ESCOLA SECUNDÁRIA DR. JORGE AUGUSTO CORREIA FILOSOFIA,
11.º ANO
Lógica Informal – Racionalidade Argumentativa e Filosofia, n.º 2
Lê a fala seguinte de Górgias dirigindo-se a Sócrates. GÓRGIAS – […] Se um orador e um médico se apresentarem numa cidade qualquer à tua escolha, e se se discutir na assembleia do povo ou em qualquer reunião qual dos dois deve ser eleito médico, garanto-te que o médico deixa simplesmente de existir e que aquele que domina a arte da palavra se fará eleger “Platão critica a retórica sofista, pois os sofistas dão mais importância à persuasão do se quiser. que à busca da verdade e têm como principal objetivo o controlo do auditório, através Do mesmo modo, seja qual for o profissional com quem entre em competição, o da manipulação, pois tal como Górgias afirma “(…) não há qualquer matéria sobre a orador conseguirá que o prefiram a qualquer outro, porque não há matéria sobre a qual um orador não fale, diante da multidão, de maneira mais persuasiva do que qualquer profissional. Tal é a qualidade e a força desta arte que é a retórica.” Platão, Górgias, Lisboa, Ed. 70, 1997 1. A partir do texto, mostra por que razão a retórica sofística, para Platão, é uma forma de manipulação. Na tua resposta, integra, de forma pertinente, informação do texto.
“Platão critica a retórica sofista, pois os sofistas dão mais importância à persuasão do que à busca da verdade. Estes têm como principal objetivo o controlo do auditório, através da manipulação, tal como Górgias afirma: “(…) não há qualquer matéria sobre a qual um orador não fale, diante da multidão, de maneira mais persuasiva do que qualquer profissional.” Para Platão, os sofistas dão um mau uso à retórica (manipulam), pois um orador sofista estabelece uma relação de superioridade com o seu auditório e este deixa de ter liberdade de aceitar ou recusar o que lhe proposto. A capacidade de persuasão da retórica sofista é tão forte que manipula o auditório de tal forma que, neste caso, numa discussão acerca de quem obterá o cargo de médico, o orador ganha ao profissional, tal como é dito no texto:
FILOSOFIA, 11.º ANO
Racionalidade argumentativa e Filosofia
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“(…) o médico deixa simplesmente de existir e aquele que domina a arte da palavra se fará eleger (…)”, por isso são dados como falsos filósofos.” Maria Beatriz Martins “Platão defendia a procura de um conhecimento unívoco e absoluto através da dialética filosófica, cujo objetivo fundamental era a procura da verdade. Platão pretendia conduzir os seus interlocutores ao verdadeiro conhecimento, à verdade. Já os sofistas, e essa é uma das críticas de Platão à sofística, tinham objetivos meramente práticos, preocupando-se mais com a beleza do discurso, com a persuasão e com a manipulação do auditório do que com a verdade deste. Desta forma, e como refere o texto, os sofistas eram muito bons oradores, sendo capazes de persuadir qualquer pessoa sobre qualquer assunto e, por isso mesmo, estando um bom profissional e um sofista num confronto, o último consegue facilmente vencer a discussão apenas por ser um bom orador e saber usar a retórica em seu benefício. Platão considera que os sofistas não são verdadeiros filósofos, pois estes têm a tarefa de procurar a verdade absoluta, universal e impessoal, o verdadeiro conhecimento e os sofistas faziam precisamente o oposto. Platão rejeitou ainda o relativismo defendido pelos sofistas e considerou a retórica sofística como uma técnica manipuladora e demagógica, aliás como está bem presente o texto.”
Joana Rodrigues
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Professora: Carla Sardinha Edição: Ana Cristina Matias
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Racionalidade argumentativa e Filosofia
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Apesar de Platão considerar a retórica sofística como uma forma de manipulação, a verdade é que estes desempenharam um papel inovador e bastante importante na história da filosofia. Explicita dois aspetos relevantes da sofística.
“Os
sofistas
eram
conhecidos
pelo
seu
ceticismo
e
colocaram em causa a possibilidade de estabelecer conhecimento seguro, gerando assim uma discussão aberta sobre a legitimidade dos valores que guiam uma sociedade democrática originando transformações e mudanças de pensamento em cada um, o que levou ao progresso. Outro aspeto relevante da sofística foi a atribuição de grande importância às temáticas associadas ao ser humano e à sua vida em sociedade, colocando assim o homem no centro da reflexão. Os valores passam, então, a depender das crenças e dos ideais de cada um, passando o homem a ser “a medida de todas as coisas.”
Maria Inês Livramento
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Professora: Carla Sardinha Edição: Ana Cristina Matias
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“Embora muito criticados, os sofistas não eram tão eticamente incorretos como se faz parecer. Os sofistas sempre promoveram um novo modelo de educação entre jovens intervenientes, que cada vez mais se interessavam pela vida política da cidade. Os sofistas forneciam ferramentas imprescindíveis a estes jovens que, a partir daí, seriam capazes de defender tanto a tese como a antítese da mesma, o que revela um grande intelecto e interesse pela sociedade em geral. Através do discurso, os sofistas puseram em causa os valores morais e religiosos tradicionais. Com o seu ceticismo, relativismo e agnosticismo invocaram a mudança e o progresso da altura. Por considerarem que não havia valores objetivos, induziram, assim, uma maior tolerância e aceitação em relação a muitas verdades, supostamente inquestionáveis. Os sofistas podem ser considerados visionários da altura, pois para a existência do progresso seria necessária a mudança, mudança essa que desde sempre apoiaram e incentivaram através do seu método de ensino. Ana Jesus
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Professora: Carla Sardinha Edição: Ana Cristina Matias