CAPÍTULO 3 – UMA PROFESSORA DE SAIA. O QUE HÁ DE ESTRANHO NISSO? Era um dia especialmente quente. Cheguei à escola para ministrar uma aula de teatro com as turmas do oitavo ano. Usava um vestido cor-de-rosa, a cor não era forte, era um tom de rosa mais claro, com várias flores em tons de rosa mais escuro. O vestido que marca minimamente a cintura vai até os joelhos. Tinha uma gola larga e um lacinho de fita no centro também rosa. Entrei diretamente na sala dos professores que, como de praxe, me cumprimentavam com um simples “oi” distante e sem graça, como se cumprimenta alguém conhecido do qual não fazemos muita questão. Ao descer para a sala de artes, onde encontraria com minha turma para irmos à sala de teatro deparo-me com outra bolsista que estagiava comigo também no teatro. Antes de um “oi”, assustada, ela foi logo dizendo: “Você vai dar aula com essa roupa?”, na hora respondi que sim. Imediatamente ela retruca: “Você é louca, eu dou aula de calça jeans e tênis e esses meninos não me respeitam, imagina se eu venho de vestido?”. Na hora, respondi qualquer coisa do tipo, que eu não gosto de usar calças e que isso não interfere na minha relação com os estudantes. Como já tinha 25 estudantes me esperando na porta preferi não render o assunto. Fiquei com essa questão durante a aula inteira. Incomodada, fiquei arrumando o vestido no corpo a todo o momento, mexendo aqui e acolá. Prestava atenção em qualquer olhar de qualquer um dos estudantes porque de fato, comecei a ver essa roupa como um problema. Entretanto, os estudantes sequer haviam reparado que a professora não estava de calças, isso pra eles nem importava, até mesmo porque aquela não era a primeira vez que eu ia à escola de vestido e, desde a primeira vez que fui nunca notei nada que fosse causado por essa peça de roupa e não, usar vestido nas minhas aulas nunca havia sido um problema. Apresento este pequeno relato para tratar da formação dos professores no ensino de teatro. Acredito em uma proposição pedagógica Queer, insubordinada, transgressora e subversiva. Características que, de acordo com Carminda Mendes André (2008) são também próprias da arte. Pensando dessa maneira, se tornam intoleráveis questões como essa sendo colocadas por nossos colegas de ofício e, isso na verdade é apenas um sintoma social de que vivemos sob as normas que cerceam e limitam nossos corpos, normatizando seu desejo, o seu comportamento e até mesmo a sua maneira de se vestir, o seu estilo. Cabe a nós estudantes de teatro, futuros professores e também os professores dos cursos de graduação, como figuras pensantes de nossa sociedade e formadores de opinião 34