UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE BELAS ARTES
ANDRESSA CUNHA MIRANDA
A PRESENÇA DO JOGO E DO TEATRO NA ANIMAÇÃO DE EVENTOS E NA SALA DE AULA: INQUIETAÇÕES, FORMAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO
Belo Horizonte 2018
Andressa Cunha Miranda
A PRESENÇA DO JOGO E DO TEATRO NA ANIMAÇÃO DE EVENTOS E NA SALA DE AULA: INQUIETAÇÕES, FORMAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO
Trabalho de Conclusão de Curso na forma de artigo, apresentado ao Curso de Graduação em Teatro – Licenciatura – Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, para obtenção de título de Licenciada em Teatro. Orientador: Prof. Dr. Eugênio Tadeu Pereira
Belo Horizonte 2018
Andressa Cunha Miranda
A PRESENÇA DO JOGO E DO TEATRO NA ANIMAÇÃO DE EVENTOS E NA SALA DE AULA: INQUIETAÇÕES, FORMAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO
Trabalho de conclusão de curso, apresentado à Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte das exigências para obtenção do título de Licenciada em Teatro.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Eugênio Tadeu Pereira (Orientador)
Profa. Mestre Larissa Maria Santos Altemar
Profa. Istéfani Pontes da Costa
Belo Horizonte, 06 de dezembro de 2018.
RESUMO Neste artigo, reflito sobre a importância dos jogos e brincadeiras do cotidiano da animação de eventos, relacionando essa experiência ao dia a dia na sala de aula de teatro. Para esse estudo, foram utilizadas a revisão bibliográfica, a observação participativa e entrevistas audiovisuais. Como referencial no campo da animação/recreação, os aportes foram os trabalhos de Silva e Gonçalves e, no campo do jogo e jogo no teatro, os autores Ryngaert, Pereira, Pavis, Spolin, entre outros. Nesse contexto, analiso a inserção dos profissionais de Teatro em um mercado de trabalho, em plena ascensão, destacando a atividade como mais uma possibilidade rentável que absorve rapidamente os profissionais e, também, aproxima o jogo teatral nesses dois diferentes contextos. Palavras-chave: Animação. Teatro. Jogos e brincadeiras. Formação.
ABSTRACT In this article, I reflect on the importance of the games and jokes of the daily events animation, relating this experience to the day to day in theater classroom. For this study, bibliographical review, participatory observation and audiovisual interviews were used. As a reference in the field of animation / recreation, the contributions were the works of Silva and Gonçalves and, in the field of game and play in the drama, the authors Ryngaert, Pereira, Pavis, Spolin, among others. In this context, I analyze the insertion of theater professionals into a labor market, in the full ascendancy, highlighting the activity as a more profitable possibility that quickly absorbs the professionals and, also, approximates the theatrical game in these two different contexts. Keywords: Animation. Drama. Games and jokes. Training.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO ……………………………………………………………….
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ANIMAÇÃO DE EVENTOS ………………………………………………...
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MERCADO DE TRABALHO – ANIMAÇÃO E RECREAÇÃO………….
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A PRESENÇA E O JOGO ……………………………………………………. 16
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O JOGO NA ANIMAÇÃO E NA SALA DE AULA ………………………… 18
5.1 Estátua Maluca ……………………………………………………………….. 21 5.2 Prova dos Desafios ……………………………………………………………. 23 6
CONCLUSÕES ……………………………………………………………….. 28 REFERÊNCIAS ………………………………………………………………
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1 INTRODUÇÃO Neste artigo reflito sobre a importância dos jogos e brincadeiras do cotidiano da animação de eventos, relacionando essa experiência ao cotidiano de sala de aula de teatro. Para esse estudo, não diferencio jogos e brincadeiras, porém é importante dizer que, com as crianças, sempre uso o termo brincadeiras, pois é o termo que elas utilizam. Interessei-me por esse tema, quando comecei a trabalhar com animação de eventos infantis, há aproximadamente cinco anos. Após me formar nos cursos, Técnico em Interpretação Teatral pelo Teatro Universitário, TU-UFMG em 2013/02 e Bacharelado em Interpretação Teatral em 2014/01, pela EBA-UFMG, decidi dedicar-me à animação de eventos por diversos motivos, entre eles: identificação pessoal, prazer em trabalhar com crianças, boa remuneração, paixão por jogos e brincadeiras e, também, pela dificuldade na inserção profissional no restrito mercado de trabalho de atuação teatral. Revisitando minha memória infantil, lembro-me de que, muitas vezes, desejei “ser” a monitora da colônia de férias do GREMIG (Associação Recreativa e Cultural dos Empregados da Cemig – Gremig), clube recreativo para funcionários da empresa, no qual minha mãe trabalhou até se aposentar. Nessa época, eu tinha por volta de 7 a 10 anos e participei da colônia de férias por vários anos consecutivos, nas férias escolares. Eu amava participar de todas as atividades propostas e julgava que o trabalho dos animadores era muito bom, pois os profissionais sempre estavam felizes. Mais tarde, aos 15 anos, tive meu primeiro emprego de carteira assinada como monitora de educação infantil, no Instituto Sagrada Família, no bairro Caiçara. Minha função era acompanhar a rotina de sala de aula e do recreio. Em algumas ocasiões, eu substituía as professoras. Fiquei nesse emprego até a véspera do meu primeiro vestibular, quando percebi que precisava dedicar mais tempo aos estudos. Ao me formar na UFMG e me ver em busca de oportunidades de trabalho, nas quais minha formação teatral poderia ser reconhecida como diferencial, decidi buscar indicações para trabalhos em colônias de férias. Em janeiro de 2015, fui contratada pelo SESC/MG - Unidade de Venda Nova, para vaga de Recreadora Temporária, por apenas duas semanas, durante o período da colônia de férias que a empresa oferecia. Porém, meu contrato foi estendido por três meses, durando toda a temporada de férias de verão. Nessa unidade do SESC, há uma hospedaria e o movimento de
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hóspedes e sócios no clube/hotel foi muito grande durante todo período em que trabalhei por lá. Logo após o fim do meu contrato com o SESC, fui contratada como promotora de eventos na empresa de recreação e animação Recreart, a qual possui mais de 25 anos no mercado de eventos, sendo ela uma das pioneiras nesse ramo, em Belo Horizonte. Posteriormente trabalhei como freelancer para outras empresas. Entre os anos 2015 e 2017, realizei o estágio de regência nas Escolas: E. M. Arthur Guimarães, E. M. Nossa Senhora do Amparo e E. E. Princesa Isabel. Nesta última, fui também professora designada de Artes, no ano de 2015. As turmas eram de Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano, e do Ensino Médio. Porém, somente após estabelecer a minha própria empresa de animação de eventos, em fevereiro de 2016, a MIRA LÚDICA, foi quando comecei a me aprofundar meus estudos no universo de jogos e brincadeiras, percebendo, de fato, alguns pontos de intercessão entre esses mundos: a animação, o teatro e a sala de aula. Nessa mesma época, mais precisamente no segundo semestre de 2016, assumi, como professora de Teatro, duas turmas de Educação Infantil, os respectivos 1º e 2º períodos. Com essas turmas, trabalhei diversas técnicas, entre elas: jogos e brincadeiras, mimeses de animais, canções e interpretação através de narração de histórias e diálogos. Foi durante essas aulas que pude perceber que, através dos jogos e brincadeiras, é que conquistava maior atenção e participação dos alunos. Percebia, também, que, nos jogos, as ações deles eram mais espontâneas se comparadas, por exemplo, ao momento de contação de histórias, atividade a qual utilizo tanto em festas quanto em sala de aula1. Acredito que, com os jogos, conseguimos deixar os alunos mais livres para se expressarem, o que torna as ações mais sinceras e verdadeiras. Diante dos novos desafios como professora de teatro na Educação Infantil, decidi fazer o curso de Magistério no Instituto de Educação de Minas Gerais. Iniciei esses estudos no ano de 2016 e o concluí no final de 2017. Meu objetivo era pesquisar e ter mais informações sobre o universo infantil e sobre o comportamento das crianças menores de 5 anos, principalmente, em sala de aula. Pretendia, também, melhorar as propostas de brincadeiras e atividades da MIRA LÚDICA, bem como as aulas de Teatro que ministrava.
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Neste texto não me aprofundarei sobre esse tema, pois ele precisaria de um novo artigo, pelo fato de demandar outras reflexões e referências teóricas. Vou ater-me somente aos jogos e brincadeiras.
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Hoje, posso dizer que, de todos os conhecimentos que construí no Magistério, o mais importante para as crianças de zero a cinco anos é: aprender brincando, usar o lúdico no dia a dia, procurar inovar nas atividades propostas e usar a criatividade para que, através de brincadeiras e histórias, seja possível abordar todos os conteúdos programáticos. Pereira (2014) apresenta uma crítica à forma como a ideia de lúdico é usualmente utilizado no cotidiano escolar. Para ele, o termo “lúdico” ganhou nas últimas décadas o significado restrito de prazer, de algo que se realiza sem dificuldades. O adjetivo passou a ser usado para caracterizar situações em que não estão presentes o conflito, a ansiedade ou a tensão. Aliás, esse emprego é muito comum na perspectiva pedagógica escolar. O que não é o nosso posicionamento, pois pode haver também momentos de tensão na situação lúdica. Por outro lado, a palavra “lúdico”, além de ter o sentido de jogo, brincadeira e divertimento, tem o sentido de ilusão e simulação. Nesse aspecto, ressaltamos que é por intermédio da atitude lúdica que os sujeitos estabelecem um acordo ficcional entre si ou com alguma coisa, transmutando a realidade da situação (PEREIRA, 2014, p. 249).
Sobre essa atitude lúdica, o acordo pré-estabelecido entre as partes (professor, animador/recreador e criança), percebo que ocorre tanto nas aulas de teatro quanto nos momentos de recreação em festas infantis. Para que haja cumplicidade nas atividades propostas é preciso estabelecer combinados, os quais, em sala de aula, são trabalhados paulatinamente, durante o dia a dia. Já, nos eventos sociais, precisam ser estabelecidos de forma mais rápida. Porém, gostaria de ressaltar que, nas animações, recorro a combinados que considero já serem costumes das crianças com seus professores em sala de aula, fato que, na maioria das vezes, é confirmado. Um exemplo disso é a fala rítmica: “Pampamramram, pam...” e as crianças respondem “pampam”, e as variações utilizando outras vogais, como “Pimpimrimrim, pim...”, resposta “pimpim”. Em todas as festas que utilizei essa fala, quando precisei de um momento maior de silêncio para explicar alguma atividade, não orientei as crianças sobre qual seria a resposta, somente comecei a cantarolar e elas, espontaneamente, foram me respondendo. Para este estudo fiz uma revisão bibliográfica e, durante a minha busca, encontrei muitas referências sobre animação/recreação e mercado de lazer, de autores da graduação e pósgraduação da área de Educação Física. No que diz respeito à área de teatro, não encontrei referências ligadas a esse tema no campo do teatro. Em busca de mais informações sobre o tema, realizei entrevistas audiovisuais com alunos e ex-alunos da graduação em Teatro da Escola de Belas Artes da UFMG e, ainda, do Teatro Universitário dessa mesma universidade. Os entrevistados foram: Babita Faria, Rafael Zanon, Tamiris Gouveia, Michel Sarantides, Samuel Macedo e Íris Harry. Eles ainda citaram outras pessoas com formação em Teatro pela
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UFMG, os quais, também, trabalham com animações de eventos, porém, infelizmente, não consegui entrevistar todos nessa minha breve pesquisa. Como referencial teórico no campo da animação/ recreação encontrei o Manual de lazer e recreação, O mundo lúdico ao alcance de todos, de Silva e Gonçalves (2017), e no campo do jogo e do jogo no teatro, Ryngaert (2009), Pereira (2015), Pavis (2008), Spolin (2008), entre outros. Realizei, também, observação participativa tanto nas festas quanto em sala de aula; busquei, na memória, ações em comum e diferentes que eu tinha nas duas situações, ou seja, em eventos e em sala de aula. Sejam em eventos ou em sala de aula, são nos momentos das brincadeiras, nas quais a utilização da imaginação é mais presente, é que as crianças menores se identificam e são muito mais participativas. Aqui, portanto, pretendo fazer um apanhado dos pontos de interseção, com suas respectivas reflexões, entre teatro e animação de eventos, por meio de minhas observações como animadora/recreadora e educadora, dando ênfase às reflexões sobre jogos e brincadeiras na animação de festas infantis e na sala de aula. Esses pontos são: a presença e o jogo.
2 ANIMAÇÃO DE EVENTOS Gostaria de começar este tópico pelo significado da palavra animação, que podemos encontrar em vários dicionários da língua portuguesa. Animação é a ação, ato ou efeito animar, de dar alma, ou vida a algo. É um estado de exaltação, atividade vigorosa, amor intenso, alegria e entusiasmo, brilho no olhar, cor viva nas faces ou vivacidade na expressão fisionômica. E animador é aquele que anima, estimula ou encoraja alguém. Pessoa que anima e conduz uma reunião ou um espetáculo, atraindo a atenção do público. É um dinamizador e incentivador.2 Considero, aqui, o animador de eventos como aquele que sugere e guia as brincadeiras em um evento, que demonstra alegria em estar presente nessa atividade, aquele que está sempre alerta, com disposição para brincar e não deixar ninguém parado. O objetivo maior dele é entreter e integrar as crianças e os convidados nas atividades de recreação da festa. É aquela pessoa disposta a estar sempre com um “sorriso no rosto”, brilho no olhar. É alguém que executa, nas festas infantis, atividades animadas, entre elas: pinturas faciais, maquiagens de neon, maquiagens infantis, pinturas de cabelo, faz tererês de linhas coloridas e tranças com fitas 2
Miniaurélio, 2000; Houaiss, 2001; Michaellis on line, https://michaelis.uol.com.br/modernoportugues/busca/portugues-brasileiro/anima%C3%A7%C3%A3o/. Acesso em: 15 set. 2018.
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de cetim, faz tatuagens adesivas, esmalta as unhas com glitter, organiza oficinas diversas, tais como: desenhos, pinturas, cupcakes, bichinhos de balão, bijuterias, modelagem de massinhas, confecção de máscaras, entre outros, e organiza brincadeiras e gincanas. É aquele que faz a hora do brinde especial para o aniversariante do dia, organiza a hora dos parabéns, acende a vela do bolo, canta o “Parabéns” e o “É big”. Ele também acalma o aniversariante quando é necessário, faz danças animadas coreografadas e conta histórias. E ainda tem disposição para fazer o que mais for preciso para tornar a festa especial e animada, afinal, esse é o papel do animador: realizar o sonho da criança e da família de ter um evento divertido e inesquecível. Silva e Gonçalves (2017) descrevem a importância do profissionalismo do animador como um norteador das atividades do evento. Esses autores destacam a seriedade e o respeito com o trabalho e o compromisso com o bem-estar de todos os participantes da festa. Para eles, o recreador passa a ser a “alma” do evento, da festa ou da programação recreativa, sendo responsável pela interação e pela participação prazerosa dos praticantes. Esse profissional apresenta constante relação social com as pessoas, de forma individual, em pequenos ou grandes grupos; portanto, é importante a sua apresentação de forma simpática e positiva. Ser gentil, simpático e respeitoso são adjetivos fundamentais aos recreadores (SILVA e GONÇALVES, 2017, p. 53).
Aqui, considero animador e recreador como sinônimos. Outra definição de recreador, abordada pelos autores, foi elaborada pela Associação Brasileira de Recreadores (Abre): recreador é aquele que interage com pessoas, sobretudo com grupos, diretamente, e traduz cultura em atividades de recreação e lazer, de modo a atrair e mobilizar pessoas em programações fixas, regulares e de eventos, dispondo, para isso, de sua capacidade de sintonizar com o gosto do público. O profissional dessa área precisa ter presentes a sensibilidade da ludicidade e a capacidade de interpretar as expectativas do grupo (SILVA e GONÇALVES, 2017, p. 52).
A denominação recreador, animador e monitor, em grande parte das vezes, representa a
mesma função, principalmente quando citados por pessoas que não conhecem a oferta de serviços de animação e lazer. Porém, o termo monitor é uma nomenclatura mais utilizada para designar profissionais que dão suportes em brinquedos ou auxiliam nas atividades propostas pelos animadores/recreadores. Sobre isso, Silva e Gonçalves (2017) afirmam que os profissionais de lazer recebem várias denominações, como animadores socioculturais, instrutores, recreadores e monitores, que trazem uma carga semântica mais leve, aparentemente descompromissada e menos ambiciosa. Sugerem moças e rapazes simpáticos, aplicados e atenciosos, sempre prontos a fazer alguma “animação” para espantar o nosso tédio, a organizar uma festa ou um show para as
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crianças ou adultos, sempre solícitos sobre o que fazer com o tempo livre (Op. Cit. p. 52).
O serviço de animação tem papel de destaque nas festas, pois é o momento em que as crianças mais se divertem e se soltam. Recebo vários feedbacks dos pais, dizendo que as crianças participaram das atividades em uma festa, da qual eram convidados, e chegaram em casa, pedindo para os pais que chamassem esses animadores para sua festa. A animação de eventos tem seu auge no momento das brincadeiras, quando as crianças interagem com maior vivacidade com as atividades propostas, socializando-se com os colegas e os profissionais que estão presentes na festa. Sobre a importância das brincadeiras, Pereira aponta que o brincar é, também, uma proposição de estar em contato com o outro, seja direta ou indiretamente. Essa ação implica numa disponibilidade interna que é refletida no brilho dos olhos e na expressão geral do corpo, enfrentando valores, preconceitos e redimensionando toda uma atitude em que os grupos humanos dos adolescentes e dos adultos teimam em insistir: brincar é só para crianças e as brincadeiras são supérfluas e nada contribuem para o dia-a-dia da vida (PEREIRA, 1997, p. 59).
Relacionando esse apontamento de Pereira (1997) sobre o brincar com o significado de animador e animação, faz-se relevante enfatizar que o brilho no olho é o verdadeiro diferencial entre o bom animador e o “desanimador”. Percebi que outras pessoas também observam esse “brilho” como algo fundamental, como menciona Rafael Zanon3, é característica primária do animador se redescobrir sempre, e ter sempre um brilho no olhar, [...] como você vai trazer felicidade para o outro, se você mesmo não é o espelho dessa felicidade, [...] acho que o brilho no olhar, ele é fator primário em alguém que quer trabalhar com animação, que quer ser o animador (ZANON, 2018 entrevista).
Além do brilho do olhar, para que o profissional consiga transmitir essa alegria, é preciso que ele esteja atento ao seu público, às suas necessidades e à sua energia no dia do evento. Assim, trabalhar com a animação não significa atuar de forma estereotipada ou como um “apresentador de auditório”, que procura estimular o consumo alienado do divertimento, mas sim intervir com a ideia da construção coletiva da satisfação, do prazer e da alegria, e isto implica lidar com limites e possibilidades das mais diversas ordens (ISAYAMA, 2009, p. 410/411).
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Ator, bacharel em Teatro pela UFMG e Animador, há mais de 10 anos no mercado de trabalho, atuando em várias empresas de animação, em 2018, fundou sua própria empresa, a Criativerso.
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Silva e Gonçalves (2017) descrevem os direitos e deveres do recreador. Dentre eles, destaco os seguintes: animar e liderar as atividades recreativas, zelar pelos materiais utilizados nas atividades, respeitar e adequar as regras dos jogos, das brincadeiras e da utilização dos brinquedos de acordo com a faixa etária e perfil das crianças participantes. Eles devem também considerar que cada evento requer um trabalho específico, levando em consideração que cada grupo de pessoas é diferente. Babita Faria (2018)4, em um trecho da sua entrevista, falou um pouco sobre o perfil do animador/recreador. Para ela, existem várias formas de ser recreador. Existem vários perfis de recreador. Você precisa encontrar o seu e saber se é recreação mesmo que você quer fazer, porque é uma profissão, não é um bico, é uma profissão que exige dedicação, disponibilidade, atenção, carinho, [precisa saber] um básico de primeiros socorros, te exige muito, é um trabalho, um trabalho sério (FARIA, 2018 - entrevista).
Assim, acredito que, para ser um bom profissional e ter destaque nesse mercado de eventos e festas, é preciso levar a profissão de animador a sério, com responsabilidade, preparação e sempre estar em busca de novos conhecimentos teóricos, unindo-os à prática.
3 MERCADO DE TRABALHO – ANIMAÇÃO E RECREAÇÃO O aumento da quantidade dos eventos sociais no Brasil confirma o forte crescimento da demanda
por
profissionais
capacitados
para
trabalharem
nos
eventos,
ou
seja,
animadores/recreadores que compreendam os desejos do cliente, das empresas de eventos e tenham formação para realizar tanto ações artísticas quanto educacionais. No livro, Planejamento, organização e sustentabilidade em eventos: Culturais, sociais e esportivos, a autora Marlene Matias (2011) aponta o Brasil entre os países com maior número de eventos sociais no ranking mundial. Ela destaca a importância econômica e social dos eventos culturais em nosso país, tais como espetáculos de música, teatro e eventos de forma geral. Aponta o segmento da animação e recreação como um mercado crescente e promissor, da mesma forma que alguns autores descreveram em seus artigos apresentados no ENAREL (Encontro Nacional de Recreação e Lazer) do ano de 1997. Camargo (1997) afirmava naquela época que “o mercado de trabalho em lazer é, no presente, enorme, e, no futuro, ainda mais 4
Atriz formada pelo Teatro Universitário da UFMG, animadora e empresária proprietária da Ciranda de Roda, empresa de animação há mais de 5 anos no mercado de Belo Horizonte, que começou como MEI e atualmente já é uma Microempresa.
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promissor (o especialista em lazer e recreação tem um lugar assegurado no futuro do mercado de trabalho segundo todas as projeções que se leem diariamente nos jornais)” (CAMARGO, 1997, p. 684). As previsões de 21 anos atrás se mostraram verdadeiras e, ainda hoje, há uma crescente demanda de eventos, mesmo em meio à crise econômica, pois as mães e os pais investem nos aniversários e em momentos de lazer com seus filhos. Ferreira (2010) destaca algumas das diversas opções de trabalho para os profissionais da animação. Para esse autor, [...] o “campo do lazer” é vasto para aqueles que se propuserem a realizar um trabalho competente com uma comunidade específica, esteja esta em um clube, acampamento, hotel, colônia de férias, centros comunitários, entre outros. Nota-se, também, que os futuros profissionais do lazer terão este espaço garantido ao reconhecerem maneiras de influenciar positivamente a vida das pessoas, levando-as à consciência de seus atos e de seus próprios potenciais; mas, para tanto, haverá a necessidade de atualização em relação às constantes mudanças na área específica do lazer, ou seja, não podem limitar-se ao que se sabe, é necessário uma incessante busca de novos conhecimentos. [...] Nota-se que há um espaço vasto para atuação no campo do lazer, para tanto, há necessidade de contínuo processo de atualização por parte dos profissionais que atuam nesse âmbito, tendo em vista as necessidades sociais e as transformações na sociedade atual (FERREIRA, 2010, p. 3).
Esse processo de atualização, por parte dos profissionais, pode ser realizado por meio de cursos livres, graduações, pós-graduações, cursos profissionalizantes ou, até mesmo, atividades ofertadas por empresas de animação e recreação que oferecem cursos de qualificação para os profissionais da equipe e abrem inscrição para outros interessados, como as empresas de animação de Belo Horizonte. Dentre estas, destaco: Tio Girafa, Tia Batatinha, Ciranda de roda e Quem Sonha5. Ainda sobre os cursos oferecidos no mercado, para formação de profissionais do lazer, existe a possibilidade de, após se formar em Turismo, Educação Física ou Pedagogia, o profissional realizar uma especialização e se tornar recreador de nível superior. Ou ainda através de cursos de capacitação voltados a formar recreadores e animadores culturais para pessoas que não possuem graduação, mas, sim, nível médio e fundamental. Nesses cursos, você irá aprender sobre os conceitos e definições de lazer, o lazer como um produto de consumo, os consumidores dos serviços de lazer (crianças, adolescentes, adultos, gestantes, terceira idade e grupos com necessidades especiais), o mercado turístico para a recreação e o lazer, a infraestrutura, os equipamentos e os serviços turísticos, as características do profissional recreador, as relações de trabalho na equipe de animação e recreação, noções de primeiros socorros e de como agir em situações de emergência, o planejamento e a organização do lazer, o projeto de recreação, entre outros. 6
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A maioria das empresas de Belo Horizonte abre inscrições para cursos na área de recreação, pelo menos duas vezes ao ano, seja para atualização da sua própria equipe ou para treinar e selecionar novos profissionais que têm interesse em trabalhar nas respectivas empresas. 6 Disponível em https://cursoprofissionalizante.org/recreacionista/. Acesso em: 16 set. 2018.
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No livro, O corpo lúdico: lazer e cidadania, organizado por Patrícia de Araújo (2013), ela cita ainda os cursos de Turismo, Lazer, Serviços Sociais, Pedagogia, Hotelaria, Sociologia, Artes Cênicas e Educação, nos quais há presença de disciplinas voltadas para animação. Segundo a autora, a grade curricular desses cursos possui disciplinas especificas para o Lazer. As pontuações feitas por ela são muito interessantes, pois, realmente, vejo estreita ligação entre o trabalho de Artes Cênicas e Lazer, porém, na UFMG, não me recordo de ter cursado nenhuma disciplina específica, com essa temática, na graduação em Teatro. Considero, porém, o Lazer e a animação de eventos como áreas de atuação profissional, tanto para bacharéis quanto para licenciados em Teatro. Percebi que, além de existirem consumidores de lazer de todas as idades, existem, também, espaços destinados ao lazer que estão disponíveis e têm reais demandas por atividades de recreação. Esses locais são diversos, assim deixando evidente que existem várias áreas de atuação para o profissional de recreação, entre elas, Colônia de Férias, Acampamentos, Hotéis, Resorts, Spas, Eventos, Aniversários, Empresas, Navios, Condomínios, Escolas, entre outros. Algumas dessas áreas com contratação por hora, outros por diária, pernoite, semanal, semestral e outras com contratação para temporada de 1, 2, 3, ou 6 meses como atividades de recreação em navios.” 7
As possíveis áreas de atuação variam, assim como a média dos cachês recebidos pelos profissionais que trabalham com animação de evento. De acordo com a minha experiência e variação dos cachês que já recebi, a remuneração é em torno de R$50,00 a R$200,00 para trabalhos com duração de 03 a 04 horas, chegando ao máximo de 06 horas por evento, em Belo Horizonte e região metropolitana. Em minhas sondagens sobre a variação de cachê dos profissionais da animação e recreação encontrei as seguintes informações: O salário para recreador pode ser muito variável. Em geral, as empresas pagam esses profissionais por diária, já que é muito comum a contratação dos mesmos em períodos específicos. Um monitor de buffet infantil, por exemplo, ganha em média R$60 por dia. Em acampamentos esse valor sobe para R$ 90 e em navios a diária poderá ser ainda maior. Em média, é possível que um recreador tenha um salário entre R$3 e R$ 4 mil mensais 8 A diária de um recreador fica entre R$ 60,00 a R$ 180,00 9
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Disponível em https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao-fisica/profissional-de-recreacaoas-vantagens-de-seguir-esse-caminho/32738. Acesso em: 16 set. 2018. 8 Disponível em https://cursoprofissionalizante.org/recreacionista/. Acesso em: 16 set. 2018. 9 Disponível em http://www.clubedosrecreadores.com/sr-fica-a-dica.php. Acesso em: 16 set. 2018.
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Um profissional free-lancer, que trabalha com eventos, ganha um cachê que varia de R$ 120 a R$ 200 para um período médio de seis horas de trabalho. 10
Na entrevista que realizei com Samuel Macedo11, perguntei-lhe qual forma de pagamento das empresas de animação e uma média de cachês recebidos pelos profissionais, e ele me informou que é em torno de cem reais, para 1 hora e 30 minutos de evento, e que os pagamentos são realizados em dinheiro, logo após a prestação do serviço. Percebo que a maioria das empresas de menor porte pagam seus freelancers em dinheiro na hora do evento, porém as empresas de maior porte pagam por mês, como o caso da Recreart, a qual tem um dia certo por mês para os profissionais buscarem seus pagamentos ou receberem via depósito bancário. A partir desse panorama de valores de cachê recebidos, é importante retomar a diferenciação entre monitor e animador/recreador, pois o monitor geralmente é aquele que ajuda e orienta as crianças a entrarem e saírem de brinquedos, como cama-elástica, pula-pula; auxilia na entrega de materiais em oficinas, na organização das crianças; auxilia o animador nas atividades de forma geral. Já o recreador/animador é aquele que orienta e guia as atividades, que tem uma voz ativa; traz, em sua figura e sua postura, entusiasmo e mais alegria para o evento. Portanto, o cachê do monitor e do animador é diferenciado, sendo mais bem remunerados os animadores/recreadores. Ao ler o livro, Lazer e Mercado (WERNECK, STOPPA e ISAYAMA, 2001), vi minha vida profissional ser descrita. Nele, os autores afirmam que os profissionais de lazer serão cada vez mais solicitados, em um mercado em exponencial crescimento. Apontam, ainda, que a forma de trabalho seria, em sua grande maioria, autônomos, microempreendedores ou freelancer. O termo atualmente utilizado para nomear o profissional autônomo é freelancer. Antigamente, essa forma de trabalho era chamada de “trabalho de bico”, termo este utilizado pelos autores para descrever o ofício dos profissionais no mercado de lazer. Em seus textos, os autores refletem sobre como são as formas de contratação e oferta de trabalho para os animadores/recreadores. Dispõem, também, a informação de que, há alguns anos, somente as classes mais baixas da sociedade trabalhavam de “bico”, pois não encontravam outra forma de inserção e/ou oportunidades no mercado de trabalho.
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Disponível em http://www.abeoc.org.br/2013/12/empresas-de-eventos-pagam-ate-r-4-mil/?s=festas+infantis. Acesso em: 16 set. 2018. 11 Ator, professor e animador, formado pelo curso técnico de Teatro da PUC/MG e Licenciado em Teatro pela UFMG. Trabalha com animação desde 2016, nas empresas: Imagina, FIFI produções, Dream Animações e Manupic.
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Os autores apontam, ainda, o crescimento dessa maneira informal de contratação, sem vínculos empregatícios ou contratos formais, e afirmam que essa será uma característica desse serviço, que passará, cada dia mais, a ser encontrada em todas as classes sociais. O que realmente vem se comprovando, sendo o freelancer não mais um trabalho somente realizado por pessoas com poder aquisitivo mais baixo, mas por todas as pessoas que não encontram uma oportunidade rentável com contrato formal e benefícios garantidos por lei. Concordo com a maioria das pontuações feitas pelos autores, pois, como animadora, tenho um leque de oportunidades de trabalho, mas somente como microempreendedora é que, realmente, encontro oportunidades reais e com melhores remunerações, o que implica perder grande parte dos direitos trabalhistas. Michel Sarantides12, em sua entrevista, falou a respeito da sociedade que tem com Rafael Zanon e Thereza Leon, na empresa de animação Criativerso, relatando que os três se sustentam, exclusivamente, com o trabalho na animação de eventos. Ele disse, também, que trabalha apenas com a animação, e o difícil de hoje é eu estar ainda graduando em Teatro, e ter que estudar e trabalhar [...] tanto que tenho que recusar alguns eventos. E mesmo eu recusando alguns eventos, eu consigo tirar uma renda muito boa, que me ajuda a vir pra faculdade e a me manter. É extremamente importante esse trabalho e é o que está me sustentando hoje (SARANTIDES, 2018 - Entrevista).
Escutar os entrevistados, ler e refletir sobre essa forma de contratação e trabalho, que foi descrita em um livro de 2001, me fez perceber que o mercado, há muito tempo, vem crescendo para quem quer empreender, como no meu caso, e também no caso dos entrevistados. Notei que a maioria desses profissionais tem suas próprias empresas e estão se sustentando exclusivamente com o trabalho na animação de eventos. Após ler três edições publicadas pelo ENAREL (Encontro Nacional de Recreação e Lazer) percebi a grande presença do sistema “S”, o qual é composto por grupos que tradicionalmente atuavam, e ainda atuam, na área de Recreação e Lazer, como por exemplo, SESC, SESI, SENAC e, também, da ACM que não faz parte do sistema “S”. Esses grupos sempre são citados como pioneiros na busca pela melhoria do campo da recreação e da oferta de qualidade de atividades recreativas. O único lugar em que trabalhei com carteira assinada, mesmo que em uma vaga temporária, com o cargo de recreadora, foi no SESC. Percebo que eles prezam pela valorização do profissional da Recreação e Lazer e mantêm uma equipe fixa 12
Ator, estudante da graduação em Teatro na UFMG, animador e sócio na Criativerso. Trabalhou também nas empresas animação Recreart e Imagina BH.
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contratada durante todo o ano. O SESC Venda Nova e o SESC Contagem possuem um grupo permanente de recreadores, com profissionais capacitados que têm salário mensal e benefícios garantidos pelas leis trabalhistas.
4 A PRESENÇA E O JOGO A “presença” do animador é um dos fatores mais importantes para alcançar um bom resultado no evento. Essa presença, esse estado de atenção, de estar verdadeiramente no momento presente é, a meu ver, o diferencial do bom profissional. Em algumas experiências anteriores, pude observar o perfil de animador de festas sem essa “presença”. Essa foi a ocasião quando percebi que o animador estava somente organizando o momento da brincadeira, de fora e de maneira distanciada. Esse tipo de postura de alguns profissionais deixa a impressão de que a animação está mais desanimada do que estimulante. Como estudante de teatro, durante toda minha formação fui alertada sobre a importância de estar verdadeiramente no jogo e presente na cena, de estar no momento presente. Isso vale para cenas e, da mesma forma, para relação de professor com os alunos, postura essa que procuro, também, sempre levar para as animações. Segundo Pavis (2008, p. 305), “ter presença, é, no jargão teatral, saber cultivar a atenção do público e impor-se; é, também, ser dotado de um ‘quê’ que provoca imediatamente a identificação do espectador”. Essa identificação é o que torna possível a aproximação do animador com as crianças da festa, que faz com que elas se interessem pelo que ele diz e realizem as atividades que sugere. Esse “quê”, essa presença é a alegria de estar no momento presente verdadeiramente e de poder transmitir alegria para os outros. A presença, a meu ver, é o próprio “quê” a mais, é algo imprescindível para o bom ator e também para o bom animador, pois está ligada diretamente com a potência da comunicação com as pessoas, como descrito a seguir: Segundo a opinião corrente entre a gente de teatro, a presença seria o bem supremo a ser possuído pelo ator e sentido pelo espectador. A presença estaria ligada a uma comunicação corporal “direta” com o ator que está sendo objeto da percepção (PAVIS, 2008, p. 305).
Acredito que seja, também, o bem supremo do animador, pois a presença é o que faz com que um animador que chegue na festa, com uma postura animada e alto astral, seja recebido positivamente pelas crianças, mesmo antes de ele se apresentar formalmente. O profissional que trabalha sua presença se diferencia daquele que chega sem esse “quê” e terá que alcançá-
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lo na festa para ter a atenção das crianças. Porém, dificilmente atingiremos esse estado de presença “se não estivermos inteiros no que fazemos, em cada coisa, a percepção mais profunda da existência não se configura, não se firma, não se torna uma substância mágica” (JANUZELLI, 1992, p. 18). Essa substância mágica, não palpável, que é a presença, para mim, se assemelha ao que pontuei, anteriormente, como alegria e estado de alegria que o animador precisa ter para executar um bom trabalho nas festas, sendo algo invisível, entretanto muito perceptível. Dessa forma, e para alcançar esse estado, o ator precisa preparar-se para o “Estar em cena”: gestuar um corpo iluminado, elétrico, que interaja com outro e que possua carga para se projetar até a plateia, provocando e prendendo a atenção de cada espectador, formando um campo magnetizado de trocas (JANUZELLI, 1992, p. 78).
Percebo que esse estado de alerta, de eletricidade, o qual ocorre no momento presente de estar em jogo e em cena, muito interessa às empresas que contratam profissionais para eventos infantis, pois as crianças interagem mais com esse perfil de profissionais, entregam-se mais às propostas das atividades e brincam junto com eles, e não somente sob a supervisão deles, uma vez que, nas festas, também existe um campo magnetizado de trocas durante as brincadeiras. Tanto na sala de aula de teatro, na atuação teatral, quanto na animação, os profissionais sempre devem estar em estado de alerta e no momento presente. Eles devem estar sempre prontos para improvisar, se necessário, serem pessoas proativas e participativas junto aos alunos e as crianças nas festas. Dessa forma, acredito que a presença é uma qualidade misteriosa e quase indefinível [...]. Ela não existe sempre pelas características físicas do indivíduo, mas sim em uma energia vibrante, da qual podemos sentir os efeitos mesmo antes de o ator agir ou tomar a palavra, no vigor de seu estar no lugar. A presença não se confunde com uma vontade de se mostrar de maneira ostensiva. Não se pode esperar que todos os jogadores tenham essa qualidade excepcional [...] é difícil aprender a ter presença, creio ser possível aprender a estar presente, disponível ao mesmo tempo imerso na situação imediata, e, no entanto, aberto a tudo o que pode modifica-la. De certa forma, a aptidão para a concentração age sobre a qualidade da presença (RYNGAERT, 2009, p. 55/56- grifo do autor).
Rafael Zanon (2018), em sua entrevista, afirmou: O animador [...] precisa estar presente. É interessante quando a gente aprende a noção de presença, porque uma noção primária do animador é estar presente e ser notado. O animador tem uma energia diferente. O animador é aquela pessoa que se faz presente [...]. As pessoas que fazem animação se treinam para estar felizes, para trazer felicidade aos outros (ZANON, 2018 - entrevista).
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Desse modo, é preciso estar atento a tudo e a todos a sua volta, para conseguir de fato estar presente. Tamiris Gouveia13, em sua entrevista, expôs sua percepção sobre a presença na animação e no teatro. O que é o tempo presente? É estar aqui, estar ativo, estar com o olho aberto, [...] vendo tudo que está acontecendo. Recreação é isso, às vezes você vai fazer um planejamento, você vai fazer um cronograma, mas você vai chegar lá na hora não é o estilo que as crianças gostam, o espaço não te permite isso. Então, você está ali no tempo presente para fazer da melhor forma possível pra mediar isso. [...] vai lidando com isso [...] igual no teatro (GOUVEIA, 2018 - entrevista).
Buscamos pela presença no teatro, na improvisação, na animação e no jogo. O estar presente de fato já é um grande passo para a conquista da presença, afinal “joga-se para si, jogase para os outros, joga-se diante dos outros. A ausência de um desses elementos, ou sua hipertrofia, desequilibra o jogo” (Op. Cit, p. 33). Esse estado permanente de alerta, tanto do ator, quanto do professor e do animador/recreador, é um trabalho diário em busca dessa presença, porém alcançar tal estado requer treino e concentração. Uma das formas para se treinar estar presente é utilizando os jogos, pois, a cada entrada no jogo, temos a chance de estarmos unicamente focados no objetivo do jogo e no momento presente. Ryngaert afirma que há muito tempo teóricos do jogo chamam atenção para seu caráter insubstituível nas aprendizagens. O jogo facilita uma espécie de experimentação sem riscos do real, na qual a criança se envolve profundamente. Ele se caracteriza pela concentração e engajamento (o jogador seria uma espécie de sonhador acordado), mas permite afastamento rápido dos protagonistas em caso de necessidade, isto é, se esses forem ameaçados pela angústia (Op. Cit, p. 39).
Acredito que todo jogo pode ser utilizado com intuito de lazer e divertimento, porém creio, também, que sempre haverá por trás de um jogo algum aprendizado, seja para as crianças aprenderem a importância de seguir as regras, aprender ora ganhar, ora perder, entre outros possíveis aprendizados.
5 O JOGO NA ANIMAÇÃO E NA SALA DE AULA O jogo é uma das possíveis formas para proporcionar aprendizagens e aquisição de novos conhecimentos, desenvolver a potencialidade do indivíduo e as possibilidades de
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Atriz formada pelo Teatro Universitário, graduanda em Teatro pela UFMG, professora de teatro e animadora/recreadora.
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tomadas de decisões. O jogo deve oferecer desafios aos seus participantes, como: prestar atenção, repetir, reproduzir, pensar possibilidades e encontrar alternativas. Tanto na animação quanto em sala de aula, utilizo jogos tradicionais e algumas adaptações dos jogos teatrais. Sobre a utilização dos jogos tradicionais em sala de aula, Pereira (2015) afirma que há alguns procedimentos que precisam ser tomados quando estamos utilizando os jogos tradicionais como mediadores da aprendizagem de elementos teatrais. Noto que as ações do coordenador, quando utiliza o jogo em sala de aula, precisam ser conduzidas de forma que a atividade esteja relacionada com o fazer especifico em questão. O grande desafio desse sujeito é o de manter o sentido das ações e conduzir o processo, observando os seus rumos, criando espaços para desafios e soluções, sem, contudo, criar empecilhos que façam os jogadores saírem do âmbito da experiência lúdica (PEREIRA, 2015, p. 104).
Acredito que, dando as orientações com objetivos claros e específicos, podemos ter experiências teatrais a partir de qualquer jogo, utilizando-o como uma base para o improviso e criação. O jogo possibilita interação e socialização entre grupos de pessoas, possibilita que os jogadores se expressem e se comuniquem, tanto com suas falas quanto com suas ações. Para Ryngaert (2009), além disso, o jogo também desenvolve no indivíduo uma espécie de flexibilidade de reações, pela diminuição das defesas e pela multiplicação das relações entre o fora e o dentro. O jogo é um recurso contra condutas rotineiras, ideias preconcebidas, respostas prontas para situações novas ou medos antigos (RYNGAERT, 2009, p. 60).
O autor acrescenta que “uma das funções do jogo é derrubar uma parte das defesas que provocam a inibição. Mas a inibição impede a situação de jogo de se realizar, criando assim um círculo vicioso” (RYNGAERT, 2009, p. 45/46). O jogo provoca a desinibição do indivíduo objetivando sua participação, seja em uma cena, em uma atividade de animação ou em atividades na sala de aula. Na animação de eventos, percebo que a maior parte dos jogos é de repetição, devido ao breve tempo que temos para explicar o enunciado. Tudo é muito rápido e dinâmico. Os serviços que são contratados pelos clientes incluem várias brincadeiras. E os animadores/recreadores precisam fazer todas no momento reservado para as brincadeiras, que geralmente tem duração de 60 a 90 minutos, no máximo. Nos eventos infantis, observo que as crianças, principalmente menores de 6 anos, têm muita dificuldade em perder o jogo. Não fiz uma estatística de quantas crianças manifestam essa frustração, mas é muito nítida essa relação com o ganhar e perder. Outro fato que observo claramente, também nos eventos, é quando os pais entram na brincadeira. Ao invés de dar apoio aos filhos e ao grupo, entram para competir e ganhar. Posso
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dizer que, a cada três pais que entram na brincadeira, dois entram com o espírito de competição, com o enfoque de brincar ou jogar para ganhar e não somente se divertir. Pelo fato dessa situação ser recorrente, evito convidar pais e/ou adultos para as brincadeiras que têm como foco a participação exclusiva das crianças. Em sala de aula, tenho tempo hábil para trabalhar com as crianças a relação do ganhar e perder, o estar no jogo e estar fora como espectador. Já, nas festas, não há esse tempo, pois tudo ocorre muito rápido, além de que, como educadora, é minha responsabilidade mostrar para as crianças que é preciso seguir as regras do jogo até o fim; como animadora essa responsabilidade não existe. Poderia existir? Poderia, talvez. Deve ser uma responsabilidade do animador? No momento presente, acredito que não. Contudo, em algumas oportunidades, quando estou em eventos com menor número de crianças e percebo a possibilidade de um diálogo mais direto, destaco, sim, a importância do participar das atividades acima do ganhar e do perder e escuto as questões das crianças sobre o assunto. Seja na sala de aula ou em uma festa de aniversário, acredito que é importante explicar para as crianças que, nos jogos competitivos, algumas vezes elas vão ganhar e outras irão perder. Sempre procuro enfatizar que é muito importante respeitar o tempo do outro e a vez do outro. Em festas, como animadora em algumas ocasiões, consigo me posicionar com a postura mais próxima da que tenho em sala de aula; em outras ocasiões não consigo fazer o mesmo, pois, como chamar a atenção da criança com os pais ao lado? Não seria deles essa responsabilidade? Esse tema é importante, mas não será discutido aqui, pois é um assunto para outros estudos e não coube em minha pesquisa. Quando estou em sala de aula, faço questão de seguir a regra do jogo até o final. Raras foram as vezes que não consegui concluir um jogo. Já na animação, nem sempre consigo finalizar um jogo da maneira planejada. Essa situação geralmente é mais dinâmica e, se as crianças demostram uma atitude que indique que irão se dispersar, já substituo o jogo por outro, uma vez que, se não fizermos essa mudança de imediato, as crianças irão se distanciar e/ou irão procurar outra ocupação na festa. Em um evento, há muitas opções de entretenimento, desde outras atividades como pula-pula inflável, cama-elástica, algodão doce a buffets infantis (com diversas guloseimas à disposição). Nessa situação, precisamos estar com muita energia, brilho no olho e em sintonia com as crianças a todo o tempo. O que ocorre também em sala de aula, de forma muito forte, mas percebo que nos eventos é mais visceral. Um exemplo para tal situação é quando, nas animações, alguma criança perde sua vez. Ao invés de sair do jogo para assistir, peço a ela que imite algum animal ou “pague uma prenda”
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de forma simbólica, como, por exemplo, imitar algo ou adivinhar uma questão matemática, pois muitas crianças choram ao perder e, em uma festa, os clientes não querem ver nenhuma criança chorando. Em sala de aula, da mesma maneira, não queremos que as crianças fiquem chorando, inclusive prefiro fazer os jogos de competição, adaptando-os, para que ninguém saia da brincadeira ao perder, como Corre cotia, Estátua, entre outros. Nestas, ao invés de saírem, elas imitam um animal e continuam na brincadeira. Como professora, meu objetivo é transmitir os conteúdos e, ao mesmo tempo, fazer aulas divertidas e interessantes com meus alunos. Em sala de aula, sinto que minha liberdade é maior nesse aspecto. No caso da criança que chora ao perder, consigo conversar e explicar a importância do jogar, de respeitar as regras e, ainda assim, poder aproveitar o momento da brincadeira. Sobre as regras do jogo em situações distintas, gostaria de exemplificar descrevendo dois jogos e as suas aplicações na animação e em sala de aula. A lista de brincadeiras que faço, tanto nas animações, quanto na sala de aula, é: Coelhinho sai da toca, Estátua, Estátua Maluca, Estátua Maluca em dupla, Corrida dos desafios, Prova dos obstáculos, Panoball, Macaco disse, Cara de quê, entre outras. Tamiris e Samuel citaram a brincadeira Batatinha frita 1,2,3; Tamiris ainda citou Estátua, Escravos de Jó, Baltazar mandou, 1,2,3 joga seta e Brincadeiras de roda. Dentre todas essas, selecionarei duas para descrever e comparar a aplicação na sala de aula e nos eventos. São elas: A Estátua Maluca, passando pela variação de Estátua maluca em duplas, e a Prova dos desafios.
5.1 Estátua Maluca Ao iniciar a instrução, eu pergunto às crianças: Vocês já brincaram de Estátua? Conhecem a brincadeira Estátua Maluca? Quando eu disser “Estátua Maluca”, ninguém pode se mexer. Se todos fizerem a Estátua Maluca que eu disser, todos ganham chuva de espuma (daquelas de spray utilizadas em carnaval, em algumas ocasiões chamamos também de chuva de neve). Exemplos: Estátua maluca fazendo careta, Estátua Maluca de avião, Estátua Maluca de dinossauro. E assim continua a atividade até perceber que as crianças já não estão com o mesmo interesse na brincadeira. Podemos combinar que, a cada rodada de Estátua maluca, uma criança que está participando da brincadeira, vai escolher um animal ou objeto, e todas as outras vão fazer a Estátua Maluca. Em uma festa, uma das crianças propôs fazermos Estátua Maluca de avião. Pontuo aqui esse acontecimento por dois motivos: primeiro porque tanto na animação quanto
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em sala de aula acredito que seja necessário dar espaço para as crianças sugerirem, proporem e criarem no momento da brincadeira. Segundo, como professora ou animadora/recreadora, acredito que devemos estar em jogo, mas não ser “o exemplo” do jogo. Quando a criança sugeriu que todos fizessem a estátua de avião, eu fiz primeiro, e considero que falhei ao ser óbvia e fazer um clichê de avião, induzindo as crianças, que acabaram por reproduzir um padrão. Após perceber que elas, em sua maioria, estavam reproduzindo as estátuas que eu fazia, me mantive em jogo, porém, sem ser a primeira a fazer a estátua solicitada. Passei a ser uma das últimas a paralisar o gesto. Comecei, também, a incentivar que cada um fizesse a sua estátua, por exemplo: “Estátua de porta, cada um tem uma porta, umas grandes outras pequenas, abertas ou fechadas, com maçaneta ou sem.” E ao ouvirem as sugestões, eles pararam de somente olhar para o colega em busca de um exemplo e começaram a criar as suas próprias estátuas. A partir desse momento, percebi que surgiram imagens diferentes, algumas ainda bem similares entre si; contudo, a maioria aparentemente buscava algum elemento único. O mesmo ocorreu quando pedi “Estátua Maluca” de pedra, e depois a estátua que eles mais gostam de fazer, pela empolgação que demonstram quando eu peço: a Estátua Maluca com uma careta bem assustadora. Eles fazem suas caretas assustadoras com muito barulho e empolgação. Até que ponto o adulto, professor e animador/recreador, dentro do jogo, influenciam o modo de participação das crianças? Quando e em quais atividades participar ativamente? Qual a hora de se afastar para que as crianças tenham a oportunidade de criarem por si próprias? Quando a animadora/recreadora ou professora deve ficar ou sair do centro das atividades? Ryngaert (2009) diz que quando uma oficina de jogo não fornece modelos de imitação, não impõe “padrões” a serem reproduzidos, ela conta com a invenção. Apesar disso, essa invenção potencial está contaminada pelas ideias que os jogadores têm da estética teatral e daquilo que se diz e faz nos teatros. A improvisação não é garantia de um produto original, saído inteiramente pronto da imaginação do improvisador; como já dissemos, muitas vezes a improvisação se limita a esquemas familiares e a estereótipos. Como poderia o jogador ser capaz de um ato criativo se ele vive uma espécie de aprendizagem e se, dentro de um período, segundo a tradição, ele deve imitar modelos antes de sonhar com obras pessoais? (RYNGAERT, 2009, p. 236).
Creio que a participação efetiva do adulto junto às crianças motiva a participação delas nas atividades, traz cumplicidade e segurança. Porém é preciso sempre refletir sobre qual momento de ser mais participativo e realmente jogar, e o de estar presente como observador ativo, mediador. E, ainda, em qual momento se distanciar para que as crianças desenvolvam maior autonomia.
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Na variação, “Estátua maluca em duplas”, dou a instrução de que ela é parecida com a estátua sozinha, mas que, nessa variação, as crianças têm que escolher um amigo. Juntos farão todas as próximas estátuas malucas. Esse jogo, que faço em sala de aula e nos eventos de animação, trabalha a escuta, a consciência corporal e o cuidado com o corpo do outro. E no que diz respeito às regras, elas são seguidas com tranquilidade nos dois ambientes. O que muda é o tempo para evolução do jogo. Na animação, tudo é muito mais rápido e, se uma estátua não foi feita ou teve dispersão, eu continuo a atividade, procurando sugerir estátuas mais interessantes. Em sala de aula, se alguém se dispersa, eu tento, primeiro, buscar algo mais interessante na proposta seguinte, mas, após a segunda tentativa na busca pelo interesse e a participação da criança, já interrompo rapidamente a atividade e converso com ela para compreender o que está ocorrendo e por qual motivo não está acompanhando a atividade junto aos colegas.
5.2 Prova dos Desafios Nessa brincadeira, dirijo-me às crianças: Vamos fazer uma fila atrás de mim? Pronto? Quem será o primeiro? Por favor (direcionando-me ao primeiro da fila), fique aqui um segundo para eu montar nossa prova dos desafios. Posiciono cerca de 10 a 12 bambolês, geralmente intercalando as cores, formando uma trilha no chão, na qual as bordas dos bambolês se tocam. Depois disso, digo às crianças: Nossa trilha está pronta. Agora vou falar algumas regras: Vale pisar na borda do bambolê? Eles respondem: Não. Vale empurrar o colega na fila? Não. Vale sair correndo pelos bambolês? Não. Vamos esperar o colega terminar a trilha para que possamos entrar? Sim. Depois de todos passarem pelo primeiro desafio, pergunto: Posso fazer um desafio mais difícil? Geralmente alguns respondem sim, outros não. Em resposta a essa divisão, geralmente repondo: Vou fazer só um pouquinho mais difícil, porque a última vez foi muito fácil e todo mundo conseguiu passar pelo desafio. Começo o jogo indicando às crianças com qual tipo de posição corporal elas podem passar pelos obstáculos, por exemplo, sendo um coelho, depois canguru, sapo, imaginando que os obstáculos formem uma “Amarelinha”, então elas podem pular com 1 pé ou 2. As orientações mudam de acordo com o grupo e de acordo com a evolução e interesse no jogo. Em sala de aula, o circuito dos obstáculos é feito em torno de 3 a 4 vezes por cada criança, em um dia de aula; sendo assim, podemos fazer até 4 personagens ou 4 ações diferentes no dia. Geralmente conseguimos concluir o jogo e as crianças até pedem para brincar mais um pouco e fazer o circuito mais uma vez.
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Na animação, passamos pelo circuito dos obstáculos mais de 5 vezes, na maioria das festas, pois as crianças amam executar esses desafios. Entretanto, houve uma festa, cujas crianças se dispersaram e não passaram pelo desafio nem uma vez. Na ocasião em que isso ocorreu, recolhemos os bambolês e trocamos imediatamente de jogo. Se fosse na aula de teatro, eu conversaria com as crianças e tentaria entender o porquê de elas não participarem do jogo. Quando dei aulas de teatro na Escola Infantil Estrelinha Mágica, na minha turma de 1º período havia uma aluna que sempre se queixava de mil dores, falava que estava com medo e demorava a começar a participar das atividades, a Marcela14, de 4 anos. Nossa apresentação de fim de ano foi com tema de abelhas, comecei as brincadeiras com o “Coelhinho sai da toca”, utilizando os bambolês como toca, e, depois, a “Prova dos desafios”, sugerindo que diferentes animais, como coelhos, abelhas, passarinhos, dinossauros, entre outros animais, saíssem da toca e passassem pela trilha com sua diferente corporeidade. Percebi que a Marcela sempre falava que estava com medo, fazia somente os animais que lhe agradavam, como borboletas e passarinhos. Depois de quatro aulas e de conversar com a diretora da escola, sendo orientada por ela, comecei a ter uma postura mais firme com a Marcela, passei a tirá-la do jogo momentaneamente quando ela não cumpria as regras; assim, aos poucos, ela foi mudando seu comportamento. Questiono, então, se o que a deixava com aquela atitude na sala de aula era de fato medo ou se era vontade de fazer somente o que lhe agradava, pois quando o comando era “coelhinho sai da toca”, ela fazia o coelho, mas abelha, cobra ou dinossauro, ela não queria fazer. Quando eu a questionava, ela dizia que tinha medo. Conversei com ela, explicando-lhe que não precisava ter medo, que era uma brincadeira. Ainda não tenho muito claro o que ocorria com ela, mas sei que ela apresentou grande evolução e mudou sua postura durante nossas aulas. Antes, eu sentia que ela era muito tímida e também só queria fazer o que gostava, justificando, possivelmente, com a palavra medo o que ela não quisesse fazer. Ao finalizarmos o ano, Marcela estava menos tímida e fazia todas as atividades propostas em sala de aula. Na animação, sempre faço essa brincadeira e as crianças que têm medo ficam próximas de suas mães e não entram na brincadeira. Quando chamo novamente, insistindo de forma descontraída para que todos participem da atividade, geralmente a mãe ou o pai entram na brincadeira junto com a criança, até que ela se enturme ou perca a timidez. Porém esses pais só permanecem nas brincadeiras até que as crianças fiquem à vontade. E, essa situação é completamente diferente da citada anteriormente, pois os pais não entram no jogo com o 14
Nome fictício. Todos os nomes citados no texto são fictícios.
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espírito de competição, mas somente com o intuito de que seu filho possa brincar e participar alegremente das atividades propostas. Ryngaert (2009) afirma que essa “timidez” difícil de superar impede toda manifestação vocal ou motora, torna desajeitados sujeitos que habitualmente não o são. Ela se manifesta tanto em crianças como adultos e não se explica somente pela cômoda noção de “pânico”. Ela poderia ser resumida por uma hipertrofia do “interno” e uma impossibilidade de abertura para o exterior. O jogador gostaria de ter a possibilidade de não se mostrar, de não falar, de não “ser” (RYNGAERT, 2009, p. 45).
Essa possibilidade de não se mostrar, de não estar em jogo precisa ser respeitada tanto nas animações quanto em sala de aula. Na turma da Marcela, havia outra aluna, a Fernanda, que aparentemente era muito tímida, quase não falava, e quando eu conversava com ela, mesmo muito próxima dela, tinha que fazer um grande esforço para compreender o que ela dizia. Ela pouco falava, mas eu observei que ela fazia as atividades, da maneira dela, sempre mais introspectiva. Fui observando e passei a elogiá-la diante da turma, sempre que havia uma oportunidade, inclusive elogiando o fato de ela estar sempre atenta ao que eu falava, enquanto outros alunos, por vezes, falavam junto comigo, me perguntavam coisas fora tema ou me falavam sobre seus sapatos e laços de cabelo novos. Ryngaert diz que A recusa de expressão manifesta ora uma falta de confiança em si mesmo (não sei fazer, não sei o que fazer), ora uma falta de confiança no grupo. Ou ainda, como já foi dito, uma falta de compreensão do que está em jogo. Em todos os casos, o tempo aparece como critério essencial. Deve ser possível reservar para cada um o direito ao retraimento e ao silêncio, o direito a uma expressão mínima (RYNGAERT, 2009, p. 46).
O respeito ao silêncio e à expressão mínima, por parte do adulto, acontece tanto em sala de aula quanto nas animações. Afinal, o momento do brincar, antes de qualquer coisa, é um momento de prazer e não de sofrimento. O animador não deve se tornar um refém das crianças ou dos pais, apesar de o seu trabalho estar ligado à diversão e a lidar com altas expectativas que todo dia de festa tem. Tratase de um momento de alegria e de descontração e, nele, busco que as crianças se divirtam com as atividades e com o momento de alegria na festa, mas sem me tornar refém de suas vontades. Em sala de aula, quando faço adaptações, estas são feitas de forma diferente das realizadas nos eventos. Na festa, o aniversariante guia um pouco como serão as regras e o
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andamento das atividades, de acordo com sua personalidade. Em sala de aula, quando é necessário fazer mudanças, estas são guiadas por todo grupo de alunos. Todos eles têm igual poder sobre as modificações. Faço dessa maneira para não gerar favoritismo, o que em aniversários é exatamente ao contrário, pois deixamos claro o favoritismo pelo aniversariante. Nas aulas de teatro acontecem combinados/regras, também, após o início do jogo. Contudo, para que isso aconteça, é preciso que a turma toda ou a maioria dela esteja de acordo. Depois de quase dois anos trabalhando com a mesma turma e os mesmos alunos, fui convidada para animar a festa aniversário de dois deles. A primeira experiência foi na festa do João e, logo em seguida, na da Lara; ambas aconteceram fora da escola. Chegando ao local, todos me conheciam como sendo a professora de teatro, mas sabiam que eu estava lá para animar, fazer pinturas, contar histórias e fazer brincadeiras. Essa foi uma experiência única e muito divertida. As crianças já me conheciam, sabiam meu jeito de trabalhar, afinal, utilizo do meu repertório de animação, também, em sala de aula. Nessa ocasião, fiz algumas brincadeiras que ainda não havia feito com eles, como a Prova do ovo na colher (realizada com bolinhas de ping-pong coloridas) e Corrida de sacos. Um momento interessante dessa experiência foi com a aluna Marcela, que antes demonstrava medo ou receio em algumas atividades propostas, porém nas festas não demonstrou medo ou receio algum, realizando todas as atividades propostas. A sensação que tenho é de que essa disponibilidade dela veio a partir da familiarização com as brincadeiras e também comigo. Percebo a mesma situação nas festas. Quando as crianças já conhecem o jogo, essa familiaridade colabora para o interesse delas nas atividades. E esse conhecimento prévio causa segurança. Uma forma de trabalhar esse sentimento de segurança é com jogos; através deles podemos trabalhar a resposta rápida, autonomia, criatividade, o estar no momento presente, a expressão corporal, a dramaturgia, entre outros, de acordo com cada jogo. A avaliação dos jogos é feita não como certa ou errada, mas como uma constatação do que realizamos, nas festas e em sala de aula. Às vezes, as crianças apontam algo como errado e eu busco explicar que não existe errado nesse caso. Essa explicação de que não há certo ou errado sempre faço em sala de aula e, quando tenho oportunidade, faço-a também nas animações, pois não é sempre que consigo um momento de conversa e reflexão com as crianças nos eventos, mas fico atenta às oportunidades. Destaco abaixo o depoimento de um professor, presente no fichário de Viola Spolin15. Gama diz:
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Não uso esse sistema em sua íntegra, trabalho com adaptações, usando somente alguns elementos que compõem o sistema de jogos teatrais.
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Jovens que tiveram oportunidades de trabalhar com os princípios dos jogos teatrais tornam-se mais seguros e se sentem mais capazes para se aventurar na representação teatral. Pouco a pouco, aprendem a se comunicar no palco e a se relacionar com a plateia de maneira espontânea. O aprendizado teatral é construído ao longo das experiências do grupo (GAMA, In: SPOLIN, 2008, p. 16).
Esse relato do prof. Joaquim Gama, para mim, é o espelho do que aconteceu com a aluna Laura, da turma do 2º período, após trabalhar com jogos teatrais e brincadeiras. Ela, que não falava quase nada e falava sempre muito baixo, com a voz “abafada” pelos outros alunos, logo depois dos jogos e do trabalho com os personagens animais e as coreografias de A Foca e Abelhas, de Vinicius de Moraes, passou a falar mais e a se posicionar diante dos colegas. Sinto que, ao dar a ela mais responsabilidades, como começar as músicas, ser a primeira a começar a coreografia, lembrar aos colegas o que eles se esqueceram de fazer, dei-lhe voz; e depois da nossa apresentação final, tive certeza de que a sua evolução foi realmente grande, ao ponto de receber elogios dos pais. Eles pediram meu contato para, caso eu tivesse uma turma fora da escola, ela pudesse continuar as aulas de teatro, pois até em casa ela estava mais falante e se posicionando mais. Sobre essa evolução na capacidade de comunicação, Spolin (2008), diz:
Jogos teatrais, experimentados em sala de aula, devem ser reconhecidos não como diversões que extrapolam necessidades curriculares, mas sim como suportes que podem ser tecidos no cotidiano, atuando como energizadores e/ou trampolins para todos. Inerente a técnicas teatrais são comunicações verbais, não-verbais, escritas e não-escritas. Habilidades de comunicação, desenvolvidas e intensificadas por meio de oficinas de jogos teatrais com o tempo abrangem outras necessidades curriculares e a vida cotidiana. Ensinar/aprender deveria ser uma experiência feliz, alegre, tão plena de descoberta quanto a superação da criança que sai das limitações do engatinhar para o primeiro passo - o andar! Para além das necessidades curriculares, os jogos teatrais trazem momentos de espontaneidade. O intuitivo [...] gera suas dádivas no momento de espontaneidade. Aqui/agora é o tempo da descoberta, da criatividade, do aprendizado. Ao participar dos jogos teatrais, professores e alunos podem encontrarse como parceiros, no tempo presente, e prontos para comunicar, conectar, responder, experienciar, experimentar e extrapolar, em busca de novos horizontes (SPOLIN, 2008, p. 20 – grifo da autora).
As atividades realizadas, tanto na sala de aula quanto nas festas, precisam ser espontâneas, criativas e também geradoras de prazer. Precisamos encontrar em elo entre a experiência feliz, que um jogo pode gerar, e o aprendizado. Larissa Altemar (2016) aponta um outro aspecto: “Não basta apenas brincar com a criança para fazer teatro, mas reconhecer o seu brincar e trazer os signos do teatro, usando das brincadeiras, estabelecendo dessa forma aproximações entre brincar e fazer teatro (ALTEMAR, 2016, pag. 6). Ao aproximar esses dois universos, acredito ser possível ter mais qualidade de trabalho em sala de aula e na animação.
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6 CONCLUSÕES Gostaria de finalizar este trabalho com uma citação de Vigotski (2014, p. 89). Para esse autor, “a representação teatral está mais próxima e mais diretamente ligada às brincadeiras do que qualquer outra forma de expressão artística. Ela é raiz de toda a criatividade infantil”. Se, como o autor diz, a representação teatral está diretamente ligada às brincadeiras, está também diretamente ligada à animação de eventos, principalmente em festas infantis, pois o coração, o ápice, o auge das animações são as brincadeiras. Creio que todas as brincadeiras estão relacionadas e podem ser utilizadas, tanto no fazer teatral, como na animação, se o condutor fizer as modificações necessárias, de acordo com o seu público. Gostaria de ressaltar, aqui, as brincadeiras de faz de conta, que no universo infantil é o próprio fazer teatral. No trabalho com crianças, acredito que o desenvolvimento da criatividade é um dos pontos mais importantes, pois possibilita que as crianças se tornem mais participativas e expressivas. E o trabalho com faz de conta, o “ser” outro alguém estimula a criação e a expressividade das crianças. Sobre essa estreita ligação entre as brincadeiras e o teatro, Altemar (2016, p. 5) afirma que “para um observador desatento um jogo infantil pode ser apenas um jogo infantil, mas para alguém que busque perceber a teatralidade da infância pode ser um processo investigativo da trilha da experiência do brincar ao fazer teatro”. É preciso estar atento às possibilidades que os jogos e brincadeiras trazem para o fazer teatral. É preciso encontrar o que cada jogo pode e tem a oferecer e aproveitar desses elementos tanto para o ensino e criação em sala de aula, quanto para diversão nas animações. Lembrando, também, que cada turma que acompanhamos na escola e cada grupo de pessoas que acompanhamos em eventos são únicos e agem de uma forma determinada. Essa ação coletiva precisa ser observada tanto pelo professor como pelo animador/recreador, a fim de que eles consigam maior cumplicidade e maior escuta do grupo com o qual estão trabalhando. Percebi que a presença dos jogos e brincadeiras, tanto em sala de aula quanto nas animações, precisa estar de acordo com o perfil das crianças envolvidas, as faixas etárias e as disponibilidades dos participantes. Percebi, ainda, que, com as brincadeiras, crio um vínculo mais forte e mais harmonioso com as crianças, o que facilita muito meu trabalho, seja como professora ou como animadora/recreadora, tornando a minha comunicação, em ambos os casos, mais clara e mais acessível. Noto, também, que o repertório de jogos precisa ser flexível, podendo haver mudanças de acordo com a resposta dos participantes em cada atividade. E que o ponto mais importante
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e primordial para que as brincadeiras funcionem, tanto na animação quanto em sala de aula, é o prazer de brincar, o prazer gerado por novas possibilidades e desafios, de estar verdadeiramente com o outro e compartilhar o momento presente, no qual o jogo acontece. Babita relata o seguinte: toda vez que eu tenho que fazer [...] teatro, é muita brincadeira [...] o jeito mais fácil de acessar a criança é com brincadeira [...] a recreação ajuda muito no teatro, e o teatro ajuda muito na recreação, é muito cruzado esse relacionamento [...] nunca houve nada que eu fiz depois de trabalhar com recreação que não tivesse alguma coisa de recreação no meio [...] Eu descobri na recreação um espaço de fazer teatro (BABITA, 2018 - entrevista).
Eu acredito nisso e, do mesmo modo, encontrei na animação uma forma de fazer teatro e, no teatro, uma forma de levar as atividades de recreação comigo. Levar essa energia pulsante, esse brilho no olhar, uma forma descontraída e leve, porém com responsabilidade e seriedade, tendo sempre em mente a brincadeira como algo divertido e sério, algo que as crianças consideram e que realmente é muito precioso. Íris Harry16 disse na entrevista: eu vi algumas referências que trabalham em festas que são atores, atrizes, cantores e fui pesquisando isso até iniciar um trabalho também de brincadeira. A princípio eu fiquei relutante, mas depois conheci algumas empresas que fazem isso de uma forma muito legal, e vi que tem uma ligação incrível com o trabalho de atriz [e] que eu não estou fugindo da minha área. Não estou com uma segunda alternativa. Estou colocando em prática a minha profissão. Acho que uma qualidade do ator, como animador, é a forma de conduzir as brincadeiras (HARRY, 2018 - entrevista).
Conversando com ela, percebi que nossos trajetos foram bem parecidos, entrando para a animação, a princípio, de forma despretensiosa e, depois, percebendo a profissão de animador/recreador como uma área também do teatro. Da mesma forma, outros atores que utilizam dos jogos e brincadeiras tanto em sala de aula, quanto no trabalho de animação, perceberam também. Agora, posso afirmar que há outros pares que veem na animação uma ligação direta com o Teatro e uma opção interessante e bem remunerada para inserção no mercado de trabalho em nossa área de estudos, seja como bacharel ou licenciado em Teatro. A presença do teatro na animação de eventos sociais, mas especificamente em festas infantis, realizadas por profissionais com formação acadêmica em Teatro, é cada vez maior.
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Atriz formada pela Escola de Teatro PUC/MG e graduanda em Teatro pela UFMG, idealizadora da empresa de animação Quem Sonha, no mercado de animação, em BH, desde 2016.
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Para esse trabalho, entrevistei seis profissionais que trabalham e têm seu sustento vindo desse ofício. Tamiris Gouveia, na entrevista, citou outras dez pessoas que conhece do meio teatral que atualmente trabalham com animação de eventos. Acredito que, se eu pesquisasse mais a fundo, encontraria ainda mais pessoas, com formação teatral, trabalhando com animação em festas infantis, pois essa é uma atividade com boa rentabilidade, com grande oferta de trabalho no mercado, com horários de trabalho flexíveis e que absorve rapidamente profissionais qualificados, que têm experiência com crianças, jogos e brincadeiras, e, principalmente, experiência em se apresentar em público para um grande número de pessoas. A presença do jogo e das brincadeiras é fundamental na sala de aula e, também, na animação de festas infantis. O que difere são os objetivos que o profissional tem no uso desses jogos em cada situação. Contudo, a essência das brincadeiras, que é o prazer e a diversão no ato de brincar, sempre estará presente, independente do ambiente que serão realizadas.
REFERÊNCIAS
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