sus.pen.der v.t. 1. Erguer; alçar. 2. Pendurar. 3. Interromper temporariamente. 4. Privar provisoriamente de vantagens. 5. Fazer cessar; sustar. 6. Ficar suspenso.
{ introdução } Como a arte pode promover uma ação transformadora dentro do contexto social? De que maneira poderia ressignificar um discurso oficial através da imagem? Como inventar e fazer circular dispositivos, de forma a deslocar estruturas de poder? Ao tratar o dinheiro como fenômeno social e não somente como sistema monetário, seria possível suprir uma crise de identidade gerada por uma estrutura preconcebida do pictórico que se desenvolve desconsiderando o contexto sociocultural daquilo que (deveria) refletir? Entre as quatro indagações iniciais do presente estudo, como mudar e se é possível mudar é um eixo disparador em comum. No início de Culturas Híbridas, Néstor Canclini indaga sobre como saber quando um campo do conhecimento muda. Canclini responde que essas modificações são perceptíveis quando alguns conceitos irrompem com força, deslocam outros ou exigem certa reformulação. Conceitos como cultura e identidade, portanto, são dois termos destoantes que abrem uma discussão interessante, ainda mais quando confrontados com aspectos de representatividade gráfica do papel-moeda, objeto central e razão dessa pesquisa. Com isso, o primeiro capítulo manobrou especificidades do pensamento sociológico (e antropológico) em relação aos aspectos da cultura e da identidade contemporânea. As paradoxias e dicotomias dessas complexas formações, consequên-
cias de um processo sócio-cultural imbricado por uma “ninguendade” típica do pós-colonialismo, são alicerces para compreender posteriormente a influência do papel-moeda enquanto integrante de uma cultura visual cotidiana do brasileiro. Nas relações transversais tratadas no capítulo 1, há uma diluição das fronteiras dos binarismos simplistas de nacional e coletivo, de oficial e popular, de ideologia e mito, suspendendo-os. Daí o título do trabalho. Embora suspensas, essas identidades distintas mantêm-se presentes, coexistindo frente à continuidade dos processos históricos de poder e dominação. É nessa saga de livrar-se da suspensão de ser ninguém – não-índio, não-europeu e não-negro –, que germina forçadamente uma identidade brasileira, construída por si mesma e já plenamente consciente de seu caráter único. Frente à problemática da identidade nacional, iniciou-se no capítulo 2 um panorama de rearranjos históricos – conscientemente incompleto – de etapas específicas do desenvolvimento numismático brasileiro, consideradas mais relevantes para as questões a serem levantadas. É importante ressaltar aqui a escolha das cédulas comentadas, e particularmente das notas excluídos da análise. Embora a presente pesquisa seja um estudo em Artes Gráficas, a estética numismática não foi o ponto central do trabalho. E nunca foi pretensão ser. O foco aqui é no conteúdo exposto graficamente, independente de forma, cor e composição, pois a discussão medular é a noção de inclusão do outro e a forma como a arte manuseia o papelmoeda como dispositivo; esses aspectos sendo absolutamente fundamentais para a compreensão formal do trabalho.