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2 ANIMAÇÃO DE EVENTOS

UFMG, os quais, também, trabalham com animações de eventos, porém, infelizmente, não consegui entrevistar todos nessa minha breve pesquisa. Como referencial teórico no campo da animação/ recreação encontrei o Manual de lazer e recreação, O mundo lúdico ao alcance de todos, de Silva e Gonçalves (2017), e no campo do jogo e do jogo no teatro, Ryngaert (2009), Pereira (2015), Pavis (2008), Spolin (2008), entre outros.

Realizei, também, observação participativa tanto nas festas quanto em sala de aula; busquei, na memória, ações em comum e diferentes que eu tinha nas duas situações, ou seja, em eventos e em sala de aula.

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Sejam em eventos ou em sala de aula, são nos momentos das brincadeiras, nas quais a utilização da imaginação é mais presente, é que as crianças menores se identificam e são muito mais participativas. Aqui, portanto, pretendo fazer um apanhado dos pontos de interseção, com suas respectivas reflexões, entre teatro e animação de eventos, por meio de minhas observações como animadora/recreadora e educadora, dando ênfase às reflexões sobre jogos e brincadeiras na animação de festas infantis e na sala de aula. Esses pontos são: a presença e o jogo.

2 ANIMAÇÃO DE EVENTOS

Gostaria de começar este tópico pelo significado da palavra animação, que podemos encontrar em vários dicionários da língua portuguesa. Animação é a ação, ato ou efeito animar, de dar alma, ou vida a algo. É um estado de exaltação, atividade vigorosa, amor intenso, alegria e entusiasmo, brilho no olhar, cor viva nas faces ou vivacidade na expressão fisionômica. E animador é aquele que anima, estimula ou encoraja alguém. Pessoa que anima e conduz uma reunião ou um espetáculo, atraindo a atenção do público. É um dinamizador e incentivador.2 Considero, aqui, o animador de eventos como aquele que sugere e guia as brincadeiras em um evento, que demonstra alegria em estar presente nessa atividade, aquele que está sempre alerta, com disposição para brincar e não deixar ninguém parado. O objetivo maior dele é entreter e integrar as crianças e os convidados nas atividades de recreação da festa. É aquela pessoa disposta a estar sempre com um “sorriso no rosto”, brilho no olhar. É alguém que executa, nas festas infantis, atividades animadas, entre elas: pinturas faciais, maquiagens de neon, maquiagens infantis, pinturas de cabelo, faz tererês de linhas coloridas e tranças com fitas

2 Miniaurélio, 2000; Houaiss, 2001; Michaellis on line, https://michaelis.uol.com.br/modernoportugues/busca/portugues-brasileiro/anima%C3%A7%C3%A3o/. Acesso em: 15 set. 2018.

de cetim, faz tatuagens adesivas, esmalta as unhas com glitter, organiza oficinas diversas, tais como: desenhos, pinturas, cupcakes, bichinhos de balão, bijuterias, modelagem de massinhas, confecção de máscaras, entre outros, e organiza brincadeiras e gincanas. É aquele que faz a hora do brinde especial para o aniversariante do dia, organiza a hora dos parabéns, acende a vela do bolo, canta o “Parabéns” e o “É big”. Ele também acalma o aniversariante quando é necessário, faz danças animadas coreografadas e conta histórias. E ainda tem disposição para fazer o que mais for preciso para tornar a festa especial e animada, afinal, esse é o papel do animador: realizar o sonho da criança e da família de ter um evento divertido e inesquecível. Silva e Gonçalves (2017) descrevem a importância do profissionalismo do animador como um norteador das atividades do evento. Esses autores destacam a seriedade e o respeito com o trabalho e o compromisso com o bem-estar de todos os participantes da festa. Para eles, o recreador

passa a ser a “alma” do evento, da festa ou da programação recreativa, sendo responsável pela interação e pela participação prazerosa dos praticantes. Esse profissional apresenta constante relação social com as pessoas, de forma individual, em pequenos ou grandes grupos; portanto, é importante a sua apresentação de forma simpática e positiva. Ser gentil, simpático e respeitoso são adjetivos fundamentais aos recreadores (SILVA e GONÇALVES, 2017, p. 53).

Aqui, considero animador e recreador como sinônimos. Outra definição de recreador, abordada pelos autores, foi elaborada pela Associação Brasileira de Recreadores (Abre):

recreador é aquele que interage com pessoas, sobretudo com grupos, diretamente, e traduz cultura em atividades de recreação e lazer, de modo a atrair e mobilizar pessoas em programações fixas, regulares e de eventos, dispondo, para isso, de sua capacidade de sintonizar com o gosto do público. O profissional dessa área precisa ter presentes a sensibilidade da ludicidade e a capacidade de interpretar as expectativas do grupo (SILVA e GONÇALVES, 2017, p. 52).

A denominação recreador, animador e monitor, em grande parte das vezes, representa a mesma função, principalmente quando citados por pessoas que não conhecem a oferta de serviços de animação e lazer. Porém, o termo monitor é uma nomenclatura mais utilizada para designar profissionais que dão suportes em brinquedos ou auxiliam nas atividades propostas pelos animadores/recreadores. Sobre isso, Silva e Gonçalves (2017) afirmam que

os profissionais de lazer recebem várias denominações, como animadores socioculturais, instrutores, recreadores e monitores, que trazem uma carga semântica mais leve, aparentemente descompromissada e menos ambiciosa. Sugerem moças e rapazes simpáticos, aplicados e atenciosos, sempre prontos a fazer alguma “animação” para espantar o nosso tédio, a organizar uma festa ou um show para as

crianças ou adultos, sempre solícitos sobre o que fazer com o tempo livre (Op. Cit. p. 52).

O serviço de animação tem papel de destaque nas festas, pois é o momento em que as crianças mais se divertem e se soltam. Recebo vários feedbacks dos pais, dizendo que as crianças participaram das atividades em uma festa, da qual eram convidados, e chegaram em casa, pedindo para os pais que chamassem esses animadores para sua festa. A animação de eventos tem seu auge no momento das brincadeiras, quando as crianças interagem com maior vivacidade com as atividades propostas, socializando-se com os colegas e os profissionais que estão presentes na festa. Sobre a importância das brincadeiras, Pereira aponta que o

brincar é, também, uma proposição de estar em contato com o outro, seja direta ou indiretamente. Essa ação implica numa disponibilidade interna que é refletida no brilho dos olhos e na expressão geral do corpo, enfrentando valores, preconceitos e redimensionando toda uma atitude em que os grupos humanos dos adolescentes e dos adultos teimam em insistir: brincar é só para crianças e as brincadeiras são supérfluas e nada contribuem para o dia-a-dia da vida (PEREIRA, 1997, p. 59).

Relacionando esse apontamento de Pereira (1997) sobre o brincar com o significado de animador e animação, faz-se relevante enfatizar que o brilho no olho é o verdadeiro diferencial entre o bom animador e o “desanimador”. Percebi que outras pessoas também observam esse “brilho” como algo fundamental, como menciona Rafael Zanon3 ,

é característica primária do animador se redescobrir sempre, e ter sempre um brilho no olhar, [...] como você vai trazer felicidade para o outro, se você mesmo não é o espelho dessa felicidade, [...] acho que o brilho no olhar, ele é fator primário em alguém que quer trabalhar com animação, que quer ser o animador (ZANON, 2018 entrevista).

Além do brilho do olhar, para que o profissional consiga transmitir essa alegria, é preciso que ele esteja atento ao seu público, às suas necessidades e à sua energia no dia do evento. Assim,

trabalhar com a animação não significa atuar de forma estereotipada ou como um “apresentador de auditório”, que procura estimular o consumo alienado do divertimento, mas sim intervir com a ideia da construção coletiva da satisfação, do prazer e da alegria, e isto implica lidar com limites e possibilidades das mais diversas ordens (ISAYAMA, 2009, p. 410/411).

3 Ator, bacharel em Teatro pela UFMG e Animador, há mais de 10 anos no mercado de trabalho, atuando em várias empresas de animação, em 2018, fundou sua própria empresa, a Criativerso.

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