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2 ANIMAÇÃO DE EVENTOS
from Andressa Cunha Miranda - A PRESENÇA DO JOGO E DO TEATRO NA ANIMAÇÃO DE EVENTOS E NA SALA DE AULA...
by Biblio Belas
UFMG, os quais, também, trabalham com animações de eventos, porém, infelizmente, não consegui entrevistar todos nessa minha breve pesquisa. Como referencial teórico no campo da animação/ recreação encontrei o Manual de lazer e recreação, O mundo lúdico ao alcance de todos, de Silva e Gonçalves (2017), e no campo do jogo e do jogo no teatro, Ryngaert (2009), Pereira (2015), Pavis (2008), Spolin (2008), entre outros.
Realizei, também, observação participativa tanto nas festas quanto em sala de aula; busquei, na memória, ações em comum e diferentes que eu tinha nas duas situações, ou seja, em eventos e em sala de aula.
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Sejam em eventos ou em sala de aula, são nos momentos das brincadeiras, nas quais a utilização da imaginação é mais presente, é que as crianças menores se identificam e são muito mais participativas. Aqui, portanto, pretendo fazer um apanhado dos pontos de interseção, com suas respectivas reflexões, entre teatro e animação de eventos, por meio de minhas observações como animadora/recreadora e educadora, dando ênfase às reflexões sobre jogos e brincadeiras na animação de festas infantis e na sala de aula. Esses pontos são: a presença e o jogo.
2 ANIMAÇÃO DE EVENTOS
Gostaria de começar este tópico pelo significado da palavra animação, que podemos encontrar em vários dicionários da língua portuguesa. Animação é a ação, ato ou efeito animar, de dar alma, ou vida a algo. É um estado de exaltação, atividade vigorosa, amor intenso, alegria e entusiasmo, brilho no olhar, cor viva nas faces ou vivacidade na expressão fisionômica. E animador é aquele que anima, estimula ou encoraja alguém. Pessoa que anima e conduz uma reunião ou um espetáculo, atraindo a atenção do público. É um dinamizador e incentivador.2 Considero, aqui, o animador de eventos como aquele que sugere e guia as brincadeiras em um evento, que demonstra alegria em estar presente nessa atividade, aquele que está sempre alerta, com disposição para brincar e não deixar ninguém parado. O objetivo maior dele é entreter e integrar as crianças e os convidados nas atividades de recreação da festa. É aquela pessoa disposta a estar sempre com um “sorriso no rosto”, brilho no olhar. É alguém que executa, nas festas infantis, atividades animadas, entre elas: pinturas faciais, maquiagens de neon, maquiagens infantis, pinturas de cabelo, faz tererês de linhas coloridas e tranças com fitas
2 Miniaurélio, 2000; Houaiss, 2001; Michaellis on line, https://michaelis.uol.com.br/modernoportugues/busca/portugues-brasileiro/anima%C3%A7%C3%A3o/. Acesso em: 15 set. 2018.
de cetim, faz tatuagens adesivas, esmalta as unhas com glitter, organiza oficinas diversas, tais como: desenhos, pinturas, cupcakes, bichinhos de balão, bijuterias, modelagem de massinhas, confecção de máscaras, entre outros, e organiza brincadeiras e gincanas. É aquele que faz a hora do brinde especial para o aniversariante do dia, organiza a hora dos parabéns, acende a vela do bolo, canta o “Parabéns” e o “É big”. Ele também acalma o aniversariante quando é necessário, faz danças animadas coreografadas e conta histórias. E ainda tem disposição para fazer o que mais for preciso para tornar a festa especial e animada, afinal, esse é o papel do animador: realizar o sonho da criança e da família de ter um evento divertido e inesquecível. Silva e Gonçalves (2017) descrevem a importância do profissionalismo do animador como um norteador das atividades do evento. Esses autores destacam a seriedade e o respeito com o trabalho e o compromisso com o bem-estar de todos os participantes da festa. Para eles, o recreador
passa a ser a “alma” do evento, da festa ou da programação recreativa, sendo responsável pela interação e pela participação prazerosa dos praticantes. Esse profissional apresenta constante relação social com as pessoas, de forma individual, em pequenos ou grandes grupos; portanto, é importante a sua apresentação de forma simpática e positiva. Ser gentil, simpático e respeitoso são adjetivos fundamentais aos recreadores (SILVA e GONÇALVES, 2017, p. 53).
Aqui, considero animador e recreador como sinônimos. Outra definição de recreador, abordada pelos autores, foi elaborada pela Associação Brasileira de Recreadores (Abre):
recreador é aquele que interage com pessoas, sobretudo com grupos, diretamente, e traduz cultura em atividades de recreação e lazer, de modo a atrair e mobilizar pessoas em programações fixas, regulares e de eventos, dispondo, para isso, de sua capacidade de sintonizar com o gosto do público. O profissional dessa área precisa ter presentes a sensibilidade da ludicidade e a capacidade de interpretar as expectativas do grupo (SILVA e GONÇALVES, 2017, p. 52).
A denominação recreador, animador e monitor, em grande parte das vezes, representa a mesma função, principalmente quando citados por pessoas que não conhecem a oferta de serviços de animação e lazer. Porém, o termo monitor é uma nomenclatura mais utilizada para designar profissionais que dão suportes em brinquedos ou auxiliam nas atividades propostas pelos animadores/recreadores. Sobre isso, Silva e Gonçalves (2017) afirmam que
os profissionais de lazer recebem várias denominações, como animadores socioculturais, instrutores, recreadores e monitores, que trazem uma carga semântica mais leve, aparentemente descompromissada e menos ambiciosa. Sugerem moças e rapazes simpáticos, aplicados e atenciosos, sempre prontos a fazer alguma “animação” para espantar o nosso tédio, a organizar uma festa ou um show para as
crianças ou adultos, sempre solícitos sobre o que fazer com o tempo livre (Op. Cit. p. 52).
O serviço de animação tem papel de destaque nas festas, pois é o momento em que as crianças mais se divertem e se soltam. Recebo vários feedbacks dos pais, dizendo que as crianças participaram das atividades em uma festa, da qual eram convidados, e chegaram em casa, pedindo para os pais que chamassem esses animadores para sua festa. A animação de eventos tem seu auge no momento das brincadeiras, quando as crianças interagem com maior vivacidade com as atividades propostas, socializando-se com os colegas e os profissionais que estão presentes na festa. Sobre a importância das brincadeiras, Pereira aponta que o
brincar é, também, uma proposição de estar em contato com o outro, seja direta ou indiretamente. Essa ação implica numa disponibilidade interna que é refletida no brilho dos olhos e na expressão geral do corpo, enfrentando valores, preconceitos e redimensionando toda uma atitude em que os grupos humanos dos adolescentes e dos adultos teimam em insistir: brincar é só para crianças e as brincadeiras são supérfluas e nada contribuem para o dia-a-dia da vida (PEREIRA, 1997, p. 59).
Relacionando esse apontamento de Pereira (1997) sobre o brincar com o significado de animador e animação, faz-se relevante enfatizar que o brilho no olho é o verdadeiro diferencial entre o bom animador e o “desanimador”. Percebi que outras pessoas também observam esse “brilho” como algo fundamental, como menciona Rafael Zanon3 ,
é característica primária do animador se redescobrir sempre, e ter sempre um brilho no olhar, [...] como você vai trazer felicidade para o outro, se você mesmo não é o espelho dessa felicidade, [...] acho que o brilho no olhar, ele é fator primário em alguém que quer trabalhar com animação, que quer ser o animador (ZANON, 2018 entrevista).
Além do brilho do olhar, para que o profissional consiga transmitir essa alegria, é preciso que ele esteja atento ao seu público, às suas necessidades e à sua energia no dia do evento. Assim,
trabalhar com a animação não significa atuar de forma estereotipada ou como um “apresentador de auditório”, que procura estimular o consumo alienado do divertimento, mas sim intervir com a ideia da construção coletiva da satisfação, do prazer e da alegria, e isto implica lidar com limites e possibilidades das mais diversas ordens (ISAYAMA, 2009, p. 410/411).
3 Ator, bacharel em Teatro pela UFMG e Animador, há mais de 10 anos no mercado de trabalho, atuando em várias empresas de animação, em 2018, fundou sua própria empresa, a Criativerso.