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4 A PRESENÇA E O JOGO
from Andressa Cunha Miranda - A PRESENÇA DO JOGO E DO TEATRO NA ANIMAÇÃO DE EVENTOS E NA SALA DE AULA...
by Biblio Belas
contratada durante todo o ano. O SESC Venda Nova e o SESC Contagem possuem um grupo permanente de recreadores, com profissionais capacitados que têm salário mensal e benefícios garantidos pelas leis trabalhistas.
4 A PRESENÇA E O JOGO
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A “presença” do animador é um dos fatores mais importantes para alcançar um bom resultado no evento. Essa presença, esse estado de atenção, de estar verdadeiramente no momento presente é, a meu ver, o diferencial do bom profissional. Em algumas experiências anteriores, pude observar o perfil de animador de festas sem essa “presença”. Essa foi a ocasião quando percebi que o animador estava somente organizando o momento da brincadeira, de fora e de maneira distanciada. Esse tipo de postura de alguns profissionais deixa a impressão de que a animação está mais desanimada do que estimulante. Como estudante de teatro, durante toda minha formação fui alertada sobre a importância de estar verdadeiramente no jogo e presente na cena, de estar no momento presente. Isso vale para cenas e, da mesma forma, para relação de professor com os alunos, postura essa que procuro, também, sempre levar para as animações. Segundo Pavis (2008, p. 305), “ter presença, é, no jargão teatral, saber cultivar a atenção do público e impor-se; é, também, ser dotado de um ‘quê’ que provoca imediatamente a identificação do espectador”. Essa identificação é o que torna possível a aproximação do animador com as crianças da festa, que faz com que elas se interessem pelo que ele diz e realizem as atividades que sugere. Esse “quê”, essa presença é a alegria de estar no momento presente verdadeiramente e de poder transmitir alegria para os outros. A presença, a meu ver, é o próprio “quê” a mais, é algo imprescindível para o bom ator e também para o bom animador, pois está ligada diretamente com a potência da comunicação com as pessoas, como descrito a seguir:
Segundo a opinião corrente entre a gente de teatro, a presença seria o bem supremo a ser possuído pelo ator e sentido pelo espectador. A presença estaria ligada a uma comunicação corporal “direta” com o ator que está sendo objeto da percepção (PAVIS, 2008, p. 305).
Acredito que seja, também, o bem supremo do animador, pois a presença é o que faz com que um animador que chegue na festa, com uma postura animada e alto astral, seja recebido positivamente pelas crianças, mesmo antes de ele se apresentar formalmente. O profissional que trabalha sua presença se diferencia daquele que chega sem esse “quê” e terá que alcançá-
lo na festa para ter a atenção das crianças. Porém, dificilmente atingiremos esse estado de presença “se não estivermos inteiros no que fazemos, em cada coisa, a percepção mais profunda da existência não se configura, não se firma, não se torna uma substância mágica” (JANUZELLI, 1992, p. 18). Essa substância mágica, não palpável, que é a presença, para mim, se assemelha ao que pontuei, anteriormente, como alegria e estado de alegria que o animador precisa ter para executar um bom trabalho nas festas, sendo algo invisível, entretanto muito perceptível. Dessa forma, e para alcançar esse estado,
o ator precisa preparar-se para o “Estar em cena”: gestuar um corpo iluminado, elétrico, que interaja com outro e que possua carga para se projetar até a plateia, provocando e prendendo a atenção de cada espectador, formando um campo magnetizado de trocas (JANUZELLI, 1992, p. 78).
Percebo que esse estado de alerta, de eletricidade, o qual ocorre no momento presente de estar em jogo e em cena, muito interessa às empresas que contratam profissionais para eventos infantis, pois as crianças interagem mais com esse perfil de profissionais, entregam-se mais às propostas das atividades e brincam junto com eles, e não somente sob a supervisão deles, uma vez que, nas festas, também existe um campo magnetizado de trocas durante as brincadeiras. Tanto na sala de aula de teatro, na atuação teatral, quanto na animação, os profissionais sempre devem estar em estado de alerta e no momento presente. Eles devem estar sempre prontos para improvisar, se necessário, serem pessoas proativas e participativas junto aos alunos e as crianças nas festas. Dessa forma, acredito que
a presença é uma qualidade misteriosa e quase indefinível [...]. Ela não existe sempre pelas características físicas do indivíduo, mas sim em uma energia vibrante, da qual podemos sentir os efeitos mesmo antes de o ator agir ou tomar a palavra, no vigor de seu estar no lugar. A presença não se confunde com uma vontade de se mostrar de maneira ostensiva. Não se pode esperar que todos os jogadores tenham essa qualidade excepcional [...] é difícil aprender a ter presença, creio ser possível aprender a estar presente, disponível ao mesmo tempo imerso na situação imediata, e, no entanto, aberto a tudo o que pode modifica-la. De certa forma, a aptidão para a concentração age sobre a qualidade da presença (RYNGAERT, 2009, p. 55/56- grifo do autor).
Rafael Zanon (2018), em sua entrevista, afirmou:
O animador [...] precisa estar presente. É interessante quando a gente aprende a noção de presença, porque uma noção primária do animador é estar presente e ser notado. O animador tem uma energia diferente. O animador é aquela pessoa que se faz presente [...]. As pessoas que fazem animação se treinam para estar felizes, para trazer felicidade aos outros (ZANON, 2018 - entrevista).