Rede Concelhia de Clubes de Leitura ROMANCES HISTÓRICOS - Outubro
Lista de livros lidos pelos membros do Clube de Leitura da - Biblioteca Municipal de Silves Bruges-a-morta de Georges Rodenbach A esmeralda do rei de Paulo Pimentel A balada da praia dos cães de José Cardoso Pires Os jardins de luz de Amin Maalouf Os pilares da terra de Ken Follet O remorso de baltazar serapião de de valter hugo mãe A Cruz de Portugal e Amanhecer na Rotunda de José Sequeira Gonçalves Grácia Nasi de Esther Mucznik (não é um romance histórico, é uma biografia) A mesa real: dinastia de Bragança por Ana Marques Pereira (não é um romance histórico, é uma biografia)
- da Biblioteca da Casa do Povo de Alcantarilha e Armação de Pêra A guerra civil de Álvaro Guerra Eu, a puta de Rembrandt de Sylvie Matton Quando Lisboa tremeu de Domingos Amaral Balada do Remexido de José Manuel Palma Sebastião José de Agustina Bessa-Luís Crónica do rei poeta Al’Mutamid de Ana Cristina Silva O remorso de baltazar serapião de de valter hugo mãe
A esmeralda do rei de Paulo Pimentel A história decorre no século XII, no reinado de D. Sancho I, e a narradora feminina é a conselheira do rei. É ela quem vai contando as guerrilhas entre cristãos, judeus e árabes e se torna a esmeralda do rei… Recomendo este livro pela sua linguagem extremamente poética, mesmo com vocabulário popular da época e porque se fica a conhecer e entender muito melhor o início da formação da nossa nacionalidade. 1
Esmeralda Lopes
o remorso de baltazar serapião de valter hugo mãe Foi extremamente difícil a escolha de um romance histórico para ler nestes dias, porque a lista era extensa e não podia deixar de a ser (tendo em conta que este é, talvez, o género em mais galopante ascensão no nosso país na última década anos, pelo menos), mas também porque permitindo ao leitor optar por um país cuja História o fascinasse ou um período histórico determinado, a indecisão geravase na exacta proporção da curiosidade infinita pelo Homem e a sua forma de lidar e ultrapassar os constrangimentos políticos e sociais, em termos universais e intemporais. A desempatar surgiu-me outra hipótese: ler por causa do fascínio e admiração que tenho pelo autor e pela curiosidade em ler um autor novo (e não novo autor) a nadar nas águas de um género do qual usualmente apenas escritores mais velhos são cultores. Ao fim de poucas páginas a minha intuição confirmou-se… este romance histórico não se perderia em acontecimentos históricos, datas, detalhes e curiosidades da época da Idade Média, e valter hugo mãe mergulhava profundamente no imo do pensamento e vivência dominante do povo nesta época com a já habitual atenção particular ao indivíduo em particular. Aliás, o livro dispensa e não contém, aliás, qualquer referência temporal ou factual. Deus é completamente omnipresente na obra (perdoem-me a redundância), embora o seu protagonista por vezes duvide dele, mas raramente do Diabo, e por via do sofrimento e da vontade de vislumbrar a mãe no Paraíso Aldegundes, o irmão do protagonista, se torne pintor de arte sacra. As explicações para certos fenómenos naturais tornam-se, assim, sobrenaturais e a sarga (vaca da família e que é encarada pela população como sua progenitora) ganha até contornos místicos, adivinhatórios, qual obra de Deus para proteger a família, embora de tom ainda um pouco panteísta. Mas este romance de amor inscrito numa época (quem sabe se mais até que romance histórico?) traz também a marca de medievalismo na concepção da mulher como um ser inferior e gerador de todo o mal, cabendo ao homem educá-la por via de todos os meios, e na maior parte das vezes, de correcção física que acentua a sua miséria, tornando-se uma “…tenebrosa metáfora da violência doméstica e do poder sinistro do amor.” (in badana da obra). Aos abusos sexuais do senhor feudal correspondem ainda outras penas aplicadas às mulheres serviçais da casa, pelo marido cornudo e pai humilhado, resultando assim órgãos partidos e morte. Todavia, Baltazar é o protagonista do romance e daquela comunidade que, apesar de quase totalmente dominado pelas forças do ciúme e de não ter conseguido proteger a sua amada nem do seu irmão nem do seu amigo, evolui na sua forma de amar Ermesinda à medida que a vê e sente perder forças e corpo e se vê longe dela, perpetuando a sua morte o seu amor e a sua dor de remorso infinitos. Mas o maior fascínio desta obra, para mim, talvez seja mesmo a linguagem que é reinventada e recriada de forma extraordinária não só em termos de léxico, mas também em termos de 2
construção sintáctica, pois é por ela que atravessamos o tempo como se fosse o nosso alçapão ou máquina mágica, as personagens ganham densidade e se cheiram os espaços. Se a linguagem verbal traduz o pensamento humano não poderia ser também de outra forma, mas os ecos que essa linguagem deixa dentro do leitor é que o fazem perceber este período que ficou conhecido como o período das trevas. Reiterando o seu estilo de não fazer uso de maiúsculas ou pontuação nos diálogos, esta é uma linguagem que recria poeticamente a língua arcaica e rude do povo, deixando o leitor penetrar em toda a sua escuridão e luminosidade. Se este livro lê o passado à luz dessa mesma mundividência e imaginário e este é um aspecto diferenciador deste romance histórico face aos seus congéneres, ele integra-se plenamente na linha estilística do autor, [sendo o assunto desta obra mais um quarto escuro da condição humana e o amor e a relação de homem-mulher difíceis, Deus é também aqui repensado e o fim do romance é levado à letra com a morte (à semelhança de O apocalipse dos trabalhadores), havendo, contudo, sempre lugar para uns momentos de humor sensível] não caindo, contudo, em qualquer tipo de repetição. Excertos interessantes: - pág. 52 – sobre a visão de Deus e do Diabo sobre as mulheres; - pág. 73 – sobre as mães; - pág. 99 – condição feminina na Idade Média; - pág. 123 – extraordinária explicação para o feitiço; - pág. 162 – justificação psicológica e vivencial para a figura física de Dagoberto ou os malefícios da ausência da mulher e do sexo. Sónia Pereira
A Cruz de Portugal e Amanhecer na Rotunda de José Sequeira Gonçalves Depois de ler a “Cruz de Portugal”, que gostei, senti interesse em conhecer outra obra do mesmo autor, pois as referências ao livro "Amanhecer na Rotunda" prometiam bastante. Acabei de ler este último livro no passado fim-de-semana, o qual se revelou uma ilustração sobre a implantação da Republica em forma de romance, com a ambição naturalmente básica de ser apenas uma pequena publicação agradável e de leitura fácil (objectivo conseguido em minha opinião). Para dar o meu contributo sobre o livro “Cruz de Portugal” refiro que o autor apresenta no seu romance uma personagem que se deixa sempre levar ao sabor do vento num período muito conturbado da nossa história. E neste contexto assume grande ironia a confissão da própria personagem de que: “... não tive nada a ver com a revolução republicana, eu até nem sabia o que era uma República! Mas, ... encarei o meu destino como um verdadeiro patriota, um verdadeiro republicano. Até àquele momento em que me lembrei que, ao longo da vida, somos sempre confrontados com dois destinos e temos forçosamente que optar por um deles. No momento decisivo da minha vida, optei pelo destino errado..." 3
A ironia assume toda a sua força no facto da tomada de opção ter ocorrido apenas uma vez na vida da personagem principal do livro e não foi mais do que ir atrás dos outros, num momento de delírio. A inércia é o estado natural, sendo necessário lembrar que podem ser tomadas decisões. De sublinhar também o medo de assumir, talvez um estigma da subserviência. No livro “Amanhecer na Rotunda”, que serviu para assinalar o centenário da República, destaco apenas duas notas que julgo oportunas: a desilusão que a república nos trouxe (já patente no outro livro do mesmo autor) e o reconhecimento de que os verdadeiros heróis são muitas vezes ignorados. Que reflexão tirar de tudo isto? Julgo que cada um terá muito a dizer. Se calhar não sabe é como começar. No limite, a reflexão terá talvez apenas o perigo de levar à inércia, reconduzir ao estado natural de quem teve o deslize de pensar mais um pouco, como instrumento de autodefesa (conveniência). José António Neves Gomes
Grácia Nasi de Esther Mucznik (não é um romance histórico, é uma biografia) Grácia Nasi nasce no seio de uma família de cristãos-novos em Espanha e Portugal. Mulher guerreira que consegue defender os bens após a morte do marido. A sede da sua fortuna estava em Antuérpia, que era um protectorado dos judeus, pois se assim não fosse a Igreja teria ficado com a sua fortuna… É uma escrita muito factual que enaltece Portugal pelo seu aventureirismo e expansionismo e retrata muito bem a história dos judeus no século XVI. Isabel Varandas
Mesa real: dinastia de Bragança de Ana Marques Pereira A obra trata do tema da gastronomia e tem curiosidades sobre a forma como se comia, os talheres, as receitas, o uso da mesa e todo o protocolo inerente a esta, desde o período da Restauração até à 1ª República. Algumas curiosidades interessantes: - uma coberta (cada vez que os criados reais serviam à mesa num banquete) equivalia a 27 pratos; - D. João V teve uma trombose por excessos alimentares; - aos reis as refeições eram servidas em pratos dourados e aos nobres em pratos de estanho; - só o povo é que comia pão e os reis também não comiam quase peixe, pelo que havia muitos problemas de tiroidismo. Dina Peres 4
Os jardins da luz de Amin Maalouf Comecei a ler este livro porque sempre tive curiosidade sobre o maniqueísmo e este livro retrata a origem lendária do termo. Nesta obra fala-se dos persas, árabes, do aparecimento dos cristãos, da Índia e o protagonista (cujo nome se transformará depois na palavra maniqueísmo) nasce na zona que é hoje Bagdad. Nesta época ele prega a tolerância religiosa e, por isso mesmo, é morto. A escrita é muito fácil, muito imagística e poética.
Paula Torres
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