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a meu ver, é mais intelectualizada e menos prática. Assim, as formas surgidas misturavam outros elementos e revelavam uma profusão curiosa de informações. Embebido por essas percepções e referências, pareceu-me pertinente batizar aquelas criações dos alunos, que revelavam “um híbrido inassimilado, um corpo monstruoso” (CONHEN25, 2000, pág. 26) com a nomenclatura “Monstro”.
Monstros no caminho!
O intuito dali em diante era investigar como aqueles monstros poderiam ser colocados em jogo e aproveitar o engajamento da turma para vivenciar o máximo de possibilidades teatrais. A aceitação do estado “monstro” demonstrou que nossa caminhada até ali havia transformado também a forma dos alunos se envolverem com as aulas de teatro: processualmente, a turma mergulhou nas teatralidades das propostas até transformar em uma brincadeira prazerosa o corporificar outro “quem” que não eram eles, mas que estava neles 26. Há também o fator explicitado por José Gil27 quando ele afirma que “os monstros proliferam: vemo-los por todos os lados, no cinema, na banda desenhada, em gadgets e brinquedos, livros e, no teatro e na dança. Invadem o planeta, tornando- se familiares” (GIL, 2000, pág. 167). Acredito que o fato do elemento monstro povoar o cotidiano dos alunos, tenha contribuído com o interesse e a disponibilidade deles para jogarem com esta propositiva. A novidade logo se desdobrou em outras experiências teatrais nas quais aqueles “monstros” eram inseridos em diversas situações. A primeira delas aconteceu depois de realizarmos o “Baile” acrescentando o comando para permitirem que, durante a dança, os traços monstríacos aparecessem. Quando percebi que a maioria estava metamorfoseada, decidi levá-los para área externa da escola, para experimentarmos o que chamei de “Vida de monstro”. A orientação foi a seguinte:
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Jeffrey Jerome Cohen é professor de Estudos Medievais e Teoria Crítica na George Washington University. É também estudioso da cultura dos monstros. 26 Parafraseio a expressão da professora Marina Marcondes Machado [que no original escreveu “a corporificação de um “quem” (que não sou eu, mas que está em mim)”] por considerar que essa prática estava sintonizada à noção de ensino do Teatro formulada por ela e explicitada no texto Fenomenologia de Merleau-Ponty e as relações entre educação, arte e vida na pequena infância: rumo a uma Abordagem Espiral no ensino de arte (2012b). 27 Filósofo português estudioso da cultura dos monstros.