conservadoras e práticas, assim como suas consequências no “retrato do país”. Questionada sobre a construção de um imaginário que reforce determinada identidade de interesse oficial, a projetista Thereza Fidalgo responde em entrevista a Amaury Silva que “a identidade é uma coisa política”, colocando claramente que a questão da escolha do tema, das efígies e dos demais elementos visuais das cédulas são ações de ordem política. De acordo com Silva, apesar de haver uma preocupação pelos funcionários de criação de retratar visualmente no papel-moeda aquilo que melhor reflete o discurso dos “próprios brasileiros sobre a brasilidade”, percebe-se que essa concepção é visivelmente abandonada no real. Entretanto, essas (não) narrativas ideológicas dissimuladas em curso – enquanto signos visuais – criam significativas relações de apropriação das cédulas. Ao tratar o dinheiro como objeto, o papelmoeda torna-se mais que representação do valor, tornando-se expressão própria de aspectos culturais, políticos e sociológicos. Na cédula, discursos complexos de visões idealizadas de brasilidades – populares ou elitistas – fazem dela um espaço de construção das narrativas da identidade nacional. E esse espaço é algo que precisa ser ocupado – e renacionalizado.
O real apropriado Antes de prosseguir, é preciso revisitar Aloísio Magalhães. Segundo Joaquim Falcão (1997) havia duas frases, sínteses do panorama cultural brasileiro, que Aloísio repetia com frequência: “A homogeneidade é a inverdade” e “o universal não é o igual”. A primeira se assemelha consideravelmente ao que foi tratado no primeiro capítulo com Stuart Hall, também resumida por Nelson Rodrigues como “toda unanimidade é burra”. Resgata aspectos pós-modernos da cultura e da identidade, reconhecendo-as como entidades plurais e fragmentadas. A segunda frase, parafraseando Falcão, não somente reafirma a primeira, como se propõe ir mais além. “Não é tentando fazer o que outros já fizeram que vamos ser universais. Não se deve confundir o processo de criação, que é necessariamente