterhouse e Goya com os quais mantive diálogo ficcional e fonte de inspiração, ou Antônio Oba e Ana Mendieta, mais contemporâneos e também proponentes de uma criação sobre a religiosidade em níveis mais íntimos. Absorvi em abundância as palavras de Mônica Meyer, redefinindo natureza e o valor do acesso aos planos espirituais advindo do contato do ser com os fenômenos elementais. Explorando polaridades intrínsecas do sertão e fazendo a ponte das palavras de Meyer e seu Ser Tão foi possível revisitar em minhas memórias e acervo um saber, um campo de conhecimento pessoal e mutável que se dá pelo acesso com a vida em suas múltiplas manifestações, especificamente dessa vida caótica do cerrado que se manifesta por mistérios e múltiplas faces que nos trazem: deleite, inspiração, medo e/ou repulsa. Nos faz sentir e agir dentro de esferas de energia que se transmitem através dos sentidos, apontando saberes empíricos observáveis, porém de natureza pessoal e mutável, sensíveis às mais variadas 42


intemperes existentes no adro entre o ser e o evento da natureza. Nada é certo ou pétreo, experimentar o caos trás a expansão do ser, mas para qual lado? Não há fim na criação. Há a busca. A busca por respostas, constatações do que são esses ciclos, a vontade de delinear com exatidão o início, o fim, a ordem das coisas, que não há. Há somente a busca do que está dentro e como isso se relaciona com o que está fora e com o que está além. Tudo observado pelo prisma do caos e da atemporalidade. Aceitar a transitoriedade das coisas – da natureza, do desenho, do espírito – foi possível pelo desdobramento da pesquisa que se deu sobre os processos alquímicos: pela análise de Jung sobre a Opus Magnum hermética e sobre como ela se relaciona com o sistema de símbolos da psicanálise, pelas imagens e escritos organizados por Roob sobre processos alquímicos cristãos em seu sistema complexo, metafórico e passível das mais variadas analogias, principalmente com fenômenos naturais. A alquimia aparece em minha pesquisa como um sistema universal de símbolos, ciclos, estágios e passagens de diversos fenômenos, que respondem em nível social, natural, químico, que podem ser autônomos ou estimulados pela manipulação dos elementos. Na alquimia encontrei sentido em minha busca pelo significado dos fenômenos, através dela fui capaz de decodificar sistemas no agrupamento do caos, entender a ordem que anseia existir na amalgama dos elementos, ainda que se cumpra de forma osmótica e fluída (caótica). A hermética tem capacidade de relacionar: elemento, natureza, homem e espiritualidade em um único sistema complexo que necessita da imagem (desenho) para se expressar e se firmar enquanto conhecimento. Não seria o artista um alquímico?

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REFERÊNCIAS

BALBACH, Alfons. A flora nacional na medicina doméstica: Vol. II. São Paulo: Edificação do lar, 1998. DERDYK, Edith. Disegno, Desenho, Desígnio. São Paulo: Senac, 2007. DIDI-HUBERMAN, Georges. Ser Crânio: lugar, contato, pensamento, escultura. Belo Horizonte: C/ Arte, 2009. GAMA, Mônica. O Diário de Viagem de Guimarães Rosa: movimento e voo das palavras nas notas de 1952. 2013. Disponível em: http://www.revistas.fflch.usp.br/manuscritica/article/viewFile/2068/190. Acesso em: 09 julho. 2018 MARTINS, Ana. História, Arte & Ciência. São Paulo: Casa da palavra, 2009. MEYER, Mônica. Ser-tão Natureza - A natureza em Guimarães Rosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. MEYER, Mônica. Ser-tão Natureza - A natureza de Guimarães Rosa. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 1998. Tese de Doutorado. RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. São Paulo: Record, 2017. REGO, José Lins do. Banguê. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015. ROOB, Alexander. Alquimia & Misticismo: O Gabinete Hermético. Taschen, 2005. ROSA, Guimarães. A boiada. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2011. 44


ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. SIQUEIRA, Vera. Burle Marx. Espírito Santo: Cosacnaify, 2009. TODOROV, Tzvetan. Goya: À sombra das luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. VIEIRA, Maria Elena Merege. O jardim e a paisagem: espaço, arte, lugar. São Paulo, 2007.

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