A SEGUNDA INVASÃO FRANCESA
Ilustração - Catarina Fernandes
ESCOLA BÁSICA MOSTEIRO E CAVADO ALUNOS DO 6.º ANO 2016-2017
MAIO, 2017
REVISTA
A SEGUNDA INVASÃO FRANCESA NA PERSPETIVA DOS ALUNOS DO 6.º ANO Este projeto de articulação curricular entre as disciplinas de português, história e geografia de portugal e educação visual pretendeu relacionar
Diários, notícias e cartas escritas a
e cruzar os conhecimentos e os
partir das leituras e pesquisas
saberes das diferentes disciplinas e
efetuadas na biblioteca e nas aulas
surgiu na sequência da dinamização das atividades do referencial "Aprender com a biblioteca escolar." Numa fase preliminar, os alunos nas aulas de HGP abordaram este conteúdo curricular, documentaramse, pesquisaram sobre a segunda invasão francesa e na disciplina de português leram excertos do romance "O falcão de Bonaparte" de Mariana Morais Pinheiro e um excerto da banda desenhada do livro "História Alegre de Portugal " de António Gomes de Almeida. Numa segunda fase, escreveram cartas, diários e notícias na oficina de escrita que agora se publicam. A ilustração surgiu numa fase posterior nas aulas de educação visual. Ilustração Dinis Costa JUNHO DE 2017
II INVASÃO Francesa
Ao longo do tempo, os diários sempre foram fontes privilegiadas na reconstituição e contextualização de uma época. São textos que carregam consigo sentimentos, emoções e retalhos do quotidiano. Quinta-feira, 18 de março de 1809
Querido diário, Eles chegaram! São uns homens que se vestem de branco e azul, o meu pai diz que são os franceses. Bem, dizia até ontem. Avistámo-los ao longe e a minha mãe disse-me para me esconder.Escondi-me atrás da palha que tínhamos no campo. Enquanto isso, eu ouvia a minha mãe e o meu pai a esconderem as peças que tínhamos herdado dos nossos antepassados. Em toda a aldeia havia um clima de tensão. De repente, os franceses começaram a entrar nas casas vizinhas roubando tudo aquilo que encontravam. Lembro-me de que roubaram a casa da Senhora Alice e depois a incendiaram com ela lá dentro. Foi horrível ver o sofrimento de todos os meus vizinhos.Mais horrível foi ainda quando eles chegaram à minha casa. O meu pai pegou na sachola e a minha mãe escondeu-se comigo. Só me lembro dos franceses revirarem a minha casa do avesso e o meu pai a tentar defender-se. Mas não adiantou, o meu pai morreu, e a minha mãe, desesperada, começou a chorar ao meu lado. Mais tarde, quando eles já tinham ido embora, fomos ver a casa, tinham levado tudo: comida, vegetais, peças antigas. O meu pai continuava ali, deitado no chão, chorado pela minha mãe. Como será a nossa vida a partir daqui?O meu pai é que plantava e cuidava da horta, enquanto a minha mãe cuidava dos animais.Era ele quem me ajudava a enfrentar os problemas que tinha com os meus amigos, era ele quem me deixava ir em cima do burro até ao mercado, era aquele que cuidava de mim quando estava doente... Agora, nada disso será possível. Queria saber quem o matou e por isso perguntei á minha mãe enquanto ela estava a cozinhar. Ela olhou para mim com um olhar vago. Ficou assim durante dois minutos e depois, pousou a colher de pau e sentou-se ao pé de mim.Começou a explicar-me que ninguém sabe quem é que mata as pessoas, que eles são muitos. Mas, disse-me um nome, um nome que me pareceu ser de um homem rude, mau e insensível. Acho que o nome era Soult. Fiquei um tempo a pensar, depois vi uma lágrima cair dos olhos da minha mãe.Fiquei sem reação, mas, não sei porquê, naquele momento só quis dar-lhe um abraço, foi o abraço mais forte que já dei e sentia as suas lágrimas a molhar-me o cabelo.A partir de agora, serei só eu e a minha mãe, à espera que alguém, um dia, consiga vingar a morte do meu pai. Luana Veiga -- 6.ºC
Ilustração - Renata Dias Sábado, 13 Março 1809 Diário. Estes dias que têm passado, têm sido horríveis, dia após dia após dia as coisas têm piorado. Estes homens que por aqui passam, têm causado o caos por todo o país. Eles andam bem armados, há relatos que por aí passam que, me têm assustado. Eu tenho que avisar os meus pais porque esses homens “sem nome” podem vir à minha casa roubar, porque eles andam famintos, e sempre podem vir roubar. Mas ó diário eu não sou palerma, já tenho um plano em mente. Isso vai demorar cerca de três a quatro semanas. A minha família e a vizinhança construiremos um cerco de madeira à volta da casa maior e levaremos a maior quantidade possível de mantimentos lá para dentro e no dia em que eles passarem o cerco n´s, iremos atacar com objectos pontiagudos que os possam ferir muito. Diário, estes foram os dias passados e o meu plano para conseguir interferir nos planos deles, espero que os meu pais me entendam. Sábado 2 de Abril 1809 Diário. Finalmente hoje os meus pais ouviram- me, eles acharam uma bela ideia o plano da cerca pois, esses homens que vêm de França já estão em Vila Real. Os meus vizinhos acharam boa ideia a cerca e agora acharam boa ideia e estão a construí- la. Muitos ficaram alegres por eu uma criança, ter tido uma ideia que salvará vidas! Ó diário tu deves estar a perguntar como é que eu estou aqui a comunicar contigo.Pois eu estou na casa onde estão a construir a cerca que nos vai ajudar a derrotar os homens vindos de França. Espero que isto resulte, mas… se isto não resultar as pessoas que cresceram comigo , as que me ajudaram em tudo, vão morrer e eu sou uma criança que vai ser a culpada de várias mortes. Que há-de ser de mim! Olha, foste um bom amigo, estiveste sempre disposto a ouvir-me, mas nunca faz mal a ninguém tentar uma primeira vez. Diário, estamos a ser atacados, já morreram cinco pessoas, um vizinho e quatro atacantes. Vêm aí mais! O meu pai e os meus vizinhos estão escondidos para quando os atacantes entrarem, os atacarmos. Finalmente, diário, acabou, nós vencemos. O meu pai foi o herói, porque usou a armadura dele e a espada para os derrotar. Tomás Marques - 6º C
Fragmentos das memórias de um povo que se soube impor perante os grandes ...
Diários
Dia 25 de março de 1809
Querido diário, como já sabes chamo-me Teresa de Albuquerque, e tenho a dizer-te que estes dias estão a ser infernais. Já fomos invadidos por aqueles imundos (franceses) a primeira vez. Contudo o Napoleão Bonaparte não se contentando com a sua derrota invadiu-nos outra vez. Porém, desta vez estão mais
ferozes. Eu vivo numa casa típica de camponês mas tu já deves saber... Estavam a descer de Chaves e
dirigiram-se para a zona de Braga onde eu vivo, Merelim S. Paio, uma zona desabitada. Quando eu os vi chegar de fardas azuis escuras, montados em cavalos brancos, com as armas mais evoluídas e modernas, pensei que aquele era o nosso fim. Com um marchar glorioso a roubar tudo aquilo que viam.
As pessoas da minha terra não tinham nada disso. Armadas com sacholas e instrumentos agrícolas estavam indefesos em relação ao inimigo.
O impacto entre os dois foi memorável, no sentido negativo. Aqueles imundos em 5 segundos acabaram como os portugueses e continuaram a roubar. Estava cheia de medo e paralisada.
Mas, quando entraram na minha casa como eu não os confrontei só me roubaram.
Continuava a ver homens deitados no chão gravemente feridos e alguns cadáveres. O povo a ser roubado e
eu com a esperança de que aqueles homens de camisa azul clara e calções amarelos (tropas portuguesas) ou os ingleses que já tinham chegado a Portugal, viessem ajudar.
Eu de 20 anos, uma lavradeira, sem qualquer experiência em medicina tinha de os acudir. Com a ajuda de
alguns meus vizinhos (que ainda estavam vivos) enterrei os cadáveres, curei como sabia os feridos e levei
as pessoas que estavam quase a morrer para o hospital mais próximo. Cheguei a casa cansada mas ajudeios.
Por causa do roubo eu estava com fome e muito pobre. Perdi familiares e amigos mas não perdi a esperança de que nesta batalha Portugal sairá vitorioso. Que estes dias acabem depressa! Ana Filipa Gomes - 6.ºB
Ilustração - Andreia Cardoso
Sábado, 14 de Março 1809
Querido diário. Hoje venho-te contar os meus dias. Estão a ser um inferno. Eu, há dois dias, estava na minha casa com a minha filha, pois como tu sabes o meu marido foi morto pelos franceses. Ouviam-se gritos dos vizinhos. Estava desesperada. A minha primeira reação foi esconder os meus bens debaixo da terra. Olhei lá para fora e ao longe podia avistar-se o fumo das casas incendiadas. Os franceses entraram pela minha casa dentro e remexeram em tudo, não deixaram nenhum canto por vasculhar, viraram a minha casa do avesso. Conseguiram levar algumas coisas, mas fiquei aliviada por nem eu nem a minha filha saímos feridas ou
mesmo mortas daquela situação. Ambas estávamos desesperadas, pois tínhamos pouca comida, naquela hora era cada um por si.Então decidi ir roubar alguma comida aos vizinhos. Sei que parece mal, mas eu não ia deixar que a minha filha morresse á fome. Não sei se foi a melhor solução mas preferi deixar a minha filha em casa até barricamos a porta, disse-lhe que se alguém entrasse ela se defendesse. Cheguei a casa com comida suficiente para alguns dias. Depois deste dia que parecia nunca mais acabar, estava furiosa eu e a minha filha. Decidimos que em vez de ficar em casa indefesas, devíamos ir lá fora e tentar ajudar. Chegamos lá fora e lutamos com o que podíamos, não quero ser convencida, mas demos luta. Naquele dia fiquei a saber que era mais capaz do que pensava. Mariana Araújo 6.ºC
Querido Diário:
Segunda, 16 de março de 1809
Como sabes eu sou uma mocinha de 17 anos, mas estou a viver momentos terríveis. O meu noivo Gaspar está na frente da Batalha a lutar contra os miseráveis Franceses. Não sei nada dele já vai para duas semanas. Uma amiga minha disse que tem entrado no hospital de São Marcus muitos mortos e feridos. O meu coração estremece. O Gaspar é bom lavrador, mas não percebe nada de armas, pois ele nunca combateu. Todas as noites rezo as minhas orações e não me esqueço dele. O que vai ser de mim se ele morre? Pois eu sou órfã e vivo com a minha tia Gertrudes, que já tem muita idade. Aqui na aldeia todos temem estas guerras e ninguém percebe porque é que o rei nos abandonou e foi para o Brasil. Eu, como sou nova tenho medo que algum jacobino me rapte, como têm feito noutras povoações. Já é tarde, vou me deitar e só espero acordar deste pesadelo. Tânia Dias - 6.º C
Ilustração - Ana Silva Domingo 15 de março 1809 Querido diário! Sabes que tenho apenas 11 anos e já estou praticamente a lutar por Portugal, por causa desta invasão dos franceses. Já nem sei o que fazer, exceto esperar ajuda. Fomos invadidos porque o nosso rei não aceitou o bloqueio dos portos aos ingleses, que fora imposto pelos franceses. Antes já houve outra invasão, há dois anos atrás também pelos franceses. Os ingleses ajudaram a expulsá-los, e penso que nos vão ajudar outra vez (acho eu). Os franceses decidiram invadir Portugal de surpresa, desta vez. O nosso rei está no Brasil e acho que tão cedo não vai voltar! O Soult está a chegar aqui a Braga, e vem com imensas tropas e vão roubar-nos como fizeram com muitos amigos meus.Os meus pais, ambos camponeses, estão a pegar em tudo o que podem para impedir os franceses de nos roubarem. Os ingleses desembarcaram aqui perto e vêm para cá ajudar-nos. Eles ajudam-nos porque são os maiores inimigos dos franceses, que estão perto, porque ouço gritos.Tenho de ir ajudar. Até logo. Ricardo Batista - 6º B Terça, 2 de novembro de 1809 Diário, Hoje,a minha aldeia foi invadida pelos soldados franceses, comandados por Soult.Logo que se começaram a avistar homens com fardas azuis- escuras de um lado, do outro já estavam soldados portugueses, vestidos com casacas azuis- claras e calções amarelos pelo joelho e equipados com espingardas e outros tipos de armas muito antigas e difíceis de manusear, que apenas tinham três a cinco balas, com sorte talvez sete. Entre os soldados também se podiam notar homens e mulheres do povo, com idades compreendidas entre os 16 e 60 anos, que estavam armados com paus, lanças e todo o género de alfaias agrícolas. Como eu também sou uma mulher do povo, tive que lutar. Na minha aldeia, e não só, os franceses roubavam as casas, não deixando absolutamente nada, principalmente comida. Por esse motivo, os monges que vivem no mosteiro que existe ao lado da minha aldeia esconderam em paredes falsas livros com iluminuras, em panelas grandes pinturas de papas, reis e filósofos importantes e algumas pessoas esconderam garrafas de vinho debaixo da terra, tudo isso para que os franceses não roubassem tudo o que vissem pela frente.O lado bom é que este foi o único dia que os franceses assaltaram a aldeia, o lado mau é que a minha aldeia e o mosteiro ao lado dela ficaram completamente destruídos. Filipa Peixoto - 6.º A
Sexta-feira, 11 de
abril de 1809 Querido diário, Escrevo-te, pois pode ser a última coisa que faço. A comida é escassa e há desespero em excesso. Um mar de uniformes azuis, alguns mais escuros e outros vermelhos banham os campos. Na verdade, o vermelho era a cor que mais predominava na paisagem, mas não era dos uniformes, mas sim do sangue dos valentes que tentavam proteger o nosso abençoado país. Agora, pela 2ª vez, os franceses, mais poderosos, destroem tudo por onde passam. Após ter escondido todos os bens e alimento, zelo pela segurança da minha pequena família. Zelo apenas por alguns, pois meu marido já lá se enfiou, no meio do rio de sangue. Embora valente não tem hipóteses contra o exército de Soult. Com muita pena minha, Digo que me parece ter ouvido alguém, gritar por socorro pode ser o grito do meu marido, coitado? Deus o proteja de todo o mal nesta batalha. Meus animaizinhos, meus pobres animais, já viraram refeição de alguns soldados franceses esfomeados. Começo a perder a fé e a esperança, contudo tento alimentar-me a mim e à minha família com o que resta do trigo que consegui esconder debaixo da terra. Bom, amanhã é um novo dia, que Deus abençoe quem arrisca a vida para nos salvar dos jacobinos e que lhes dêem forças para continuar a lutar pela nossa independência. Catarina Fernandes - 6.º C
Ilustração - Rodrigo Gomes
Londres,25 novembro de 1830
Querido diário,
Hoje acordei um pouco triste, lembrei-me de um episódio da minha infância. Aquele terrível dia em que Massena invadiu a nossa pequena aldeia na Guarda.
Recordo que ainda tentamos resistir, mas uma bala atingiu a nossa tranquila aldeia de Porto de Ovelha.
Hoje, lembro-me de forma triste, como tudo podia ser diferente se aqueles homens de jaquetas vermelhas, calças brancas, chapéu como os dos soldados e com batas pretas até ao joelho não tivessem perturbado a nossa vida.
Na altura eu era um menino que brincava junto do átrio da igreja.
A nossa serena aldeia na Guarda passou a ser um palco de guerra. Ainda bem que o militar inglês Manuel da Esperança não lhes deu tréguas e nos ajudou. Custa-me muito lembrar deste tempo.
A minha vida alterou-se profundamente, desde que aquele maldito general Massena invadiu Porto de Ovelha. Passou a ser conhecida por mais uma terra invadida pelos franceses e eu deixei de ser o José Matias, um fraquinho rapazinho anónimo, para ser a notícia, pois acharam que eu estava morto. Não, não estava, nem estou morto!
Um oficial bondoso inglês quis-me levar para um lugar mais seguro. Vim para a Inglaterra, ele ajudou-me a ser médico. Casei e já tenho filhos. Obrigado por ouvires o meu desabafo. Amanhã espero ter tempo de voltar. Bruna Gonçalves - 6º A
lustração - Tiago Araújo- 6.º D
Quarta-feira, 28 de março de 1809 Meu Diário, Estou a liderar o meu pelotão de 600 homens e, com a ajuda dos ingleses estamos a chegar à cidade do Porto. Tem sido uma campanha difícil, já que a minha farda (casaco azul claro e calções amarelos) não é apropriada ao terreno e ao clima. Deus está connosco! Ontem, vencemos uma batalha contra os jacobinos. 200 homens morreram, estavam apenas armados com foices. Dos apenas 20 cavaleiros que tínhamos restam 12. Felizmente os nossos 2 canhões emprestados pelos Ingleses resistiram. Os jacobinos eram apenas 100 mas estavam melhor armados que nós, com a sua farda azul-escura e branca e as suas baionetas. Tinham semeado o terror nas aldeias próximas. Graças a Deus, matamos aqueles miseráveis e salvamos a população. Agora chegou a hora do almoço, pão com uma malga de água para os piores soldados , os melhores comem mais e melhor comida. Graças a Deus, os homens de Wellesley reforçaram o exército real Português. Eu tenho uma das melhores armas que os Portugueses dispõem, pois, sou o capitão de pelotão. Quando estávamos no acampamento ouvimos rumores que os franceses estavam a apenas 20 km! Apressamo-nos a cavar trincheiras. Quando os franceses passaram pelo vale, atacamos...Foi um sucesso, os Jacobinos foram aniquilados. Rui Alexandre Faria - 6.ºB
Ilustração - Diogo Costa
Notícias
Factos e realidades que marcaram profundamente uma época
Franceses entram em Portugal pela segunda vez. Pela parte norte desta vez Ontem, o exército francês, comandado pelo general Soult, entrou pela zona de Chaves, em Portugal. As tropas francesas estão a saquear todos os bens do povo português. Os camponeses estão a revoltar-se, utilizando utensílios campestres para se proteger : enxadas, forquilhas, pás, machados. A razão para tanta zanga, fúria e descontentamento tem a ver com o saque que o exército francês está a fazer às gentes do povo. Para piorar as coisas, a população do Porto, quando soube que o exército francês estava a chegar, tentou fugir pela Ponte das Barcas para passar para o outro lado do Douro, e, com o peso de tanta gente a ponte ruiu, matando milhares de pessoas. O pânico é total! Sua majestade D. João VI e sua esposa D. Carlota Joaquina ainda estão no Brasil. O povo português continua a sua luta para expulsar os franceses de vez! Diogo Costa - 6.ºA
Ilustração - David Santos
CARTAS
As cartas eram elos de ligação entre os soldados e os seus familiares e amigos.... Mensagens emotivas, de saudade, desespero, abnegação e de esperança ...
Braga, 23 de Marco de 1809 Querida tia, Espero que te encontres bem e de saúde. Como sabes, eu sou ainda uma criança, mas já assisti a muita miséria. Ontem, dia 22 de março a cidade de Braga e arredores foram atacados pelos exércitos franceses. Roubaram e pilharam tudo o que lhes apareceu à frente. Na nossa zona entraram na igreja de S.Sebastião e roubaram as imagens e a S.Custódia, que era toda em ouro. o senhor abade já mandou fechar a igreja, mas eles fazem explodir as portas. Começaram também a roubar as quintas. Não há arca de trigo, milho ou feijão que lhes escape. A seguir vão ser os casais mais pobres que vão ser atacados. Deus tenha pena de nós! Já prometi à Senhora do Sameiro rezar dez rosários se não nos acontecer nada. Tu que moras em Abrantes estás livre deste inferno, apesar de já teres vivido a primeira Invasão. Um beijo de todos nós que estamos com o coração muito apertado. Um abraço e um beijo da tua sobrinha. Eduarda Gomes - 6.º C Mariquinhas.
Ilustração - André Gomes
Ourense, 19 de Abril de 1809 Meu imperador, Tal como nos mandou, invadimos Portugal entrando por Trás-os-Montes. Quando chegamos, começamos o ataque por Chaves que não resistiu ao nosso poderoso exército. Depois fomos à conquista de Braga que também se declarou vencida, pois não tinham defesa possível. Já temidos pelos portugueses e com muito caminho a percorrer, o general Soult enviou-nos para o Porto que também foi controlado pelos franceses. Por onde quer que passássemos, sempre que o povo via os nossos uniformes azuis escuros e a nossa bandeira tremiam de terror. Até, no Porto, os portuenses tentaram fugir para Vila Nova de Gaia, mas, como a ponte que se encontrava por cima do Rio Douro era feita de barcas amarradas, cedeu e milhares de pessoas morreram. Tudo nos corria bem, até que avistamos os uniformes amarelos e azuis claros dos portugueses e vermelhos e brancos dos ingleses. Mal os vimos, preparamos logo o exército pois sabíamos que, em pouco tempo se travaria uma batalha. Apesar do exército português ser formado por homens do povo e as suas armas serem antiquíssimas, trabalhavam bem em equipa com os ingleses e conseguiram afastaram-nos do Porto. No fim, acabamos por sair de Portugal. Peço desculpa pelo termos desiludido, Louis Nuno Martins Correia- 6.ºB
Ilustração - Bruna Gonçalves
sexta-feira, 2 de Abril 1809 Querido diário, Hoje a nossa aldeia foi ataca pelos miseráveis jacobinos, que já estão a atacar- nos pela segunda vez mas desta vez estão comandados por Soult. Tudo ficou irreconhecível, não ficou pedra sobre pedra. Ás primeiras horas da manhã ouvimos os trotes dos cavalos, olhei pela janela e lá estavam os franceses de calções brancos pelo joelho, jaqueta azul e chapéu preto. Os portugueses com casacas azuisclaros e calções amarelos pelo joelho e com espingardas muito antigas e difíceis de manusear, espreitavam o inimigo. Esta foi a pior prenda que me podia dar pois eu hoje faço 12 anos. O meu pai começou a esconder tudo. Enterrou as garrafas de vinho, escondeu as arcas de milho e levou as batatas para a mina seca que ficava no monte. Quando eles chegaram todos nós grandes e pequenos tínhamos uma forquilha, um machado, uma foice ou outro qualquer utensílio agrícola para nos defendermos. De nada valeu, os miseráveis com armas reluzentes e baionetas atiraram a matar, morrendo, muitos amigos e familiares. De seguida, começaram a incendiar tudo e até a minha casa ficou destruída pelo fogo. Fiquei em pânico! A nossa aldeia ardia, de seguida ouvi alguém gritar que eles tinham invadido e saqueado o Mosteiro de Tibães. Logo depois a noite caiu e eu e a minha família fomos para a casa da minha prima que ficava numa aldeia vizinha. Mariana Ferreira - 6º A Foi o pior dia da minha vida!
Ilustração - Gonçalo Fernandes
Querida mãe: Já passou algum tempo desde aquele dia em que nos despedimos para partires para o Brasil. Desde essa data, Portugal passou por momentos muito difíceis, enfrentando as constantes investidas das tropas francesas enviadas por Napoleão na tentativa de controlar Portugal. No passado mês de Março, as tropas francesas comandadas pelo general Soult entraram em Portugal através de Trás-os-Montes marchando em direção ao Porto e com o objetivo de ocupar a cidade.Quando as tropas francesas chegaram ao Porto, o medo da população era muito e a confusão instalou-se. A população, sem meios de defesa, mas preparada para lutar acabou por ser violentamente derrotada tendo morrido várias esfaqueadas, baleadas ou esmagadas pelas patas dos cavalos. Eu estava em Vila Nova de Gaia com o meu pelotão a defender a Ponte das Barcas quando a ponte desabou com o excesso de pessoas que, vindo na nossa direção. Tentaram alcançar este lado da margem. A confusão era muita, ouvia várias pessoas a gritar, vi outras a nadarem até à margem, outras magoadas, pessoas a morrerem afogadas, ou a serem arrastadas pelas correntes.E foi aí, no meio desse terror que eu avistei uma senhora grávida a tentar manter-se viva, então logo me atirei ao Douro para tentar salvar as duas vidas. A corrente estava muito forte, mas agarrei-a e cheguei à margem mantendo-as a salvo. Mais tarde, quando ela estava mais calma disse-me que se chamava Maria e tinha perdido o seu marido quando as tropas francesas invadiram a casa e lhe roubaram todos os seus bens e mataram sem dó o seu marido, após incendiarem a casa. Vários dias se passaram e a população continuava a ser a ser massacrada, mas a ordem que tínhamos era para aguardarmos reforços de novas tropas.Há dois dias chegaram ao Porto tropas vindas de Coimbra e os reforços enviados da Inglaterra e sob a direção do general Arthur Wellesly, para nos ajudar a derrotar as tropas francesas. Chegou finalmente o dia. Hoje recebemos instruções para preparar-mos a artilharia. Eu sabia que iriamos ter uma grande batalha e que a minha vida estava em perigo, mas esta podia ser a última oportunidade para salvar Portugal. Ao final da manhã começou a batalha, o nosso exército era maior, mas morreram alguns colegas meus com uma espada atravessada no corpo e outros ficaram gravemente feridos. Verificando que o número de baixas no exército francês era superior, o general Soult rendeu-se e ordenou a retirada das tropas para a França. Espero que possas finalmente regressar a Portugal. Beijos do teu soldado,
Renato Alves - 6º D
Braga,29 de Março 1809 Querida Mãe, Tenho muitas saudades tuas, estou a passar muita fome pois gastamos muita energia a chegar a este país de bárbaros. Daqui podemos vê-los a prepararem- se para o último momento da sua vida. O nosso general, Soult, organizou- nos em frentes e eu tive o azar de ficar na linha da frente. Daqui também posso ver o general inglês que está tentar organizá- los, mas eles parecem umas baratas tontas. As nossas fardas azuis escuras e brancas não são apropriadas ao terreno mas pelo menos não parecemos uns palhaços como os portugueses com aquelas fardas azuis claras e amarelas. Tenho pena deles pois não vai ser uma batalha justa justa. Pelo que ouvi dizer a maior parte dos portugueses só está armado com espingardas encravadas e objetos agrícolas. A única coisa operacional eram as espingardas e canhões dos ingleses. Estes vieram ajudar o seu velho aliado e estão a conseguir fazer- nos frente. Não sei como isto vai acabar! Envio- te mil beijos com tantas saudades. Pensa em mim! Pierre Trussand.
Paulo Quintão - 6º B
Portugal,17 de Março 1809 Olá, Mãe! Espero que estejas bem. Tenho saudades dos teus beijos e abraços. Como tu sabes estou aqui em Portugal com o Exército de Soult. Temos feito muito mal aos Portugueses, mas ordens são ordens.Temos roubado casa e assassinado muitas pessoas, não deves estar orgulhosa de mim, mas eu sei que tenho feito muito mal, desculpa. Conseguimos entrar por Trás- os – Montes , muito dificilmente chegar ao Porto, uma vez que os Portugueses têm muitos reforços.Eles e os Ingleses juntos dão cabo dnós.Continuaremos a lutar até quando pudermos. Soult não nos deixa desistir ele diz “ Não podemos desistir para o Napoleão não desiludir.” Claro que só faço o meu trabalho para proteger o meu país. No último combate aleijei-me numa perna. Só queria ter os teus cuidados! Está muito gente a morrer e não sei esta guerra vai correr bem. Não é a primeira mas estamos cada vez mais fracos. Também tenho saudades da minha noiva, diz-lhe que estou bem e quando voltar vamos casar. Beijinhos. Amo-vos muito. Quando poder escrevo de novo! Margarida Barros- 6.º B Luís
Ilustração - Mariana Ferreira
Porto, 27 de Março de 1809 Querido João, Escrevo-te hoje para te contar a minha atual situação e aquela em que me encontrava há poucos dias. Numa missa de domingo onde eu fui, o padre pediu às raparigas para se voluntariassem como enfermeiras, visto que o hospital estava com falta de pessoal. Senti uma vontade de ajudar e voluntariei-me. A partir daí fui trabalhar para o hospital de S. Marcos, onde me ofereceram uma formação inicial ministrada por médicos e enfermeiros experientes, uma bata e refeições. Mas pouco tempo ali estive, porque um grupo de jacobinos de fardas azuis escuras entrou pelo hospital e fez-me refém, juntamente com as outras enfermeiras. Como Soult tinha falta de pessoal médico, mandou uma esquadra invadir o Hospital de S. Marcos e levar um grupo de enfermeiras para o Mosteiro de Tibães. Foi lá que cuidei de muitos soldados franceses, baleados ou feridos nas batalhas. Eu, como todas as enfermeiras portuguesas, fui ameaçada por Beringer, um velho coronel insensível.Anteontem, juntamente com as tropas francesas, segui rumo ao Porto. Daqui em diante, serei uma enfermeira francesa. Toma conta dos nossos filhos. Terei imensas saudades tuas. Beijos para ti e para os nossos filhos. Maria Beatriz Macedo - 6.ºB Teresa
Ilustração - Eduardo Coelho
Sexta-feira, 23 de Março de 1809
Querido diário, Eu não aguento mais, maqueiros, médicos e cirurgiões sempre de um lado para o outro. É insuportável ver aquelas pessoas quase sem braços ou sem pernas e cada vez mais gente a chegar. Os enfermeiros sempre com baldes cheios de pernas, braços. De repente o Sr. Júlio chamou-me para ir cuidar de um paciente, não sabia quem era nunca o tinha visto aqui, era esquisito. Murmurou uma palavra que eu nunca ouvi, disse uma coisa muito esquisito tipo ”Merci” não sei o que significava, mas soou como um agradecimento. Também disse um nome “Pierre” deve ser o nome dele. Ele passou vários dias aqui no hospital, fez várias tentativas para poder fugir mas não conseguiu. Dormi várias vezes no hospital para ter a certeza que ele não fugia. Cada dia chegavam mais pessoas e todas piores do que as anteriores. Cheguei a casa e contei tudo ao meu pai, disse que havia tantas pessoas a entrar e a sair do hospital, Contei-lhe também coisas sobre o Pierre, que era um soldado francês que não queria fazer mas a ninguém. Ele gritou comigo porque não queria que eu tivesse contacto com ele e eu também gritei para me defender. Aquele era o meu trabalho e tinha de cuidar de pessoas, quem quer que elas fossem. Vim para o meu quarto escrever-te, para poder desabafar. Bruna Francisca Gomes - 6.º D
Ilustração - Diogo Manuel
“O diário de um pastor” Quarta-feira, 3 de março de 1809 Querido diário, aqui me encontro a escrever pela primeira vez. Vou começar por mencionar que vivo com a minha mãe,11 ovelhas (6 brancas e 5 pretas) e um Pastor Alemão para me ajudar a guardá-las. Agora vou ajudar a minha mãe a fazer tarefas… Eh! Estão ali janelas partidas, vou ver o que se passa. AHHHHHHHH… Sexta-feira, 5 de março de 1809 Querido diário, na quarta-feira deixei a escrita a meio, porque quando fui ver o que se estava a passar, qual não foi o meu espanto de ter sido roubado e quase estrangulado, se não fosse o cão que se sacrificou por mim. Agora aqui me encontro, a meio da 2ª invasão francesa. Ainda bem que tinha construído um esconderijo, vou já a correr para lá! Aqui estou eu… sem pai, sem mãe, sem o cão, sem comida, sem bebida… e das onze ovelhas só ficou a minha favorita, a Marota. Infelizmente vou ter de parar de escrever, pois estou a ficar sem tinta. Sábado, 6 de março de 1809 Querido diário, estou tão esfomeado que já pensei em comer a Marota! Sempre que olho para ela vejo uma ovelha assada; juro que se ficar aqui mais 1 dia, a próxima refeição que irei comer é a ovelha! Bem, agora vou dormir para esquecer a fome. Talvez quando acordar tenha uma boa surpresa. Terça-feira, 9 de março de 1809 Querido diário, ontem fiquei aqui todo o dia e a Marota ainda continua a ser a minha aliada e companheira. Mas hoje, vou ganhar coragem e ver o que se passa no exterior. Já estou cá fora e só vejo caos e destruição, tudo o que conhecia destruído, todos os que conhecia mortos. Parece que ainda estão no campo de batalha, pois só oiço gritos, berros, choros por perder membros da família… Vou voltar para o abrigo, pois não quero ver mais mortes. Oh não! A Marota fugiu! Mas eu não vou atrás dela… vou mas é salvar---me e ir para o abrigo. Terça-feira, 9 de março de 1809 Querido diário, hoje quando acordei não ouvi barulho, e agora vou novamente lá fora. Parece que a guerra foi para outra região, e está ali uma família, vou falar com ela. Pelo que me disseram também se esconderam num abrigo, e também sobreviveram. Agora parece que me vão adotar, pois o casal não pode ter filhos, e eu já não tenho pais. Logo se vê o que o futuro me reserva…
Cristiana Quintas - 6º D
Alunos do 6.ºA, B, C, D Ângela Coimbra - docente de Português Dores Pereira - docente de HGP António Gonçalves - docente de Educação Visual Ernestina Pinheiro - professora bibliotecária EB Mosteiro e Cávado 2016-2017