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3 MERCADO DE TRABALHO – ANIMAÇÃO E RECREAÇÃO

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REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

Silva e Gonçalves (2017) descrevem os direitos e deveres do recreador. Dentre eles, destaco os seguintes: animar e liderar as atividades recreativas, zelar pelos materiais utilizados nas atividades, respeitar e adequar as regras dos jogos, das brincadeiras e da utilização dos brinquedos de acordo com a faixa etária e perfil das crianças participantes. Eles devem também considerar que cada evento requer um trabalho específico, levando em consideração que cada grupo de pessoas é diferente. Babita Faria (2018)4, em um trecho da sua entrevista, falou um pouco sobre o perfil do animador/recreador. Para ela,

existem várias formas de ser recreador. Existem vários perfis de recreador. Você precisa encontrar o seu e saber se é recreação mesmo que você quer fazer, porque é uma profissão, não é um bico, é uma profissão que exige dedicação, disponibilidade, atenção, carinho, [precisa saber] um básico de primeiros socorros, te exige muito, é um trabalho, um trabalho sério (FARIA, 2018 - entrevista).

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Assim, acredito que, para ser um bom profissional e ter destaque nesse mercado de eventos e festas, é preciso levar a profissão de animador a sério, com responsabilidade, preparação e sempre estar em busca de novos conhecimentos teóricos, unindo-os à prática.

3 MERCADO DE TRABALHO – ANIMAÇÃO E RECREAÇÃO

O aumento da quantidade dos eventos sociais no Brasil confirma o forte crescimento da demanda por profissionais capacitados para trabalharem nos eventos, ou seja, animadores/recreadores que compreendam os desejos do cliente, das empresas de eventos e tenham formação para realizar tanto ações artísticas quanto educacionais. No livro, Planejamento, organização e sustentabilidade em eventos: Culturais, sociais e esportivos, a autora Marlene Matias (2011) aponta o Brasil entre os países com maior número de eventos sociais no ranking mundial. Ela destaca a importância econômica e social dos eventos culturais em nosso país, tais como espetáculos de música, teatro e eventos de forma geral. Aponta o segmento da animação e recreação como um mercado crescente e promissor, da mesma forma que alguns autores descreveram em seus artigos apresentados no ENAREL (Encontro Nacional de Recreação e Lazer) do ano de 1997. Camargo (1997) afirmava naquela época que “o mercado de trabalho em lazer é, no presente, enorme, e, no futuro, ainda mais

4 Atriz formada pelo Teatro Universitário da UFMG, animadora e empresária proprietária da Ciranda de Roda, empresa de animação há mais de 5 anos no mercado de Belo Horizonte, que começou como MEI e atualmente já é uma Microempresa.

promissor (o especialista em lazer e recreação tem um lugar assegurado no futuro do mercado de trabalho segundo todas as projeções que se leem diariamente nos jornais)” (CAMARGO, 1997, p. 684). As previsões de 21 anos atrás se mostraram verdadeiras e, ainda hoje, há uma crescente demanda de eventos, mesmo em meio à crise econômica, pois as mães e os pais investem nos aniversários e em momentos de lazer com seus filhos.

Ferreira (2010) destaca algumas das diversas opções de trabalho para os profissionais da animação. Para esse autor,

[...] o “campo do lazer” é vasto para aqueles que se propuserem a realizar um trabalho competente com uma comunidade específica, esteja esta em um clube, acampamento, hotel, colônia de férias, centros comunitários, entre outros. Nota-se, também, que os futuros profissionais do lazer terão este espaço garantido ao reconhecerem maneiras de influenciar positivamente a vida das pessoas, levando-as à consciência de seus atos e de seus próprios potenciais; mas, para tanto, haverá a necessidade de atualização em relação às constantes mudanças na área específica do lazer, ou seja, não podem limitar-se ao que se sabe, é necessário uma incessante busca de novos conhecimentos. [...] Nota-se que há um espaço vasto para atuação no campo do lazer, para tanto, há necessidade de contínuo processo de atualização por parte dos profissionais que atuam nesse âmbito, tendo em vista as necessidades sociais e as transformações na sociedade atual (FERREIRA, 2010, p. 3).

Esse processo de atualização, por parte dos profissionais, pode ser realizado por meio de cursos livres, graduações, pós-graduações, cursos profissionalizantes ou, até mesmo, atividades ofertadas por empresas de animação e recreação que oferecem cursos de qualificação para os profissionais da equipe e abrem inscrição para outros interessados, como as empresas de animação de Belo Horizonte. Dentre estas, destaco: Tio Girafa, Tia Batatinha, Ciranda de roda e Quem Sonha5. Ainda sobre os cursos oferecidos no mercado, para formação de profissionais do lazer,

existe a possibilidade de, após se formar em Turismo, Educação Física ou Pedagogia, o profissional realizar uma especialização e se tornar recreador de nível superior. Ou ainda através de cursos de capacitação voltados a formar recreadores e animadores culturais para pessoas que não possuem graduação, mas, sim, nível médio e fundamental. Nesses cursos, você irá aprender sobre os conceitos e definições de lazer, o lazer como um produto de consumo, os consumidores dos serviços de lazer (crianças, adolescentes, adultos, gestantes, terceira idade e grupos com necessidades especiais), o mercado turístico para a recreação e o lazer, a infraestrutura, os equipamentos e os serviços turísticos, as características do profissional recreador, as relações de trabalho na equipe de animação e recreação, noções de primeiros socorros e de como agir em situações de emergência, o planejamento e a organização do lazer, o projeto de recreação, entre outros.6

5 A maioria das empresas de Belo Horizonte abre inscrições para cursos na área de recreação, pelo menos duas vezes ao ano, seja para atualização da sua própria equipe ou para treinar e selecionar novos profissionais que têm interesse em trabalhar nas respectivas empresas. 6 Disponível em https://cursoprofissionalizante.org/recreacionista/. Acesso em: 16 set. 2018.

No livro, O corpo lúdico: lazer e cidadania, organizado por Patrícia de Araújo (2013), ela cita ainda os cursos de Turismo, Lazer, Serviços Sociais, Pedagogia, Hotelaria, Sociologia, Artes Cênicas e Educação, nos quais há presença de disciplinas voltadas para animação. Segundo a autora, a grade curricular desses cursos possui disciplinas especificas para o Lazer. As pontuações feitas por ela são muito interessantes, pois, realmente, vejo estreita ligação entre o trabalho de Artes Cênicas e Lazer, porém, na UFMG, não me recordo de ter cursado nenhuma disciplina específica, com essa temática, na graduação em Teatro. Considero, porém, o Lazer e a animação de eventos como áreas de atuação profissional, tanto para bacharéis quanto para licenciados em Teatro.

Percebi que, além de existirem consumidores de lazer de todas as idades, existem, também, espaços destinados ao lazer que estão disponíveis e têm reais demandas por atividades de recreação. Esses locais são diversos, assim deixando evidente que

existem várias áreas de atuação para o profissional de recreação, entre elas, Colônia de Férias, Acampamentos, Hotéis, Resorts, Spas, Eventos, Aniversários, Empresas, Navios, Condomínios, Escolas, entre outros. Algumas dessas áreas com contratação por hora, outros por diária, pernoite, semanal, semestral e outras com contratação para temporada de 1, 2, 3, ou 6 meses como atividades de recreação em navios.”7

As possíveis áreas de atuação variam, assim como a média dos cachês recebidos pelos profissionais que trabalham com animação de evento. De acordo com a minha experiência e variação dos cachês que já recebi, a remuneração é em torno de R$50,00 a R$200,00 para trabalhos com duração de 03 a 04 horas, chegando ao máximo de 06 horas por evento, em Belo Horizonte e região metropolitana. Em minhas sondagens sobre a variação de cachê dos profissionais da animação e recreação encontrei as seguintes informações:

O salário para recreador pode ser muito variável. Em geral, as empresas pagam esses profissionais por diária, já que é muito comum a contratação dos mesmos em períodos específicos. Um monitor de buffet infantil, por exemplo, ganha em média R$60 por dia. Em acampamentos esse valor sobe para R$ 90 e em navios a diária poderá ser ainda maior. Em média, é possível que um recreador tenha um salário entre R$3 e R$ 4 mil mensais 8

A diária de um recreador fica entre R$ 60,00 a R$ 180,009

7 Disponível em https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao-fisica/profissional-de-recreacaoas-vantagens-de-seguir-esse-caminho/32738. Acesso em: 16 set. 2018. 8 Disponível em https://cursoprofissionalizante.org/recreacionista/. Acesso em: 16 set. 2018. 9 Disponível em http://www.clubedosrecreadores.com/sr-fica-a-dica.php. Acesso em: 16 set. 2018.

Um profissional free-lancer, que trabalha com eventos, ganha um cachê que varia de R$ 120 a R$ 200 para um período médio de seis horas de trabalho.10

Na entrevista que realizei com Samuel Macedo11, perguntei-lhe qual forma de pagamento das empresas de animação e uma média de cachês recebidos pelos profissionais, e ele me informou que é em torno de cem reais, para 1 hora e 30 minutos de evento, e que os pagamentos são realizados em dinheiro, logo após a prestação do serviço. Percebo que a maioria das empresas de menor porte pagam seus freelancers em dinheiro na hora do evento, porém as empresas de maior porte pagam por mês, como o caso da Recreart, a qual tem um dia certo por mês para os profissionais buscarem seus pagamentos ou receberem via depósito bancário. A partir desse panorama de valores de cachê recebidos, é importante retomar a diferenciação entre monitor e animador/recreador, pois o monitor geralmente é aquele que ajuda e orienta as crianças a entrarem e saírem de brinquedos, como cama-elástica, pula-pula; auxilia na entrega de materiais em oficinas, na organização das crianças; auxilia o animador nas atividades de forma geral. Já o recreador/animador é aquele que orienta e guia as atividades, que tem uma voz ativa; traz, em sua figura e sua postura, entusiasmo e mais alegria para o evento. Portanto, o cachê do monitor e do animador é diferenciado, sendo mais bem remunerados os animadores/recreadores.

Ao ler o livro, Lazer e Mercado (WERNECK, STOPPA e ISAYAMA, 2001), vi minha vida profissional ser descrita. Nele, os autores afirmam que os profissionais de lazer serão cada vez mais solicitados, em um mercado em exponencial crescimento. Apontam, ainda, que a forma de trabalho seria, em sua grande maioria, autônomos, microempreendedores ou freelancer. O termo atualmente utilizado para nomear o profissional autônomo é freelancer. Antigamente, essa forma de trabalho era chamada de “trabalho de bico”, termo este utilizado pelos autores para descrever o ofício dos profissionais no mercado de lazer. Em seus textos, os autores refletem sobre como são as formas de contratação e oferta de trabalho para os animadores/recreadores. Dispõem, também, a informação de que, há alguns anos, somente as classes mais baixas da sociedade trabalhavam de “bico”, pois não encontravam outra forma de inserção e/ou oportunidades no mercado de trabalho.

10 Disponível em http://www.abeoc.org.br/2013/12/empresas-de-eventos-pagam-ate-r-4-mil/?s=festas+infantis. Acesso em: 16 set. 2018. 11 Ator, professor e animador, formado pelo curso técnico de Teatro da PUC/MG e Licenciado em Teatro pela UFMG. Trabalha com animação desde 2016, nas empresas: Imagina, FIFI produções, Dream Animações e Manupic.

Os autores apontam, ainda, o crescimento dessa maneira informal de contratação, sem vínculos empregatícios ou contratos formais, e afirmam que essa será uma característica desse serviço, que passará, cada dia mais, a ser encontrada em todas as classes sociais. O que realmente vem se comprovando, sendo o freelancer não mais um trabalho somente realizado por pessoas com poder aquisitivo mais baixo, mas por todas as pessoas que não encontram uma oportunidade rentável com contrato formal e benefícios garantidos por lei. Concordo com a maioria das pontuações feitas pelos autores, pois, como animadora, tenho um leque de oportunidades de trabalho, mas somente como microempreendedora é que, realmente, encontro oportunidades reais e com melhores remunerações, o que implica perder grande parte dos direitos trabalhistas. Michel Sarantides12, em sua entrevista, falou a respeito da sociedade que tem com Rafael Zanon e Thereza Leon, na empresa de animação Criativerso, relatando que os três se sustentam, exclusivamente, com o trabalho na animação de eventos. Ele disse, também, que trabalha

apenas com a animação, e o difícil de hoje é eu estar ainda graduando em Teatro, e ter que estudar e trabalhar [...] tanto que tenho que recusar alguns eventos. E mesmo eu recusando alguns eventos, eu consigo tirar uma renda muito boa, que me ajuda a vir pra faculdade e a me manter. É extremamente importante esse trabalho e é o que está me sustentando hoje (SARANTIDES, 2018 - Entrevista).

Escutar os entrevistados, ler e refletir sobre essa forma de contratação e trabalho, que foi descrita em um livro de 2001, me fez perceber que o mercado, há muito tempo, vem crescendo para quem quer empreender, como no meu caso, e também no caso dos entrevistados. Notei que a maioria desses profissionais tem suas próprias empresas e estão se sustentando exclusivamente com o trabalho na animação de eventos. Após ler três edições publicadas pelo ENAREL (Encontro Nacional de Recreação e Lazer) percebi a grande presença do sistema “S”, o qual é composto por grupos que tradicionalmente atuavam, e ainda atuam, na área de Recreação e Lazer, como por exemplo, SESC, SESI, SENAC e, também, da ACM que não faz parte do sistema “S”. Esses grupos sempre são citados como pioneiros na busca pela melhoria do campo da recreação e da oferta de qualidade de atividades recreativas. O único lugar em que trabalhei com carteira assinada, mesmo que em uma vaga temporária, com o cargo de recreadora, foi no SESC. Percebo que eles prezam pela valorização do profissional da Recreação e Lazer e mantêm uma equipe fixa

12 Ator, estudante da graduação em Teatro na UFMG, animador e sócio na Criativerso. Trabalhou também nas empresas animação Recreart e Imagina BH.

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