Raysner de Paula Silva - MONSTRIFIQUE-SE! Uma experiência no ensino do teatro

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I – Teatrices inventariadas Como se fazer a si mesmo antes de fazer o homem? Carlos Drummond de Andrade

O teatro existe em mim desde antes de eu existir como “gente de teatro”. Possui rastros em um quando eu-agora-menino brincava, com a roupa manchada de manga ou de nódia de carambola, no quintal da casa da minha avó Maria, de ser tudo aquilo que eu imaginava ser, em qualquer lugar que eu inventasse estar. Esse canto bem simples desse tanto de mundo fica lá em Timóteo, no interior de Minas Gerais, e era onde eu costumava passar as férias. Encontro vestígios de teatro também na meninice vivida em Betim, que fica bem perto de Belo Horizonte, mas que possui um ritmo de vida menos afoito que o da capital. Pude crescer brincando na rua, mata adentro, morro abaixo, no meio da meninada que volta e meia se dividia entre mocinhos e vilões (muitos deles inspirados nos desenhos animados e outros programas de televisão); polícia e ladrão e, por vezes, uns que pertenciam ao reino de “Um” e travavam batalhas com os outros do reino de “Outro”, munidos com espadas de pau, armaduras e naves espaciais de papelão, escudos de isopor e poderosas capas feitas dos plásticos descartados pelos donos de novos eletrodomésticos. Geralmente os lados chegavam a um tratado de paz (ou não!) quando as mães, já de noitinha, nos chamavam para dentro de casa. Foi na escola que essa brincadeira de “fazer de conta que agora a gente era” foi ganhar o nome de teatro. Ao longo dos meus anos como aluno da Educação Básica1, pude, no cotidiano escolar, me envolver com diversas montagens de peças de teatro quase sempre associadas ao calendário de datas comemorativas, ou então a encenação ilustrativa dos conteúdos de uma disciplina. Penso que essa forma dos meus antigos professores de aproximar o teatro da gente foi de grande valor, haja vista que em Betim eram raros os acontecimentos artísticos. Graças à escola pude dar os primeiros passos na arte teatral, já que meu interesse por participar de experiências artísticas era cada vez maior. Ainda mais depois de descobrir que as estórias que eu gostava de inventar podiam ganhar corpo e voz nas peças que eu escrevia para encenar durante o recreio ou em algum evento cultural da escola.

1

Ensino Fundamental, cursado na Escola Municipal Hercílio do Espírito Santo, em Betim (MG), entre os anos 1996 a 2004 e o Ensino Médio, cursado na Escola Estadual Amélia Santana Barbosa, também em Betim, entre os anos 2005 a 2007.


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