sas”, Williams propõe a comunidade de cultura em que a questão central é facilitar o acesso de todos ao conhecimento e aos meios de produção cultural. A ideia de uma cultura em comum é apresentada como uma crítica e uma alternativa à cultura dividida e fragmentada que vivemos. Trata-se de uma concepção baseada não no princípio burguês de relações sociais radicadas na supremacia do indivíduo, mas no princípio alternativo da solidariedade que Williams identifica com a classe trabalhadora. (CEVASCO, p. 20, 2003)
Concebe-se, aqui, que o domínio da cultura não é um campo estático, mas aberto à contestação – à reapropriação. O questionamento do que é alta cultura ou, mais importante, de quem decide o que é relevante culturalmente, é a inserção de uma perceptiva materialista. Assim, os bens culturais são resultado de meios (também) materiais de produção, algo que concretiza relações sociais envolvendo convenções e instituições. Ao pensar a cultura como força produtiva, o materialismo cultural a introduz no mundo real como uma consciência tão prática quanto a linguagem em que é interpretada. A partir do pós-modernismo, a cultura única é substituída por culturas diversas. “O foco não é mais a conciliação de todos nem a luta por uma cultura em comum, mas as disputas entre as diferentes identidades nacionais, étnicas, sexuais ou regionais”. (CEVASCO, p. 24, 2003). Desse modo, o conceito de cultura não é mais restrito à esfera ideal, sem parte com o mundo onde efetivamente adquire sentido. Lidar com a cultura como um modo de vida, segundo Raymond Williams, demonstra que a cultura é algo comum a toda sociedade, incluindo – além de modos de criação – significados e valores que organizam o comum. Logo, é possível ampliar a noção de valor cultural para além de obras “superiores”, anexando também a criação de novos princípios de organização da vida social; como, de forma evidente, um princípio alternativo de identidade a partir da produção de sentidos como formas de construção e não apenas de reconstrução de significados e valores sociais.
Identidade(s) As velhas identidades, estabilizantes do mundo social, estão em colapso. Numa concepção sociológica, o conceito de identidade é multifacetado. Parafraseando Anthony Giddens (2005), a identidade se relaciona a um conjunto de compreensões formadas frente a certos atributos prioritários sobre outras fontes de sentido e significado, como gênero, nacionalidade e etnicidade. Contudo, há dois tipos de identidade, analiticamente distintas, mas intimamente correlatos entre si: a identidade social e a auto-identidade, ou a identidade pessoal. A identidade social está conectada às características que são dadas ao sujeito pelo outro, podendo ser marcadas como indicadores – em um sentido superficial – da “essência” básica da personalidade do indivíduo, além de posicionar esse indivíduo em relação a outras pessoas; como, por exemplo, o estudante, o artista e o disléxico. Com isso, percebe-se a impossibilidade do atributo único na identidade social do sujeito. Uma pessoa poderia ser simultaneamente uma mãe, uma engenheira, muçulmana e uma vereadora. Múltiplas identidades sociais refletem as muitas dimensões das vidas das pessoas. Embora essa pluralidade de identidades sociais possa ser uma fonte potencial de conflitos para as pessoas, a maioria dos indivíduos organiza o significado e a experiência em suas vidas em torno de uma identidade primária que é razoavelmente contínua através do tempo e do espaço. (GIDDENS, p. 44, 2005)
Envolvendo uma dimensão coletiva, as identidades sociais são identidades compartilhadas cujo conjunto de valores culturais comuns torna-se uma fonte extremamente relevante de significado. A auto-identidade, entretanto, faz o inverso: separa os sujeitos como indivíduos distintos. Essa identidade pessoal lida com o processo de autodesenvolvimento através do qual um sentido úni-