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5 O JOGO NA ANIMAÇÃO E NA SALA DE AULA

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1 INTRODUÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Desse modo, é preciso estar atento a tudo e a todos a sua volta, para conseguir de fato estar presente. Tamiris Gouveia13, em sua entrevista, expôs sua percepção sobre a presença na animação e no teatro.

O que é o tempo presente? É estar aqui, estar ativo, estar com o olho aberto, [...] vendo tudo que está acontecendo. Recreação é isso, às vezes você vai fazer um planejamento, você vai fazer um cronograma, mas você vai chegar lá na hora não é o estilo que as crianças gostam, o espaço não te permite isso. Então, você está ali no tempo presente para fazer da melhor forma possível pra mediar isso. [...] vai lidando com isso [...] igual no teatro (GOUVEIA, 2018 - entrevista).

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Buscamos pela presença no teatro, na improvisação, na animação e no jogo. O estar presente de fato já é um grande passo para a conquista da presença, afinal “joga-se para si, jogase para os outros, joga-se diante dos outros. A ausência de um desses elementos, ou sua hipertrofia, desequilibra o jogo” (Op. Cit, p. 33). Esse estado permanente de alerta, tanto do ator, quanto do professor e do animador/recreador, é um trabalho diário em busca dessa presença, porém alcançar tal estado requer treino e concentração. Uma das formas para se treinar estar presente é utilizando os jogos, pois, a cada entrada no jogo, temos a chance de estarmos unicamente focados no objetivo do jogo e no momento presente. Ryngaert afirma que

há muito tempo teóricos do jogo chamam atenção para seu caráter insubstituível nas aprendizagens. O jogo facilita uma espécie de experimentação sem riscos do real, na qual a criança se envolve profundamente. Ele se caracteriza pela concentração e engajamento (o jogador seria uma espécie de sonhador acordado), mas permite afastamento rápido dos protagonistas em caso de necessidade, isto é, se esses forem ameaçados pela angústia (Op. Cit, p. 39).

Acredito que todo jogo pode ser utilizado com intuito de lazer e divertimento, porém creio, também, que sempre haverá por trás de um jogo algum aprendizado, seja para as crianças aprenderem a importância de seguir as regras, aprender ora ganhar, ora perder, entre outros possíveis aprendizados.

5 O JOGO NA ANIMAÇÃO E NA SALA DE AULA

O jogo é uma das possíveis formas para proporcionar aprendizagens e aquisição de novos conhecimentos, desenvolver a potencialidade do indivíduo e as possibilidades de

13 Atriz formada pelo Teatro Universitário, graduanda em Teatro pela UFMG, professora de teatro e animadora/recreadora.

tomadas de decisões. O jogo deve oferecer desafios aos seus participantes, como: prestar atenção, repetir, reproduzir, pensar possibilidades e encontrar alternativas. Tanto na animação quanto em sala de aula, utilizo jogos tradicionais e algumas adaptações dos jogos teatrais. Sobre a utilização dos jogos tradicionais em sala de aula, Pereira (2015) afirma que

há alguns procedimentos que precisam ser tomados quando estamos utilizando os jogos tradicionais como mediadores da aprendizagem de elementos teatrais. Noto que as ações do coordenador, quando utiliza o jogo em sala de aula, precisam ser conduzidas de forma que a atividade esteja relacionada com o fazer especifico em questão. O grande desafio desse sujeito é o de manter o sentido das ações e conduzir o processo, observando os seus rumos, criando espaços para desafios e soluções, sem, contudo, criar empecilhos que façam os jogadores saírem do âmbito da experiência lúdica (PEREIRA, 2015, p. 104).

Acredito que, dando as orientações com objetivos claros e específicos, podemos ter experiências teatrais a partir de qualquer jogo, utilizando-o como uma base para o improviso e criação. O jogo possibilita interação e socialização entre grupos de pessoas, possibilita que os jogadores se expressem e se comuniquem, tanto com suas falas quanto com suas ações. Para Ryngaert (2009), além disso, o jogo também

desenvolve no indivíduo uma espécie de flexibilidade de reações, pela diminuição das defesas e pela multiplicação das relações entre o fora e o dentro. O jogo é um recurso contra condutas rotineiras, ideias preconcebidas, respostas prontas para situações novas ou medos antigos (RYNGAERT, 2009, p. 60).

O autor acrescenta que “uma das funções do jogo é derrubar uma parte das defesas que provocam a inibição. Mas a inibição impede a situação de jogo de se realizar, criando assim um círculo vicioso” (RYNGAERT, 2009, p. 45/46). O jogo provoca a desinibição do indivíduo objetivando sua participação, seja em uma cena, em uma atividade de animação ou em atividades na sala de aula.

Na animação de eventos, percebo que a maior parte dos jogos é de repetição, devido ao breve tempo que temos para explicar o enunciado. Tudo é muito rápido e dinâmico. Os serviços que são contratados pelos clientes incluem várias brincadeiras. E os animadores/recreadores precisam fazer todas no momento reservado para as brincadeiras, que geralmente tem duração de 60 a 90 minutos, no máximo. Nos eventos infantis, observo que as crianças, principalmente menores de 6 anos, têm muita dificuldade em perder o jogo. Não fiz uma estatística de quantas crianças manifestam essa frustração, mas é muito nítida essa relação com o ganhar e perder. Outro fato que observo claramente, também nos eventos, é quando os pais entram na brincadeira. Ao invés de dar apoio aos filhos e ao grupo, entram para competir e ganhar. Posso

dizer que, a cada três pais que entram na brincadeira, dois entram com o espírito de competição, com o enfoque de brincar ou jogar para ganhar e não somente se divertir. Pelo fato dessa situação ser recorrente, evito convidar pais e/ou adultos para as brincadeiras que têm como foco a participação exclusiva das crianças. Em sala de aula, tenho tempo hábil para trabalhar com as crianças a relação do ganhar e perder, o estar no jogo e estar fora como espectador. Já, nas festas, não há esse tempo, pois tudo ocorre muito rápido, além de que, como educadora, é minha responsabilidade mostrar para as crianças que é preciso seguir as regras do jogo até o fim; como animadora essa responsabilidade não existe. Poderia existir? Poderia, talvez. Deve ser uma responsabilidade do animador? No momento presente, acredito que não. Contudo, em algumas oportunidades, quando estou em eventos com menor número de crianças e percebo a possibilidade de um diálogo mais direto, destaco, sim, a importância do participar das atividades acima do ganhar e do perder e escuto as questões das crianças sobre o assunto. Seja na sala de aula ou em uma festa de aniversário, acredito que é importante explicar para as crianças que, nos jogos competitivos, algumas vezes elas vão ganhar e outras irão perder. Sempre procuro enfatizar que é muito importante respeitar o tempo do outro e a vez do outro. Em festas, como animadora em algumas ocasiões, consigo me posicionar com a postura mais próxima da que tenho em sala de aula; em outras ocasiões não consigo fazer o mesmo, pois, como chamar a atenção da criança com os pais ao lado? Não seria deles essa responsabilidade? Esse tema é importante, mas não será discutido aqui, pois é um assunto para outros estudos e não coube em minha pesquisa. Quando estou em sala de aula, faço questão de seguir a regra do jogo até o final. Raras foram as vezes que não consegui concluir um jogo. Já na animação, nem sempre consigo finalizar um jogo da maneira planejada. Essa situação geralmente é mais dinâmica e, se as crianças demostram uma atitude que indique que irão se dispersar, já substituo o jogo por outro, uma vez que, se não fizermos essa mudança de imediato, as crianças irão se distanciar e/ou irão procurar outra ocupação na festa. Em um evento, há muitas opções de entretenimento, desde outras atividades como pula-pula inflável, cama-elástica, algodão doce a buffets infantis (com diversas guloseimas à disposição). Nessa situação, precisamos estar com muita energia, brilho no olho e em sintonia com as crianças a todo o tempo. O que ocorre também em sala de aula, de forma muito forte, mas percebo que nos eventos é mais visceral. Um exemplo para tal situação é quando, nas animações, alguma criança perde sua vez. Ao invés de sair do jogo para assistir, peço a ela que imite algum animal ou “pague uma prenda”

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