Jornal dos 100 dias

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JORNAL DOS 100 DIAS EDIÇÃO ÚNICA . TIRAGEM LIMITADA

SALVADOR . 29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

3ª Bienal da Bahia


PIRAJÁ

Baía de Itapajipe

RIBEIRA

BONFIM

MATA ESCURA SÃO CAETANO

TANC LIBERDADE

IAPI

BARBALHO PERNAMBUÉS

Rodoviária

BROTAS FEDERAÇÃO

BARRA ONDINA Av. Oce ân

ica

RIO VERMELHO

NORDESTE DE AMARALINA


ÁGUAS CLARAS

CAJAZEIRAS

SÃO CRISTÓVÃO Aeroporto Internacional de Salvador

MUSSURUNGA

SÃO MARCOS

PRAIA DO FLAMENGO BAIRRO DA PAZ

STELLA MARIS Av. Luís Viana

PATAMARES

CREDO NEVES

ITAPUÃ

Parque de Pituaçu ira

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Mapa dos espaços da segunda temporada da 3a Bienal da Bahia em Salvador. Obra de Clara Domingas (Técnica mista: stencil e urucum)

BOCA DO RIO PARTICULARES ARQUIVO E FICÇÃO

ARMAÇÃO

MUSEU IMAGINÁRIO DO NORDESTE NOTURNA ITINERÂNCIA PROGRAMAÇÃO EDUCATIVA


JORNAL DOS 100 DIAS


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

SOBRE A 3ª BIENAL DA BAHIA A CURADORIA

1. Os projetos e programas que formam as estruturas de ação para a 3ª Bienal da Bahia não devem se submeter, sem maior reflexão crítica, a lógicas econômicas, históricas e sociais que ignoram as condições e os contextos locais. 2. Uma ideia banal nunca será salva por uma onerosa ou tecnicamente rebuscada realização. Isso serve para a arte (Sol Lewitt), mas ainda para bienais, exposições e seus curadores. 3. A tarefa, para esta Bienal, está em não realizar seus programas como comentários ou ilustrações sobre os temas e as questões propostas em seu projeto curatorial, mas sempre “com” essas mesmas questões gerar novas formas de experiência social, artística e humana. Fazer uma Bienal com o Nordeste e não sobre o Nordeste. 4. Logo, não existe uma diferença hierárquica entre formas de inteligência para a 3ª Bienal da Bahia. A questão se torna então outra: criar condições espaciais e temporais para que essas mesmas inteligências possam ser atuantes. 5. Uma bienal e suas estruturas nunca são tão radicais quanto seu contexto artístico, social e econômico exigem. Isso é um fato. 6. A radicalidade de ações e propostas torna-se então uma ideia reguladora a não ser jamais abandonada. 7. Priorizar o pensamento do artista (e não sua obra) sempre, a fim de que esse pensamento possa estar vivo diante de diferentes contextos e inteligências. Estratégia e solução. 8. Mas, de todo modo, a curadoria não tem a missão de servir a arte, os artistas e seus circuitos. Possui antes uma obrigação moral diante do contexto histórico, social e humano onde esses mesmos projetos artísticos tomam forma. Em suma: esta não é uma Bienal para artistas, é uma Bienal para todas as pessoas. Incluindo aqui esses mesmos artistas. 9. Assim, a 3a Bienal da Bahia não conta com um centro, mas vários micro-centros, ao mesmo tempo independentes e parte do todo, em uma idiorritmia. 10. Todas as montagens dos núcleos expositivos devem criar uma coerência interna e formal diante das exigências conceituais da 3a Bienal. Não construir paredes falsas para não oferecer, desse modo, uma situação falsa. Aproveitar o que existe, antes de tudo! 11. Evitar o uso da tecnologia digital de última geração, optando sempre que a chance se oferece ao analógico, a fim de oferecer da perspectiva formal um comentário crítico sobre as ideologias, obsessões e modismos contidos no uso sem reflexão da alta tecnologia. 12. A 3a Bienal da Bahia tem um dever de memória: inserir as narrativas das Bienais da Bahia na história da arte brasileira. 13. Como consequência, a 3a Bienal da Bahia se obriga a luminar visualidades complexas, ásperas e pouco vistas. 14. Essa orientação deve tornar a prática curatorial um exercício ético e estético. 15. Essa ética conduz a aceitação, e mesmo o tratamento dos sintomas dos traumas engendrados, ora pela ciência ora pela religião. E, em muitas das vezes, pela cultura. 16. Esse processo curativo vivido pela 3a Bienal promove a abertura para outros caminhos, quebrando quizilas e preconceitos artísticos e culturais, sobre e para a arte brasileira em sua total complexidade. 17. Para a 3a Bienal é desejado o fim das hierarquias dos saberes nos sistemas das artes: “Todos os homens são artistas”. 18. A 3a Bienal se realiza por meio de perguntas a serem feitas, mais do que respostas como afirmação da verdade. Em que momento a singularidade criativa desapartou-se das relações que a engendram, mutilando processos criativos, marcadamente aqueles que não têm lugar num lócus específico de enunciação, ao qual nominaram de Arte? E mais: por que o sujeito criativo passou a não se ver como sujeito de um instituído pensamento criativo? 19. Um lema possível: pelo Nordestepolitano irrestrito, pelas utopias pós-racialistas e pelo espaço de liberdade para as performatividades de gênero.


JORNAL DOS 100 DIAS

3a BIENAL DA BAHIA: MEMÓRIA E CRIAÇÃO ANTONIO ALBINO CANELAS RUBIM, SECRETÁRIO DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA

Depois de 46 anos, finalmente aconteceu outra bienal na Bahia. Ela continuou e descontinuou as bienais anteriores de 1966 e 1968. Esta última, fechada pela ditadura civilmilitar, implantada no Brasil com o golpe de 1964. De imediato, algumas questões, quase inevitáveis, se impõem: por que resgatar a ideia de bienal depois de tanto tempo e por que reivindicar e revisitar uma história quase esquecida? O direito à memória é parte substantiva dos direitos culturais. Saber de nossa história, de tradições, de possibilidades de vida, esmagadas e silenciadas pela violência dominante – neste caso em sentido literal – aparece como condição para iluminar presente e futuro. Para, atento à memória, buscar alternativas e outras modalidades de sentir, pensar e fazer o mundo. Mergulhar na história em um ano tão emblemático como 2014 – com os 50 anos do golpe militar e os 30 anos do amplo movimento democratizante das Diretas Já – colocou em cena atitudes, questionamentos, limites e possibilidades, que podem ser, criticamente, continuados e descontinuados, mas devem ser sempre reavaliados e atualizados. Por certo, era outra Bahia e outra circunstância nacional e internacional nos anos 1960. Uma Bahia que, desde o final da década de 1940, havia se colocado em movimento, deixando a paralisia da primeira metade do século XX. Uma Bahia muito desigual e (ainda) provinciana, mas cada vez mais viva com sua dinamização econômica e seu renascimento cultural. Estimulante olhar, sem nostalgia, esta Bahia criativa, depois interditada por aqueles anos de ditadura civil-militar e pelo autoritarismo que se manteve em nosso estado, mesmo no período pós-ditadura. A Bahia dos anos 1950/1960 foi habitada e construída por Glauber Rocha, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Muniz Sodré, Carlos Nelson Coutinho, Tom Zé, Capinan, Geraldo Sarno, Othon Bastos, Rubem Valentim, João Ubaldo Ribeiro, Gal Costa, Maria Bethânia, Juarez Paraíso, Sante Scaldaferri e tantos outros. Esta geração foi formada por nomes como Hans-Joachim Koellreutter, Agostinho da Silva, Ernst Widmer, Walter Smetak, Yanka Rudzka, Martim Gonçalves, Gianni Ratto, Rômulo Almeida, Pinto de Aguiar, Lina Bo Bardi, Anísio Teixeira e Walter da Silveira. A 3a Bienal dialogou com a interessante história cultural da Bahia rememorando episódios quase esquecidos, mas ela se abriu obrigatoriamente ao presente e ao futuro. Seu tema / questão – É tudo nordeste? – deu singularidade à nossa Bienal e constituiu um diferencial em relação às bienais mais marcantes existentes na atualidade no país. O Nordeste acionado foi múltiplo e complexo, passado e presente, singular e universal, território e experiência.

A partir do governo Lula, significativas mudanças acontecem no Nordeste e no Brasil. Diferente de instantes anteriores, a região hoje tem um desenvolvimento maior do que o de outros territórios do Brasil. Este Nordeste em movimento, com dilemas e tensões inerentes ao processo de mudança, inventa novas e contemporâneas dinâmicas territoriais, experiências humanas e criações culturais. Este Nordeste contemporâneo também é muito distinto daquele dos anos 1960, presente de modo tão marcante na cultura brasileira então produzida. Territórios e experiências no mundo atual só podem ser imaginados em uma dimensão glocal. Nela, fluxos globais e locais perpassam e dão sentido aos territórios, experiências e criações. Na contemporaneidade, mesmo quando ela se apresenta corroída por problemas e dificuldades, vivemos em tempo real e em espaço planetário. Tais-500 dispositivos conformam a modalidade contemporânea da experiência humana e a transformam em potencialmente universal, pois ela dialoga, muitas vezes em tempo real, com experiências afins vivenciadas nos mais distintos rincões do planeta. Nesta perspectiva, a questão/tema da 3a Bienal da Bahia demonstrou sua abrangência, abrindo múltiplas possibilidades de diálogos interculturais, que foram estimuladas, acolhidas e instaladas na Bienal. Foi este Nordeste, território, experiência e criação humana, que esteve em cena por 100 dias na Bahia, na capital e no interior, em inúmeros espaços e diversificadas modalidades culturais, dado que a 3a Bienal não ficou restrita apenas às artes visuais, mas mobilizou muitas linguagens e territórios. Ela foi antecedida por um processo de discussão coletiva, que permitiu construir um modelo distinto e inovador de bienal: espacial, social e esteticamente ampliado, sem perder qualidade e criatividade. A 3a Bienal da Bahia envolveu todo este leque de dimensões e questões. Ela foi a maior atividade da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia no ano de 2014. Coordenada pelo Museu de Arte Moderna (MAM-BA), ela apresentou e representou a Bahia neste ano emblemático, quando também foram realizados Copa do Mundo e eleições no país. Desta forma, a 3a Bienal colocou a cultura em lugar de destaque. A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia agradece a todos – artistas, curadores, trabalhadores e público – que vivenciaram a Bienal e a fizeram renascer com amplitude, brilho, criatividade e democracia tantos anos depois. Que a Bienal da Bahia volte a acontecer a cada dois anos, este é o desejo de todos que dela participaram.


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

A IMPORTÂNCIA E A CORAGEM ELIAS GOMES DE SOUZA COORDENADOR EXECUTIVO DA FUNDAÇÃO HANSEN BAHIA

A 3ª Bienal da Bahia – É tudo Nordeste? foi um sucesso em vários aspectos, principalmente na sua concepção artística e filosófica, bem como na sua estrutura democrática. A Bienal conseguiu ser ao mesmo tempo regional e universal. Regional porque, ao propor um tema vinculado ao Nordeste, permitiu que diversos segmentos da cultura brasileira pensassem e refletissem sobre esta importante região do Brasil. Ao mesmo tempo, questionando o próprio conceito de Nordeste e suas implicações culturais, políticas e socioeconômicas, possibilitou reflexões mais abrangentes e universais a respeito da construção de conceitos que carregam em si mesmos as contradições e os embates da vida cotidiana e do mundo real. O perfil e a natureza democrática da 3ª Bienal da Bahia já se apresentam no projeto inicial quando se afirma como continuidade das duas Bienais realizadas na década de 1960 e interrompidas pela ditadura civil-militar. Ao definir que as diversas ações previstas seriam descentralizadas e ocorreriam em diferentes locais da Região Metropolitana de Salvador e em dezenas de municípios do interior da Bahia, reafirma-se o caráter democrático do evento. A Fundação Hansen Bahia tem o orgulho de ter participado deste momento histórico para a cultura da Bahia e aproveita para agradecer e parabenizar todos aqueles que, de forma direta e indireta, contribuíram para a realização e o sucesso desta histórica Bienal. É preciso reconhecer a importância e a coragem das pessoas que viabilizaram este momento histórico. Neste sentido, a Fundação Hansen Bahia cumprimenta o Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria Estadual de Cultura e do Sr. Secretário Albino Rubim, o diretor geral da 3ª Bienal da Bahia e do MAM-BA, Sr. Marcelo Rezende e o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – IPAC/BA, representado pela diretora-geral Sra. Elisabete Gándara Rosa. Em nome dos quais reafirmamos nossos agradecimentos a todos os envolvidos neste grandioso projeto. A Fundação Hansen Bahia estará sempre à disposição do povo baiano para as tarefas e os desafios que a vida cultural nos impõe, esperando desde já a convocação para os preparativos da 4ª Bienal da Bahia.


JORNAL DOS 100 DIAS

O MAM, O OUTRO E UMA BIENAL PARA A BAHIA A DIREÇÃO DO MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAHIA

Um projeto de bienais para a Bahia pertence à própria história da criação do Museu de Arte Moderna do estado. Nos arquivos que dão conta do nascimento da instituição, entre cartas e documentação oficial do período (o final dos anos 1950 e início dos 1960), a arquiteta Lina Bo discute quais modelos e atividades poderiam servir para materializar a missão da instituição recém-criada: o espaço no qual Lina se torna a primeira diretora, diretora artística, professora, arquiteta e artesã – nos mais variados sentidos do termo. Nesses múltiplos papéis, Lina se guia pelo desejo e pela necessidade política de contato com a inteligência de um e de todos a partir da potência do popular (e não do folclórico) diante das novas forças de organização do trabalho no Brasil e, especialmente, na região nordeste do período. Nesse contexto, a criação de uma bienal era parte de uma estratégia que pretendia a ação não “sobre” ou “a partir”, mas essencialmente “com” a cultura popular, em um projeto de museu voltado para a inclusão do outro, sempre tendo em conta o próprio desejo desse outro. Lina tem sua experiência no MAM da Bahia interrompida em 1964, após imposição da ditatura militar que surgia no Brasil. Mas a Bienal, como ideia, resiste, e uma geração de artistas locais consegue realizá-la em 1966 e 1968. Um ambicioso e político gesto, que termina sendo destruído pelo mesmo regime ditatorial que havia colocado fim à ideia de um museu como experiência humana proposto pelo MAM-BA sob a direção de Lina Bo. No ano de 2009, o então Secretário de Cultura da Bahia, Marcio Meirelles, e Solange Farkas, diretora do MAM-BA, anunciam publicamente o retorno do projeto de bienais para a Bahia, tendo o Museu de Arte Moderna como a instituição responsável por sua organização. Passados 46 anos desde a sua primeira edição, a 3ª Bienal da Bahia é realizada neste ano de 2014. Em números, seu projeto pode ser assim resumido: 56 espaços de trabalho, entre exposições, oficinas abertas, performances, ciclos de cinema, dança, teatro, grupos de pesquisa, expedições e conversas públicas distribuídas por Salvador e 24 municípios do estado. Mas cifras e porcentagens não podem representar aquele que é o maior legado desse retorno da Bienal da Bahia: cumprir o dever de memória diante da história cultural e de toda uma geração baiana que teve seu projeto não apenas interrompido, mas esquecido nas narrativas que pretendem dar conta da história da arte brasileira e seus confrontos sociais, artísticos e políticos. O que é da Bahia é do mundo, e o que é do mundo é da Bahia. Essa foi a mensagem daqueles que se mobilizaram para a criação de um programa que visava fomentar o debate cultural no nordeste pela via de uma bienal. Agora, o debate se reinicia.


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

DIFUSÃO E ACESSIBILIDADE CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Principalmente no último terço de sua vitoriosa história de 153 anos, a CAIXA conquistou papel de grande destaque no apoio e promoção à cultura brasileira, ao destinar, anualmente, mais de R$ 60 milhões do seu orçamento para patrocínios à produção e circulação de obras de arte, teatro, dança e artesanato nacionais, o que atraiu para o universo de sua marca o interesse, o brilho e a parceria dos mais importantes artistas de nossa cultura visual, hoje presentes no rico Acervo Artístico da empresa, com obras de grande significado artístico e histórico para o nosso povo. Para manter viva e instigante essa parceria com as artes e o artista brasileiro, a CAIXA tem diversificado, descentralizado e ampliado os seus investimentos em patrocínio cultural, com o objetivo de incentivar e democratizar o acesso a suas linhas de patrocínio a todos os artistas, e também contribuir efetivamente com os esforços do Governo Federal para a construção e consolidação de uma consciência sociocultural no país, que torne efetiva a implementação de políticas públicas voltadas para a preservação dos bens culturais de nosso povo, e para a estruturação efetiva e permanente da catalogação, registro, guarda, difusão e acessibilidade dos acervos culturais a toda a população, principalmente às crianças e aos adolescentes. Este é o principal significado e o maior objetivo do patrocínio da CAIXA à 3ª Bienal da Bahia, quando recrudesce seu compromisso com a história e com o povo brasileiro, valorizando a magnitude deste evento cuja retomada, após 46 anos de interrupção, recolocou-o em seu lugar de importância singular na pauta artística do país. Com isso, a CAIXA reafirma sua política cultural e sua inabalável convicção de estar contribuindo para a renovação, ampliação e fortalecimento da cultura nacional e o desenvolvimento cultural do nosso povo, investindo recursos orçamentários próprios e fortalecendo seu papel institucional de empresa socialmente responsável, ao estimular a criação e oferecer condições concretas para que artistas possam apresentar seu trabalho e divulgar sua arte. Para a CAIXA, a vida pede mais que um banco. Pede Arte, Cultura.


JORNAL DOS 100 DIAS

ARTE EXPOSTA EMBAIXADA DA FRANÇA NO BRASIL / INSTITUTO FRANCÊS DO BRASIL

Em sua tão aguardada e prestigiada terceira edição, a Bienal da Bahia surpreende a todos pela diversidade de conteúdo e de expressões artísticas abordadas. A Embaixada da França no Brasil, por meio do Instituto Francês do Brasil, celebra nesta ocasião uma parceria inédita com a Fundação Hansen Bahia e o diálogo com o Museu de Arte Moderna da Bahia, e tem a honra de participar neste evento que atrai público de todas as gerações. Realizada em diversos espaços da capital Salvador e demais cidades baianas onde a arte vira a principal atração, e com uma programação ousada na qual artistas e plateia têm a oportunidade de trocar ideias e experiências, a Bienal chama a atenção por onde passa. Durante cem dias a Bahia vira palco daquilo que conhece tão bem: a arte exposta, performances, exibições de filmes, atividades educativas e debates, entre muitas outras manifestações culturais. É tudo Nordeste. Mas a França também se faz presente nesta terceira edição da Bienal, por meio dos projetos Feira de Arte Livre e Museu Imaginário do Nordeste. Contribuindo ainda para a vinda de artistas e curadores, a divulgação de atividades e a exibição de longas e curtas-metragens, a Embaixada da França no Brasil apoia a iniciativa com grande entusiasmo, certa de que tal participação renderá parcerias futuras. A todos os envolvidos neste importante projeto, bem como ao público que acompanha as artes no estado, desejamos que esta retomada chegue com fôlego o suficiente não só para esta Bienal, mas também para as próximas edições. Com os votos de que sejam mais frequentes a partir de agora e cada vez mais diversificadas, convidamos todos a participarem da 3ª Bienal da Bahia!


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

SUMÁRIO JORNAL DOS 100 DIAS PROJETO CURATORIAL LISTA DE PARTICIPANTES (A a Z) LISTA DE OBRAS LISTA DE FILMES CINEMA YEMANJÁ FICHA TÉCNICA EXPEDIENTE AGRADECIMENTOS


JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 29 de maio de 2014 JORNAL

PROFISSÃO DE FÉ

Foto Alfredo Mascarenhas

Com a atuação de 70 voluntários, o cortejo performático Genesis e Genes, idealizado pela artista portuguesa Luisa Mota, saiu do MAM-BA (na região central de Salvador) em direção ao Passeio Público, passando pelo Largo 2 de Julho e Rua Carlos Gomes. Durante o percurso, a procissão foi agregando os passantes, instigados pela obra e curiosos por seu desfecho. Parte dos performers estava caracterizada com roupas metálicas de “homens invisíveis” e segurava três tapetes azuis bordados por onde passavam os participantes “imaculados”, completamente despidos. A seleção dos integrantes deu-se a partir de uma oficina de linguagem corporal realizada pela artista no casarão do MAM-BA. Genesis e Genes é a representação de diversos personagens imaginários ou não, que remetem a símbolos sociais, religiosos e culturais transcendendo fronteiras.

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Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Gillian Villa

Alagbês deram início à Bienal com a performance Oritálaiyè Encruzilhada do Mundo, acompanhados pelo canto de Inaicyra Falcão e pelo violão de Maurício Lourenço.

Os Homens Invisíveis da performance Genesis e Genes, criada por Luisa Mota, guiaram o cortejo até o Passeio Público.

A Universidade LIVRE de Teatro Vila Velha deu as boas-vindas a performers e público na entrada do Passeio Público.

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

O baile começou com a banda Ceguêra de Nó e os dançarinos de forró espalhados pela praça.

Performance-instalação da artista baiana Ieda Oliveira.

Performance das divas transformistas Mitta Lux, Valerie O’harah e Kaysha Kutner.

A festa terminou em carnaval com o Bloco de Hoje a Oit8 formado por sambistas, percussionistas, compositores e artistas.

T E M P O

O artista Arthur Scovino inicia a ocupação Caboclo dos Aflictos – São Jorge Elevador, na Igreja dos Aflitos, que permanece durante toda a Bienal. Foto Leonardo Pastor

Abertura de No Litoral é Assim no casarão do MAM-BA, em Salvador, primeira cidade que recebeu a exposição itinerante. Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Rafael Martins

A Oficina de Litografia ministrada pelo professor Renato Fonseca assumiu caráter de grupo de pesquisa com alunos das Oficinas do MAM-BA, cujo processo de trabalho esteve aberto ao público e à mediação.


30 de maio de 2014

EURICO ALVES E SUA FAZENDA ANA PATO Curadora-chefe da 3ª Bienal da Bahia

Tomamos conhecimento de Eurico Alves Boaventura (19091974) por meio de Juraci Dórea e seu entusiasmo pela obra do poeta. As cartas pessoais e a troca de correspondências com outros escritores são objeto de estudo acadêmico de Dórea, empenhado em “retirar do esquecimento” não só a produção do poeta, mas enfatizar a importância de se preservar acervos pessoais. A ação na fazenda Fonte Nova é uma atualização desse desejo, para transformar a fazenda em um museu-casa. Preservada pela família, ela mantém, até hoje, o mesmo espírito cultivado por Alves em torno das questões físicas e culturais do sertão nordestino. Ao deslocar o olhar do litoral para o sertão, Eurico Alves confere à figura do vaqueiro papel central na construção do imaginário de formação do país. Eurico será um dos responsáveis pela proposta de criação do Museu do Vaqueiro e um grande defensor da memória do sertão. Para Eurico, a força do sertanejo está em sua mestiçagem, marcada, segundo ele, pelo encontro do índio com o português (o mameluco). Nesse sentido, Eurico se contrapõe tanto ao discurso do regionalismo paulista, ao propor mover sua análise do Sudeste para o Nordeste, como também se distância das teorias raciais de Nina Rodrigues que vão entender a questão da mestiçagem como um atraso para o país. Ir à fazenda Fonte Nova é encontrar o sertão, narrativa escrita e inventariada em cada pedaço da casa, nas esporas do vaqueiro penduradas na parede, no chão de terra e pedra, na fogueira cheia de sapos, no mato, veterano da seca, na árvore de couro e madeira, na resistência com que se defende a memória de um lugar-sertão, de um museu vivo. Não é possível esquecer o sertão, porque o sertão é experiência de vida passada e entranhada na alma: o sertão ensina. Mas o que o sertão ensina? “A educação pela pedra”, diria João Cabral de Melo Neto.

Foto Alfredo Mascarenhas

GRUPO HERA ENCONTRA BRUSCKY O Grupo Hera consolidou-se como movimento literário e cultural organizado por escritores, artistas e poetas de Feira de Santana. Entre 1972 e 2005, o grupo edita vinte números da revista Hera, primordialmente dedicada à poesia, alcançando reconhecimento nacional. A revista tem origem no projeto editorial criado por Antônio Brasileiro nos anos 1960, as Edições Cordel. Vários colaboradores passaram pela trajetória do grupo e da revista, como Roberval Pereyr, Juraci Dórea, Washington Queiroz, Wilson Pereira, Rubens Pereira, Ruy Espinheira Filho, Erthos Albino de Souza, entre outros. A ideia do encontro entre o Grupo Hera e o artista Paulo Bruscky surgiu durante uma visita de Bruscky a Salvador para desenvolver o projeto da Bienal. Ele ficou encantado em saber que o Grupo Hera tinha publicado uma edição comemorativa dos 30 anos da revista Hera e propôs uma troca de livros com o grupo, pois queria muito ter um exemplar para seu arquivo. Assim, nasceu a ideia de convidar o artista para participar da leitura de poemas na fazenda do poeta Eurico Alves, junto com integrantes do Grupo Hera. A convergência entre o artista e o grupo feirense Paulo Bruscky ao lado de Antonio Brasileiro, membro do Grupo Hera | Foto Alfredo Mascarenhas acontecia com frequência nos anos 1970, como comenta Bruscky: “A gente se articulava como resistência, porque tinha toda uma censura, você tinha que manter contato para dividir um pouco do que acontecia. Era pouca gente que se mantinha na resistência, a maioria foi covarde. E aqui [Feira de Santana] é legal porque sempre teve isso”. No encontro, foi realizada a leitura dos poemas Elegia para Manuel Bandeira, de Eurico Alves, e Escusa, de Manuel Bandeira. O poema de Alves é um convite feito pelo poeta baiano ao pernambucano para ir a Feira de Santana. Sensibilizado, Manuel Bandeira responde com o poema Escusa. Na Fazenda Fonte Nova, Escusa é recitado por outro pernambucano, Paulo Bruscky.

Montagem da obra de Juraci Dórea na fazenda Fonte Nova | Fotos Alfredo Mascarenhas


JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 31 de maio de 2014 JORNAL

O OURO E A MADEIRA A REENCENAÇÃO Mosteiro de São Bento PERÍODO 31/05 a 05/09 VISITANTES 3.381 O projeto integrou os núcleos expositivos do projeto curatorial, se voltando para as Bienais da Bahia de 1966 e 1968 e sua memória possível. A exposição não procurou a imitação ou a reapresentação das mostras vistas (e não vistas) nas duas primeiras edições da Bienal da Bahia. Sua intenção foi trabalhar, por meio de obras, documentação e encenações curatoriais, o caos dos discursos oficiais da história, da memória subjetiva e do arquivo como segredo indecifrável. O Mosteiro de São Bento da Bahia é o primeiro mosteiro beneditino das Américas, fundado em 1582. Palco da invasão holandesa, serviu como enfermaria durante a peste espanhola no século 17 e acolheu as vítimas da Guerra de Canudos no século 18. Foto Alfredo Mascarenhas

CARTA DE RETRATAÇÃO A Secretaria Estadual de Cultura da Bahia, em nome do Governo do Estado da Bahia, pede publicamente desculpas a todos os artistas e agentes culturais que tiveram suas obras impedidas de serem expostas e foram submetidos a outros transtornos e repressões, devido à suspensão da 2a Bienal da Bahia no ano de 1968, imposta pela ditadura militar.

Acima, imagem da exposição no mosteiro; ao lado, agenda de trabalho do curador Fernando Oliva; à esquerda, carta de retratação lida durante a 3ª Bienal da Bahia.

A Secretaria Estadual de Cultura acredita que a criação e a difusão da cultura são incompatíveis com a censura e com todas as formas de violência, pois exigem um clima de ampla liberdade, que possibilite e estimule a criatividade humana. Ao realizar e considerar a Bienal de 2014 como 3a Bienal da Bahia, o Governo da Bahia, através de sua Secretaria Estadual de Cultura, faz uma efetiva retratação pública, repudia todas as modalidades de violência que atingiram a cultura, resgata a memória de nossa bela história cultural e abre possibilidades de uma nova relação criativa entre o estado, hoje democrático, e a comunidade cultural da Bahia.

Ao lado, página da revista GAM, sobre o projeto de bienais para a Bahia; na página seguinte, recortes de jornais do período e carta contra a 3ª Bienal da Bahia escrita pelo artista Antonio Manuel e publicada no jornal Folha de São Paulo.

Albino Rubim Secretário Estadual de Cultura da Bahia 18 de maio de 2014

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Foto Gaio Matos

T E M P O Início da expedição Instrumentos para Dobrar Rios, realizada pelo artista Gaio Matos em cidades à margem do Rio São Francisco.

Na abertura da mostra A Reencenação, Arthur Scovino realiza a performance QuiZera.

Foto Alfredo Mascarenhas

Encontro do Grupo de Pesquisa em Gravura em Metal, orientado pelo professor Evandro Sybine, para uma tarde de produção nas Oficinas do MAM-BA. Foto Rafael Martins


1 de junho de 2014

---------- Mensagem encaminhada ---------De: Marcelo Brazil <xxxxxxxxxx@xxxxxxxxx> Data: 7 de junho de 2014 11:45 Assunto: A Reencenação Para: Fernando Oliva <xxxxxxxxx@xxxxxxx>, Talyta Singer <xxxxxxxxx@xxxxxxxx>, Talyta Singer <xxxxxxxx@xxxxxxxxx>

Caros Fernando e Talyta, tudo bem? Ontem estive no Mosteiro e saí de lá muito feliz. A vitrine ficou muito bonita e me emocionei muito com as imagens onde aparece meu pai. Não sabia da existência daquele vídeo. Como sou o filho mais novo do primeiro casamento, não tenho nenhuma lembrança de meu pai vivo e ontem pude vê-lo “ao vivo”, pelo menos por alguns segundos... Foi demais! Parabéns pelo trabalho cuidadoso de pesquisa e pela montagem da exposição. Os monitores foram todos muito simpáticos e atenciosos, agradeçam a eles por mim. Um forte abraço, Marcelo Brazil

E-mail de Marcelo Brazil, filho do artista Lênio Braga

A primeira Oficina de Desenho, ministrada pela professora Olga Gómez tanto para iniciantes como para iniciados, trabalhou o desenho de observação a partir de formas geométricas puras. Foto Rafael Martins

Pinte na Bienal, com Maninho Abreu, recebeu famílias para atividade de pintura livre no Pátio Flamboyant do MAM-BA.

Foto Tiago Costa


PARTICULARES

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 2 de junho de 2014 JORNAL

ORDEM NATURAL DAS COISAS

Quando fui convidado pelo Marcelo Rezende para trazer a Esteio para a Bienal, fiquei surpreso e muito feliz, porque sempre tive o desejo de trazer de volta a Esteio. Na realidade, a Esteio acabou não porque eu quis que acabasse, mas porque eu me desloquei de Sítio Novo, da casa dos meus pais, e não tinha mais como administrar o espaço e pensar nos artistas, nos convites e tudo o mais que eu articulava. Assim deixei também de lado muitos projetos que eu sonhava em fazer e não consegui realizar, como por exemplo as pinturas nos muros. Havia um trabalho que eu chamo de Entroncamentos, que era colocar esculturas em todos os entroncamentos, a começar de Salvador até Sítio Novo, ou seja, Camaçari, Dias D’Ávila, Mata de São João, Pojuca, Catu e Sítio Novo. Esses municípios todos teriam uma escultura de um artista do lugar. Mas esse

MAXIM MALHADO Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

Memorial Esteio

GALERIA ESTEIO

PERÍODO 02/06 a 05/09

Casa das Artes Visuais

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Foto Gillian Villa

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Eu não imaginava que a Esteio fosse ser vista como foi vista na Bienal da Bahia. Eu simplesmente fazia porque tinha muita vontade de fazer, porque não tinha espaço, não havia lugares para a gente concretizar ideias e eu acho que ainda não tem. Nós somos muito carentes ainda de lugares para isso, mas retomar a Esteio foi retomar toda essa coisa de trabalhar com as pessoas, essa coisa do coletivo, de pensar a coisa juntos, de discutir.

Casa da Palavra

Um curta doce, de Tuti Minervino

Em fio, de Tecco Ribeiro PERÍODO 02/06 a 05/07

PERÍODO 02/06 a 15/07

Chão para a Esteio, de Johanna Gaschler

Liberdade desbandeirada, de Zuarte Júnior

Relicários do Paraíso, de Luiz Ramos

Pratos para serem lidos, de Ediane do Monte

PERÍODO 15/07 a 03/08

PERÍODO 07/08 a 05/09

VISITANTES 5.523

projeto não foi possível realizar. Tinha um outro projeto também que eram esculturas no meio do mato e que as pessoas da comunidade pudessem ganhar uma grana através dessas esculturas, guiando turistas para fazer trilha a pé, a cavalo, de bicicleta, de carroça etc. Isso tudo era parte da Esteio, parte do projeto Arte na Vila.

PERÍODO 21/07 a 10/08

PERÍODO 15/08 a 05/09

T E M P O

Cozinha relacional e sessão de samba com as bandas Coisa Mandada e Batata Acústica, com participação de Juliana Ribeiro, no bar Toalha da Saudade, Casa de Batatinha.

Realização do encontro Bienal Foge da Escola para discutir o tema “Arte, educação e os modos de desaprender”. Foto Gillian Villa

Foto Rafael Martins

Primeira edição da Ação Mural Aberto na Bienal, voltada para funcionários do MAM-BA e da Bienal e ministrada por Hilda Salomão, onde se trabalhou com placas de argila. As peças resultantes dessa oficina fazem parte do painel coletivo elaborado ao longo da Bienal.


3 de junho de 2014

PARTICULARES Fotos Alfredo Mascarenhas

Quando pensei em cem dias de ações na Esteio, fiquei enlouquecido porque era a grande oportunidade de eu viabilizar todo o pensamento, essa mistura das artes visuais com literatura, com encontro teórico, com tudo. Me fez pensar imediatamente como seria toda essa estrutura da Esteio dentro da Bienal. E construir as casas... de saída, eu desenhei uma espécie de maquetezinha com três casas. Em princípio, elas seriam todas as três juntas. Propus a Marcelo três casas: uma dedicada ao memorial da Esteio, outra dedicada a artistas que trabalhassem não só as artes visuais, mas também a literatura, da palavra articulada às artes visuais, e a terceira dedicada só às artes visuais. E assim foi feito. Claro que o projeto mudou quando eu trouxe a maquete para Marcelo, de acordo com o espaço lá da Escola de Belas Artes. E a gente achou por bem fazer um grande pátio, porque eu gosto muito desse ambiente de pátio, praça, porque oferece várias possibilidades de construção de um lugar. Eu tenho escritos onde pergunto como é que é feito, quais são as possibilidades de se construir uma cidade, um lugar; de que forma um determinado lugar surge. Então eu listo algumas possibilidades. Pode ser um matadouro, um brega, um bordel, pode ser uma igreja, uma estação de trem. São essas possibilidades que eu vislumbrava em Sítio Novo. Sítio Novo tem tudo isso que eu acabei de listar agora. Então criamos também aquele espaço entre as casas para concentrar, para ali estarem as pessoas, que era o pátio, a praça. Quanto à construção das casas, eu pensei “poxa, será de tijolo?”. Havia essa coisa do prazo, que era curto, e custos também. Mas também tem todo o princípio das amarrações que eu faço na minha pintura e na minha obra tridimensional. Aí pensei na ideia de fazer as casas de taipa. Então eu trouxe o projeto pra ser discutido com os curadores e, ao ser aprovado, fui articular pessoas que pudessem construir, em determinado período, essas três casas. Chamei então o seu Pedro, que é um senhor que eu não conhecia lá de Sítio Novo. Ele organizou uma equipe e trouxemos essa turma toda. A ideia era fazer em fevereiro, mas não foi possível por conta de outros problemas. Mas a gente fez as três casas. Tínhamos quinze dias apenas, mas conseguimos fazer as três casas em doze. Em doze dias, seu Pedro, com toda chuva, com toda a dificuldade, deu as três casas prontas.

M.M.

Abertura do Museu Imaginário do Nordeste | Departamento do Tempo| Seção: Psicologia do Testemunho, no Ateliê Hilda Salomão.

Foto Gillian Villa

Oficina Cadastro: Cátia Milena Albuquerque apresenta seu workshop Como falar “baianês” de periferia, no Pátio Flamboyant do MAM-BA.

Foto Gillian Villa


JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 4 de junho de 2014 JORNAL

A artista Hilda Salomão em seu ateliê | Foto Gillian Villa

MUSEU DE CONSTRUÇÕES COLETIVAS MARCELO REZENDE Diretor Artístico da 3ª Bienal da Bahia

Buscar formas de contato no tempo, no espaço e no campo social. Entre as estruturas que materializaram o projeto curatorial da 3ª Bienal da Bahia, a criação dos departamentos e seções do Museu Imaginário do Nordeste (M.I.N.) serviu não apenas para apresentar a produção artística, histórica e cultural de modo livre, sem hierarquias, quanto suas origens e propostas. Há ainda a questão do potencial humano do uso do espaço. Parte do M.I.N. tomou forma em sítios históricos ou culturalmente representativos, além de casas e ateliês de artistas. Aqui, a dimensão humana se torna protagonista nos locais de trabalho oferecidos pela Bienal. Nessa procura de troca de conhecimento entre o local (o artista em seu espaço; monges em seu mosteiro ou funcionários das bibliotecas, arquivos e instituições culturais de toda ordem) e o visitante, pode-se estabelecer uma operação na qual os dois se tornam, ao menos por um momento no tempo – no qual a função e rotina desses espaços se altera –, um mesmo público que participa da recriação de um território a partir de suas novas circunstâncias e desejos. Nessa experiência há menos ordem que desordem, uma positiva desordem, porque essa reconfiguração do espaço que cria um novo público lida com uma situação intermediária entre o que é pessoal e privado, fechado e aberto, secreto e revelado. E, sobretudo, lida com o que se imagina ser a verdade de uma situação social e histórica e, ainda, com as possibilidades de essa mesma situação poder ser alterada a partir de uma nova construção coletiva.

L I N H A

D O

Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Tempo Seção: Psicologia do Testemunho Ateliê Hilda Salomão PERÍODO 03/06 a 03/09

VISITANTES 180

O ateliê de Hilda Salomão funciona em Stella Maris desde 2000 e tem obras de diferentes fases do trabalho da artista, além de obras de sua avó e mãe, ambas ceramistas.

FORTE COMO PAPEL

Foto Lara Carvalho

Nessa situação de diálogo permanente, a artista baiana Hilda Salomão (com extenso trabalho e pesquisa com a técnica da cerâmica) teve em exibição em sua moradia-ateliê, em Salvador, uma das obras da série Escultura de Viagem, criada pelo italiano Bruno Munari no final dos anos 1950.

Peças geométricas realizadas em papel, em escala industrial, as esculturas são transportáveis e aptas a serem montadas em qualquer espaço ou situação. Essas obras procuraram interferir no que Munari (esse artista total) identificava como um progressivo distanciamento entre a ação artística e a experiência cotidiana: “É preciso entender que enquanto a arte se manter distante dos problemas da vida, interessará apenas a um pequeno grupo de pessoas”.

T E M P O

A Oficina de Jardinagem, ministrada por Cláudio Pinheiro, recebeu os estudantes do Colégio Bom Jesus dos Milagres, que aprenderam a realizar transplante, plantio de sementes e cuidados específicos para as plantas. Foto Rafael Martins

Mediadores da Bienal ocuparam a Escola de Belas Artes, seguiram pela Avenida Sete de Setembro em direção ao MAM-BA, conversando com o público sobre a proposta curatorial da 3ª Bienal da Bahia. Foto Rafael Martins


5 de junho de 2014

33 VEZES CINEMA “Uma plateia de 115 crianças e adolescentes… Afinal, aquela meninada, vinda dos bairros Pedro Jerônimo, Banco Raso e Maria Pinheiro, tinha pela primeira vez – e gratuitamente – a oportunidade de ir a uma sessão de cinema. O público em questão, acompanhado de professores e coordenadores, lotou as cadeiras do Teatro Zélia Lessa, em Itabuna. O espaço sedia a primeira incursão da Bienal da Bahia pelo interior.”

CINEMA YEMANJÁ Circuito Cineclubes CINECLUBES 21 FILMES 88

Cláudio Lírio, Cineclube Mocamba - Itabuna (BA)

Circuito Espaços Culturais CIDADES 14

PROJEÇÕES 78

PÚBLICO 3.000 (aprox.)

ESPAÇOS 12 FILMES 88

CIDADES 8 PROJEÇÕES 85

PÚBLICO 705

No dia 5 de junho se abriu a primeira temporada do circuito de apresentações de Cinema Yemanjá, mostra de cinema da 3ª Bienal, que envolveu 21 cineclubes e 12 espaços culturais do estado de Bahia. Usando as palavras de Cláudio, um dos cine-filhos do circuito cineclubista baiano, a ação representou a chegada da Bienal no interior.

de capilarizar a circulação dos filmes em territórios distantes, promovendo a democratização do acesso ao cinema e estimulando o senso crítico dos espectadores com os debates abertos. Além disso, nos deram a emoção de saber que esta experiência significou, por alguns olhares, o primeiro encontro com uma tela de cinema.

sessões de cinema ainda continuam regulares, é necessário atravessar os trilhos da ferrovia suburbana, ser levado por um bando de gente miúda e cumprimentar um gato rosa. Para uma certa Alice, seria uma aventura ordinária.

Itabuna, Itapetinga, Jacuípe, Valença, Rio de Contas, Heliópolis, Porto Seguro e Juazeiro são algumas das cidades que receberam a mostra nas praças, nos quintais, nas salas das associações, nos espaços culturais, nas casas de farinha.

Apenas uma questão de acesso? Mas o que é que torna algo inacessível? A distância?

A 3ª Bienal da Bahia agradece aos contadores de histórias de ontem e de hoje, aos cine-filhos que abriram as portas das suas casas, aos olhares daqueles que se deixaram seduzir pela sétima arte.

No total, 33 casas para a Bienal. Os cineclubes, assim como os espaços culturais do estado, deram a possibilidade

Nem sempre é preciso ir tão longe para encontrar o interior, o outro. Uma das surpresas da mostra foi a implantação do cineclube na Cidade de Plástico (CCDP), na cidade de Salvador, conhecida também como Ocupação Guerreira Zeferina, uma comunidade localizada no bairro de Periperi. Para chegar até a pracinha da capoeira, onde as

O Nordeste como experiência humana.

CARMEN PALUMBO Curadora-assistente da 3ª Bienal da Bahia

CINECLUBES 1. SALVADOR Cineclube Vila Cineclube do Imaginário Cine Sereia Rede REPROTAI Imagens Itinerantes Urubucine Cidade de Plástico Clã Periférico

2. JACOBINA Payayá - Associação de Ação Social e Preservação das Águas, Fauna e Flora da Chapada Norte 3. HELIÓPOLIS Filhos do Sol 4. ITABUNA Mocamba

5. ITAJUÍPE Cineclube AFAI

6. ITAPARICA Oficina das Artes

7. CAIRU Cine Mais Saber

8. RIO DE CONTAS Espaço Imaginário 9. CACHOEIRA Mario Gusmão

10. CARAVELAS/TEXEIRA DE FREITAS Cineclube Professor Ralile 11. ITAPETINGA Difusão Cineclube Itapetinga 12. MAR GRANDE Manga Rosa

13. VITÓRIA DA CONQUISTA Janela Indiscreta 14. POÇÕES Tela em Transe

ESPAÇOS CULTURAIS 1. SALVADOR Casa da Música Centro de Cultura de Plataforma Cine-teatro Solar Boa Vista Centro Cultural de Alagados Sala Walter da Silveira / DIMAS 2. FEIRA DE SANTANA Centro de Cultura Amélio Amorim 3. SANTO AMARO Teatro Dona Canô

6. PORTO SEGURO Centro de Cultura de Porto Seguro 7. JUAZEIRO Centro de Cultura João Gilberto

8. VALENÇA Centro de Cultura Olívia Barradas

4. ALAGOINHAS Centro de Cultura de Alagoinhas

Obra de Clara Domingas (Técnica mista: stencil e urucum)

Exibição do filme Toda a memória do mundo (Alain Resnais) no Cineclube Vila, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

Exibição do filme Boi Aruá (Chico Liberato) no Cine Sereia, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

Ocorre a primeira Oficina de Pintura da Bienal, ministrada pelo professor Rener Rama. Foto Rafael Martins

5. MUTUÍPE Centro de Cultura de Mutuípe

Foto Reprodução

Foto Reprodução


JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 6 de junho de 2014 JORNAL

Mar de Itaparica visto da sede do Instituto Sacatar | Foto Alfredo Mascarenhas

A TÁBUA DAS MARÉS ANA PATO Curadora-chefe da 3ª Bienal da Bahia

O Programa de Residência da 3ª Bienal da Bahia, em parceria com o Instituto Sacatar, ofereceu a permanência de trabalho a artistas e curadores como ação antecedente à Bienal. Entre 17 de março e 12 de maio, Omar Salomão, Eustáquio Neves, Lisette Lagnado, Ícaro Lira, Rodrigo Matheus, Giselle Beiguelman, Luisa Mota, Luis Berríos-Negrón, Gustavo de Carvalho, Renan Vieira Andrade, Paulo Nazareth, Charbel-joseph H. Boutros, Camila Sposati e Milena Travassos estiveram na ilha de Itaparica, em períodos alternados e em grupos de seis residentes por vez. A proposta da Bienal foi usar o espaço da residência para pesquisa de campo e produção das obras. Os artistas desenvolveram projetos de site specific, e no caso do grupo ligado ao núcleo Arquivo e Ficção, a residência tornou-se um lugar de encontro e de interlocução. Para Lisette Lagnado, curadora convidada para integrar o Campo Gravitacional Crítico, a residência foi “uma espécie de laboratório de reflexão dos personagens históricos e do contexto vivenciado no espaço de trabalho”. Ou ainda, como comenta Ícaro Lira: “Comemos a mesma comida durante dias. Ficamos completamente contaminados uns pelos outros. Ao fim de cada dia, sentávamos na varanda da casa escutando o mar juntos, sempre com uma garrafa de alguma cachaça de Minas. Às vezes mergulhávamos no mar no meio da noite e acordávamos uns aos outros para o café. Esperando o ferry juntos, lendo os mesmos livros que ficavam espalhados pela casa.” A possibilidade de “digerir” em conjunto uma experiência comum, a ativação do Arquivo Público, foi potencializada por essa vivência. Além disso, o processo intenso de pesquisa resultou em um deslocamento cotidiano dos artistas de Itaparica rumo a Salvador. A ilha torna-se assim um lugar que não se pode transpor ao gosto das nossas vontades. A maré determina não só a travessia, mas impõe um tempo de espera e concessão.

L I N H A

D O

T E M P O Juraci Dórea reproduz o pigmento International Kein Blue (IKB) no Galpão das Oficinas do MAM-BA para exposição na Igreja do Pilar.

Hilda Salomão realiza a Ação Mural Aberto no Espaço Vivá, onde o público, majoritariamente de jovens, realizou trabalhos em placas de argila. Foto Gillian Villa

Foto Alfredo Mascarenhas


7 de junho de 2014

GRUPOS DE AÇÃO

10º

ANA PATO

A formação de Grupos de Trabalho teve como objetivo promover o diálogo entre arquivistas, museólogos, bibliotecários, arquitetos, comunicadores, artistas e curadores e nos permitiu abordar outras perspectivas para lidarmos com a documentação existente nos arquivos e bibliotecas. Para tanto, era fundamental criar uma dinâmica que não construísse relações de hierarquia entre arquivistas1 e artistas, como também evitasse a submissão de um ao campo do outro. A intenção era criar com as discussões um terreno fértil para que os arquivistas pudessem não apenas acompanhar os artistas e a curadoria em suas pesquisas, mas repensar suas práticas durante o processo da Bienal. Participaram do projeto o Arquivo Histórico Municipal da Fundação Gregório de Mattos da Prefeitura de Salvador; o Arquivo Público do Estado, o Centro de Memória da Bahia e as bibliotecas públicas estaduais administradas pela Fundação Pedro Calmon; além do Instituto de Ciência da Informação e do curso de Museologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, ambas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Todas as atividades deste projeto tiveram como pressuposto a problemática do arquivo e a arte contemporânea atuando como fio condutor. Nessa direção, a proposta de ocupação do Arquivo Público do Estado e da Biblioteca dos Barris durante a Bienal da Bahia não se resumiu a levar o artista para o arquivo, mas a propor situações que priorizassem a colaboração e o choque de práticas e procedimentos utilizados no campo da arte e das ciências humanas, com o objetivo de discutir a problemática do arquivo no contexto brasileiro e, mais especificamente, na Bahia. Por que nossos arquivos estão em situação de risco? Como tornar público o Arquivo Público? Qual a chave mágica para abrir os arquivos?

Foto Patricia Almeida

Fantasmas na Biblioteca, projeto do GT Bibliotecas (formado pelos arquitetos Daniel Sabóia, Diego Mauro, Patricia Almeida, Ícaro Vilaça, pelo performer Tiago Ribeiro e pela pedagoga Marta Argolo) de módulos destinados a conversas com funcionários e usuários da Biblioteca Pública do Estado da Bahia. A esse GT foi proposto investigar a presença da oralidade nas bibliotecas públicas, em diálogo com artistas da Bienal.

(1) O uso do termo arquivista, aqui, refere-se aos profissionais e estudantes que se relacionam com os arquivos, e não especificamente à classe profissional dos arquivistas.

Foto Alfredo Mascarenhas

GT Arquivistas (formado pelos arquivistas Adriana Pacheco dos Santos, Daniel Marins e Eduardo Wintzel e as museólogas Anna Paula Silva e Janaina Conceição) no Teatro Vila Velha. A eles, foi proposto problematizar a prática arquivista a partir do contato com a prática artística.

Oficina MaPaginário - Escritas em Trânsito | Foto Alfredo Mascarenhas

As expedições são uma tentativa de criar situações inesperadas de troca e de reconhecimento do contexto local. O diálogo acontece no meio do caminho, ao atravessar a rua, ao parar para descansar, ao seguir adiante, ao mudar de direção. As caminhadas ligadas ao projeto Arquivo e Ficção começaram como um desejo de conhecer o bairro, os vizinhos, o trajeto que levava do Arquivo Público ao Cemitério Quinta dos Lázaros e à Escola Parque. Que caminhos percorrer? Como e quando decidir parar e encontrar o outro? Foram várias caminhadas com o GT Narradores para os bairros de Plataforma, Pernambués, Narandiba, Engenho Velho de Brotas, com os mediadores do Arquivo Público, os alunos e professores da Escola Parque, com o grupo Levante Popular da Juventude e os artistas Clara Domingas, Ícaro Lira, Laura Castro e Leonardo Villa-Forte.

A coreógrafa, professora e pesquisadora Lia Robatto coordena a ação Processo Compartilhado no primeiro piso do casarão MAM-BA. Artistas visuais, bailarinos, músicos e poetas participaram do evento. Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

Expedição do GT Narradores (formado pelos comunicadores Enderson Araujo/Mídia Periférica, Monique Evelle/Desabafo Social, Negro Davi e Ítala Herta) ao Engenho Velho de Brotas, com os alunos da Fundação Pierre Verger. A eles, foi proposto narrar o processo de pesquisa e montagem da exposição no Arquivo Público. O objetivo foi trazer para projeto o olhar de jovens comunicadores, com atuação política independente e que muitas vezes não consta da história “oficial”, encontrada nos Arquivos.

Acontece um novo encontro do Grupo de Pesquisa em Gravura em Metal, com o professor Evandro Sybine.

Exibição do filme As Hiper Mulheres (Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro) no Cineclube Mocamba, em Itabuna, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Foto Rafael Martins


11º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 8 de junho de 2014 JORNAL

A QUESTÃO DO TRABALHO MARCELO REZENDE Diretor Artístico da 3ª Bienal da Bahia

L I N H A

D O

T E M P O

A Oficina de Desenho, ministrada por Olga Gómez, tem sua segunda edição na Bienal. Foto Rafael Martins

Em janeiro de 2013, teve início no Museu de Arte Moderna da Bahia a implantação de um novo projeto, procurando por meio de novas ações e programas aproximar a instituição das intenções originais de seu início: ser um espaço de pesquisa constante a fim de possibilitar não apenas a conservação de um acervo, mas a criação de um sistema de trocas de conhecimento sem distinção sobre a origem social e histórica desses saberes. Para o MAM-BA, nesse novo momento, a questão com seu próprio passado não foi promover a repetição de sua origem nem mesmo provocar qualquer tipo de “aggiornamento”; mas, antes, perceber nessa mesma origem, potências

O ateliê Livre das Oficinas do MAM-BA recebeu a artista Lauren Selden, da Universidade Stephen F. Austin (EUA), que confeccionou e encheu de ar uma escultura inflável.

Ministrada por Maninho Abreu, o Pinte na Bienal, atividade gratuita para adultos e crianças, aconteceu em mais um domingo no MAM-BA. Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins


9 de junho de 2014

Foto Lara Carvalho

12º

Foto Ana Clara Araújo

MAM DISCUTE BIENAL E MAM DISCUTE SISTEMA E CIRCUITO DAS ARTES

SISTEMA DE TROCAS

De março a novembro de 2013, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) realizou duas séries de encontros, palestras e atividades que proporcionaram o debate sobre os modelos de Bienais existentes no Brasil e no mundo, ampliando a discussão sobre qual seria o formato mais propício para o cenário baiano atual.

Com o objetivo de promover o encontro entre todas as formas de inteligência em contato direto, o Sistema de Trocas trouxe discussões sobre assuntos contemporâneos e de interesse público, como as relações situacionais; as relações entre o homem e a natureza; noções de tempo; o uso alimentar, medicinal e sagrado das ervas; triângulos, pirâmides e espirais.

Foto Ana Clara Araújo

Foto Blenda Tourinho

MAM MANIFESTO

É TROPICAL, INCLUSIVE

Em novembro de 2013, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) ofereceu ao público atividades e encontros especiais com um calendário comemorativo do programa MAM Manifesto. Com a política de tornar evidente o pensamento do museu, aumentando seu alcance em um espaço de discussão pública, o MAM-BA realizou especialmente durante o mês de aniversário de 50 anos da sua mudança para o Solar do Unhão leituras públicas, debates e uma série de intercâmbios.

Com 23 obras espalhadas pelos dois pisos do principal espaço expositivo do MAM-BA, a exposição É tropical, inclusive teve seu título emprestado do ensaio Nordeste – publicado por Gilberto Freyre nos anos 1930 – e revisitou o acervo do MAM-BA sob uma perspectiva climática, procurando identificar no percurso da arte brasileira da segunda metade do século XX o sentimento da tropicalidade comentado pelo antropólogo. A mostra permaneceu aberta de dezembro de 2013 até março de 2014.

Foto Ana Clara Araújo

possíveis de serem agora concretizadas num novo contexto local e global, mais de meio século após a criação do museu. Essas ações tiveram ainda a tarefa de conseguir conduzir uma transição entre o “tempo do museu” e o “tempo da 3ª Bienal da Bahia”, em razão de o MAM-BA ser a instituição responsável pela realização desse retorno de projetos de bienais na Bahia. Naquele momento, o MAM-BA passa a trabalhar com projetos expositivos (É tropical, inclusive, sobre questões climáticas a partir da produção do antropólogo Gilberto Freyre), modelos de montagem, expansão para outros espaços, criação de cursos livres e oficinas e outros modos de contato com o público. Um exemplo foi MAM

Manifesto – ações em novembro de 2013 envolvendo teatro, dança, canto, música, culinária e cinema. Todas as atividades realizadas no Casarão do sítio do MAM-BA. Essa experiência de atividades de contato e diferentes perspectivas humanas se torna o começo mesmo de todo o processo de realização da 3ª Bienal com o programa Sistema de Trocas. Mais uma vez, o Casarão do museu passa a receber artistas, profissionais de diferentes áreas, trabalhadores, curadores e demais agentes a fim de discutir publicamente ideias e intenções que serviriam para orientar e materializar as diversas práticas propostas pela 3ª Bienal da Bahia.

A Ação Mural Aberto, ministrada pela professora Hilda Salomão, recebeu pacientes do Hospital Juliano Moreira nas Oficinas do MAM-BA. Foto Alfredo Mascarenhas


13º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 10 de junho de 2014 JORNAL

SUPERAR OS PROBLEMAS DA ARTE

Na Igreja do Santíssimo Sacramento do Pilar, na região do bairro do Comércio, em Salvador (uma construção do século 18), uma ideia sobre um possível relicário tocando o desenvolvimento histórico da arte conceitual foi apresentado por meio de peças dos artistas Yves Klein, do libanês Charbel-joseph H. Boutros e do brasileiro Mestre Ambrósio Córdula.

Foto Alfredo Mascarenhas

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Graça Seção: Imateriais Igreja do Pilar PERÍODO 10/06 a 05/09

VISITANTES 468

A igreja foi construída em 1718 com a ajuda financeira da colônia espanhola. A pintura do teto, o douramento da talha e mais oito painéis são de autoria de José Teófilo de Jesus.

SOBRE A ESPACIAL

Na Bahia e no nordeste brasileiro, o conceitualismo foi mantido à margem das grandes narrativas oficiais e dos projetos de obras públicas, se sustentando com muita dificuldade entre os sistemas e os microssistemas locais e nacionais; e mesmo esse pouco espaço foi conquistado sobretudo em razão do voluntarismo de artistas e outros agentes das cenas culturais locais. Nesse relicário proposto pela 3ª Bienal da Bahia, Klein é visto como um ponto de origem, capaz de articular a um só tempo os discursos sobre a imaterialidade, a forma, a relação com a natureza, o método científico e o mistério presentes na geração pertencente ao conceitualismo histórico, mas que em Klein é ainda um confronto violento e brutal em busca de saídas em direção a novas possibilidades para o real.

Todos os dias pela manhã, na abertura da igreja do Pilar, autofalantes emitiam a oração escrita por Klein a Santa Rita. O espiritual em Klein, o imaterial da arte que viria em liberação de seus conflitos com a história, em uma narrativa imaginária sobre o desenvolvimento do conceitualismo em diferentes e possíveis territórios.

Marcelo Rezende

ORDENAÇÃO

Uma das estratégias propostas pela 3ª Bienal da Bahia foi a recusa a toda forma de ação cenográfica em seus mais de 30 projetos expositivos. Entre as razões dessa oposição, o desejo de promover uma reflexão sobre modelos expositivos e modos de atuação que pretendem criar uma suposta “universalização” da linguagem expositiva quando, na verdade, apenas sustentam uma perversa lógica econômica. Assim, a estratégia adotada foi trabalhar em diversos espaços a partir de seu contexto histórico e situação de ordem social. Esses elementos não se manteriam neutros diante dos projetos artísticos trabalhados pela Bienal, mas se tornariam novas camadas aptas a oferecer leituras e contextos em contato permanente com a obra e a pesquisa artística, em um cruzamento permanente entre a cultura e as manifestações da arte.

L I N H A

Seu International Klein Blue (IKB) foi apresentado. A mistura química para se chegar ao pigmento foi realizada pelo artista baiano Juraci Dórea a partir de instruções do químico Edouard Adam, com quem Klein havia trabalhado na criação do pigmento em 1960. Ao lado do IKB, uma edição original de uma publicação feita por Yves Klein no final dos anos 1950, Le Dépassement de la problématique de l’art. Sobre o mesmo altar, um pequeno frasco contendo uma lágrima do olho direito de Charbel-joseph ao lado de uma imagem de Santa Rita de Cássia, esculpida por Ambrósio.

D O

Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Encontro Seção: Formas de Orientalismo Ateliê Eckenberger PERÍODO 10/06 a 06/09

Instalado no tradicional bairro do Santo Antônio, o ateliê de Reinaldo Eckenberger é composto por sua produção que inclui pinturas, gravuras, esculturas em tecido, desenhos livres e cerâmicas. Foto Alfredo Mascarenhas

ECKENBERGER: EM ALGUM LUGAR, LOGO O ateliê do artista argentino, radicado na Bahia, Reinaldo Eckenberger, integrou a constelação de espaços expositivos da 3ª Bienal da Bahia. Localizado na Rua dos Passos, no tradicional bairro do Santo Antônio Além do Carmo, o ateliê ficou aberto à visitação até o encerramento da Bienal. Eckenberger possui 40 anos de carreira e incontáveis obras barrocas, influenciadas pela cultura portuguesa. Além das obras do acervo, o público pôde também contemplar uma obra do artista inglês Jonathan Monk, Somewhere Soon (2010). Constituiu-se assim o Museu Imaginário do Nordeste | Departamento do Encontro | Seção: Formas de Orientalismo.

T E M P O Exibição do filme Guerra e Paz no Jardim (Jean-Yves Collet) no Espaço Cultural de Alagados, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

Foto Reprodução

VISITANTES 2.265

Foto Gillian Villa

Oficina Cadastro, com o tema Nós, foi ministrada por Guilherme May. No encontro, o público aprendeu diferentes nós e suas respectivas utilidades.

Foto Rafael Martins

Alunos e artistas em formação desenvolvem pesquisas próprias no Grupo de Pesquisa em Litografia com o professor Renato Fonseca, usando as matrizes das Oficinas do MAM-BA.


11 de junho de 2014

14º

ARTISTAS INVISÍVEIS ÍTALA HERTA*

Em setembro do ano passado fui chamada para encabeçar uma proposta de Marcelo Rezende chamada MAM Lado B. Era para ser um programa voltado para relações com comunidades em torno de projetos independentes da cidade. Eu faria a interface com alguns bairros periféricos de Salvador escolhidos como foco inicial, para a gente aproximar o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) dessas pessoas, desses artistas. O intuito não era fazer eventos em comunidade, mas sim ações educativas; não só fazer com que as pessoas se envolvessem com a programação do museu, mas que a gente potencializasse o que já existia nessas comunidades. Enquanto mapeávamos os territórios mais efervescentes, entrou a Bienal. Se falou de alguns bairros que eram interessantes para o MAM-BA por conta da relação com o governo e prefeitura. E o Subúrbio era um deles. Comecei a mapear quais eram as personalidades, as lideranças do Subúrbio e também [do bairro] da Liberdade. Mas foi no Subúrbio que a gente conseguiu realizar um trabalho com começo, meio e fim. Em 10 de fevereiro entrei em contato com a gestora do Centro Cultural Plataforma, dentro da proposta de integrar alguns espaços culturais do Estado como espaços expositivos da Bienal. Peguei essa lista e fiz um recorte de quais estão próximos à periferia, como o Centro Cultural Plataforma e o Engenho Velho de Brotas. Fui atrás desses espaços para explicar a proposta de mapeamento e esse interesse de sensibilização, porque a gente precisaria envolver o entorno para que as pessoas se sentissem pertencentes à proposta da Bienal. Aí avancei com o Subúrbio. Com a gestora do Centro Cultural fiz primeiro uma entrevista, e ela me falou da cena local. A partir daí, fizemos uma convocatória onde ela, que tem um envolvimento de articulação e mobilização popular, chamou todos os artistas e lideranças para conhecer o projeto MAM Lado B com o recorte da Bienal. Juntamos mais de quinze pessoas lá no teatro, e apresentei o MAM Lado B. Cada um então falou do que fazia em seu bairro. Estes são artistas invisíveis mesmo, porque o Subúrbio é um território invisível. E o desafio era justamente aproximar o que existia no Subúrbio com a proposta da Bienal. Trouxe então para a curadoria educativa uma apresentação de quem eram essas pessoas, e fiz o cadastro deles para possíveis parcerias com o MAM Lado B. Continuei mapeando outros lugares e percebi que existia sempre um comunicador de periferia ou um comunicador independente nesses lugares. A curadora-chefe Ana Pato interessou-se por essas informações e decidiu juntá-las com o que ela estava fazendo em sua curadoria.

Foto Rafael Martins

Mediadores da Bienal vão do bairro 2 de Julho até o Mosteiro de São Bento conversando com o público sobre a 3ª Bienal da Bahia.

Árvore do Seu Ivo Foguete, em Narandiba | Foto Isbela Trigo

Naquele momento eu trabalhava na curadoria de Ana com grupos de trabalho (GT) de bibliotecas, GT de arquivistas e arquitetos, e o GT de comunicadores, que seriam os narradores fazendo todo o registro do seu processo curatorial. E aí o mapeamento nutriu essa intenção de narradores, porque a gente convocou, desses comunicadores independentes, gente de Plataforma, de Itapuã, Nordeste de Amaralina, e de vários bairros periféricos. Convidamos quinze pessoas para o Casarão do MAM-BA, onde cada um teve quinze minutos para apresentar a sua atuação como comunicador independente. Desses quinze, saíram quatro. Foram selecionados os que tinham um viés de comunicação mais político. Daí foram três meses de trabalho onde visitamos todos os arquivos do Estado: Vila Velha, Fundação Gregório de Matos, Arquivo do MEL (Museu Estácio de Lima), Arquivo Público e, a partir daí, surgiram conteúdos para a internet e registros fotográficos. Fizemos um Jornal de um Só Dia da curadoria, que é o jornal que fica disponível nos espaços expositivos, com as narrativas desses jovens comunicadores. Além disso, ocorreram as expedições pelos bairros. Uma expedição-piloto ocorreu no Subúrbio e acabou se desmembrando em diversas outras ações, como a integração do Acervo da Laje na Bienal. Esse trabalho, profissional e pessoalmente, foi um divisor de águas pra mim, porque minha relação com comunidades já vem de um tempo, mas nunca havia tomado tamanha força. Um dos “artistas invisíveis”, por exemplo, Perinho Santana, é o poeta, profeta de Plataforma, que escreve páginas nos muros do bairro. Fomos lá na casa-livro, conhecemos a casa dele. Essa relação que foi construída e essa imersão

na atuação de cada um me fez entender que as coisas precisam só de força, de energia para que aconteçam. Ficou claro que a mediação cultural é importantíssima, partindo de uma sensibilidade de ir ao lugar e criar uma relação tanto com a obra como com o artista. Porque às vezes é assim: o curador define, a obra chega e o artista nem vai lá. Mas Ana teve essa sensibilidade de costurar dentro da curadoria as informações que vinham e as pessoas que apareciam pelo caminho. Houve muita mobilização e a comunidade se envolveu. Isso fez uma diferença absurda não só na proposta Bienal-Subúrbio, mas na reverberação das ações, e, por que não dizer, na própria autoestima dessas pessoas, ao conseguirem uma visibilidade inédita e também poderem se comunicar diretamente com o circuito das artes. Perinho está recebendo convite para ir a São Paulo, o Acervo da Laje hoje está na Bienal de São Paulo. Fazer parte disso, para mim, foi importante desde o primeiro encontro, que foi com o seu Ivo Foguete. Ele veio ao MAM-BA dentro da ação Sistema de Trocas, e depois disso teve gente que já foi lá conhecer a tal árvore do seu Ivo sem precisar da Bienal. E a árvore de seu Ivo passou por um processo da prefeitura, que mandou tirar todos os itens da árvore, mas agora ele está colocando tudo de volta. Tudo isso faz com que a gente entenda que essa proposta de Marcelo Rezende está para além do museu. A Bienal é expandida, e é, acima de tudo, uma experiência humana.

* Atuou como Relações Públicas do núcleo Educativo e integrou o Grupo de Trabalho Narradores do projeto Arquivo e Ficção, ambos na 3ª Bienal da Bahia.

Exibição do filme Sudoeste (Eduardo Nunes) no Difusão Cineclube Itapetinga.

Exibição do filme Boi Aruá (Chico Liberato) no Cineclube Imagens Itinerantes, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Foto Reprodução

Filmes O Regresso de um Aventureiro (Moustapha Alassane) e Os Cowboys são Negros (Serge-Henri Moati) são exibidos no Cineclube Mário Gusmão, em Cachoeira.


15º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 12 de junho de 2014 JORNAL

Foto Rafael Martins

APRENDER A TER COMO SE FAZ UMA MEDIAÇÃO NA 3ª BIENAL DA BAHIA? RECEITA DE MEDIAÇÃO SIMPLES Ingredientes • 2 xícaras de conhecimento sobre arte em geral com ênfase em arte contemporânea • 3 xícaras de conhecimento sobre o eixo temático da 3ª Bienal da Bahia, É tudo Nordeste? • 4 colheres bem cheias de entendimento dos processos burocráticos e da organização hierárquica da Bienal • 3 ideias de caminhos a percorrer pelo espaço e questões a discutir com o grupo • 1 1/2 xícara aproximadamente de troca com os outros mediadores • 1 colher (sopa) bem cheia de abertura para o diálogo com quem seja visitante (criança, idoso, heteronormativo, crossdresser, cachorro, vermelho, estrangeiro) • Tempere com a responsabilidade de formação política e cultural por quem se aproxima • Tropicalidade a gosto Modo de Preparo 1. Bata as ideias e questões em neve 2. Reserve 3. Bata bem o conhecimento sobre tudo o que você souber (inclusive bobices cotidianas) 4. Acrescente a receptividade e a responsabilidade política e cultural aos poucos, sem parar de bater 5. Por último, agregue as conversas e trocas com os outros mediadores 6. Coloque tudo dentro de si, aproveite e se espreguice

L I N H A

D O

7. Vá ao encontro do visitante que está aberto ao diálogo 8. Traga as questões a respeito do que você acredita ser pertinente com o local onde está e com o que a pessoa apresenta como discussão, e esteja aberto para seguir o caminho da conversa.

COMO SE PRODUZ O EDUCATIVO DE UMA BIENAL DA BAHIA?

Ou não, simplesmente se utilize dos seus conhecimentos e malemolência para propor sugestões, se aproximar de pessoas, trocar ideias sobre práticas do mundo, sobre arte, sobre a vida, sobre a Bahia.

Articular pessoas e ideias e concretizar projetos demanda um grande jogo de cintura que é preciso ter quando se está na Bahia. As peculiaridades dessa produção, como falta de verba e estrutura, são compensadas por um trabalho em equipe articulado, dividindo responsabilidades e competências num projeto de gestão horizontal pautado na autonomia das partes. Esse modo operante descentralizado permite que as atividades possam se realizar de forma autônoma, com responsáveis setoriais gerindo o seu tempo e volume de trabalho.

Ana Beatriz Henriques, mediadora da 3ª Bienal

COMO SE FAZ UMA OFICINA DA 3ª BIENAL DA BAHIA? Através do compartilhamento de saberes. Acreditando que o diálogo – mais que pinturas, gravuras, cerâmicas ou qualquer objeto artístico – é o grande produto final, a única maneira sincera de construir o conhecimento. Bienal é experiência. É aprender a partir da própria vivência, unindo pensamento, sentimento, intuição, um pouco de improvisação e muita, muita força de vontade. Leandro Estevam, mediador das Oficinas do MAM-BA na 3ª Bienal

O grande desafio de produzir o Educativo da Bienal da Bahia não se distingue em nada do desafio de se realizar a Bienal em si: saber lidar, saber se relacionar.

Isso permite uma interação mais eficaz e uma relação mais intensa com os diferentes públicos que o Educativo da Bienal atinge com sua proposta, podendo assim distinguir as diversas necessidades e fazer as adequações necessárias durante o processo. Mas o fundamental é entender que estamos na Bahia, e que a Bahia tem formas de relacionamento bastante peculiares, o que nos deixa com uma sensação de que, por mais que planejemos, estamos sempre em processo, sempre em modificação, sempre nos reinventando. Felipe Dias Rêgo, gestor financeiro e coordenador da produção do Educativo da 3ª Bienal

T E M P O

Jogo de Roda, um dos materiais educativos produzidos pela 3ª Bienal da Bahia | Fotos Lara Carvalho


13 de junho de 2014

EXPEDIÇÃO TERRA: DIÁRIO DE VIAGEM E (RE)IMPRESSÕES

16º

CAMILA FARIAS*

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.

Feira de Santana Santa Bárbara Araci Caldas do Jorro Tucano Euclides da Cunha Monte Santo Canudos Cocorobó

Obra de Clara Domingas / (Técnica mista: stencil e urucum)

“Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera.” Riobaldo em Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa

13 JUNHO DE 2014 Saímos de Salvador quase ao meio-dia com mochilas, águas, cadernos de anotações, roupas leves e expectativas em direção à porta do sertão baiano. É Feira de Santana que nos dá as boas-vindas. Terra do nosso guia na Expedição, o artista Juraci Dórea. Encontramos Juraci, munido de amigos de longas datas que também embarcariam na viagem, no Museu Casa do Sertão, na UEFS. Após abraços e confirmações de roteiro, foi dada a largada para a Expedição Terra. A primeira parada foi Santa Bárbara, em uma lanchonete na beira da estrada. Jogo de futebol na TV, carne pendurada no sol, senhoras com panos na cabeça e cigarros na boca, cafezinhos servidos, requeijão como petisco, cair de tarde. Se, há algumas horas, atravessávamos a via expressa da muralha urbana de Salvador, agora já tinha cheiro de sertão, de interior. Passamos pela praça de Araci. Olhos curiosos. O que esse povo quer aqui? Éramos 25 pessoas, passeando pela praça, todos com cheiro de capital. As crianças: soltas, malandras, sem camisas, em cima de bicicletas, posavam para fotos e perguntavam se iam

passar na Globo. Juraci se joga na piscina de bolinhas coloridas. Para dormir: Jorro! Lugar onde brotam da terra águas quentes. Na praça, todos se banham com liberdade de toque e sorrisos – biquínis, maiôs e bermudas persistem, além de toucas de banho. Até os bêbados da praça se encantam com tamanha miudeza delícia que é: se banhar com todos na praça.

14 E 15 DE JUNHO DE 2014 Tenho avós feirantes no Maranhão, sei do cheiro, dos tipos, mas a minha feira do João Paulo não tem uma coisa que a Feira de Tucano tem: gentes! Inúmeras, de todos os tipos, tamanhos e idades. O cheiro do couro é onipresente. As frutas ao sol, senhores e senhoras fazendo versos para a clientela, chuvas de vestimentas ao ar, corda de fumo a se queimar. Apetrechos, chapéus, guarda-facas, guarda-chumbo, bolsas, roupas para a cavalaria. Almoçamos em Euclides da Cunha e chegamos a Monte Santo já de tardezinha. Juraci propõe subirmos o monte que dá nome à cidade. Como escudo do município, o monte tem capelas e cruzes no decorrer de suas subidas, que caracterizam o ponto místico do sertão baiano. Subimos ao som de música clássica, pernas bambas e suor. Foi chegar e ser agraciado pela lua, que nascia gorda e vermelha. No dia 15 de junho entramos na terra, conhecendo casarões, texturas, ouvindo saberes de quem nos acompanhava. Neste momento, já contávamos com duas presenças ilustres: Dedega e

Wilson. O primeiro, amigo de andanças de Juraci Dórea e conhecedor da região. O segundo, o sanfoneiro que ganhou nossos corações com a frase: gostaria de adentrar nessa van e seguir com vocês viagem, posso?! E foi com sanfona, piqueniques, narrações de Dedega e emoções visíveis de Juraci Dórea que passamos em algumas das trilhas do sertão, entre povoados e pequenos vilarejos. Um dos momentos mais emocionantes foi observar Juraci se encantar com um pé de umbuzeiro. O pé ficava na frente da casa de uma amiga. Amiga e casa já não estavam mais lá, mas ouvi gente jurando que é impossível não notar a presença de ambos no local. Voltamos a Monte Santo para projetar dois filmes na praça. A tocaia era simples: esperar o sino do final da missa tocar e chamar quem se aventurasse a nos acompanhar. Primeiro o documentário Terra, sobre o trabalho artístico de Juraci Dórea, depois o filme mudo de Benjamin Abrahão sobre Lampião. Ao final, nem com os créditos na tela, o público saiu.

16 DE JUNHO DE 2014 Na manhã seguinte, antes da estrada, fizemos visita rápida ao Museu do Sertão em Monte Santo. Cartaz de Deus e o Diabo na Terra do Sol na porta, fotografias, peças de cerâmica, objetos domésticos, documentação, mais um umbuzeiro… um tesouro em forma de casa que abriga alguns dos códigos visuais desse lugar imaginário e tão real que é o sertão.

Para finalizar a Expedição: Canudos. Chegamos ao Açude por volta do meio-dia, saímos de lá às três da tarde, envoltos com a mística do lugar e com seus personagens. O primeiro deles, Seu Manoel, mantém um pequeno museu sobre a guerra de Canudos. Com o rosto cheio de rios de tempo, com as mãos dadas à sua senhora, foi rápido e direto: “Não há melhor lugar para se viver que o sertão! Não me convenço que São Paulo seja melhor do que aqui. Só precisamos da chuva, só dela”. Ao lado do Seu Manoel, Dona Madalena, seios fartos e um sorriso de derrubar exércitos que nos serviu uma tilápia histórica e nos contou que se Canudos continuasse crescendo do jeito que tava, aos sabores de Antônio Conselheiro, haveria de ter chegado era em Feira de Santana. Não esqueço mais nunca dos olhos curiosos, das casas coloridas, das comadres na praça, do bode berrando e avisando sua trupe, das gentes nas janelas e batentes vendo a vida correr, enquanto eu, munida de uma prancheta, me sentia uma tola em querer entender porque o sertanejo é tão especial. Entre paisagens e cores, ruínas e cheiros, e gentes que Juraci Dórea nos apontou, carrego uma leve certeza: os nossos cavaleiros tupiniquins, guerreiros do sol e da terra, ainda existem, persistem, e estão lá cheios de histórias, convivendo com natureza do seu lugar no mundo e reverberando saberes para o asfalto, até um futuro, desejo, infinito.

* Produtora executiva da 3a Bienal da Bahia

Fotos Alfredo Mascarenhas


17º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 14 de junho de 2014 JORNAL

PEÇA DE COMPOSIÇÃO TELEPÁTICA Salvador, 11 de junho de 2014

Museu Imaginário do Nordeste Departamento das Zonas Imateriais Seção: Psicologia do Testemunho

À Direção Geral da 3ª Bienal da Bahia Hoje pela manhã encontrei Itaberaba Sulz Lyra, originário de Helvécia. Ele é escritor. O único documento que ele possui, e que achei muito interessante, é um livro datado de 1847 que passou de pai para filho até chegar à sua mão. Neste livro, a Sociedade Porto de São José anotou, desde seu ano de fundação, as atas dos encontros dos sócios. O livro ficou como registro das atividades por quase 60 anos (a última data registrada é 1898). As atas acompanham alguns acontecimentos da Colônia Leopoldina, como a fundação de Helvécia, que se deu oficialmente em 14 de setembro de 1872, mas que já existia desde 1847. A página mais interessante é aquela onde se registra o emprego de “negros” no cultivo do café. A palavra “escravos” não aparece em nenhuma página, apenas a palavra “negros”, uma vez. Outra página relevante é datada de 1878. Nesta ata um dos fazendeiros propõe a “importação” de chineses para a lavoura do café. Dez anos antes da abolição da escravidão. Na opinião do Itaberaba, os fazendeiros já estavam cientes que a abolição era iminente.

ICBA PERÍODO 14/06 a 06/09

VISITANTES 2.175

Após a fundação do Goethe-Institut na Alemanha, em 1951, o Goethe-Institut Salvador-Bahia/ICBA foi fundado em 1962 e sempre funcionou no prédio onde está localizado até hoje, em um casarão no Corredor da Vitória. Em 2015, será transformado no primeiro Instituto Goethe de residências artísticas e acadêmicos no hemisfério sul.

Ele acha também (assim como outros entrevistados) que nunca houve um clima de repressão nos engenhos. Os escravos de Helvécia foram libertados provavelmente antes da abolição. Segundo Ciro Barcelos (coreógrafo do Rio de Janeiro que desenvolveu um projeto teatral em Helvécia) outros escravos de outras regiões se instalaram em Helvécia por conta do clima mais liberal da comunidade. Depois da abolição da escravatura, alguns fazendeiros foram embora, outros ficaram, como os pais de Itaberaba (em anexo um retrato deles). Hoje, 90% da população de Helvécia é negra. Entrei em contato com os moradores de Helvécia. A líder da comunidade, Tidinha, é presidente da Associação Quilombola de Helvécia e futura diretora do museu que será instalado na comunidade. O material deste museu ainda não existe, ou pelo menos ainda não foi feito levantamento. Nenhum dos quatro entrevistados possui fotos. Sobre a presença ou não de um quilombo na época da escravidão, existem várias versões, mas a maioria dos entrevistados acredita que nunca se formou de fato uma comunidade quilombola – afinal, sem repressão, não se fazia necessária resistência. Em 2005 o distrito de Helvécia foi reconhecido como área remanescente de quilombo e, no ano seguinte, foi criada a Associação Arte Helvécia, constituída por mulheres quilombolas. A Associação foi fundada com o apoio da Suzano Papel e Celulose, segunda maior produtora de celulose de eucalipto do mundo e líder no mercado de papel da América Latina. A Suzano possui em Helvécia uma unidade de exploração de eucalipto. No site do Instituto Supereco, organização não-governamental de educação ambiental, lê-se que a Associação foi fundada “com o objetivo de propor alternativas de renda e a conservação do meio ambiente com a produção do artesanato e o incentivo ao consumo consciente e responsável”. Hoje, as mulheres quilombolas criam o crochê com lascas de eucalipto. Helvécia, desde a década de 1980, sofre as consequências da monocultura de eucalipto que devastou a flora e a fauna do lugar, assim como de tantos outros distritos da região do extremo sul baiano. Entre os países que possuem ações do Grupo Suzano: China, Suíça, EUA, Brasil, Israel, Argentina, Áustria, Ilhas Cayman. Zé da Paz, descendente de italianos e morador de Helvécia, me contou que o cemitério antigo, onde as lápides dos escravos eram separadas por uma cerca das lápides dos fazendeiros, foi depredado e invadido pelo cultivo dos eucaliptos. Zé me contou também que a Rainha da Inglaterra possui ações da multinacional. Em anexo as fotos das lápides devastadas pelos eucaliptos. Esta parece ser a história/estória. Na minha opinião, o livro de Itaberaba é um documento único, de 174 anos. Como exibir tudo isso? Carmen Palumbo Curadora-assistente da 3a Bienal da Bahia A fundação de Helvécia (antiga Colônia Leopoldina), cujo nome é devido à origem suíça de parte do seus primeiros colonizadores, inscreve-se no quadro da imigração alemã no Brasil dos séculos XIX e XX, que teve como causas os problemas sociais que ocorriam na Europa e a fartura de terras no Brasil. Em 1808, com decreto régio, foi permitida a imigração de não-portugueses para o abastecimento das cidades e o branqueamento da população. Em 1818 nasce a Colônia Leopoldina, primeiro exemplo de imigração alemã no Brasil, com o intuito de incrementar a produção de alimentos e de matérias-primas, e de provocar mudanças nas atitudes mentais dos camponeses brasileiros.

L I N H A

D O

O conceitualismo é um capítulo na história da arte ocidental, uma vocação ou uma ferramenta que cria outras possibilidades diante da experiência humana? Nesse último caso, essa ferramenta serviria como uma chave de acesso ao ilimitado potencial de um projeto artístico que se move entre as ações da história e os movimentos da cultura. O escritor Arno Schmidt se integra aos campos de pesquisa da 3ª Bienal a partir de seus métodos de produção e reprodução de imagens, desenvolvidas por meio da escrita, de seu arquivo fotográfico e textos para serem lidos oralmente. Assim, Arno Schmidt se aproxima dos processos de desconstrução do real na sempre acidentada e inexata narrativa da arte. Marcelo Rezende

T E M P O

Exibição do filme Esse amor que nos consome (Allan Ribeiro) no Cineclube Espaço Imaginário, em Rio de Contas, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Arno Schmidt | Foto cortesia da Fundação Arno Schmidt

Mais uma Ação de Guerrilha, dessa vez partindo do ateliê Eckenberger – espaço expositivo da Bienal – e percorrendo a área do Pelourinho.

É exibido o filme Morro do céu (Gustavo Spolidoro) no Cineclube Tela em Transe, em Poções. Foto Reprodução

Foto Rafael Martins

Grupo de Pesquisa em Gravura em Metal com Evandro Sybine.


15 de junho de 2014

GOETHE UND EINER SEINER BEWUNDERER [»... und es ist ebensowenig wahr, daß ich um eine Privataudienz beim Papst nachgesucht hätte! .....«]

Er frisset entsetzlich! (Jean Paul)

GOETHE E UM DE SEUS ADMIRADORES [»... e é tão pouco verdadeiro que eu pedi uma audiência privada com o Papa! .....«] Ele come horrível! (Jean Paul)

Endlich war es gelungen, Tote wieder lebendig zu machen; oder, präziser ausgedrückt: Leute, die das erste Leben und den ersten Tod erlitten hatten, auf kurze Zeit wieder zurückzurufen (ichweißichweiß; exakt müßte ich sagen: das n=te Leben; und jetzt befinden sie sich in n plus 1. – Natürlich hatte es mit den Unsterblichkeitstheorien des Christentums nicht das geringste zu tun; es war wieder mal ganz anders). Finalmente foi possível trazer os mortos de volta à vida; ou, para ser mais preciso: as pessoas que sofreram a primeira vida e a primeira morte, a lembrar, por um curto período de tempo, outra vez. (euseieusei, o certo seria dizer: a vida é X e agora eles estão em X + 1. – e claro que não tinha nada a ver com as teorias de imortalidade do cristianismo, foi, novamente, bem diferente).

Aber wozu die langen Erläuterungen; die Sache selbst ist ja jedem Kinde bekannt, zumal seitdem Knaur jetzt die Volksausgabe darüber herausgebracht hat (vom ‹Bonjour immortalité› dieser elfjährigen Pariserin ganz abgesehen. Und dem Rororo=Taschenbuch). Mas por que a explicação toda; a coisa em si já é bem conheci-

da das crianças, principalmente depois que Knaur lançou a edição popular a respeito (para não mencionar o <Bonjour immortalité> dessa parisiense de onze anos. Além da edição de bolso).

Natürlich sind 15 Stunden nicht viel, zugegeben; aber es ist doch schon was, wenn man sich mit Hannibal ante portas unterhalten kann. (Obwohl das sofort zu den ersten Unstimmigkeiten führte: Walther von der Vogelweide hatte sich arg darüber beklagt, daß die Germanisten das Mittelhochdeutsche so komisch aussprächen. Und bei der byzantinischen Theodora hatte man vor dem verzweifelten Dilemma gestanden: die Professoren für Griechisch konnten nicht mehr gut; und wer gut konnte, hatte noch nicht genug Ahnung vom Griechischen!). E claro que 15 horas podem não acrescentar muito; mas já é alguma coisa, poder conversar com Hannibal ante portas. (Embora levasse de imediato às primeiras divergências: Walther von der Vogelweide reclamou muito da maneira ridícula com que os estudiosos alemães falavam o alemão médio. E a bizantina Theodora ficou diante de um dilema desesperador: Professores de grego não lhe serviam; e os que serviam, não sabiam grego o suficiente!).

Das war es nämlich: jeder Revenant mußte selbstverständlich ‹geführt› werden! (‹Zur Austarierung des Zivilisationsgefälles›, wie es sich vornehm=offiziell eingebürgert hatte; also, plan gesagt: um allzu häufiges Überfahren= und Verhaftetwerden zu vermeiden; dem ‹Alten› konnte zwar nicht viel passieren, aber es ging kostbare Zeit dadurch verloren; für den ‹Führer› wurde eine zusätzliche, auf 24 Stunden befristete, Lebensversicherung abgeschlossen – die aber doch wohl von problematischem Wert war: die ‹Police›, in einem Sprachgemisch aus ‹Kritik der reinen Vernunft› und ‹Finnegans Wake› abgefaßt, gab in § 811 b nicht undeutlich zu verstehen, daß Antitrinitarier, zumal, wenn ihnen die Tonsillen, sei es auch nur zum Teil, entfernt wären, von einer ‹Zahlung im bürgerlichen Sinne› so lange ausgeschlossen sein sollten,

Acontece mais uma edição da Oficina de Desenho com a professora Olga Gómez.

Foto Rafael Martins

‹bis die distributive Einheit des Erfahrungsgebrauches, die an der Spitze der Möglichkeit aller Dinge steht, zu deren durchgängiger Bestimmung die realen Bedingungen hergegeben› hätte!). Acontecia assim: cada Retornado tinha que ser guiado, é claro! ( <para balancear hiato de civilização> como uma instauração nobiliárquica = se naturalizar oficialmente; enfim, simplificando: evitar um frequente atropelamento = ser preso; embora não pudesse acontecer muita coisa ao <Velho>, um tempo precioso foi perdido; para o <Führer> um seguro de vida adicional, limitado a 24 horas, foi firmado - o que certamente era algo problemático: o seguro, escrito num mix de linguagens da <Crítica da Razão Pura > e de <Finnegans Wake>, deu a entender no § 811 b, de forma obscura, que os anti-trinitários, especialmente os que tinham as amígdalas, ainda que parcialmente, a ser removidas, deveriam ser excluídos de qualquer pagamento cívil por um tempo para <a unidade de distribuição do uso da experiência, que está na vanguarda da possibilidade de todas as coisas, determinar consistentemente as condições reais dadas>!) .

Also Maler möglichst vom Maler (da hat man ungefähr die gleichen Charakterdefekte); Dichter vom Dichter, nischt wie Fugger & Welser. Assim, pintores possíveis do pintor (afinal, os defeitos de caráter são os mesmos); Poeta do poeta, nada como Fugger & Welser.

Und sehr interessante Kombinationen waren da schon vorgenommen worden! General Dr., der Oberkommandierende der NATO, hatte Aëtius (ebeneben: 451; Schlacht auf den Katalaunischen Feldern – als Nebenergebnis hatte man rausgekriegt, wo die eigentlich lagen) zur Führung durch Westdeutschland bekommen. (Der sich aber sehr skeptisch geäußert haben soll; die Protokolle waren natürlich geheim gehalten worden, trotz einer ‹Großen Anfrage› der SPD; es hatte lediglich geheißen: er habe sich ..... ja, ich weiß nicht mehr genau; jedenfalls kam in dem Kommuniqué

zweimal ‹christlich=abendländisch› vor). E combinações muito interessantes já foram realizadas! Dr. General, o Comandante Supremo da OTAN, conseguiu Aécio (issoisso: 451; A Batalha nos Campos Cataláunicos - o resultado colateral foi descobrir onde de fato foram) para uma visita guiada pela Alemanha Ocidental. (Ele, no entanto, deve ter sido muito cético; os protocolos ficaram em segredo, é claro, apesar da pressão do Partido Social Democrata; soube-se somente que: ele tinha..... sim, eu não me lembro exatamente, em qualquer caso, apareceram no comunicado as palavras <cristã = ocidental> duas vezes).

((Man munkelte sogar, die Amerikaner hätten bereits Hitler konsultiert – découvrierend nebenbei, wieviel Millionen deutsche Bewerber sich, lediglich auf das bloße Gerücht hin, für speziell diese Führung angeboten hatten! Anscheinend war zuletzt der bekannte großgreise Politiker R. dafür gewonnen worden – aber ich will mich nicht festlegen, der Andre kann’s auch gewesen sein!)). ((Havia ainda os rumores de que os norte-americanos teriam consultado Hitler – descobrindo-se no processo, quantos milhões de alemães tinham se candidatado, se oferecido apenas com o boato, especialmente para guia, especialmente para este Führung. Aparentemente, um político de longa data mais conhecido como R. foi conquistado no final - mas eu não quero me comprometer, pode ter sido uma outra pessoa também!)).

Trechos da obra Goethe e um de seus Admiradores (1955), de Arno Schmidt. A tradução foi realizada pelo curador Tobi Maier e o artista Omar Salomão. O trabalho pôde ser ouvido no ICBA (Salvador) no espaço dedicado à produção do escritor alemão.

Pela manhã, os mediadores visitam o Parque da Cidade para conversar com o público sobre a Bienal, em mais uma Ação Guerrilha.

Maninho Abreu coordena mais um Pinte na Bienal nos murais do MAM-BA. Foto Rafael Martins

18º

Foto Rafael Martins


19º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 16 de junho de 2014 JORNAL

Foto Alfredo Mascarenhas

Registro do processo de montagem da Exposição Museu Imaginário do Nordeste | Departamento a Todo Vapor | Seção: Tropicalidades, no Museu Carlos Costa Pinto, em Salvador

L I N H A

ESTUDO 165 Antonio Brasileiro

D O

T E M P O Compor um homem com suas tramas, seus dramas, teogonias, gramáticas, soluços; compor um homem, do orvalho matinal compor um homem, do céu cheio de estrelas, do mistério do homem

compor o homem; compor um homem da criança que há no homem, do homem a advinhar-se em antiqüíssimas retinas; compor um homem com seus soluções, gramáticas, teogonias - e recitá-lo perante os outros homens.


17 de junho de 2014

20º

COLEÇÃO MUSEU ESTÁCIO DE LIMA A Coleção Museu Estácio de Lima reúne 19 (dezenove) dossiês contendo documentos textuais (manuscritos, datilografados e impressos) e documentos iconográficos produzidos e acumulados pelo extinto Museu Estácio de Lima que funcionou no mesmo prédio do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues. Os 19 (dezenove) dossiês recebidos totalizam 403 (quatrocentos e três) documentos textuais, 697 (seiscentos e noventa e sete) documentos iconográficos e 08 (oito) negativos. O significado e a importância da Coleção contrastavam com a fragilidade e o desgaste em que se encontravam os documentos que a integram. Este fato motivou a Bienal da Bahia a empreender esforços na busca de alternativas para qualificar a preservação e o acesso da sociedade à Coleção em apreço. Nesta perspectiva foi iniciada a intervenção no acervo, mediante uma parceria com o Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB) / Fundação Pedro Calmon (FPC) e a 3ª Bienal da Bahia. A parceria envolveu a participação dos mediadores da Bienal nas etapas especificadas a seguir: 1ª Etapa - Higienização

(2) Área de Contextualização: registra informações sobre a proveniência e a custódia da unidade de descrição; (3) Área de Conteúdo e Estrutura: registra informações sobre o assunto e a organização da unidade de descrição; (4) Área de Notas: registra informação sobre o estado de conservação e/ou qualquer outra sobre a unidade de descrição que não tenha lugar nas áreas anteriores. Nas citadas áreas encontram-se inseridos os 07 (sete) elementos de descrição obrigatórios, complementados por 02 (dois) elementos, totalizando um quantitativo de 09 (nove) elementos para a descrição da Coleção: Código de Referência; Título; Data; Nível de Descrição; Dimensão e Suporte; Nome do Produtor; Âmbito e Conteúdo; Sistema de Arranjo e Notas Gerais. As áreas e elementos de descrição selecionados permitiram a formatação da ficha abaixo representada e utilizada:

Os documentos, textuais e iconográficos, foram submetidos a uma higienização mecânica, sob supervisão dos técnicos Janilda Abreu e José Roberto Dias, respectivamente. 2ª Etapa - Organização A Coleção se encontra organizada em 05 (cinco) séries documentais: Administrativo (ADM); Medicina Legal (MLE); Cultura Negra (CNE), Cangaço (CNG) e Criminalística e Polícia Técnica (CPT). 3ª Etapa - Descrição Arquivística Procedeu-se a descrição dos documentos que integram a Coleção Museu Estácio de Lima, em conformidade com a Norma Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE), oficializada e recomendada pelo Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ). As normas de descrição arquivística objetivam estruturar a informação a partir de elementos de descrição comuns. A padronização da descrição qualifica o acesso e favorece o intercâmbio de informações em âmbito nacional e internacional. A NOBRADE considera 06 (seis) níveis de descrição, a saber: acervo da entidade custodiadora (nível 0); fundo ou coleção (nível 1); seção (nível 2); série (nível 3); dossiê ou processo (nível 4) e item documental (nível 5). Como a definição dos níveis se dá a partir de uma estrutura hierárquica, deve-se entender o item documental como um nível e não como um documento. A norma está estruturada em 08 (oito) áreas, que compreendem 28 (vinte e oito) elementos de descrição. No âmbito deste trabalho apenas 04 (quatro) áreas foram adotadas: (1) Área de Identificação: registra a informação essencial para a unidade de descrição;

Código de Referência tem como função identificar a unidade de descrição. Constitui um dos principais pontos de acesso. Composto de 06 (seis) partes: o código do País (BR - Brasil), o código da entidade custodiadora (BAAPB - Bahia Arquivo Público da Bahia)*, o código da coleção (CMEL - Coleção Museu Estácio de Lima), o código da série (ex.: ADM - Administrativo), o código do dossiê (ex.: COR - Correspondência) e o código do documento (ex.: 01). Título identifica nominalmente a unidade de descrição. Optou-se por destacar neste elemento a indicação de responsabilidade, como Autor(es) e Destinatário(s) do documento descrito.

* No texto, unidade custodiadora é o APEB. Contudo vale esclarecer que a custódia até então não foi oficializada. Existe a intenção da 3ª Bienal da Bahia de reivindicar junto ao órgão competente o recolhimento.

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Fotos Tatiana Golsman


21º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 18 de junho de 2014 JORNAL

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Na impossibilidade de identificar o autor e o destinatário utilizou-se a sigla N/D (não declarado).

tros elementos de descrição utilizados tais como: data, história administrativa e conteúdo.

Data informa a(s) data(s) de produção da unidade de descrição, utilizando algarismos arábicos. Quando não identificada colocou-se a sigla S/D (sem data). Foi considerado relevante registrar o local da produção do documento (data tópica), mas quando não indicado utilizou-se a sigla S/R (sem registro).

Âmbito e Conteúdo contém informações tares ou relevantes ao elemento Título de descrição. Optou-se por identificar mento a indicação de anexo(s), quando documento descrito.

Nível de Descrição identifica o nível da unidade de descrição em relação às demais. Conforme já mencionado, a opção recaiu sobre o nível 05 item documental, que corresponde a menor unidade documental, intelectualmente indivisível, integrante de dossiês ou processos. Dimensão e Suporte identificam e registram a dimensão física ou lógica, e também o suporte da unidade de descrição. Exigem as seguintes informações: quantidade das folhas e páginas da unidade de descrição; a forma, se original ou cópia; tipo de suporte, se em papel, manuscrito ou impresso. Nome(s) do(s) Produtor(es) identifica o(s) nome(s) do(s) produtor(es) da unidade de descrição, o que corresponde à afirmação do Princípio da Proveniência, devendo apresentar consonância com ou-

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complemenda unidade neste elehouver, ao

Sistema de Arranjo fornece informações sobre a estrutura interna da unidade de descrição. Informa sobre a ordenação da unidade de descrição. Notas Gerais fornece informações que não foram inseridas em nenhuma das outras áreas. Quando, em determinados momentos da descrição, não foi possível identificar a informação por degradação do documento ou dificuldade de leitura, utilizou-se o sinal convencional de reticências entre parênteses (...).

Salvador, 17 de Julho de 2014

Adriana Sousa Silva Arquivista Arquivo Público do Estado da Bahia/FPC/SECULT

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Arquivo do Museu Estácio de Lima, disponível para consulta durante a Bienal.

Fotos Tatiana Golsman


19 de junho de 2014

22º

Oficina de Higienização e organização dos documentos do Museu Estácio de Lima.

Fotos Fábio Souza


23º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 20 de junho de 2014 JORNAL

PARA QUE PUEDAS BAILAR

Que sensação você tem sobre o que está acontecendo na Bahia agora, entre o primeiro momento que você esteve aqui, há 12 anos, e agora? Uma das coisas mais proveitosas que a Bienal tem é a sua inserção na cidade, no contexto da Bahia. Eu estou percorrendo a cidade e encontro a Bienal por toda parte. Quando eu vim aqui, em 2002, faltou um contato com a vida dos artistas na cidade. E dessa vez tive a oportunidade de me adentrar, de visitar instituições que não conhecia, e ver outros lugares onde a Bienal está presente. Encontro uma Salvador muito mais ativa artisticamente e onde há um espírito diferente. Isso tem a ver com a Bienal, e me parece um modelo de bienal que deveria ser reproduzido em muitos outros lugares. Porque um dos problemas que as bienais têm, e que é um paradoxo, é que quase sempre a bienal se identifica com o nome de uma cidade e, todavia, não tem nada a ver com essa cidade. É mais parecida com um disco voador que pousa na cidade e depois decola e vai embora, e é talvez vista como uma curiosidade, como um espetáculo, mas a cidade não participa. Quando você esteve aqui, a ideia de chamar um curador estrangeiro para ver o portfólio de artistas significava um desejo de inserção no sistema, de alguma maneira. O que significaria uma real inserção? Me parece que é algo que tem a ver não somente com as bienais, mas com a arte contemporânea em geral, que tem seguido um processo de redução do seu público. Tem se tornado uma linguagem muito auto-referencial, muito especializada e muito baseada em objetos auráticos colecionáveis e não em uma distribuição mais massiva. Isso tem impactado na comunicação da arte contemporânea com o mundo. Me parece que um desafio

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para os artistas e os curadores é tentar conseguir uma ampliação desse público e uma inserção diferente, que tem a ver não apenas com o mundo da elite, do pequeno, que chamamos o mundo da arte, mas com uma arte que saia e que possa ter uma dinâmica e uma ação cultural a um nível mais amplo. Em qualquer lugar do mundo é preciso ver a possibilidade de que a arte se insira de uma maneira mais dinâmica na própria sociedade, e não somente esteja aí como uma capela. E eu acredito que a arte contemporânea, pela sua liberdade metodológica, sua liberdade morfológica, tem essa capacidade de poder participar, de poder entrar. Mas com frequência se faz o contrário. Acho que há um problema quase ontológico, que afeta o que chamamos de artes plásticas, é que sua forma de consumo é diferente do resto das artes. E o mercado é também totalmente diferente. O resto das artes entrou na Revolução Industrial. E as artes plásticas se separaram dessa Revolução Industrial e conservaram o objeto único artesanal. E isso tem feito com que o seu consumo esteja baseado em objetos suntuários únicos e colecionáveis por pessoas que tenham o dinheiro para fazê-lo ou pelos museus e as instituições. Um cantor, o número de um cantor, não é colecionável. O que lhe interessa é vender milhares de DVDs, ou ser baixado da internet, ou encher um estádio em um show, que nem um escritor com um livro etc. Mas a arte não. A arte pode fazer um vídeo digital que pode se reproduzir ad infinitum, mas diz que não, que são apenas dez cópias, e as certifica no cartório que são apenas dez cópias, que nem uma foto. Ou seja, inclusive contradiz as próprias possibilidades de reprodução técnica, ela as nega para preservar este objeto suntuário, caro, do mercado. Então acontece que os colecionadores têm um grande poder, sejam os museus ou sejam os colecionadores privados, ou as fundações.

Você acha possível reverter essa tendência? Penso que é possível, ou seja, não penso que vá existir uma transformação completa, nem que vá ser algo rápido, mas existe sim a possibilidade de fazê-la pela própria dinâmica que a arte contemporânea tem. Se diz que qualquer coisa pode ser arte hoje em dia. E então isso mesmo te dá a possibilidade de entrar em outras situações. É possível que seja muito difícil, ou talvez impossível, mas é tão impossível quanto necessário. Então eu penso que é uma obrigação para nós de trabalhar nessa direção, se nos interessar que a arte tenha um papel social. Se a bienal não se restringe ao mundo da arte, qual seria a missão dela então? O que vocês fizeram aqui é um exemplo muito claro. Há uma Bienal de Istambul que curaram justamente Charles Esche e este colega turco, Vasif Kortun, com artistas em residência que faziam projetos destinados à cidade, às comunidades, saindo um pouco da Istambul turística. A Bienal de Havana, na sua época, quando estava muito inserida na cidade, era muito massiva e havia uma participação geral. Eu penso que é um dever da bienal fazer isso, avançar para modelos que ampliem a participação real do público. Claro que isto não é possível somente pelo trabalho dos curadores e dos artistas, mas é necessário um trabalho de educação, um trabalho de comunicação. Há muitas coisas que podem ser exploradas e feitas. E me parece que a decisão é a seguinte: ou estamos contentes com uma arte cada vez mais minoritária, mais elitista, mais em mãos dos colecionadores e instituições, ou vemos a possibilidade de que essa arte avance em outra direção. Com isto eu não estou dizendo que não haja um tipo de arte que é muito valiosa e que é de

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Acervo da Laje | Foto Alfredo Mascarenhas

Bate-papo no Acervo da Laje | Foto Isbela Trigo

Expedição Narrativa Federação | Foto Alfredo Mascarenhas

Expedição Narrativa Plataforma | Foto Leonardo Pastor


21 de junho de 2014

24º

ENTREVISTA COM GERARDO MOSQUERA, POR ANA PATO E MARCELO REZENDE

Cavalgada para a 3a Bienal da Bahia realizada pela comunidade de Serra das Correias | Foto Bianca Góis

cubo branco. Não estou proclamando: “Vamos destruir os museus”. Mas vejo sim que estamos totalmente do lado do cubo branco. Penso que a arte pode se soltar mais, se descobrir, tem que tirar um pouco o paletó e ir à praia. Quais são os obstáculos para que isso aconteça? Muitos. Em primeiro lugar, este culto ao original, fetichizado e de alto valor monetário, que dificulta e ainda anula as suas próprias possibilidades de difusão. Por outro lado está a institucionalidade da arte, todas as redes de museus e outras instituições que já seguem e estão acostumadas a esse tipo de apresentação da arte. E há uma acomodação geral na tradição. A tradição se rompe, mas dá trabalho. Por outro lado, é muito estimulante que haja muitos processos que você vê pelo mundo afora de grupos informais, a base de artistas, de jovens curadores que fazem como uma cena diferente. Mas sou otimista também porque vejo que há a prática da arte contemporânea pelo mundo todo, inclusive em lugares onde isso não existia há poucos anos, pensemos no Oriente Médio, na Ásia Central, no sudeste asiático. Há práticas de uma arte mais solta, mais crítica, e isso é muito positivo. Nós discutimos muito no processo de fazer a Bienal essa relação entre arte e educação, como ela de alguma forma tem colaborado inclusive para essa situação de afastamento. Você chegou a pensar um pouco sobre essa relação? Sim, e eu iria além. Me parece que é um problema a maneira como estão estruturados os departamentos de educação dos museus ou as bienais, que agem como ressonadores do trabalho curatorial. Ou seja, agem

numa segunda instância. Os curadores fazem isso, e eles são os responsáveis, num segundo momento, de comunicar isso. E isso é útil, mas não é suficiente. Eu vejo o departamento de educação trabalhando junto com o curatorial, ao mesmo tempo. E fazendo de modo que o projeto já tenha a educação dentro de si mesmo, e não seja um segundo momento. Você acha que é preciso fazer uma bienal sem exposições? Por que não? Esta Bienal não é sem exposições, claro, mas você falava outro dia algo que me impressionou muito, que mais da metade das atividades não são exposições. Por que não? Você acha que é preciso fazer uma bienal sem artistas? [Risos] Talvez o modelo ideal seria uma bienal onde houvesse artistas, obviamente, e também outros profissionais, trabalhadores, artesãos, professores, cineastas, músicos. Ou seja, que fosse como um verdadeiro festival, mas um festival de conhecimento, de diálogo e de troca. Seria, talvez, o modelo utópico. Mas, de todo modo, eu penso que estas utopias, o que elas têm de bom, é que elas nos fazem avançar no sentido de melhorar as coisas. Há um filósofo alemão, Ernst Bloch, que bolou esse conceito da utopia concreta. Ele diz que o presente pode também ser modelado de acordo com as aspirações que nós temos de futuro. Ele não proclama uma utopia voluntarista afastada da realidade, mas uma utopia baseada na situação real e nas aspirações de cada pessoa. É um modelo que eu gosto muito porque implica uma ação com os pés no chão, não como outras utopias, que se tornam inclusive, no final, elementos de caráter repressivo e impositivo.

As coisas não podem continuar como estão, isso parece claro a todos. Ainda não há uma resposta clara de como poderia ser diferente, mas ainda se procura muito pouco, não? Sim, eu acho que é no fazer. Me interessa muito fazer coisas, como vocês tem feito aqui, por isso estou muito admirado com o que vocês têm conseguido, porque também não é a teoria, de poder teorizar modelos, mas vocês foram para a prática. E não de maneira improvisada, é uma Bienal muito estruturada. Tudo é sistemático, está taxonomizado, um pouco inspirado no museu de Marcel Broodthaers, mas de uma maneira muito poética e sugestiva. Mas, ao mesmo tempo, é algo que está sendo feito em resposta a uma situação. Penso que foi você que me falou que não havia lista de artistas. Isso me parece maravilhoso, porque a lista vai sendo feita conforme vão surgindo as coisas e o que a realidade vai pedindo. Isso da Bienal estendida no tempo, dos 100 dias, me parece também muito bom, porque dá a possibilidade de ir ajustando, criando as coisas. Eu disse uma vez que era mais importante a curation (curadoria) do que o curating (curar), no sentido de que a perspectiva curatorial é mais importante que analisar dizendo: “este artista é bom, mas aquele não me parece tão interessante”. Aqui o importante é o modelo que tem se colocado, e a sua efetividade. Curador, critico e historiador da arte, o cubano Gerardo Mosquera foi um dos realizadores do projeto de bienais para Havana, sendo parte de seu grupo curatorial nas três primeiras edições e diretamente responsável pela alteração paradigmática no sistema da arte provocada por Havana. Mosquera Foto Isbela Trigo integrou o Campo Gravitacional Crítico, dispositivo de trabalho criado pela 3ª Bienal da Bahia.

Expedição Narrativa em Plataforma | Fotos Leonardo Pastor


25º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 22 de junho de 2014 JORNAL

FORMAÇÃO DO CURSO

EDUCATIVO DA 3ª BIENAL DA BAHIA

De 25 de janeiro a 27 de abril de 2014 foi realizado o Curso de Formação de Mediadores da 3ª Bienal da Bahia. Gratuito e aberto a maiores de dezoito anos com ensino médio em curso ou completo, ele reuniu um corpo tão heterogêneo de saberes quanto o foram seus participantes. O curso formou 154 candidatos, dentre os quais os 74 mediadores que trabalharam nos espaços expositivos e ações educativas da 3ª Bienal. Formou também, dentre seus 482 inscritos, o primeiro público da Bienal. Configurado como atividade de extensão pela Escola de Belas Artes da UFBA em parceria com o MAM-BA, o Curso teve apoio do Teatro Jorge Amado e da Faculdade de Arquitetura da UFBA, locais onde aconteceram os encontros. A perspectiva essencialmente educativa de mediação adotada na formação foi condizente com – e necessária a – uma Bienal cujo tema implica reflexão crítica, e cujo projeto implica no diálogo com diversos públicos em diversos contextos. Essa postura fica clara na seguinte fala de Mariela Brazón Hernández, coordenadora do Curso, no dia de abertura: “Tomando como base o tripé ideológico e de práxis formado pelas propostas pedagógicas de Anísio Teixeira, Paulo Freire e Lina Bo Bardi, nós pretendemos aqui dar forma e conteúdo a um tipo de mediação focalizada no diálogo criativo, isto é, uma mediação que se crie e se recrie como se fosse um parto das ideias que se constrói incessantemente e se auto-reconhece como um processo, fundamentalmente um processo aberto e crítico. Nós incluímos nesse curso diversas modalidades de comunicação e interação entre docentes e discentes, como palestras, mesas-redondas, seminários, diálogos – tanto presenciais quanto online – depoimentos, espaços de discussão e aplicação dos conhecimentos, atividades individuais e coletivas, [e] workshops (...). Eu gostaria de concluir esta breve intervenção com palavras de Paulo Freire, que orientam o nosso proceder. Espero que essas palavras sejam um incentivo para o trabalho que vocês vão realizar aqui durante os próximos meses: Ensinar (que é o que nós vamos fazer) exige rigorosidade metódica; pesquisa; respeito aos saberes e autonomia dos educandos; criticidade; estética e ética; risco e aceitação do novo; rejeição à discriminação; reflexão crítica sobre a prática; reconhecimento da identidade cultural; consciência do inacabado; bom senso; humildade e tolerância; alegria e esperança. Exige a convicção de que uma mudança é possível. Exige curiosidade e generosidade. Segurança, competência profissional e comprometimento. Exige disponibilidade para o diálogo e amor pelos educandos. E, sobretudo, ensinar exige compreender e acreditar que a educação é uma forma – uma bela forma aliás – de intervenção no mundo”.

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Foto Leonardo Pastor

Foram aulas teóricas, palestras, leituras, dinâmicas de grupo, pesquisas e apresentações audiovisuais, organizados em torno dos temas Bienais e Mediação; História da Arte; Pensando o Nordeste; Acessibilidade; Noções básicas de segurança; e Conteúdo específico da 3ª Bienal da Bahia. O Curso de Formação contou com 47 convidados palestrantes, dentre os quais artistas, arte-educadores, curadores, pesquisadores e professores das universidades UFBA, UNEB, UFRB, UFRN, UNIFACS, IFBA, UEFS, além de instituições culturais como MAM-BA, IPAC, MAC Buenos Aires, Bienal do MERCOSUL, Bienal de São Paulo, Circuito Arte Pará, e Circuito das Artes em Salvador, bem como membros do Corpo de Bombeiros do Estado da Bahia. Para alguns dos participantes, essa foi a primeira inserção em um contexto de discussão sobre arte, história, sociedade e educação. O ambiente de troca, decorrente do caráter heterogêneo, processual, e crítico do curso, foi fundamental para a formação dos participantes e de toda a equipe do Educativo. Era a Bienal acontecendo antes mesmo da abertura. O Educativo da Bienal trabalhou a partir do entendimento que a mediação está sempre, e necessariamente, em processo. Portanto, após a conclusão do curso e ao longo de toda a Bienal, a formação foi continuada através de diálogos individuais nos espaços expositivos, escritos diários, e encontros gerais para troca de experiências.

Um dos encontros do Curso de Formação de Mediadores da 3ª Bienal contou com a presença de convidados que haviam sido monitores na 1ª Bienal, realizada em 1966. Um deles, o antropólogo, artista e professor Renato da Silveira, contou um pouco sobre o curso que os formou, sobre o trabalho como monitor e sobre o cenário político e cultural da época. “Era um ambiente efervescente de troca: essa experiência de ser monitor, o encontro dos monitores com as monitoras deu muitos desdobramentos posteriores. A gente se reunia e discutíamos permanentemente sobre tudo. A Bienal foi um duplo grande encontro: foi um encontro com a contemporaneidade das artes, e entre os monitores.” Silveira lembrou também a presença no curso de 1966 de professores e ministrantes como Frederico Morais, Valmir Ayala, Mário Pedrosa, Mário Schenberg, Juarez Paraíso e Riolan Coutinho. Ele compara esse ambiente ao momento político que o país vivia: “A cultura, além de ser, na Bahia, aquele ambiente de ebulição, era também a brecha por onde a gente podia protestar, onde a gente podia resistir contra a ditadura”. Silveira ainda lembrou de um de seus colegas de mediação, Sérgio Furtado, que entrou para a militância política e desapareceu na repressão. Furtado teve uma lápide a ele dedicada na exposição A Reencenação, no Mosteiro de São Bento.

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Foto Leonardo Pastor

Foto Leonardo Pastor

Foto Leonardo Pastor

Foto Alfredo Mascarenhas


23 de junho de 2014

MEDIAÇÃO EM PROCESSO

26º

MARIA FERREIRA*

Foto Rafael Martins

Depois de quatro meses de formação, os mediadores da 3ª Bienal da Bahia foram destacados para os diferentes espaços expositivos de acordo com sua disponibilidade e afinidade com localização e propostas curatoriais. Esta articulação foi essencial para uma dinâmica favorável ao seu trabalho e formação contínua. O Educativo da Bienal acredita que a formação não se encerra no período do curso, seguindo em progresso com experiência, ação reflexiva e pesquisa. A abertura, em diferentes datas, das várias exposições, a necessidade de ajustes e compensações de escala e a atenção aos interesses pessoais foram fatores determinantes para uma dinâmica difícil de gerir, mas enriquecedora para a equipe de produção e sobretudo para os mediadores. Vários mediadores, de um grupo de cerca de 80, transitaram por diferentes espaços expositivos, podendo assim ter uma melhor compreensão do evento e uma capacidade de articular as exposições para os quais estavam destacados e as outras exposições. Desta forma, puderam representar as partes e o todo com mais propriedade e motivação. Os mediadores da 3ª Bienal da Bahia desenvolveram estratégias de aproximação às propostas curatoriais específicas de cada espaço expositivo e suas obras, buscando, a partir do

diálogo e provocações pontuais, diferentes olhares e colocações. Assumindo-se como pares de cada visitante, os mediadores ensinaram e aprenderam, numa dinâmica de comunicação e aprendizagem que não se esgota, antes enriquece um e outro continuamente. Deste modo, a negociação e atualização de conteúdos se fez de forma dinâmica e constante, em cada espaço expositivo e entre eles. Foi este fluxo de conhecimento, que ultrapassa a transmissão de informação, que o Educativo da Bienal buscou alimentar. A pergunta É Tudo Nordeste? concretizou-se, desdobrou-se e atualizou-se com a participação do público, de forma mais ou menos ativa, mais ou menos crítica, e no entanto, com ou sem o acompanhamento do mediador. Este entendimento do trabalho da mediação estabelece uma regra fundamental no acolhimento do público: a relação de cada mediador com cada visitante, individual ou em grupo, depende de sensibilidade e bom senso, mas também da capacidade criativa e provocadora que busca para todos uma experiência enriquecedora e significativa.

* Coordenadora de Pesquisa do Museu-Escola Lina Bo Bardi

O Museu Imaginário do Nordeste – Departamento Formas de Educação, por se configurar como espaço educativo e não expositivo, e se situar no Museu de Arte Moderna, lugar com imensa procura por parte de visitantes locais e estrangeiros, funcionou como um ponto de referência para conhecer e refletir sobre a Bienal como um todo e suas diversas propostas expositivas. Sendo um espaço que reunia mediadores; equipe do educativo trabalhando na produção de oficinas e atividades, mas sempre disponíveis para receber o público; wi-fi e espaço de trabalho para visitantes e outros membros da equipe da Bienal; e sendo ainda, na prática, um grande corredor entre o Pátio Unhão e Pátio Flamboyant, de certa forma um corredor entre o exterior e o interior do Museu de Arte Moderna da Bahia, a dinâmica vivenciada foi muito particular. A ideia de Lina Bo Bardi de viver o Museu como uma Casa experimentou-se aqui. O espaço do Educativo era o espaço de todos e para todos. Esta dinâmica permitiu receber o público num ambiente descontraído e curioso, que valorizava a individualidade, reconhecendo no envolvimento de cada visitante e elemento da Bienal um sentido comunitário e em processo. A parede colaborativa, que até hoje resiste a um nome consensual, foi protagonista dessa dinâmica. Influenciada pela Cartilha de Alfabetização de Paulo Freire, o Educativo reservou lugar para as imagens do visitante, convidando-o a desenhar ou escrever sobre palavras ou ideias relacionadas com o cotidiano, a atualidade e o Nordeste. Esta parede foi desbloqueadora, dinamizadora e potenciadora de conversa e de encontro, resultando num arquivo de imagens e ideias a partir de palavras como Ditadura, Liberdade, Museu, Tempo e Qualidade. A parede colaborativa, com intervenções constantes e de diferentes visitantes, apresentava assim diferentes modos de ver e dizer o mundo, atualizando-se em cada encontro e partilha.

Fotos Rafael Martins


27º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 24 de junho de 2014 JORNAL

AÇÃO GUERRILHA

EDUCATIVO DA 3ª BIENAL DA BAHIA

Ação Guerrilha na avenida 7 de Setembro | Foto Rafael Martins

O Educativo da 3ª Bienal recorreu à experiência geográfica e social para provocar diferentes modos de olhar, narrar e construir nordestes, reais e imaginários. Neste sentido, reuniu uma equipe de mediadores que exploraram circuitos na cidade de Salvador como territórios de encontro, divulgação e diálogo sobre a 3ª Bienal da Bahia, sua proposta curatorial e programação. Esses circuitos incluíram ruas, escolas, lojas, restaurantes e parques, sendo que cada situação exigiu dos mediadores estratégias de aproximação diferentes; alguns mediadores improvisaram pequenas performances, outros sentaram à mesa com jogadores de dominó, enquanto outros abordaram grupos de jovens perguntando: É Tudo Nordeste?. A Ação Guerrilha foi uma forma direta de informar e envolver mais pessoas com a Bienal, mas foi também uma forma dos mediadores entrarem em real contato com o público e expandirem o espaço de diálogo da mediação para além do espaço expositivo.

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TRÊS MOMENTOS DA AÇÃO GUERRILHA: 22/05 A primeira Ação Guerrilha da Bienal aconteceu no Colégio Central da Bahia, durante um encontro de cerca de 250 professores e coordenadores. A dinâmica de entrar em salas, falar diante de novas pessoas e responder a perguntas foi a primeira exposição, para diversos dos mediadores, a uma forma de trabalho que exige relação com o público – um primeiro gosto do que seria, a partir de então, uma relação de contato crescente e direto com o público. 11/06 O trajeto pelo bairro 2 de Julho e pela avenida 7 de Setembro – grande área comercial de Salvador – foi terreno fértil para os mediadores experimentarem diferentes estratégias. O percurso se deu por ruas cotidianamente barulhentas, com multidões indo e vindo, repletas de vendedores querendo chamar

a atenção dos transeuntes. As estratégias adotadas pelos mediadores para se sobressair foram variadas: alguns usaram as mesmas técnicas que os comerciantes, pedindo microfones de porta de loja emprestados para falar sobre a Bienal, por exemplo. Outros realizaram pequenas performances nas faixas de pedestre quando os semáforos fechavam. Muitos apostaram na conversa individual ou com pequenos grupos, convidando o público a participar da Bienal. 15/06 A Ação Guerrilha aconteceu no Parque da Cidade junto com um show de música. Assim, o público abordado pelos mediadores foi o público que viera assistir às bandas. Em princípio preocupados em ter que disputar a atenção do público com acordes de guitarra, os mediadores – ao conversar com as pessoas individualmente – encontraram um público interessado e disposto ao diálogo.

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Fotos Rafael Martins


25 de junho de 2014

28º

EXPERIÊNCIA REFLEXIVA do território brasileiro; é algo que não se fez ainda. Há toda uma ocupação a ser feita. E não necessariamente com um olhar apenas local. Acho que seria muito interessante a gente começar a estabelecer ligações. Qual o diálogo que se pode pensar entre as três capitais do Brasil: Bahia, Rio de Janeiro e Brasília? São três capitais historicamente distintas com características muito diferentes e a gente poderia tentar talvez desenhar um mapa a partir dessas três cidades. É tudo Nordeste? Ilha de Itaparica pela perspectiva de Salvador| Foto Ana Clara Araújo

Como foi sua experiência na residência do Instituto Sacatar? Lisette Lagnado - Foi além do que eu esperava, e foi aquém. São duas direções opostas que eu preciso mencionar. Primeiro, aquém. Eu não consegui fazer o programa de leitura que eu imaginei que faria e não consegui escrever os textos que eu pensei que seriam necessários para poder sair daqui com uma reflexão a respeito desse processo. E também aquém porque eu sei que, para uma residência de fato acontecer, ela tem que se dar na duração. E duas semanas parecem dois meses, mas são duas semanas. Faltou assim da minha parte uma disponibilidade de agenda para poder ficar mais tempo e, a partir do Sacatar, fazer outras expedições. Por exemplo, ir a Canudos, que é uma coisa que surgiu do contato com o artista Ícaro Lira. Nesse sentido também é além, pois me vi de repente quase ignorante em relação à riqueza da história desse local, assim como de Itaparica e Salvador. Teve uma coisa incrível que foram os dias passados na ilha para pensar o que ela oferece, e os encontros aqui com os artistas. Então, nesse sentido, foi além. Eu achava que poderia ficar sozinha e que seria um ambiente para pensar, filosofar, mas foi um ambiente de troca. Isso foi inesperado. A partir da sua experiência, você poderia explicar de que maneira a curadoria realiza a crítica em um processo como a Bienal? Lisette - Fala-se muito do esgotamento do modelo bienal. A partir dos anos 1990, esse formato expositivo explodiu em várias cidades. Cidades que já tinham uma estrutura institucional, um circuito cultural organizado em torno de museus, centros culturais e galerias, mas também cidades desertas em termos de aparato e equipamentos culturais. No caso da Bahia, o que eu estou vendo é que é uma bienal de processo, mas não porque ela pensou de antemão que seria uma bienal de processo. Ela é uma contra-bienal porque é uma bienal que se pensa todo dia. É uma bienal muito mais de ações do que de projeto. Eu consigo ver um projeto, consigo ver um programa. Essa reinvenção a cada dia por causa das adversidades do local é

o que torna essa bienal mais crítica. E, nesse sentido, eu quase posso dizer que é uma contra-bienal porque a bienal é um formato que virou uma instituição. E eu acho que o lado positivo aqui é que eu não vejo uma instituição rígida, não vejo um modelo rígido. Eu vejo uma coisa sempre em movimento. E eu acho que o caráter crítico deve ser exatamente essa capacidade de se repensar o tempo todo. Como você compreende a relação dos esquemas de arte Sul-Sudeste e Norte-Nordeste? Lisette - Eu faço parte de uma geração que viveu um conflito e uma rivalidade entre Rio e São Paulo. Depois isso se abriu um pouco na medida em que Belo Horizonte entrou no mapa. E localizaria isso através da transformação do Salão de Belo Horizonte numa bolsa de residência da Pampulha. Foi um projeto pensado pelo Adriano Pedrosa e que fez efetivamente Belo Horizonte voltar a ser um lugar vivo. Belo Horizonte sempre foi um lugar importante, mas os artistas saíam de lá para outras cidades. Esse êxodo é que é um problema com o qual a gente deve lidar. Assim como o êxodo dos artistas na época da ditadura procurando um lugar com mais liberdade. Depois disso, o Recife se tornou um outro lugar muito interessante. A gente deveria talvez parar para pensar em até que ponto o Recife entrou no mapa, se pensando como um lugar que desestabilizava essa dinâmica Rio x São Paulo x Belo Horizonte - não era mais uma cidade com um programa similar. Inclusive por conta de artistas que circulavam no sudeste e que passaram a ter um trânsito por Recife. Eu acho que a gente está vivendo agora um momento mais interessante em que essas categorias ou classificações geográficas perderam o sentido. Eu vejo isso, por exemplo, na pesquisa de Clarissa Diniz para o Museu de Arte do Rio (MAR) onde ela apresenta uma exposição que se chama Pernambuco Experimental. O que ela faz? Ela traz a pesquisa dela para um lugar que se qualifica como um museu de iconografia do Rio de Janeiro para deixar de pensar uma história simplesmente carioca. Eu acho que ainda tem muita coisa pra ser feita, como por exemplo pensar Brasília como uma capital cujo projeto inicial era a ocupação da parte central

Lisette - É tudo Nordeste se a gente entender que nordeste é um lugar que não está no centro. Eu ainda estou pensando a respeito, mas tenho vontade de expandir a ideia de Nordeste, assim como eu me sinto desafiada a fazer outras perguntas do tipo “É tudo África?”, “É tudo Capitalismo?”, “É tudo Neoliberal?”. Eu pego essa pergunta como um ponto de partida, na verdade. Me chama muito a atenção que o título da Bienal fosse de fato uma pergunta com um ponto de interrogação. Porque atrás de mim, nessa louça aqui, a gente vê “Como viver junto”, também formulado com um ponto de interrogação. A bienal que eu fiz em 2006, ela se chamava “Como viver junto”, mas sem ponto de interrogação. A gente entendia que se você fizesse perguntas, talvez as pessoas pudessem oferecer respostas e essas respostas funcionariam como uma espécie de cartilha, de auto-ajuda. Então, claro, isso vem do livro do Roland Barthes, o próprio Roland Barthes não coloca um ponto de interrogação, mas por que? Porque ele não está dando respostas. Ele está descrevendo pequenas fantasias, pequenas utopias. Então, “Como viver junto” não deixa de ser algo que você pode localizar num determinado momento. Talvez corresponda à definição de heterotopia de Michel Foucault, mas em absoluto eu não queria que o “Como viver junto” fosse entendido como um programa. O programa mesmo que tinha na 27ª Bienal [de São Paulo], em 2006, era o Programa Ambiental do Hélio [Oiticica]. Aí sim nós tínhamos uma série de características que tentamos absorver na exposição. Mas É tudo Nordeste? é diferente. Acho que é uma questão ainda no estágio identitário. Depois disso acho que seria interessante traçar um programa.

Lisette Lagnado é critica, curadora e pesquisadora. Entre seus trabalhos realizados está Drifts and Derivations: Experiences, Journeys and Morphologies (Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, 2010). Como curadora da 27ª Bienal de São Paulo, Lisette coloca a bienal paulistana como agente e participante do debate Foto Reprodução social, cultural e político, ao expandir os núcleos discursivos e promover o fim das representações nacionais. Lisette participou do programa de residências da 3ª Bienal da Bahia e integrou o Campo Gravitacional Crítico, dispositivo de trabalho criado pela 3a Bienal da Bahia.

Obra Oculto, da série Oculto, caderno manuscrito, técnicas variadas, 2014, do artista Omar Salomão.


29º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 26 de junho de 2014 JORNAL

O RETORNO DA BIENAL DE ARTE DA BAHIA Depois de sessões livres no auditório do Museu de Arte Moderna da Bahia para discutir uma possível mostra bianual de artes visuais, a 3ª Bienal da Bahia, mais de 45 anos depois da segunda, já não é mais uma promessa, está com data marcada para a inauguração. Era uma reivindicação e um fantasma que rondava o inconsciente dos artistas, principalmente os mais jovens. As falas foram muitas, faltaram os analistas. Nos últimos quarenta anos, não avançamos no pensamento, nem construímos ainda uma política cultural mais efetiva, apesar do investimento na mobilização de comunidades e operários da arte em torno do tema, nesse país. O relato de quem vivenciou e de quem acompanhou os acontecimentos das Bienais da Bahia, mesmo distante no tempo, coloca em cena um contexto diferente do momento que estamos vivendo, esquecido no fundo da memória, importante para se retomar uma experiência com as referências históricas. O cenário das artes em 1966 e 68 era de uma Bahia interessada na descentralização da arte brasileira. A crescente industrialização do nordeste, a SUDENE, o Centro Industrial de Aratu, o Banco do Estado da Bahia inauguravam uma nova consciência no Brasil e acreditava-se numa mudança na cultura do Nordeste, contexto favorável para a Bienal da Bahia, a mais importante exposição de arte do país depois da Bienal de São Paulo. Na segunda metade da década de 1960, houve na Bahia uma vontade de acompanhar as diversidades da vanguarda brasileira. Não havia um procedimento de vanguarda, nem um pensamento, era mais um inconformismo com a situação em que se encontrava a Bahia diante das inquietações dos anos 1960: contracultura, Tropicália, experimentalismo e as rupturas dos suportes tradicionais. A vontade de intercâmbio com a vanguarda resultou nas Bienais da Bahia, que contaram com a participação das manifestações mais importantes da época: Concretismo, Neoconcretismo, Tropicália etc., fa-

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zendo de Salvador o centro das artes plásticas brasileiras. Chegaram a provocar o cenário cultural local, contrário a uma atualização do meio das artes baiano. Como o regime político do final dos anos 1960 era pouco favorável à liberdade cultural, surgiu o AI-5 e a 2ª Bienal foi fechada. Foi o fim de uma iniciativa que deixou a arte brasileira de luto. Sem um projeto de continuidade, e na falta de interesse por mudanças por parte de artistas e críticos locais, o futuro da Bienal estava condenado. A segunda Bienal foi fechada logo após a inauguração, em decorrência do momento político crítico que passava o país. A mudança cultural esperada com a industrialização não passou de um sonho. A realidade cultural e política hoje é outra, mas é preciso conhecer o passado para dar um passo adiante. Uma mostra de arte de repercussão nacional é o objeto da ansiedade de artistas locais e a coisa prometida pelo Estado que merece uma atenção mais depurada. Especialmente em tempos de bienais, curadorias e residências artísticas, a expectativa é diferente da década de 1960. As discussões promovidas pela direção do museu foram oportunas, colocaram sobre a mesa questões pertinentes que ultrapassaram as possibilidades da realização da mostra, como: as próprias ações, não só do MAM-BA, mas também dos outros museus de arte, o estágio em que se encontra a formação dos artistas e a arte nos dias hoje. Entre a burocracia dos editais, as leis de incentivo e a superioridade do mercado, os museus se encontram numa corda bamba, sem recursos para realizar seus projetos e manter uma programação livre de pressões externas alheias aos compromissos culturais da instituição. Se o MAM-BA deve, ou não, promover uma mostra nacional de arte, não vem ao caso. Primeiramente é necessário que ele disponha de um projeto curatorial mais amplo capaz de driblar a burocracia e as pressões

externas, ou seja, de um dispositivo de sustentação para garantir que a referida mostra não seja uma grande festa isolada, que acaba com uma ressaca no dia seguinte. Afinal, museu não é instituição de caridade para adotar “artistas carentes” e muito menos casa de eventos à disposição de proponentes e patrocinadores que querem divulgar suas marcas. Embora muitas salas de exposição se encontrem atualmente à espera de propostas premiadas nas loterias dos editais, alguns projetos até nem precisariam apelar para a sorte para ter visibilidade e aprovação, pois são necessários ao circuito cultural. Depois que a cultura foi dominada pela barbárie, numa sociedade que privilegia a produção de mercadorias culturais, o pensamento foi derrotado pela indústria do entretenimento e o poder do mercado. Quem acaba decidindo o que é arte é o mercado; com o apelo publicitário, ele impõe o valor e a legitimação. As feiras mobilizam os investidores, superaram em termos de expectativa as bienais de arte, que foram transformadas em supermercado de periferia com produtos mais em conta para o consumidor de classe média. Não se acredita mais na linguagem, mas no valor de troca. O pensamento é o líquido derramado que brilha na superfície da obra, com prazo de validade limitado. Se o objeto de arte for um falso brilhante, não importa, satisfaz à chamada economia criativa. O público de formação estranha à história da arte procura um investimento seguro. Uma bienal de arte, como uma feira de automóveis, se não for um banco de informações confiável, traz ao mercado novidades para estimular ou chamar a atenção do consumidor. Mas, com um mínimo de inteligência, pode contribuir para informar e transformar o meio de arte. Neste caso, a 3ª Bienal da Bahia com o tema É Tudo Nordeste? espera colocar a região no cenário nacional e chamar a atenção para a necessidade de um aprofundamento da linguagem artística na região.

ALMANDRADE*

Embora o Estado, em nome de uma democracia cultural, prefira investir na formação de proponentes, em cursos de preenchimento de formulários e de formatação de projetos, em detrimento da crítica, da informação de artista, formação de público, capacitação de recursos humanos e da qualificação dos espaços culturais. A discussão pré-bienal promovida pelo MAM-BA valeu a pena – a reconstrução da história é favorável ao pensamento, e a cultura lucra. Nem tudo é absurdo e bizarro. A 3ª Bienal deixou de ser um sonho. Mais adiante, depois de inaugurada, merece uma avaliação crítica.

Revista Segunda Pessoa , João Pessoa / PB. - ano 4 / nº 1 / dez-jan-fev-2014 * Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

T E M P O Obras de Almandrade, da esquerda para a direita: Mural para lamentações (1993), Tensão e equilíbrio (1999), Sem título maquete para escultura pública (2014) e Sem título (1998) Fotos Alfredo Mascarenhas


27 de junho de 2014

30º

NÃO DITO 3ª BIENAL DA BAHIA NÚCLEO CURATORIAL ARQUIVO E FICÇÃO REF.: DETALHAMENTO DA PROPOSTA DE AÇÃO – CONFORME OFÍCIO NO 071/14 Esta proposta de ação, em parceria com a Companhia de Transporte da Bahia (CTB), tem como objetivo realizar intervenções artísticas nas estações ferroviárias que compreendem o trecho entre a Estação da Calçada e a Estação Almeida Brandão (Plataforma). Pretende-se que esta ação seja parte da programação da 3ª Bienal da Bahia, no período entre 17 de julho e 7 de setembro de 2014. Descrição: Aplicação de poemas e frases do poeta Waly Salomão, tendo como suporte as próprias estruturas físicas das estações ferroviárias, tais como: paredes, pilastras, guarda-corpo de escadas e passarelas. Os textos serão aplicados com tinta, tendo como referência a tipologia popular de letristas baianos. A 3ª Bienal da Bahia responsabiliza-se por toda a produção, assim como pintura dos poemas e frases. 1. Estação da Calçada 1.1 Escrever nas paredes da Estação da Calçada o seguinte poema: BABILAQUE POP CHINFRA TROPICÁLIA PARANGOLÉ BEATNIK VIETCONGUE BOLCHEVIQUE TECHNICOLOR BIQUÍNI PAGODE AXÉ MAMBO RÁDIO CIBERNÉTICA CELULAR AUTOMÓVEL BOCETA FAVELA LISÉRGICO MACONHA NINFETA MEGAFONE MICROFONE CLONE SILICONE SONAR SPUTNIK DADA SAGARANA ESTÉREO SUBDESENVOLVIMENTO AGROTÓXICO EXISTENCIALISMO FÓRMICA ARROBA POLYVOX ANTIVÍRUS MOTOSSERRA MOTOBOY MEGASSENA MARCA-PASSO CUBOFUTURISMO BIOPIRATARIA DODECAFÔNICO CHANCE CAMP KITSCH

ATONALISMO POLIFÔNICO AVIÃO TELENOVELA INTERNET PEGPAG TÁXI APART-HOTEL APARTHEID SAMBÓDROMO AURÉLIO MUAMBA CHORINHO MACUMBA SAMBA DESPOETIZAR POETIZAR SUPREMATISTA SUPRASSENSORIAL CÉSIO SILÍCIO BIOCHIP NAVILOUCA

MUSAK CLIPE

SAMBA CHORINHO DESPOETIZAR

FIM

1.2 Paredes (áreas de aplicação sinalizadas com a cor azul – vista da Estação da Calçada):

2. Demais Estações 2.1 Escrever nas pilastras, guarda-corpo de escada e passarelas os seguintes trechos de poemas e frases: já não me habita mais nenhuma utopia. animal em extinção, quero praticar poesia — a menos culpada de todas as ocupações. .................... Entra mar adentro Deixa o marulho das ondas lhe envolver Até apagar o blá-blá-blá humano. .................... Tenho fome de me tornar em tudo que não sou .................... DEVORA-ME OU DECIFRO-TE Esse projeto integra a série de ações e propostas que, por diferentes razões, não puderam ser realizadas.

Exibição do filme As Hiper Mulheres (Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro) no Cineclube Mocamba, em Itabuna, pelo Cinema Yemanjá.

Sarau OSBANOMAM, com lançamento do livro Poesia Total, de Waly Salomão, e recital de Omar Salomão.

Foto Gillian Villa

Foto Reprodução


31º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 28 de junho de 2014 JORNAL

em 2012, que comemorou na praça seus 15 anos de performance e bodyarte. Lá também estão os meninos do Outros Diversos, a Casa de Batatinha e outros artistas que potencializam esse encontro.

PARTICULARES

A performance mostra-se forte nas minhas relações com a arte. Tudo se funde em necessidade, ritual, superstição, fé e desejo de comunicação e poesia. Mas Performance na Bahia é Zmário, Tuti, Coletivo OSSO, Biriba, Ieda, Tina, Roberta, Michele, Ricardo... é com base neles que eu penso sobre a performance e entendo meu processo. Eles são minha inspiração para que eu possa transitar entre a arte e a vida desenvolvendo meu trabalho. O eixo desse trabalho na Igreja dos Aflitos foi a ação São Jorge Elevador onde, numa espécie de partitura corporal de um segundo, interpreto uma aparição do caboclo guiado pelo sincretismo religioso baseado nos símbolos de São Jorge, São Sebastião e Oxóssi. Outros elementos, desenhos, performances, fotografias, cachaças etc., foram desenvolvidas durante a ocupação na Igreja. Durante esses 100 dias, saí com Gabriel Guerra para registrar essa ação em 100 lugares da cidade de Salvador. Os bairros, ruas e apelidos de ruas, foram escolhidos juntamente com o público no primeiro mês. A Igreja fica ao lado de minha casa, por isso mantive minha rotina de sempre, como a relação com as borboletas. Não poderia prever antes de começar a ocupação, mas elas vieram e muitas nasceram dentro da Igreja, como acontece em minha casa. A aquarela Musa Cabocla, que participou da exposição “tropicalidades” (PEBA) no Palacete das Artes, surgiu de uma performance com poesias de Waly Salomão e elepês de Gal na Praça dos Aflitos. Outras ações aconteceram como Lua de São Jorge, Beiju pra Deus (da série QuiZera), oferenda na janela para a cabocla, infusão de cachaça, caboquismo nas capas de discos, aparições do Caboclo, mostra Hibiscus com o coletivo MiZera etc. São Jorge Elevador na Lagoa do Abaeté | Foto Gabriel Guerra

O CABOCLO DOS AFLICTOS – SÃO JORGE ELEVADOR A ocupação da Igreja dos Aflitos por 100 dias aconteceu por conta das pessoas que estiveram lá diariamente. O que foi apresentado é algo que ainda está em processo e tem como essência a minha relação com a cidade, a história e as pessoas daquele lugar. Tudo começa nos Aflitos. Falo das relações com os vizinhos, os amigos, os artistas, a praça, a cidade, e claro, o Caboclo, a Cabocla e toda a energia que vem da natureza sufocada e intensa daquele ponto no centro da cidade. Falo também da independência da Bahia, do Brasil, dos conflitos da miscigenação brasileira, da Baía de Todos os Santos e do Dois de Julho.

L I N H A

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ARTHUR SCOVINO*

Moro na Ladeira dos Aflitos, ao lado da Igreja. O que acontece lá é uma intensa conexão com o Caboclo dos Aflitos. A Igreja fica no seu ponto principal de energia. Junto com ele apresento minha vida e meu processo de trabalho para o público durante a ocupação. Faço parte da comunidade paroquial e esse trabalho contou com a cumplicidade do Padre Aderbal e todas as pessoas que fazem parte da Igreja. O Caboclo se conecta comigo desde 2011, quando me mudei pra lá. Mesmo com a igreja fechada, antes de começar a reforma da parte estrutural, já fazia parte desse campo de encontros e espaços performativos: fiz os registros das ações de Zmário,

São várias histórias e muitas aprendi ali, com cada um que trazia uma referência, uma lembrança, um presente... muita troca de energia. Durante a ocupação, desenvolvi o projeto Casa de Caboclo para a 31ª Bienal de São Paulo; desenhos, fotografias e vídeos foram produzidos nesse contexto. Fui à Lagoa do Abaeté agradecer e pedir licença para levar o Caboclo dos Aflitos para fora da Bahia pela primeira vez. No dia 6 de setembro, abertura da Bienal de São Paulo e último dia da Bienal da Bahia, apresentei a performance ritual de abertura que fiz com cachaça, caju, cravo e canela e os elepês de Gal. Esse trabalho faz parte da Bienal da Bahia também e sigo com ela na Casa de Caboclo até dezembro na Bienal de São Paulo... São Paulo, 3 de outubro de 2014 *Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

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Fotos Gabriel Guerra


29 de junho de 2014

INSTRUMENTOS PARA DOBRAR RIOS (pesquisa em andamento)

32º

GAIO MATOS*

PARTICULARES

O artista que lida com o espaço, opera com agenciamentos e produção de efeitos. Em oposição ao planejamento e à estrutura, ele não sabe ao certo no que suas invenções e suas articulações vão resultar porque o espaço perde situabilidade e já não é mais uma inscrição precisa em dimensões geográficas acessíveis à experiência individual, mas sim um espaço de negociação. Na pesquisa, o espaço do rio São Francisco e sua órbita é administrado não apenas como suporte, mas como matéria-prima de acontecimentos num ambiente carregado de tensão e possibilidades. Inquieto e apto a mover-se em qualquer direção, ativado por intensidades que escapam ao nosso controle, segue sempre indicando ou sugerindo uma realidade multiterritorial mais ampla, complexa e desigual. É desta perspectiva que se torna possível uma interpretação alternativa do São Francisco, do seu desenho e tipologia; o que dá ao lugar sua especificidade é o fato de que, se os espaços podem ser traduzidos a partir dos entendimentos que concorrem na sua órbita, essas negociações em si não são inertes: elas são processos. Talvez se deva dizer também isso do rio, que ele é também um processo.

A DOBRA Experimentamos hoje um espaço multiopcional na composição de nossa identidade e territorialidade. Ao mesmo tempo, na medida em que a ideia de espaço/tempo é discutida numa dimensão cada vez mais ampla e abstrata, tanto espaços quanto indivíduos e informações experimentam também, e cada vez mais, a potência dos mecanismos de contenção. A tentativa de desvios, controle de fluxos e circulação de informação, de pessoas e coisas, a construção de novos muros, dutos, barreiras, contenções territoriais, e assim por diante nos mostram a face de um poder e o seu efeito barragem. É exatamente neste ponto que se dá um dos grandes paradoxos na compreensão do espaço nos dias de hoje. Se por um lado observamos a fluidez de um espaço flexível e movente, por outro temos a produção contínua dessas fronteiras, limites e suas estratégias de cercamento e controle nos, e entre os espaços e territórios. O que vem em seguida são movimentações de contra-posicionamento frente ao aparelhamento e à instrumentalização dos espaços, fluxos e sujeitos pelo controle do estado ou do sistema. E quando os mecanismos de fechamento e contenção já não dão mais conta, é inevitável o aparecimento dos processos de vazão e escoamento bem como as táticas de contorno em contraponto à fronteira e aos limites. Surgem as estratégias desviantes em busca de uma saída fora das bordas, da vigilância dos muros e do controle. Os imigrantes ilegais, o narcotráfico, o contrabando, a espionagem, a pirataria, a sonegação e assim por diante são emblemas dessas estratégias de contornamento onde se está sempre no meio ou na eminência de posicionamento entre um território ou outro. Nessa direção, a ideia é partir numa expedição subindo o rio São Francisco para produção de trabalhos voltados a essa situação de fechamento e abertura provocada pelas inúmeras intervenções, aquisições, desvios e alterações em sua órbita do ponto de vista da engenharia, da topografia e do desenho de seu curso desde a sua foz, entre os estados de Sergipe e Alagoas, até a cidade de Remanso. Mapear lugares, cidades e localidades próximas ao rio, ouvir o São Francisco e suas histórias. Todos esses processos são matéria-prima para a invenção de trabalhos onde prevaleçam o estímulo, a dobra e a “arte de contornar” a configuração dos espaços, lugares e fluxos a partir da diferença no seu entendimento. Uma estratégia onde a reação prevaleça nas obras e onde as táticas de mobilidade, mapeamento de experiências e deslocamentos sejam um contra-posicionamento às bem planejadas ocupações estáticas como as construções e monumentos de longo prazo.

*Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

Da engenharia das coisas - escavadeiras | Foto Gaio Matos

Da engenharia das coisas - piso | Foto Gaio Matos

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Obra de Clara Domingas (Técnica mista: stencil e urucum)

1. Piaçabuçu(Alagoas) 2. Piranhas (Alagoas) 3. Canindé do São Francisco (Sergipe) 4. Paulo Afonso 5. Petrolândia (Pernambuco) 6. Rodelas 7. Juazeiro 8. Casa Nova 9. Remanso 10. Sobradinho

Instrumentos para dobrar rios | Foto Gaio Matos


33º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 30 de junho de 2014 JORNAL

PARTICULARES

SENTIDO RECESSIVO, NÃO DOMINANTE

1º círculo | Foto Alfredo Mascarenhas

2º círculo | Foto Daniel Lisboa

3º círculo | Foto Alfredo Mascarenhas

Você já fez algo parecido com esse trabalho em 2006, em Minas, mas como é fazê-lo aqui em Salvador?

lugar-nenhum que a gente faz uma espécie de operação básica: elementos verticais e luz. Há outro tema que é o tema do noturno, que também não deixa de ser interessante, no sentido de ser o país às avessas, na hora em que a produtividade não está rolando, na hora que as estatísticas não pegam tão bem, a hora da coruja.

quanto do tombamento de outro, de quarteirões tombados, deixados como ruínas esperando, mortas vivas.

Nuno Ramos - Eu fiz em Minas como um filme. O fio condutor era um filme que a gente tava fazendo. Aqui é um pouco diferente: há sempre alguma tensão maior com o público, e este é um trabalho que de certa forma foge do público. Ele quer iluminar, como se fosse uma lanterna, uma luz estranha, lugares desolados, abandonados, perdidos. Lugares que amanhã, quando a gente tirar esses círculos, não vai ter nada a ver com isso que a gente tá vendo agora. É uma espécie de barraco que eu armo, um trabalho de custo baixo, de execução fácil – em 5 horas a gente monta tudo – e que propõe uma vida a um lugar que estava ali sabe deus pra quê. Agora essa vida, se a gente habita ela com aquilo que a gente já conhece, como grupos de teatro, grupos disso e daquilo, instituições, eu acho que você mata um pouco a ideia. Assim que acho que o trabalho precisa fugir de certa forma do público, e é nessa medida que ele vai ter sucesso. O que não quer dizer que não possa haver público nenhum, ou que não seriam bem-vindas pessoas aqui que estivessem perto, mas teria que ser nesse lance meio estranho, meio caso a caso. Mas quando você chama um público, que foi nosso caso hoje, qual a sua ideia – fazer com que as pessoas pensem o espaço? Nuno – É, eu acho que na verdade isso está no contexto da Bienal. Uma bienal que ocupa sempre quase os mesmos lugares, na mesma área urbana, ela distende o seu alcance com essas peças. Agora ao fazer isso, ela também perde um pouco o acesso ao público, é um trabalho de costas pro público. Claro que ele vai ser divulgado ao público como um filme, ou por outras formas, como essa entrevista, por exemplo. Eu quero público, claro, mas eu acho que é uma peça que tem um pouco esse paradoxo de não poder ser muito visitada, ou de só poder ser visitada no sentido recessivo, não dominante, ao contrário de obras públicas quando você justamente quer o público, procura lugares de grande visibilidade. Então é com o

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Você teve experiência desse trabalho com o público, das pessoas virem e acontecer algo inusitado? Nuno – Já. Por exemplo, ontem a gente estava aqui numa encruzilhada baiana de três entradas, e o gerador estourou e incendiou. Nunca vi gerador estourar, foi muito louco: pá!, pegou fogo e ficou queimando durante horas, isso foi uma coisa forte. Já veio um cara com monociclo, fulano recitar poema, tudo sem a gente esperar nada. Outra vez vieram dois atores, eu meio que dirigi os caras. A gente nem sempre trabalha tão isolado quanto neste exemplo aqui, às vezes a gente está um pouco mais perto de algum espaço. Por que Iluminai os Terreiros? Alguma relação com a música de Assis Valente? Nuno - O título foi super importante pra mim. Engraçado como tem trabalhos que saem do título, acho que esse foi um pouco o caso. Adoro a canção, mas terreiro é qualquer lugar; é um lugar nenhum e é um lugar qualquer. Mas aqui na Bahia terreiro é um lugar sagrado. Nuno – Não sei bem se sagrado, mas algo como se um OVNI houvesse descido. Algo assim de uma ordem um pouco mística... mas eu pensei terreiro sinceramente no sentido mais neutro, não pensei num lugar de rito, embora não tenha nada contra esse sentido. Eu sinto que o Brasil está vivendo uma tragédia urbana muito forte e que a gente tá passando por uma violência urbanística, uma burrice urbanística única. Fazia muitos anos que eu não vinha aqui a Salvador. O ano passado quando vim fiquei muito impressionado com a violência da cena, tanto da especulação imobiliária de um lado

Você tinha um projeto de levantar uma fachada, não? Nuno – Sim, a primeira ideia era levantar uma fachada, depois pensamos em fazer uma réplica da escada da Lina Bo lá do MAM-BA numa igreja em Itaparica, mas a verba foi restringindo. Acho que consegui fazer isso aqui porque tem um pensamento urbano de deslocamento, e de fazer entender que isso não é tão diferente das cidades onde a gente vive, esse lugar onde a gente está agora. Isso aqui tem a ver com o nível de arruinamento urbanístico no Brasil, não é uma coisa tão maluca. Sua ideia então era chamar atenção para esses espaços abandonados, que estão aqui dentro, mas ao mesmo tempo estão fora. Nuno – É isso mesmo. O que a gente entende como nosso, como urbano, como domínio, é muito restrito. Há muito espaço como esse que muita gente não conhece, mas além disso, isso aqui também tá lá dentro. A gente finge que não enxerga. Estou falando de Salvador, mas podia estar falando de São Paulo. Mas no caso estamos em Salvador, então me impressiona muito o que está acontecendo conosco em termos metafóricos, mostra muito como nosso desenvolvimento é cego e burro, no sentido que a gente perde o que há de melhor e vai logo fazendo burrada atrás de burrada e aquilo vai ficando impossível de resolver e ninguém quer parar e ninguém recua nunca, é só uma coisa só e vai, vai, vai e no fim tá todo mundo entupido, apertado, as praias têm 10 metros de tamanho, não tem espaço pra ninguém, aqueles prédios ridículos, enfim, é um caos. Isso de um lado – o caos que a especulação cria – e o outro é o caos que o arruinamento cria, que ninguém sabe o que fazer, então a gente olha para o passado, temos instituições severíssimas que deixam aquilo apodrecer; e aí olhamos para o futuro e vemos aqueles prédios, e, no presente, você está lá naquela porcaria tentando se equilibrar.

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I. Uma encruzilhada para onde convergem – ou de onde irradiam – três caminhos abertos no meio da mata, na reserva florestal do Parque do Vale Encantado, entre a Avenida Paralela e a Estrada Velha do Aeroporto. II. Um galpão de proporções monumentais, parte do imenso conjunto de ruínas da antiga Fábrica de Cimento Aratu, em Paripe, abandonada

há mais de 30 anos. Uma paisagem de contornos apocalípticos, formada por imensos volumes de concreto em pedaços, entre duas praias paradisíacas do subúrbio de Salvador.

Salvador. Uma faixa de praia escura e deserta na orla da Ilha de Itaparica, ao lado da ruína da capela de Santo Antônio de Velásquez, construída no século XVII.

III. Uma praia isolada, onde não chega luz, água encanada ou carro, de frente para a Baía de Todos os Santos e para as luzes do frontispício, do porto e do subúrbio de

Três círculos de luz formados por nove postes e alimentados por um gerador. Três lanternas sobre o vazio, iluminando, por uma noite cada, pontos remotos e distantes

das centralidades urbanas de Salvador. Lugares pouco iluminados, onde a presença de pessoas ao redor é pequena o suficiente para que a sua aparição seja uma surpresa. Não se trata de dar visibilidade a lugares invisíveis, mas de olhar para o vazio à espera de que algo, ou nada, aconteça.


1 de julho de 2014

34º

PARTICULARES

A VELA QUE LEVA O BARCO As propostas de Guto Lacaz para a Bienal compreenderam três projetos de instalações cinéticas, de tipo rotacional, a partir de objetos cotidianos, e exploração das possibilidades tecnológicas da arte em situações espaciais diferentes de Salvador. Como é característico dos trabalhos do artista, nas três ideias se tangenciam o bom humor, a ironia e o insólito. A primeira proposta foi Espiral Cinética, uma estrutura monumental pensada para o Elevador Lacerda, símbolo da cidade e primeira edificação mo-

Espiral Cinética no Elevador Lacerda, estudo preliminar | Guto Lacaz

derna de Salvador, que resultou numa animação eletrônica exibida durante a Bienal no Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia (MAS-UFBA). O segundo projeto foi a instalação Três Escadas composta de três peças que seriam posicionadas no teto da Biblioteca Pública do Estado da Bahia no bairro dos Barris; construídos em madeira, os três objetos se configurariam como três cataventos de interferência e reproposição da fachada principal do grande prédio da biblioteca. A terceira proposta foi Três

Espiral Cinética, estudo preliminar | Guto Lacaz

Frame do filme Saravá, projeto de Guto Lacaz executado por Dan Palatnik.

Projeto Três Velas

Velas, um objeto composto por três velas de saveiro montadas em um único eixo (mastro) engastado no chão, que giraria a modo de grande ‘catavento’ situado em local de orla com boa incidência de vento; o lugar escolhido foi o Parque das Esculturas do MAM-BA e o projeto constitui um legado da Bienal para construção-aquisição de obra artística para o acervo da instituição. Alejandra Muñoz

Três Escadas, estudo preliminar | Guto Lacaz

Projeto Três Escadas, instalação proposta para a Biblioteca Pública do Estado da Bahia, localizada nos Barris.


JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 2 de julho de 2014 JORNAL

35º

ENSAIO PAGODÃO PARTICULARES

O projeto Ensaio Pagodão, de Pedro Marighella, consistiu em uma instalação processual na Casa da Música do Parque da Lagoa do Abaeté, espaço cultural da FUNCEB que abriga a lendária Fubica de Dodô e Osmar, e diversas atividades relacionadas à música na região de Itapuã e vizinhanças. A proposta nasceu da pesquisa em design e música que Pedro vem fazendo há algum tempo sobre a estética do pagode, uma forma musical derivada do samba que se origina no Rio de Janeiro nos anos 1970 e que hoje configura uma vertente popular de grande complexidade na maioria das grandes cidades brasileiras. Pedro convidou artistas do pagode como Mr. Bobby, Alex Gama e outros para entrevistas, conversas e discussões. O artista vem construindo um banco de dados sobre as manifestações em torno do pagode, suas especificidades tanto musicais (dos instrumentos e os ritmos aos shows), como estilístico-visuais (das roupas às coreografias, dos clipes ao design gráfico). Durante os meses de julho e agosto, o projeto ocupou a Casa da Música como espaço de trabalho do artista, aberto ao público, visando construir uma compilação iconográfica sobre o pagode como fenômeno cultural e, de modo mais abrangente, reconhecer um recurso de proposição política baseada na diversão e no prazer. No encerramento da Bienal, foi publicado um livreto impresso com desenhos e experiências gráficas realizados durante o período, que também foi disponibilizado online (http://www. pedromarighella.com.br/wp-content/uploads/livro-ENSAIO-PAGODAO-web.pdf).

Imagens da publicação Ensaio Pagodão, de Pedro Marighella

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Alejandra Muñoz

T E M P O

Casa da Música | Fotos Pedro Marighella


3 de julho de 2014

36º

PARTICULARES Foto Leonardo Pastor

ABERTURAS DO FECHADO

O artista tem uma responsabilidade e uma cumplicidade quando leva para a rua o seu trabalho. Não é simplesmente colocá-lo na praça, sem passar por um processo de reflexão e de adaptação ao espaço público. Vivemos num mundo dominado pela imagem, e a arte deve ser a imagem que desvia o olhar para o pensamento e para o poético. A escultura foi pensada para ser instalada numa praça onde o transeunte pudesse interagir. Com as cores primárias, azul, vermelho e amarela, os planos se encaixam para ocupar um lugar no espaço. Os acasos da natureza não foram desprezados: luz e sombra participam da composição da peça e colaboram na sua dimensão lúdica. À distância, como não lembrar as fantásticas esculturas de Franz Weissmann ou os labirintos de Hélio Oiticica. A arte tem sua memória. A escultura, onde foi instalada, dialoga com os prédios ao redor e o verde da paisagem. Entre escultura e arquitetura, um abrigo para o olhar e para o corpo. Sem dentro, nem fora. A depender de onde se olha pode-se estar dentro ou fora. Abrigo não habitável, arquitetura do acaso, leve e lúdica. Os planos se interpenetram e se apoiam mutuamente, criando uma situação de equilíbrio. Coloridos, divertidos, não negam uma sintonia com a tradição construtiva, o minimalismo e a arte conceitual. Almandrade Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

ESCULTURA PÚBLICA Almandrade é um dos grandes nomes brasileiros do poema visual e um dos principais expoentes do concretismo, minimalismo e arte conceitual no nordeste. Sua investigação artística transita pela pintura, desenho, gravura, objetos e instalações. No contexto da Bienal, sua proposta consiste em materializar um dos exercícios tridimensionais para esculturas urbanas projetadas em minúsculas maquetes, mas nunca realizadas na escala real do desejo do artista. Após escolha de um dos pequenos modelos e detalhamento do projeto de execução, a peça foi realizada em aço corten tratado contra corrosão natural, com estrutura especial de sustentação em concreto com engastes de aço, com acabamento de tinta automotiva nas cores primárias. Foram estudadas diversas situações urbanas para a instalação da obra, considerando as especificações da proposta: uma escultura pública, acessível às pessoas, que estivesse exposta à luz do sol para potencializar efeitos perceptivos e de ‘envolvente’ da cor sobre o observador. O local escolhido foi o espaço aberto de convivência do Campus de Ondina da UFBA, entre a Biblioteca Central, o Restaurante Universitário e o Instituto Milton Santos. A obra foi produzida pela Bienal e doada à UFBA como legado público. Alejandra Muñoz

Maquete da obra | Foto Gillian Villa

Processo de montagem | Fotos Gillian Villa


37º

PARTICULARES

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 4 de julho de 2014 JORNAL

Praça do Campo Grande | Foto Patricia Almeida

Plantio de ervas sagradas e medicinais coordenado pelo Tata Mutá Imê | Foto Gillian Villa

“Pirâmide” sobre o terraço do foyer do Teatro Castro Alves | Foto Gillian Villa

NONSPHERES XIII: TEAR DO TERREIRO Os trechos a seguir foram extraídos da publicação Tear do Terreiro, parte da obra homônima de Luis Berríos-Negrón

O Tear do Terreiro potencializa a superfície do telhado do Teatro Castro Alves. O ato de potencializar é em si mesmo um pedestal social. Estas visibilidades são articuladas pelo uso de três infraestruturas: uma pirâmide, uma urdidura e um palco. Com o tempo, seu uso coletivo energiza, nutre e reinventa a realização de um teto verde que foi oficialmente planejado pelo, e para o teatro. O projeto está atualmente suspenso por falta de recursos. As três infraestruturas são: Pirâmide. Estrutura temporária instalada utilizando andaimes na superfície do terraço sobre o foyer do teatro, criando um circuito de escadas e rampas que permitem ao público subir e ver o telhado, como um circuito aberto. Urdidura. A grande superfície do teto do teatro, apenas perceptível desde a rua que, à medida em que o público se aproxima, se potencializa como um tecido, como um tapete coletivo, campo mental e medicinal, não muito diferente de um terreiro. Palco. Ativação do pequeno teto verde ao sul do terraço do foyer

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como palco para atrair a atenção à possível reforma do teto maior do teatro mediante eventos de caráter ativista, práticas religiosas, agricultura urbana e medicinal, e performances experimentais de música e artes. Luis Berríos-Negrón

O TEMPO QUE PASSA

Conversa entre Marcelo Rezende e Tata Mutá Imê

MR - É possível criar um espaço sagrado, em um sentido de território? TM - O espaço sagrado é um lugar onde você vai nutrir sua saúde espiritual. É um lugar onde as pessoas se encontram para conversar, para se ver, ver a si mesmas, para discutir questões, é um lugar onde você alimenta toda espiritualidade, independente da religião. MR - Então encontramos as pessoas, nos encontramos com nós mesmos, e qual é o resultado? TM - O resultado é muito simples. Esse espaço sagrado é composto para te dar uma orientação, uma direção. Entendemos que só existe um único caminho; uma única flecha. O lugar sagrado é próprio para isso: fortalecer a sua flecha, aprender a direcionar o seu caminho, aprender o que é um alvo. MR - Se há apenas um caminho, de

que modo podemos entender a participação de todos esses outros que nos rodeiam no espaço sagrado e em nosso desenvolvimento? TM - No encontro com esses outros, que é o encontro com tantos caminhos, é preciso entender que os outros estão ali exatamente para isso, para que você possa melhor compreender o seu próprio caminho; isto é, quem é você.

O CRONOTOPO ESTUFA

Caroline Jones

A questão é a habitar certas geometrias europeias [...], apenas para desfazê-las. Em parte, este necessário desfazer é feito através do indicial – que aponta para fora de si – mas, ao contrário do índice de Peirce, ele não indica um evento passado e sim um conjunto futuro de potenciais: apontando para o jardim imaginado, indicando a “urdidura” do telhado como o lugar da tecitura de uma “tapeçaria mental, vegetal e coletiva”, como define Berríos-Negrón. [...] Pode a estrutura de Berríos-Negrón estender-se para um outro nível do índice, apontando para o templo de Tembu, guardado pela comunidade liderada por Tata Mutá? O arquiteto-designer intui que apenas ao promover tais práticas culturais, ao fundir flora e arquitetura, poderá a medicina acontecer.

TEJIENDO Y DESTEJIENDO EN LA 4TA DIMENSIÓN Luis Berríos-Negrón

La superficie del techo del Teatro Castro Alves es enorme. Es casi imperceptible desde la calle - es realmente solo visible desde los rascacielos alrededor del parque Campo Grande, o desde el espacio exterior. El acceso público al filo del gran triángulo extruido ofrece una perspectiva inédita que potencializa un presente-futuro, como espacio mental y agrícola, de contemplación y de vegetación. Al verlo de cerca, intentamos tejer un tapiz social alternativo como imagen nómada. Esta imagen tiene como objetivo recordar las escalas temporales entre el ser humano, lo biológico, el tiempo cósmico, reflejando la incremental deficiencia del medioambiente para la agricultura, como la lucha contra el subproducto de la modernidad neocolonial.

Esa imagen no-objetiva se revela a través de la superficie del techo como deseo y aspiración para componer una re-imaginación política del espacio público en Salvador. Este potencial paisaje mental y jardín medicinal intenta instigar la reforma pública del techo del Teatro en beneficio a la ciudad: para incrementar la memoria inconsciente e institucional colectiva de la idea del espacio público; proporcionar una imaginación de la forma de este posible techo verde.

T E M P O

Estudos de Luis Berríos-Negrón


5 de julho de 2014

38º

TEATRO ANATÔMICO DA TERRA, Itaparica [2014] Obra de Camila Sposati | 3a Bienal da Bahia com apoio da prefeitura de Itaparica

GEOLOGIA EM MOVIMENTO PRIMÓRDIOS O projeto começou a fazer cada vez mais sentido, e o conceito, mais sólido graças ao contexto de Itaparica. Procurei outros lugares tanto em Salvador quanto na Chapada antes, mas Itaparica começou a fazer mais sentido dentro do contexto da história da Bahia mesmo, inclusive sua história geológica. A ideia de Teatro Anatômico parte do corpo humano e depois ele é transferido para a terra. Assim eu parto da anatomia do século XVI e faço uma relação com a anatomia da Terra, em 2014, pela necessidade de descobrir o que está dentro da Terra, quais esses recursos que a gente tem; ou seja, ter uma reflexão do interior da Terra como recurso que é finito. A pesquisa envolveu contatos com médicos, arquitetos, fui procurar muita literatura do século XVI, fotografias, fui na Biblioteca de Medicina em Paris, enfim, basicamente tive que pesquisar muito de arquitetura e medicina, que são duas áreas que não se combinam muito bem. Daí, parti para a pesquisa de geologia. Mas desenvolver isso em Itaparica foi tão trabalhoso quanto desenvolver o próprio conceito. Porque escavar dá muito trabalho. Tem que entender a constituição do terreno, se vai ter água, se é possível acontecer. O PROCESSO Durante o processo eu tive que tomar decisões diárias, não era possível fazer um planejamento minucioso. Havia problemáticas financeiras, de entendimento, de arquitetura, en-

Teatro Anatômico da Terra | Foto Camila Sposati

Conceito do Teatro Anatômico da Terra, 2014

CAMILA SPOSATI*

fim, de comunicação. Então todas as decisões foram diárias, sem saber se o projeto de fato aconteceria. Pois todo dia era um problema diferente (ou todos ao mesmo tempo): era do financeiro, ou se teria muita água no buraco, ou porque não teria apoio da prefeitura, ou porque a dona do terreno não iria alugar, ou porque o engenheiro não entendia exatamente o projeto, ou porque a madeira não funcionaria, ou porque Itaparica não teria material suficiente... entraves jurídicos, negociações com o IPHAN, o IPAC etc. Esse foi o maior desafio. Ter a paciência de todo dia tomar uma decisão e nunca saber se aquilo vai dar certo. E os desafios não acabam. Mesmo agora, com o teatro pronto, ainda há os desafios das apresentações, do uso que se fará. ITAPARICA Foi mais de um ano de projeto, inclusive me fez mudar para Salvador e vivenciar também uma realidade prática de pegar o ferry ou o barco diariamente e encarar um contexto que não é para o público de arte, que está sempre em uma coisa mais “limpa”. Aqui eu tive de conhecer o local a fundo, atravessar a baía, caminhar, conhecer as pessoas, os trabalhadores, compreender o que é uma ilha, entender a história de Itaparica, da relação de Itaparica com Salvador, da independência do Brasil de Itaparica. A dificuldade serve também para preparar o espectador não para o entretenimento, mas para uma investigação, outra exploração.

Fotos Alfredo Mascarenhas

MODO DE USAR O Teatro foi feito com um engenheiro de Itaparica, com um administrador de Itaparica, as madeiras, enfim, todas as coisas são de Itaparica. Os monitores são de Itaparica, eu vou dar aulas, os itaparicanos estão muito presentes no meu trabalho. Mas como se vai usar o Teatro dependerá dos visitantes. Eu dei algumas informações e indicações, mas as pessoas que quiserem entrar devem estar conscientes que vão se responsabilizar pelas próprias atitudes. A única advertência que eu tenho é: esse é um teatro íngreme, ele tem esse formato, é feito dessa madeira e você faz o que você quiser, mas você se responsabiliza pelo seu próprio corpo. Então você entra, você sai, você vê o jardim, você pode ver a parede, você pode subir e descer, mas não tem ninguém controlando, a ideia é justamente não haver controle. Muita gente que vai lá também pergunta “mas onde fica o espectador?”. Às vezes é difícil entender um teatro sem espectador, e com um palco tão pequeno, um teatro que não é para entretenimento. E justamente na Bahia onde tudo tem de ser sempre entretenimento, festa, alegria. Quero amplificar esse conceito de que teatro também pode ser científico e que também pode ser de diálogo, ele tem uma ciência.

*Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

Foto Camila Sposati

PARTICULARES

Consultoria: FGMF arquitetos Desenho técnico de arquitetura: Otávio Costa Engenheiro de solo: GeoEng Responsável técnico da obra: Alexandre Santiago Administrador da obra: Edson Pacheco


39º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 6 de julho de 2014 JORNAL

CURADORIA, INVENTÁRIO E REENCENAÇÃO ANDERSON ALVES CUNHA Curador-assistente da 3ª Bienal da Bahia

Tomei a liberdade de chamar esse relatório de pequeno e afetivo. Afetivo pelo real sentido da palavra e pequeno porque tudo que vivenciei durante a curadoria das exposições, prioritariamente durante o período que consistiu na curadoria para a mostra A Reencenação, reativou importantes vivências e memórias. É impossível dimensionar o valor que o fruto desse trabalho teve para mim. Trazer de volta toda a história rastreando as obras que foram censuradas e todo o contexto, durante o fechamento da 2a Bienal em 1968, foi fundamental para o desenvolvimento das ações curatoriais que resultaram nas mostra Ficção-Científica | Cosmologia | Utopia-Distopia, de Juarez Paraíso, e Entre Sistemas, de Riolan Coutinho. Em primeira instância, adotei a postura de realizar entrevistas independentes com diversos artistas que participaram das Bienais da Bahia, e outros que, mesmo não participando do certame, vivenciaram as histórias e puderam relatar alguns fatos que foram de suma importância para o entendimento e percepção das lacunas e dos acontecimentos gerados pelo fechamento do evento em 21 de dezembro de 1968. Nas primeiras semanas, como assistente da curadoria, debrucei-me na busca de compreender o projeto curatorial da mostra, buscando fontes em livros e catálogos que citavam o fechamento do evento, como listados abaixo. Livros que embasam o grande questionamento proposto pela Bienal e que alimentam as ações do projeto É Tudo Nordeste?. Esses escritos serviram como repertório afetivo que conduziu e guiou as diretrizes para o trabalho curatorial na etapa de pesquisa com os primeiros encontros “independentes” com artistas como Justino Marinho, Maria Adair, Glei Mello, Bauer Sá, Ramiro Bernabó e Edison da Luz. Pesquisa em livros, teses, dissertações, revistas, jornais e catálogos visitados: 1. História das Bienais 2. História das Bienais da Bahia 3. Jornais A Tarde, Diário de notícias 4. Catálogo da 1a Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia 5. Revista Gam 17 - catálogo da 2a Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia 6. Mário Pedrosa, Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília 7. Arthur Freitas, Arte de Guerrilha: arte de vanguarda no Brasil - 1969-1973 8. Aracy Amaral, Arte e meio artístico: entre a feijoada e o x-burguer 9. Aracy Amaral, Arte para quê? A preocupação social na arte brasileira 1930-1970 10. Alan Kaprow, How to make a happening 11. Campos de Carvalho, A Lua vem da Ásia 12. Nicolas Bourriaud, Pós-produção, como a arte reprograma o mundo contemporâneo 13. Euclides da Cunha, Os Sertões 14. Davidson de Oliveira Diniz, Walter Benjamin e as Passagens: uma narratividade poética do histórico

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15. Pedro Arcanjo Silva, Bienal do Recôncavo: Aspectos de uma intervenção contemporânea 16. Virginia Gil Barbosa, Uma parada - Antonio Manuel e a imagem fotográfica do corpo

DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento do trabalho permeou entrevistas, leituras e encontros que permitiram uma maior compreensão do cenário que vigorava durante as edições das Bienais da Bahia. A intensa vivência durante a pesquisa de campo em diversos locais, bem como as diversas visitas ao arquivo do Instituto Histórico e Geográfico, ao setor de obras raras na Biblioteca Pública dos Barris, proporcionaram um cruzamento e rastreamento de informações junto a dados colhidos na internet, e fundamentou a etapa para a criação da metodologia. Os frutos dessa pesquisa possibilitaram o encontro de algumas obras que foram censuradas ou que estavam desaparecidas e que integraram a 2a Bienal da Bahia, como Cavalo de Tróia, de Siron Franco, em exibição na A Reencenação, no Mosteiro de São Bento, a série Improviso, de Lênio Braga, hoje acervo do Museu da Cidade de Salvador, além da obra Natureza Semi–Morta, de Renato da Silveira, pertencente ao acervo de Elisabeth Roters Coutinho. Durante encontros, ligações e diálogos com essas pessoas significativas dentro do processo da 3ª Bienal da Bahia, foi possível conhecer mais a fundo o cenário e as motivações que podem ter sido determinantes para o fechamento do evento na época, bem como as relações poéticas e conceituais de cada um dos artistas entrevistados ou pesquisados durante o processo. O acesso e análise a esses conhecimentos pesquisados resultaram na construção de saberes essenciais para a realização da mostra A Reencenação, e, aproximando-se do pensamento de Juarez Paraíso e Riolan Coutinho, foram também essenciais para o desenvolvimento das exposições dos artistas citados acima. As entrevistas com Nair de Carvalho, Ramiro Bernabó, Glei Mello, Renato da Silveira, J. Cunha, Maria Helena Flexor, Celeste Poussant Braga e Luis Henrique Dias Tavares ampliaram ainda mais o conhecimento histórico sobre as bienais, sendo fundamentais para melhor assessorar o curador da mostra, Fernando Oliva, que foi muito feliz no direcionamento e escolhas, com um olhar criterioso e cuidadoso, respeitando o artista e explanando de maneira muito clara os contatos realizados e as ideias pensadas que criaram uma leitura mais dinâmica das obras na exposição. Além das vivências, histórias e estórias relatadas, houve da minha parte a articulação com o Mosteiro do São Bento que resultou na cessão de espaço para servir de palco central para apresentar da mostra A Reencenação.

T E M P O

Placas presentes na exposição A Reencenação | Fotos Lara Carvalho


7 de julho de 2014

40º

Paulo Bruscky, Marcel Duchamp x Rrose Sélavy, 2010 | Foto Gillian Villa

REGRAS DO XADREZEN ROGÉRIO DUARTE Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

O QUE É XADREZEN? Um sistema praticamente idêntico ao xadrez tradicional, mas que propõe o sorteio da coluna em que deverá ser realizada a jogada inicial de ambos os jogadores. Por exemplo, se sorteando com um dado de 8 lados ou se jogando uma moeda três vezes, vamos supor que, numa primeira hipótese seja sorteada a coluna “a” e, que numa segunda hipótese seja sorteada a coluna “g”. Sendo assim, caso ocorra a primeira possibilidade citada, as Brancas terão a escolha três jogadas possíveis em seu primeiro movimento: 1.Ca3, 1.a3 ou 1.a4), enquanto que na segunda hipótese elas teriam duas opções (1…g6 ou 1…g5). Em seguida a este sorteio, é realizado um segundo sorteio: o de quem será o primeiro a jogar, ou seja, podem começar o jogo tanto as brancas como as pretas, diferentemente da regra do xadrez atualmente oficial! Notar, portanto que neste sistema é possível se iniciar a partida com as Negras, e neste caso se poderia batizar tal regra pelo nome de “xadrez reverso” ou de “xadrez espelhado”. ARGUMENTO/JUSTIFICATIVA DO SISTEMA XADREZEN

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Inserção do Ato num Sistema de Regras Seção: Imateriais ACBEU PERÍODO 07/07 a 06/09

VISITANTES 2.772

A Galeria do ACBEU funciona desde 1975 no Corredor da Vitória e recebe exposições de arte contemporânea.

Embora o segundo sorteio defina quem será o primeiro a jogar, é preciso esclarecer que a cor das peças a se jogar será automaticamente definida pela tabela do sistema double-round-robin. A primeira regra deste sistema visa estimular a atenção e a criatividade, assim como combater a monotonia de opções atualmente utilizadas nas aberturas do jogo de Xadrez e o automatismo de se jogar posições decoradas e nem sempre bem estudadas e compreendidas quando se joga. O Xadrezen propicia situações no jogo menos comuns, como se jogar “com as cores invertidas”, isto é, de se jogar tais variante que são jogadas pelas brancas com as negras! Por conseguinte, se espera uma maior e melhor compreensão a respeito das aberturas que são próprias do xadrez clássico, estimulando os jogadores a conhecer mais profundamente as implicações destas sutilezas na abertura, e a conhecer melhor e mais completamente as aberturas de xadrez. Esperamos assim, contribuir para o desenvolvimento das aberturas, da visão estratégica e como do próprio Xadrez em si. XADREZEN VISA À MUDANÇA DE PARADIGMAS A segunda regra desse sistema deseja combater um simbólico preconceito inerente às regras do Xadrez, de que as Negras sempre devem jogar depois. Além de também se criar um fenômeno ótico, estético e até psicológico com as situações que vamos chamar de “espelhamento” no tabuleiro, trazendo uma nova forma de olhar para o que se joga habitualmente em uma determinada cor/lado do tabuleiro. O xadrez reverso também exigirá a atenção do jogador e irá estimulá-lo a “transcender” certas regras em prol da compreensão posicional verdadeira, isto é, independentemente da cor de casas e do lado que o rei, a dama e os seus respectivos flancos ocupam para os seus olhos e a sua memória.

Itinerância da Ação Mural Aberto, encabeçada pela professora Hilda Salomão, ocupa durante uma tarde a Rodoviária de Salvador. Foto Rafael Martins

Mediadores da Bienal foram à Rodoviária de Salvador em nova Ação Guerrilha. Foto Rafael Martins


41º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 8 de julho de 2014 JORNAL

A EXPOSIÇÃO NO LITORAL É ASSIM Todos os profissionais envolvidos na montagem, acompanhamento museológico, curso de mediadores, motorista e produção, além de executarem suas tarefas, desenvolveram as mais inusitadas e diversas funções, como: instalações elétricas, pintura de quadros, montagem e embalagem de obras. Também descobriram a diferença de uma cabra para uma ovelha, se deslumbraram com o Rio São Francisco e todas as peculiaridades das maravilhosas e acolhedoras cidades da itinerância, além das outras que ficaram no caminho pela estrada. Uma experiência enriquecedora na qual foi possível vivenciar as diferenças culturais, entre cidades tão distintas com pessoas maravilhosas que compuseram as equipes locais, sempre dispostas e muito felizes em colaborar com a chegada da Bienal. As maiores dificuldades ocorreram por conta de a equipe ser muito reduzida para tal empreitada, exigindo muito mais do que cada um deveria de fato executar, além da falta de divulgação nas cidades.

Inajara Diz Produtora executiva da 3a Bienal da Bahia

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SALVADOR

FEIRA DE SANTANA

VITÓRIA DA CONQUISTA

JUAZEIRO

ALAGOINHAS

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Volume de chuvas em mm

Temperatura em °C

Gráficos climáticos das cidades por onde a exposição No Litoral é Assim passou: 150


9 de julho de 2014

Diário de Bordo de Bernardo Santos, mediador cultural da 3a Bienal da Bahia

42º

| Fotos Gillian Villa

SALVADOR / MAM-BA / Casarão

NO LITORAL É ASSIM

PERÍODO 29/05 a 08/06

VISITANTES 1.782

Com a expografia minimalista de No Litoral é Assim a escadaria que liga os dois pavimentos do MAM-BA ganhou destaque. Projetada por Lina Bo Bardi durante a reforma que inaugurou o MAM-BA, a escada é construída apenas com encaixes, usando um sistema de travamento utilizado nos carros de boi.

FEIRA DE SANTANA / Centro de Cultura Amélio Amorim PERÍODO 17/07 a 25/07

VISITANTES 246

O Centro de Cultura Amélio Amorim foi construído em 1992 e desde 2000 é administrado pela UEFS. O complexo cultural inclui sala de espetáculos, anfiteatro, salas de ensaio e galeria de exposições.

VITÓRIA DA CONQUISTA / Casa dos Carneiros PERÍODO 28/07 a 10/08

VISITANTES 906

A Casa dos Carneiros é a sede da pequena fazenda que o músico Elomar Figueira Mello mantém no semi-árido, na região da Gameleira, Serra da Tromba no município de Vitória da Conquista.

JUAZEIRO / Centro de Cultura João Gilberto Obra de Clara Domingas (Técnica mista: stencil e urucum)

1. 2. 3. 4. 5.

Salvador Vitória da Conquista Feira de Santana Juazeiro Alagoinhas

PERÍODO 15/08 a 24/08

Inaugurado em 1986, o Centro de Cultura de Juazeiro homenageia um dos filhos ilustres da terra, o músico João Gilberto. O espaço dispõe de sala de espetáculos, anfiteatro, salas multiuso e galeria.

ALAGOINHAS / Centro de Cultura de Alagoinhas PERÍODO 28/08 a 07/09

VISITANTES 630

O Centro de Cultura de Alagoinhas abriga sala de espetáculos, concha acústica, salas de ensaio e uma galeria. Inaugurado em 1986, foi reformado em 2008 e reaberto em 2009, sendo o principal espaço cultural da cidade.

Exibição do filme Histórias que só existem quando lembradas (Julia Murat), no Cineclube Janela Indiscreta, em Vitória da Conquista, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

VISITANTES 579

A Oficina de Jardinagem ministrada por Cláudio Pinheiro trabalhou com o transplante de plantas que existem no espaço do MAM-BA.

Foto Rafael Martins


43º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 10 de julho de 2014 JORNAL

UMA COLÔNIA NA COSTA DA ÁFRICA SELVAGEM

Obra Cãos de Jacobina, de Adenor Gondim, no Departamento do Pós-Racialismo (corpo, dispositivo, subjetivação)

Antes de começar o diário de minha segunda visita ao Brasil, do qual estive ausente um ano e três dias, será necessário dar uma curta narrativa dos principais acontecimentos que ocorreram durante este ano e que mudaram o governo do país. O Príncipe Regente enviara em vão às Cortes as mais prementes representações em favor do Brasil. Nenhuma atenção foi dada aos seus despachos e o governo de Lisboa continuou a legislar para o Brasil como se este fosse uma colônia na costa da África selvagem. Os ministros que tinham servido com Dom João haviam conhecido bastante a terra durante a permanência aqui para se convencerem de que o Brasil, unido, seria, em qualquer tempo, capaz de libertar-se de toda sujeição à mãe-pátria. O objetivo, portanto, passou a ser dividi-lo. Em consequência, delineou-se um esquema para o governo do Brasil pelo qual cada capitania seria governada por uma junta, cujos atos seriam totalmente independentes uma das outras, e responsáveis somente perante as autoridades de Portugal; o Príncipe teve ordem de voltar à Pátria de modo peremptório e o mais inconveniente. Mencionei em meu diário o acolhimento recebido por tais ordens, e a resolução tomada por Sua Alteza Real de ficar no Brasil. Logo que esta resolução foi conhecida nas províncias, choveram mensagens e deputações de todos os lados, de cada cidade e capitania, exceto da cidade da Bahia e da província do Maranhão, que sempre tivera um governo independente do resto do Brasil. Em dezembro de 1821 o Rei nomeou o general Madeira governador da Bahia e comandante das forças. Tomou posse em fevereiro e pouco depois a primeira guerra de fato entre os portugueses e brasileiros começou na cidade do Salvador, a 6 daquele mês, sendo os brasileiros derrotados com algumas perdas. Entrementes

L I N H A

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a província de São Paulo tinha feito todo esforço para convocar e armar tropas, e já em fevereiro 1.100 homens marchavam para o Rio para porem-se à disposição do Príncipe. Alguns recrutas para marinheiros e fuzileiros navais foram mobilizados e estabeleceu-se uma Academia Naval, tudo visando evitar a ida do Príncipe à força. Julgou-se então conveniente que o Príncipe visitasse as duas províncias mais importantes, São Paulo e Minas, e no dia 26 ou 27 de março ele partiu do Rio com esse fim, deixando o governo nas mãos do ministro José Bonifácio. Sua Alteza Real foi recebida em toda parte com entusiasmo, até que chegou à última etapa, no caminho para Vila Rica, capital da província de Minas Gerais; aí recebeu informações de uma conspiração organizada para impedir sua entrada pelo Juiz de Fora, apoiada por um capitão de um dos regimentos de caçadores. Imediatamente fez com que algumas tropas se reunissem às que o acompanhavam. Ficou, então, onde estava e mandou dizer à Câmara da cidade que poderia entrar nela à força, mas que tinha vindo a eles antes como amigo e protetor. Várias mensagens se expediram; os conspiradores descobriram que o Príncipe estava, realmente, bastante forte para dominá-los; além disso não encontraram apoio que esperavam da parte dos magistrados ou do povo. Sua Alteza Real entrou então em Vila Rica a 9 de abril e ao ser saudado pelos magistrados e pelo povo, dirigiu-lhes a seguinte fala: “Briosos mineiros. Os ferros do despotismo começados a quebrar no dia 24 de agosto, no Porto, rebentaram hoje nesta Província. Sois livres. Sois constitucionais. Uni-vos comigo e marchareis constitucionalmente. Confio tudo em vós; confiai todos em mim. Não vos deixeis iludir por essas cabeças que só buscam a ruína de nossa província e da nação em geral. Viva El-Rei constitucional. Viva a Religião.

| Foto Alfredo Mascarenhas

Viva a Constituição. Vivam todos os que forem honrados. Vivam os mineiros em geral.” No dia seguinte, o Príncipe convocou uma reunião geral e permaneceu 11 dias em Vila Rica. A única punição infligida aos conspiradores foi a suspensão dos cargos. Esta visita real ligou a ele a província tão firmemente como a de São Paulo e Rio. Voltou ao Rio de Janeiro a 25, onde foi recebido da maneira mais linsonjeira e onde se tornou cada dia mais popular. A 13 de maio, dia dos anos do rei Dom João VI, o Senado e o povo conferiam-lhe o título de Defensor Perpétuo do Brasil, e daí por diante seu tratamento passou a ser Príncipe Regente Constitucional e Defensor Perpétuo do Reino do Brasil. A impossibilidade de continuar unido a Portugal tornava-se cada dia mais evidente. Todas as províncias do sul estavam ardentes por declarar a independência. Pernambuco e suas dependências há muito manifestavam sentimentos semelhantes, e a província da Bahia estava igualmente inclinada à libertação, apesar da cidade estar cheia de tropas portuguesas sob o comando de Madeira, recebendo constantemente reforços e suprimentos de Lisboa. As Cortes pareciam resolvidas a levar as coisas ao extremo; a linguagem usada em suas sessões com referência ao Príncipe era altamente inconveniente. Os comandantes, que em mar ou terra lhe houvessem obedecido, a não ser forçados, foram declarados traidores. Ele próprio foi chamado à pátria de novo, dentro de quatro meses, sob pena de se submeter a futura decisão das Cortes. Decretaram que todos os meios do governo deveriam ser empregados para forçar a obediência a estas ordens. Os deputados brasileiros bem que relutaram e protestaram formalmente contra essas decisões, mas foram derrotados, e os espectadores nas galerias, uma vez chegaram a gritar: “Abaixo os brasileiros”.

T E M P O

Frames do vídeo Taa Bolo, de Bakary Diallo, 2013


11 de julho de 2014

44º

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Marchetaria de Ficções Instáveis Seção: Formas de Orientalismo Departamento do Pós-Racialismo (corpo, dispositivo, subjetivação) Seção: Áfricas Solar Ferrão

PERÍODO 10/07 a 07/09 Construído no final do século XVII, o Solar Ferrão possui seis pavimentos e abriga além da Galeria Solar Ferrão, o Museu Abelardo Rodrigues e três coleções: a de Arte Africana Claudio Masella, a de Arte Popular e a de Plásticas Sonoras, de Walter Smetak.

VISITANTES 11.424 6783

Sem ressentimentos e longe de tentar delinear outras verdades absolutas, o Departamento da Marchetaria de Ficções Instáveis propõe uma série de investigações poéticas que tentam alvitrar novas perspectivas sobre o Nordeste – entendido agora como irrestrito, complexo e ininteligível. Já o conjunto de obras do Departamento do Pós-Racialismo apresenta o corpo negro enquanto dispositivo que exercita dinâmicas que vão além da ideia da raça, em meio a diversos processos de subjetivação.

O Grande Duelo, de Evandro Sybine, no Departamento da Marchetaria das Ficções Instáveis | Foto Alfredo Mascarenhas

Nos meses de junho e julho Madeira começou a fazer sortidas nas terras em torno da Bahia como se ela estivesse na posse de um inimigo; e, realmente, ele em breve o encontrou – e formidável. A vila de Cachoeira, grande e populosa, e intimamente ligada com os rudes habitantes do sertão, tornou-se em breve a cabeça de multidões de patriotas que ali reunidos resolveram expulsar os portugueses de sua capital. Começaram a formar tropas regulares, mas, apesar de serem abundantemente abastecidos de carne e outras provisões, faltavam-lhes armas e munições, e mandaram uma representação ao Rio a fim de expor ao Príncipe a situação e pedir-lhe a assistência. Tinham, também, grande falta de sal para conservar as provisões. Quanto a uniformes, o couro cru fazia as vezes de quase tudo. Um farmacêutico de Cachoeira começou em breve a ferver água do mar em caldeiras de açúcar para obter sal e em pouco tempo baixou o preço deste artigo, de modo que a quantidade que se vendia por dez patacas (18 shillings) caiu a sete vinténs (sete pence). O mesmo farmacêutico, reunindo todo o salitre da vizinhança, dedicou-se à fabricação de pólvora, e uma feliz descoberta de umas cem barricas, contrabandeadas para Itaparica por alguns ingleses, foi de uso essencial para eles. Mas faltavam canhões, bem como chumbo para as balas de seus mosquetes e espingardas de mecha. O chumbo, e uma quantidade de espingardas, os amigos, que estavam dentro da cidade, remeteram por contrabando. Os fuzis foram obtidos da maneira seguinte: em cada engenho havia sempre uma ou duas espingardas velhas a fim de servir de reserva para algumas peças do maquinismo. Foram mandadas imediatamente para Cachoeira onde, limpas e renovadas por hábil ferreiro, tornaram-se utilizáveis. Com estas armas os patriotas aventuraram-se a enfrentar os partidários de Madeira, mesmo antes da chegada de qualquer auxílio do Rio.

Enquanto isso chegavam ao Rio as notícias desses procedimentos, bem como dos decretos das Cortes de Lisboa. O Príncipe e o povo não hesitaram mais. Sua Alteza Real, juntamente com o Conselho, expediu as proclamações de 3 de junho, convocando uma assembleia representativa e legislativa, a ser composta de membros de cada província e vila, a reunir-se no Rio; e a 1° de agosto publicou aquele nobre manifesto no qual afirma abertamente a independência do Brasil, expõe claramente os fundamentos de suas queixas e exorta o povo a não ouvir outra voz senão a da honra e que não ressoe outro grito, do Amazonas ao Prata, que não seja de “independência”. No mesmo dia foi expedido um decreto para resistência às hostilidades de Portugal, contendo os seguintes artigos: 1) Todas as tropas mandadas ao Brasil por qualquer país que seja, sem autorização dada pelo Príncipe, serão consideradas inimigas; 2) Se vierem em paz, deverão permanecer a bordo de seus navios e não ter comunicação com a terra, mas, após receber mantimentos, deverão partir; 3) Em caso de desobediência serão repelidas pela força; 4) Se elas forçarem um desembarque em algum ponto desarmado, os habitantes deverão retirar-se para o interior com tudo que puderem transportar e a milícia fará luta de guerrilhas contra os estrangeiros; 5) Todos os governadores e autoridades militares e civis deverão fortificar seus portos, etc.; 6) Dever-se-ão elaborar logo representações sobre o estado dos portos do Brasil para esse fim.

Foto Gillian Villa

As artistas visuais Ana Fraga e Rogéria Maciel ocupam a Galeria Esteio com o encontro Jardim Suspenso. Rogéria Maciel também apresenta trabalho de confecção de flores de chumbo, ação que desenvolve com detentas no interior da Bahia. Ana Fraga, por sua vez, realiza uma performance.

Maria Graham Trecho de Diário de uma Viagem ao Brasil e de uma Estada nesse País Durante os Anos de 1821, 1822 e 1823.

Frames do vídeo Gato/Capoeira, de Mario Cravo Neto, 1979


45º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 12 de julho de 2014 JORNAL

BORBOLETA PRETA, CORUJA E SAPO A cultura da cana, no Nordeste, aristocratizou o branco em senhor e degradou o índio e principalmente o negro, primeiro em escravo, depois em pária. Aristocratizou a casa de pedra-e-cal em casa-grande e degradou a choça de palha em mucambo. Valorizou o canavial e tornou desprezível a mata.

quase a mesma altura que lhe dava o alto da casa-grande nas horas de descanso.

Nesse sistema de relações que dividiu os homens e as suas habitações e a própria paisagem, em metades tão diferentes e até antagônicas, pode-se dizer, para efeito de generalização, que o cavalo ficou no primeiro e o boi no segundo grupo. E êstes foram os dois grandes animais da civilização da cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil.

E devia ser pampa, malhado de branco; ou castanho “andrinho”, castanho verdadeiro, castanho-amarelo, barriga de veado, alazão, ruço-pombo, ruço verdadeiro, melado-rapôso, “rudado”, “rudado apatacado”, argel (pé direito branco). Isso é que era cavalo de senhor de engenho. Mas, de preferência, que fôsse branco da “mão direita” e do “pé esquerdo”: “mão de lança” e “pé de cavalgar”. Os “galvões”, isto é, os especialistas em conhecer cavalo pela pinta ou pela côr, advertiam os compradores contra o cavalo argel: podia trazer desgraça para o dono; contra o cavalo “cacête”, isto é, sem sinal no membro: cavalo que via alma de noite; contra o cavalo gázeo-sarará. Bom era o alazão. Ótimo para correr o cardão-pedrês. Bom e bonito o melado caxito.

Com a maior influência inglêsa e francesa sôbre a vida da região – influência que se acentuou tanto na administração do Barão de Boa Vista em Pernambuco – o Recife se encheu de traquitanas, de seges, de cabriolés de médico, de todos os estilos novos de carruagem. Antes, quase que só o bispo e o governador rodavam de carro.

Outras especializações de animal aristocrático foram lhe dando o bom trato nas estrebarias das casas-grandes, o banho do rio, a mão do muleque que lhe esfregava o pêlo até ficar brilhando, a alimentação farta e boa que o arredondava em animal volutuoso, ancas quase de mulher. O cavalo do senhor de engenho se diferenciava por todos êsses carinhos de tratamento de qualquer outro – do de cangalha, do de matuto, do de sertanejo. Cavalos angulosos e ossudos. Também se salientava de qualquer outro animal criado à sombra do mesmo engenho, mas sem as mesmas regalias. A não ser um outro carneirinho môcho de menino ou um outro gato de iaiá solteirona criado no colo.

Os animais têm na vida do brasileiro do Nordeste da cana-de-açúcar uma importância mística considerável. Estão em suas histórias, nos cantos populares, na poesia da gente do povo, no anedotário obsceno – consequência de sua ligação íntima com a vida sexual do menino e do muleque de engenho. Mas é curioso notar que os animais importados e não tanto os da terra – o cavalo, o boi, a vaca, o burro, a bêsta, o carneiro, a ovelha, o porco, a cabra, o gato. É certo que também se encontram nas histórias o tatu, a onça, o cágado, a cobra, a rapôsa, da terra, às vêzes substituindo animais exóticos de histórias européias, asiáticas ou africanas. Para a grande parte da gente do litoral a maioria dos animais da terra continuam, entretanto, criaturas quase indiferenciadas dentro da expressão vaga: “bichos”. E os animais mais familiares, e mais identificados com o homem, os trazidos da Europa.

Essa civilização tornou-se desde os primeiros tempos acentuadamente cavalheiresca. Sem o cavalo, a figura do senhor de engenho do Nordeste teria ficado incompleta na sua dignidade de donos de terras tão vastas e na sua mística de fidalgo de casas-grandes tão isoladas. Incompleta nos seus movimentos de mando, nos seus gestos de galanteria, nos seus rompantes guerreiros. Não se alterou, antes se acentuou, no cavalo importado para os engenhos do Nordeste, a sua qualidade de animal por excelência aristocrático e até autocrático. Seu trote, o ruído imperial de suas patas, se tem feito através de nossa história social com a majestade do próprio ritmo da ordem, da autoridade, do domínio. Os dominadores da terra quase não têm ganho nenhuma vitória sôbre os revoltados, sôbre os insubmissos, sôbre os mal satisfeitos – gente quase sempre a pé, sem terra e sem cavalo –, que não tenha sido uma vitória de homens majestosamente a cavalo. Só o cavalo do gaúcho do Rio Grande do Sul ou de certo tipo de sertanejo ou de matuto escapa a essa caracterização do cavalo brasileiro como o animal, mais do que qualquer outro, a serviço do domínio dos “defensores da Ordem” sôbre a massa. Essa função, o cavalo do senhor de engenho desempenhou-a magnificamente. O senhor do engenho do Nordeste foi quase uma figura de centauro: metade homem, metade cavalo. E êsse centauro, um “defensor da ordem”, embora para defendê-la a seu modo às vêzes desobedecesse ao Rei ou se revoltasse contra êle. Impossível imaginá-lo – a êsse centauro – fora da rêde patriarcal, sem ser o homem a cavalo, chapéu grande, botas pretas, esporas de prata, rebenque na mão, a quem a gente dos mucambos tomava a benção como a um rei. Do alto do cavalo é que êsse verdadeiro rei-nosso-senhor via os canaviais que não enxergava do alto da casa-grande: do alto do cavalo é que êle falava gritando, como do alto da casa-grande, aos escravos, aos trabalhadores, aos moleques do eito. O cavalo dava ao aristocrata do açúcar, quando em movimento ou em ação,

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Para tal efeito, devia ser majestoso no porte e belo nas formas o cavalo do senhor. O mais possível dentre os cavalos de origem árabe que no Nordeste foram diminuindo de tamanho.

Exigiam-se do cavalo de senhor de engenho certas qualidades militares. Devia andar de baixo, meio, equipado, misturado. Saltar valado. Atravessar com elegância riacho. Saber sair. E fôsse bom o cavaleiro, saber chegar. Era então o cavalo ortodoxo do senhor de engenho; o que êle cobria de prata quando saía em visita aos parentes ou a passeio pelos engenhos vizinhos, o escudeiro ou pajem de lado, num cavalo menos senhoril. Mas não foi só o cavalo de sela o mimado com tanto exagêro pelos homens das casas-grandes do Nordeste: também o cavalo de carro teve seus regalos. O cabriolé de engenho tornou-se uma das notas mais características da paisagem rural do Nordeste no século XIX. Antes quase que era só a rêde que a gente mais comodista viajava de um engenho a outro: a rêde ou a liteira. Pelo barro vermelho só rodavam carros de boi. As grandes

rodas de madeira, chiando como umas desadoradas, eram as únicas que se aventuravam pelo massapê, pela lama, pelos catabis dos caminhos quase impossíveis a outro trânsito que não fôsse o do negro, o do burro e o da bêsta de carga —o proletariado do transporte de água, de açúcar, de mantimentos no Nordeste do Brasil.

O palanquim – que na cidade de Salvador ia ter ainda quase meio século de vida – na capital do extremo Nordeste, cidade plana, prestando-se melhor que as ladeirosas ao rodar nem sempre macio das carruagens, desapareceu quase de repente depois da Independência. Tornou-se um arcaísmo colonial. (...)

As ferraduras de cavalos e os chifres de boi – precisamente os dois animais mais ligados à civilização do açúcar, à conquista da mata pelo canavial – dão felicidade. Os mariscos e búzios, os dentes de jacaré e de cobra, pendurados no pescoço dos meninos, livram-nos do mau olhado. Borboleta preta é agouro. Coruja é agouro. Besouro-mangangá é agouro. Coruja e sapo são bichos agourentos.

Trecho de Nordeste (1937), de Gilberto Freyre

T E M P O

Vista do sertão no distrito da Gameleira, em Vitória da Conquista | Foto Alfredo Mascarenhas


13 de julho de 2014

46º

YEMANJÁ EM NOLLYWOOD

Filme Arugba, de Tunde Kelani | Foto Reprodução

Além dos cineclubes, a mostra Cinema Yemanjá circulou também na sala de cinema da Biblioteca Pública do Estado da Bahia que leva o nome do fundador do primeiro cineclube baiano: Walter da Silveira. O primeiro ciclo cinematográfico (de uma série de três), dedicado ao cinema nigeriano, com apresentação dos filmes de autoria do cineasta Tunde Kelani, está intimamente ligado ao tema da Bienal, É tudo Nordeste?, e, em particular, à temática Àfricas, pensada com o intuito de desenvolver projetos que promovessem leituras artísticas, estéticas, históricas e sociais sobre o continente africano, em suas mais variadas condições e perspectivas. E, assim como a África, o Brasil também possui o plural.

PROGRAMAÇÃO 14 DE AGOSTO Maami Tunde Kelani, 92 minutos, Nigéria, 2011 15 DE AGOSTO Arugba Tunde Kelani, 95 minutos, Nigéria, 2008 16 DE AGOSTO Saworoide Tunde Kelani, 105 minutos, Nigéria, 1999

Uma variedade e uma pluralidade cultural ainda mais evidente quando se pensa no cinema nigeriano enquanto indústria. Hoje Nollywood é um fenômeno que merece reconhecimento e respeito global. O volume de produções excede Hollywood e quase equipara-se à Bollywood indiana. Em 2010 foram lançados mais de 1.500 filmes. Como cada uma dessas produções emprega entre 50 e 100 pessoas, além de fomentar inúmeros trabalhos indiretos, o cinema nigeriano é responsável pelo emprego de centenas de milhares de pessoas anualmente, perdendo apenas para o volume de trabalho gerado pela agricultura. Recentemente a moderna indústria cinematográfica nigeriana foi apontada pela UNESCO como a segunda maior em todo o mundo. Consequentemente, conhecer, discutir, falar sobre o cinema nollywoodiano não é uma questão de gênero. Mas, falando de gênero, é possível afirmar que, no panorama cinematográfico nigeriano, Kelani é um dos mais interessantes e

atípicos diretores de cinema de Nollywood; com certeza, o mais político de todos, a partir da escolha de apresentar a cultura e o idioma iorubá nas suas obras cinematográficas. A peculiaridade deste cineasta consiste em não se deixar seduzir totalmente pela estética do cinema americano, tendência sempre mais evidente no cinema nigeriano (e não menos presente naquele internacional). Nesta perspectiva, o cinema de Kelani, comparado ao mais clássico cinema nollywoodiano, coloca-se em contra-tendência: a cinematografia de Kelani apresenta e trata abertamente de temas considerados muitas vezes “polêmicos” e normalmente ausentes na maioria dos filmes nollywoodianos, financiados pela indústria privada. Assim, se por um lado os filmes em inglês (que representam a quase totalidade dos filmes nigerianos) tendem a imitar os gostos e valores europeus e americanos, por outro, as produções nas línguas nativas (em iorubá, por exemplo) promovem as diversas culturas locais, tratam importantes questões políticas da sociedade africana e garantem a preservação de uma memória linguística sempre mais ameaçada e menos acessível para as novas gerações. Voltando ao ponto de partida: ao pensar o universal a partir do local, a mostra do cinema de Kelani se funde à 3ª Bienal da Bahia por ser resultado da fusão entre o formalismo europeu (o diretor se formou na London International Film School) e as influências culturais de sua tribo local, enquanto a língua, iorubá, fala diretamente à diáspora africana na Bahia.

Carmen Palumbo Curadora-assistente da 3ª Bienal da Bahia

Não temos mais desculpa na África. Graças às novas tecnologias digitais nós temos as ferramentas para contar nossas próprias histórias. A diferença é que o processo químico de fílmes em película era um meio de exclusão. Não havia como controlar os meios de produção. Mas o oposto é o caso nesta era onde, com um modesto investimento, nós podemos literalmente adquirir os meios de produção e usá-los para nos fazer ouvir. Houve um tempo em que só algumas pessoas podiam ler e escrever. Mas hoje qualquer um pode comprar uma caneta. Assim, Nollywood é como descobrir que você tem uma voz, hoje todo mundo tem voz, assim que há muita gritaria! Mas é melhor que o silêncio. É uma força poderosa que não pode ser negociada. Os africanos são abençoados de que essa é uma era de conhecimento e, mais importante, essa uma era de fusão de todas as mídias e nós vamos tocar. Trecho de entrevista de Marissa Moorman com Tunde Kelani, 2013


47º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 14 de julho de 2014 JORNAL

ÍNDIO

AYRSON HERÁCLITO Curador-chefe da 3ªBienal da Bahia

Museu Imaginário do Nordeste Departamento a Todo Vapor Seção: Tropicalidades Museu Carlos Costa Pinto PERÍODO 16/07 a 06/09

VISITANTES 2.757

O Museu foi criado em 1969 para conservar a residência de Carlos Costa Pinto e objetos de arte colecionados por ele no século XX. São 3.175 exemplares em 12 coleções: Cristal, Desenho, Diversos, Escultura, Gravura, Imaginária, Mobiliário, Ordens Honoríficas, Ourivesaria, Pintura, Porcelana e Prataria. O artista Edinízio Ribeiro Primo em performance | Fotos Gerson Zanini e Regina Vater

Artista plástico e designer, Edinízio Ribeiro se destacou em técnicas gráficas como o desenho, a gravura e a criação de cenários e figurinos para espetáculos teatrais e shows musicais nas décadas de 1960 e 1970. Um dos mestres da visualidade do movimento tropicalista, sua obra, movida pelo experimentalismo e inovação, se encontra dispersa e pouco conhecida devido a sua morte prematura aos 31 anos. O início da sua produção coincide com a transferência de sua família para a cidade baiana de Jequié, onde tem contato direto com jovens artistas do chamado “Grupo de Jequié”, responsáveis, segundo o pesquisador Narlan Mattos, pela construção da fase mais underground do tropicalismo, influenciando significativamente as mais variadas linguagens artísticas no cenário pós-moderno a partir da década de 1970. Um dos poucos textos produzidos sobre o artista foi escrito pelo pesquisador Dermival Ribeiro Rios, intitulada Edinízio Ribeiro: um artista insubmisso: Jequieense de opção e coração, apesar de nascido na zona rural da cidade de Ibirataia (BA), em terras de cacau do sul da Bahia, em 15 de maio de 1945. Criança ainda, Edinízio já se preocupava com a forma, e realizava trabalhos em argila. Na escola primária, o menino pintava em cadernos seus e dos colegas, em troca de namoricos ou merendas. Tinha doze anos de idade quando a família se mudou para Jequié, nos idos

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Foto Rafael Martins

de 1957, e foi morar no Jequiezinho, numa travessa da ladeira da Balança. Seu Nenzinho, o sizudo e correto Salmon Ribeiro, o pai, preocupado com a educação dos filhos em idade escolar, queria viver numa cidade maior, que oferecesse o curso ginasial e o colegial, ainda distantes da pequena Ibirataia daqueles tempos. Mas já no ano seguinte, em 1959, o pai morre no interior de Minas Gerais, quando visitava uma fazenda de gado, colhido por um trem, deixando Edinízio órfão, numa família de muitos irmãos e irmãs, maiores e menores que ele. [...] Edinízio se transfere para São Paulo com sua família em 1966, onde se aproxima da cena artística e intelectual da grande metrópole. É reconhecido como um jovem talento pelo crítico Mário Schemberg e pelo casal Pietro e Lina Bo Bardi. Por intermédio de Mário Schemberg, ingressa como bolsista na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde se destaca obtendo prêmios e desenvolvendo trabalhos gráficos como, por exemplo, a criação do catálogo da exposição de Flávio de Carvalho, em 1967, no Museu de Arte Brasileira da FAAP. A cena cultural e existencial que se constrói em torno do ateliê da rua da Consolação, no final dos anos 1960, define a sua participação ativa no movimento do tropicalismo. O ateliê se torna o reduto dos artistas baianos em São Paulo, Caetano, Gil, Gal Costa, assim como os seus amigos do grupo de Jequié:

Dicinho, Jorge e Waly Salomão, Tuna Espinheira, Alba e Chico Liberato, Lula Martins, Bené Sena, César Zama, entre outros. Arte, sexo, vida em comunidade, profundas experiências com alteradores de consciência definem uma geração ultra criativa e libertária. O mundo da música o fascina e oferece um universo para exercitar suas propostas estéticas. Os Mutantes, Secos e Molhados e os Novos Baianos estarão na lista de amigos e colaboradores. Foi cenógrafo de vários shows, como o primeiro de Gal Costa em São Paulo, Divino maravilhoso (1972), e fez a revolucionária capa do LP Expresso 2222, de Gilberto Gil e as capas dos LPs Drama, de Maria Bethânia, e Índia, de Gal Costa. Outra experiência fundante na sua trajetória foi a sua vivência com o Teatro Oficina, liderado por Zé Celso. Envolvido com a construção de cenários e figurinos, nesse processo chegou a ser preso por 45 dias no presídio Carandiru com outros componentes do grupo. Manteve uma parceria muito produtiva com os irmãos poetas e ensaístas Haroldo e Augusto de Campos, com os quais trabalhou no projeto Caixa Preta, de música e arte, e participa da publicação Qorpo extranho, inserindo um encarte central com o registro fotográfico da performance intitulada Modo de volar. Participou de exposições importantes, entre as quais o III Salão de Arte Contemporânea, em Campinas, SP, e a I Bienal Nacional de Artes Plásticas, em Salvador, com a obra Instrumentos de posse e, em 1971, realizou sua primeira exposição individual, no Museu de Arte Brasileira da FAAP.

Em 1967, de forma obscura, morre afogado nas águas de Búzios, no Rio de Janeiro, aos 31 anos, sendo que seu corpo nunca foi encontrado. Alguns pesquisadores brasileiros da área de arte já começam a se interessar pela investigação de uma produção artística que passou por um longo período na invisibilidade por diversos motivos, dentre os quais a falta de legitimação no sistema comercial, a inexistência de trabalhos críticos e historiográficos, o desconhecimento e quase apagamento do pensamento e da produção artística que fora taxada de subversiva pelo regime da ditadura militar, condenando ao esquecimento essa produção por não ser conveniente aos sistemas artísticos estabelecidos. A iniciativa da 3ª Bienal da Bahia pretendeu, de início, apresentar a obra do artista em uma mostra “Monográfica”, a fim de contribuir para a redução desse hiato. Essa ideia desembocou na exposição do Museu Imaginário do Nordeste | Departamento a Todo Vapor | Seção: Tropicalidades, que continha uma quantidade significativa de obras recolhidas em diversos lugares no Brasil. O artista define o espírito nocivo e repressivo da época em que viveu na seguinte reflexão: “Pior do que a mutilação dos pés e das mãos é a mutilação que se tem aí fora – a mutilação de ideias. Aqui se vê claramente que não existe mais arte de protesto. Hoje, as repressões são demonstradas e sentidas sobre o corpo. Quem livrou o corpo está fora de tudo”.

T E M P O A itinerância da Ação Mural Aberto, da professora Hilda Salomão, na Ladeira da Preguiça, teve como principal público crianças e adolescentes da ladeira e do bairro. Na oficina, eles criaram muitas das placas que compõem o painel coletivo da ação.

Exibição do filme Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now (Ninho Moraes e Francisco César Filho) no Cineclube Vila, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Abertura do Ciclo Bienal em Tunde Kelani, com exibição do filme Maami. Foto Reprodução


15 de julho de 2014

DICINHO

Adílson Costa Carvalho, o Dicinho, nasceu em 1945 em Jequié, no interior da Bahia, e não faz parte dos artistas que vieram para Salvador na década de 1950 ou começo da década de 1960 como seus conterrâneos Waly Salomão e o próprio Rogério Duarte. O percurso de Dicinho entre Jequié/Salvador/São Paulo/Rio de Janeiro é diferente tanto no sentido quanto na cronologia. Dicinho larga o emprego em Jequié para ir a São Paulo, onde passa um tempo até o dinheiro que havia juntado acabar, e ali vê as apresentações de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Depois ele passa um tempo em Salvador, trabalhando em um ateliê que montara junto com o também jequieense Lula Martins no Pelourinho, no ano de 1967. Neste período, Edinízio, em passagem pela cidade, vê alguns trabalhos em couro que Dicinho estava fazendo, como as sandálias tão populares entre os jovens, e o convida para ir a São Paulo para trabalharem juntos. Dicinho chegou a São Paulo entre 1968 e 1969, passando a trabalhar com o amigo Edinízio em um ateliê localizado numa vila da Rua Coronel José Eusébio, travessa da avenida da Consolação. Dicinho lá reencontrou Waly Salomão, amigo de Jequié, e através dele e de Edinízio ficou conhecendo Gal Costa e José Celso Martinez Corrêa. Nessa época, entre 1968 e 1969, Carlos Marighella estava em plena atividade na cidade e foi emboscado muito próximo do ateliê. Neste período enfrentaram muitas revistas da polícia, prisões e amigos que desapareciam e voltavam com marcas das torturas pedindo ajuda e abrigo no ateliê. Os anos em São Paulo são descritos por Dicinho como de muita dureza, pois além da dificuldade financeira em que viviam, a censura do regime militar estava acirrada. Mas em São Paulo, Dicinho construiu uma relação com Lina e Pietro Bardi, que resultaria em algumas exposições do artista na década de 1970. Mas devido à perseguição das autoridades, Edinízio e Dicinho fugiram para a cidade de Ibirataia no sul da Bahia, no início da década de 1970. Os trabalhos mais famosos de Dicinho são as capas dos discos Gal (Gal Costa, 1969) e Cara Coração (Moraes Moreira, 1976); assim como a roupa usada por Jards Macalé em sua apresentação da canção Gotham City (parceria com o poeta José Carlos Capinam) no IV Festival Internacional da Canção, em 1969. A capa de Gal é uma representação de Gal Costa e seu cabelo, desenhado em lápis Caran D’Ache. Seu rosto, pintado de um verde escuro, é quase que escondido pela sua cabeleira composta por figuras com ares sombrios e um colorido forte que traduzia bem aqueles tempos – como a ave de rapina que representa como agiam as forças da ditadura de forma “barra pesada”, como diz Dicinho. “Dircinho” ainda faz, junto

PÉROLA VIRGÍNIA DE CLEMENTE MATHIAS*

com Waly Salomão e Capinam, o cenário do show do disco Gal como do show Fa-Tal. Porém, o período é bastante conturbado, há muitos desentendimentos e desavenças que acabam por separar estes artistas durante esses trabalhos. Gal contém a faixa que ficou famosa e caracterizou a cantora naquele período: “Meu nome é Gal”, composição de Roberto e Erasmo Carlos, cuja letra traz um trecho em que ela deixa a banda tocando enquanto diz: Meu nome é Gal, tenho 24 anos/Nasci na Barra Avenida, Bahia/Todo dia eu sonho alguém pra mim/Acredito em Deus, gosto de baile, cinema/Admiro Caetano, Gil, Roberto, Erasmo, Macalé, Paulinho da Viola, Lanny, Rogério Sganzerla, Jorge Ben, Rogério Duprat, Waly, Dircinho, Nando/E o pessoal da pesada/E se um dia eu tiver alguém com bastante amor pra me dar/Não precisa sobrenome/Pois é o amor que faz o homem O trecho é interessante por diversos motivos. Destaca-se, entretanto, a descrição das pessoas que estão de alguma forma se relacionando e que formam o meio artístico, musical e visual do momento que sucede o exílio de Caetano e Gil, a prisão de Rogério Duarte e a mudança para Londres de Oiticica, Torquato Neto, Mautner e Macalé. Este período “underground” da tropicália caracterizava-se por uma radicalidade no rompimento com as regras e formas de comercialização e comportamentos exigidos para que as produções artísticas circulassem nos meios de comunicação de massas. E isto desencadeou diversos conflitos entre os artistas, que ora os separavam, ora os reaproximavam.

O artista Dicinho na abertura da exposição no Museu Carlos Costa Pinto | Foto Gillian Villa

Havia, além da Marginália que começara a se organizar antes do marco do exílio, uma turma cujas sociabilidades, estética e ações artísticas – bem como a origem baiana – ocupavam um lugar que não é considerado nem Tropicália, nem Marginália, mas que estava ali dialogando com estes dois movimentos, produzindo junto, interseccionado com eles. As sociabilidades que se desenvolvem em torno de indivíduos como Rogério Duarte e Dicinho são parte de uma malha comum naquele cenário. Dicinho é considerado por Rogério Duarte como o “ágora da Tropicália”, assim como ele diz que Rogério foi o “Ezra Pound da Tropicália”. Em entrevista realizada em 9 de janeiro de 2013, Dicinho diz que a Tropicália – sua presença, extensa representação e importância cultural hoje – é como Krishna ou os Hereros, “não planifica o fim”. *Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2014). Tem experiência nas áreas de Sociologia e Antropologia, com ênfase em sociologia da cultura e sociologia da arte.

Exibição do filme Jéssica Cristopherry (Paula Lice, Ronei Jorge e Rodrigo Luna) no Cineclube Janela Indiscreta, em Vitória da Conquista, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

48º

O filme A cidade é uma só? (Adirley Queirós), é exibido no Espaço Imaginário, em Rio de Contas, também pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Foto Gillian Villa

A Casa das Artes Visuais recebe Chão para a Esteio, obra da artista paulista Johanna Gaschler. A autora investiga a ocupação do espaço, promovendo instalações compostas ora por objetos encontrados ou descartados, ora por métodos de impressão em série.

Ciclo Bienal em Tunde Kelani, com exibição do filme Arugba. Grupo de Pesquisa em Litografia com Renato Fonseca.


49º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 16 de julho de 2014 JORNAL

ARQUIVO E FICÇÃO

Foto Gillian Villa

Através de uma parceria com alunos do Bacharelado Interdisciplinar (BI) da UFBA, dirigidos pelo professor Cristiano Figueiró, alunos do Berklee College of Music (Boston, EUA) realizaram um workshop para compartilhar pesquisas na produção interdisciplinar, design de sintetizador modular e aplicativos de música interativos. O grupo foi trazido pelo compositor e saxofonista Neil Leonard, também diretor artístico do Berklee Interdisciplinary Arts Institute (Biai). A partir da oficina, a equipe realizou composições inspiradas na obra de Walter Smetak (1913 – 1984), músico suíço naturalizado brasileiro. O concerto, intitulado Esculturas Eletroacústicas, fez parte da programação Noturna da Bienal, e foi encenado no ICBA – Teatro do Goethe-Institut e incluiu voz, violino e percussão, além de sintetizadores projetados e produzidos pelos alunos.

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ENSAIO PÓSTUMO FOTOGRAFIAS POR ALEX OLIVEIRA DA EXPOSIÇÃO ARQUIVO E FICÇÃO

T E M P O Pedro Marighella inicia seu projeto Ensaio Pagodão na Casa da Música, em Itapuã, um processo aberto de pesquisa e produção artística.

Exibição do filme Os Monstros (Gustavo Spolidoro) no Difusão Cineclube Itapetinga, pelo Cinema Yemanjá.

Foto Reprodução

Foto Gillian Villa

Ciclo Bienal em Tunde Kelani, com exibição do filme Saworoide. Foto Reprodução

Oficina de Jardinagem com Cláudio Pinheiro.


17 de julho de 2014

50º

Projeto curatorial em colaboração com os artistas Eustáquio Neves, Gaio Matos, Giselle Beiguelman, Ícaro Lira, José Rufino, Maria Magdalena Campos-Pons & Neil Leonard, Omar Salomão, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth e Rodrigo Matheus. Os artistas foram convidados a desenvolver projetos a partir do Arquivo Público do Estado da Bahia, do acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima, da Biblioteca Pública dos Barris e da Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, em Itaparica. A exposição contou ainda com trabalhos dos artistas S. da Bôa Morte, Juraci Dórea, Juarez Paraíso, Flávio de Barros e Pierre Verger. O interesse em discutir a cultura institucional dos espaços de memória levou a curadoria a articular a participação de três grupos de trabalho (GT Bibliotecas, GT Narradores, GT Arquivistas) formados por arquivistas, museólogos, pesquisadores, arquitetos e comunicadores, que acompanharam as propostas de ocupação artística dos espaços. Além disso, o projeto compreendeu o Quintas na Quinta, uma série de encontros abertos com convidados e visitas guiadas à exposição para tratar das questões centrais abordadas pelos artistas e GTs. Ana Pato

Museu Imaginário do Nordeste Departamento Arquivo e Ficção Seção: Psicologia do Testemunho Arquivo Público do Estado da Bahia PERÍODO 17/07 a 05/09 VISITANTES 3.192 Desde 1980 o Arquivo Público do Estado da Bahia ocupa o prédio histórico da Quinta dos Lázaros, construído no século XVI. O acervo reúne documentos desde o período colonial, incluindo arquivos judiciários, legislativos, fazendários e coleções privadas de personalidades históricas. Fotos Alex Oliveira

Exibição dos filmes Os três inventores (Michel Ocelot) e O ladrão de para-raios (Paul Grimault) no Cine Sereia, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

Abertura da exposição itinerante No Litoral é Assim, no Centro de Cultura Amélio Amorim, em Feira de Santana. Foto Leonardo Pastor

Foto Reprodução

Tem início a Oficina de Pintura, ministrada pelo professor Rener Rama, que recebeu diversos grupos de escolares ao longo da Bienal. Foto Rafael Martins


51º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 18 de julho de 2014 JORNAL

A VERDADE SE TORNA REALIDADE

Foto Rafael Martins

A Galeria Esteio recebe o artista Paulo Bruscky para o encontro intitulado Fora do Eixo ou Dentro da Ordem?, onde o pernambucano busca discutir temas como a circulação do objeto artístico e o estado da arte contemporânea.

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Viagem sem fim Seção: Naturalismo Integral Palacete das Artes / Casarão PERÍODO 19/07 a 06/09

VISITANTES 5.211

O Palacete da família Catharino se tornou Museu para abrigar as obras do escultor francês Auguste Rodin em 2009. Quatro esculturas do artista integram o acervo permanente e ainda podem ser vistas em meio ao jardim de árvores centenárias e espécies diversas de flora nativa.

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T E M P O Exibição do filme Histórias que só existem quando lembradas (Julia Murat) no Cineclube AFAI, em Itajuípe, pelo Cinema Yemanjá.

Em mais uma edição do Sarau OSBANOMAM, a orquestra apresentou o programa Vivaldi.

Abertura da exposição Agência do Carma e da Conciliação, no Palácio Rio Branco, que contém uma mostra de documentos sobre assuntos de disputa. Foto Alfredo Mascarenhas

O projeto, que integra o núcleo expositivo da 3ª Bienal, se volta para a relação entre o homem e a natureza a partir das ideias apresentadas pelo crítico e curador Pierre Restany em seu Manifesto do Naturalismo Integral (1978), redigido durante sua viagem (ao lado dos artistas Sepp Baendereck e Frans Krajcberg) pelo território da Amazônia brasileira.

Foto Gillian Villa

Foto Reprodução

Exibição do filme Estrada para Ythaca (Guto Parente, Luiz Pretti, Ricardo Pretti e Pedro Diógenes) no Cineclube Oficina das Artes, em Itaparica.


19 de julho de 2014

52º

Foto Alfredo Mascarenhas

A Usina de Videodança Dinâmicas de Movimento como Fluxos de Resistência realiza, entre os dias 19 e 21 de julho, atividades de formação coordenadas pela artista mineira Daniela Guimarães. A partir de exercícios de improvisação, a oficina foca em danças geradas para o vídeo, onde o corpo cria e edita dramaturgias audiovisuais. Todo o processo formativo e criativo dialogou com trabalhos de videodanças do Acervo Mariposa que foram doados à FUNCEB e que se relacionam com os temas curatoriais da Bienal.

Foto Tatiana Golsman

O Arquivo Público do Estado da Bahia recebe a performance sonora e corporal CONVERSAÇÃO, realizada pela artista cubana Maria Magdalena Campos-Pons e pelo compositor e saxofonista Neil Leonard, criada a partir da experiência da artista na Bahia, do contato com as pessoas e dos documentos encontrados no Arquivo.

Imagens da exposição realizada a partir do manifesto escrito pelo critico e curador Pierre Restany | Fotos Gillian Villa

O filme Sudoeste (Eduardo Nunes) é exibido no Cineclube Tela em Transe, na cidade de Poções.

É iniciada a Usina de Videodança, com Daniela Guimarães, no Espaço Xisto Bahia. Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Reprodução

Exibição dos filmes As Hiper Mulheres (Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro) e Boi Aruá (Chico Liberato), no Museu do Objeto Imaginário, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Grupo de pesquisa em gravura em metal com Evandro Sybine.


53º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 20 de julho de 2014 JORNAL

Louco, Obá, sem data | Foto Gillian Villa

CANDOMBLÉ, CAPOEIRA, SAMBA E MACONHA EDWARD MACRAE Antropólogo, especialista na questão das drogas e autor de mais de quarenta artigos e livros sobre sexualidade, movimentos sociais e uso de substâncias psicoativas. FFCH/CETAD/UFBA

Museu Imaginário do Nordeste Departamento PEBA & Cia Seção: Tropicalidades Palacete das Artes / Sala Contemporânea PERÍODO 19/07 a 06/09

VISITANTES 6.783

A Sala de Arte Contemporânea foi construída em 2007 com projeto de autoria dos paulistas Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci para receber exposições temporárias. Em 2013, recebeu o nome de Sala de Arte Contemporânea Mario Cravo Jr.

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Sture Johannesson, Revolution Means Revolutionary Consciousness!, pôster, 1968 | Foto Gillian Villa

A repressão às drogas no Brasil tem sido, acima de tudo, um esforço consciente para criar mecanismos e justificativas para o controle policial de determinados setores da população, vistos em diferentes momentos como ameaça ao domínio exercido pelos grupos hegemônicos. Isso fica muito claro no caso da repressão ao uso da maconha em meados do século 20, quando foram levantadas argumentações de um cunho racista e excludente que hoje até causam espanto por sua explicitude desavergonhada. No decorrer da década de 1930 foram tomadas uma série de medidas que levaram à inclusão dessa planta no rol das drogas ilícitas, cotidianamente usadas para finalidades lúdicas e terapêuticas por amplos setores da população, especialmente no norte e nordeste, que reproduziam aqui tradições de origem africana. Não por acaso, algumas das mais conhecidas denominações populares para a planta são de raiz africana: maconha e liamba sendo termos derivados do quimbundo. Ao contrário daqueles que atribuem uma indigência cultural aos usuários de maconha, retratados como desprovidos de senso e inteligência, encontramos uma rica e heterogênea cultura desenvolvida em torno do uso dessa planta, manifestando grande riqueza linguística e poética, assim como dotada de aspectos socialmente integradores e redutores de danos. Por relatos de jornais e relatórios médicos de meados do século 20, sabemos que, apesar de sua posição na base da escala social, importante parcela dos maconheiros cujos casos são conhecidos eram socialmente integrados e muito diferentes dos estereótipos geralmente difundidos. Mas a criminalização dessa prática possibilitava que qualquer membro desses grupos populares fosse automaticamente considerado suspeito, tornando-se vulnerável a incontáveis arbitrariedades. Assim, desde meados do século passado, o combate ao uso da maconha tem servido de pretexto para intervenções repressivas junto a grupos que se encontravam na linha de frente das manifestações e conflitos sociais do momento, como os trabalhadores portuários, marítimos, gatunos, militantes contra a carestia, trabalhadores informais atingidos pelas operações de higienização urbana operadas em feiras livres, e frequentadores dos locais de boemia. Na época da ditadura militar, serviu também para justificar o exercício de vigilância sobre os jovens contestadores culturais provenientes da classe média estudantil. Atualmente, a relevância política dessa questão é claramente evidenciada pela verdadeira guerra de extermínio em curso, deflagrada contra a juventude pobre e negra das nossas cidades, sob a eterna justificativa de uma “guerra ao tráfico”. Por essas e outras razões, na agenda dos que se preocupam com uma maior emancipação da população negra no Brasil, deve constar uma urgente reavaliação das políticas de drogas, especialmente aquelas que proscrevem o uso da maconha e desqualificam esse importante legado da cultura popular de matriz africana e indígena. Nesse aspecto, ao lado de importantes manifestações como o candomblé, o samba e a capoeira, não se pode mais deixar de reconhecer a importância da resistência cultural desenvolvida em torno do uso da maconha. Afinal, não é à toa que fumar essa planta tem sido considerado “coisa de pobre e de maloqueiro”. O que é necessário é que isso deixe de ser considerado motivo de repressão e vergonha.

T E M P O Exibição do filme África sobre o Sena (Mamadou Sarr e Pauline Vieyra) no Cineclube Payayá, em Jacobina, pelo Cinema Yemanjá.

Foto Reprodução

Acontece o segundo dia da Usina de Videodança com Daniela Guimarães. Foto Alfredo Mascarenhas

Contação de Histórias com Maju Fiso. Pinte na Bienal com Maninho Abreu. Oficina de Desenho com Olga Gómez.


21 de julho de 2014

COLEÇÃO ASSIS CHATEAUBRIAND EM FEIRA DE SANTANA Na década de 1960, não havia, em Feira de Santana, nenhum espaço específico para as artes visuais. Porém já existia entre os intelectuais feirenses a vontade de criar o Museu do Vaqueiro, com o objetivo de abrigar aspectos diversos de nossa cultura regional. A ideia era alimentada por Eurico Alves e Dival Pitombo. Quando Assis Chateaubriand lançou o projeto dos Museus Regionais, esses intelectuais levaram a proposta até ele. Contavam com a sensibilidade nordestina de Chateaubriand e tinham um ilustre patrono: Odorico Tavares, diretor dos Diários Associados, na Bahia. Assim nasceu o Museu Regional de Feira de Santana, em 1967. O acervo do Museu Regional contemplou inicialmente peças ligadas à cultura regional (hoje no Museu Casa do Sertão, da UEFS) e uma expressiva coleção de artes visuais. Nesse conjunto destacava-se a chamada “coleção inglesa”, que reunia quadros de representativos pintores ingleses do século XX. Ela resultou dos contatos que Assis Chateaubriand mantinha na Inglaterra. Focando a produção das décadas de 1950 e 1960, e em sintonia com a Pop Art, a “coleção inglesa” conta com nomes como Alan Davie, Graham Sutherland, John Piper, Neville King, Michael Vaughan, Howard Hodgkin, Louis le Brocquy, Frank Auerbach e Bryan Organ.

Visitantes observam obra Moça Florida, de Reynolds | Foto Alfredo Mascarenhas

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Causa Museológica Seção: Psicologia do Testemunho CUCA - Centro Universitário de Cultura e Arte PERÍODO 15/07 a 05/09

VISITANTES VISITANTES 387 6783

O CUCA é o órgão responsável pelo planejamento, coordenação e execução das estratégias e da política cultural da Universidade Estadual de Feira de Santana. O espaço abriga o Museu Regional de Arte, além de galerias, salas de cinema, teatro e diversos outros aparelhos culturais. FEIRA DE SANTANA FUNDAÇÃO: 1832 / POPULAÇÃO: 612.000 / CLIMA: semiárido quente

Algumas obras que integram o acervo do Museu Regional estão em processo de restauro. Recentemente, três obras (Mulher com Brinco Azul e Branco, de Neville King; Moça Florida, de Reynolds; e Extremities, de Patrick Procktor) participaram de uma mostra promovida pela 3ª Bienal da Bahia, na Galeria Carlo Barbosa, no CUCA. Após a restauração, todo o acervo voltará a ser exibido para o público.

Foto Gillian Villa

Selma Soares Diretora do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA)

O artista visual baiano Zuarte Jr. ocupa a Esteio com a instalação Liberdade Desbandeirada, composta por bicicletas já velhas e oxidadas, que ganham asas, também enferrujadas.

Itinerância da Ação Mural Aberto, da professora Hilda Salomão, no CUCA, em Feira de Santana. Nesse dia, a oficina contou com diversos participantes, incluindo um grupo de ceramistas.

Último dia da Usina de Videodança com Daniela Guimarães.

Foto Alfredo Mascarenhas

54º

Foto Rafael Martins


55º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 22 de julho de 2014 JORNAL

TRÂNSITOS TROPICAIS: A BIENAL DA BAHIA NA ESCOLA PARQUE, UMA EXPERIÊNCIA MOVIMENTO I

Preparando-se para mover. Um ponto de encontro com partida para muitos lados. Como mover? Para onde mover?

A expedição teve início no desejo. Alunos e professores e comunidade escolar misturados, participando e fazendo a 3ª Bienal da Bahia; a Bienal nos processos de ensino-aprendizagem da Escola, interagindo, transformando e potencializando o conhecimento num tipo de apropriação informal, sensível e com a liberdade e a criticidade que a arte contemporânea propõe (e geralmente provoca).

O Projeto Caldeirão Cultural1 da Escola Parque do Centro Educacional Carneiro Ribeiro/CECR buscou a mediação com a Bienal. A Bienal buscou a Escola Parque. Os desejos eram das duas partes. O propósito do Caldeirão é de colaborar na precipitação da arte na Escola Parque e no CECR. A Escola Parque foi criada por Anísio Teixeira no início dos anos 1950 como parte do sistema que, com as Escolas Classes, formava o Centro Educacional Carneiro Ribeiro/CECR. O educador, intelectual e gestor Anísio Teixeira, em sua procura permanente por uma educação ampliada que formasse pela vida e não para a vida, criou esse sistema integrando Escolas Classes e Escola Parque, onde as experiências deveriam se aproximar ao máximo da complexidade da vida humana e social.

Nexos com a memória da cidade, das ideias, das artes na Bahia e no Brasil configuravam o projeto da 3ª Bienal da Bahia apresentado aos professores no início de dezembro/2013. A emoção tomou conta de grande parte da plateia, pois estávamos ali totalmente imersos nessa memória que buscava rumos de desenvolvimentos para a Bahia. Nossas fisicalidades e nossos cotidianos estão impregnados das grandes dimensões modernistas da edificação da Escola Parque, criada pela arquitetura de Diógenes Rebouças, entre os afrescos dos artistas Carlos Magano e Jenner Augusto, dos painéis de Maria Célia, Mario Cravo, Carybé, Djanira. MOVIMENTO II

Direção possível: Projeto Arquivo e Ficção A invisibilidade do Arquivo Público na região da Caixa D’Água é curiosa. Parece que essa situação não vigora só no bairro. A grande maioria dos moradores da cidade de Salvador parece desconhecer o Arquivo Público, onde está grande parte da informação de como surgiu e cresceu a cidade. O Arquivo e Ficção convidou escolas do bairro para integrar o seu fazer-fazendo. Escolas procuraram o Arquivo e Ficção para fazer. O projeto criava um espectro de possibilidades conectivas com a vida social e o ambiente da arte, como: o direito de narrar a partir do arquivo e do seu entorno; racismo científico; processos

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de aniquilamento do projeto popular; marginalização do negro, índio, sertanejo, a violência hoje, entre outros temas. Também realizava expedições com finalidades exploratórias no bairro, além de palestras com o Projeto Quintas nas Quinta, oficinas, recitais e encontros.

Oito escolas do Centro Educacional Carneiro Ribeiro participaram das visitas às instalações artísticas, mediadas por monitores da Bienal, que nos levavam a transitar pelos espaços do Arquivo Público onde as instalações eram dispostas. Trinta e cinco professores de História e Geografia desenvolveram o projeto Revolta dos Búzios a partir de uma imersão nos documentos desse evento histórico que estão no Arquivo Público. Expedições e oficinas estiveram também no trânsito entre a Escola Parque e a Bienal. As oficinas foram mediadas pelo Núcleo de Leitura da Escola Parque/NULEP.

Distanciando-se da noção clássica de arte onde o alcance do belo é a finalidade, essa Bienal procurou o caminho das pistas, dos cruzamentos de informações, das conectividades, das memórias pouco reveladas e expandidas, de processos. Nesse âmbito, questões como originalidade, cópia ou transcendência parecem distantes do que se busca. A aproximação com a instância cotidiana é o que atrai. A quebra do distanciamento clássico causa estranhamento e indagações naqueles que vão esperando o belo. E esses questionamentos moveram a Escola, precipitações sobre arte em todas as direções.

Juntos, desenvolveram o “Plano de Edificações Escolares”, que materializava as ideias desenvolvidas por Teixeira para um sistema de educação integral, em que escolas-parque e escolas-classe se complementavam em uma formação baseada no convívio social, na prática de esportes, no estímulo às manifestações artísticas e culturais e na qualificação profissional. O programa funcional extenso e diverso possibilitou que Rebouças explorasse, nos diferentes edifícios do conjunto, elementos do repertório da arquitetura moderna brasileira, em momento de grande projeção internacional. Havia ainda a preocupação em integrar à arquitetura contribuições de importantes artistas baianos, o que permitiu a realização de murais importantes por Carybé, Carlos Mangano, Mario Cravo, Maria Célia Amado e Jenner Augusto.

Foto Gillian Villa

MOVIMENTO III

Do Arquivo de Memórias Tropicais às Tropicalidades das mostras do MAM-BA

O Próximo passo foi a visita às exposições de Juraci Dórea, Juarez Paraíso, Riolan Coutinho e Rogério Duarte, artistas em destaque nessa 3ª Bienal. A alegria dos meninos e meninas ao saltar do ônibus, o cheiro do mar, do salitre, a experiência do corpo andando nas pedras irregulares do piso externo, ou no enorme chão de madeira lisa do grande casarão secular e histórico que abriga o Museu de Arte Moderna/MAM-BA, fazem nossos sentidos abrirem-se. As exposições ajudam a entender a singularidade desse nosso Brasil tropical e diverso. Ê Nordeste(s), prenhe de invenciones e contemporaneidade! (1) Projeto de mediação artístico-cultural desenvolvida pela Escola Parque/EP, extensiva às Escolas Classes do Centro Educacional Carneiro Ribeiro/CECR. O Caldeirão Cultural, desde 2010, desenvolve ações compartilhadas com o Museu de Arte Moderna/MAM-BA em atividades voltadas para alunos e professores. Maria Sofia VB Guimarães Pesquisadora, artista e professora da Escola Parque/ CECR

O cineasta e poeta pernambucano Jomard Muniz de Britto leva para o Palacete das Artes uma mesa-performance aberta ao público, onde discute conceitos da mostra PEBA & cia, uma das exposições da Bienal, além de recitar sua obra Atentados Poéticos.

Foto Alfredo Mascarenhas

O pernambucano Daniel Santiago traz à Bienal da Bahia seu happening Mingau, no Beco do Mingau, bairro 2 de Julho. A ideia de brincar com o nome dos lugares começou em 1977 com a Rua dos Navegantes, onde o público era convidado a navegar pela avenida. Além do happening, o artista realiza amanhã no Largo do Papagaio a performance-instalação Palmeira Noiva, uma tentativa de resgatar o ponto de encontro amoroso que costumava funcionar sob a árvore até os anos 1960.

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Oficina de fanzine ministrada por Ícaro Lira para alunos da Escola Parque (Centro Educacional Carneiro Ribeiro). Foto Tatiana Golsman

O Centro Educacional Carneiro Ribeiro, no bairro de Caixa d’Água, em Salvador, é fruto da colaboração entre Diógenes Rebouças – responsável pela difusão da arquitetura moderna na Bahia, com edifícios notáveis como o Hotel da Bahia, o complexo olímpico e estádio da Fonte Nova (demolidos em 2010), a Avenida do Contorno e a Rodoviária de Salvador – e Anísio Teixeira, figura central para o pensamento sobre educação no Brasil e secretário de Educação e Saúde do Estado da Bahia no governo de Otávio Mangabeira entre 1947 e 1951.

Foto Alfredo Mascarenhas

Exibição da coletânea de filmes Decididamente Animados, Brincadeiras de crianças no Cineclube REPROTAI em Alagados, Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

Exibição do filme Cléo das 5 às 7, de Agnès Varda, no Cineclube Janela Indiscreta, em Vitória da Conquista, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Grupo de Pesquisa em gravura em metal com Evandro Sybine.


23 de julho de 2014

56º

FATO DA VIDA

Agência do Carma e da Conciliação Palácio Rio Branco PERÍODO 18/07 a 06/09

VISITANTES 2.334

O Palácio Rio Branco foi construído em 1549, em taipa e barro, e tornou-se a sede do Governo e residência do governador-geral do Brasil Thomé de Souza. Desde 1986, o prédio abriga o Memorial dos Governadores Republicanos da Bahia, órgão da Fundação Pedro Calmon. No espaço foram expostas obras, documentação judicial (opondo artistas e instituições) e cartas públicas trocadas entre os curadores da 3ª Bienal, nas quais são expostas as diferenças entre os participantes do grupo curatorial. Yoko Ono, Cleaning Piece III, 1996 | Foto Alfredo Mascarenhas

O que se quer dizer com a palavra carma? Fazer, agir, ser. (…) Carma implica causa e efeito – ação baseada em uma causa, produzindo um certo efeito; ação que nasce de um condicionamento, produzindo ainda mais resultados. Assim, carma implica causa e efeito. E causa e efeito são por acaso estáticos, seria possível serem fixados de alguma forma? O efeito não poderia se tornar causa também? Assim não há uma causa fixa e um efeito fixo. Hoje é o resultado de ontem, cronologicamente assim como psicologicamente; e hoje é a causa de amanhã. Assim, causa é efeito, e o efeito se torna causa – é um movimento contínuo. Se houvesse uma causa fixa e um efeito fixo, haveria uma especialização, e especialização não seria a morte? Qualquer espécie que se especializa obviamente chega ao seu fim. A grandeza do Homem é que ele não pode se especializar. Ele pode se especializar tecnicamente, mas não em sua estrutura. Uma semente de bolota [fruta] é especializada – ela não pode ser nada mais do que já é. Mas o ser humano não acaba completamente. Há sempre a possibilidade de renovação constante; ele não é limitado pela especialização. Enquanto considerarmos a causa, o pano de fundo, o condicionamento como não relacionados ao efeito, deverá haver um conflito entre pensamento e o pano de fundo. Assim o problema é muito mais complexo que acreditar ou não em reencarnação, pois a questão é como agir, não se você acredita em reencarnação ou carma. Isso é absolutamente irrelevante. A sua ação é meramente o resultado de certas causas, e essa causa modifica ações futuras – dessa maneira não há escapatória do condicionamento. Então, para colocar nosso problema de maneira diferente, pode a ação nos trazer uma libertação dessa cadeia de causa-efeito? Eu fiz algo no passado; eu tive uma experiência, que obviamente condiciona minha reação hoje, e a reação de hoje condiciona o ama-

Exibição do filme Fary, a jumenta (Mansour Sora Wade) no Urubucine, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Exibição do filme Sudoeste (Eduardo Nunes) no Cineclube Mário Gusmão, em Cachoeira.

nhã. Esse é todo o processo de carma, causa e efeito; e obviamente, mesmo que isso possa dar um prazer temporário, tal processo de causa e efeito no fim das contas leva à dor. Essa é a verdadeira cruz da questão: pode o pensamento ser livre? O pensamento, a ação que é livre não produz dor, não traz um condicionamento. Esse é o ponto vital dessa questão toda. Assim, pode haver uma ação sem relação com o passado? Pode haver uma ação não baseada numa ideia? A ideia é a continuação de ontem de uma maneira modificada, e essa continuação vai condicionar o amanhã, o que significa que a ação baseada numa ideia jamais pode ser livre. Enquanto a ação se basear numa ideia, ela vai inevitavelmente produzir mais conflito. Pode haver uma ação sem relação com o passado? Pode haver uma ação sem a carga da experiência e do conhecimento de ontem? Enquanto a ação for o resultado do passado, a ação jamais poderá ser livre, e só em liberdade você pode descobrir o que é verdadeiro. O que acontece é que, como a mente não é livre, ela não pode agir; ela pode apenas reagir, e a reação é a base de nossa ação. Nossa ação não é ação, mas simplesmente a continuação da reação porque é o resultado da memória, da experiência, da resposta de ontem. Assim, a questão é: pode a mente ser livre do seu condicionamento? Certamente isso está implicado nessa questão de carma e reencarnação. Enquanto houver uma continuidade de pensamento, a ação deve ser limitada; e tal ação cria oposição, conflito, e carma – a resposta do passado em conjunção com o presente, criando uma continuidade modificada. Assim, uma mente que possui continuidade, que é baseada na continuidade – pode uma mente assim ser livre? Se ela não pode ser livre, é possível que a continuidade cesse? Essa é uma questão das mais importantes. Descobrir se a mente pode algum dia ser livre de sua origem, de seu pano

Exibição do filme Safrana ou o direito à palavra (Sidney Sokhona) no Difusão Cineclube Itapetinga. Abertura dos Cursos Livres UFBA/MAM-BA na programação da Bienal, com os módulos Salvador: Território Empreendedor (ministrado por Denise Ribeiro e Tânia

de fundo, implica uma investigação tremenda. Não seria a mente baseada em seu pano de fundo? O pensamento não é fundeado no passado? Então, pode o pensamento se libertar do passado? Tudo que o pensamento pode fazer é chegar ao fim – mas obviamente não por meio de compulsão, não por meio de esforço, não por meio de qualquer forma de disciplina, controle ou subjugação. Como um observador, veja a verdade do que significa para o pensamento chegar ao fim. Veja a verdade, a significação disso, e a resposta falsa é removida. Isso é o que estamos tentando fazer ao responder a essa questão específica. Quando há uma ação não baseada em uma ideia ou no passado, aí então a mente fica quieta, absolutamente silenciosa. Nesse silêncio, a ação é livre da ideia. Mas você vai querer uma resposta à questão se acredito ou não em reencarnação. Você se sentiria mais sábio se eu dissesse que eu acredito ou não acredito nisso? Espero que você esteja confuso. Se satisfazer com meras palavras indica uma mente mesquinha, uma mente estúpida. Examine o processo todo por si mesmo. Esse exame pode acontecer somente numa relação, e para descobrir a verdade em qualquer relação, deve haver um estado de alerta constante, um alerta passivo. Isso vai lhe mostrar a verdade, para a qual você não precisa de confirmação de ninguém. Enquanto o pensamento continua, não pode haver realidade; enquanto o pensamento continuar como se fosse ontem, deverá haver confusão e conflito. Somente quando a mente está parada, passivamente alerta, é possível que o real exista. Colombo, Ceilão, 15 de janeiro de 1950

Jiddu Krishnamurti, Fourth Talk in Colombo 1949-50

Benevides) e Corpo e suas Metáforas – A Cultura no Passado e no Presente – É Tudo Nordestino? (ministrado por Maria Cecilia de Paula Silva e Miguel Angel Garcia Bordas).

pública agendada o acervo da Casa-Museu Solar Santo Antonio: Museu Imaginário do Nordeste | Departamento do Saber Universal | Seção: Psicologia do Testemunho.

O colecionador Dimitri Ganzelevitch abre para visitação

Oficina de Jardinagem com Cláudio Pinheiro.


57º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 24 de julho de 2014 JORNAL

Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Saber Universal Seção: Psicologia do Testemunho Acervo da Laje PERÍODO 11/06 a 07/09

VISITANTES 3.045

O acervo é formado por obras de arte produzidas no subúrbio de Salvador reunidas desde 2011 pelo pesquisador e morador de São João do Cabrito, José Eduardo Ferreira. Foto Alfredo Mascarenhas

NO SUBÚRBIO FERROVIÁRIO Está chegando ao fim a histórica 3ª Bienal da Bahia, evento que não acontecia no Estado há 46 anos, por conta da sua interrupção pela ditadura militar. Com um formato inovador, descentralizado, abarcando centenas de atividades educativas, exposições, oficinas, palestras, instalações e intervenções artísticas, com uma vasta programação que percorreu todos os territórios da Bahia e da cidade do Salvador, essa 3ª Bienal fez história porque, além de todo esse protagonismo em torno da arte incluiu em seu roteiro diversos espaços localizados no Subúrbio Ferroviário de Salvador, como o Espaço Cultural Alagados, Movimento de Cultura Popular do Subúrbio, Centro Cultural Plataforma e o Acervo da Laje.

Nestes cem dias o Acervo da Laje, localizado no São João do Cabrito, em Plataforma, foi um dos espaços expositivos que abriu suas portas para o público durante cinco dias por semana, contando com a presença de duas mediadoras e uma jovem (todas moradoras do Subúrbio) responsável pela manutenção da obra Primavera Praga, de Reinaldo Eckenberger, artista argentino radicado na Bahia que dialogou com as obras dos artistas do Subúrbio Ferroviário de Salvador, presentes no Acervo. A 3ª Bienal da Bahia veio para fazer história e podemos reconhecer que possibilitou uma grande troca de saberes estéticos e artísticos entre os artistas nativos e de várias nacionalidades; sendo local, foi universal.

As ações da Bienal se somaram às mais diversas iniciativas culturais presentes no território suburbano e certamente deixaram aqui a sua contribuição para fortalecer os espaços culturais. Enfim, como fazer parte do processo não permite uma avaliação isenta, agradecemos a presença da 3ª Bienal da Bahia no Subúrbio Ferroviário de Salvador, e em especial à sua equipe de curadores, produtores, mediadoras, artistas e às mais de mil visitas que recebemos neste período. Agradecemos a todas as pessoas que contribuíram com este evento que já está registrado como um marco de retomada de futuras novas bienais. José Eduardo Ferreira Santos Professor, pesquisador e curador do Acervo da Laje

ATIVIDADES NO ACERVO DA LAJE • O Acervo da Laje recebeu o primeiro Bate Papo na Laje no dia 26 de julho. O curador-chefe da Bienal, Marcelo Rezende, os artistas Perinho Santana, Ray Bahia e produtores locais discutiram a arte no Subúrbio, a beleza e a experiência elementar. • No dia 9 de agosto, o Acervo da Laje recebeu a primeira itinerância da Oficina de Desenho, ministrada pela professora Olga Gómez. Em seguida, com ajuda da Escola Popular de Novos Alagados, a equipe da Bienal montou cadeiras e materiais na praça próxima ao Acervo para receber as crianças e adolescentes instigados pela atividade. • O Acervo da Laje sediou no dia 22 de agosto a Oficina de Samba de Roda e Culturas Populares. Ministrada pela ar-

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tista Natureza França e parte do projeto Bate Papo na Laje, o encontro foi uma celebração da cultura popular e do folclore, acompanhado de aprendizagem sobre a roda, os instrumentos e o samba.

Acervo da Laje para uma visita à sua Casa-Museu Solar Santo Antônio, no dia 26 de agosto. O espaço também recebeu a visita de produtores culturais da região do subúrbio ferroviário.

• Em parceria com a Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), a Bienal realizou o encontro Fazer Poesia, Ficção na Bahia, no Centro Cultural Plataforma no dia 23 de agosto. No mesmo dia aconteceu a Expedição Plataforma, iniciada na Estação Calçada – onde houve uma intervenção poética com frases de Waly Salomão – que seguiu em direção ao Acervo da Laje. Além disso, os participantes puderam visitar o acervo da Casa-Livro do escritor Perinho Santana.

• A Bienal da Bahia realizou mais uma edição do Bate-Papo na Laje no dia 30 de agosto, no Acervo da Laje. O tema foi A Beleza e a Experiência Elementar, e o convidado, o psicólogo Miguel Mahfoud.

• O colecionador Dimitri Ganzelevitch convidou o

• No dia 6 de setembro o público participou da oficina Alegria das Cores, ministrada por Ivana Magalhães. Os participantes aprenderam técnicas de potinhoterapia, prática que consiste na pintura de pequenos potes de cerâmica e pode ter fins terapêuticos, como estimular a criatividade e a organização.

É com muito pesar que a 3ª Bienal da Bahia lamenta o falecimento do artista do Mali radicado na França, Bakary Diallo, que participaria da residência artística no Instituto Sacatar (Itaparica) como prêmio do último festival Videobrasil. Diallo, que faz parte da programação da Bienal e expõe obra no Museu Imaginário do Nordeste, na Galeria 2 do Solar Ferrão, foi uma das vítimas do acidente de avião da Air Algerie, que caiu no Mali – próximo à fronteira com Burkina Faso – rumo à Argélia, nesta quinta-feira. O artista visual e diretor de cinema usava elementos da vida cotidiana para construir narrativas sintéticas, questionando os efeitos da violência. Além da 3ª Bienal da Bahia, suas obras têm sido apresentadas em diversas exposições, como a Bienal Africana de Arte Contemporânea - Dak’Art (Senegal, 2012), a 9ª Bienal Africana de Fotografia (Mali, 2011) e a 20ª Semana de Cinema Experimental de Madri (Espanha, 2010).

T E M P O

A Ação Mural Aberto encerra suas itinerâncias com uma edição na Biblioteca Pública do Estado da Bahia nos Barris, em Salvador. Foto Rafael Martins

BIENAL DA BAHIA LAMENTA FALECIMENTO DO ARTISTA BAKARY DIALLO

Ocorre o segundo dia dos Cursos Livres UFBA/MAM-BA na Bienal.

Foto Rafael Martins

Grupo de pesquisa em gravura em metal com Evandro Sybine. Oficina de Pintura com Rener Rama.


25 de julho de 2014

58º

PRAZER AMOROSO NA BAHIA ---------- Forwarded message ---------From: Ciné-Tamaris <xxxxxxxxxx@xxxxxxxxxxx> Date: 2014-05-05 7:57 GMT-03:00 Subject: Re: À l´attention de Mme Agnès Varda _ 3ème Biennale de Bahia To: Carmen Palumbo <xxxxxxxxxx@xxxxxxxxxxx>

---------- Forwarded message ---------From: Ciné-Tamaris <xxxxxxxxxx@xxxxxxxxxxx> Date: 2014-05-05 7:57 GMT-03:00 Subject: Re: À l´attention de Mme Agnès Varda _ 3ème Biennale de Bahia To: Carmen Palumbo <xxxxxxxxxx@xxxxxxxxxxx>

Chère Carmen Palumbo,

Cara Carmen Palumbo,

Votre courriel du 2 mai est tout à fait intéressant car vous me donnez beaucoup d’informations sur la scène artistique de Bahia. Je suis contente que la direction de votre Biennale ait l’intention de montrer mes 17 courts métrages (!) et 3 films qui abordent des problèmes très différents. Parce que ces films sont en restauration et que “L’une chante...” est le dernier en cours, il serait sage de le programmer vers septembre.

Sua mensagem de 2 de maio é muito interessante, porque você me dá muitas informações sobre a cena artística da Bahia.

Par ailleurs, vous m’invitez très gentiment à l’ouverture du cycle de mes films. Cela me sera impossible, je commence à éviter les longs voyages et je dis souvent que même si c’est sympathique de rencontrer le public cinéphile, les films existent sans leur auteur. J’ai récemment exposé à la Galerie Nathalie Obadia à Paris et j’ai encore une exposition en cours au LACMA à Los Angeles jusqu’au 22 juin. Je regrette de décliner votre invitation, d’autant plus que j’aurais été très heureuse de découvrir Bahia, son musée et sa région (je ne connais du Nordeste que le beau film de Gianni Amico, “Tropici”, de 1967).

Me sinto contente que a direção de sua Bienal tenha a intenção de mostrar meus 17 curta-metragens (!) e 3 filmes que tratam de problemas muito diferentes. Em razão de os filmes estarem em restauro e que “L’une chante…” será o último, seria desejável programá-los para setembro. Aliás, você me convida muito gentilmente para a abertura do ciclo dedicado a meus filmes. Isso me será impossível, começo a evitar as longas viagens e digo sempre que mesmo sendo simpático encontrar o público cinéfilo, os filmes existem sem seu autor. Recentemente exibi na galeria Nathalie Obadia, em Paris, e tenho ainda uma exposição atualmente no LACMA, em Los Angeles, até 22 de junho. Lamento recusar seu convite, sobretudo porque eu ficaria muito feliz em conhecer a Bahia, o museu e sua região. O que conheço do nordeste é apenas o belo filme Tropici, de 1967, de Gianni Amico. Agnès Varda

Agnès Varda

PROGRAMAÇÃO 25 DE JULHO Cléo das 5 às 7 (Cléo de 5 à 7) Agnès Varda, 90 minutos, França, 1962 26 DE JULHO Uma canta, a outra não (L’une Chante, L’autre Pas) Agnès Varda, 120 minutos, França, 1976 Programa de Curtas 1 • Oh, Estações! Oh, Castelos! (Ô saisons Ô chateaux!, 22 minutos, 1957) • Prazer Amoroso no Irã (Plaisir D’Amour en Iran, 6 minutos, 1976) • Do Lado da Riviera (Du Côté de la Côte, 24 minutos, 1958) • Tio Yanco (Oncle Yanco, 22 minutos, 1967) • Os Panteras Negras (Black Panthers, 28 minutos, 1968) • Resposta de Mulheres (Réponse de Femmes, 8 minutos, 1975)

Uma canta, a outra não | Foto Reprodução

27 DE JULHO Os catadores e eu (Les Glaneurs et la Glaneuse) Agnès Varda, 82 minutos, França, 2000 28 DE JULHO Programa de Curtas 2 • Ydessa, Ursos e Etc… (Ydessa, lês ours et etc…, 43 minutos, 2004) • Ulisses (Ulysse, 21 minutos, 1982) • Saudações, cubanos! (Salut les cubains, 28 minutos, 1962) • Um minuto para uma imagem (Une minute pour une image, 19 minutos, 1983)

Cléo das 5 às 7 | Foto Reprodução

Exibição do filme Mahaleo (César Paes e Marie-Clémence) no Cineclube AFAI, em Itajuípe, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

29 DE JULHO Programa de Curtas 3 • As Tais Cariátides (Les Dites Cariatides, 13 minutos, 1984) • A Ópera-Mouffe (L’Opéra- Mouffe, 16 minutos, 1958) • Elsa, a rosa (Elsa la Rose, 20 minutos, 1965) • O Leão Volátil (Le Lion Volatil, 12 minutos, 2003) • Você tem belas escadarias, sabia? (T’as de beaux escaliers, tu sais, 3 minutos, 1986) • Os Amantes da Ponte Mac Donald (Les Fiancés du Pont Mac Donald, 5 minutos, 1961) • 7 Peças, Cozinha, Banheiro… Imperdível (7 P., Cuis., S. de B., … À Saisir, 27 minutos,1984)

Encerramento dos dois primeiros módulos dos Cursos Livres UFBA/MAM-BA na Bienal. Foto Rafael Martins

Foto Reprodução

Começa hoje o Ciclo Bienal em Varda, na Sala Walter da Silveira, com o filme Cléo das 5 às 7. A cineasta e fotógrafa francesa Agnès Varda dirigiu filmes com temáticas relacionadas à realidade no documentário, ao feminismo e ao comentário social.


59º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 26 de julho de 2014 JORNAL

LAWRENCE WEINER EM CONSTRUÇÃO

1,8m

Espaço do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), onde foi instalado o trabalho do artista norte-americano Lawrence Weiner | Foto Ana Clara Araújo

7,8m 17cm 7cm

17cm 7cm

17cm 14cm

17cm

2,6m

7cm

17cm 20cm

17cm 7cm

17cm 7cm

17cm 14cm

17cm 7cm

17cm

Estudos para instalação da obra | Alberto Gonçalves

L I N H A

D O

T E M P O O Ciclo Bienal em Varda apresenta um programa de curta-metragens e o longa Uma canta, a outra não da cineasta francesa Agnès Varda na sala Walter da Silveira.

Exibição do filme Fad, Jal (Safi Faye) no Cineclube Filhos do Sol, em Heliópolis, pelo Cinema Yemanjá.

Foto Reprodução

Foto Reprodução

Grupo de Pesquisa em gravura em metal com Evandro Sybine.

Foto Rafael Martins


27 de julho de 2014

60º

Foto Gillian Villa

Lançamento do catálogo da Galeria Esteio e Samba de Roda de Massarandupió

Exibição do filme Os catadores e eu, da cineasta francesa Agnès Varda, na Sala Walter da Silveira, pelo Ciclo Bienal em Varda. Foto Reprodução

Contação de Histórias com Maju Fiso.

Oficina de Desenho com Olga Gómez.

Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins

Pinte na Bienal com Maninho Abreu.

Foto Rafael Martins


61º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 28 de julho de 2014 JORNAL

CONVERSANDO COM A SUA HISTÓRIA A 12ª edição do curso Conversando com a sua História integra uma das linhas de desenvolvimento do núcleo curatorial Arquivo e Ficção e propõe uma série de encontros sobre a história dos arquivos, em parceria com o Centro de Memória da Bahia (CMB / Fundação Pedro Calmon), tendo como tema A arte da produção e organização da memória. O projeto visa observar e discutir as práticas e os procedimentos em torno dos espaços da memória, mais especificamente dos arquivos e bibliotecas. Nesse sentido, o objetivo dos encontros é discutir a arquitetura da memória, a ficcionalização dos arquivos, a natureza burocrática dos arquivos, a memória oral, histórias e ficções dos espaços de memória da Bahia e a (in)visibilidade dos arquivos. Para tanto, diferentes instituições foram convidadas para apresentar seus acervos bem como historicizar a instituição a partir da proposta que deu origem à mesma, o projeto inicial, seus fundadores, colaboradores e mantenedores. As instituições que participaram dos encontros foram: Mosteiro de São Bento / Arquivo Público do Estado da Bahia / Instituto Histórico e Geográfico da Bahia / Fundação Gregório de Mattos / Associação Baiana de Imprensa / Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá / Escola Parque / Museu de Arte Moderna da Bahia / Centro de Estudos Afro-orientais / Terreiro Pilão de Prata / Teatro Vila Velha / Fundação Pierre Verger / Centro de Memória da Bahia /Museu Afro-Brasileiro - UFBA

Jacira Primo Centro de Memória da Bahia/Fundação Pedro Calmon

Conversando com a sua História - Entre o Público e o Privado - A construção da memória sobre a Bahia, na Biblioteca dos Barris | Foto Alfredo Mascarenhas

WHAT IS SOUL? FERNANDO OLIVA Curador adjunto da 3ª Bienal da Bahia

A negritude se desloca para o popular de massa. Problemas de identidade (negro/branco) eclodem nos planos do social e do cultural por meio de processos de personificação: um artista branco, usando óculos e com pinta de nerd, revela o desejo – e a um só tempo a impossibilidade – de se transmutar em negro. O britânico David Blandy apresentou quatro de suas obras dentro do Museu Imaginário do Nordeste | Departamento do Soul | Seção Africanidades. Os vídeos From the Underground (2001), Hollow Bones (2001), Sons of Slaves (2006) e Dock of the Bay (2013), exibidos no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA, fizeram por meio desta Bienal sua estreia na Bahia, abrindo caminhos, mas também criando fricções nos debates sobre etnia e raça. Desta vez por meio de um pop internacional que certamente agradaria à cultura dos “braus”, os jovens negros da periferia soteropolitana, estigmatizados pelas elites, que em meados da década passada se apropriaram da cultura soul norte-americana e, antropofagicamente, a reinventaram nas periferias de Salvador. Neste sentido, a imagem que definiria a produção de Blandy em sua passagem pelas terras baianas é a do menestrel na primeira metade do século 19, base de seu The White and Black Minstrel: um performer branco maquiado como negro, ou vice-versa, liberando e caçoando de todas as tensões reprimidas no trânsito destas ambiguidades e repressões já centenárias.

L I N H A

D O

Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Soul Seção: Africanidades MAE - Museu de Arqueologia e Etnologia (UFBA) PERÍODO 29/07 a 05/09

VISITANTES 489

O MAE foi criado em 1983 está instalado na fundação do antigo Colégio dos Jesuítas, construção que data do século XVI e hoje abriga a Faculdade de Medicina da UFBA. O acervo foi constituído através de doação, coleta e aquisição, a partir de trabalhos desenvolvidos por pesquisadores e intelectuais.

T E M P O

Abertura da exposição Itinerante No Litoral é Assim na Casa dos Carneiros, em Vitória da Conquista. Foto Alfredo Mascarenhas

Videoinstalação do artista inglês, no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA | Foto Gillian Villa

Foto Alfredo Mascarenhas

Oficina MaPaginário - Escritas em Trânsito na Escola Parque, com Laura Castro, Clara Domingas e Leonardo Villa-Forte, programação do departamento Arquivo e Ficção.

Exibição de programa de curta-metragens da cineasta francesa Agnès Varda na Sala Walter da Silveira, pelo Ciclo Bienal em Varda.

Abertura da Instalação Vazio, do GT Bibliotecas, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Foto Rafael Martins

Foto Reprodução


29 de julho de 2014

62º

PEQUENA CERIMÔNIA INTIMISTA

Zu Campos no Museu de Arte Sacra | Foto Gillian Villa

Obra da artista Camila Sposati, que integrou a exposição coletiva realizada no espaço | Foto Alfredo Mascarenhas

O Museu de Arte Sacra da UFBA encontra-se instalado no antigo Convento de Santa Teresa de Ávila, fundado pelos Carmelitas Descalços em meados do século XVII, na cidade do Salvador – capital do Brasil de 1549 até 1759. Em 1660, monges portugueses da Ordem dos Carmelitas Descalços aportaram na Bahia de passagem para Angola e decidiram, a pedido dos habitantes locais, permanecer na cidade. Inicialmente foi edificado um pequeno recolhimento, no sítio chamado Preguiça, em terreno próximo ao mar, doado pelo rei de Portugal, D. Afonso VI. No decorrer do tempo e ajudados por esmolas, ergueram em área contígua, em 1667, o Convento propriamente, tendo a Igreja sido inaugurada em 15 de outubro de 1697. A partir de então, o Convento de Santa Teresa tornou-se um dos maiores conjuntos conventuais da Ordem em todo mundo português e foi fator de importante desenvolvimento da cidade do Salvador e na ocupação do território baiano. O fato do Convento ter servido de alojamento para as tropas portuguesas no momento das lutas pela independência da Bahia, até a vitória final em 2 de julho de 1823, aliado aos ressentimentos contra os portugueses que viviam na cidade, determinou a extinção da Ordem em 1840. Antes, porém, em 1837 o Arcebispo passa sua administração aos padres lazaristas. Em 1956 o Seminário muda-se para outro local, ficando o Convento abandonado e em ruínas até princípios de 1958, quando o Reitor Edgar Santos, da Universidade Federal da Bahia, tomou a decisão de ali instalar o Museu de Arte Sacra da UFBA, através de um convênio com a Arquidiocese de Salvador. Considerado um dos exemplares mais significativos da arquitetura seiscentis-

ta brasileira, tombado individualmente pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Convento de Santa Teresa de Ávila está localizado na área do Centro Histórico de Salvador, declarada “Patrimônio da Humanidade” pela UNESCO em 1985. BREVE RECORTE DO ACERVO Imaginária

A escultura na Bahia entre os séculos XVI e início do XIX teve como foco principal os temas religiosos.

Na abertura do Departamento da Insistência Afetiva, Seção: Imateriais, no Museu de Arte Sacra, a 3ª Bienal convidou Zu Campos a mediar o público pelas esculturas do acervo permanente do MAS, que ainda lhe eram familiares mesmo passadas algumas décadas.

Grande parte das primeiras imagens era, então, de terracota, técnica que passou a ser executada na Bahia até a segunda metade do século XVII. Esta forma de expressão teve como um dos grandes mestres renascentistas e um dos poucos que assinou suas obras, o benedetino Frei Agostinho da Piedade, de quem guarda o museu das duas das mais preciosas imagens, a Santana Mestre de 1642 e a N. Sa. de Monte Serrat de 1936. As imagens de madeira aparecem ainda no séc. XVII, e a escultura baiana, melhor dizendo, a soteropolitana, teve influência incontestável de Lisboa. Sob influência espanhola, em estilo renascentista e iconografia muito específica, as esculturas de madeira eram cobertas com prata, metal, então mais importante e precioso, como na Senhora das Maravilhas, diante da qual, segundo a lenda, o Padre Antônio Vieira teve o “estalo de inteligência”, e Nossa Senhora de Guadalupe, invocação essencialmente espanhola, também segue o mesmo modelo. Texto extraído de catálogo do Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia

Encerramento do Ciclo Bienal em Varda, na Sala Walter da Silveira, com programa de curta-metragens da cineasta francesa. Foto Reprodução

Zu Campos é escultor e professor. Antes de se tornar artista, foi jogador de futebol e pedreiro. Introduziu-se nas artes ao trabalhar assentando a azulejaria no Convento de Santa Teresa D’Ávila, quando este foi reformado para se tornar o Museu de Arte Sacra (MAS). Após a reforma, Zu Campos permaneceu como mediador do museu, cuja coleção está dentre as mais representativas do barroco brasileiro. A partir daí começou a desenhar e esculpir. Sua produção o levou a morar por um período no Rio de Janeiro, e, de volta à Bahia, a figurar como personagem em dois livros de Jorge Amado e a expor na 2ª Bienal da Bahia, em 1968. Zu foi também, durante 25 anos, professor de Escultura em Madeira das Oficinas do MAM-BA.

Foto Leonardo Pastor

Abertura do Museu Imaginário do Nordeste | Departamento da Luta Revolucionária | Seção: Brincantes, no Museu Náutico da Bahia, com exposição de obras de Agnès Varda, Hansen Bahia e Pierre Verger.

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Insistência Afetiva Seção: Imateriais Museu de Arte Sacra PERÍODO 29/07 a 05/09

VISITANTES 753

O conjunto arquitetônico que abriga o Museu de Arte Sacra foi construído em 1676 para abrigar o Convento de Santa Teresa D’Ávila. O MAS foi criado em 1957 a partir de um convênio entre a UFBA e a Arquidiocese de Salvador e seu acervo reúne esculturas, pinturas, mobiliário e azulejaria dos séculos XVI, XVII, XVII e XIX.

Exibição do filme Pacific (Marcelo Pedroso de Noronha) no Espaço Imaginário, em Rio de Contas, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Grupo de P e s q u i s a em Litografia com Renato Fonseca.


63º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 30 de julho de 2014 JORNAL

SOU JESUS, QUEM É O MEU JUDAS? o desenho acadêmico o desenho abstrato o desenho orgânico a mutação paisagens cósmicas paisagens astrais natividade intergalática almas penadas da madrugada eternos mendigos da carne violência parindo pela boca bahia

Texto do artista baiano Juarez Paraíso. Um dos criadores do projeto de bienais para a Bahia, Paraíso foi um dos principais e mais ativos colaboradores da 3ª Bienal da Bahia. Parte de sua produção foi apresentada no Museu de Arte Moderna da Bahia, ao lado da do artista Riolan Coutinho – co-realizador das duas primeiras edições da bienal baiana.

josé maria jesus povoam a Bahia e somos todos nós em cada esquina algumas cruzes em cada rua vários crucificados cabaças dentadas búzios figas cabeças enredadas por serpentes a bahia desenha o retrato a bahia grava uma realidade a bahia ergue seu tempo e o tempo é sempre sou Jesus quem é o meu Judas? e o tempo está solto desembestado misericórdia conceição aflitos há um azul que afoga qual o valor estético de uma superfície? que estatística mede um esqueleto de concreto e pedra? Homem morcego, príncipe submarino, espírito tenho que aprender a ler o nu que o branco desse gesso me informa tenho que aprender a ver copiar o pé e a cabeça, o tronco o modelo me leva para passear por ruínas carcomida estrada mas ainda assim estrada e seja qual for o ponto de vista há sempre um outro argumento a moral, a religião, a razão, os instintos revólveres de dedos diante de medalhas tenho de me nutrir de minha própria substância comer a minha própria fome autofagia e autópsia tenho de aprender a ser só o medo confronta só a morte liberta aonde o frágil do papel? aonde a frase no papel? sou Jesus quem é o meu Judas? carne dura, linha reta, espinhaço indobrável princípio básico da matéria impulso vital de todas coisas vivas uma mão segura uma mão e uma outra mão e uma outra mão e todas as mãos desenham gravam esculpem registram riscam traçam escrevem num muro numa praça para quem anda de coletivo veja para quem anda de carro seja a vida é muito além deste meu tamanho no mundo cabeça tronco e membros uma mão que só alcança um objeto um passo que só se mede pelos pés uma nudez para cópia uma paisagem para os olhos manipulação fotográfica aplicação radiográfica a vida há de ser muito além do meu tamanho sejamos alguns, sejamos muitos, sejamos todos segure esta mão que segura uma mão e esta uma outra mão e esta outra mão e…

L I N H A

D O

T E M P O A Oficina de Jardinagem teve como tema chás. O professor Cláudio Pinheiro mostrou como trabalhar com algumas espécies e ofereceu degustação de infusões com as plantas. Foto Rafael Martins

Juarez Paraíso Ficção-científica | Cosmologia | Utopia-Distopia Riolan Coutinho Entre Sistemas MAM-BA / Casarão / Térreo PERÍODO 31/07 a 07/09

VISITANTES 6.165

O Museu de Arte da Bahia foi criado em 1959 e sua primeira diretora geral foi a arquiteta Lina Bo Bardi. O foyer do Teatro Castro Alves abriou o MAM-BA até 1963, quando aconteceu a mudança para o Solar do Unhão, construção que data do século XVII.


31 de julho de 2014

64º

Foto Gillian Villa

A instalação Casulo, de Baldomiro Costa, esteve exposta no Pátio Flamboyant do MAM-BA durante a 3ª Bienal da Bahia.

Foto Gillian Villa

Abertura da exposição Sertão | Museus | Arqueologia, do artista Juraci Dórea na Capela do MAM-BA.

Foto Gillian Villa

Abertura do Museu Imaginário do Nordeste |Departamento da Performatividade de Gênero | Seção: Gêneros no subsolo do MAM-BA.

Foto Leonardo Pastor

Abertura da mostra dedicada aos artistas Juarez Paraíso e Riolan Coutinho | Foto Alfredo Mascarenhas

Obras de Riolan Coutinho | Foto Gillian Villa

Exibição do filme O quadro (Jean-François Laguionie) no Cine Sereia, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Foto Alfredo Mascarenhas

Exibição do filme Uma Longa Viagem (Julia Murat) no Cine Mais Saber, em Cairu. Foto Reprodução

Hoje também acontece a abertura da exposição Entre Sistemas, de Riolan Coutinho. Nas palavras de Juarez Paraíso: “Riolan Coutinho destaca-se pelo seu excepcional talento e criatividade como desenhista e pintor no contexto da arte moderna da Bahia. Como professor, contribuiu para a renovação pedagógica da Escola de Belas Artes e foi um dos principais idealizadores e executores das Bienais da Bahia de 1966 e 1968.”

Estreia da peça Jango: uma tragedya, escrita por Glauber Rocha, no Teatro Vila Velha. O espetáculo tem montagem inédita na Bahia e direção de Márcio Meirelles.

Foto Rafael Martins

Abertura dos módulos dos Cursos Livres UFBA/MAM-BA, com os temas Terraplanagem – O Corpo e a Voz, ministrado por Maria Fonseca Bazzo e o Francisco Antonio Zorzo e Ex-Votos: Um Olhar Sobre a Preservação do Patrimônio Imaterial na Bahia, ministrado por Ana Paula Rocha do Bomfim e Ivone Costa.

O Quintas na Quinta traz o tema Racismo científico: a experiência do Museu Estácio de Lima com a participação de Marcelo Cunha e D. Cici. Na ocasião acontece também a intervenção artística Feminária Musical do Grupo Feminista de Experimentos Sonoros da Escola de Música da UFBA. Oficina de Pintura com Rener Rama. Grupo de Pesquisa em Litografia com Renato Fonseca.


65º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 1 de agosto de 2014 JORNAL

Juraci Dórea em seu ateliê | Foto Alfredo Mascarenhas

SERTÃO/ MUSEUS/ ARQUEOLOGIA JURACI DÓREA Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

L I N H A

D O

Capela do Solar do Unhão. Noite de 31 de julho de 2014. As paredes brancas da centenária edificação estão iluminadas. Lina Bo Bardi, o MAM, o mar da Bahia. A exposição é mais uma página da 3ª Bienal. Entremos. A voz de Edwirges, na parte superior, confunde-se com outras vozes. Entre as obras, os torrões da casa em que viveu, no Saco Fundo. O poeta Antonio Brasileiro, sentado à sombra de um umbuzeiro, concentra-se nas “coisas memoráveis”: “Um dia o mundo inteiro vai ser memória./ Tudo será memória./ As pessoas que vemos transitar naquela rua,/ as gentis ou as sábias, ou as más, todas,/ todas.” Agora, a casa-museu de Edwirges é memória. No Jornal de um dia, também a paisagem é memória. Ruíram outras tantas casas. Canudos. Plano geral. Estou só, diante do sertão e do mar. Sertão da guerra. Mar da profecia. O acaso trouxe a exposição para a Capela do Solar do Unhão. Será? Cavaleiro Marcelo Rezende, você acredita nisso? Glauber Rocha, um dia, ligou a Capela ao sertão. Cenas de Deus e o diabo na terra do sol foram rodadas aqui. Não havia ainda o museu. Assim. Sertão. Sertões. Vasos comunicantes. Ex-votos. Ferro de marcar gado. Totens de bosta de boi.

T E M P O

Segunda etapa do Processo Compartilhado, de Lia Robatto. O projeto acontece no TCA e é aberto ao público com formação e experiência artística. Foto Alfredo Mascarenhas

Sons de chocalhos. Potes. Radiestesia? Identidade? O Nordeste do sertão e do mar. Nordestes. Seremos, também, Brasil? Queremos ser atlânticos. Como o IKB e o altar daquela igreja baiana. Na Capela, o azul de Yves Klein. De Yves Klein e dos bois do sertão. Cancelas, estandartes, geometrias e Jacuípe. Retábulo feito de madeira, couro e sonhos. Cartas. Teréns. E aquelas tintas e aquelas terras. Tudo sertão. Encruzilhada. Sertãozão. Minha poética? Os dias e as noites. A arte, um átimo, um clarão. Fazer arte é decifrar de nuvens. Carregar pedras. Explicar? O presente é bruto. A arte é um salto no vazio. Ao lado, no Casarão, Juarez Paraíso fala de tantas coisas, outras, desta terra. Juarez Paraíso, meu amigo, mestre de variados caminhos e de todas as técnicas. A 3ª Bienal tem muitos lumes e muitas portas. Expedição Terra: partimos no dia 13 de junho. Feira de Santana, Santa Bárbara, Serrinha, Araci. Em busca do tempo perdido. Ana Pato investiga ruas e praças. Arquivos. Corisco esteve na Fazenda Paraíba, em 1928. A noite chega. O Jorro, as pessoas na praça. No dia seguinte, a feira de Tucano. A chuva trouxe fartura: milho, feijão, farinha e gente. George Lima registra. Almoço

Grupo de Pesquisa em Cerâmica Miniatura de Arte Popular com Marlice Almeida. Foto Rafael Martins

Exibição do filme Mahaleo (César Paes e Marie-Clémence), no Cine Mais Saber, em Cairu, pelo Cinema Yemanjá.

Exibição do filme Victoire Terminus (Florent de la Tullaye e Renaud Barret) no Cineclube Oficina das Artes, em Itaparica.

Segundo dia dos Cursos Livres UFBA/MAM-BA com os módulos Terraplanagem – O Corpo e a Voz e Ex-Votos: Um Olhar Sobre a Preservação do Patrimônio Imaterial na Bahia.


2 de agosto de 2014

Abertura da exposição do artista Juraci Dórea na Capela do Museu de Arte Moderna da Bahia | Foto Gillian Villa

no Cumbe. Entramos em Monte Santo ao anoitecer. A Santa Cruz iluminada. Não pensei que tivéssemos fôlego para subir. Conseguimos. No alto, o vento frio e os sons da cidade. A lua. Pela manhã, Dedega veio nos encontrar. Nosso guia. Todos os caminhos demudados. Chegamos ao Acaru, à casa de fazenda que agora é dele. Pequeno marco num lugar de barros vermelhos. A sanfona, o tamarineiro, o improvisado piquenique. A Expedição segue. Encontramos Nezinho, fomos ver o Tanque das Pedras. Muquém: Otaviano estava na roça, Dona Josefa catava feijão. E a casa de Edwirges? Encontraríamos algum vestígio? Também, no Saco Fundo, a paisagem havia mudado. Ali a casa da menina Maria (onde andará?). Portas e janelas abertas, o telhado em ruínas. Identifico o umbuzeiro da casa de Edwirges. O mato se espalhara. Restos de adobes. Pedras com marcas do antigo fogo e do tempo. O grupo se reúne em silêncio. O umbuzeiro é um totem. Ritual em IKB. Vereda. O Azul de tantas auras e mistérios está no sertão. Ação psicomágica? O verde e a luz da tarde nos envolvem. Mais estrada: o povoado da Santa Rosa. Já não há o antigo mercado. Na lembrança, apenas uma foto: Roberval Pereyr e outros mirantes.

Exibição do filme Estrada Real da Cachaça (Pedro Urano) no Cineclube Espaço Imaginário, em Rio de Contas, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

66º

Carta 260789, Carta para Ângela 01, carvão e PVA sobre tela, 1989 | Foto Gillian Villa

Noite. Raso da Catarina ou Canudos? A pensão de D. Joselina fica no alto. De lá, se avista o Açude de Cocorobó. Desterro. Ícaro Lira observa. Caetano Dias navega entre bolas azuis. Planta e plasma novas margens. Sinestesia. Urucum, couro de cobra, faca. Canudos. Jogo de vida e de morte. Transe. Então. Serra de São José das Itapororocas. Elegia. Manuel Bandeira, Eurico Alves, Paulo Bruscky. Terra, couros, terra, tanque. Chove. A Fazenda Fonte Nova é um ready-made. Tudo tão perto. Nos sertões da Gameleira, Elomar continua a criar bodes e a fazer música. A Quarta Real Academia se reúne. O pau-ferro abre suas asas sobre os matos secos. Um avião pousa na caatinga: a Donzela Teodora desce. Caminha calmamente e recebe das mãos do Mestre uma coroa de flores de umbuzeiro. Ao pé do fogo, o Cavaleiro das Plumas puxa a viola. Hoje, não há lua na Casa dos Carneiros, mas o céu está coberto de estrelas. Ao fim de cem dias, alguém pergunta: É tudo Nordeste? Na paisagem distante, bois mugem. Começa o quarto concerto para raposas.

Juraci Dórea Sertão | Museus | Arqueologia MAM-BA / Capela PERÍODO 31/07 a 07/09

VISITANTES 5.439

A Capela do Solar do Unhão foi construída por volta de 1740, tendo sido consagrada a Nossa Senhora da Conceição. Na mesma época o Solar do Unhão também recebeu feições mais requintadas, com os azulejos e o passadiço que até hoje dão acesso ao casarão. O Solar do Unhão abriga o MAM-BA desde 1963.

Outubro, 2014

Exibição do filme Girimunho (Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina) no cineclube Tela em Transe, em Poções.

O Cinema Yemanjá acontece dentro da programação da 4ª edição do Solar de Virote, no cine-teatro Solar Boa Vista. Foto Alfredo Mascarenhas

Grupo de Pesquisa em Gravura em Metal com Evandro Sybine.


67º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 3 de agosto de 2014 JORNAL

O GÊNERO E SUAS QUESTÕES AYRSON HERÁCLITO Curador-chefe da 3ª Bienal da Bahia

Ieda Oliveira, Um terço para Marcia X, 2014 | Foto Gillian Villa

A Teoria da Performatividade de Gênero é uma perspectiva que lançamos mão nesse departamento para reunir trabalhos de artistas que têm como referencial principal a desconstrução do discurso biológico/naturalizante para explicar os gêneros e as sexualidades. Judith Butler, filósofa estadunidense, tece uma série de ideais que explicita o quanto nossos corpos são resultados de normas reiteradas dia após dia com o objetivo de tornar inteligíveis as subjetividades, os desejos e os corpos. É interessante apontar que, mesmo antes do nosso nascimento, um conjunto de regras sociais já é posta em cena a partir de um traço diferencial do sexo visto em um monitor de ultrassonografia. Dada a institucionalização do gênero a partir do sexo, nossa existência já é carregada de discursos e normas – pautadas em convenções seculares rígidas. Felizmente, os corpos nunca se conformam completamente às normas, e são essas brechas que geram um gradiente de resistência e de não-conformidade.

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Performatividade de Gênero Seção: Gêneros MAM-BA / Subsolo PERÍODO 31/07 a 07/09

VISITANTES 2.886

Antes de abrigar o MAM-BA, o Solar do Unhão foi um engenho de açúcar e já serviu de instalações e uma fábrica de rapé, entre os anos de 1816 a 1926, e trapiche, em 1928. Os trilhos para transportar mercadorias na entrada da Galeria Subsolo foram preservados deste período.

L I N H A

D O

Elencamos nesse departamento um conjunto de artistas que em seus trabalhos, ao contrário de seguir um script, burlam a expectativa por meio de uma poética subversiva. As obras reunidas não reivindicam identidades sexuais fixas propagadas pelo movimento LGBT mais institucional. Elas revelam que é possível tecer políticas de diferença sexual e de gênero de uma maneira distinta, a partir da exaltação da alteridade em detrimento de um formulário essencialista. As regras de boa conduta, propagadas mesmo pelo movimento de diversidade sexual, são postas à sombra para emergir uma representação mais provocadora – vista, por exemplo, nos desenhos da artista Bia de Medeiros. Em Jardim das torturas, Virgínia de Medeiros apresenta os resultados de sua imersão no contexto de uma família sadomasoquista que vive sob um acordo denominado de 24/7, em que vivem essa experiência 24 horas por dia e 7 dias por semana. As regras da prática SM são estetizadas pela artista a partir de uma vivência real registrada por

Também o filme CUCETA – A cultura queer de Solange, tô aberta provoca os ideais repressores do fundamentalismo religioso – que se mostra tão poderoso e tentacular na atualidade. O duo funk, documentado por Claudio Manoel, utiliza o insulto como uma possibilidade criativa e desconstrutora. “Afaste seu deus do meu corpo”, frase estampada na camisa de Pedro Costa, um dos integrantes do grupo, resume como num grito a posição de insubordinação de quem há séculos sofre opressão da Igreja, da biologia, da medicina, da justiça e do modelo de família nuclear heterossexual. Sem contar a cena máxima do documentário, em que o mesmo Pedro tira do seu ânus um terço insinuando ser bolinhas tailandesas que estimulam o prazer anal. A religião também é o mote de Um terço para Marcia X, obra de Ieda Oliveira que cita o trabalho da artista carioca que desenhou diversos pênis utilizando terços católicos. Ieda constrói uma instalação remontando com maçãs um dos desenhos de Marcia X. O apodrecimento das maçãs até o final da exposição foi inevitável e consistiu num curioso processo para pensarmos na derrocada da religião e da masculinidade, verdades inabaláveis e perenes. Por fim, as obras que compõem o Departamento da Performatividade de Gênero utilizam estratégias de resistência que tornam complexas uma série de discussões que ainda se esbarram nos muros das universidades ou nas burocracias de organizações. Nesse sentido, a experiência de discussão do gênero e da sexualidade na 3ª Bienal da Bahia foi pensada não como um reforço de ideias antigas, mas como uma plataforma para lançar um olhar a outros corpos possíveis.

T E M P O

Exibição do filme Doméstica (Gabriel Mascaro) no Cine Manga Rosa, em Mar Grande/Vera Cruz pelo Cinema Yemanjá.

Foto Reprodução

meio de entrevistas, fotografias e diários – material ao qual se debruça para compor uma performance. Na ação a artista põe em cena um repertório de posições sadomasoquistas, que mostram o quanto o poder disciplinador ora é reforçado, ora é subvertido. Induzido por um ideal subversivo, Virgínia parece estar num transe que não tem como ser entendido dentro de uma moral cristã e normativa.

Contação de Histórias com Maju Fiso.

Foto Rafael Martins

Oficina de Desenho com Olga Gómez. Pinte na Bienal com Maninho Abreu.


4 de agosto de 2014

Foto Leonardo Pastor

Hansen Bahia, sem título, técnica mista, 1972 Foto Leonardo Pastor

O HOMEM E SEU TEMPO: A BAHIA DE HANSEN AYRSON HERÁCLITO Curador-chefe da 3ª Bienal da Bahia

68º

“Eis que a Bahia tem esse mistério, essa grandeza sem limites, esse óleo de luar que escorre pelas noites, sobre os homens, ninguém pode a ele resistir.” - Jorge Amado Fazem oitenta e três anos que Heidegger, no seu texto Sein und Zeit (O ser e o tempo), convida cada homem a fazer a seguinte pergunta: o que significa ser para o homem, ou “como é ser?”. Desprovido dessa reflexão, absolutamente necessária, o homem segue uma forma errante de ser sem consciência, sem autenticidade e alienado. Não é, inquestionavelmente, o caso desse artista germânico-baiano: Hansen Bahia. O tempo e o lugar construíram o homem Hansen Bahia. Procurando respostas para sua existência de “ser-no-mundo” deitou-se em um novo berço, aquecido com braços sofridos de negros e mulatos, em uma nova casa: a Bahia, onde renascera e fora adotado como um guerreiro por muitos dos seus contemporâneos. Na nova terra encontrou singularidades de um povo que vive entre o “monstruoso e o sublime”, entre o nobre e o ignóbil, entre a sensualidade e a desordem social. Mirou seu olhar para o mundo dos pobres e dos excluídos a fim de transmutar a dor do seu passado de jovem soldado na Alemanha nazista e a dor das nossas mazelas históricas oriundas do holocausto da escravidão. A Bahia de Hansen nos diz que as chagas abertas pela cruel desigualdade social que constitui a sociedade brasileira devem ser estancadas, mas suas cicatrizes nunca ocultadas. E que sua arte promove a total visibilidade de espaços e indivíduos descartados, condenados ao esquecimento. A sua obra funciona como uma catarse, um exercício de purgação, um remédio amargo, muitas vezes intragável, contudo purificador. Gravando sobre a aspereza da madeira a nossa grotesca realidade, Hansen está presente e pertencente ao seu tempo. Materializando suas experiências de vida e se relacionando com o mundo e com as pessoas. Aproxima-nos de dores universais e simultaneamente se crucifica no calvário da sua Via Crucis do Pelourinho em tempo de medo e miséria na Bahia.

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Luta Revolucionária Seção: Brincantes Museu Náutico da Bahia PERÍODO 28/07 a 07/09

VISITANTES 5.886

O Museu Náutico está instalado no Forte de Santo Antônio da Barra, onde também está o Farol da Barra. O museu reúne acervo de achados arqueológicos submarinos, instrumentos de navegação e sinalização náutica e miniaturas de embarcações.

A Bahia de Hansen aborda e investiga temas com um horizonte crítico; são prostitutas, pescadores, vaqueiros, homens e mulheres do povo, e vistos em sua condição existencial. O artista aponta para leituras que desmitificam as imagens hegemônicas da Bahia, e me faz lembrar das palavras de António Risério, citando Stefan Zweig (um escritor que se matou no Brasil), que nos alerta ao comparar a cidade de Salvador com a atitude de uma velha rainha viúva – “uma rainha viúva, grandiosa como a das peças de Shakespeare” - acrescenta Risério, “uma rainha tão bem sucedida em seus convites a idealizações paradisíacas, que geralmente consegue ocultar dos olhos que a contemplam a realidade de sua miséria e dos seus conflitos sociais.” Salvaguardar a obra desse grande artista é uma tarefa absolutamente necessária para a nossa história, pois além de ser um precioso patrimônio cultural, é um exemplo de competência para todas as gerações de como um ser criador se relaciona de maneira autêntica com o mundo em que habita. Relembrando Jorge Amado: “famoso e indiscutível, Hansen Bahia tudo deixou para trás e partiu conduzindo a cruz de Cristo”.

Entre o público e o privado: a construção da memória sobre a Bahia é o tema do primeiro Conversando com a sua História na Bienal, realizado na Biblioteca Pública do Estado da Bahia.

Cineclube Vila, em Salvador, exibe o filme The Ballad of genesis and lady Jaye (Marie Losier) pelo Cinema Yemanjá. A cidade de Heliópolis assiste ao filme Comboio da Canhoca (Orlando Fortunato de Oliveira) no Cineclube Filhos do Sol, pelo Cinema Yemanjá. Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

Abertura do projeto Feira de Arte Livre (F.A.L), realizado na Feira de São Joaquim. A iniciativa transforma o espaço em um território de intervenções e trocas entre visitantes, comerciantes, artistas, curandeiros e ambientalistas da França e do Brasil, sob curadoria de Marc Pottier e Pascal Pique. As intervenções sintetizadas na F.A.L. ocorrem até o dia 12 de agosto.


69º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 5 de agosto de 2014 JORNAL

VILA VELHA ENCENA COM A HISTÓRIA MARCIO MEIRELLES Diretor artístico do Teatro Vila Velha e fundador da Universidade LIVRE de Teatro Vila Velha

Jango - Uma Tragedya | Foto Leonardo Pastor

1. o teatro vila velha comemora 50 anos ano emblemático pq relembra os 50 anos da ditadura no brasil e seu legado reencenam-se atos políticos como a bienal de arte da bahia apresentamos na bienal projetos da universidade LIVRE de teatro vila velha 2. a universidade LIVRE de teatro vila velha é um programa de formação de intervenção de atuação – no sentido amplo da palavra atuar – tem a missão de buscar a chave p reencantar o público com a reflexão de retomar o papel de arena q o teatro sempre teve e a ditadura cuidou de eliminar com a desPOLItização das atividades artísticas a retirada do teatro da vida da polis como fator de cura das mazelas da sociedade e do indivíduo o medo da força q nos oprimiu e coagiu durante os anos terríveis e o descaso pelo destino da polis gerado pelo medo criaram um teatro castrado incapaz de reprodução e de eros incapaz de seduzir pq incapaz de dar respostas falamos de um modo genérico grupos artistas coletivos instituições tendências continuaram a fazer seu papel de antena de bússola de alavanca de ferramenta de mudança a LIVRE foi criada p buscar respostas e principalmente p (se) fazer muitas perguntas 3. como processo de formação seu método é aprender fazendo tudo e qualquer coisa atuar gerir encenar produzir comunicar escrever inscrever tocar musicar dançar videoteipar editar transmitir reproduzir difundir estar em contato c o público é fundamental p a saúde do teatro

L I N H A

D O

Ensaio Experimento 2.1 | Foto Alfredo Mascarenhas

foi criado então o EXPERIMENTO processo/produto ou avaliação/produto ou questionamento/produto periodicamente são apresentados ao público os momentos e passos q damos na LIVRE e nossa reflexão sobre eles os EXPERIMENTOS são assim uma mostra debate seminário ensaio aberto provocação test drive do que está sendo produzido montado construído 4. na 3a bienal foram apresentados 3 EXPERIMENTOS e a peça JANGO – UMA TRAGEDYA EXPERIMENTO 2.1 – AS VISÕES PARALISANTES a greve dos policiais militares e civis aterrorizava a população e impedia de fato q os atores se deslocassem p o mam onde seria a apresentação mantivemos data e hora e comunicamos q ia ser pela internet foi a forma de resistir ao terror instalado por quem devia nos proteger alguns atores conseguiram chegar ao vila velha na hora marcada e pela internet declaramos nosso n conformismo c aquela situação mantínhamos nosso compromisso de fazer o EXPERIMENTO lemos textos de brecht lina bardi e de shakespeare – hamlet e macbeth – q estávamos trabalhando no período EXPERIMENTO 2.2 – SHAKESPEARE EM LINA foi feito o EXPERIMENTO q estava sendo preparado p o mam na escada de lina lidos textos/manifestos da arquiteta feitas coreografias rítmicas apresentados fragmentos da trilogia do golpe hamlet macbeth e jango três tragédias ge-

Experimento 2.3 | Foto Gillian Villa

radas por golpes de estado lemos documentos dos golpes brasileiros transformamos em dramaturgia discussões em posts do facebook resultados de crise gerada pela apresentação na internet alguns participantes da livre n concordaram q tivesse havido sem a presença de todos – mais um efeito colateral da greve dos policiais EXPERIMENTO 2.3 – JANGO O TREILER na entrada e cobertura do teatro a universidade LIVRE de teatro vila velha esperava o cortejo anunciador da abertura da bienal canções boas vindas bons augúrios e fragmentos de JANGO – UMA TRAGEDYA o vila saudava a bienal e anunciava o espetáculo q preparávamos JANGO – UMA TRAGEDYA p refletir sobre os 50 anos do teatro do golpe de deus e o diabo na terra do sol escolhemos montar o único texto de glauber rocha escrito p teatro em cena jango o golpe o exílio do presidente a possível revolução as causas do fracasso a decisão do herói em n derramar sangue de inocentes numa possível luta armada q resultaria talvez numa nova cuba na américa a carnavalização ritual e simétrica do ciclo da vida c a morte de carmen miranda e a de jango deglutidos pelo povo na impossibilidade de dar respostas ao brasil a própria morte foi a resposta prenunciando uma possível recorrência da mesma situação no brasil reencenamos o sacrifício de jango segundo glauber p exorcizar o fantasma da ditadura q como o pai de hamlet clama vingança num país q passou por ela mas se politizou e democratizou criando possibilidades reais de inclusão e distribuição de renda

T E M P O

Membros da Academia da Árvore recolhem assinaturas para o Manifesto da Árvore na Feira de São Joaquim. A iniciativa faz parte do projeto Feira de Arte Livre (F.A.L.). Foto Alfredo Mascarenhas

Experimento 2.2 | Foto Alfredo Mascarenhas

Os franceses Pierre Capelle e Michel Boccara realizam sessões de Despertar à Árvore no Palacete das Artes – Rodin Bahia. A oficina também integra a F.A.L. Foto Alfredo Mascarenhas

Exibição do filme O Quadro (Jean-François Laguionie) no Cineclube REPROTAI, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Grupo de Pesquisa em Litografia, com Renato Fonseca.


6 de agosto de 2014

70º

No entanto, a cultura “sustentável” da árvore não desapareceu completamente. Ela sobrevive em algumas sociedades e em inúmeras narrativas mitológicas. De norte a sul, essas narrativas e práticas compartilham um ponto em comum: uma cultura ativa dos mundos invisíveis, onde a árvore desempenha o papel de mediador e pilar. De eixo do mundo. Mas, como no caso da árvore, essas culturas do Invisível estão ameaçadas, pois submetidas a perigos comparáveis entre si, como se, curiosamente, seus destinos estivessem conectados. Se a árvore pode existir sem o homem, o homem não pode existir sem a árvore. Ou então, ao preço de uma deterioração considerável de suas condições de vida, senão ao risco de sua própria extinção. É por isso que o futuro de nossa espécie depende já da restauração e preservação dos equilíbrios dos quais a árvore faz parte. Apesar do aumento dessa tomada de consciência, as políticas ecológicas parecem condenadas ao fracasso. Mesmo que a comunidade internacional finalmente comece a reconhecer que a árvore é uma das primeiras soluções para o aquecimento global, ainda falta inverter o movimento inexorável do desmatamento e, sobretudo, replantar, conservar, restaurar. As árvores têm sido serradas, pilhadas, super-exploradas, aniquiladas mais do que nunca. O que fazer para parar este massacre? Como multiplicar as iniciativas de reflorestamento?

Despertar à Árvore | Foto Alfredo Mascarenhas

O Despertar à Árvore, com Pierre Capelle, no Palacete das Artes, é uma das ações da Feira de Arte Livre. A atividade de “despertar” consiste em uma forma de meditação em contato com os vegetais, apresentada como uma atividade ancestral no livro Sociomytho-logies de L’arbre (Sociomito-logias da Àrvore), de Capelle e Michel Boccara.

EXIBIÇÃO DE DOCUMENTÁRIO SOBRE JURACI DÓREA Foi exibido hoje, na sala Walter da Silveira, o documentário O Imaginário de Juraci Dórea no Sertão: Veredas (Brasil, 2013, 52 min.), de Tuna Espinheira. O filme registra a edição de 2013 do Projeto Terra, de Dórea, mostrando as esculturas plantadas pelo artista em caminhos do sertão baiano, entre Feira de Santana, Monte Santo, Canudos e Raso da Catarina.

Exibição dos filmes África Sobre o Sena (Jacques Mélo Kane, Mamadou Sarr, Paulin Soumanou Vieyra); As Estátuas Também Morrem (Chris Marker e Alain Resnais); e Os Panteras Negras (Agnès Varda) pelo Cinema Yemanjá, em Cachoeira.

MANIFESTO DA ÁRVORE

A árvore é um agente essencial à vida na Terra. Ela fixa o carbono e desempenha um papel importante no ciclo do ar. Ela constitui os ecossistemas florestais e abriga a biodiversidade. A árvore é também um elemento fundamental da cultura e da identidade humanas. Civilizações, mitologias, ofícios e economias inteiras desenvolveram-se a partir de uma relação íntima com a árvore. No entanto, nossa cultura da árvore deteriorou-se consideravelmente. Em parte por causa do estilo de vida urbano que pouco a pouco sitia o campo e o mundo rural, assim como os últimos territórios virgens do planeta, ameaçando de maneira dramática as florestas nativas e mananciais com o desmatamento desenfreado. Na história cultural da humanidade, a árvore passou da condição de organismo vivo, de alter ego ou de aliada do homem para o status de matéria-prima, de objeto e desenvolvimento paisagístico que se explora comumente de maneira descuidada.

Exibição do filme Jom (Ababacar Makhram) no Difusão Cineclube Itapetinga, pelo Cinema Yemanjá.

Não seria mais importante, antes de qualquer coisa, plantar a árvore que está em nós? Em outras palavras: trabalhar pela emergência de uma nova consciência e de uma nova cultura da árvore. Esse é o objetivo das ações propostas pela Academia da Árvore do Museu do Invisível com esse Manifesto da Árvore. São ações destinadas a promover tudo o que pode contribuir para uma nova consciência da árvore com base em uma abordagem experimental transdisciplinar. Como se operando uma junção inédita entre as nossas culturas da árvore, tal qual elas são vivenciadas no Ocidente, e as culturas do Invisível. Para revitalizar, reinventar e literalmente “reencantar” uma cultura da árvore, dos seres vivos e do meio ambiente. Uma tomada de consciência que passa pela assinatura de um Manifesto lançado em Salvador, durante a 3ª Bienal da Bahia.

O Manifesto da Árvore é uma proposta especialmente concebida para a 3ª Bienal da Bahia pela Academia da Árvore, o primeiro departamento do Museu do Invisível criado por Pascal Pique, com o lançamento do livro Sociomytho-logies de l’arbre (Sociomitologias da árvore), de Pierre Capelle e Michel Boccara, no final de 2013, no Palais de Tokyo, em Paris, França. A Academia da Árvore é decididamente voltada a artistas contemporâneos, sensíveis às diversas dimensões perceptivas e visionárias que podem entrar em jogo no contato com as árvores, e que eles traduzem em suas obras.

Abertura do Tear do Terreiro no Teatro Castro Alves, obra do artista Luis Berríos-Negrón.

Grupo de Pesquisa em Cerâmica - Miniatura de Arte Popular com Marlice Almeida. Foto Gillian Villa

Abertura do Museu Imaginário do Nordeste | Departamento da Cura | Seção: Africanidades que propõe visitas guiadas à natureza e apresentação das plantas medicinais do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. Foto Alfredo Mascarenhas


71º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 7 de agosto de 2014 JORNAL

Performance de Myriam Mihindou | Foto Isbela Trigo

Dentro da programação da Feira de Arte Livre, é realizado hoje no Cabaré dos Novos (Teatro Vila Velha) o seminário Por Uma Nova Cultura da Árvore. Idealizado pela artista franco-gabonense Myriam Mihindou, que realiza uma performance no local, o projeto tem o objetivo de incentivar o público a retomar o contato com a natureza.

DO FIM ATÉ O COMEÇO

1. Sem título, 1970

ROGÉRIO DUARTE Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

Eu sou mau poeta Um mau músico E um mau desenhista Mas como tenho precisado De não ficar pensando Em nada o tempo todo Percorro todo tipo de sinal Como se quisesse paralisar A sequência da avalanche

2. Assuntos que eu curtia na época – Salvador, 1985

Rogério Duarte Gênesis | Apocalipse | Ressurreição MAM-BA / Casarão / 1º piso PERÍODO 07/08 a 07/09

VISITANTES 5.022

O conjunto arquitetônico do Solar do Unhão foi tombado em 1943, pelo IPAC, sendo depois adquirido e restaurado pelo Governo do Estado da Bahia na década de 1960, com projeto de Lina Bo Bardi para abrigar o MAM.

L I N H A

D O

Física matemática geometria filosofia poesia música artes plásticas religião agronomia química história teatro linguística culinária medicina design arquitetura xadrez direito política teoria da informação astrologia futurologia cabala psycologia cirurgia tipografia fotografia educação física yoga ocultismo demonologia hipnotismo caligrafia cerâmica marcenaria cinema ourivesaria lapidação mitologia publicidade assistência social pedagogia pecuária retórica farmacologia usinagem luthieria prestidigitação

3. Todos os homens deveriam ser religiosos, mas cada um com uma religião única e solitária – di ferente. Mil novecentos e antigamente.

T E M P O

Exibição do filme Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now (Ninho Moraes e Francisco Cesar Filho) no Cineclube Mocamba, em Itabuna e do filme O quadro (Jean-François Laguionie) no Cineclube Imagens Itinerantes, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

Desta vez o Quintas na Quinta trata do tema Arquivo Público Discussões sobre Patrimônio, com as convidadas Fátima Fróes (FPC), Maria Teresa Mattos e Rita Rosado do APEB. Foto Gillian Villa

Cursos Livres UFBA/MAM-BA iniciam mais uma etapa, com os temas Sobre Corpos, Paisagens e Sonoridades: Desconstruindo Estereótipos de Nordeste com Moda e Música, ministrado por Caroline Barreto e Laila Rosa e Seca no Nordeste e preservação ambiental: des(ilusão) e empreendedorismo social, ministrado pelos professores Auristela Felix e Lielson Antonio de Almeida. Foto Gillian Villa


8 de agosto de 2014

72º

Cursos Livres | Foto Rafael Martins

Momentos da abertura da mostra dedicada ao artista Rogério Duarte | Fotos Alfredo Mascarenhas

4. Trecho de A Grande Porta do Medo (Caderno 1) Eles dirão de mim o que disseram de Cristo, de Edson Luís, de Ronaldo ou de qualquer outro, de Hitler, de Cara de Cavalo – graças a Deus não tive a mesma sorte. Graças a Deus eles nos substituíram. E botarão na vitrola um disco de Chico Buarque ou baterão uma punheta, como eu mesmo. E quem é que durante a sede não gosta de um bom copo d’água? Eles dizem: a violência gera a violência. Por isso eu voltei para perguntar. E o que é que gera a primeira violência? Eu voltei para dizer que o que mais doeu foram as palavras que de tão antigas pareceram novas. Corte E em toda a Guanabara não existe um só que não seja violento. Eu tenho agora no corpo novas fomes e trago-as para dividir com vocês. A fome de dor, a fome de prazer. A fome de Deus, a fome do Diabo.

5. Poema de juventude, sem data, sem título. Já não quero ser assim, como sempre me dei por haver sido, na via escura a me sentir perdido, quando cheguei um pouco a mim Somente o tempo desatado dos segundos, o espaço esquecido de fronteiras E libertar a vista da ordeira nitidez que imobiliza tudo

Promovida pelo Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a segunda edição do projeto Cursos Livres teve como tema a indagação É Tudo Nordeste?. Inspirados na obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, os cursos foram divididos em três eixos: o ambiente natural onde a ação se desenrola (A Terra), o da psicologia e cultura dos protagonistas da ação (O Homem), e o dos conflitos nela envolvidos (A Luta). Professores da UFBA inscreveram propostas de minicursos interdisciplinares que provocassem a reflexão de temas atuais, analisados por diferentes áreas do conhecimento, como economia, cultura, ciências exatas, arquitetura e política. As aulas aconteceram entre os dias 23 de junho e 9 de agosto na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, no bairro dos Barris.

O amor eu quero, despido de bandeiras Purissonâncias corrompendo os hinos A ventania sublevando os sinos e os mendigos fecundando as freiras. Por querer tanto já não há mais o terror De ser jogado na loucura dessa fome Que renomeia os frutos quando os come Nem do teu sangue numa taça incolor.

6. Retrato do Brasil, 1970 O Brasil é uma colcha de retalhos. Conjunto de padrões interrompidos. Aceitamos coisas contraditórias que chovem de todos os lados. O nosso largo espaço é demasiadamente estreito para conter tanto resíduo. O indiscriminado lixo cultural que já chega em estado de decomposição. A precária síntese de Le Corbusier e Bauhaus. A arquitetura uma vez demitida de sua função social delicia-se no formalismo de Niemeyer, que por sua vez permanece comunista nas horas vagas. Isto é, quando está longe da prancheta.

Vômitos de França e Alemanha nos chegam. Os modulares e as Bauhauses confundidos no mesmo esgoto onde se eliminam suas contradições. O astral lemuriano sensorial do brasileiro se compraz na adoração da esfuziante aparência que camufla a parede da prisão. A falta de espaço real deve ser preenchida pelas cores mais berrantes. O catolicismo obscurantista fabricante de fetiches se eterniza na obra dos maiores artistas brasileiros. O reino da emoção reificada da negação do espírito da arte como formulação de proposta universal.

O Cineclube Professor Ralile em Caravelas/Teixeira de Freitas exibe o filme Cuba: Uma Odisseia Africana (Jihan El Tahri), pelo Cinema Yemanjá. Exibição de Papel Não Embrulha Brasa (Rithy Panh) no Cineclube AFAI, em Itajuípe. Segundo encontro da atividade Processo Compartilhado, da coreógrafa Lia Robatto.

Luiz Ramos | Foto Gillian Villa

A Galeria Esteio recebe a instalação Relicários do Paraíso, de Luiz Ramos, na Casa das Artes Visuais. Em sua obra, o artista utiliza lanternas de tecido aquarelado com narrativas bordadas das paisagens do vale do rio Inhambupe. O trabalho foi realizado em colaboração com bordadeiras da região.

Caminhada das Pedras, com Camila Sposati e Dudu Bertholini, do Palacete das Artes ao Museu Geológico da Bahia. Segundo dia dos módulos Sobre Corpos, Paisagens e Sonoridades: Desconstruindo Estereótipos de Nordeste com Moda e Música e Seca no Nordeste e preservação ambiental: des(ilusão) e empreendedorismo social, dos Cursos Livres UFBA/MAM-BA. Grupo de Pesquisa em Cerâmica - Miniatura de Arte Popular, com Marlice Almeida.


73º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 9 de agosto de 2014 JORNAL

ESPEREI QUARENTA E SEIS ANOS PELA BIENAL

BULE-BULE*

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Quando um país bate palmas Para os artistas que tem Flora as artes o mundo abraça Reconhecimento vem Arte forte povo alegre País alegre também

Agora quarenta e seis Anos depois deste impasse Bem das cinzas como fênix O mundo vê que renasce A terceira bienal Pra honra e glória da classe

Para a soma de valores Este ano também veio Mostrar seu potencial Nossa Galeria Esteio Trouxe três casas de taipa Instalou no nosso meio

São dois capítulos da Esteio Um antes e outro depois Da terceira bienal Que com clareza compôs Olhava as artes com um olho agora olha com dois

Vamos buscar parceria Para subir a ladeira Que o chão da dificuldade Vem nos trazendo canseira Mas a quarta bienal Vai superar a terceira

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Nem sempre o governo tem Vontade de apoiar Pois faltam políticas públicas Para as artes fomentar E fica pior ainda Se o governo é militar

A terceira bienal Já acordou perguntando: - É tudo nordeste? Pois Ainda estamos lembrando O julgamento nefasto Que foram nos aplicando

A escola de belas artes Exibe com galhardia Três casinhas de sopapo Em volta da galeria Posso dizer que essas coisas Só se encontram na Bahia

A esteio foi criada Para somar no estado Mesmo numa casa humilde Em um lugar atrasado O mundo procura Maxim Para dizer obrigado

Não canso de agradecer Nem de parabenizar A escola de belas artes E a comissão exemplar O MAM e todos os órgãos Que conseguiram ajudar

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Confiscaram nossas obras Imacularam o artista Sem nada justificar Chamaram de comunista Interpretação de arte É só um ponto de vista

Foi lançada em Sítio Novo Essa ideia majestosa Casa simples, lugar pobre Mas de gente valiosa Ali nasceu a Esteio Galeria primorosa

A esteio tem propósito E surgiu no interior Se instalar no grande centro Exibir o seu valor Dar um banho de cultura Das praças de Salvador

Dedico a todos com zelo Uma dose de carinho Que bom que temos vocês Firmes no nosso caminho E juntos dizermos ao mundo Ninguém faz nada sozinho.

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Obra é uma gota de essência Da mente do criador O insensível não pode Ter noção do seu valor Analisar a dinâmica O conteúdo e a cor

Na Esteio galeria Já aconteceu de tudo Obra de artes diversas Com fantástico conteúdo Mostra de fotografias É um local para estudo

E a terceira bienal Dá a oportunidade Da arte do interior Ser mostrada na cidade Onde muitos têm a chance De mostrar capacidade

Que este cordel circule De mão em mão como carta E que não haja empecilho Entre a terceira e a quarta E o coração dos artistas Com desgosto ninguém parta

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A frustração da Bahia Durou quarenta e seis anos A terceira bienal Vem sepultar desenganos E pôr sorriso no rosto Dos bons artistas baianos

Valiosos palestrantes Mostraram seus pensamentos Marcaram novas etapas Deram novos segmentos A Esteio continua Proporcionando eventos

Ali vai ter o cordel O cantador de repente O contador de histórias Declamador consciente Os artistas populares Que descontraem ambiente

Não imagino a Bahia Sem museu sem catedral Sem praia sem o Bomfim Elevador carnaval Sem o Mercado Modelo E sem a nossa Bienal

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Com a primeira bienal Houve um aquecimento Os artistas motivados Pensaram noutro momento E o governo armou o laço Contra o segundo evento

A terceira bienal Chegou com fôlego e vigor Tem um pé na capital Outro no interior Abraça todas as classes Do artesão ao doutor

No início da Esteio Foi grande a dificuldade Vendia mingau na porta A fim da comunidade Parar para conversar Sobre aquela novidade

Que nunca mais aconteça Governo de general Pra que as artes não sofram A retaliação brutal E ninguém coloque algemas Nos braços da bienal

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Os artistas conseguiram Projeção nacional As artes fortalecidas Começaram a dar sinal Que seria bem maior A segunda bienal

Ela fugiu da escola Lhe encontraram no mato Conhecendo baraúna Pau-de-colher, pau-de-rato Riacho, rio e lagoa Calumbí, unha-de-gato

O grande Maxim Malhado Gestou, pariu e criou Essa galeria Esteio E como Esteio ficou Marco de sustentação Que o tempo não derrubou

Os criadores das artes Querem asas pra voar Áreas nobres pra vender Nobre espaço pra criar Políticas públicas que honrem A arte, o povo e o lugar

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O ano sessenta e oito Ficou marcado na história A segunda bienal Lutou mas não teve glória Foi abortada sem chance De seguir a trajetória

Artesanato de couro Palha, cipó e sisal Pedra-sabão e madeira Toda arte artesanal Vai ser beneficiada Na terceira bienal

A entrada da Esteio Na terceira bienal Se tornou um marco histórico Com dimensão nacional Abre um capítulo na história Pra lhe tornar imortal

O estado tem de tudo A Esteio nada tem Surgiu para fazer algo E fazendo muito vem Se o estado quisesse Faria muito também

3 No Brasil depois do golpe O teatro padeceu A música entrou num buraco Artes plásticas se escondeu Cinema ficou de luto Literatura morreu 4 Jornalismo foi pra mata Comunicar com a ramagem Publicar para os macacos Escrever para a folhagem Pois na cidade não tinha Espaço pra reportagem 5 No ano sessenta e seis Um grupo artístico decente Pensou numa mostra artística A ideia foi à frente E a primeira bienal Foi um sucesso excelente

L I N H A

D O

* Bule-Bule é um músico, repentista, escritor e poeta brasileiro. O projeto Esperei quarenta e seis anos pela Bienal integrou a programação da Galeria Esteio, do artista Maxim Malhado.

T E M P O

Exibição do filme Congo River (Thierry Michel) no Cineclube Museu do Objeto Imaginário, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

A ação acontece no bar Toalha da Saudade – casa de Batatinha. A reabertura acontece no mês em que a Galeria completa 51 anos.

O primeiro círculo do projeto Iluminai os Terreiros, de Nuno Ramos, é montado no Parque Ecológico Municipal do Vale Encantado, em Salvador. Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Leonardo Pastor

Encerramento do segundo e terceiro módulos dos Cursos Livres UFBA/MAM-BA. Grupo de Pesquisa em Gravura em Metal com Evandro Sybine. A Oficina de Desenho ministrada por Olga Gómez fez sua primeira itinerância no Acervo da Laje, em Plataforma.


10 de agosto de 2014

74º

Foto Isbela Trigo

Como parte do projeto Feira de Arte Livre, o artista Maxim Malhado realiza a Feira do Rolo, na Feira de São Joaquim. A ação consiste na promoção de trocas de objetos materiais e imateriais entre os artistas do projeto e o público em geral.

MODELO ESPONTÂNEO

Foto Alfredo Mascarenhas

LARA CARVALHO* Coordenadora do núcleo Audiovisual da 3ª Bienal da Bahia

29 de maio de 2014, 16h17. A quase uma hora do toque dos 33 alagbês que marcariam o primeiro de cem dias da 3ª Bienal da Bahia, a equipe audiovisual estava espalhada pelo Solar do Unhão, cada um com suas atribui(la)ções. Rubão, com o cabelo cacheado preso em um rabo-de-cavalo, passeava pelo museu com sua Panasonic AG-HVX200AP, gravando em vídeo os últimos preparativos para a abertura da exposição itinerante No Litoral é Assim, o aquecimento dos participantes da performance Genesis e Genes e a passagem de som da percussão com Inaicyra Falcão, a filha de Mestre Didi. Gravados os vídeos, voltava para a nossa base para descarregar as imagens e editar a penúltima pílula do dia. Passando correndo por ele, Alfredo estava munido da sua câmera, registrando todos os momentos de preparação pelas equipes da Bienal. Entre um clique e outro, sempre esboçava um sorriso malandro, como quem agradecia por estar do outro lado da lente. Gillian acompanhava pacientemente a montagem de No Litoral é Assim, possivelmente mordiscando o lábio inferior enquanto analisava seu próximo ângulo para fotografar a equipe, que estava espalhada pelo Casarão do MAM-BA. Lá, Isbela estava esparramada no chão, retocando as legendas escritas com giz ao pé de cada obra. Volta e meia levantava a cabeça, assoprava o pó acumulado e logo voltava ao trabalho. Foi nesse momento que entrei correndo na base da equipe Editorial, carinhosamente apelidada de “Barracão”, com duas listas de obras e uma caixa de giz na mão. Expliquei, ofegantemente, que precisávamos de pessoas para ajudar a fortalecer as legendas e limpar o chão do Casarão. Bichara, nossa produtora audiovisual

e profissional do grito, se voluntariou para ajudar e foi correndo para o Casarão com Hanna, produtora editorial, a tiracolo. É engraçado lembrar de todos esses detalhes, ainda na abertura da Bienal, que agora parece um dia longínquo, mas essa ilustração revela muito do funcionamento interno da equipe audiovisual ao longo dos 102 dias da Bienal. Incansáveis, os membros da equipe registravam, além de toda a programação da Bienal, os bastidores dela. Nossa rotina diária compartilhada consistia em abrirmos nossos e-mails antes de sairmos da cama para checar a programação de coberturas do dia – colado na parede do bunker da Diretoria Executiva estava a lógica por trás dessa obsessão: “Bienal news – em 15 minutos, tudo pode mudar”. Incessantemente, nossa equipe desafiava as leis da física e se dividia em três ou até quatro lugares ao mesmo tempo. Apesar do cansaço que abatia cada um, era a realização em ver o trabalho pronto e compreender o tamanho do projeto que fazíamos parte que nos dava forças para o dia seguinte. “Vai dar tudo certo”, dizíamos todos os dias. E deu. Saímos do Solar do Unhão para Cachoeira, Itaparica, Feira de Santana, Heliópolis, Vitória da Conquista, Juazeiro e Alagoinhas. Atravessávamos a cidade às vezes três ou quatro vezes por dia. Aberturas de exposições, museus reais e imaginários, galerias, cortejos, ações educativas, performances, cursos livres ou não, encontros – e às vezes desencontros –, entrevistas, terreiros, teatros, igrejas, escolas e até samba de roda. Estávamos sempre lá, com uma câmera na mão e algumas ideias na cabeça.

Inauguração da instalação Declaration of Intent,de Lawrence Weiner, na Galeria 1 do MAM-BA.

Exibição do filme Os cowboys são negros (Serge-Henri Moati) no Cineclube Manga Rosa, em Mar Grande /Vera Cruz, pelo Cinema Yemanjá. Foto Ana Clara Araújo

Seria um eufemismo falar que muita coisa aconteceu de 29 de maio para cá. Quando se coloca em números, foram produzidos mais de 130 vídeos, mais de 20 mil fotos e quase 700 minutos de vídeos editados (eram 694 minutos e 54 segundos até o dia 31 de outubro). A um mês da abertura da Bienal, reformulamos o nosso planejamento audiovisual por completo, a fim de contemplar a melhor tradução do projeto da 3ª Bienal da Bahia em produções audiovisuais que não fossem desconexas das atividades de pesquisa, pré-produção e ações programadas em torno do tema É tudo Nordeste?. Adotamos um modelo mais espontâneo de produção audiovisual, através do qual fazíamos uso dos registros feitos pela equipe para produzir pílulas curtas veiculadas em plataformas online. O primeiro registro oficial da Bienal, da abertura no dia 29 de maio, Prelúdio nº 1, foi postado no dia seguinte e teve mais de 40 mil visualizações em menos de 24 horas. Posso falar com convicção que todos nós da Bienal aprendemos muito no antes, durante e depois. Nós, da equipe audiovisual, aprendemos que DVDs podem ser obras de arte, além de objetos de prestação de contas; exercemos nossa criatividade ao dar nomes a HDs e cartões de memória; assistimos a todas as obras em vídeo da Bienal em primeira mão; comemoramos o envio de registros pessoais; tivemos várias DRs com o WeTransfer e o Flickr e aprendemos a aproveitar os momentos de renderização dos vídeos para ir ao banheiro. Aprendemos, mais do que tudo isso, a importância de não só termos, mas fazermos parte da continuação de um projeto tão forte quanto o da Bienal da Bahia.

Acontece a primeira edição do Retrato no Pátio, encabeçada pelo fotógrafo Rafael Martins, que convidou o público a ser fotografado no Pátio Unhão do MAM-BA, no pôr do sol. Foto Rafael Martins

Leandro Estevam é o artista/aluno das Oficinas do MAM-BA cujos trabalhos serviram de base para a mediação no projeto Mesas.


75º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 11 de agosto de 2014 JORNAL

OS TONS DA TERRA

Foto Ana Clara Araújo

“Optei por fazer um caderno com sugestões e desenhos com a mente livre. Foi um processo artesanal e gostei do resultado final, da síntese. Para mim é um privilégio” Juraci Dórea

Criada pelo artista baiano Juraci Dórea, que tem como fonte de inspiração frequente o sertão nordestino e a cultura popular e de cordel, a identidade visual da 3ª Bienal da Bahia é uma representação sinestésica do Nordeste. “Meu processo de trabalho é o fazer. O ponto de partida foi achar a imagem que reunisse o imaginário do Nordeste. Fui trabalhando sem me preocupar e, a partir daí, surgiram várias versões”, explica Dórea. O convite para criar a identidade visual da Bienal da Bahia foi para Dórea uma surpresa: “Agora é um momento significativo para a Bahia e para o Nordeste, principalmente com as características abertas e processuais que esta Bienal está sendo pensada. É um grande momento para as artes”. Para a designer e diretora de Arte da 3ª Bienal, Dinha Ferrero, que deu continuidade à aplicação da identidade visual criada por Juraci, a escolha foi embasada em imagens que imprimissem um contradiscurso ao repertório visual das Bienais já existentes no Brasil. A ideia foi buscar um conceito no qual os baianos pudessem se reconhecer, fugindo dos clichês culturais e visuais da Bahia. “O trabalho de Juraci é maravilhoso e importantíssimo para entender a Bahia. O estudo que ele fez não apenas da marca, mas de toda a identidade visual, explica um pouco isso. Temos o caderno do processo criativo dele, todo desenhado à mão, desde o primeiro risco, que será exibido ao público”, diz a designer. Páginas do caderno de estudos do artista Juraci Dórea para a construção da identidade visual da Bienal

L I N H A

D O

T E M P O

Nova edição do Conversando com a sua história, com o tema A arquitetura da organização arquivística: práticas e procedimentos traz representantes do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, da Fundação Gregório de Matos e da Associação Baiana de Imprensa, com mediação de Fátima Fróes. Foto Leonardo Pastor

O segundo círculo do projeto Iluminai os Terreiros, de Nuno Ramos, é montado na antiga Fábrica de Cimento Aratu, em Paripe, Salvador. Dentro do monumental edifício em ruínas, nove postes foram acesos do anoitecer ao amanhecer. Foto Marcelo Rezende


12 de agosto de 2014

ESPECULAÇÃO MOBILIÁRIA

76º

CARLA ZOLLINGER*

Simulação da disposição do mobiliário no casarão do MAM-BA | Carla Zollinger

A vitrine-cavalete possui apenas dois materiais, a madeira e o vidro. Nos outros elementos do mobiliário concebido para a 3ª Bienal da Bahia – a estante para livros e revistas, assim como as demais peças executadas – reduziu-se os materiais utilizados a apenas um, a madeira. Tal exigüidade foi proposital. As vitrines e estantes foram concebidas para serem produzidas na marcenaria do MAM-BA, ou em outras marcenarias da Bahia, utilizando processos de fabricação correntes e que formam parte das práticas arraigadas e cotidianas da Bahia. As peças são o que são: a vitrine é uma espécie de tabuleiro ou mesa e as estantes são como os cavaletes de revistas, típicos do comércio de rua de livros usados. A concepção do mobiliário partiu – como fez Lina Bo Bardi ao fabricar os cavaletes para expor as obras do Museu de Arte Moderna da Bahia – da compilação dos materiais

disponíveis nas oficinas do MAM-BA. Havia sobretudo sarrafos e restos de madeira compensada. Os protótipos foram feitos com essas sobras, mas sobreveio a necessidade de produzir mais peças que imaginadas em princípio, pois a vitrine mostrou-se útil para a exposição de grande parte das obras da Bienal. A vitrine-cavalete foi utilizada para a mostra de uma variedade de obras, desde desenhos de Juarez Paraíso a cartazes e escritos originais de Lina Bo Bardi, assim como folhetos, livros, tickets, cartas, fotografias etc. Como diria Lina, não somente documentos de arte, mas também objetos cotidianos1, que fazem da exposição e da expografia uma experiência didática. As peças do mobiliário são apropriadas para uma escala de produção maior, porém mantendo-se na esfera da manufatura, de um processo quase artesanal, apto para a fabricação nas pequenas e médias marcenarias da Bahia.

A concepção partiu da necessidade de valorizar a mão-de-obra, o ofício de trabalhar a madeira. O desdobramento do trabalho foi dinâmico ao envolver diferentes profissionais: de arquitetura, marcenaria, montagem, curadores e assistentes, em um processo de experimentação. Além disso, pensamos no início que a equipe do museu e artistas pudessem interferir e colaborar no processo de execução, o que acabou não ocorrendo.

(1) BO BARDI, Lina. Exposição didática da Escola de Teatro, Diário de Notícias, Salvador, 21 set. 1958. Crônicas de arte, de história, de costume, de cultura da vida, n. 3.

* A arquiteta Carla Zollinger foi convidada para conceber o mobiliário da 3ª Bienal da Bahia, com o desafio de relacionar a expografia aos suportes e expositores concebidos por Lina Bo Bardi, a partir da experiência na Bahia.

A vitrine-cavalete é uma mesa solta no espaço para colocar as obras – e às vezes permitir que essas sejam tocadas, nos casos em que o vidro puder ser dispensado. Como ela, as outras peças concebidas para suporte das obras são como cavaletes, para que o quadro, ou desenho, ou a obra, qualquer que ela seja, se disponha em qualquer lugar sem cerimônias, como roupas em um varal, um tabuleiro de alimentos, uma banca de revista. As estantes e vitrines-cavalete são parte de uma expografia que se desprende das paredes para povoar os espaços interiores, como se fossem exteriores. Algumas peças foram concebidas em concreto e aço, com uma base pensada a partir do aproveitamento de uma manilha, na qual seria fincada uma haste, para que o conjunto resistisse a qualquer intempérie. Apesar de soltas, as peças interagem com o lugar primeiramente pelo chão. Portanto, a base dos cavaletes exerce um papel fundamental. Ela possui o sentido de uma raiz, ou uma pedra, que se relaciona e se finca no lugar. Foto Leonardo Pastor

Foto Leonardo Pastor

A Galeria Esteio sedia o encontro Vizinho, Parede-e-Meia e Dejunto. A pesquisadora portuguesa Maria Ferreira convida o público a pensar sobre as relações de vizinhança.

Gina Leite ensinou os participantes da Oficina Cadastro ImaGina Saias Guarda-Chuva a fazer saias a partir de guarda-chuvas quebrados.

Encerramento do projeto Feira de Arte Livre.

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Leonardo Pastor

Exibição do filme Boi Aruá (Chico Liberato) no Cineclube Cidade de Plástico, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Grupo de Pesquisa em Litografia com Renato Fonseca.


77º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 13 de agosto de 2014 JORNAL

Foto Alfredo Mascarenhas

MUITO ALÉM DA RAÇA AYRSON HERÁCLITO

Um conjunto de obras reunidas num espaço histórico de uma cidade emblemática – Cachoeira da Bahia. Aberta ao público no dia do início de uma das maiores festas brasileiras – Festa da Irmandade da Boa Morte – incluída no roteiro oficial do turismo étnico internacional e reconhecida como um dos rituais religiosos afro-brasileiros de maior longevidade. Neste contexto, propomos um titulo provocador: Departamento do Pós-Racialismo do Museu Imaginário do Nordeste, seção Áfricas. É importante pensar as relações de poder para além do racial, sem ocultar a violência cotidiana decorrente do fenômeno da escravidão de povos africanos, que ainda macula a historia moral da humanidade.

Curador-chefe da 3ª Bienal da Bahia

Tal mostra propõe a revisão de uma parte do acervo da conhecida “arte afro-brasileira” com o intuito de conjecturar a possibilidade de uma humanidade livre da ideia de raça, e na plenitude dos direitos civis igualitários. Grande parte dos artistas pertencentes à mostra são negros, baianos, nordestinos e africanos, ou fazem parte de uma comunidade de sentidos que os reconhece como tal. A opção por este recorte afirma uma postura política frente às ideologias hegemônicas sobre a arte brasileira.

Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Pós-Racialismo Seção: Áfricas Espaço Cultural Hansen Bahia PERÍODO 13/08 a 06/09

VISITANTES 2.469

O Espaço Cultural, ao lado da Casa e da Galeria, é um dos espaços da Fundação criada em 1976 para cuidar do legado e das obras de Hansen Bahia. O acervo da instituição, além de objetos pessoais e mobiliário, tem 12 mil peças de Hansen Bahia, mil de Ilse Hansen, além de muitas assinadas por outros artistas, as quais faziam parte do acervo pessoal do artista alemão.

L I N H A

D O

CACHOEIRA FUNDAÇÃO: 1531 POPULAÇÃO: 34.244 CLIMA: tropical úmido a seco subúmido

Pensar a produção artística que tem como referência a rota do “Atlântico Negro” na 3ª Bienal da Bahia, é reconhecer os espaços, as linguagens, os saberes, as cosmogonias, e toda a sua relevante contribuição para a constituição das diversas culturas brasileiras. O grande salão abriga a monumental obra Códices, do artista J. Cunha, pintura mural seminal para a arte brasileira, fruto de toda uma existência ligada à arte e ao axé. O artista oferece, contri-

T E M P O Caminhada guiada no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. Dona Célia Silva, responsável pelo Museu Ilé Ohun Lailai, apresenta as plantas do terreiro contando sua história e importância medicinal e religiosa.

Foto Alfredo Mascarenhas

Grupo de Pesquisa em Cerâmica - Miniatura de Arte Popular com Marlice Almeida.

Foto Rafael Martins

Oficina de Jardinagem com Cláudio Pinheiro.

Foto Rafael Martins


14 de agosto de 2014

78º

Alex Oliveira, da série Revelador H202, fotografia, 2013 | Foto Alfredo Mascarenhas

bui, faz uma doação, uma espécie de grandiosa oferenda, absolutamente generosa para o universo. Faz tornar produtivo muitos dos segredos resguardados por diversos motivos nos jogos e dissimulações oriundos das dinâmicas que marcaram o nosso holocausto da escravidão. A matéria pictórica de tal obra é composta da mais bela e pura energia positiva e revolucionária e abre alas às outras peças da exposição, em destaque: a sereia Iemanjá de Louco (Boaventura da Silva Filho); as construções sígnicas de Rubem Valentim; as máscaras e tótens do escultor de Vitória da Conquista, radicado em Salvador, Zu Campos; as hieráticas esculturas de um dos grandes mestres da arte brasileira Agnaldo dos Santos, mestiço de índio com negro da ilha de Itaparica que aprendeu com os mestres Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany e com o escultor Mario Cravo Júnior, de quem foi também vigia em seu estúdio em Salvador; e das esculturas do artista-sacerdote Mestre Didi, filho de Mãe Senhora e neto de Mãe Aninha. Suas esculturas são verdadeiros orikis visuais, emanando um forte sentimento purificador e curativo. O que podemos perceber é que todos esses criadores são geralmente tratados como artistas ainda vinculados a uma tradição cultural específica, tradição no sentido estático pejorativo, ainda vista como regional e consequentemente “popular e primitiva”. De sorte que os rumos, os olhares sobre a arte brasileira, internacional e nacionalmente, estão revendo conceitos que reduzem as complexidades desta produção. O conjunto articula para as outras obras em seu entorno questões raciais e suas reverberações na memória social.

contemporâneos em relação ao tema. Suas fotografias tensionam as possibilidades de uma identidade transitória além do determinante racial. Muitos outros artistas, participantes da exposição, resignificam, ou melhor, traduzem de forma fluida as ideias de pertencimento e as complexas teias em torno do imaginário da negritude e da mestiçagem, propondo abordagens dinâmicas.

“O sociólogo que estuda o Brasil não sabe mais que sistema de conceitos utilizar. Todas as noções que aprendeu nos países europeus e norte-americanos não valem aqui. O antigo mistura-se com o novo. As épocas históricas emaranham-se umas nas outras (...). Seria necessário, em lugar de conceitos rígidos, descobrir noções de certo modo líquidas, capazes de descrever fenômenos de fusão, de interpenetração; noções que se modelariam conforme uma realidade viva, em perpétua transformação”. Roger Bastide, trecho de Brasil, terra de contrastes, 1957

A obra de Alex Oliveira, um jovem fotógrafo e performer baiano, nascido em Jequié, é um bom exemplo para analisarmos sentidos

Exibição do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, no Casarão do MAM-BA, como parte da exposição do artista Rogério Duarte. Foto Reprodução

O público participa mais uma vez da Oficina de Pintura com o Professor Rener Rama. Foto Rafael Martins

Participantes do Grupo de Pesquisa em Litografia se reúnem com o professor Renato Fonseca. Foto Rafael Martins


79º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 15 de agosto de 2014 JORNAL

Museu Imaginário do Nordeste Departamento Arquivo e Ficção Seção: Psicologia do Testemunho Biblioteca dos Pública do Estado da Bahia (Biblioteca dos Barris) PERÍODO 28/07 a 06/09

VISITANTES 597

A primeira biblioteca do Brasil e da América do Sul foi fundada em 1811. Possui um acervo de 120 mil livros, 600 mil jornais, incluindo as seções de obras raras e valiosas, braille, audiovisual e mapoteca.

Performance de Isaura Tupiniquim na Bienal Inverso | Foto Lara Carvalho

CULTO AO ESPAÇO Um equipamento cultural que atravessa a história humana e justifica-se por abrigar conteúdos registrados nos mais variados formatos voltados para satisfazer a angústia da dúvida pelo conhecimento: eis a biblioteca que Jorge Luis Borges chamou de universo e que sobrevive por se reinventar permanecendo a mesma.

Projeto Códices, da série Oculto | Foto Alfredo Mascarenhas

“O culto religioso e o culto literário. Cultura. E nos fragmentos dos sons, na construção das falas, nada se revela. Poesia é ritmo. É mistério também. Uma parede-estante que revela partes e mantém o todo (a essência) oculto”. Trecho do projeto Códices, da série Oculto, de Omar Salomão e Daniel Castanheira

Ediane do Monte traz para a Esteio a mostra Pratos Para Serem Lidos. A artista apresenta técnicas de cerâmica em forma de pratos. Normalmente utilizados para comer, os pratos recebem frases em seu interior e são expressões linguísticas adquirindo uma “desutilidade”.

D O

Foi assim quando o Coronel Pedro Gomes Ferrão Castello Branco idealizou e criou a primeira biblioteca pública do país, em 1811, a partir de ideais que entendiam a importância do acesso ao livro como fator essencial para a geração de conhecimento, sendo palco para a reunião da comunidade intelectual da época e, consequentemente, a circulação de ideais. Sua metamorfose social transpôs os séculos e foram várias as casas que abrigaram essa biblioteca; seja por motivo de desastres ou para seguir diretrizes de ampliação e melhoria de atendimento ao público, como é o caso da sede atual localizada no bairro dos Barris desde 1970. Todavia, as mudanças físicas da BPEB não comprometeram sua missão de disseminadora cultural e promotora do livro e da leitura.

Foto Lara Carvalho

L I N H A

A Biblioteca Pública do Estado da Bahia (BPEB) é uma dessas bibliotecas que se revigora constantemente e, a cada mudança, torna-se mais forte e singular.

Um especial momento de conjugação entre o estímulo cultural e o estímulo pelo prazer de ler foi marcado pela criação da Galeria de Arte nos seus corredores, na década de 1960, época caracterizada pelo forte desenvolvimento de projetos culturais e ideológicos, e de manifestações socioculturais em todo o mundo, que na Bahia contou com a participação e apoio de vários artistas e intelectuais. Seu espaço atual, no bairro dos Barris, entregue ao público em 1970, no Dia Nacional da Cultura - 5 de novembro, afirma seu propósito de protagonizar-se como um centro cultural que dispõe de ambientes múltiplos para aproximar cada vez mais as pessoas, sem distinção social, econômica e cultural.

IVANA LINS*

Emerge desse período uma biblioteca orientada para o desenvolvimento de ações culturais, indo além da preservação de livros e prestação de serviços de informação. Começa-se a pensar numa biblioteca com experiências que sobrepõem àquelas descritas em papel, uma biblioteca de experiências vivas de luta pela liberdade de expressão, de desenvolvimento humano e de manifestações culturais. Esta nova postura trouxe grande visibilidade, não só da própria BPEB, mas da biblioteca pública como instituição de apoio ao desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais. Em 1998, quando seu prédio foi reinaugurado, sediou a Reunião Regional Manifesto da UNESCO sobre Bibliotecas Públicas, promovida pela Federação Internacional de Instituições Bibliotecárias (IFLA), que define as missões-chaves dessas bibliotecas, constando que devem “[...] possibilitar o acesso a todas as formas de expressão cultural das artes do espetáculo [...]” e “[...] fomentar o diálogo inter-cultural e a diversidade cultural[...]”. A jornada da Biblioteca Pública do Estado da Bahia em prol da cultura foi reacendida mais uma vez com a 3ª Bienal da Bahia, quando foi protagonista da Bienal Inverso e, nesse cenário de livros, estantes, escadas, luzes, silêncios e palavras, estava a Biblioteca Pública do Estado da Bahia propondo e proporcionando aos visitantes e frequentadores o acesso aos acervos quase proibidos numa visita guiada feita à noite, quando fantasmas saídos do imaginário percorrem corredores. Na Bienal Inverso as palavras explodiram pelas mãos dos artistas dentro do barril das leituras. O salão destinado às pesquisas teve uma exposição do vazio e sons da natureza saindo dos livros no trabalho de Omar Salomão e Daniel Castanheira. A experiência vivenciada por todos que aqui trabalham trouxe relatos curiosos sobre o que é ser e estar neste espaço todos os dias por anos e anos, mas sobretudo, também provocou uma alegria em todos os envolvidos. * Diretora da Biblioteca Pública do Estado da Bahia

T E M P O

Exibição do filme Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now (Ninho Moraes e Francisco César Filho) no Cineclube Oficina das Artes em Itaparica, pelo Cinema Yemanjá. O Cine Mais Saber em Cairu exibe o filme Nisida, Crescer na Prisão (Laura Rastrelli). Público de Caravelas/Teixeira de Freitas assiste ao filme Fary, a Jumenta (Mansour Sora Wade).

A ação Retrato no Pátio, encabeçada pelo fotógrafo Rafael Martins, teve uma edição especialmente direcionada para a equipe da Bienal da Bahia. Oficina de Cerâmica – Miniatura de Arte Popular com Marlice Almeida. A exposição itinerante No Litoral é Assim segue para o município de Juazeiro e permanece no Centro de Cultura João Gilberto até o dia 24 de agosto. Terceiro encontro da atividade Processo Compartilhado, coordenada pela coreógrafa Lia Robatto.


16 de agosto de 2014

PROJETO ATELIÊ

80º

COORDENAÇÃO MUSEOLÓGICA DA 3ª BIENAL DA BAHIA

O artista Juarez Paraíso no processo de restauro de suas obras | Foto Alfredo Mascarenhas

O Projeto Ateliê, que compõe uma das ações desenvolvidas pela Diretoria Museológica, mostra a necessidade da interação entre a produção artística moderna e contemporânea com os métodos de pesquisa, documentação e conservação museológicos. Trata-se de uma ação em parceria com os artistas, que cedem seu acervo e sua área de trabalho (às vezes sua moradia), suas concepções artísticas e, obedecendo à sua lógica de produção, visões de como esse acervo deve ser documentado e reorganizado tecnicamente. As ações do Projeto Ateliê estão voltadas para a preservação, a investigação e a comunicação dos bens culturais/artísticos. Preservar o objeto e a possibilidade de informação que ele contém – e que o qualifica como documento – tem na conservação e na documentação as bases para sua transformação em fonte de pesquisa científica e de comunicação. Dessa forma, temos o Projeto Ateliê desenvolvido a partir do trabalho de artistas contemporâneos e pautado nas diretrizes de documentação museológica. A documentação de acervos museológicos é procedimento essencial dentro de um museu, representando o conjunto de informações sobre os objetos por meio da palavra (documentação textual) e da imagem (documentação iconográfica). Trata-se, ao mesmo tempo, de um sistema de recuperação de informação capaz de transformar os acervos em fontes de pesquisa científica e/ou em agentes de transmissão de conhecimento, o que exige a aplicação de conceitos e técnicas próprios, além de algumas convenções, visando à padronização de conteúdos e linguagens. Deste modo, formular um inventário museológico, procedimento altamente técnico, é de grande importância para a realização de pesquisas; o inventário é a primeira fonte de informação do objeto ao qual o pesquisador de cultura material musealizada deve recorrer. A equipe teve de aplicar métodos de documentação museológica, utilizada para catalogação e conservação de acervos já musealizados, e, consequentemente, institucionalizados, para organizar acervos de artistas contemporâneos. São artistas com variadas técnicas produtivas e que continuam em atividade criativa, por isso houve a necessidade de readequação de alguns itens constantes no inventário de modo a atender às necessidades de cada ateliê e acervo trabalhado. As atividades foram acompanhadas pelos artistas participantes da ação, assim foi possível discutir e elaborar estratégias de ação funcionais e que fossem continuadas pelo artista posteriormente.

O projeto compreendeu visitas técnicas, catalogação digitalizada do acervo (execução de inventário/ arrolamento das obras), higienização do acervo e proposta de organização do mesmo. As ações foram iniciadas como visitas técnicas para que artista e técnicos da museologia interagissem a fim de conhecer e pensar sobre a forma de organização e registro documental das obras. Em seguida, as obras foram fotografadas, medidas, analisadas criteriosamente (observando o estado de conservação) e higienizadas1. Estas informações constarão no inventário digitalizado. As obras são organizadas espacialmente por técnica, tipologia e suporte (emolduradas ou não). O processo de construção do modelo de inventário seguiu o já utilizado pela equipe museológica do Museu de Arte Moderna da Bahia; alguns itens foram retirados – devido à necessidade de realizar um inventário em curto espaço de tempo e de fácil acesso e entendimento a um público não técnico – e outros acrescentados, obedecendo as peculiaridades do acervo. As fotografias foram inseridas na planilha para facilitar a identificação visual das obras2. Para além dos inventários, foram produzidos relatórios, com o objetivo de registrar as atividades desenvolvidas nas ações, onde constam informações sobre a catalogação, processo de higienização e embalagem, e transporte de obras que participaram das exposições da Bienal. Neste constam, além do período abrangido da ação, informações sobre os técnicos envolvidos, metodologia empregada e relato das ações. Dessa forma, é possível observar que o Projeto Ateliê é uma ação que conta com o suporte técnico da equipe museológica em parceria com os artistas envolvidos a fim de tornar o acervo produzido – e ainda em produção – organizado e acessível a uma variedade de públicos que desejem conhecer e pesquisar sobre as ricas produções de arte contemporânea presentes na 3ª Bienal da Bahia.

(1) Processo de higienização mecânica com trinchas. (2) As fotografias ficam aninhadas no arquivo e são visualizadas quando se passa o cursor pela etiqueta vermelha presente nas células.

Sessão com o filme Uma Longa Viagem (Lúcia Murat) no cineclube Tela em Transe, em Poções, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

A Oficina de Desenho teve sua segunda itinerância, dessa vez no Museu Náutico, no Farol da Barra.

O professor Evandro Sybine realiza mais um encontro do Grupo de Pesquisa em Gravura em Metal. Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins


81º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 17 de agosto de 2014 JORNAL

RELATÓRIO DE ATIVIDADES | PROJETO ATELIÊ ETAPA Dicinho

PERÍODO Maio a Julho / 2014

TÉCNICOS ENVOLVIDOS - Rogério Sousa - Daisy Santos - Priscila Leal METODOLOGIA EMPREGADA -

Visita técnica ao espaço físico Seleção das obras integrantes da 3ª Bienal da Bahia Levantamento do acervo Organização do acervo e espaço

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE A ação foi iniciada com uma visita conjunta da museologia, equipe curatorial e produção para a seleção das obras que participariam da exposição do artista durante a Bienal. As obras foram selecionadas por artista e curador, em conjunto, e medidas e fotografadas pela equipe museológica presente. Na ocasião, foram coletados recortes de jornais e revistas relacionados à carreira do artista e sua produção. O material seria utilizado na montagem expográfica. Houve também o interesse por parte da equipe curatorial que os instrumentos criados e utilizados pelo artista para confecção do seu trabalho fossem também catalogados pela equipe museológica. Na segunda visita, realizada apenas pela equipe museológica, foram fotografadas e medidas as obras que não foram selecionadas para a exposição e que comporiam o inventário das obras do artista. Nessa ocasião, o artista solicitou a inclusão, por parte da curadoria, de uma das obras não relacionadas para a exposição, Tropicália, pois a mesma, além de possuir um título emblemático com relação à produção do artista, compunha a sua produção abstrata, considerada pelo mesmo deveras importante. Todo o conjunto de obras presente no ateliê do artista foi elencado em um inventário contendo as seguintes informações: número de ordem; fotografia; título; identificação; autoria; época/ano; dimensões; materiais; técnica; campo reservado a observações. Os mesmos foram preenchidos, perfazendo um total de trinta e sete (37) obras. Na terceira visita, a equipe museológica, acompanhada pela produção, coletou as obras que participariam da exposição realizada no Museu Carlos Costa Pinto. As obras foram embaladas da maneira mais adequada possível, com materiais fornecidos pela produção (plástico bolha, fita e TNT) e mantas protetoras fornecidas pelo artista. Na ocasião, foram coletados também os instrumentos de trabalho do artista para compor a exposição. As obras foram transportadas por um caminhão baú e seguiram para o Museu Carlos Costa Pinto, onde a equipe museológica atuou desembalando as obras e checando se houve alguma abrasão ou outro tipo de dano às mesmas durante o trajeto. Não foi verificado nenhum dano às mesmas. A montagem também foi acompanhada pela equipe museológica.

RELATÓRIO DE ATIVIDADES | PROJETO ATELIÊ ETAPA Rogério Duarte

PERÍODO Maio a Julho / 2014

TÉCNICOS ENVOLVIDOS - Michele Pontes - Priscila Leal - Rogério Sousa

METODOLOGIA EMPREGADA - Etiennette Bosetto - Priscila Povoas - Daisy Santos

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Visita técnica ao espaço físico Seleção das obras integrantes da 3ª Bienal da Bahia Ficha técnica das obras integrantes da 3ª Bienal da Bahia Levantamento do acervo Organização do acervo e espaço

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE A ação foi iniciada a partir de uma reunião com a equipe curatorial, a equipe de produção, o artista Rogério Duarte e seu filho (que está atuando como seu produtor durante a Bienal), Diogo Duarte. Nesta reunião foi determinado que a equipe museológica fizesse o levantamento do acervo físico contido no ateliê e o dividisse por categorias, determinadas pelo próprio artista, como: xadrez, religião, projeto musicor etc. Na segunda reunião, que contou com a presença da equipe de produção, além de reforçar as estratégias de ação e apresentar outros integrantes da equipe museológica, registrou-se as medidas das paredes do ateliê visando à necessidade de acomodar melhor o acervo bibliográfico em prateleiras (sugestão da produção para o artista). Em um terceiro encontro, foi determinado o início das atividades de levantamento do acervo presente no ateliê (feito de acordo com as categorias estabelecidas citadas acima). O processo foi realizado por parte da equipe e durou uma semana (19 a 23/05). As visitas foram interrompidas devido às outras demandas de atividades da equipe museológica (proximidade da data de abertura da Bienal, acompanhamento de montagem de exposições e coleta de obras). Posteriormente, o artista e seu produtor viajaram, interrompendo o processo de levantamento do acervo (pois tanto o artista como seu produtor auxiliavam a equipe na triagem dos documentos/acervo). Na etapa seguinte, após a pausa por motivos acima especificados, as atividades foram retomadas (10/07) com uma reunião prévia entre a equipe de museologia e o produtor Diogo Duarte. Nesta reunião, a equipe museológica acordou com o produtor os trabalhos a serem realizados por esta equipe: término do levantamento do acervo, catalogação do mesmo e limpeza mecânica do material inventariado. Tendo em vista as limitações de recursos e restrições quanto à salvaguarda deste acervo, ficou acordado com o produtor que o trabalho museológico continuaria com foco na catalogação do acervo do artista Rogério Duarte, sendo esta a atividade que esta equipe pode realizar, com pessoal e equipamentos disponíveis, na atual estrutura do Projeto Ateliê. Durante as trinta e duas visitas foram realizadas a catalogação e digitalização dos livros, documentos, cartazes, vinis, rochas e peças de xadrez. Os documentos foram higienizados mecanicamente e acondicionados em caixas arquivos e organizados nas categorias: música, xadrez, logotipos, religião, documentos pessoais e textos manuscritos, segundo a solicitação e orientação do próprio artista. Foi feita a digitalização e o registro fotográfico do material selecionado das pastas anteriormente organizadas. Esse trabalho resultou em uma listagem do material físico e digital.

L I N H A

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T E M P O O Teatro Anatômico da Terra de Camila Sposati é palco do projeto Arqueologia da Bahia 01. Nele, foram lidos trechos de Viva o Povo Brasileiro e O Povo Brasileiro por Juraci Dórea e Pasqualino Magnavita, respectivamente.

Foto Alfredo Mascarenhas

Cine Manga Rosa em Mar Grande/Vera Cruz exibe o filme A Caça ao Leão com Arco (Jean Rouch) pelo Cinema Yemanjá.

Rina Johnson é a artista/aluna das Oficinas cujos trabalhos serviram de base para mediação no projeto Mesas.

Contação de Histórias com Maju Fiso. Oficina de Desenho com Olga Gómez. Pinte na Bienal com Maninho Abreu. Retrato no Pátio com Rafael Martins.


18 de agosto de 2014

Da esquerda para a direita: equipe trabalhando nos ateliês de Dicinho, Rogério Duarte e Juarez Paraíso

82º

| Fotos Equipe Museológica

RELATÓRIO DE ATIVIDADES | PROJETO ATELIÊ ETAPA Juarez Paraíso

PERÍODO Março a Setembro / 2014

TÉCNICOS ENVOLVIDOS -

Daisy Santos Janaina Ilara Priscila Leal Railda Sampaio Rogério Sousa

METODOLOGIA EMPREGADA -

Etiennette Bosetto Michele Pontes Priscila Povoas Renata Cardoso

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Visita técnica ao espaço físico Recolhimento das obras integrantes da 3ª Bienal da Bahia Ficha técnica das obras integrantes da 3ª Bienal da Bahia Levantamento do acervo (primeira parte) Organização do acervo e espaço (primeira parte) Catalogação dos livros por assunto

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE A primeira etapa realizada no ateliê do artista visual Juarez Paraíso consistiu inicialmente na visita técnica, pela diretoria museológica juntamente com o curador da Bienal, Fernando Oliva. Foram observadas as condições do espaço físico e das obras ali presentes. Uma nova visita foi feita com o objetivo de separar as obras participantes da Bienal, chegando a um total de 70 unidades, além de uma listagem com dados básicos (ex. ano, técnica, estado de conservação) das mesmas. Destas 70 obras, 45 foram medidas, listadas, embaladas, levadas e armazenadas na reserva técnica do Museu de Arte Moderna. São elas constituintes de diferentes técnicas como por exemplo, xilogravura, esculturas em cabaça, telas e arte digital. As duas visitas iniciais foram determinantes para prever o número de idas ao ateliê do artista com o intuito de levantar e organizar o espaço e acervo. Neste primeiro período foram feitas quatro visitas, levando em conta a disponibilidade da equipe. O período estipulado foi de 40 visitas até o inicio de setembro, mas é importante salientar que, por conta da demanda de outras atividades da Bienal da Bahia, foi necessária a extensão deste período. De acordo com a lista de obras selecionadas, foram criadas inicialmente classificações relacionadas com a técnica de cada uma, para que elas fossem separadas e agrupadas igualmente, no mesmo espaço físico. Além das obras selecionadas para a 3ª Bienal da Bahia, foi feito um inventário de todo o acervo que se encontrava no ateliê do artista, entre gravuras, pinturas, esculturas, arte digital e as matrizes de seus trabalhos. Esta organização espacial de seus trabalhos no ateliê foi feita também sobre a sua orientação. Segundo Paraíso, a primeira sala deveria abrigar seus trabalhos mais recentes, feitos com manipulação digital. Estas obras digitais foram separadas, limpas, medidas e fotografadas, etapas necessárias também para a elaboração do inventário do acervo. No espaço seguinte, foram colocados os desenhos abstratos em diferentes suportes, como Duratex e papel. Todas as obras em papel, como cartazes, desenhos, planta-baixa e outras, foram agrupadas e acondicionadas. Em paralelo ao trabalho realizado com as obras do artista Juarez Paraíso, iniciaram-se os trabalhos de organização no escritório realizando o levantamento dos documentos, fotografias e biblioteca. Foram necessárias quatro visitas para concluir essa etapa. Em seguida começamos a listagem, higienização e catalogação do material descrito a cima separando o mesmo por assunto. Foram necessários dezesseis visitas para concluir essa etapa. Posteriormente, acondicionamos os materiais. Documentos e fotografias foram armazenadas dentro de caixas arquivos e foam board. Os livros foram acondicionados nas prateleiras de acordo com os assuntos. Foram necessários cinco dias para finalizar o trabalho. O material estava armazenado de maneira inadequada. Muitos livros estavam no chão, sobrecarregando prateleiras, sujeitos a umidade em virtude da situação que o material se encontrava. Os livros sofreram diferentes danos sendo: manchas de umidade, infestação xilófagos e silver fischer, com perda de suporte e com outros danos no suporte. O material documental e fotografias também se encontravam armazenados inadequadamente, soltos e sem organização, armazenados de maneiras danosas, presos com grampos oxidados e enferrujados, o que causou danos a grande parte do material. Os livros, jornais, catálogos e revistas foram retirados do chão e foi realizada uma higienização mecânica e, posteriormente, eles foram acondicionados por assunto nas prateleiras. No caso dos documentos e das fotografias houve a higienização mecânica e armazenamento nas caixas arquivo, seguindo uma organização tipológica. No caso das fotografias, foi feito um experimento para o descolamento das mesmas, através do vapor. O resultado foi bastante satisfatório.

Ocorre o primeiro dia da Semana da Arte em Série, que reuniu antigos professores e artistas das Oficinas do MAM-BA para falar sobre suas produções, sobre a história das Oficinas e trabalhar em ateliê com os atuais alunos. O organizador da Semana de Arte em Série e atual professor de Gravura em Metal das Oficinas, Evandro Sybine, conduziu o primeiro encontro.

Tipologias de espaços de memória é o tema do terceiro encontro aberto Conversando com a sua História, mediado por Luiz Freire.

Foto Leonardo Pastor

Foto Alfredo Mascarenhas


83º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 19 de agosto de 2014 JORNAL

RELATÓRIO DE ATIVIDADES | PROJETO ATELIÊ ETAPA Ilê Axé Opó Afonjá

PERÍODO Julho a setembro / 2014

TÉCNICOS ENVOLVIDOS -

Daisy Santos Etiennette Bosetto Michele Pontes Rogério Sousa

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE No mês de julho, a museologia realizou a primeira visita ao Museu e Espaços religiosos do Ilê Axé Opô Afonjá. Acompanhada da assistente de curadoria Bianca Góis, a equipe foi recepcionada por Maria Célia Pereira, museóloga da instituição, que apresentou o museu e suas instalações. Na entrada, pode-se perceber que o museu encontra-se instalado em uma construção abaixo do nível da rua, possuindo uma rampa de acesso à entrada. Trata-se de uma sala em formato retangular, com uma parede circular ao meio, climatizada com um pé direito baixo. Segundo a responsável pelo museu, os grandes problemas do museu são: climatização inadequada, umidade das paredes em contato com o exterior e higienização do acervo (que recai em algumas questões religiosas da comunidade). Em conversa com a mesma, a equipe museológica ofereceu a possibilidade de realizar um inventário digitalizado, uma vez que o inventário do museu encontra-se apenas em versão impressa. Dessa forma, foram combinadas visitas de alguns componentes da equipe museológica a fim de fotografar, medir e identificar as peças do acervo, transformando essas informações, posteriormente em um inventário digital de consulta para o museu e futuros pesquisadores que venham recorrer a este acervo. A ação teve início quando a museologia começou a digitalizar a lista do acervo. A próxima etapa do trabalho foi fotografar e medir as peças. Algumas peças ficaram fora da medição por questões religiosas, já que a equipe da museologia não foi autorizada a tocar nas peças. A museóloga responsável recebeu orientações de como proceder quando a pessoa indicada pela comunidade for fazer o trabalho de medição das referidas peças. O resultado do trabalho foi a documentação do acervo digitalizado e fotografado, sendo de importância fundamental para que o mesmo esteja em ordem e em melhores condições de registro. Foto Alfredo Mascarenhas

Como construir um arquivo que não existe? Ao retomar o projeto de Bienais na Bahia, a 3ª Bienal teve como missão estruturante criar seu próprio arquivo, até então inexistente. Uma memória que precisou ser garimpada entre recortes de jornal, testemunhos orais e coleta de documentos dispersos. O desejo de narrar as histórias da primeira e segunda edições da Bienal (1966 e 1968, respectivamente) guiou o pensamento da edição de 2014, retomada no ano em que o país intensifica a abertura dos arquivos da ditadura, com as Comissões da Verdade, e recorda os cinquenta anos do golpe militar. A esse respeito, pode-se arriscar a hipótese de que, para repensarmos os arquivos e seus usos, é essencial nos dedicarmos a compreender, como propõe Burton (2005), questões anteriores – de que matéria são feitos os arquivos? Qual a história dos arquivos? Como e por que foram criados? E abandonados? Uma pergunta que se coloca para esse tipo de ação, que atua no limite entre arte e história, é se estaríamos no campo da arte ou da história. Mas, faz sentido, ainda, esse tipo de indagação? Não seria essa uma nova forma de contar as histórias, ou melhor, de emboscarmos os arquivos? Entretanto, não se trata de resgatar a memória esquecida; pelo contrário, trata-se de evocá-la, no presente, sem fixá-la no passado, mas sim atualizando-a e emprestando-lhe novos sentidos. É nesta torcedura que se localiza o modelo de ação proposto pela 3ª Bienal da Bahia para os arquivos.

Ana Pato

L I N H A

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T E M P O Nesta edição da Oficina Cadastro, Rafael Martins tratou de meditação no Parque das Esculturas do MAM-BA.

Foto Leonardo Pastor

Yêdamaria é a convidada do segundo dia da Semana de Arte em Série, nas Oficinas do MAM-BA. Foto Rafael Martins

É lançado hoje o Pequeno Guia Afetivo da Comida de Rua de Salvador, do grupo Poro, na Galeria Esteio. Foto Leonardo Pastor

Exibição do filme Boi Aruá (Chico Liberato) no Cineclube REPROTAI no Centro Cultural de Alagados, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.


20 de agosto de 2014

84º

Semana de Arte em Série com o artista Antonello L’Abbate | Foto Rafael Martins

LÓGICA DA REPETIÇÃO EVANDRO SYBINE Professor do MAM-BA

As Oficinas do Museu de Arte Moderna da Bahia completam 35 anos em 2015. Neste período o espaço passou por diversas situações, de altos e baixos. Sendo um espaço dedicado totalmente ao ensino e formação em arte, percebo seu caráter de resistência e de luta pela sobrevivência de um local destinado ao artista. Devo muito da minha formação artística às oficinas, elas foram essenciais para minhas decisões e crescimento como artista. Percebo sua ideologia vigorar por anos: um espaço aberto para o artista e principalmente para todos aqueles que desejam entender a construção de um processo criativo em suas aventuras de experimentações no amplo campo das artes visuais. No primeiro semestre do ano de 2014, nos meses que antecederam o inicio da 3ª Bienal da Bahia, mantive contato com os coordenadores das oficinas e do setor educativo da Bienal, uma célula já forte nos planejamentos iniciais do evento. O contato direto com Felix Toro e Lica Moniz fez surgir um primeiro esboço do que poderia ser uma ação de interação nas Oficinas do MAM-BA e seus antigos mestres professores, ilustres artistas que passaram por lá, que ensinaram e influenciaram gerações de artistas. Mas, como trazer esses artistas para uma ação no museu? Seria através de uma oficina ou um bate-papo? Assim, chegamos ao nosso projeto, que chamamos de Semana de Arte em Série, uma semana com vários artistas que tiveram algum tipo de laço com o museu. A lista de artistas que por ali passaram

Exibição do filme Os dias com ele (Maria Clara Escobar) no Cineclube Mário Gusmão, em Cachoeira, pelo Cinema Yemanjá.

Exibição do filme A cidade é uma só (Adirley Queirós) no Cineclube Clã Periférico, em Salvador.

Exibição do filme A viagem extraordinária (Eric Lange e Serge Bromberg) no Cineclube Mocamba, em Itabuna.

Exibição da coletânea Decididamente animados e do filme O quadro (Jean-François Laguionie) no Cineclube Imagens Itinerantes, em Salvador.

era enorme, então optamos por aqueles mais próximos da formação inicial do núcleo de professores. Seria promovido um dia com cada artista convidado, que não iria apenas conversar com nosso público, os alunos das oficinas, mas participar ativamente da aula, em que seria peça integrante da dinâmica do estúdio de gravura. Na aula era resgatada uma matriz antiga do artista em questão e fazia-se uma interação desta obra com a produção no espaço coletivo. O ato de dividir a prensa calcográfica faz o registro da gravura atual com toda uma referência da história da nossa gravura, nossa escola, a gravura baiana. Alguns anos atrás o museu realizou um vídeo com depoimentos sobre as oficinas, gravado com os professores Renato Fonseca e Florival Oliveira. Percebi neste material o que podemos definir como o prelúdio da Semana de Arte em Série: o resgate e o registro da memória do local, com o depoimento dos que por lá passaram. Assim, a ação seria a continuação disso, buscando registrar a participação dos convidados da Semana de Arte em Série, colhendo seus depoimentos e criando um vídeo documentário para marcar este momento. Todas essas ações também tinham o intuito de engatilhar um registro maior, com continuidade, buscando cada vez mais registros de depoimentos dos que passaram pela história das Oficinas do Museu de Arte Moderna da Bahia, para que em 2015, venham a destacar a importância destes 35 anos.

Mais uma visita guiada e apresentação das plantas medicinais do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.

Grupo de Pesquisa em Cerâmica Miniatura de Arte Popular com Marlice Almeida.

Antigo professor das Oficinas do MAM-BA, Antonello L’Abbate participa da Semana de Arte em Série.


85º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 21 de agosto de 2014 JORNAL

TRÊS OFICINAS DA BIENAL FELIX TORO Coordenador das Oficinas do MAM-BA e da Bienal

OFICINA DE JARDINAGEM Durante a elaboração da programação educativa, uma das preocupações foi a de articular e desenvolver as inteligências e formas de trabalho já existentes nos contextos em que a Bienal iria se inserir, criando novas experiências a partir destas. Um dos casos exemplares dessa abordagem foi na escolha da Oficina de Jardinagem como uma das oficinas que seriam permanentes durante toda a Bienal. Cláudio Pinheiro, ministrante da oficina, é jardineiro do MAM-BA há anos, mas até então não se havia criado um contexto no qual seu processo de trabalho, e o conhecimento produzido a partir do mesmo, fossem compartilhados ou constituíssem uma atividade do museu. As oficinas usaram técnicas de transplante, mudas, plantio, e cuidados em torno de assuntos como alimentos, chás, e plantas de força. A oficina trabalhou com centenas de alunos ao longo da Bienal, e hoje integra a programação de oficinas permanentes do Museu de Arte Moderna.

Oficina de jardinagem com Cláudio Pinheiro | Foto Rafael Martins

CADASTRO A Oficina Cadastro foi uma situação proposta pela 3ª Bienal da Bahia para a troca de saberes e inteligências de diversas ordens, em oficinas de duas horas que podiam percorrer qualquer tema. Qualquer pessoa pôde se cadastrar para ocupar essa situação e ministrar uma oficina. A Oficina Cadastro foi inspirada na exposição realizada nos anos 1980 por Chico Liberato, então diretor do MAM-BA, na qual qualquer pessoa podia se cadastrar para expor seus trabalhos.

ITINERÂNCIAS

Oficina de meditação com Rafael Martins | Foto Leonardo Pastor

Duas oficinas permanentes fizeram itinerâncias durante a Bienal: a Ação Mural Aberto (cerâmica) e a Oficina de Desenho. Ambas começaram com aulas semanais nas Oficinas do MAM-BA e posteriormente ocuparam espaços públicos de Salvador e do interior do Estado. Em dinâmica de caravana, kombis e carretos saíam do MAM-BA levando mesas, bancos, argila, papéis, lápis, baldes, panos, fotógrafo, mediadores e professores para espaços como a Rodoviária de Salvador, o CUCA (Feira de Santana), o Acervo da Laje em Plataforma, o Museu Náutico e a Ladeira da Preguiça. As itinerâncias trabalharam sempre com o público espontâneo, implicando em um trabalho dos mediadores e professores de abordarem uma a uma as pessoas do entorno para convidá-las a participar. As itinerâncias foram uma forma de atuação direta com o público, imediatamente inserindo os participantes nas discussões propostas pela Bienal. Oficina de Desenho itinerante com a professora Olga Gómez, na Praça do Campo Grande | Foto Rafael Martins

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T E M P O

Exibição da coletânea Decididamente Animados: brincadeiras de criança e do filme Viagem Extraordinária (Eric Lange e Serge Bromberg) no Cine Sereia, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

O Quintas na Quinta teve o tema Terreno e Terreiro – Relação entre Perseguição religiosa e especulação mobiliária, com o convidado Ordep Serra (UFBA).

Exibição do filme Terra em Transe de Glauber Rocha, no casarão do MAM-BA como parte da exposição Gênesis | Apocalipse | Ressurreição, de Rogério Duarte.

Márcia Magno foi a convidada do quarto dia da Semana de Arte em Série. A professora Olga Gómez encabeçou a última itinerância da Oficina de Desenho, que acon-

teceu no Campo Grande, junto à Feira de Livros da Fundação Pedro Calmon. Acontece o Em Foco, encontro que debate assuntos pertinentes à fotografia contemporânea. Nesta edição especial na Bienal, o tema foi Fotografia e Memória, com mediação de Ana Pato e os convidados Anízio de Carvalho, Aristides Alves e Valter Lessa.


22 de agosto de 2014

PROCESSOS COMPARTILHADOS

86º

LIA ROBATTO*

Primeira etapa | Foto Alfredo Mascarenhas

Quando Marcelo Rezende me convidou para dar um depoimento sobre minha participação na 1ª Bienal da Bahia, em 1966, me remeti ao espetáculo que montei então. Fiquei muito orgulhosa na época – eu tinha 26 anos – por haver feito uma proposta em que uma obra de artes visuais poderia ser representada por meio de corpos em movimento. Eu queria mostrar com os objetos estranhos da dança uma composição coreográfica que trabalhasse com formas, cores, ritmos – elementos comuns tanto das artes plásticas quanto da dança, e fiz a apresentação no pátio interno do Convento do Carmo, onde havia várias obras e esculturas de Mário Cravo, de Lígia Clark, e muitos outros. Naquele momento das artes no Brasil, o corpo estava começando a ser inserido nas artes plásticas, e eu fiz o caminho inverso: inseri as artes plásticas na dança. Quando Marcelo ainda estava planejando a 3ª Bienal, ele perguntou se eu queria remontar aquele espetáculo de 66. Não seria o caso. Até fiz um estudo, mas sairia caríssimo, e vi que era outro contexto, outro momento, então suspendemos a ideia de remontagem, mas disse que poderia montar outra ação com o objetivo de integrar linguagens diversas, fazendo uma coisa mais solta, mais livre e contando com mais linguagens, outras expressões. Apresentei uma proposta de processos compartilhados. Marcelo se interessou e achou que era bem isso. Fiz uma primeira etapa de alta intensidade que estava dentro do espírito da própria Bienal, que era uma maratona, e tomava um dia inteiro trabalhando com artistas de diversas áreas. Nessa primeira etapa nós tínhamos coreógrafos, músicos, compositores e instrumentistas, mas também tínhamos gente de arquitetura, literatu-

ra, poesia, teatro, dançarinos e alguns atores. Como alguns participantes eram profissionais com carreira relevante, me abstive de interferir, muito menos dirigir. Não, essas feras aí que se organizem entre si, vamos ver o diálogo com esse povo e a que isso pode conduzir. A música nas primeiras horas do trabalho foi determinante. As respostas vinham a partir do estímulo musical e os músicos se provocando entre si. Fizemos avaliações durante o processo e depois inverti um pouco a dinâmica. Apresentei umas propostas de imagens, posturas, performances que deram o pontapé e daí nos dividimos em pequenos subgrupos, mas o princípio era sem compromisso com a obra, com o resultado final e sem assistência, sem plateia. Eu queria que todo mundo se sentisse totalmente livre, descomprometido, sem nenhum constrangimento vindo de fora, e isso realmente aconteceu. Eu usei todos os elementos básicos que tinha usado quase 50 anos trás, que foram panos, elásticos, papéis pra gente desenhar com carvão, fio, enfim, uma série de elementos que ajudam a compor as ideias. E terminou ali e eu achei por bem que tinha atingido o propósito de criar um diálogo entre artistas de linguagens diversas. Logo ali aconteceram articulações entre eles, começaram a combinar trabalhos conjuntos. Eu tinha dúvidas se faria ou não uma segunda parte, mas algumas pessoas me pediram pra continuar, então propus outra dinâmica. Primeiro: convidar menos caciques e mais índios. Chamei muitos alunos de dança, além de profissionais. O interessante é que apareceram muitos profissionais e alunos de teatro, quase que metade do grupo, e essa segunda etapa foi composta de cinco sessões menores, uma vez por semana.

Nessas oficinas me permiti conduzir mais, orientei mais. Foi um pouco mais formativa do que uma simples performance livre, mas claro que a tônica era a liberdade total. Eu conduzia de uma maneira apenas a criar estímulo e nunca dirigir para determinada estética, determinado produto. Continuou com trabalho livre, sem compromisso com produto final, com resultado e o que valia era o processo em si, na hora, sem assistência. Quem vinha pra assistir tinha que participar. Por exemplo, teve um professor de filosofia, estética, que não participava fisicamente, mas analisava o tempo inteiro. Tínhamos um poeta que fisicamente não estava se sentindo à vontade de entrar nas experiências corporais, mas ele participava com textos, recriando poesias. Houve uma coreógrafa que não

Exibição do filme Lumumba (Raoul Peck) no Cineclube Museu do Objeto Imaginário, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

Quinto dia da Semana de Arte em Série tem Eneida Sanches como artista convidada. Fotos Rafael Martins

Todo o processo foi registrado em fotografia e vídeos. Além do som, gravamos também as avaliações, os papos que tínhamos. Sempre promovi uma análise crítica do que estávamos fazendo para não virar uma espécie de recreação para adultos. Eu parava, chamava, eles ficavam frustrados porque quando estavam no auge das improvisações, eu cortava. É a “frustração pedagógica”, onde se para o embalo, damos um corte para fazer um questionamento: o que é isso? De onde vem? Para onde vai? O que significa? Que peso tem? Como pode ser aproveitado?

Foto Reprodução

participou fisicamente, mas avaliava criticamente todo o trabalho; os demais participavam de tudo. Quem mais eu queria que participasse, para quem eu focava esse trabalho, eram os artistas visuais – mas, por incrível que pareça, não tivemos a participação de nenhum. Creio que devo refletir se minha aspiração está fora de qualquer realidade, dos desejos ou de interesses dos artistas visuais, ou se eu não consegui estimular devidamente. Sei que o artista visual é muito introvertido, trabalha muito sozinho, mas o poeta, o músico e o compositor também são assim. Mas tem uma hora que ele precisa se juntar ao grupo, então a dinâmica de cada linguagem às vezes é que determina maior ou menor envolvimento grupal. O trabalho coletivo nem sempre funciona. Nas décadas de 1960 e 1970 o trabalho coletivo era uma constante, porém agora não era caso de sermos saudosistas e retomar a dinâmica daquela época, mas sim de ver hoje o que é a multidisciplinaridade, como hoje isso pode acontecer ou não.

* Lia Robatto é coreógrafa, artista e educadora. Ela fez parte do grupo de artistas participantes da 1ª Bienal da Bahia.

Segunda etapa | Foto Alfredo Mascarenhas

Exibição do filme Os Residentes (Tiago Mata Machado) no Cineclube Professor Ralile, em Caravelas/ Teixeira de Freitas, pelo Cinema Yemanjá. Acontece hoje a Oficina de Samba de Roda e Expressões Populares ministrada por Natureza França no Acervo da Laje. Grupo de Pesquisa em Cerâmica - Miniatura de Arte Popular com Marlice Almeida.


87º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 23 de agosto de 2014 JORNAL

JODOROWSKY E O SENTIDO DA CURA … À propos d’un acte psychomagique Alejandro a besoin de temps pour y penser et surtout de con-naitre mieux l’histoire douloureuse de votre pays1 Bien cordialement, Pascale Montandon-Jodorowsky

O trecho é parte da mensagem enviada por Pascale, esposa de Alejandro Jodorowsky, interpelado quando achávamos que a prescrição de um ato psicomágico se fazia necessária para o superamento do maior trauma infligido à história da arte brasileira: o encerramento, pela ditadura militar, da 2ª Bienal da Bahia em 1968. Bastou pouco para entendermos que, de fato, ter Alejandro Jodorowsky na lista dos participantes da 3ª Bienal já constituía em si um ato psicomágico. Desde o início foi claro que o pensamento jodorowskyano, panicamente2 ligado ao projeto da Bienal, teria nos guiado na resolução do(s) trauma(s), através da psicomagia, definida por Jodorowsky como “um chute na bunda da realidade”. A psicomagia é uma forma ultra-avançada de terapia que permite, através de soluções criativas, ações, encenações e reencenações, de falar ao inconsciente, de pensar a imaginação enquanto método de abordagem da realidade, de experimentar a verdadeira liberdade, que consiste em sair de si mesmo, atravessar os limites do nosso pequeno mundo individual para criar uma abertura para o universal. Nesta perspectiva, são atos psicomágicos: a experiência religiosa de assistir ao simbolismo cinematográfico de Jodorowsky na Sala Walter da Silveira; a itinerância do “caderno de ações psicomágicas”, que atravessou o interior da Bahia sob a proteção do O Carro3, símbolo de viagem e transformação; a litúrgica mistura química do pigmento IKB realizada pelo artista baiano Juraci Dórea; a imaterial sensibilidade do relicário proposto na Igreja do Pilar; a mística chegada da Expedição Terra em Montesanto; a catártica reencenação das Bienais de 1966 e 1968 no Mosteiro de São Bento; a devida dispersão em mar da caixa/sarcófago que guardou, na exposição do Arquivo Público da Bahia, as caveiras do Museu Antropológico Estácio de Lima. Falar ao incosciente, integrar o problema ao cotidiano para se tornar consciente dele. Morrer para renascer de novo. Enterrar para plantar. Carmen Palumbo Curadora-assistente da 3ª Bienal da Bahia (1) “Quanto ao ato psicomágico, Alejandro precisa de tempo para pensar e, sobretudo, de conhecer melhor a história dolorosa do seu país… Atenciosamente”. (2) Neste caso, panicamente vem do Pânico, um (falso) movimento pós-surrealista criado por Alejandro Jodorowsky, Fernando Arrabal e Roland Topor, cujo objetivo era buscar, através da ruptura dos códigos e dos valores estabelecidos pela tradição, uma profunda sinceridade na criação artística, vista como uma violenta irrupção dos impul-

L I N H A

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sos, criativos e destrutivos, do ser humano. (3) O Carro é o VII arcano maior dos Tarôt de Marselha, pode ser considerado também o símbolo da psicomagia que permite a passagem de um estado para outro. O “caderno de ações psicomágicas” foi realizado, segundo os princípios da psicomagia, para a exposição itinerante No Litoral é Assim, que foi de Juazeiro até Vitória da Conquista. Artistas, poetas e o público em geral foram convidados a realizar seus próprios atos psicomágicos e relatá-los neste caderno.

Foto Reprodução

PROGRAMAÇÃO 23 DE AGOSTO Constelação Jodorowsky (Constellation Jodorowsky) Louis Mouchet, 87 minutos, Suíça e França, 1994 El Topo Alejandro Jodorowsky, 124 minutos, México, 1970 24 DE AGOSTO A Montanha Sagrada (The Holy Mountain) Alejandro Jodorowsky, 113 minutos, México, 1973 26 DE AGOSTO Duna (Dune) David Lynch, 162 minutos, EUA, 1984 Duna de Jodorowsky (Jodorowsky’s Dune) Frank Pavich, 90 minutos, EUA e França, 2013

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Foto Leonardo Pastor

Em parceria com Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), a Bienal realiza o encontro Fazer Poesia, Fazer Ficção na Bahia, no Centro Cultural Plataforma. O dia foi recheado de atividades com a Expedição Plataforma, iniciada na Estação Calçada, que seguiu em direção ao Acervo da Laje. Os participantes puderam visitar também o acervo da Casa-Livro do escritor Perinho Santana.

Abertura do Ciclo Bienal em Jodorowsky, com a exibição dos filmes Constelação Jodorowsky, de Louis Mouchet, e El Topo, de Alejandro Jodorowsky. Foto Reprodução


24 de agosto de 2014

88º

Imagens do projeto da artista Sylvie Blocher realizado para a 3ª Bienal da Bahia

POR DETRÁS DO INVISÍVEL SYLVIE BLOCHER Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

Eu cheguei ao Mercado de São Joaquim em Salvador, na Bahia, dia 3 de agosto de 2014. Aqui são vendidos ervas para os rituais, frutas, ovos de um branco imaculado, Ogum, Omolú, Oxalá, Iemanjá, Obaluaiê - os deuses do Candomblé, mas também diabos vermelhos, santos de gesso pintados, galinhas para oferendas, objetos de culto, peixes, panelas, tecidos, flores, carne, colares de proteção, música... Rituais e comida se misturam. Cada vendedor e seus fregueses formam assim uma micro-comunidade. Eu instalei a cada manhã meu estúdio de filmagem temporário num dos corredores do

Público de Mar Grande/ Vera Cruz assiste aos filmes Fary, a Jumenta (Mansour Sora Wade) e Caixa d’Água (Everlane Moraes Santos) no Cineclube Manga Rosa, em Mar Grande/Vera Cruz, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

Exibição do filme A Montanha Sagrada, de Alejandro Jodorowsky, no Ciclo Bienal em Jodorowsky. Contação de Histórias com Maju Fiso. Oficina de Desenho de Observação, com Olga Gómez.

mercado que leva aos banheiros. Durante três dias, graças a duas cobertas, este local tão precário teve um certo um tipo de intimidade. O burburinho se espalhou. Eu era a estrangeira que havia chegado para trocar imagens. As condições das filmagens eram as seguintes: chegar com um objeto escolhido de sua barraca, e posar diante de um tecido de motivos verde e dourado. E eles chegaram carregando seus objetos tal como os santos da Idade Média carregavam seus símbolos. Eles diziam que não queriam ser retratados, mas queriam apenas se apresentar a nós com todo o seu orgulho.

Público solta a criatividade em mais um dia da ação Pinte na Bienal com Maninho Abreu. Will Marx é artista/aluno das Oficinas cujos trabalhos serviram de base para mediação no projeto Mesas, realizado pelos mediadores das Oficinas do MAM-BA na Bienal, Leandro Estevam e Tiago Costa.


89º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 25 de agosto de 2014 JORNAL

Foto Alfredo Mascaranhas

Usina de Videodança Dinâmicas de Movimento como Fluxos de Resistência

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T E M P O

Descortinando a memória através da oralidade e da arte foi o tema do quarto encontro do Conversando com a sua História. Foto Rafael Martins

Terezinha Dumet, artista e professora da EBA/UFBA, foi a convidada do sexto dia da Semana de Arte em Série. Essa edição ocorreu na Escola de Belas Artes, onde Terezinha imprimiu matrizes antigas e falou sobre processo artístico e sobre as Oficinas do MAM-BA.

O Encontro Geral dos Mediadores da 3ª Bienal da Bahia promoveu o cruzamento de ideias e experiências sobre o trabalho realizado em cada espaço expositivo. Foto Rafael Martins


26 de agosto de 2014

90º

IV REAL ACADEMIA Rezende

em seguida um monólogo Éclogas no Deserdo, (de nossa autoria) finalizando se serviria um pirão de jabá.

Prezado Cavaleiro. Quando de bom grado aceitamos seu convite de a Casa dos Carneiros, tomar parte na III Bienal do Estado da Bahia, o fizemos dentro de um espírito de confiança e grande distanciamento; tendo em nosso horizonte o fulgor de uma luz emanada da parte de todos os artistas que de modo iorbanado e comandados por você não usaram de pesos e medidas para ver tal festividade acontecer. Pois bem, para tanto, de nossa parte (os da Casa dos Carneiros) nos arrojamos a fazer uma proposição na altura da festa, a saber: 1- A realização de um encontro na casa sede lá do Rio do Gavião onde congregados estaríamos com velhos vaqueiros epígonos de uma casta de heróis que não estiveram nas guerras de Tebas, contudo passaram a vida inteira nos combates e justas de campo tendo por adversário o sol escaldante e a ferocidade dos barbatões alevantados nas imensidões sertânicas. Ali uma mão de prosa com a devida versão do dialeto para o vernáculo, para entendimento dos convivas acadêmicos. Após, seria a coroação da Donzela Guerreira como quinta confrade da IV Real Academia. Após, pela noite um bális, finalizando com arroz-de-tropeiro. 2- No dia seguinte, na sede da casa dos Carneiros se daria uma aula da Universidade Leiga, um pequeno concerto comigo e uma orquestra de câmera sob a regência do Maestro João Omar, vindo

Último dia do Ciclo Bienal em Jodorowsky apresenta sessão especial com exibição dos filmes Duna, de David Lynch, e Duna de Jodorowsky, de Frank Pavich. Foto Reprodução

Estes acontecimentos se dariam tão somente conforme o “orçamento sinalizado”, visando tão (também) somente a realização da Festa, vez que nada se realiza sem a presença corpórea da tal bufunfa. Então, haveu por parte da produção central da Bienal um recuo formidável no que tange aos custos. E, diante disto, tivemos que também recuar enormemente na sonhada proposição, onde toda uma programação completa e festiva veio desaguar (apenas) na Casa dos Carneiros numa noite de adoção da Cavaleira e de Éclogas, sem vaqueiros, sem música, sem bális e sem dicumidoria. Contudo, não desistimos e até este final iremos, se Deus quiser, no que pese saber (o que não nos deixa muito felizes), que todo este empenho, de nossa casa, da sua casa e as de todos os artistas cúmplices que numa maiêutica ingente fizemos vir à luz esta rosa temporã que se abre tardia nesta noite escura que encobre o céu da Bahia, venha a ser assinado pelo presente governo, que nada tem a haver com a cultura, tão pouco, bienal.

Com fraterno abraço

De Elomar

Casa dos Carneiros, minguante, agosto 2014.

A Casa-Museu Solar Santo Antônio do colecionador Dimitri Ganzelevitch recebe o projeto Acervo da Laje e produtores culturais do subúrbio ferroviário.

A coletânea de filmes Decididamente Animados foi exibida no Cineclube da Cidade de Plástico, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Grupo de Pesquisa em Litografia com o Professor Renato Fonseca. Foto Leonardo Pastor

O Professor Jaison Santos se encontra com o público para a Oficina de Linogravura.

Foto Rafael Martins


91º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 27 de agosto de 2014 JORNAL

UTOPIA DO TERREIRO CÉLIA SILVA Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá

Página de caderno criado por Célia Silva para o registro de plantas medicinais

Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Cura Seção: Africanidades Ilê Axé Opô Afonjá PERÍODO 06/08 a 03/09

VISITANTES 210

Um dos terreiros de candomblé mais conhecidos da Bahia, o Ilê Axé Opô Afonjá foi fundado em 1910 por Mãe Aninha. Tombado em 2000 pelo IPHAN, abriga desde 1999 o Museu Ilé Ohun Lailai (Casa das Coisas Antigas) com objetos de culto e roupas em exposição.

L I N H A

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Em 2003 cheguei no Ilê Axé Opô Afonjá. E o museu [Ilé Ohun Lailai], assumi em 2007. Comecei a fazer projetos, tirar fotos. Eu falei com Marcelo [Rezende] que tenho esse trabalho com as plantas desde 2008. Comecei assim, pegava algumas espécies e levava pra casa. Botava a folha, fazia um herbário. Eu peguei cem. Fiz um herbário todo em casa, colado. Depois botava na minha frente, ela sequinha, e desenhava. Comecei a pesquisar o nome científico, o nome popular e o nome em iorubá. Tem um nome científico que a pessoa não conhece: comigo-ninguém-pode, por exemplo, as pessoas só conhecem o nome popular, se colocar o científico o pessoal não sabe. Botei o nome popular, científico, de que Orixá pertence, botei também a que elemento pertence. Também fiz uma pesquisa só minha, tipo “serve para diarreia”, pra eu saber pra que serve a planta. Depois comecei a pesquisar os nomes. O importante também é isso, às vezes você vai fazer pesquisa, você quer saber o nome em iorubá e não encontra, você encontra o nome do pesquisador, científico. Aí eu me questionava: “E o negro que plantou lá? Tem o nome dele? Você não vê”. Tem esse lado também. Senão você vê as folhas pelos olhos azuis de Pierre Verger. A ideia de trabalhar com a Bienal foi para que as pessoas pudessem conhecer as plantas litúrgicas e terapêuticas, porque na verdade era proibido abrir informações. Foi bom porque foi uma oportunidade... Eu botei litúrgica e terapêutica. Litúrgica: ela serve para banho, só para banho. Terapêutica: você toma um xarope. E tem umas que servem para as duas coisas. E tem umas que não é uma coisa nem outra, é ornamental, para embelezar o espaço. Tudo isso não é Nordeste?

A UFBA veio e trouxe os alunos para fazer a trilha para a pesquisa, o pessoal de Botânica. Fizemos o piloto, foi o primeiro grupo que fez a visitação, pra ver o erro, o acerto, pra gente melhorar na trilha. E depois foi o público normal. Muita gente de fora de Salvador. Vieram e deixaram cartão, deixaram contato para quando tivesse uma coisa mais aberta, um horário mais flexível, porque era só quarta à tarde. Antigamente, eu me lembro, tinha pé de feijão pra colocar na água com algodão. Hoje em dia é computador. Só vê as plantinhas lá virtualmente. Os bichos também. Quem vinha fazer a trilha, via planta, as casas dos Orixás e os bichos, ou seja, não viu só as plantas, foi o terreiro todo.

T E M P O

Em parceria com a Fundação Pedro Calmon, a Bienal realiza expedição ao cemitério Quinta dos Lázaros, onde está enterrado o ativista Carlos Marighella. O Levante Popular da Juventude seguiu pelas ruas da Baixa de Quintas, entoando cânticos e poesias de Capinam e Ana Montenegro, além de versos de Caetano Veloso e texto de Mario Magalhães. Foto Leonardo Pastor

A trilha que fizemos como parte da Bienal funcionou. O pessoal veio visitar mesmo sendo poucos dias aqui no terreiro. Estão vindo até agora. O horário era até cinco e meia. Tinha gente que chegava seis e lá vai fumaça para fazer a trilha. No escuro, como é que eu ia? Aí eu peguei as plantas, os filhotinhos, e botei na varanda do museu e explicava ali mesmo. Só assim aproveitando a trilha para conhecer não só as plantas como as casas e também para poder entrar no Afonjá, porque às vezes o pessoal fica com receio. Talvez eu vá formar outro jeito de visitarem as plantas. Fazer uma trilha normal, independente de um trabalho com alguma instituição, mas foi muito importante começar pela Bienal. Como se a Bienal abrisse os olhos, entende? O pessoal vir e ter acesso à visitação das folhas. E eles queriam saber de tudo.

Grupo de Pesquisa em Cerâmica - Miniatura de Arte Popular com Marlice Almeida.

Foto Rafael Martins

Oficina de Jardinagem com Cláudio Pinheiro.

Foto Rafael Martins


28 de agosto de 2014

92º

MULTIDIMENSIONAL

Imagem do filme Lampião, o rei do cangaço, de Benjamin Abrahão | Foto Reprodução

Foto Leonardo Pastor

A Bienal propôs à DIMAS (Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia) a curadoria de uma mostra de filmes sobre o cangaço, como programação paralela ao projeto Arquivo e Ficção.

O Centro Cultural de Alagoinhas recebe a exposição No Litoral é Assim. A mostra itinerante faz sua última parada na cidade, depois de passar por Feira de Santana, Vitória da Conquista e Juazeiro. Em paralelo, o M.A.P.A - Movimento dos Artistas Plásticos de Alagoinhas - apresenta a 3ª Cena Artística com trabalhos de 18 artistas locais na Casa do Boi Encantado, espaço anexo ao Centro Cultural.

Assim, nasceu Era uma vez no Nordeste: do Cangaço ao Western Spaghetti. Mais do que a apropriação de um gênero clássico do cinema, os diversos faroestes periféricos realizados ao redor do mundo (Alemanha, Espanha e Itália, sobretudo) não apenas se alimentaram da matriz hollywoodiana, como geraram subgêneros quase autônomos. O filme de cangaço no Brasil, por exemplo. Do canônico O Cangaceiro, de Lima Barreto, ao revolucionário Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha – não por acaso dois filmes brasileiros premiados em grandes festivais internacionais (Berlim e Cannes). Há neste trajeto algo de antropofágico, que o ítalo-brasileiro Viva Cangaceiro, de Giovanni Fago, western spaghetti filmado na lagoa do Abaeté e sertão baiano, consegue sintetizar como poucos. Um inusitado diálogo que serve de mote e desafio para reconfigurar o percurso de filmografias bem mais próximas do que costumamos supor. Curador da mostra: Adolfo Gomes (Núcleo de Difusão / Diretoria de Audiovisual / Fundação Cultural da Bahia)

Foto Alfredo Mascarenhas

O historiador, pesquisador e professor do departamento de História da Universidade Federal da Bahia, João José Reis, participou da última edição do Quintas na Quinta. O tema foi revoltas escravas, mais especificamente a Revolta dos Malês. Sobre a formação da importante documentação relacionada ao assunto, que se encontra no Arquivo Público do Estado da Bahia, ele comentou: “A Revolta dos Malês se tornou, das revoltas escravas em todas as Américas – à exceção do Haiti, uma verdadeira revolução –, aquela que mais documentos produziu. Nós temos um volume fantástico de documentos sobre esse movimento, resultado precisamente da devassa feita. E essa devassa foi assim feita quase como um experimento legal, porque o Governo Provincial, seguindo as ordens do Governo Imperial, resolveu seguir todos os rituais de um julgamento. Rituais baseados em duas peças jurídicas recém criadas, que foram o código criminal de 1830 e o código do processo de 1832. O código criminal estabelecia que o levante de escravos era um crime específico e deveria ser punido como tal. Certamente de quinhentos a seiscentos, entre escravos e libertos, participaram da Revolta. Cerca de setenta morreram em combate e mais de duzentos foram sentenciados.”

Foto Lara Carvalho

A cúpula tridimensional da exposição Gênesis | Apocalipse | Ressurreição se transformou em palco para receber o Musicúpula. Em meio às obras de Rogério Duarte que ocupam o 1º piso do casarão do MAM-BA, Armandinho Macêdo, Luiz Brasil, Luiz Caldas e Mariella Santiago apresentaram as composições do artista. No repertório, parcerias de Rogério com outros baianos, como Roberto Mendes e Moraes Moreira. Foto Alfredo Mascarenhas

Durante a primeira edição do encontro Nós, Errantes, a artista Oriana Duarte faz leituras de seus cinco livretos escritos sobre a performance Plus Ultra, na Galeria Esteio. Foto Lara Carvalho

Exibição do filme Câncer, de Glauber Rocha no casarão do MAM-BA, como parte da exposição do artista Rogério Duarte.

O Grupo de Trabalho (GT) Arquivistas apresenta a exposição Memória Suspensa: a capacidade do documento de emocionar na Parede Galeria do Instituto de Ciência da Informação da UFBA. A mostra faz parte do projeto Arquivo e Ficção.

Juarez Paraíso encerra a Semana de Arte em Série, trazendo diversas matrizes em metal antigas e conversando com o público sobre sua produção.

Oficina de Pintura com o Rener Rama.

Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins


93º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 29 de agosto de 2014 JORNAL

REMANDO NO SECO - DESDOBRAMENTOS DO PROJETO PLUS ULTRA (NÓS, ERRANTES) DE ORIANA DUARTE AYRSON HERÁCLITO Curador-chefe da 3ª Bienal da Bahia

Desde 2006 a artista desenvolve um amplo e fluido deslocamento por diversos estados do Brasil, em uma empreitada composta por vivências em diversos clubes de remo. Recife, Vitória, Belém, Manaus, Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador foram cidades remadas, paisagens percorridas e vivenciadas a partir desta proposição artística. Posteriormente, a sistematização de tal experiência produziu, além de uma tese de doutoramento, o desejo de partilhar uma escrita de artista, através de leituras públicas em diversos programas ou unidades de ensino de artes. A curadoria da 3ª Bienal da Bahia possibilitou o encontro dessa nova etapa do projeto frente a duas instituições de ensino superior: a Escola de Belas Artes da UFBA em Salvador, e o Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB, em Cachoeira.

Foto Lara Carvalho

Foto Lara Carvalho

Cinco pequenos livros foram publicados pela artista com textos recortados de sua tese, sendo amplamente distribuídos para o público, convidado a ouvir e ler uma escrita singular, em que memória e registro acionavam um universo de imagens e resignificavam as práticas vividas pela autora. Remando no seco foi como Oriana definiu a sua ação. O seco aqui não nos remete em momento algum a um estado improdutivo de se dar murros em ponta de faca. Ao contrário, a atmosfera que foi produzida devolve aos diferentes mundos uma maré de incomensuráveis possibilidades; a experiência na escrita de si como tática de deflagração de devaneios criativos.

Duas situações vividas na Bienal da Bahia me instigaram a indagar sobre o que ando fazendo da minha vida, ou melhor, como ando com arte na vida. Ambas situações decorrem do olhar do outro sobre minha leitura dos livretos Nós, errantes. Esta leitura é o que venho realizando ultimamente enquanto performance, é o meu modo de viver e continuar remando, ou melhor, exercitando a metáfora do remar, pois agora a ação se amplia enquanto combate: remar no seco. Pois bem, a primeira situação foi vivida num susto, susto ao ser indagada sobre o meu cansaço depois de haver interpretado por tanto tempo – “interpretar cansa”. Mas como interpretar? Respondi. E ao silencio do olhar crítico sucede a suspensão da fala, a ausência de atenção, a negação de uma resposta. Mas não precisei escutar mais nada... Este olhar sobre a performance me via enquanto intérprete de acontecimentos distantes, fora da experiência inscrita em mim. Mas como? Continuei a me perguntar por zelo com a arte, por cuidado comigo. A segunda situação também me chegou como um susto, mas desta vez por não ser indagada, mas antes, ser tomada como agenciadora de um sentimento descrito como “paz”. Sim, vale a pena contar, pois isso pode dizer um pouco do que pode uma participação de um artista num evento de grandes dimensões. Cerca de um mês após minha performance na Galeria Esteio, recebo um e-mail de alguém que havia estado lá, segundo ele, por um erro, pois ia para outro evento e lhe conduziram para onde eu lia meus livretos. Ao chegar, quase à noite, ele resolveu por lá ficar e ao me escutar descobriu o que queria fazer da sua vida de ciclista. Ao que entendi que sim, ele também vai sair a exercitar-se em errância, a expor-se em relatos por entre os diferentes olhares do mundo. Oriana Duarte

L I N H A

Foto Reprodução

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T E M P O

Pelo Cinema Yemanjá, o público de Caravelas/Teixeira de Freitas assiste ao filme Morro do Céu (Gustavo Spolidoro), no Cineclube Professor Ralile.

Foto Reprodução

A mostra Era Uma Vez No Nordeste: do Cangaço ao Western Spaghetti apresenta os filmes O Anjo Daltônico, de Fábio Rocha, Porta de Fogo, de Edgard Navarro, e Memória do Cangaço, de Paulo Gil Soares.

Último encontro do Processo Compartilhado, sob a coordenação da coreógrafa Lia Robatto.

Foto Alfredo Mascarenhas

Grupo de Pesquisa em Cerâmica – Miniatura de Arte Popular, com Marlice Almeida.


30 de agosto de 2014

94º

Recepção preparada pelos moradores da cidade de Heliópolis para a 3ª Bienal da Bahia | Foto Bianca Góis

DAÍ, CORTAR A MANDIOCA Heliópolis, com menos de 15.000 habitantes, é uma pequena cidade do nordeste baiano, localizada a 300 km de Salvador. A Bienal chegou a Heliópolis através da parceria com os “Filhos do Sol”, primeiro cineclube a entrar no circuito da mostra Cinema Yemanjá que, na cidade do sol, teve a abertura oficial abençoada por intercessão do pároco da Capela de Santo Antônio, e encerramento oficial com um desfile de 40 cavalos, 20 carros de bois, forró e preparação da mandioca na casa de farinha da Serra dos Corrêas. O cineclube “Filhos do Sol”, mais que um cineclube, é um movimento cultural originado no povoado rural de Massaranduba, em Heliópolis, liderado por José Pereira, conhecido como Zé, que, em menos de três anos, fundou uma associação de cidadania, um cineclube, um ponto de leitura, uma biblioteca rural, uma associação de artesãos, além de prestar serviço no Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade. Com seu cinema itinerante e a preciosa colaboração da comunidade, Zé roda pelos povoados da cidade do sol, apresentando produções de autores locais e grandes clássicos do cinema nacional e internacional. De forma simples, ele entra nas casas, nas igrejas, nos quintais, nas associações, nas casas de farinhas, nas escolas, criando ocasiões de encontro, de discussões, de festa e socialização. Muitas vezes a sessão de cinema é só uma das ações: a exibição acontece depois de um encontro-mutirão finalizado para a construção de uma cisterna comunitária para a coleta

Mais uma edição do Bate-Papo na Laje para discutir o tema A beleza e a experiência elementar, com o psicólogo Miguel Mahfoud.

de água, ou depois de uma discussão sobre o cooperativismo como sistema de organização de trabalho numa área de intensa produção e extração de mel. Até hoje foram criadas mais de cinco associações e outras dois estão em fase de experimentação. O regimento interno de cada uma delas funda-se no princípio da autarquia. Desde o início, foi claro que muitas coisas aconteciam sob o sol desta pequena cidade, cujo nome, segundo a lenda, foi dado por um padre que depois de uma viagem ao Egito, voltou para casa reconhecendo no lugar a mesma beleza do Vale de Rá, deus do Sol na mitologia egípcia. Mas o que é que faz de Heliópolis um exemplo tão surpreendente, digamos assim, um “caso de estudo” de boas práticas de trabalho comunitário? Dos encontros, das entrevistas, das conversas trocadas, emergiu que uma das principais preocupações da comunidade é a preservação da própria independência e a garantia de uma autonomia em relação aos poderes pré-constituídos, partidários, políticos, governamentais. De fato, todas as associações fundadas até agora recusaram a intervenção da prefeitura ou dos políticos. Para Zé e os outros, a autonomia é a primeira condição para garantir o bom resultado do trabalho comunitário, finalizado à realização do bem comum e não da satisfação pessoal.

mais pura e verdadeira atividade filantrópica e que reconheceu na cidadania o mais relevante dos efeitos das atividades manuais. Como dizer que o pensamento do homem rural proporciona não apenas um “saber”, um conhecimento prático, mas o próprio pensamento reflexivo sobre a experiência do “fazer”, algo que tem uma base na experiência física de investigar como um objeto funciona. Nesse sentido, a técnica é a sabedoria do gesto, o reflexo cultural, a memória que reside no músculo. Cultura e Natureza, sem preocupar-se de quem vem antes ou depois. E para que esta sabedoria se torne patrimônio comum, é importante que aconteça num clima de “empatia”, como sugerido pelo sociólogo Richard Sennett, que aos processo de identificação (“simpatia”) prefere os de objetificação (“empatia”), que permitem aos indivíduos prestar atenção ao “outro” em seus próprios termos, favorecendo a cooperação. Sennett, como Sócrates, como Zé, chega à mesma conclusão: um artesão, um agricultor, um vaqueiro, um homem que trabalha com a terra e com a própria habilidade manual é o exemplo do civis, modelo possível de cidadania nos sertões tanto quanto no contexto urbano. Daí, cortar a mandioca, colocar-se numa roda, seguir o ritmo dos outros, é um exercício de cidadania.

De Heliópolis à antiga Grécia o passo não é tão longo, se pensamos no discurso do filósofo Sócrates que definiu na techne do agricultor a

A artista Camila Sposati recebe os convidados Augusto Albuquerque e Gregório Gomes para uma tarde de conversas no Teatro Anatômico da Terra.

Carmen Palumbo Curadora-assistente da 3ª Bienal da Bahia

A mostra Era Uma Vez No Nordeste: do Cangaço ao Western Spaghetti exibe o filme Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry. Foto Reprodução

Através do Cinema Yemanjá, o Cineclube Filhos do Sol, em Heliópolis, exibe o filme Jéssica Cristopherry (Paula Lice, Ronei Jorge e Rodrigo Luna). Foto Reprodução


95º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 31 de agosto de 2014 JORNAL

SISTEMA DE TROCAS Uma parte considerável de nossa moral e de nossa própria vida permanece estacionada nessa mesma atmosfera em que dádiva, obrigação e liberdade se misturam. Felizmente, nem tudo ainda é classificado exclusivamente em termos de compra e venda. As coisas possuem ainda um valor sentimental além de seu valor venal, se é que há valores que sejam apenas desse gênero. Restam ainda pessoas e classes que mantêm ainda os costumes de outrora e quase todos nos curvamos a eles, ao menos em certas épocas do ano ou em certas ocasiões. A dádiva não retribuída ainda torna inferior quem a aceitou, sobretudo quando é recebida sem espírito de reciprocidade. O convite deve ser retribuído, assim como a “cortesia”. Nessa vida à parte que é nossa vida social, nós mesmos não podemos “ficar em dívida”, como ainda costumamos dizer. É preciso retribuir mais do que se recebeu. A “devolução” é sempre maior e mais cara. O convite deve ser feito e deve ser aceito. Temos ainda esse costume, mesmo em nossas corporações liberais. As coisas vendidas têm ainda uma alma, são ainda seguidas pelo antigo proprietário e o seguem. (...) Pode-se mesmo dizer que toda uma parte do direito, direito dos industriais e dos comerciantes, acha-se em conflito com a moral. Os preconceitos econômicos do povo, dos produtores, provêm de sua firme vontade de acompanhar a coisa que eles produziram, e da aguda sensação de que seu trabalho é revendido sem que eles participem do lucro. Em nossos dias, os velhos princípios reagem contra os rigores, as abstrações e as inumanidades de nossos códigos. Desse ponto de vista, pode-se dizer que uma parte de nosso direito em gestação e certos costumes, mais recentes, consistem em voltar atrás. E essa reação contra a insensibilidade romana e saxônica de nosso regime é perfeitamente saudável e forte. Foi preciso um longo tempo para reconhecer a propriedade artística, literária e científica, para além do ato brutal da venda do manuscrito, da primeira máquina ou da obra de arte original. De fato, as sociedades não têm grande interesse em reconhecer aos herdeiros de um autor ou inventor, esse benfeitor humano, mais do que alguns direitos sobre as coisas criadas pelo interessado; proclama-se de bom grado que elas são o produto tanto do espírito coletivo quanto do espírito individual; todos desejam que elas caiam o mais rápido possível no domínio público ou na circulação geral das riquezas. No entanto, o escândalo da valorização de pinturas, esculturas e objetos de arte, ainda em vida dos artistas e de seus herdeiros imediatos, inspirou uma lei francesa, de setembro de 1923, que dá ao artista e a seus herdeiros um direito de sucessão, sobre as valorizações sucessivas nas vendas sucessivas de suas obras. (...) Mas não basta constatar o fato, é preciso deduzir dele uma prática, um preceito de moral. Não basta dizer que o direito está em via de desembaraçar-se de algumas abstrações: distinção do direito real e do direito pessoal; que está em via de acrescentar outros direitos ao direito brutal da venda e do pagamento dos serviços. É preciso dizer que essa revolução é boa. Em primeiro lugar, voltamos, e é preciso voltar, a costumes de “dispêndio nobre”. É preciso que, como em países anglo-saxões, como em muitas outras sociedades contemporâneas, selvagens e altamente civilizadas, os ricos voltem – de maneira livre e também obrigatória – a se considerar como espécies de tesoureiros de seus concidadãos. As civilizações antigas – das quais saíram as nossas – tinham, umas, o jubileu, outras as liturgias, coregias e trierarquias, as sissítuas (banquetes em comum), as despesas obrigatórias do edil e dos cônsules. Teremos que remontar a leis desse gênero. A seguir, é preciso mais preocupação com o indivíduo, sua vida, sua saúde, sua educação – o que é rentável, aliás –, sua família e o futuro desta. É preciso mais boa fé, sensibilidade e generosidade nos contratos de arrendamento de serviços, de locação de imóveis, de venda de gêneros alimentícios necessários. E será preciso que se encontre o meio de limitar os frutos da especulação e da usura. No entanto, é preciso que o indivíduo trabalhe. Ele tem que ser forçado a contar mais consigo do que com os outros. Por

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Luis Berríos-Negrón na segunda edição do Sistema de Trocas na Bienal | Foto Alfredo Mascarenhas

outro lado, é preciso que ele defenda seus interesses, pessoalmente e em grupo. O excesso de generosidade e o comunismo lhe seriam tão prejudiciais, e para a sociedade, quanto o egoísmo de nossos contemporâneos e o individualismo de nossas leis. (...) Assim, pode-se e deve-se voltar ao arcaico, ao elementar; serão redescobertos motivos de vida e de ação que numerosas sociedades e classes ainda conhecem: a alegria de doar em público; o prazer do dispêndio artístico generoso; o da hospitalidade e da festa privada e pública. (...) Com isso se voltará, em nossa opinião, ao fundamento constante do direito, ao princípio mesmo da vida social normal. Convém que o cidadão não seja nem demasiado bom e subjetivo demais, nem demasiado insensível e realista demais. É preciso que ele tenha um senso agudo de si mesmo mas também dos outros, da realidade social (e haverá, nesses fatos de moral, uma outra realidade?). Ele deve agir levando em conta a si, os subgrupos e a sociedade. Essa moral é eterna; é comum às sociedades mais evoluídas, às do futuro próximo, e às sociedades menos educadas que possamos imaginar. Tocamos a pedra fundamental. Nem mesmo falamos mais em termos de direito, falamos de homens e de grupos de homens, porque são eles, é a sociedade, são sentimentos de homens de carne, osso e espírito que agem o tempo todo e agiram em toda parte. (...) Assim, de uma ponta à outra da evolução humana, não há duas sabedorias. Que adotemos então como princípio de nossa vida o que sempre foi um princípio e sempre o será: sair de si, dar, de maneira livre e obrigatória; não há risco de nos enganarmos. Um belo provérbio maori diz: Ko Maru kai atu Ko Maru kai mai ka ngohe ngohe. “Dá tanto quanto tomas, tudo estará muito bem.” Trecho extraído de “Ensaio sobre a dádiva” (1925) de Marcel Mauss, in Sociologia e Antropologia (trad. Paulo Neves). São Paulo: Cosac Naify, 2003.

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Exibição do filme Behind The Invisible (Por detrás do Invisível), de Sylvie Blocher, no MAM-BA. Exibição de O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha, na mostra Era Uma Vez No Nordeste: do Cangaço ao Western Spaghetti, parceria da 3ª Bienal da Bahia com a DIMAS – Diretoria de Audiovisual.

Os artistas Caetano Dias, Eliezer Bezerra e Deusi Magalhães levaram a instalação-performance Acampamento Rabeca ao interior baiano. São seis dias de montagem diária de acampamentos noturnos nas cidades de Juazeiro e Xique-xique. Contação de Histórias com Maju Fiso.

Oficina de Desenho com Olga Gómez. Pinte na Bienal com Maninho Abreu. Retrato no Pátio com Rafael Martins. Tiago Costa é o artista/aluno das Oficinas cujos trabalhos serviram de base para mediação no projeto Mesas.


1 de setembro de 2014

96º

EM SEU AMOR À BAHIA a aposta da exposição – ela tentava abarcar isso menos por meio dos objetos que pelas suas aparências. Suas aparências tinham de ser reveladas, e não apenas terem suas presenças factuais mostradas. Na memória ainda aguda de Bo Bardi, o fascismo italiano havia ao mesmo tempo vampirizado e exorcizado a alma popular. Sob o regime fascista, a produção popular ou artesanal tornou-se “irreversivelmente” transformada em folclore ou kitsch, enquanto a arte popular genuína era definida por sua “reversibilidade perfeita”. Enquanto um objeto kitsch era assim definido como um beco-sem-saída psíquico que dá fim ao desejo humano, a arte popular mantinha a alma alerta e pronta para buscar maneiras novas e transformativas para dar forma ao mundo.

Operários realizam o trabalho de reparo na capela do MAM-BA, um dos espaços da 3ª Bienal | Foto Alfredo Mascarenhas

A exposição Bahia no Ibirapuera, de 1959, concebida por Lina Bo Bardi e Martim Gonçalves, parece, retrospectivamente, como um comentário, se não uma resposta à questão-chave de como o universalismo moderno poderia ser reconciliado com uma agenda local. E, sem querer questionar o gênio de Hélio Oiticica, deve-se lembrar que Bo Bardi foi uma pioneira na estética ambiental anos antes de Oiticica construir seus Penetráveis, os ambientes labirínticos que ele começou a fazer no fim dos anos 1960. A exposição, segundo sua própria definição, trouxe uma visão mais antropológica que estética sobre artefatos populares criados no Nordeste brasileiro – uma região definida pela pobreza, alto índice de analfabetismo e um modo de produção que Bo Bardi caracterizava como “pré-artesanal”. No Nordeste, “objetos de sobrevivência desesperada” eram basicamente feitos de dejetos. Uma seção da exposição era dedicada às fotografias documentais das religiões afro-brasileiras “macumba” e candomblé. As fotos (de Pierre Verger, entre outros) foram informalmente montadas num frágil andaime de madeira – cuja sensibilidade material era mais próxima da consistência de vida retratada nelas do que a auto-segurança institucional de, por exemplo, A Família do Homem, exposição que Edward Steichen organizou no Museu de Arte Moderna de Nova York em 1955. Entre os artefatos havia estatuetas de orixás praticamente em tamanho real; instrumentos musicais; colchas de retalhos feitas de restos de tecidos usados; fifós, lamparinas construídas a partir de garrafas vazias de remédios e pedaços de lata; carrancas de barcos do rio São Francisco; cerâmicas; esteiras; redes; panelas de argila; potes de água, e assim por diante. “Eu poderia dizer que essa exposição revela acima de tudo a força criativa de um povo que não se rende mesmo sob as condições mais severas”, sumariza Jorge Amado em uma resenha escrita na época. O espaço aberto no parque do Ibirapuera,

ao lado do pavilhão da Bienal, foi estruturado primordialmente por um sistema de paredes soltas, a maioria delas elevadas em pedestais na forma de cubos brancos. Essas paredes razoavelmente compactas proporcionaram um suporte visivelmente sólido para os objetos artesanais – que eram, em suma, rudes, miúdos e frágeis. Enquanto as paredes elevadas eram coloridas em diferentes tons, uma em particular estava folheada em ouro como se para espelhar o esplendor espiritual da escultura religiosa exposta em frente a ela. Os ex-votos, por outro lado, estavam fixados diretamente sobre uma parede de tijolo caiada. Ao sugerir uma analogia entre a nudez da parede e a madeira crua daquelas esculturas, o lixo que elas encarnam é transformado em uma expressão quase heroica: incorpora a resistência contra o desencantamento do mundo. Os cubos brancos encontravam-se espalhados por todo o espaço, servindo para objetos de maior tamanho, as carrancas e orixás, como pedestais. Algumas árvores artificiais foram plantadas aqui e ali, uma adornada com cata-ventos, enquanto um andar inteiro estava coberto de folhas de pitanga. Ao fundo, antes da fileira de orixás, uma enorme cortina fechava a exposição. Esse dispositivo, reminiscente de estratégias expositivas praticadas por Lily Reich nos anos 1920 e 1930, dava ao espaço um ar de privacidade enquanto simultaneamente reforçava seu décor altamente teatral. Em suma, a linguagem expositiva falava muitas línguas diferentes e assim provocava uma multiplicidade de registros perceptivos. Ela não falava tanto sobre os objetos, mas a partir deles. O verdadeiro tema da exposição não era de fato a forma artística nem a antropologia; era, como sugeria o próprio título, o espírito de um lugar e sua possível transposição. Em seu amor pela Bahia, Bo Bardi escolheu um termo ainda mais enfático para essa entidade imaterial do que “espírito de um lugar”. Ela chamava isso de “alma popular”, e – aí estava

Exibição do filme Os Residentes (Tiago Mata Machado) no Cineclube Vila, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá.

O terceiro círculo do projeto Iluminai os Terreiros, de Nuno Ramos, é montado na Praia de Jaburu, na Ilha de Itaparica. Postes foram acesos do anoitecer ao amanhecer.

A mostra Era Uma Vez No Nordeste: do Cangaço ao Western Spaghetti exibe Mátalo!, de Cesare Canevari. Foto Alfredo Mascarenhas

A exposição Bahia tinha que lutar contra dois inimigos. Um era o folclore. O outro era a ingenuidade do design utópico que havia se tornado dominante no Brasil nos anos 1950 e o que ele representava: a fantasia espúria onde um país subdesenvolvido com estruturas feudais poderia ser transformado numa sociedade industrial da noite para o dia. Apresentar a alma popular em ação ou revelar a reversibilidade da arte popular clamava por uma forma particular de display no qual o caráter essencialmente transicional de um objeto seria exibido. O objetivo foi alcançado por meio de uma operação dupla. No plano antropológico, os objetos eram ligados a religiões ou práticas de trabalho específicas. As fotografias de Pierre Verger, por exemplo, demonstravam o seu uso ritualístico. Entretanto, os objetos também desfilavam como se estivessem em excesso de si mesmos, ou talvez como se transcendendo qualquer quadro conceitual que os fixasse e garantisse seus significados. Isso foi conseguido por meio do deslocamento deles para um ambiente deliberadamente artificial que destacava sua profunda estranheza. Essa qualidade particular teve de ser emprestada ou mesmo extraída da reivindicação da arte moderna por autonomia – uma exigência que era excessivamente reiterada, e mesmo propagada na Bienal ali ao lado. A alma popular era, acima de tudo, volátil. Ou, como dizia Bo Bardi: “para buscar cuidadosamente as bases culturais de um país (qualquer que seja: pobre, miserável, popular) quando elas são reais, não significa preservar as formas e materiais, significa sim avaliar as possibilidades criativas originais”. A versão integral deste texto foi originalmente publicada pelo autor na revista Afterall (Reino Unido) em 2011.

Roger M. Buergel é curador, critico e atualmente ocupa a posição de diretor do Johann Jacobs Museum, em Zurique. Entre seus diversos projetos expositivos e pesquisas, Buergel tem tocado nos limites impostos pelo sistema de arte a partir de sua lógica econômica, histórica e política, evidenciando o regime Foto Reprodução de paradoxos e contradições que o sustentam, como na Documenta 12, curada em companhia de Ruth Noack. Integrou o Campo Gravitacional Crítico, dispositivo de trabalho criado pela 3ª Bienal da Bahia, e apresentou um de seus projetos artísticos no núcleo dedicado ao manifesto do Naturalismo Integral.

Mais uma edição do Conversando com a sua História, com o tema Tecendo histórias entre papéis, fotografias e itens museais com mediação de Jamile Borges.

A oficina Tudo com Dicinho é iniciada. Hoje, o artista mostra como fazer a copageti, material desenvolvido por ele.

Foto Gillian Villa


97º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 2 de setembro de 2014 JORNAL

OFICINAS DO MAM: FAZ AQUI, FAZ AGORA FELIX TORO Coordenador das Oficinas da 3ª Bienal da Bahia

Criadas em 1980, na gestão de Chico Liberato, as Oficinas do MAM-BA foram idealizadas por Juarez Paraíso, retomando parte do projeto original do MAM-BA, tal qual pensado por Lina Bo Bardi, que concebia o MAM-BA como um museu-escola. Partindo da concepção de que o Museu deve ser um espaço de formação, aberto ao público, e ativamente presente na vida da cidade e do estado, há 34 anos as Oficinas do MAM-BA funcionam como ateliê aberto e oferecem cursos gratuitos em diversas linguagens artísticas. As Oficinas do MAM-BA atuaram na Bienal como espaço de produção, local de ensino e objeto de mediação, com foco nos processos artísticos e na história das próprias Oficinas. As oficinas da 3ª Bienal da Bahia foram as seguintes:

OFICINAS PERMANENTES

sor Renato Fonseca: alunos e artistas se reuniram duas vezes por semana nas Oficinas do MAM-BA para produzir e desenvolver pesquisas individuais.

Com até 4h de duração, essas oficinas ocorreram semanalmente, constantemente convidando o público espontâneo a participar.

Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins

- Oficina de Desenho, professora Olga Gómez: sempre aos domingos, trabalhou principalmente a partir de formas geométricas para então elaborar o desenho de observação. Diversos alunos vieram todas as semanas, fazendo com que as edições da oficina tivessem um grupo de alunos constante trabalhando junto com iniciantes e público espontâneo.

Foto Rafael Martins

- Oficina de Jardinagem, professor Cláudio Pinheiro: Cláudio Pinheiro é jardineiro do MAM-BA e ministrou essa oficina recebendo principalmente grupos de escolas. Nestas, trabalhou-se transplante, plantio de sementes e cuidados específicos para cada planta, em edições que tiveram temas como alimentos, flores, plantas de força e chás. Um dos participantes mais assíduos chegou a iniciar um trabalho de jardinagem na ong na qual trabalha em função das aulas.

Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins

- Oficina de Pintura, professor Rener Rama: As aulas, inicialmente pensadas para o público adulto, logo receberam grupos de escolas interessados em fazer a oficina. Todas as quintas-feiras, durante toda a Bienal, os encontros começavam com uma introdução teórica seguida de elaboração prática, primeiro individual e depois coletiva.

GRUPOS DE PESQUISA

- Oficina de Colagem, com Janete Kislansky: a artista ministrou uma oficina de colagem para crianças. Com materiais simples, tais quais papel, cola e tesoura, a oficina introduziu tanto aspectos práticos de como transformar esses elementos, como possibilidades teóricas e soluções para as colagens. - Ateliê Livre, com Lauren Selden: a artista, professora associada da Sthephen F. Austin State University (EUA), construiu uma obra inflável no Pátio Flamboyant do MAM-BA. A artista e sua equipe – Jaime Heredía, Robert Z. Selden Jr. e Rosy Klueger – participaram do Ateliê Livre das Oficinas do MAM-BA, projeto que recebe artistas para desenvolver suas obras no museu.

PROGRAMAÇÃO EDUCATIVA SEMANAL

Professores das Oficinas do MAM -BA reuniram grupos de alunos e artistas para desenvolver processos artísticos, produzindo trabalhos em encontros semanais durante toda a Bienal.

Além das oficinas, havia também diversas propostas que aconteciam semanalmente durante a Bienal. - Retrato no Pátio, com o fotógrafo Rafael Martins: aos

- Grupo de Pesquisa em Litografia, orientado pelo profesFoto Rafael Martins

D O

- Grupo de Pesquisa em Cerâmica – Miniaturas de Arte Popular, orientado pela professora Marlice Almeida: alunos desenvolveram trabalhos em cerâmica nas Oficinas do MAM-BA articulando miniaturas de formas tradicionais da cerâmica baiana e formas geométricas puras a partir de moldes.

ATIVIDADES DE UM SÓ DIA

Foto Rafael Martins

L I N H A

- Grupo de Pesquisa em Gravura em Metal, orientado pelo professor Evandro Sybine: aos sábados, o grupo se reunia para sessões de experimentação e produção.

Foto Rafael Martins

T E M P O Hoje a mostra Era Uma Vez No Nordeste: do Cangaço ao Western Spaghetti exibe Deadlock, de Roland Klick e Lampião, o rei do Cangaço, de Benjamin Abrahão.

Foto Reprodução

Grupo de Pesquisa em Litografia com Renato Fonseca.

Foto Rafael Martins

Oficina Cadastro com tema Origami é ministrada por Daiane Troesch.

Foto Rafael Martins


3 de setembro de 2014

domingos, pouco antes do pôr-do-sol, era montado um estúdio a céu aberto no Pátio Unhão do MAM-BA, onde o público que vinha prestigiar a vista era convidado a ter um retrato seu tirado, que depois era disponibilizado na página da Bienal. A ideia surgiu a partir do número de pessoas que vinham ao museu para ver o pôr-do-sol e tirar fotografias de si próprios com a vista ao fundo, como forma de integrar esse hábito ao restante da programação da Bienal.

Foto Rafael Martins

queimadas, tornando-se placas cerâmicas e irão compor um painel coletivo.

Foto Rafael Martins

- Pinte na Bienal, com Maninho Abreu: o artista, que já realizava o Pinte no MAM, organizou a cada domingo a atividade de pintura livre que recebeu principalmente o público infantil no Pátio Flamboyant do museu.

ATIVIDADES PROPOSTAS POR MEDIADORES DAS OFICINAS DO MAM-BA NA BIENAL

Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins

- Contação de Histórias, com Maju Fiso: todos os domingos, a mediadora Maju Fiso realizou a contação, principalmente com o público infantil, no Pátio Flamboyant. - Oficina de Linogravura, com Jaison Santos: mediador e artista, Jaison Santos ministrou oficina de edição única de linogravura, técnica semelhante à xilogravura. A atividade teve participação de um grupo escolar e aconteceu nas Oficinas do MAM-BA.

Foto Rafael Martins

Foto Rafael Martins

- Cadastro, com ministrantes variados: convidando o público a trocar saberes, a Oficina Cadastro ocorreu ao longo da Bienal trazendo diversos temas, não importando o quão inusitados. Peteca, meditação, defumação e costura foram alguns dos assuntos propostos pelo público que se inscreveu para ministrar as várias edições da Cadastro. Cada edição trouxe uma situação única, com um público e ambiente diferentes. - Semana de Arte em Série, com o professor Evandro Sybine e artistas-professores convidados: ao longo de sete dias, antigos professores de gravura das Oficinas do MAM-BA voltaram ao espaço para conversar com o público e trabalhar junto ao grupo de alunos de gravura atual. A Semana de Arte em Série foi uma forma de criar uma situação na qual o público teve contato com artistas importantes para a história da gravura na Bahia, assim como conhecer o espaço e a história das Oficinas do MAM-BA. Os convidados foram Yêdamaria, Terezinha Dumet, Michael Walker, Antonello L’Abbate, Márcia Magno, Eneida Sanches e Juarez Paraíso.

ITINERÂNCIAS Algumas oficinas da Bienal viajaram por Salvador e pelo interior do Estado, expandindo o espaço de trabalho das Oficinas do MAM-BA e propondo situações novas em contextos diversos. A dinâmica dessas oficinas era montar a estrutura básica e convidar as pessoas do entorno a participar.

- Mesas, proposta de Leandro Estevam e Tiago Costa: estratégia de mediação desenvolvida por estes dois artistas e mediadores da 3ª Bienal. A cada semana uma mesa era organizada com trabalhos, instrumentos e matrizes de um aluno das oficinas, o que servia como material para falar sobre produção e a história das Oficinas do MAM-BA.

Foto Rafael Martins

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL

- Ação Mural Aberto, com a professora Hilda Salomão: realizou uma proposta de trabalho criativo sobre placas cerâmicas e aconteceu na Rodoviária de Salvador, na Ladeira da Preguiça, no CUCA (Feira de Santana) e na Biblioteca Pública dos Barris. Os públicos e experiências foram bastante variados, o que se refletiu nas peças produzidas que compõem o painel coletivo resultado da ação. - Oficina de Desenho, com a professora Olga Gómez: a oficina viajou pelo Acervo da Laje em Plataforma, o Museu Náutico no Farol da Barra, e o Campo Grande, durante a Feira de Livros da Fundação Pedro Calmon. Cada itinerância constituiu uma experiência diversa.

- Ação Mural Aberto, com Hilda Salomão: a ceramista e professora ministrou oficinas no MAM-BA e em itinerâncias por diversos espaços públicos. Nessas oficinas, o público espontâneo aprendeu a abrir placas de argila e fez trabalhos com tema livre sobre as mesmas. Posteriormente essas placas foram Foto Gillian Villa

Foto Rafael Martins

Exibição do filme O quadro (Jean-François Laguionie) no Cineclube Imagens Itinerantes, em Salvador, pelo Cinema Yemanjá. Visita guiada de apresentação das plantas do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.

98º

Acontece a Oficina de Colagem ministrada por Janete Kislansky. A atividade teve dois momentos, um de produção individual e outro de produção coletiva.

Na oficina Tudo com Dicinho, o artista mostra como fazer a copageti. Foto Gillian Villa

Foto Rafael Martins

Instalação-performance Acampamento Rabeca continua no interior baiano. Encerramento das Oficinas de Jardinagem com Cláudio Pinheiro.


99º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 4 de setembro de 2014 JORNAL

Foto Alfredo Mascarenhas

XADREZ 3º MILÊNIO Acontece de 4 a 7 de setembro a primeira edição do Xadrez Terceiro Milênio, extensão da exposição Gênesis | Apocalipse | Ressurreição de Rogério Duarte. A programação começa com a Mesa Redonda O Xadrez Além do Xadrez, na quinta-feira, e continua até domingo com o torneio que reúne mestres enxadristas nacionais e internacionais, além de partidas simultâneas às cegas e do workshop O xadrez e a auto-realização, com o Mestre Internacional Christian Toth.

Foto Alfredo Mascarenhas

D O

A FANTÁSTICA INSPIRAÇÃO Fiel aos propósitos de identificação com a sociedade baiana, a OSBA não poderia deixar de participar da 3ª Bienal da Bahia. Tal participação foi construída desde 2013 através de reuniões entre as equipes da orquestra e do MAM-BA. Nelas se definiu que as primeiras inserções seriam focadas no caráter lúdico do evento, surgindo desta forma o SARAU OSBANOMAM, que proporcionou ao público uma forma única de interação com a música de concerto. Ao misturar música com poesia, dança, contos, dicas culturais e toda e qualquer manifestação elevada de arte, o ouvinte naturalmente abre seus canais para os mais diversos estímulos sensoriais, tornando a música de concerto como algo leve, divertido e desprovido do peso dos séculos que naturalmente carrega nas costas. A fantástica interação experimentada também proporcionou uma troca benéfica, onde público e orquestra formaram um só universo, indivisível, tal qual uma celebração. Os SARAUS, inserção da OSBA no MAM-BA, foram a preparação para o grand finale: a inserção do MAM-BA no Teatro Castro Alves, a casa da OSBA. O 2º concerto da série Jorge Amado foi inteiramente pensado como parte integrante dos festejos da 3ª Bienal da Bahia. No programa, estavam propostos - em forma de música - alguns dos mais importantes itens da Bienal. Seu título em forma de pergunta: É Tudo Nordeste? se fez representar na música de Ernst Widmer: Sinfonia OP.139 Do médio São Francisco. O suíço-brasileiro traduziu todas as cores do elemento sertanejo para a linguagem da música de concerto e o resultado se fez presente no público de forma única, gerando imediata identificação. Já o francês Olivier Messiaen, com sua obra L’Ascencion, nos remeteu ao elemento místico e oriental. Sua música foi precedida pela oração à Santa Rita de Cássia de Yves Klein, que teve sua tinta azul recriada e deixada à mostra frente à orquestra. A 3a Bienal da Bahia deixará uma profunda e indelével marca na história da OSBA, organismo que vivenciou de maneira intensa e edificante cada uma de suas provocações.

A Galeria Esteio encerra suas atividades com o lançamento do catálogo Esteio, que reúne registros de todo o processo, incluindo ocupações, colaborações e encontros promovidos no espaço. A comemoração conta com a presença do Samba de Roda de Massarandupió.

L I N H A

O IKB, de Yves Klein, apresentado ao público durante concerto de encerramento da 3a Bienal da Bahia | Foto Alfredo Mascarenhas

Salvador, 14 de outubro. Carlos Prazeres Diretor Artístico e Maestro da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA)

T E M P O

Exibição dos filmes Doméstica (Gabriel Mascaro) e Caixa d’Água: Qui-Lombo é Esse? (Everlane Moraes Santos) no Cineclube Filhos do Sol, em Heliópolis, pelo Cinema Yemanjá.

Como Preservar Alimentos sem Geladeira foi o tema da Oficina Cadastro. Tio Juca, ex-professor de Veterinária na UFBA e ex-diretor do Zoológico de Salvador ensinou os participantes a salgar carnes, montar um defumador e defumar peixes e carnes.

A mesa-redondaO xadrez além do xadrez abre o I Festival de Xadrez do Terceiro Millênio. A ação é uma extensão da exposição Gênesis | Apocalipse | Ressurreição, de Rogério Duarte. Exibição do filme A idade da Terra, de Glauber Rocha, no casarão do Museu de Arte Moderna, como parte da exposição de Rogério Duarte. Encerramento da Oficina de Pintura com Rener Rama.

Foto Alfredo Mascarenhas


5 de setembro de 2014

100º

DIREITO AO FUNERAL

PAULO NAZARETH Integrou o grupo de artistas participantes da 3ª Bienal da Bahia

DA ORIGEM Meu nome, Nazareth. Eu sou Paulo da Silva. Nazareth é minha avó, a mãe de minha mãe. Nazareth de Jesus, borun do Vale do Atu, do Rio Doce. A história dos boruns, que hoje são conhecidos como crenaques (krenaks), é uma história longa. O que eu venho fazendo é buscar um pouco da minha história, que se conecta com a história de muitas outras gentes. Uma história de pessoas esquecidas, anônimas. É um pouco isso. Paulo da Silva como muitos “da Silva”, da selva, kaiowá. DO RITUAL Hoje, o que vai acontecer é um pouco do encontro com esses espíritos, esses eguns, essas almas de aflitos que estão aí e é algo suave, uma conversa, um diálogo, um encontro. É o que eu venho fazendo: uma aproximação, que às vezes é pelo silêncio. Que às vezes eu procuro com os vivos, com outras culturas, outras etnias; essa aproximação pode se dar também com outras vidas e outros lugares e o que vem acontecendo, assim, ao longo do meu trabalho e que se intensificou agora, aqui, nessa visita à Bahia. Durante o tempo que passo aqui, penso no rompimento dessas fronteiras de cidade, fronteiras étnicas, fronteiras oficiais de um estado para o outro, de uma região para outra. Dizer que alguém é do sudeste e outro é do nordeste, baiano, mineiro... Cria-se uma rixa que não deveria existir. Uma rixa regional, de estado, que traduz o preconceito que existe nesses lugares, o preconceito que existe em São Paulo, “a cidade”, a meca econômica, a meca do capitalismo sul-americano. A gente tem na cidade de São Paulo o Memorial do Imigrante, mas não existe ainda o memorial do migrante periférico, do migrante de outros centros, do migrante nordestino, do norte, do paraguaio, boliviano. Esse projeto se chama Direito ao Funeral. É justamente pensar nesses corpos, nessas pessoas que são tratadas como objetos. É uma objetificação pejorativa, porque existem objetos que são sagrados e se elevam, saem da condição de objeto e são personificados e respeitados. E o que acontece com esses corpos que são objetificados é que eles perdem a condição de sujeito para se tornar um objeto de descarte, mas, ao mesmo tempo, é um descarte que se encontra em um limbo, porque são corpos humanos e corpos não podem ser descartados de qualquer maneira, mas também não recebem o seu direito ao funeral. Funerais existem dos mais diversos tipos, mas onde existe esse sagrado, [os corpos] recebem o direito à passagem de um lugar para o outro, entre o que é vivo e morto, e que segue. São desconhecidos e eu fico pensando nessa relação que existe com os monumentos aos soldados desconhecidos. Mas não existe, pelo menos aqui, esse monumento aos corpos, às vítimas desconhecidas, aos assassinados desconhecidos. Em princípio, o projeto seguia por um outro caminho, mas o que acontece é que os espíritos deram um outro jeito. Eles mandaram a coisa seguir por outro caminho, que é esse caminho legal, então é um processo, uma ação junto ao Ministério Público para que esses corpos

Encerramento da oficina Tudo com Dicinho com Almoço Relacional onde o artista prepara itens da culinária macrobiótica. Foto Gillian Villa

tenham seu direito ao funeral. Temos de cobrar esse direito por nós, que somos esquecidos, marginalizados, mas que são as pessoas que constroem isso que chamamos de país, República Federativa do Brasil. Nós, artistas, não temos muito conhecimento de quais são os caminhos. O primeiro passo é consultar um advogado e estamos ainda no início. O desejo é seguir os mesmos passos, o mesmo processo jurídico da família de Corisco, Dadá, Lampião, que conseguiu resgatar as cabeças e o direito de enterrá-las. Talvez tenha uma diferença aí, que Lampião não tinha como negar a história dele, porque estava aí presente e gritava o tempo todo. Mas são muitos os esquecidos, aqui existem dois corpos que foram embalsamados e dizem apenas que são “uma indígena e um caboclo”. Isso é generalizar um grande número de culturas, de povos, de etnias, uma diversidade gigantesca que existe, ainda, nesse país. Nós temos quase 200 línguas vivas, originárias dessas terras aqui. Quando se pergunta a alguém quantas línguas se falam no Brasil, se fala “é o português”. São pessoas, identidades, povos, etnias que são esquecidas, até mesmo vivos, e são apagados. Então se fala “é um índio”, mas isso é muito genérico, “ser índio”. É até pejorativo. Usa-se muito “índio” para xingar, falar de “programa de índio”... ou xingar alguém de “índio”, que não está se comportando adequadamente a um espaço. Nós temos contato com os kaiowás, ianomâmis (yanomamis), que são completamente diferentes. E isso se junta com [a história dos] crenaques. No princípio do século passado (XX), o antigo SPI (Serviço de Proteção Indígena), criado por Cândido Rondon naquela marcha para o oeste, demarcou reservas indígenas que eram praticamente campos de concentração. As terras foram consideradas devolutas, mesmo com pessoas morando nesses lugares, e foram criando reservas: “você só pode ficar aqui, neste lugar, na sua reserva, não pode sair”. Até então essas pessoas eram livres para circular de um lado para o outro, transitavam entre Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, e tinham um grande território até São Paulo e sul do Brasil. Falavam “ah, essas pessoas não têm direito a terra, porque são nômades”. Essas pessoas transitam em suas terras. É como dizer que eu não tenho direito à propriedade, porque viajo para São Paulo, transito. Isso é um absurdo. A questão nômade é uma questão de trânsito. Eles não são povos sedentários, eles circulavam e circulam ainda no território que eles ocupavam, que pertencem a eles e ao qual eles pertencem. Para os kaiowás, não se separa a terra da pessoa, estão juntos, são parentes. Então, o transitar ali, o andar... ele está em casa sempre. Ele não deixa de fazer parte desta terra por estar na aldeia vizinha, no tekoha, como se diz... “a terra sagrada”. Não se fala “aldeia”, mas tekoha, o lugar onde se é o que é. O lugar onde se é, segundo os costumes de sempre, dos ancestrais, onde se é como sempre foi.

Segundo dia do I Festival de Xadrez do Terceiro Millênio apresenta o worskhop com (MI) Christian Toth: O xadrez e a auto-realização.

Reza -

encerramento da exposição Arquivo e Ficção | Fotos Isbela Trigo

Foto Ayrson Heráclito

A intervenção Entre Nós se utiliza da cerimônia do jantar como dispositivo discursivo e imagético e convida cinco moradores em situação de rua para comer, beber e conversar. O objetivo do encontro, realizado no Largo dos Aflitos, é estimular a reflexão sobre os direitos humanos e a ocupação dos espaços públicos como exercício de cidadania, além de reivindicar o direito à cidade e aos espaços como lugar de encontro e convivência.

Oficina de Turbantes acontece em meio à exposição Arquivo e Ficção no Arquivo Público do Estado da Bahia.

Pedro Marighella lança o livro Ensaio Pagodão. A publicação reúne as experiências dos dois meses de projeto. Foto Tatiana Golsman

Grupo de Pesquisa em Cerâmica - Miniatura de Arte Popular com Marlice Almeida. Calma é o tema da última Oficina Cadastro, ministrada por Lina Pedreira.


101º

JORNAL DOS DOS 100 100 DIAS DIAS / / 6 de setembro de 2014 JORNAL

Instalação Casa de caboclo, de Arthur Scovino | Foto Pedro Ivo Trasferetti - Fundação Bienal de São Paulo

BAHIA NO IBIRAPUERA De que maneira seu projeto se aproxima de Bahia no Ibirapuera, realizado por Lina Bo em 1959, durante a 5ª Bienal de São Paulo? Arthur Scovino - Minha percepção do mundo mudou em 2001, quando pisei pela primeira vez na Lagoa do Abaeté. Foi minha primeira experiência espiritual e de profunda relação com um lugar, uma cidade. Escolhi essa cidade para viver há sete anos e tudo que penso e faço parte de Salvador e das coisas da Bahia. Acredito que Lina pensou em levar esse arrebatamento ao Bahia no Ibirapuera. Lá estavam as coisas efêmeras da vida e da arte na Bahia. Os objetos de arte que promoviam relações com as pessoas, a relação do homem com a natureza e a energia que vem dela. Nesse projeto eu trago o espírito de tudo isso. Trago minhas referências, as ervas, os cheiros, objetos de performances de artistas e amigos, a Escola de Belas Artes, o Solar do Unhão, a Bienal da Bahia. É uma conversa universal, mas que parte dali, dos Aflitos, do Terreiro de Jesus e de todos os Caboclos.

Foto Alfredo Mascarenhas

Curumins & Cunhantãns | Foto Reprodução

De que modo essa mudança de perspectiva (de Salvador para São Paulo) afeta o projeto Casa de Caboclo?

O sótão do Palacete das Artes recebe Hipernatureza, uma sessão de documentários da cineasta Regina Jehá. A ação faz parte da exposição Museu Imaginário do Nordeste | Departamento da Viagem sem Fim | Seção: Naturalismo Integral, que ocupa todo o casarão. Curumins & Cunhantãs (1981), Pantanal, a última fronteira (1983), Catehe (1994) e Bootstrap (2005) são as obras que integram a sessão.

L I N H A

D O

Arthur - Desde que comecei a participar de mostras e exposições, estive presente não importa se em performance ou pintura. Na Bahia já estava acostumado com as pessoas. As relações com o público nasceram de minha experiência com as pessoas e a cidade. Agora experimento esse trabalho pela primeira vez fora da Bahia. Independentemente do contexto, da importância de São Paulo e da Bienal, estou concentrado nisso. Estou ainda no primeiro mês de processo, de encontros, e já sinto as

Você acredita que essa passagem, de uma cidade a outra, implica em uma reencenação da Casa de Caboclo? Como ela é a mesma, e ainda diferente, nessa passagem de um lugar a outro? Arthur - A casa do Caboclo (dos Aflitos) é na Bahia. Esse título, Casa de Caboclo, é uma metáfora para conduzir o trabalho e enfatizar a presença do Caboclo ali. Na verdade são vários Caboclos. Foi pensando nesse momento em que eu saio da Bahia com esse projeto que pensei em juntar as referências da casa da minha infância no Rio de Janeiro com a casa onde moro nos Aflitos. Os objetos, as coisas que mudam de lugar e que estão expostas e transformadas a cada dia. Penso em nossos ancestrais, na história da independência da Bahia e do Brasil, em nossa vida atual marcada por essas crenças e sentimentos influenciados por esse espírito que vem da floresta se comunicar com os homens da cidade. Por estar fora da Bahia, criei uma instalação com vários símbolos e objetos que acionam essas histórias e sensações em forma de encontros, rituais, performances. A Casa de Caboclo é uma obra que pode ser apresentada em qualquer lugar do mundo onde seja interessante discutir a história da mestiçagem, fé e cultura brasileira com seus conflitos e suas delícias.

T E M P O

Exibição dos filmes Doméstica (Gabriel Mascaro) e Caixa d’Água: Qui-Lombo é Esse? (Everlane Moraes Santos) no Cineclube Filhos do Sol, em Heliópolis, pelo Cinema Yemanjá. Foto Reprodução

transformações. São Paulo tem uma visão ampla do conceito de brasilidade e o nordeste está longe e perto ao mesmo tempo. É o que consigo dizer por enquanto. Lá no Abaeté eu agradeci e pedi licença para trazer o Caboclo dos Aflitos para São Paulo. Percebi aqui que a essência desse trabalho está em harmonia com os desejos e anseios universais e não somente com a Bahia. Ela é o ponto de partida.

Os artistas Caetano Dias, Eliezer Bezerra e Deusi Magalhães retornam a Salvador após seis dias de montagem diária de acampamentos noturnos nas cidades de Juazeiro e Xique-xique no projeto Acampamento Rabeca.

Acontece a Oficina de Pontinhoterapia com Ivana Magalhães no Acervo da Laje.

O I Festival de Xadrez do Terceiro Millênio continua no Colégio Sartre COC com as semifinais do Torneio de Xadrez. Foto José Eduardo Ferreira


7 de setembro de 2014

102º

EM PAZ COM O PRESENTE

Foto Gillian Villa

Foto Gillian Villa

Foto Gillian Villa

Foto Gillian Villa

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Alfredo Mascarenhas

Foto Lara Carvalho

Krikor Sevag Mekhitarian (Grande Mestre) vence o último torneio do I Festival de Xadrez do Terceiro Millênio e encerra o campeonato. Foto Alfredo Mascarenhas

Última edição da Oficina de Desenho, ministrada pela Professora Olga Gómez. Foto Rafael Martins

Encerramento do Pinte na Bienal, com Maninho Abreu. Jaison Santos é o artista/aluno das Oficinas cujos trabalhos servem de base para mediação no projeto Mesas, realizado pelos mediadores das Oficinas do MAM na Bienal, Leandro Estevam e Tiago Costa.


JORNAL DOS 100 DIAS

Jango - Uma Tragedya, espetáculo realizado por Márcio Meirelles, com texto de Glauber Rocha, integra a programação da Bienal.


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

Foto Leonardo Pastor


JORNAL DOS 100 DIAS

PROJETO CURATORIAL

É tudo Nordeste?

Imateriais

Formas de orientalismo Áfricas

Museológica

Particulares

Alta intensidade

Brincantes Tropicalidades

Relacionais

Climáticas

Naturalismo integral

Noturna

Psicologia do testemunho

Gêneros

Reencenação


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

I - INTRODUÇÃO Essa proposta curatorial visa estabelecer um programa formal de ações para a realização da 3ª Bienal da Bahia a partir de seu eixo temático, ações educativas, política de publicações e experiências artísticas de caráter expositivo, performático e imaterial. Como uma exibição panorâmica, articula-se por um sistema formado pela crítica, informação e documentação. Esse conjunto de ações deve promover diferentes leituras e aproximações, trabalhando, ampliando e problematizando questões que acompanham o tema central, se realizando por meio de intervenções artísticas autônomas em contato permanente com ideias e experiências do campo social. O programa proposto por esse projeto curatorial visa estabelecer zonas de trabalho de caráter transversal, absorvendo – quando isso atender necessidades do programa – diferentes linguagens de expressão artística, orientadas a partir das perspectivas das artes visuais, sua história e seus limites na narrativa local, brasileira e universal.

II – PREMISSAS A criação de projetos expositivos em grande escala está historicamente ligada ao contexto social e político da Europa no final do século 19, e em sua origem reside fortemente (e de modo determinante) a experiência colonial e colonialista do continente, com suas “Feiras Mundiais” que pretendiam oferecer por meio de uma exposição a “condensação do mundo”1. Quando a primeira Bienal da história (Bienal de Veneza) surge em 1895, o projeto tem como função oferecer um painel não apenas artístico. Entre suas missões estava a de evidenciar a capacidade da indústria italiana, exibindo as chamadas artes decorativas, que têm então uma forte presença. Em 1907, Veneza se torna internacional, mantendo a perspectiva europeia dos desenvolvimentos artísticos. Com o fascismo italiano das décadas de 1920 e 1930, outras linguagens são incorporadas, como o teatro, o cinema e a música – via festivais paralelos. O desenvolvimento da Bienal de Veneza é decisivamente marcado por uma particularidade italiana: o fato desse movimento político ter fomentado sua própria vanguarda artística, o Futurismo, enquanto que na Alemanha nazista houve uma repressão às vanguardas europeias, tidas então como uma degeneração do período clássico. De todo modo, é a partir de Veneza, da experiência italiana, que “Bienal” se torna um conceito que envolve um ambicioso mapeamento da produção artística em escala mundial. Hoje há cerca de 300 Bienais no mundo, grande parte desses projetos surgidos na virada do milênio, no período de expansão planetária (graças ao desenvolvimento das novas tecnologias digitais) da informação e dos mercados; o fenômeno da globalização. Para muitas nações, cidades ou regiões, as bienais – o termo bienal, quando não há definição de linguagem prévia, historicamente se aplica implicitamente às artes visuais – têm servido como um dos mais rápidos meios para a inserção no circuito crítico, político, artístico e mesmo turístico global. No Brasil existem hoje diferentes ações de caráter expositivo que usam o termo “bienal”, mas apenas dois projetos de Bienais têm conseguido uma real articulação com o sistema da arte nacional e internacional: a Bienal de São Paulo, a segunda mais antiga no mundo (criada em 1951), e a Bienal do Mercosul (estabelecida em 1997). Mas, esse clássico histórico, essa tentativa de uma genealogia das Bienais (e por consequência de projetos de caráter expositivo em grande escala), esconde uma outra narrativa, menos oficial. Se o modelo criado em Veneza materializa um mergulho na história da arte moderna, ele passa a ser descontruído por Havana em 1984. Cuba, ao criar uma “Bienal do Terceiro Mundo”, coloca em evidência não apenas uma produção ignorada pelos eventos europeus ou norte-americanos. As bienais de Havana passam a apresentar ainda outras e diferentes narrativas face àquelas oficialmente constitutivas da história e dos mercados da arte, situando-se então como um modelo definitivo para as

(1) Sloterdijk, Peter. Im weltinnenraum des kapitals (O Grande Interior do Capitalismo). Suhrkamp, Berlin. 2005.

bienais da e para a arte contemporânea. Sob essa perspectiva, os projetos da bienais da Bahia de 1966 e 1968 se aproximam de Havana do mesmo modo que a Bienal de São Paulo tem origem a partir da experiência italiana.

III – BIENAL DA BAHIA (ESTRATÉGIAS E FUNÇÕES) “Em 1951, no texto de abertura do catálogo da I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Lourival Gomes Machado, Diretor Artístico do museu, escrevia: ‘Por sua própria definição, a Bienal deveria cumprir duas tarefas principais: colocar a arte moderna do Brasil, não em simples confronto, mas em vivo contato com a arte do mundo, ao mesmo tempo em que, para São Paulo, se buscaria conquistar a posição de centro artístico mundial’. O tom otimista, a retórica cheia de esperanças, o engajamento e o compromisso com um tempo de reconstrução do mundo depois dos terríveis episódios da II Guerra Mundial soam hoje como uma profecia, o lançamento de uma utopia que cinquenta e oito anos depois parece ter constituído o seu lugar: São Paulo converteu-se sim num centro artístico internacional, uma cidade cosmopolita, uma referência na cena artística globalizada, enquanto o Brasil tornou-se um ponto de atração para artistas, curadores, galeristas, colecionadores internacionais, e artistas brasileiros consolidaram presenças sólidas no debate sobre a produção de visualidade contemporânea. Está claro, portanto, que aqueles objetivos foram alcançados, a tarefa a que ela se propunha em 1951 parece estar terminada.”2 O trecho acima integra o texto da proposta curatorial da 28a Bienal de São Paulo – Em Vivo Contato (2008), que procurou pensar a própria história das bienais e das bienais paulistas, considerando os limites do projeto lançado nos anos 1950; esse discurso serve como breve contextualização das intenções e desejos materializados às vésperas do período de modernização brasileira, que encontraria seu apogeu no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com a construção de Brasília. Essa contextualização serve ainda para criar uma via de entendimento das Bienais da Bahia como um campo de contra-discurso: isto é, se a Bienal de São Paulo se coloca em sua origem como receptora de um “centro internacional de arte”, a experiência baiana pretendeu construir uma outra estratégia: se colocar como emissora, privilegiando a arte, os artistas e o pensamento brasileiros, se opondo ao discurso dominante de qualquer centro local ou internacional. Esse movimento significou uma tentativa de pensar, imaginar e problematizar o universal a partir de uma experiência e perspectiva baiana e regional (Norte-Nordeste): “O projeto brasileiro: adentrar o fora, integrar o marginal, preencher os vazios. Multiplicar os centros ou os polos de atração econômica e cultural. Após a redução crítica, canibal, antropofágica que leva de volta ao zero, ao nada, dar o salto marcusiano, prospectivo. O problema brasileiro não é o nada dos países saturados culturalmente ou a coisificação das sociedades afluentes, mas o tudo por fazer, resolver, transformar. A Bienal da Bahia é uma reflexão sobre o vazio brasileiro. É uma proposta de integração cultural (...). A segunda Bienal da Bahia será de maior significação, pois terá de se confirmar como a mais importante mostra coletiva de arte do Brasil depois da Bienal paulista, e tornar mais específica sua influência no contexto cultural brasileiro. Se a Bienal de São Paulo reflete mais a arte do cheio, a Bienal da Bahia tem a seu cargo a reflexão sobre o vazio. Mas à medida que o fora for sendo adentrado, os claros preenchidos, as duas bienais deixarão de ser dois polos opostos e contraditórios”3.

IV – 3a BIENAL DA BAHIA As circunstâncias políticas e culturais (nacionais e internacionais) nas duas décadas do surgimento desses projetos de bienais no Brasil – anos 1950 e 1960 – podem servir como uma das chaves de entendimento para essas duas narrativas, circunscrevendo suas potências e seus processos de esgotamento.

(2) Mesquita, Ivo. Projeto curatorial. 28a Bienal de São Paulo “Em vivo contato”. Fundação Bienal, São Paulo, 2008. (3) Morais, Frederico. O vazio, a construção, o salto: Bienal da Bahia. Revista GAM/17. Catálogo da 2ª Bienal da Bahia. Guanabara, 1968.


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Para esse projeto curatorial, o retorno da Bienal da Bahia em 2014 (após um intervalo de 45 anos) significa um trabalho de dever da memória não apenas em relação a artistas, intelectuais, público e todos os demais agentes envolvidos nas duas primeiras edições. Trata-se, sobretudo, de um dever de memória em relação às intenções do projeto original: ter um papel emissor a fim de estabelecer um campo alternativo, um contra-discurso apto a criar, fomentar e estabelecer vias alternativas para a pesquisa, propostas, ações educativas e políticas relacionais no campo de arte que existam em toda sua potência, sem a necessidade de serem dependentes da legitimação de outros centros nacionais e internacionais. Em busca dessa coerência conceitual, esse projeto propõe uma 3a Bienal da Bahia, e não uma 1a, que abandonasse sua própria história. Mas esse projeto curatorial entende também a necessidade de atualizar as intenções originais das duas primeiras edições a partir do momento histórico brasileiro e mundial agora; um contexto no qual os próprios conceitos de centro e periferia se encontram em um processo de redefinição. Não há um “centro” como nas décadas passadas, mas diferentes narrativas que se integram ou se opõem aos então discursos dominantes na história da arte e da cultura em escala local, nacional e universal. Por isso, agora, uma Bienal Internacional, mas ainda a partir do olhar baiano e brasileiro. A perspectiva temática dessa proposta curatorial, e da mesma forma as estruturas pensadas para sua realização, se inserem na tentativa de reconstrução das ideias e ideais das primeiras bienais da Bahia e a atualização vigorosa desses mesmos processos. Assim, nessa relação entre as exigências da Bienal da Bahia em sua origem e agora em seu retorno, nesse encontro e diálogo, o que se mantém como ponto central e comum é o desejo e a busca por uma metanoia. Isto é, uma radical mudança de perspectiva, uma alteração mental que provoca um novo entendimento da realidade. Entrar um processo de metamorfose interior para que o exterior se altere.

V – PERSPECTIVA TEMÁTICA (3A BIENAL DA BAHIA) A 3a Bienal da Bahia acontece em um contexto histórico que tem colocado a região Nordeste do território brasileiro em um protagonismo econômico desconhecido durante todo o século 20. No primeiro trimestre de 2013 (um fato atual e pontual), o Nordeste foi responsável por sustentar o crescimento da economia brasileira. Esse, apenas o mais recente exemplo do novo lugar ocupado pela região. Durante esse processo vivido nas duas últimas décadas, as relações do Nordeste com outras regiões brasileiras, com as culturas locais e as condições globais, têm passado por uma gradual forma de reconstrução. Nesse cenário, históricas relações de poder passaram a ser alteradas. O Nordeste geográfico e histórico se encontra diante de um outro, o Nordeste vivo no imaginário brasileiro (e em certa medida mundial) sobre a região. Um imaginário construído e contaminado por projeções ideológicas, distorções culturais, políticas de classe, determinismo geográfico e exaltação folclórica sustentada por todo tipo de imagem, mesmo as cinematográficas e televisivas. Mas, diante desse Nordeste moldado tanto pelo fato quanto pela imaginação, qual narrativa (e narrativas) o Nordeste pode oferecer sobre si mesmo a partir da experiência baiana? A Bahia integra oficialmente a região em 1959, com a criação da Sudene – um dos efeitos da grande seca do ano anterior e do aumento da população migrante – durante o governo de Juscelino Kubitschek; a Sudene, uma criação de consequências econômicas e políticas gerada a partir das pesquisas do economista Celso Furtado. Esse é o exato instante em que o Estado brasileiro se vê na posição de definir o que é, ou não, Nordeste. É tudo Nordeste? é a questão formulada pela 3a Bienal da Bahia. Essa pergunta se coloca como plataforma e tema central a ser

desenvolvido por meio de diferentes meios de expressão, ações artísticas e programas de caráter educativo. É tudo Nordeste? interroga-se sobre os processos constitutivos da experiência cultural e histórica do Nordeste a partir da perspectiva baiana e seu diálogo com o Brasil e a experiência universal, discutindo a permanência ou a falência de conceitos como regionalismo, determinismo e a ocupação física e mental de territórios. Com É tudo Nordeste? se pretende realizar uma arqueologia de credos, ideias e fantasias, utopias e rituais, ordens e comandos, sensibilidades, políticas, percepção e reações que terminaram definindo, na cultura brasileira, o que o Nordeste é, ou, em muitos e presentes momentos, o que deveria ser. Em resumo, a questão, como tema central, pode ser apresentada a partir de uma definição formulada pelo artista Juarez Paraíso: “o Nordeste como experiência humana”.

VI – FORMULAÇÃO DA QUESTÃO (3A BIENAL DA BAHIA) Assim, É tudo Nordeste? é a indagação que move o projeto curatorial, é seu conceito central e percorre todas as ações, exibições, projetos e encontros da 3a Bienal da Bahia. A questão impõe um ato de aproximação da produção cultural e artística da região, em suas mais diversas perspectivas: o Nordeste como condição geográfica, construção histórica e ainda como potente peça do imaginário. Identificar e percorrer as possibilidades de diferentes e vários Nordestes (no Brasil e no mundo) significa ainda inventariar, entender e trabalhar com o papel e o espaço que a Bahia ocupa e tem ocupado nessas mesmas relações. Esse procedimento curatorial se alinha com o trabalho de recuperação do desejo central das primeiras duas edições das bienais da Bahia: no lugar de ser historicamente e artisticamente lido pelo “outro”, é a experiência local, pensada universalmente, que passa a ler esse “outro”. É tudo Nordeste? é então a ideia reguladora da 3a Bienal da Bahia. A formulação pública (como esse conceito será divulgado junto aos artistas e a sociedade) permite algumas possibilidades: É tudo Nordeste? Um Nordeste universal? Nordeste é o mundo? Nordeste são todos? Entre essas possibilidades, este projeto curatorial defende o uso do modelo original, É tudo Nordeste?, por acreditar ser uma formulação que mais claramente se alinha com as escolhas e procedimentos curatoriais já aqui explicitados.

VII – ESTRUTURA TEMÁTICA A partir do tema central (É tudo Nordeste?), o projeto define do seguinte modo a estrutura temática (isto é, subtemas a serem executados nos formatos expositivos, performáticos ou instalativos) a ser trabalhada curatorialmente pela 3a Bienal da Bahia por meio de sua estrutura curatorial: Imateriais – Construções de identidade, investigação sobre desdobramentos da realidade e de processos conceituais sobre a apreensão da realidade. Tropicalidades – Arqueologia das experiências sensoriais a partir de condições climáticas específicas. O desenvolvimento temático implica, também, em pesquisas que se detenham sobre a perspectiva tropical como imaginário e não apenas como zona climática. Brincantes – Desenvolvimento de processos que envolvem uma “filosofia brincante”; isto é, a compreensão de atividades lúdicas, coreográficas e corporais como forma possível para a criação de realidades, conhecimento e arquivo imaterial para a memória coletiva.


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Formas de Orientalismo – Investigação sobre os processos de construção do imaginário a partir da experiência do Nordeste.

verdade. Falar deste museu equivale a discorrer sobre as condições dessa verdade. Há uma verdade da mentira.”6

Naturalismo integral – Relações com o natural e a natureza. “O naturalismo integral é alérgico a todo tipo de poder ou de metáfora de poder. O único poder que ele reconhece é o poder purificador e catártico da imaginação a serviço da sensibilidade, e jamais o poder abusivo da sociedade. O naturalismo integral não é metafórico. Não traduz nenhuma vontade de poder, mas sim um outro estado de sensibilidade, uma maior abertura de consciência (...) O naturalismo assim concebido implica não somente maior disciplina da percepção, mas também maior abertura humana. No final das contas a natureza é, e ela nos ultrapassa dentro da percepção de sua própria duração. Porém, no espaço-tempo da vida de um homem, a natureza é a medida de sua consciência e de sua sensibilidade.”4

É a partir dessa perspectiva que um Museu Imaginário do Nordeste será criado e funcionará durante todo o período da 3a Bienal da Bahia. Esse núcleo abre a possibilidade de projetos expositivos de diversas ordens e intensidades. Uma exposição pode ser montada com duas ou duas mil peças. O campo de pesquisa, de leituras e releituras da produção artística (e de movimentos da cultura), pode ser mostrado das mais diferentes formas, com projetos montados em qualquer cidade ou espaço.

Psicologia do testemunho – Desenvolvimento de ações e pesquisas em torno de arquivos não apenas públicos, mas ainda pessoais e familiares, a fim de traçar micro-narrativas sobre as peças que compõem parte da memória coletiva. “Em um depoimento normal, isto é, que mistura o verdadeiro com o falso, nada é mais impreciso que os detalhes materiais; tudo se passa como se a maior parte dos homens circulasse com os olhos semicerrados em meio ao mundo exterior (...) Assim, graças à psicologia do testemunho, podemos esperar limpar, com a mão mais hábil, a imagem do passado dos erros que a escondem.”5 Gêneros – Relações e pesquisas no campo da sexualidade e suas implicações sensoriais, políticas e sociais. Áfricas – Desenvolvimento de projetos que promovam leituras artísticas, estéticas, históricas e sociais sobre o continente africano, em suas mais variadas condições e perspectivas, e não apenas a África subsariana.

VIII – ESTRUTURAS CURATORIAIS A 3a Bienal da Bahia, por meio de seus diferentes núcleos e seções, deve oferecer ao município, ao Estado e ao público uma programação a ser distribuída pelos cerca de cem dias de atividades da Bienal. Essa programação se divide por meio de exposições, ciclos de filmes, palestras, encontros, ações artísticas e as mais variadas atividades educativas. Essa programação se estabelece por meio de estruturas específicas, articuladas em torno do tema central, que serão então desenvolvidas e trabalhadas a partir de soluções e linguagens que devem realizar de modo coerente o projeto curatorial. Essas estruturas estão descritas abaixo:

a) Estrutura museológica – Museu Imaginário do Nordeste

O acervo desse Museu Imaginário do Nordeste será formado por objetos, arquivos pessoais, obras de qualquer expressão artística, publicações, artesanatos, memória oral e qualquer outra forma de produção. Sua função é criar diferentes exposições que possam atravessar sem hierarquia de formas, nomes e formatos a produção dos vários Nordestes e ideias de Nordeste, visando ainda o contato com a produção cultural e artística mundial. As seções desse museu devem se espalhar pela cidade de Salvador e em diversas regiões do Estado. As exposições serão temáticas, podem acontecer em qualquer tipo de espaço, sendo trabalhadas a partir das seções e departamentos estabelecidos pelo museu, que terá identidade visual e publicações próprias, funcionando de fato como um museu, ainda que imaginário, durante todo o período da 3a Bienal da Bahia. Mas trata-se do Museu Imaginário do Nordeste, e não da produção nordestina. Nele, toda produção artística e cultural mundial pode ter seu lugar. As seções serão articulas a partir da estrutura da obra “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, em função de um pressuposto da experiência de Euclides com Canudos: o contato com um “outro Brasil”. No caso desse Museu Imaginário, essa perspectiva se dá na orientação “Outros Brasils/Outros Mundos”, e seus departamentos fornecem a orientação temática que será encontrada pelos visitantes. Abaixo, algumas seções e departamentos possíveis para o projeto: * Museu Imaginário do Nordeste Departamento das relações africanas Seção: A luta * Museu Imaginário do Nordeste Departamento de estudos feministas Seção: O homem, a luta * Museu Imaginário do Nordeste Departamento das aves Seção: A terra * Museu Imaginário do Nordeste Departamento das cores Seção: O homem * Museu Imaginário do Nordeste Departamento do clima Seção: A luta

Em sua obra total e inacabada, “Passagens” (1927-1940), Walter Benjamin exibe uma refinada leitura da história e da cultura ao pensar sobre a origem e as formas do museu como projeto e invenção. Seu campo é o século 19, a Europa, Paris, a herança (ou os resíduos) do projeto iluminista do século 18 e o modo como se projetavam no início do século 20. Benjamin define: “Os museus fazem parte, do modo mais límpido, das casas de sonho do coletivo”. O museu é uma ficção porque encerra a ideia de um espaço no qual se apresenta uma ilusão de ordem e de controle no que é apenas construção e escolhas incoerentes, determinadas pelos movimentos da cultura, da sociedade e do poder. O museu é então uma licença da imaginação,

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento do naturalismo integral Seção: A terra, o homem, a luta

uma paródia política que tem sido, ao menos desde os trabalhos e pesquisas do artista belga Marcel Broodthaers, uma ferramenta artística e curatorial. Em Broodthaers, “o museu normal e os seus representantes colocam simplesmente em cena uma forma de

a.2) Museu Imaginário do Nordeste (Salas Especiais) – Esse departamento do Museu Imaginário do Nordeste funciona como espaço para núcleos históricos ou monografias sobre determinados autores e artistas. Retrospectivas (em qualquer formato) funcionarão

(4) Restany, Pierre. Manifeste du naturalisme intégral. Paris, 1978

(6) Broodthaers, Marcel. Collected Writings. Ediciones Poligrafa, Espanha, 2013.

(5) Bloch, Marc. Réflexions d’un historien sur le fausses nouvelles de la guerre. Paris, 1921.

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento do racismo vegetal Seção: A terra Assim como todo museu, será estabelecida uma programação de atividades, eventos e encontros educativos sobre cada uma das seções do Museu Imaginário do Nordeste.


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também como salas especiais do Museu Imaginário. Esse projeto curatorial propõe inicialmente três projetos para o formato: * Museu Imaginário do Nordeste Departamento de orientação moderna (Lina Bo e Diógenes Rebouças) Seção: Sala Especial

ii.

Bahia no Ibirapuera – Projeto de Lina Bo realizado nos anos 1950 em São Paulo, pretendendo apresentar ao sudeste a potência da cultura e da experiência baiana. Esse projeto será realizado em São Paulo, funcionando como um núcleo da 3a Bienal da Bahia na cidade.

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento da psicodelia Seção: Sala Especial

iii. Exposição Cadastro – Realizada por Chico Liberato quando diretor do MAM-BA, na década de 1980. Um projeto expositivo aberto a todos, com trabalhos e artistas podendo ser apresentados por meio de uma inscrição. Aqui, se reencena o projeto original e não seu conteúdo.

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento de questões musicais Seção: Ocupações temporais

IX - PROJETOS EDUCACIONAIS

b) Estruturas Particulares – Esse núcleo visa o trabalho com projetos artísticos específicos, preparados especialmente para a 3a Bienal da Bahia; isto é, trabalhos comissionados.

c) Estruturas de Alta Intensidade – Essas estruturas visam realizar parte do projeto educativo da 3a Bienal da Bahia, em relação aos encontros, palestras e seminários. Será criada uma programação que se desenvolve durante os cem dias de atividade do evento. Isto é, no lugar de oferecer uma programação de caráter extensivo (um seminário com duração de dias ou semanas), serão oferecidas mais e diversas atividades de perfil intensivo: um seminário com duração de 4 horas, uma ação que se estende por 24 horas, performances que se adequam ao perfil educativo etc. Parte dessa mesma programação integrará seções do Museu Imaginário do Nordeste.

d) Estruturas Relacionais – Este projeto curatorial visa a partir dessas estruturas o desenvolvimento de trabalhos e projetos artísticos que se realizem a partir de ações de caráter público, envolvendo da arte e intervenção urbana às propostas realizadas em grupos ou comunidades específicas durante o período de duração da Bienal da Bahia. As estruturas relacionais projetam a Bienal para a rua e para a experiência cotidiana.

e) Estrutura Noturna – Desenvolvimento de uma série de atividades, fazendo uso de diferentes formatos e linguagens, a serem realizadas durante a noite no período de duração da 3a Bienal da Bahia.

f) Estruturas Climáticas – Desenvolvimento de projetos que se inserem no campo das experiências sensoriais climáticas, tanto em sua perspectiva real quanto em sua condição imaginária.

g) Estruturas de Reencenação– Esse núcleo procura trabalhar com o conceito de reprise, de retomada, de reencenação. Seu objetivo é recriar nas condições possíveis projetos executados no passado, e que não tiveram seu potencial plenamente realizado. O conceito da reprise não significa uma imitação; vai além, e pretende criar formas e estratégias para lidar com os espaços vazios, com aquilo para sempre perdido e que existe apenas na memória coletiva. Esse projeto propõe a reencenação de três acontecimentos expositivos: i.

Exposição da 1a e da 2a Bienais da Bahia (1968) – Após uma primeira edição, a Bienal da Bahia em seu segundo momento é fechada após atritos com a ditadura militar. O fato encerra o projeto de bienais para a Bahia, em uma exposição nunca, de fato, aberta ao público.

A política educacional da 3a Bienal da Bahia prevê a inserção de projetos específicos nos programas já estabelecidos pelo Estado da Bahia (como nos realizados pelo Instituto Anísio Teixeira, Escola Parque etc.) e organizações não-estatais que contam com o apoio público ou não. Estratégias de inserção devem promover ações junto a professores, alunos e comunidades, fazendo uso de material editorial específico. Entre as missões do núcleo educacional estão:

a) A formação de cerca de 200 monitores, para atuação durante o período da Bienal. b) Criação de material didático a ser trabalhado junto a comunidade estudantil. c) Criação de diálogos e interfaces a partir de programas específicos com as comunidades que recebem os projetos e propostas a serem executadas durante a Bienal.

Os conteúdos educacionais devem privilegiar (mas não se limitar a) pensadores que estabeleceram pesquisas e programas a partir da experiência brasileira. A saber: Paulo Freire, Anísio Teixeira, Celso Furtado, Florestan Fernandes, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, Milton Santos e Eduardo Viveiros de Castro, entre outros.

X – ORGANIZAÇÃO Cada uma das estruturas, núcleos e seções já descritas será trabalhada por um ou mais curadores, responsáveis pela realização de cada projeto, sempre em concordância e coerência com o projeto curatorial. A estrutura geral se dará no seguinte modelo: *Direção-Geral (curador(es)-chefe(s)) *Direção Executiva (produção executiva) *Direção Financeira (tesouraria) *Direção Técnica (montagens) *Direção Editorial (produtos editoriais em qualquer mídia) *Direção Educativa (programação educativa) *Direção de Comunicação *Grupo curatorial (co-curadores) – O processo de co-curadorias deve seguir o seguinte formato, aqui exemplificado: Estruturas de reencenação: Curador(es): x, y Artistas: x, y, z, t Linguagens e mídias trabalhadas: x, v, t OBS: os co-curadores (convidados pela direção-geral) estarão livres para propor nomes, projetos e obras a serem trabalhadas em cada núcleo, que devem ser discutidos e aprovados pela direção-geral. Uma lista inicial deve ser apresentada pela direção-geral aos co-curadores, a fim de serem trabalhados pelos


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mesmos. Esse procedimento organizacional visa a manutenção da coerência conceitual de todo o projeto e o respeito ao orçamento estabelecido.

balhadas e acompanhadas pelo Núcleo de Pesquisas Curatoriais do MAM-BA. Esse programa é financiado pela Funarte, em edital ganho pela instituição em agosto deste ano.

XI – ESPAÇOS EXPOSITIVOS

MAM Discute Bienal – Realizado quinzenalmente pelo museu desde março deste ano, o projeto visa o debate e a pesquisa pública em torno da história da arte e da cultura baiana e suas relações com a história das Bienais e seus modelos. Os encontros prosseguem até o final de 2013.

Esse projeto visa o uso dos mais variados dispositivos culturais do Estado da Bahia ou espaços culturais não-estatais dispostos a uma participação colaborativa. O projeto pretende ainda fazer uso de espaços de caráter privado, como residências ou estabelecimentos comerciais – sempre a partir das propostas artísticas e soluções curatoriais que se orientem pelo programa geral aqui apresentado. Entre os espaços de trabalho estão: a. Biblioteca Pública dos Barris b. Centros Culturais do Estado c. Escola Parque d. Espaço do Carmo e. Espaço Jequitaia f. Foyer do TCA g. ICBA h. Instituto do Cacau – CEPLAC i. Lagoa do Abaeté (Casa da Música) j. Museu da Água k. Museu de Arte da Bahia (MAB) l. Museu Geológico m. Museu Náutico (Farol da Barra) n. Museu Tecnológico (Pituaçu) o. Palacete das Artes p. Palácio da Aclamação q. Parques Públicos r. Planetário (Feira de Santana) s. Solar Ferrão t. UFBA u. UFRB v. Fundação Hansen (Cachoeira) A 3a Bienal da Bahia contará inicialmente com seis programas de residência artística, em um projeto colaborativo com a fundação Sacatar. Os artistas serão convidados a desenvolverem projetos específicos para a Bienal, e permanecerão na Bahia por um período de três meses.

XII – PUBLICAÇÕES, PRODUTOS E IDENTIDADE VISUAL Este projeto curatorial visa o desenvolvimento de uma identidade visual para a 3a Bienal da Bahia e políticas para seu uso. Essa identidade deve acompanhar todas as publicações oficiais da Bienal: catálogo geral, guia de eventos e artistas participantes, mapa de localização, cartões e pôsteres. Esses produtos gráficos devem servir para informar e documentar diante do público todas as ações da Bienal.

XIII – MAM-BA/BIENAL DA BAHIA 2014 Em projetos realizados pelo Museu de Arte Moderna, a 3a Bienal da Bahia tem desenvolvido ações e atividades preparatórias para a Bienal. Essas atividades devem prosseguir durante todo o período da Bienal, servindo ainda como ações continuadas para o desenvolvimento das bienais seguintes. Cabe a direção do museu ampliar as ações já existentes, e ainda apresentar novos processos de formação e debate. Ações já em andamento: MAM Discute processos curatoriais – O Museu de Arte Moderna da Bahia passa a oferecer um programa de pesquisa e desenvolvimento curatorial por meio de um edital para curadores em início de carreira, no qual as propostas curatoriais aceitas serão tra-

MAM Discute o circuito e o sistema da arte – Programa de debates em torno dos processos artísticos, sociais e econômicos envolvidos na produção artística e sua circulação econômica e simbólica. Cursos livres – “Como ser feliz no século 21” é o primeiro curso livre realizado pelo MAM-BA em convênio com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Seguindo modelos como o da Universidade de Todos os Saberes (França) e Universidade Livre (Alemanha), o curso propõe uma reflexão pela via da ciência sobre o contexto no qual vive a humanidade neste novo século. Qual é a experiência contemporânea? Professores de diferentes campos oferecem cursos em suas áreas de especialização a fim de aproximar o público geral de uma forma de resposta possível. Os cursos são voltados a todos os interessados. O programa teve início em agosto de 2013. Revista Contorno – Publicação mensal que serve como face pública das ideias trabalhadas pela Bienal da Bahia e pelo Museu de Arte Moderna da Bahia. A revista, voltada para ensaios, entrevistas, perfis e projetos artísticos documenta os processos envolvidos na construção do projeto da 3a Bienal da Bahia. Seu primeiro número será lançado em outubro.

Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) A Direção Agosto de 2013


JORNAL DOS 100 DIAS

LISTA DE PARTICIPANTES (A a Z) 1. Abbas Kiarostami 2. Abraham Palatnik 3. Adalberto da Palma 4. Ademir França 5. Adenor Gondim 6. Adrian Cowell 7. Adriana Pacheco dos Santos 8. Adriana Souza 9. Agamenon de Abreu 10. Agnaldo dos Santos 11. Agnès Varda 12. Alagbês “Oritálaiyè – Encruzilhadas do Mundo” 13. Alba Liberato 14. Aldemir Martins 15. Ale Mônaco 16. Alejandro Jodorowsky 17. Alex Andrade 18. Alex Oliveira 19. Alexandre Carvalho 20. Alexia Riner 21. Alice Schmidt 22. Alighiero Boetti 23. Alisson Silva 24. Almandrade 25. Ana Cristina Cesar 26. Ana Fraga 27. Ana Rita Queiroz Ferraz 28. Ana Verana 29. Anísio de Carvalho 30. Ana Luisa Lima 31. Anna Paula da Silva 32. Antonello L’Abbate 33. Antônio Brasileiro 34. Antonio Santos 35. Aristides Alves 36. Arlete Cruz 37. Arno Schmidt 38. Arquivo Turner/Xavier Vatin 39. Arthur Scovino 40. Artur Esdras 41. Babalu 42. Bakary Diallo 43. Baldomiro Costa 44. Bernardo Oliveira 45. Ceguêra de Nó 46. Bárbara Alessandra 47. Barry Flanagan 48. Bauer Sá 49. Beatriz Franco 50. Beatriz Lemos 51. Benjamin Abrahão 52. Bernard Venet 53. Beto de Massarandupió 54. Bia Medeiros 55. Bianca Portugal 56. Bloco de Hoje a Oito 57. Bruno Munari 58. Bule-Bule 59. Caetano Dias 60. Camila Antero 61. Camila Sposati 62. Capitão Ramon Diego 63. Carla Brandão Zollinger 64. Carlos Mélo 65. Carlos Martiel 66. César Romero 67. Charbel-joseph H. Boutros 68. Chico Liberato 69. Chico Dantas 70. Clara Domingas

71. Claudio Manoel 72. Cláudio Marques 73. Cláudio Pinheiro 74. Claudio Costa 75. Cris Ananda 76. Cristiana Tejo 77. Cristina Martins 78. Daiane Troesch 79. Dalton Harts 80. Daniel Buren 81. Daniel Castanheira 82. Daniel Lisboa 83. Daniel Marins 84. Daniel Santiago 85. Daniela Azevedo 86. Daniela Guimarães 87. Danilo Lima 88. Danniel Ferraz 89. Darcy Ribeiro 90. David Blandy 91. Dennis Oppenheim 92. Di Cavalcanti 93. Diana Valverde 94. Dicinho 95. Diego Mauro 96. Dilson Midlej 97. Dimitri Ganzelevitch 98. Documentação Simões 99. Dona Cici 100. Durval Muniz de Albuquerque Júnior 101. Eckenberger 102. Edgard Navarro 103. Edgard Oliva 104. Ediane do Monte 105. Edinízio Ribeiro Primo 106. Edivaldo Bolagi 107. Eduardo Witzel 108. Efrain Almeida 109. Elias Santos 110. Elomar Figueira Mello 111. Emanoel Araújo 112. Enderson Araujo 113. Eneida Sanches 114. Etsedron 115. Eustáquio Neves 116. Evandro Sybine 117. Fabiana Dultra Britto 118. Fabiane Beneti 119. Fátima Pombo 120. Fernando Guerreiro 121. Fernando Pontes 122. Flávia Pedroso 123. Flávio de Barros 124. Florencia Langarica 125. Florival Oliveira 126. Fluxus 127. Francine Jallageas 128. Francisco Teixeira 129. Frans Krajcberg 130. Franz Erhard Walther 131. Fundação Terra Mirim 132. Gabriel Vieira 133. Gaio Matos 134. Galeria 13 135. Gary Kuehn 136. Genaro de Carvalho 137. George 138. Ger van Elk 139. Geraldo Simões 140. Gerardo Mosquera

141. Gerry Schum 142. Gerson Nascimento 143. GIA 144. Gianni Piacentino 145. Gilbert & George 146. Gilberto Tourinho 147. Gilberto Zorio 148. Gilmar Feitosa 149. Gilson Barbosa 150. Gilson Rodrigues 151. Gino de Dominicis 152. Giovanni Anselmo 153. Giselle Beiguelman 154. Giulio Paolini 155. Glauber Rocha 156. Goli Guerreiro 157. Grupo Feminista de Experimentos Sonoros da Escola de Música da UFBA 158. Grupo Posição 159. Guilherme May 160. Gustavo Carvalho 161. Guto Lacaz 162. Hamish Fulton 163. Hansen Bahia 164. Harald Szeemann 165. Harry Laus 166. Hélio Oiticica 167. Heloisa França 168. Hilda Baqueiro 169. Hilda Salomão 170. Humberto Aquino Rocha 171. Ian Wilson 172. Iara Cerqueira 173. Ícaro Lira 174. Ícaro Vilaça 175. Ieda Oliveira 176. Inaicyra Falcão 177. Ingmar Bergman 178. Irlan Tripoli 179. Isa Trigo 180. Isabela Silveira 181. Isaura Tupiniquim 182. Itaberaba Sulz Lyra 183. Ivo Foguete 184. J. Cunha 185. Jaci Menezes 186. Jaciara Cruz Acassio 187. Jaime Fygura 188. Jamile Menezes 189. Jan Dibbets 190. Jan Katalah 191. Janaina Conceição 192. Janete Kislansky 193. Janilda Ferreira Abreu 194. Jason Lim 195. Jean-François Lyotard 196. Jerusa Pires 197. João Dannemann 198. João José Reis 199. José de Jesus Bisbo 200. José Hage Carvalhinho 201. João Omar de Carvalho Mello 202. Joaquim Lino 203. Johanna Gaschler 204. Jomard Muniz de Britto 205. Jonathan Monk 206. José Antônio Saja (Ramos Neves dos Santos) 207. José Diego 208. José Eduardo Ferreira Santos 209. José Rufino


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210. José Umberto Dias 211. Joseph Beuys 212. Juarez Paraíso 213. Juca Ferreira 214. Juraci Dórea 215. Justino Marinho 216. Karen Silva 217. Kaysha Kutner 218. Keith Sonnier 219. Kelvin Marinho 220. Klaus Rinke 221. Kota Ndumbi (Valdete Ramo Brito dos Santos) 222. Laura Castro 223. Lauren McAdams Selden 224. Lawrence Weiner 225. Lênio Braga 226. Leonardo Alencar 227. Leonardo Villa-Forte 228. Levante Popular da Juventude 229. Lia Cunha 230. Lia Robatto 231. Lilian Graça 232. Lina Bo Bardi 233. Lina Pedreira 234. Lisette Lagnado 235. Liv Drummond 236. Llano 237. Louco (Boaventura de Silva Filho) 238. Lucas Sargentelli 239. Luciano Figueiredo 240. Luis Berríos-Negrón 241. Luis Paulo Neiva 242. Luisa Mota 243. Luiz Ramos 244. Luiz Jasmin 245. Lygia Clark 246. Mam’etu N’udiakalunga (Robenilda Nascimento dos Santos) 247. Maninho Abreu 248. Manoel Silvestre Friques 249. Marcelo Cunha 250. Marcelo Faria 251. Marcia Abreu 252. Márcia Magno 253. Márcio Lima 254. Marcio Meirelles 255. Marco Antonio Lima 256. Marco Aurélio Damasceno 257. Marcondes Dourado 258. Marcos Lopes 259. Marepe 260. Maria Adair 261. Maria Antonieta Tourinho 262. Maria Celeste de Almeida Wanner 263. Maria Célia Pereira da Silva (Terreiro de Mãe Stella) 264. Maria Magdalena Campos-Pons 265. Mariete Barbosa 266. Marília Moreira Cavalcante 267. Marinus Boezem 268. Mario Cravo Neto 269. Mario Merz 270. Marta Argolo 271. Martha Araújo 272. Martinho Patrício 273. Maurício Lourenço 274. Maxim Malhado 275. Mestre Ambrósio Córdula 276. Mestre Didi 277. Michael Heizer

278. Michael Walker 279. Michelle Mattiuzzi 280. Milena Travassos 281. Mitta Lux 282. Mônica Hoff 283. Monique Evelle 284. Movimento Nosso Bairro é 2 de Julho 285. Myriam Mihindou 286. Nádia Taquary 287. Naia Alban 288. Nanci Novais 289. Nathana Cavalcanti 290. Naziha Mestaoui 291. Negro Davi 292. Nehle Franke 293. Neil Leonard 294. Neville King 295. Nino Cais 296. Nuno Ramos 297. Olga Gómez 298. Omar Salomão 299. Ordep Serra 300. Oriana Duarte 301. Orlando Pinho 302. OSBA 303. Paraíba da Viola 304. Pascal Pique 305. Pasquale de Chirico 306. Pasqualino Magnavita 307. Patricia Almeida 308. Patrick Proctor 309. Paula Borghi 310. Paula Carneiro 311. Paulo Bittenca 312. Paulo Bruscky 313. Paulo Meira 314. Paulo Miyada 315. Paulo Nazareth 316. Paulo Pereira 317. Pedro Filho Amorim 318. Pedro França 319. Pedro Marighella 320. Pedro Archanjo 321. Perinho Santana 322. Pier Paolo Calzolari 323. Piero Gilardi 324. Pierre Capelle 325. Pierre Restany 326. Pierre Verger 327. Poro 328. Ramiro Bernabó 329. Raynolds 330. Regina Costa 331. Regina Jehá 332. Reinaldo Costa 333. Reiner Ruthenbeck 334. Renato Fonseca 335. Renato da Silveira 336. Rener Rama 337. Rex Schindler 338. Richard Long 339. Richard Serra 340. Riolan Coutinho 341. Robert Barry 342. Robert Smithson 343. Roberto Dias 344. Robinson Roberto 345. Rodrigo Matheus 346. Roger Buergel 347. Rogéria Maciel

348. 349. 350. 351. 352. 353. 354. 355. 356. 357. 358. 359. 360. 361. 362. 363. 364. 365. 366. 367. 368. 369. 370. 371. 372. 373. 374. 375. 376. 377. 378. 379. 380. 381. 382. 383. 384. 385. 386. 387. 388. 389. 390. 391. 392. 393. 394. 395. 396. 397. 398. 399. 400. 401. 402. 403. 404. 405. 406. 407. 408. 409. 410. 411. 412. 413. 414.

Rogério Duarte Rubem Valentim S. da Bôa Morte Samba de Roda de Massarandupió Sandro Pimentel Sante Scaldaferri Sepp Baendereck Sergio Camargo Sergio Guerra Seu Abade do Quebra-Queixo Seu Carlos dos Cataventos Seu Queiroz Siron Franco Sofia Caesar Solange Maria de Souza Moura Solange, Tô aberta Sonia Castro Sonia Rangel Stanley Brouwn Stella do Monte Almeida Sture Johannesson Sute Mwgongo (Augusto Cezar Santos da Silva) Sylvie Blocher Taata Muendaze (Evandro Barreto dos Santos) Tata Mutá Imê Tecco Ribeiro Terezinha Dumet Tetine (Bruno Verner e Eliete Mejorado) Thiago Martins de Melo Thomas Farkas Thomaz Loureiro Tiago Ribeiro Tio Juca Tobi Maier Tonico Portela Torquato Neto Tracy Collins Tuti Minervino Tuzé de Abreu – Alberto José Simões de Abreu Uibitu Smetak Ulrich Rückriem Universidade LIVRE de Teatro Vila Velha Vadim Zakharov Val Cavalcanti Valerie O’Hara Vânia Leite Leal Machado Vauluizo Bezerra Vieira Andrade Viga Gordilho Virginia de Medeiros Vítor Rios Vitória Shanti Wagner Lacerda Walter de Maria Walter Smetak Waly Salomão Washington Drummond Washington Queiroz Willyams Martins Yêdamaria Yoko Ono Yuri Smetak Yves Klein Zé de Rocha Zé Sergio Gabrielli Zu Campos Zuarte Júnior


JORNAL DOS 100 DIAS

LISTA DE OBRAS ACBEU Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Inserção do Ato num Sistema de Regras Seção: Imateriais Abraham Palatnik Chess Set, objeto, resina, 1979 [coleção particular Fernando e Camila Abdalla] Ana Cristina Cesar Extrato de O Livro, contido no volume Pasta rosa - inéditos e dispersos Glauber Rocha O Pátio, super 8 telecinado, 1959 Ingmar Bergman O Sétimo Selo, still de filme, 1957 Maxim Malhado Tabuleiro, objeto, madeira com cerâmica, 2014 [acervo Galeria Paulo Darzé] Paulo Bruscky Marcel Duchamp x Rrose Sélavy, objeto, 2010 Paulo Meira Épico Culinário, filme, 2012 Rogério Duarte Xadrezen, objeto, sem data

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA Museu Imaginário do Nordeste Departamento Arquivo e Ficção Seção: Psicologia do Testemunho Projetos artísticos especialmente criados para a exposição Arquivo e Ficção Alex Oliveira Ensaio Póstumo, fotografia, 2014 Eustáquio Neves Jogos e Costumes, livros de artista, 2014 Ferramentas de Oxossi, esculturas, 2014 Gaio Matos Platôs, site specific, 2014 Giselle Beiguelman Beleza Convulsiva Tropical, instalação multimídia site specific (Moss Grafite, audiolivro e impressos), 2014 Imagens de Depois do Além, fotografia digital sobre papel de algodão, 2014 Memórias Corrompidas, postais, 2014 Perguntas às Pedras, pôsteres e lambe-lambes, 2014 Ícaro Lira DESTERRO, livro, 2014

Expedição Etnográfica de Ficção, viagem Salvador-Canudos, 2014 Cidade Partida - Controle Social e Isolamento, instalação (materiais diversos), 2014 [ações com oficinas, expedições, visitas guiadas, conversas e mídia social] Antropologia do cangaceiro: concepção e organização, 2014 [acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima] Ícaro Lira e Paulo Nazareth Máscaras Mortuárias, fotografia, 2014 José Rufino Pulsatio, mobiliário de metal, 2014 Jus abutendi 1, folha de chumbo sobre retrato de Nina Rodrigues [Vieira de Campos, sem data], 2014 Jus abutendi 2, folha de chumbo sobre retrato de Oscar Freire [Vieira de Campos, sem data], 2014 Jus abutendi 3, folha de chumbo sobre retrato de Virgílio Damásio [Vieira de Campos, sem data], 2014 Maria Magdalena Campos-Pons & Neil Leonard Conversando a Situ/Acted, performance sonora e corporal, 2014 Portrait in Bahia, instalação sonora, 2014 Omar Salomão Influxo, da série Oculto, livro apagado no mar, 2014 Oculto, da série Oculto, caderno manuscrito, técnicas variadas, 2014 Refluxo, da série Oculto, churrasqueira de ferro modificada, objetos de ferro, som, incenso, 2014 Paulo Bruscky Conceitos, frases impressas e pintadas, 2014 Marcel WC, fotografia, 1988 Artista Higienizado, fotografia, 2014 Mije 2, fotografia, Itaparica-BA, 2014 Arte Classificada, Paisagem Sonora e Arte Paisagem, obra publicada no jornal Correio da Bahia na seção Diversos – Outros – Avisos, 18 de julho de 2014 Arte Classificada, Paisagem Sonora e Arte Paisagem, obra publicada no jornal A Tarde, seção Diversos – Avisos, 19 e 20 de julho de 2014 Paulo Nazareth Passaporte Negro, desenho, cópia, 2014 Da série Panfletos para a Bahia, offset/papel jornal, 2014 Antropologia do Negro 01, vídeo p&b, 2014 Antropologia do Negro 02, vídeo p&b, 2014 REZA, vídeo p&b, 2014 URNA, madeira, cal e crânios, 2014 Cicatriz, bala e curativo, 2014 Rodrigo Matheus Amparo Refletido, peças de espelho sobre andaime, 2014

Intervalo, recipiente plástico, água da chuva e plantas aquáticas, 2014 Obras que fizeram parte da exposição Arquivo e Ficção Benjamin Abrahão Lampião, o rei do cangaço, filme, 1936-1937 Di Cavalcanti Baiana, óleo sobre tela, sem data Flávio De Barros Guerra de Canudos, fotografias, 1897 Juarez Paraíso Violência, foto-design, 1985 Juraci Dórea Ecce Homo 10, carvão sobre tela, 1994 Pierre Verger Objetos de cultos afro-brasileiros, Instituto Histórico Geográfico da Bahia, 1946-1951 Objetos de cultos afro-brasileiros, Museu da Polícia, Rio de Janeiro, 1946-1951 Fotografia documental, parte publicada na Revista O Cruzeiro, 1951 S. da Bôa Morte Se Oriente, escultura em ferro, 2014 A exposição Arquivo e Ficção foi organizada com peças, documentos e mobiliários do Acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima e do Arquivo Público do Estado da Bahia.

ATELIÊS

ACERVO DA LAJE

Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Saber Universal Seção: Psicologia do Testemunho

Coleção de obras coletadas por José Eduardo Ferreira Reinaldo Eckenberger Primavera Praga, sem data, assemblagem, porcelana, sem data

ECKENBERGER

Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Encontro Seção: Formas de Orientalismo

Coleção de obras produzidas por Reinaldo Eckenberger Jonathan Monk Em algum lugar em breve, algodão, serigrafia e caixa de papelão, 2010 [edição de 40 cópias + 6 provas do artista]


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HILDA SALOMÃO

Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Tempo Seção: Psicologia do Testemunho

Coleção de obras produzidas por Hilda e a família Salomão Bruno Munari Escultura de viagem, papel cartão, sem data

BIBLIOTECA JURACY MAGALHÃES JR. [ITAPARICA] Museu Imaginário do Nordeste Departamento Arquivo e Ficção Seção: Psicologia do Testemunho Paulo Bruscky Conceitos, frases impressas e pintadas, 2014 Rá(u)dio Arte, programa Biblioteca no ar - Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, Itaparica [Rádio Tupinambá FM 87,9, 2014]

BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA Museu Imaginário do Nordeste Departamento Arquivo e Ficção Seção: Psicologia do Testemunho Omar Salomão e Daniel Castanheira Códices, da série Oculto, cabos, livros em branco, alto-falantes, sensores, água do mar, registros sonoros realizados em Itaparica, estantes de metal, 2014 Paulo Bruscky Silêncios, fotografia, 2014

CENTRO CULTURAL HANSEN BAHIA Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Pós-Racialismo (religiosidade, pertencimento, corporeidade) Seção: Áfricas Agnaldo dos Santos Oxóssi caçador, escultura em madeira, sem data [acervo MAM-BA] Cabeça de bicho, escultura em madeira, sem data [acervo MAM-BA] Alex Oliveira Da série Revelador H202, fotografia, 2013

Antônio Manoel Sem título, fotografia, sem data [acervo MAM-BA] Caetano Dias Cabeças, escultura em ferro fundido, 2005 [acervo MAM-BA] Edgard Oliva Da série A grande arca, fotografia sobre backlight, 2001 [presépios de Luzinete Feitosa – Bonito/BA e Amália Olímpia S. Damasceno – Andaraí/BA] Edsoleda Santos Duas Iabás, litogravura, 1983 [acervo MAM-BA] Efrain de Almeida Sem título, escultura em madeira, 1995 [acervo MAM-BA] Luzia, escultura em madeira, 1995 [acervo MAM-BA] Elias Santos Esboços da série As vozes do Ancestral, instalação, 2014 [documentação de processos artísticos, caixa de contenção de poeira, maquetes / acervo coleção do artista] Emanoel Araújo Sem título, xilogravura, 1956 [acervo MAM-BA] Emma Vale Procissão de N. Sra. Da Conceição e do Sr. Dos Navegantes, óleo sobre eucatex, 1975 [acervo MAM-BA] GIA Sem título, instalação, 2012-2014 [registros da passagem do Grupo de Interferência Ambiental pela cidade de Cachoeira] Hansen Bahia Panteras negras, técnica mista, sem data [acervo Fundação Hansen Bahia] Iuri Sarmiento Sem título, instalação, 1999 [acervo MAM-BA] J. Cunha Códices, acrílica sobre tela, 2014 [acervo coleção do artista] Justino Marinho Cotidiano 1, técnica Cotidiano 2, técnica Cotidiano 3, técnica Cotidiano 4, técnica

mista, mista, mista, mista,

2012 2012 2012 2012

Louco BSF Sereia, escultura em madeira, sem data [acervo Fundação Hansen Bahia] Marcio Lima Sem título, fotografia, 2004 [acervo MAM-BA] Marco Aurélio Damasceno Capoeira-luz, fotografia (tríptico), 2014 Martinho Patrício Sem título, objeto (tríptico), 1998 [acervo MAM-BA]

Mestre Didi Igi Ejô Atu èye (árvore, serpente e pássaro), escultura, 1995 [acervo MAM-BA] Iwing-igi (o espírito da árvore), escultura, 1994 [acervo MAM-BA] Nadia Taquary Oró, instalação, 2014 Paulo Pereira Sem título, sem título, sem título, esculturas em madeira, 1998 [acervo MAM-BA] Pedro Archanjo Da série Mulheres de Cuba, fotografia, 2014 [acervo particular do artista] Regina Costa Conversa fiada. Parte I – Ele é ela. Parte II – Nós, impressão digital sobre tecido, 2014 Rubem Valentim Emblema, relevo em madeira pintada, 1985 [acervo Galeria Paulo Darzé] Marca, escultura em madeira, 1980 [acervo Galeria Paulo Darzé] Sem título, escultura em madeira pintada, 1980 [acervo Galeria Paulo Darzé] Sandro Pimentel Proteção na bandeja e Um beijo, instalação, 2004-2014 Sonia Castro Gravura IV, Miss em page, xilogravuras, 1966 [acervo MAM-BA] Tonico Portela Springs, instalação, 2007 [acervo MAM-BA] Viga Gordilho Caixas de Afeto, objeto, pigmento, ouro e fibra, 2003-2014 Yêdamaria Sem título, guache sobre papel, 1978 [acervo MAM-BA] Zu Campos Tótem I, Tótem II, Tótem III, esculturas em madeira, 1999 [acervo coleção do artista] Documentação Memórias diaspóricas - fotografias e gravações de Lorenzo Turner na Bahia (1940/1941), pesquisa realizada pelo professor Xavier Vatin (UFRB/Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) [arquivo Turner]

CUCA Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Causa Museológica Seção: Psicologia do Testemunho David Blandy Dock of the Bay, vídeo, 2013


JORNAL DOS 100 DIAS

From the Underground, vídeo, 2001 Hollow Bones, vídeo, 2001 Sons of Slaves, vídeo, 2006

Registro da Feira de Artes de 1997 Sem título, caixa com fósforo, 1995 Sem título, pastel seco, 1994/95

Gaio Matos Sem título, objeto osso e guache, 2014

Rogéria Maciel Sem título, gravura sobre metal, 1999

Marepe Caatinga, instalação ready made, 2012

Seu Pedro Sem título, escultura em madeira, 2014

Neville King Mulher com Brinco Azul e Branco, óleo sobre tela, sem data Patrick Procktor Extremities, óleo sobre tela, sem data Reynolds Moça Florida, óleo sobre tela, sem data Sergio Camargo Relevo nº 20, relevo em madeira, 1964 Documentação Fotos, jornais, livro de registro feito por D. Antônia, ata de fundação do MRA

FEIRA DE ARTE LIVRE Sylvie Blocher Por detrás do Invisível (Behind the invisible), vídeo, 2014

GALERIA ESTEIO MEMORIAL Caetano Dias Sem título, fotografia, 2014 Eduardo Boaventura Sem título, escultura em madeira, 2012 Floriano dos Santos Sem título, pintura sobre papelão, 1997 Sem título, pintura sobre papelão, 1997 Sem título, pintura sobre papelão, 1997 Iuri Sarmento Sem título, acrílica sobre tela, 1990 Justino Marinho Sem título, acrílica sobre tela, 2001

Sr. Davi 5 vassouras, 2014 Documentação Imagens históricas e do processo da Esteio na 3ª Bienal da Bahia

ÁREA EXTERNA S. da Bôa Morte Se Oriente, escultura em ferro, 2014 Maxim Malhado Homenagem a Lícia e Jorge Malhado, e aos irmãos, sem data Lanternas da primeira exposição da Esteio, instalação Sem título, instalação, 1999 Símbolo Esteio, sem data Ramiro Bernabó Sem título, esculturas em cerâmica, sem data Poro Pequeno Guia Afetivo da Comida de Rua de Salvador, livro, 2014

CASA DA PALAVRA Ediane do Monte Pratos Para Serem Lidos, instalação, 2014 Tuti Minervino Um curta doce, vídeo, 2013/2014 Zuarte Júnior Liberdade desbandeirada, instalação, 2014

CASA DAS ARTES VISUAIS Johanna Gaschler Chão para a Esteio, instalação, 2014 Luiz Ramos Luminárias, instalação, 2014 Tecco Ribeiro Em Fio, escultura de argila, 2014

Luiz Ramos Sem título, aquarela, 1990 Marcelo Reis Sem título, fotografia, 1997 Mário Simões O jogo, madeira e dedal, 1997 Maxim Malhado Convites e documentos, sem data Gambiarra, instalação, 2014

ICBA Museu Imaginário do Nordeste Departamento das Zonas Imateriais Seção: Psicologia do Testemunho Arno e Alice Schmidt 92 fotografias (décadas 1930-1970) [cortesia da Fundação Arno Schmidt, Alemanha]

Arno Schmidt Goethe und Einer seiner Bewunderer (Goethe e um de seus admiradores), instalação sonora [transcriação: Tobi Maier e Omar Salomão. Voz: Nehle Franke] Bernard Venet Bonjour Monsieur Venet (Bom dia Senhor Venet), efêmera, 1964 Ger van Elk The Simetry of Diplomacy (A Simetria da Diplomacia), efêmera, 1973 [Bulletin 65, Art & Project] Gerry Schum (diretor) Land Art. Fernsehausstellung I, vídeo, 1968/69 Artistas participantes: Richard Long, Barry Flanagan, Dennis Oppenheim, Marinus Boezem, Robert Smithson, Jan Dibbets, Walter de Maria, Michael Heizer [coleção Stedelijk Museum,Amsterdam/ collection Stedelijk Museum, Amsterdam] Identifications. Fernsehausstellung II, vídeo, 1970 Artistas participantes: Joseph Beuys, Klaus Rinke, Ulrich Rückriem, Reiner Ruthenbeck, Gary Kuehn, Klaus Rinke, Richard Serra, Keith Sonnier, Franz Erhard Walther, Lawrence Weiner, Daniel Buren, Hamish Fulton, Gilbert & George, Stanley Brouwn, Ger van Elk, Giovanni Anselmo, Alighiero Boetti, Pier Paolo Calzolari, Gino de Dominicis, Mario Merz, Gilberto Zorio [coleção Stedelijk Museum, Amsterdam/collection Stedelijk Museum, Amsterdam] Gianni Piacentino Campeonato italiano de sidecar 1971, efêmera, 1971 [moto conduzida por Torreli, que leva como passageiro o artista Piacentino] Guto Lacaz Contas Anacíclicas, livro de artista, 2003 Happening & Fluxus Catálogo, outubro, 1970 Harald Szeemann (curadoria) Live in Your Head – When Attitudes Become Form (Viva na Sua Cabeça – Quando Atitudes Tomam Forma), catálogo, março, 1969 Ian Wilson Can something be “made” Clear? A discussion to be held at the John Weber Gallery, 420 West Broodway, N.Y. on Thursday, 25th may, 1972 (Pode alguma coisa ser tornada Clara? Uma discussão acontecerá na galeria John Weber Gallery, 420 West Broodway, N.Y. na quinta-feira, 25 de maio de 1972, às 18h), efêmera, 1972 [Bulletin 59, Art & Project] Jean-François Lyotard (curadoria) Les Immatériaux (Os Imateriais), março, 1985 Robert Barry All the things I know but of which I am not at the moment thinking (To-


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das as coisas que eu sei mas sobre as quais não estou pensando agora), escultura de vinil sobre parede, 1969 Vadim Zakharov Carrots teach the Pastor to think Above Rome (Cenouras ensinam o Padre a pensar - Acima de Roma), instalação sobre documentação de ação, 2007 [série The Rome Actions/Ações Romanas] Documentação Quilombo Helvécia, fotografias, livro de atas e carta

IGREJA DO PILAR Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Graça Seção: Imateriais Charbel-joseph H. Boutros Lágrimas separadas, objeto, gota de lágrima do olho direito do artista, vidro, plástico, fluido lacrimal, 2014 Mestre Ambrósio Córdula Representação de Santa Rita de Cássia, escultura em madeira, 2014 Yves Klein IKB (International Klein Blue), azul profundo criado pelo artista francês Yves Klein, tripleto hexadecimal: RGB, CMYN, HSV, vidro, 1954/2014 Le dépassement de la problématique de l’art (A superação da problemática da arte), livro de artista, 1959 Oração a Santa Rita de Cássia, instalação sonora, 1961

MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA UFBA (MAE) Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Soul Seção: Africanidades David Blandy Dock of the Bay, vídeo, 2013 From the Underground, vídeo, 2001 Hollow Bones, vídeo, 2001 Sons of Slaves, vídeo, 2006

MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAHIA (MAM-BA) / CAPELA JURACI DÓREA

SERTÃO | MUSEUS | ARQUEOLOGIA Caetano Dias Sinestesia, vídeo, 2014 Juraci Dórea

A Feira, vídeo, 1976 Cancela 02, madeira, couro e PVA, 1983 Cancela 03, madeira, couro e PVA, 1983 Carta 260789, Carta para Ângela 01, carvão e PVA sobre tela, 1989 Carta 310.709, Carta para Ângela 02, carvão e PVA sobre tela, 1989 Concerto para raposas e violoncelo, madeira, aço inox e bosta de boi, 2014 Diálogo com Yves Klein 1, couro e pigmento IKB, 2014 Diálogo com Yves Klein 2, madeira, pedra e pigmento IKB, 2014 Estandartes do Jacuípe XII, couro, cordão, metal e madeira, 1978 Estandartes do Jacuípe XIV, couro, nanquim, metal e madeira, 1979 Estandartes do Jacuípe XXI, couro, nanquim, metal e madeira, 1980 Estandartes do Jacuípe XXIX, couro, nanquim, metal e madeira, 1982 Estandartes do Jacuípe XXXI, couro, nanquim, metal e madeira, 1982 Estandartes do Jacuípe XL, couro, nanquim, metal e madeira, 1984 Ex-votos, cerâmica, 1988 Expedição Terra, instalação, pedra, tecido, barro e adobe, 2014 [adobe retirado da casa de Edvirges, no povoado do Saco Fundo, após sua demolição] Exposição da Volta da Pedra, vídeo, 1984 Fonte, objeto, cerâmica e madeira, 2014 Identidade visual da 3ª Bienal da Bahia, marcador, madeira e metal, 2014 [madeira extraída conforme preceitos do Lunário Perpétuo] Marca da 3ª Bienal da Bahia, couro marcado com ferro em brasa, 2014 Monte Santo, vídeo, 1976 Noites no Sertão II, pintura, carvão e PVA sobre couro, 1979 Projeto Terra, objeto em metal e madeira, 2014 Projeto Terra: Mural da Casa de Edwirges, vídeo, 1984 Projeto Terra: Os Couros, vídeo, 1984/1985 Projeto Terra: Escultura da Fonte Nova (Feira de Santana), fotografia, 1989 Projeto Terra: Escultura da Tapera (São Gonçalo dos Campos), fotografia, 1982 Projeto Terra: Escultura de Canudos (Canudos), fotografia, 1984 Projeto Terra: Escultura de Utinga (Xique-Xique), fotografia, 1989 Projeto Terra: Escultura do Tanque Novo (São Gonçalo dos Campos), fotografia, 1988 Projeto Terra: Exposição do Acaru, fotografia, 1985 Projeto Terra: Exposição do São Pedro (Monte Santo), fotografia, 1985 Projeto Terra: Mural da casa de Edwirges, fotografia, 1984 [casa de Edvirges, próximo ao povoado do Saco Fundo, Monte Santo, Bahia, demolida após a morte de Edvirges. A Expedição Terra resgatou um adobe que pertenceu a essa casa] Sem título, 2014 Série Terra III – 1º ato: o homem | 2º ato: o Sonho | 3º ato: o Homem, madeira, couro e PVA, 1981 Série Terra IV, madeira, couro e PVA, 1981 Série Terra VI, madeira, couro e PVA, 1981 Teréns 2, instalação, madeira, papel reciclado de saco de cimento, PVA, tecido e metal, 1978 Terra de Canudos, apropriação, 2014 Terra de Fonte Nova, apropriação, 2014 Terra, vídeo, 1982

Triângulo com chocalhos, objeto, madeira, metal e fios de nylon, 1980 Vasos comunicantes, materiais diversos, 2014 Documentação Álbum com fotografias da década de 1980, pasta Bienal de Havana, pasta Bienal de Veneza, pasta Bienal de São Paulo, pasta Solar do Unhão, pasta Eurico Alves, pasta Museu Regional e publicações do Projeto Terra [arquivo Juraci Dórea] Residual da 50ª Expedição Terra, 2014 Residual da obra exposta na 43ª Bienal de Veneza, couro, 1988 Seleção de livros da biblioteca do artista

MAM-BA / CASARÃO TÉRREO JUAREZ PARAÍSO

FICÇÃO CIENTÍFICA | COSMOLOGIA | UTOPIA-DISTOPIA Humberto Rocha Juarez Paraíso, fotografia p&b, 1972 O Grito de Juarez Paraíso, fotografia em preto e branco, 1972 Juarez Paraíso Fruto proibido, escultura, cabaça, massa poliéster e fibra de vidro, 1981 História em quadrinho, desenho, bico de pena e lápis de cor, 1973 Liberdade é preciso, escultura, cabaça, resina poliéster e fibra de vidro, 1980 Obras da série Cristo, xilogravura com aplicação de imagem, 1974 Obras da série Paisagem Cósmica, desenho, bico de pena sobre papel, 1962 Obras da série Organicidade, xilogravura, 1962 Obras da série Astronautas, xilogravura, 1968 Sem título, bico-de-pena, sem data Sem título, gravura em metal, água forte e água tinta, sem data Sem título, gravura em metal, sem data Sem título, gravura em metal, sem data Sem título, infogravura, 1995 [acervo Juraci Dórea] Sem título, xilogravuras, 1959 Sem título, xilogravuras, sem data Sou Jesus, cartaz, impressão a laser, 1971 Totem 2, escultura, cabaça, búzios, massa poliéster e fibra de vidro, 1986 Triplicidade, gravura em metal, água forte e água tinta, 1971 Thomas Farkas Caravana Farkas 4: Paraíso, Juarez, vídeo, 1971 Documentação Sessão Ficção-Científica / Período formativo: exemplares das revistas Flash Gordon e Metal Hurlant, trechos dos filmes Duna (1984) e Cosmos (1980) Sessão Utopia-Distopia, projetos de obras públicas que atualmente estão destruídas ou deterioradas Coleção de livros de ficção-científica do acervo particular de Juarez Paraíso


JORNAL DOS 100 DIAS

RIOLAN COUTINHO ENTRE SISTEMAS

Riolan Coutinho Abstrato, pintura, óleo sobre tela, 1964 Cavalo e touro, desenho, bico de pena sobre papel, sem data Cavalos I, desenho, bico de pena sobre papel, sem data Conversando, gravura em metal, 1961 Duas mulheres com pássaros, desenho, pincel atômico e nanquim sobre papel, sem data Duas mulheres, desenho, tinta nanquim e pincel sobre papel, sem data Fantasia, desenho, bico de pena sobre papel, sem data Ilustração, gravura em metal, 1961 Minotauro, desenho, pincel atômico e nanquim sobre papel, sem data Mulher com pomba e chapéu, desenho, pastel oleoso sobre papel, 1981 Mulher recostada, desenho, tinta nanquim e pincel sobre papel, sem data Rosto, desenho, bico de pena sobre papel, sem data Sem título, pintura, óleo sobre tela, sem data *Com exceção da última obra listada, todas as obras pertencem ao acervo de Elisabeth Maria Roters Coutinho

MAM-BA / CASARÃO 1º PISO ROGÉRIO DUARTE

GÊNESIS | APOCALIPSE | RESSURREIÇÃO Glauber Rocha A Idade da Terra, filme, 1980 Câncer, filme, 1972 Terra em Transe, filme, 1967 Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme, 1964 Manuel Raeder, Mariana Castillo Deball, Sophie von Olfers, Rogério Duarte Marginália, livro, 1ª edição Narlan Matos, Mariana Rosa e Rogério Duarte Tropicaos, livro Rogério Duarte A Canção do Divino Mestre, livro [tradução, introdução e notas de Rogério Duarte] A Doença Mental, capa de livro [Marcel Eck] Brasil, capa de disco [João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia], 1981 Cantar, capa de disco [Gal Costa], 1974 Cristianismo Hoje, capa de livro [escrito em colaboração: Thomas Cardonell, Henrique C. de Lima Vaz, Herbert de Souza, Luiz Alberto Gómez de Souza, União Nacional dos Estudantes] Folias Brejeiras, capa de livro [José Simão] Neodésica, escultura, sem data O Gitagovinda de Jagadeva, A Cantiga de Negro Amor, livro [autoria e tradução de Rogério Duarte] Paris sob o Terror 1793-1794, capa de livro [Stanley Loomis] Pôster A Grande Cidade, filme de Cacá Diegues, 1966

Pôster A Idade da Terra, filme de Glauber Rocha, 1980 Pôster A Opinião Pública, filme de Arnaldo Jabor, 1967 Pôster Cara a Cara, filme de Julio Bressane, 1967 Pôster do Museu de Arte Moderna da Bahia, 1960-2000 Pôster Meteorango Kid – O Herói Intergaláctico, filme de André Luiz Oliveira, 1969 Refazenda, capa de disco [Gilberto Gil], 1975 Rogério Duarte recitando Gita Govinda, áudio aberto Rogério Duarte e Aldo Luiz Gilberto Gil ao vivo, capa de disco [Gilberto Gil], 1974

Milena Travassos Preparando-se para imergir, instalação, 2005 [acervo MAM-BA] Vauluizo Bezerra Sangue e chocolate, videoinstalação, 2014 Virginia de Medeiros Jardim das torturas, vídeo, 2013/2014

MAM-BA / SALA RUBEM VALENTIM Alba Liberato TOPANOPANO, colagem e costura em tecido, 2014

Rogério Duarte, Antônio Dias, Drew Zingg Gilberto Gil, capa de disco [Gilberto Gil], 1985

Hilda Salomão Mulher Nordestina, cerâmica, modelada à mão e torno, argila e esmaltes cerâmicos, 2014

Rogério Duarte, Caetano Veloso e João Castrioto Qualquer Coisa, capa de disco [Caetano Veloso], 1975

Joaquim Lino Da série O Sacrifício, fotografia sobre papel de algodão, 2013

Documentação Gênesis, Apocalipse, Ressurreição; revistas, manuscritos, croquis e estudos de Rogério Duarte Gênesis, Apocalipse, Ressurreição; vídeo com arquivos de Rogério Duarte Fotos do arquivo pessoal de Rogério Duarte, manuscritos, partitura, peças de xadrez criadas por Rogério Duarte, pedra da coleção Objetos Não Identificados, capa do vinil O Povo Canta, Centro Popular de Cultura Seleção da pesquisa videográfica realizada por Daniel Cortes, vídeos Este é o lugar da precisão, vídeo realizado em Santa Inês, 2014 [captação e edição de Isbela Trigo]

MAM-BA / SUBSOLO Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Performatividade de Gênero Seção: Gêneros Baldomiro Costa Casulo, instalação, 2014 Bia Medeiros XXTA Síntese, Mulher pitaya, XXTA e peitos, Peitos vermelhos, Para Marcia X. Pitaya, nanquim e lápis sobre papel, 2014 Claudio Manoel & Solange Tô aberta CUCETA – A cultura queer de Solange, tô aberta, vídeo, 2010 Ieda Oliveira Um terço para Marcia X, instalação, 2014 Marcia Abreu Da série Menstros, instalação, 2003 Marcondes Dourado Erotismo, videoinstalação, 2005

MAM-BA / GALERIA 1 Lawrence Weiner Declaration of Intent, instalação, 1968

MOSTEIRO DE SÃO BENTO A REENCENAÇÃO Almandrade Brasil 1964, madeira, aço inox e borracha, 1978 É, papelão, papel, isopor, frasco de vidro, plástico e pelos pubianos, 1992 Mural para lamentações, objeto, madeira pintada e plástico, 1993 Sem título (maquete para escultura pública), objeto, papelão, 2014 Sem título (maquete para escultura pública), objeto, papelão, 2014 Sem título (maquete sem escala), madeira pintada, 1989 Sem título, objeto, madeira pintada, 1993 Sem título, objeto, madeira, esponja e tubo de PVC, 1998 Tensão e equilíbrio, objeto, lâmina de PVC e elástico, 1999 Ana Verana Sem título, aquarela sobre papel, 2012 Arthur Scovino Caboquismo, instalação com objetos pessoais do artista, 2014 Charbel-joseph H. Boutros Cada dia sob seu próprio sol, folhas de calendário libanês, sol de Itaparica, 2014 [durante o mês de abril, cada dia de um calendário libanês foi exposto ao sol da ilha de Itaparica, da alvorada ao pôr-do-sol]


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

Lágrimas separadas, objeto, gota de lágrima do olho esquerdo do artista, vidro, plástico, fluido lacrimal, 2014

Rex Schindler Bahia, Por Exemplo, vídeo, 1970 [música de Walter Smetak]

Daniel Lisboa O Fim do Homem Cordial, vídeo, 2004

Rodrigo Matheus Sem título, instalação, 2014 [obra construída a partir de bases de madeira branca, usadas regularmente para expor peças sacras do Museu Mosteiro de São Bento]

Depoimento do artista Leonardo Alencar, que participou da 2ª Bienal da Bahia, vídeo, 2014 Frase sobre a barra de ferro que sustenta a cúpula do Mosteiro: “Duas forças em oposição, a partir do movimento de tração, colaboram para sustentar a cúpula desta construção” / “Two opposed vectors, from the movement of their traction, collaborate to sustain the dome of this construction” Gaio Matos Fábricas, papelão e livro, 2004 Mercadinhos, papelão, 2005 Genaro de Carvalho Sem título, tapeçaria, sem data [acervo César Romero] Imitação (souvenir) de escultura da série Bichos, de Lygia Clark, comercializada por Clark Art Center, 2014 Juarez Paraíso Homem-Tubo, resina, poliéster e fibra de vidro, 1981 Lênio Braga A Curra, óleo sobre madeira, 1967 Entrada de Cristo em Salvador, óleo sobre tela, 1962 [acervo MAM-BA] Lia Cunha 1091 (1968), litogravura, chumbo, 2012 Máscaras mortuárias de integrantes do bando de Lampião, final da década de 1930 (Maria Bonita, Lampião, Corisco, Canjica, Maria de Azulão, Azulão, Zabelê) [acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima] Pasquale de Chirico Escultura e túmulo do poeta Castro Alves, 1922 [vistos através da janela do Mosteiro] Placa, homenagem a monitor da 2ª Bienal da Bahia (1968), preso político desaparecido, mármore, 2014 Placas que se referem a obras desaparecidas em 1968 durante a 2ª Bienal da Bahia, mármore, 2014 Pôster da Primeira Bienal da Bahia (1966), projeto gráfico de Emanoel Araújo e Sonia Castro Pôster da Segunda Bienal da Bahia (1968), projeto gráfico de Humberto Aquino Rocha Pedro Marighella Gélédé Muquirana, fibra, pintura automotiva e lã, 2012 Pierre Verger Vaudou, Port-au-Prince, Haiti, fotografia, 1948 [acervo Fundação Pierre Verger]

Sante Scaldaferri Luxúria (integra Tríptico da Tentação), encáustica sobre tela, 1981 [acervo do Mosteiro de São Bento] Usura (integra Tríptico da Tentação), encáustica sobre tela, 1981 [acervo Mosteiro de São Bento] Siron Franco Cavalo de Tróia, óleo sobre tela, 1968 [prêmio-aquisição na 2ª Bienal da Bahia – acervo Marcos Koenigkan] Tetine (Eliete Mejorado e Bruno Verner) Profane Cow Study IV, vídeo, 2008 [reencenação da música Vaca Profana na interpretação de Gal Costa] Thiago Martins de Melo A Sodomia da Brancura na Capelinha do Coronel, acrílico sobre tela, 2011 [acervo Paulo Kuczynski Escritório de Arte] Tuti Minervino Maria vai com as outras, instalação, 2009 Urna cinerária indígena, repositório das cinzas dos mortos, cerâmica, Coribe (Bahia), coleção Valentin Calderón, sem data [acervo Museu de Antropologia e Etnologia – UFBA] Zé de Rocha Isso é um cachimbo, desenho, nanquim e giz sobre papelão, 2009 Áudios Leitura da carta pública de Mario Cravo, por Arthur Scovino; leitura da resposta Esclarecimento ao Povo Baiano, por Renato da Silveira; leitura de texto de Juarez Paraíso sobre a 2ª Bienal da Bahia, por Ana Verana: instalação em mobiliário contador, jacarandá e talha tremida, séc. XVII [acervo Mosteiro de São Bento] Texto Direitos Humanos, Abade Dom Timóteo Amoroso Anastácio, proferido em 8 de março de 1977, lido pelo artista Juarez Paraíso em 21 de maio de 2014 Textos Carta de Mário Cravo, pedido de demissão do Conselho Estadual de Cultura, publicada no jornal A Tarde, 5/10/1968 Carta-resposta Esclarecimento ao Povo Baiano, redigida por Renato da Silveira, publicada em A Tarde, outubro de 1968 Ensaio Cinco Anos Entre os Brancos, Lina Bo Bardi, 1967 Reprodução de debate em redes sociais, 2014 Trecho de Direitos Humanos, abade Dom Timóteo Amoroso Anastácio, baseado em homilia proferida em 8 de março de 1977

Documentação Documentação 1ª e 2ª Bienais da Bahia (1966 / 1968) Seção Formas de Violência [vídeos relacionados à Revolta do Buzu, Conflito Quilombo dos Macacos, Ocupação Saramandaia, Greve da PM e Invasão da UFBA] Seção Lênio Braga [reprodução da obra Monalisa & Moneyleague, 1966; documentação, fotografias de época, desenho e objetos pessoais do artista] Sequência de slides com notícias sobre a 1ª e 2ª Bienais da Bahia, publicadas nos anos 1960 Acervo e Mobiliário do Mosteiro de São Bento Ambão, jacarandá, séc. XVIII Cadeira abacial, jacarandá, séc. XVII Cristo de Roca, séc. XVIII Ex-voto do milagre de Nossa Senhora dos Remédios a Agostinho Pereira da Silva, óleo sobre tela, 1745 Imagem de São Sebastião, madeira dourada e policromada, séc. XVI [doada aos beneditinos pelos jesuítas em 1580] Lápide (1938), lembra a invasão holandesa ao Mosteiro de São Bento em 1624 Santa Escolástica e São Bento, madeira policromada, séc. XVII Castiçal, séc. XIX

MUSEU CARLOS COSTA PINTO Museu Imaginário do Nordeste Departamento a Todo Vapor Seção: Tropicalidades Dicinho 1969, capa de disco [Gal Costa], sem data Abstração 1, relevo, polpa de celulose, gesso cré e pigmentos, sem data Bloco Vermelho, escultura, 1993 Borboletas, escultura, 1993 Capoeiristas, escultura, 1993 Cara e coração, capa de disco [Moraes Moreira], sem data Espátulas, rolos e ferramentas inventadas por Dicinho Macaco, pintura sobre escultura, sem data Mulher deitada, pintura sobre escultura, sem data Mulher Grávida, pintura sobre escultura, sem data Números, relevo, polpa de celulose, gesso cré e pigmentos, sem data O beijo, relevo, polpa de celulose, gesso cré e pigmentos, sem data Oxaguian, escultura, 1993 Raposa velha, capa de disco, sem data Série Máscaras, pintura sobre escultura, sem data Trocou os pés pelas mãos, escultura, sem data Tropicália, relevo, polpa de celulose, gesso cré e pigmentos, sem data Yin-Yang, relevo, polpa de celulose, gesso cré e pigmentos, sem data Dicinho e Capinan Amarga que nem jiló, poesia visual, sem data


JORNAL DOS 100 DIAS

Edinízio Ribeiro Primo Cabaças, óleo sobre tela, 1972 Drama, capa de disco [Maria Bethânia], sem data Estudo de azulejo, desenho, sem data Estudos de cores, sem data Experimento tendo como referencial as manchas do método Rorschach, 1974 Expresso 2222, capa de disco [Gilberto Gil], sem data Homem na lua. Homem na guerra, pintura, óleo sobre madeira, 1966 Índia, capa de disco [Gal Costa], sem data Lagartixa, desenho, esferográfica sobre papel, sem data Mulher grávida, pintura, óleo sobre madeira, 1966 Pássaro cantando azul, pintura sobre papel artesanal, sem data Sem título, pintura, óleo sobre material plástico, 1971 Série de gravuras florais sem título, 1975 Série Frutos de mi terra, desenho, caneta hidrográfica e grafite sobre papel Série Leão alado, desenho, esferográfica sobre papel, sem data Mobiliário da década de 1960 [acervo Galeria Roberto Alban] Peças de porcelana Companhia das Índias [acervo Museu Carlos Costa Pinto] Toca discos com LPs de Gal Costa e Maria Bethânia Fotos Trechos do filme Phono 73 que mostram figurinos elaborados por Edinízio Ribeiro Primo para Maria Bethânia e Caetano Veloso Dicinho dançando na casa de Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi, sem data Dicinho e Edinízio posam para editorial de moda da Revista O Cruzeiro, 1968 Dicinho posa para campanha da Arp, sem data Edinízio Ribeiro Primo em seu ateliê, série de fotografias, sem data [acervo família do artista] Edinízio Ribeiro Primo realizando happenings na feira de Jequié, série de fotografias, sem data [acervo família do artista] Edinízio sentado num pneu de trator, sem data [acervo família do artista]

go da Bahia, fotografia, anos 1980 Faixa Emblemática com paisagem, acrílica sobre tela, sem data Sem título, bordados, sem data Sem título, fotografia, sem data Sem título, renda irlandesa, sem data [coleção César Romero] Sem título, renda irlandesa, sem data [coleção César Romero] Urdidura, técnica mista, 2011 Guto Lacaz Saravá, animação 3D, 2014 [espiral cinética para o Elevador Lacerda, projeto para um futuro próximo / modelagem e animação 3D de Dan Palatnik] Harry Laus Artes plásticas, livro [acervo César Romero] Bis, reedição de Os incoerentes e Ao Juiz dos Inocentes, livro [acervo César Romero] Caixa d’Aço, livro [acervo César Romero] De Como Ser, livro [acervo César Romero] Diários: Espaço de Presença e de Ausência de Harry, livro [acervo César Romero] Impressões de Vida, livro [acervo César Romero] Journal Absurde [1949-1959], livro [acervo César Romero] O Santo Mágico, livro [acervo César Romero] Os Papéis do Coronel, livro [acervo César Romero] Sentinela do Nada, livro [acervo César Romero] Tempo e Andanças, livro [acervo César Romero] Harry Laus por César Romero, vídeo loop Ian Wilson Circle on the floor, instalação, círculo de giz desenhado no chão, 1968 Luis Berríos-Negrón Estudos para Tear do Terreiro, desenho, grafite sobre papel, 2014 Ruth Laus A Décima Carta: Laus Apenas, livro [acervo César Romero] Tuti Minervino Este trabalho não tive, projeção de slides, 2014 Zé de Rocha Fim da Linha, bordado sobre tecido, 2013

MUSEU DE ARTE SACRA Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Insistência Afetiva Seção: Imateriais Camila Sposati Maquetes dos teatros anatômicos da Terra em Darvaza, São Paulo, Mirny, Pádua, Itaparica e Guatemala, escultura, agosto, 2014 César Romero Da série Tamboretes de Festa de Largo da Bahia, acrílica sobre tela, anos 1980 Da série Tamboretes de Festa de Largo da Bahia, fotografia, anos 1980 Da série Tamboretes de Festa de Lar-

Documentação [acervo Cesar Romero] Carta e biografia de Harry Laus, fotografias, fotos pessoais O Estado, Florianópolis, 25 de dezembro de 1983 [seção: livros Entrevista com Harry Laus] Postal Harry Laus, Monólogo da Provação [acervo César Romero] Retratos de César Romero e Harry Laus

MUSEU NÁUTICO Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Luta Revolucionária Seção: Brincantes

Agnès Varda Black Panthers - Huey!, vídeo, 1968 Hansen Bahia Sem título, técnica mista, 1972 [acervo Fundação Hansen Bahia] Pierre Verger Negro S.A., fotografia, sem data [acervo Fundação Pierre Verger]

PALACETE DAS ARTES SALA CONTEMPORÂNEA Museu Imaginário do Nordeste Departamento PEBA & Cia Seção: Brincantes Almandrade Objetos sem título; vinho Almandrade, 1979 Poema, poema visual, 1975 [acervo Galeria Roberto Alban] Sem título, poema visual, 1974 [acervo Galeria Roberto Alban] Sem título, poema visual, 1975 [acervo Galeria Roberto Alban] Sem título, poema visual, 1975 [acervo Galeria Roberto Alban] Anízio de Carvalho Fotografias dos tropicalistas Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, 1970-1979 [acervo do artista e da Fundação Cultural do Estado da Bahia] Arthur Scovino Musa cabocla, desenho, 2014 Babalu Dragão amarelo, acrílica sobre tela, sem data Gamela cardume, sem data Gamela I, sem data Jardim das delícias, colagem, sem data Ônibus, colagem, sem data Ponto de ônibus na Boca do Rio, sem data Rio laranja, acrílica sobre tela, sem data Serpente que come o sol, acrílica sobre tela, sem data *Todas as obras são do acervo da família do artista

Chico Dantas O executor, vídeo, 2014 Claudio Costa Filme Arcabouço, documentação da série Rotas geopoéticas realizada durante 12 anos pelo interior do Maranhão, 2013 Daniel Santiago Cafunés em potencial, da série Alfabetos, poema visual, sem data Discurso Político, da série Alfabetos, poema visual, sem data Documentação Circuito Aberto de Performance em Rede, projeto recusado no 15º Salão do Museu de Arte Moderna Documentos civis que registram a passagem do artista pela Bahia Tabela poética dos números íntimos, da série Alfabetos, poema visual, sem data


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

Dicinho Guerra e paz, relevo, polpa de celulose, gesso cré e pigmentos, sem data Edgard Navarro O rei do cagaço, vídeo, 1977 Edinízio Ribeiro Primo Briga de galos, pintura, sem data Galo, gravura, sem data Marieta, gravura, sem data *Acervo da família do artista

Gilson Barbosa Sem título, óleo sobre tela, 1973 Sem título, óleo sobre tela, 1978 *Acervo da família do artista

Gilson Rodrigues Bananeiras, acrílico sobre tela, 1990 *Acervo da família do artista

Grupo Posição Remendó, instalação interativa de 1981 remontada em 2014 [acervo Sônia Rangel] Jomard Muniz de Britto Atentados poéticos, textos, 2011-2014 Mito e contramito da família pernambucanobaiana, vídeo, 1974 O palhaço degolado, vídeo, 1977 Toques, vídeo, 1975 Uma experiência didática – o corpo humano, vídeo, 1974 José Umberto Dias e Robinson Roberto Brabeza, vídeo, 1978 Louco BSF Obá, escultura em madeira, sem data [acervo da família do artista] Luiz Jasmin Recital na Boite Barroco, capa de LP [Maria Bethânia], 1968 Compacto duplo de Gal Costa, capa de LP [Gal Costa] 1968 Márcia Magno Gravuras da série Janelas, instalação Arraias, 2014 Marepe Museu, da série Instituições Portáteis, instalação, 2014 Galeria, da série Instituições Portáteis, instalação, 2014 Maria Adair Terra brasiliana com dança das varetas de pau-brasil, instalação, 2014 Martha Araújo Registros da série Hábito/ Habitantes, 1984-1986 Paulo Bruscky Jayme Fygura em Salvador, fotografia e texto, 2006 Ramiro Bernabó Conjunto de esculturas de jardim, cerâmica, 2008 Escadeiras, escultura em madeira, 2009 Rena, escultura em madeira, 2013 Renato da Silveira Sem título, óleo sobre tela, 1975 [acervo MAM-BA]

Sonia Rangel Fotomontagem impressa em papel fotográfico livro da série Olho desarmado, 2006 Maquete e livro da série Casa tempo, 1998 Sture Johannesson Revolution Means Revolutionary Consciousness!, pôster, 1968 [tubo de transporte de obra vinda da Suécia] Torquato Neto Arco artefato, poema visual, 1969 [acervo Paulo Bruscky] Artesmanhas, poema visual, sem data [acervo Paulo Bruscky] Inimigo/Medo n. 1, poema visual, sem data [acervo Paulo Bruscky] Ódio, poema visual, 1971 [acervo Paulo Bruscky] Os últimos dias de Paupéria, livro, 1973 Tuti Minervino Cada qual no seu canto, objeto, 2013 Tchau, Brasil! Passar bem, objeto, 2012 Um terno carinho, objeto, 2013 Vauluizo Bezerra Rio Bang Bang, acrílica sobre tela, 1998 [acervo Rita Camara] Waly Salomão Palavra-destaque - FA - TAL -, em ambientação de Luciano Figueiredo e Óscar Ramos para show de Costa, Gal a Todo Vapor, 1971 Palavra-destaque VIOLETO, em ambientação de Luciano Figueiredo e Óscar Ramos para show de Gal Costa, Gal a todo Vapor, 1971 Willyams Martins Cartaz ladrão de grafite, pintura, tecido voal e resina de poliéster sobre mural, 2007 Da série Peles do Cárcere, pintura, tecido voal e resina de poliéster sobre mural, 2013 [acervo Galeria Roberto Alban]

CASARÃO Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Viagem Sem Fim Seção: Naturalismo Integral Abbas Kiarostami Five, Dedicated to Ozu, vídeo, 2003 Abraham Palatnik Jungle Zoo [alce, elefante, onça], objeto, resina poliéster, sem data [coleção particular Fernando e Camila Abdalla] Water Creatures [caracol, baleia, urso polar, pinguim, foca], objeto, resina poliéster, sem data [coleção particular Fernando e Camila Abdalla] Birds [passarinho, pavão], resina poliéster, objeto, sem data [coleção particular Fernando e Camila Abdalla] Home & Farm [carneiro, burro, galo, gato], objeto, resina poliéster, sem data [coleção particular Fernando e Camila Abdalla] Owls [coruja], objeto, resina poliéster, sem data [coleção particular Fernando e Camila Abdalla] Miniatures [girafa, camelo, pato, galinha, pintinho, dinossauro, jacaré], objeto, resina poliéster, sem data [coleção particular Fernando e Camila Abdalla] Adrian Cowell O coração da floresta, série A Destruição do índio, vídeo, 1961 A tribo que se esconde do homem, série Os últimos exploradores - os irmãos, vídeo, 1970 [acervo PUC-GO] Tempestades na Amazônia, série A década da destruição, vídeo, 1984 [acervo PUC-GO] Aldemir Martins Pássaro, gravura em metal, nanquim e aquarela, 1955 [acervo MAM-BA] Galo, gravura em metal, sem data [acervo MAM-BA]

Zu Campos São Cachacim, objeto, vidro, cachaça e madeira, 2014

Armas de fogo do grupo de Lampião, sem data [acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima]

Documentação Livros escritos por Jomard Muniz de Britto; cartão postal aos curadores da 3ª Bienal da Bahia; fotografia com o poema-processo Es USted libre?; stills do filme O palhaço degolado

Arte contínua do Etsedron O Rei da força e do conhecimento, escultura, cipó mariri, 2014

Documentação da passagem de Hélio Oiticica em Recife; fotografias com Hélio Oiticica, Almandrade, Paulo Bruscky e Daniel Santiago, 1979; Hélio Oiticica posa em fotografia do encarte do LP A peleja do diabo com o dono do céu, de Zé Ramalho; LP Legal, capa realizada por Hélio Oiticica [acervo Paulo Bruscky]

Carlos Mélo Emissão, vídeo loop, 2014 [voz Renata Sorrah] Livro Rio, livro objeto, 2014 [confeccionado por André Lenz]

Documentação relacionada ao Grupo Posição, formado em 1979 por Carlos Petrovich, Chico Diabo, Eckenberger, Sonia Rangel e Zélia Maria

Chico Liberato Veja-se, instalação, 2014

Documentação sobre o artista Gilson Barbosa [acervo da família do artista]

Caderno de plantas medicinais do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá

Cartão postal de Hélio Oiticica enviado a Paulo Bruscky em julho de 1979 [acervo Paulo Bruscky]

Dicinho Cangura, relevo, polpa de celulose, gesso cré e pigmentos, sem data Baobá, escultura, polpa de celulose, gesso cré e pigmentos, sem data


JORNAL DOS 100 DIAS

Florival Oliveira Sem título, jacarandá, 2014 Frans Krajcberg Sem título, esculturas em madeira, sem data [acervo particular Paulo Darzé Galeria de Arte] Geraldo Simões Diários e fotos de caçadas, 1965 a 1972 [acervo particular] Gerson Nascimento Sem título, camisas pintadas à mão, sem data Giulio Paolini Ennesima, livro de artista, 1975 [tiragem de 100 exemplares / acervo particular] Juraci Dórea Galos, desenho, carvão sobre eucatex, 2012 Leonardo Alencar Sem título, pintura, óleo sobre tela, sem data [coleção particular César Romero] Mobiliário de Lina Bo Bardi, sem data [acervo MAM-BA] Piero Gilardi Tronchetto, poliuretano expandido e tinta, 2000 [acervo particular] Pierre Restany, Sepp Baendereck, Frans Krajcberg Viagem ao Rio Negro, vídeo, 1978 [acervo Domus] Pierre Verger Hemingway, fotografia, Cuba, 1957 [acervo Fundação Pierre Verger] Saut d’eau, fotografia, Haiti, 1948 [acervo Fundação Pierre Verger] Reinaldo Eckenberger Botânica, da série Botas, assemblagem, sem data Regina Jehá Catehe, vídeo, 1994 Curumins & Cunhatãs, vídeo, 1981 Pantanal: a última fronteira, vídeo, 1983 Bootstrap, filme, 2005 Roger Buergel Sem título, aquarelas, 2008 Sepp Baendereck Memento Mori, grafite sobre papel, 1985 Dantesca, grafite sobre papel, 1986 Urna funerária piriforme com opérculo - tradição Aratu, autor desconhecido, cerâmica lisa, sem data [acervo Museu de Antropologia e Etnologia – UFBA] Documentação Fotografias de Darcy Ribeiro: Darcy Ribeiro com pintura facial, Mato Grosso, 1947; Berta Ribeiro com pintura facial, Mato Grosso, 1947; Xamã Kadiwéu ao lado de criança, Mato Grosso, 1948; Padre com ajudante, Mato Grosso, 1948; Darcy Ribeiro com índios Kadiwéu, Mato Grosso, 1947 [acervo Museu do Índio] Vitrine com documentação da Viagem ao Rio Negro, 1978 [acervo particular]

PALÁCIO RIO BRANCO Agência do Carma e da Conciliação Yoko Ono Cleaning piece III / Peça de limpeza III, instrução, 1996 Documentação Processo de Juarez Paraíso contra a Igreja Evangélica Apostólica Renascer em Cristo Processo de Fátima Pombo contra a Fundação Bienal de São Paulo Cartas públicas da dissidência entre os curadores e os ex-curadores adjuntos da 3ª Bienal da Bahia

SOLAR FERRÃO GALERIA 1 Museu Imaginário do Nordeste Departamento da Marchetaria de Ficções Instáveis Seção: Formas de Orientalismo Alex Oliveira Da série Ritos de Passagem, fotografia, 2011-2014 Beatriz Franco São Paulo_mas poderia ser qualquer lugar, fotografia e texto, 2014

Bakary Diallo Taa bolo, vídeo, 2013 Bauer Sá White shoe, Ama, Olhos de Xangô, Lelicana, fotografias, 2007-2009 Eneida Sanches e Tracy Collins Eu não sou daqui, instalação, 2014 Mario Cravo Neto Gato/Capoeira, vídeo, 1979 [acervo família do artista] Representação dos Colonizadores, Ewe, Benin/ Togo, escultura, século XX [Coleção Claudio Masella de Arte Africana – Solar Ferrão - Dimus]

EXPOSIÇÃO ITINERANTE No Litoral é Assim Alejandro Jodorowsky, Bianca Portugal e Evandro Sybine Caderno para ações psicomágicas, livro de artista, papel e madeira, 2014 [acervo particular] Desconhecido Cabeça de ex-voto, escultura em madeira, sem data [coleção de Arte Popular Lina Bo Bardi - Solar Ferrão - Dimus] Dicinho Cabra, escultura, madeira policromada, sem data

Evandro Sybine O grande duelo, xilogravura, carimbo e tinta, 2010-2014

Ednízio Ribeiro Primo Pássaro e peixes, serigrafia, sem data [coleção particular]

Fernando Pontes Seis de dezembro, fotografias capturadas com câmera de celular de 2 megapixels, 2013

Ian Wilson Circle on the floor, instalação, círculo de giz desenhado no chão, 1968

Milena Travassos Encarnado, instalação, 2014 [trabalho realizado durante residência artística da 3ª Bienal da Bahia no Instituto Sacatar]

Ícaro Lira Expedição Etnográfica de ficção Canudos-BA, instalação, pedras, papelão e tecido, 2014

Nino Cais Cidade das pedras, fotografia e colagem, 2014

Joaquim Lino Investigação feminina e o flerte com a morte, fotografia, 2011 [coleção particular]

Paulo Nazareth Da série Cadernos de África, diário de bordo do artista, papel, caneta, lápis, 2013 Vieira Andrade e Gustavo Carvalho I.I.I. - Inventário de incrustações imagéticas, tomo I: Atlânticos, capítulo II: Ajuntó, objeto, fotografia e texto, 2014 [trabalho realizado durante residência artística da 3ª Bienal da Bahia no Instituto Sacatar]

GALERIA 2 Museu Imaginário do Nordeste Departamento do Pós-Racialismo (corpo, dispositivo, subjetivação) Seção: Áfricas

Jomard Muniz de Brito Mito e contramito da família pernambucobaiana, vídeo, 1974 Juraci Dórea Terra, vídeo, 1982 Luis Berríos-Negrón A máquina invisível, escultura em madeira, 2014 Marepe Cabra da lata, escultura, metal, 2010 Paulo Nazareth Antropologia do Negro..., impressão em papel e vídeo, 2014

Adenor Gondim Cãos de Jacobina, fotografia, 2011

Yoko Ono Cleaning piece III/Peça de limpeza III, instrução, 1996

Aristides Alves Da série Outros, fotografias, 1994

Zé de Rocha Bed Box, objeto, papelão, plástico e metal, 2010


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

FILMES CIRCUITO CINEMA YEMANJÁ CINECLUBES Toda a memória do mundo (Toute la mémoire du monde) Alain Resnais, 22 minutos, França, 1956 O ano passado em Marienbad (L’année dérnière à Marienbad) Alain Resnais, 93 minutos, Alemanha, Áustria, França e Itália, 1961

de beaux escaliers, tu sais, 3 minutos, 1986) Os Amantes da Ponte Mac Donald (Les Fiancés du Pont Mac Donald, 5 minutos, 1961) 7 Peças, Cozinha, Banheiro… Imperdível (7 P., Cuis., S. de B., … À Saisir, 27 minutos,1984)

Os dias com ele Maria Clara Escobar, 105 minutos, Brasil, 2013

The ballad of genesis and Lady Jane Marie Losier, 72 minutos, França, 2011

Doméstica Gabriel Mascaro, 76 minutos, Brasil, 2012

Papel não embrulha brasa (Le Papier ne peut pas envelopper la braise) Rithy Panh, 86 minutos, França, 2006

Histórias que só existem quando lembradas Julia Murat, 98 minutos, Brasil, 2011 Uma Longa Viagem Julia Murat, 97 minutos, Brasil, 2011 A cidade é uma só? Adirley Queirós, 73 minutos, Brasil, 2012 Morro do Céu Gustavo Spolidoro, 70 minutos, Brasil, 2009 Estrada Real da Cachaça Pedro Urano, 98 minutos, Brasil, 2009 Varda, todos os curtas (Varda, tous les courts) Agnès Varda, França

Decididamente animados - Brincadeiras de crianças (Résolument Animés – Enfantillages) França

A Dança da chuva (The Rain dance, Vijaya Kumar Arumugam, 8 minutos, 2006)

Do Lado da Riviera (Du Côté de la Côte, 24 minutos, 1958)

A Harmonia Cósmica (L’Harmonie cosmique, Jean-Marc Rohart, 6 minutos, 2005)

Tio Yanco (Oncle Yanco, 22 minutos, 1967)

Até os Patos vão para o Paraíso (Même les pigeons vont au paradis, Samuel Tourneux, 9 minutos, 2007)

Ulisses (Ulysse, 21 minutos, 1982) Saudações, cubanos! (Salut les cubains, 28 minutos, 1962) Um minuto para uma imagem (Une minute pour une image, 19 minutos, 1983) As Tais Cariátides (Les Dites Cariatides, 13 minutos, 1984) A Ópera-Mouffe (L’Opéra- Mouffe, 16 minutos, 1958) Elsa, a rosa (Elsa la Rose, 20 minutos, 1965) O Leão Volátil (Le Lion Volatil, 12 minutos, 2003) Você tem belas escadarias, sabia? (T’as

O ladrão de Pára-Raios (Le Voleur de Paratonnerres, Paul Grimault, 10 minutos, 1944) O Pequeno Circo de Todas as Cores (Le Petit Cirque de Toutes Les Couleurs, Jacques-Rémy Girerd, 7 minutos, 1986) Os Caramujos (Les Escargots, René Laloux, 11minutos, 1965) Os três Inventores (Les Trois inventeurs, Michel Ocelot, 13 minutos, 1980) Port’ e a Filha das Águas (Port’ et la Fille des Eaux, Jean-François La- guionie, 12 minutos, 1974)

A viagem extraordinária (Le voyage extraordinaire) Eric Lange e Serge Bromberg, 65 minutos, França, 2011

Prazer Amoroso no Irã (Plaisir D’Amour en Iran, 6 minutos, 1976)

Ydessa, Ursos e Etc… (Ydessa, lês ours et etc…, 43 minutos, 2004)

Curtas:

Jéssica Christopherry Paula Lice, Ronei Jorge e Rodrigo Luna, 52 minutos, Brasil, 2013

Oh, Estações! Oh, Castelos! (Ô saisons Ô chateaux!, 22 minutos, 1957)

Resposta de Mulheres (Réponse de Femmes, 8 minutos, 1975)

Decididamente animados, do curta ao longa (Résulement Animés – Du court au long) França

Victoire Terminus Florent de la Tullaye e Renaud Barret, 80 minutos, França, 2007

7,2 Toneladas (7 tonnes 2, Nicolas Deveaux, 3 minutos, 2004)

Os Panteras Negras (Black Panthers, 28 minutos, 1968)

Versus (François Caffiaux, Romain Noel e Thomas Salas, 6 minutos, 2005)

Borboleta (Papillon, Zhi Yi Zhang, 3 minutos, 2005)

Tudo Bem, Tudo Bem (TSF Ça Va Ça Va, Sylvain Chomet e Philippe Le- clerc, 3 minutos, 1980) Um Coração Para Emergências (Coeur de Secours, Piotr Kamler, 9 minutos, 1973) Decididamente animados, ah! O amor... (Résulement Animés, ah! L´amour...) França Curtas: A Bela do Bosque de Ouro (La Belle Au Bois D’or, Louis Clichy, 3 minutos, 2001)

A Borboleta (Le Papillon, Antoine Antin e Jenny Rakotomamonjy, 4 minutos, 2002) A Linha da Vida (Eletvonal, Tomek Ducki, 6 minutos, 2006)

Entre Duas Migalhas (Entre deux miettes, Sylvain Ollier, 5 minutos, 2005)

A Queda do Anjo (La Chute De L’Ange, Geoffroy Barbel-Massin, 5 minutos, 2005)

Migração Assistida (Migration assistée, Pauline Pinson, 5 minutos, 2006)

Calypso é Isso (Calypso Is Like So, Bruno Collet, 7 minutos, 2003)

O Castelo dos Outros (Les Château des autres, Pierre-Luc Granjon, 6 minutos, 2003)

Contra Parede (Le Dos Au Mur, Bruno Collet, 8 minutos, 2001)

O Rabo do Camundongo (La Queue de la souris, Benjamin Renner, 5 minutos, 2007) Pamplemousse (Coralie Van Rietschoten, 7 minutos, 2003) Primeira Viagem (Premier voyage, Grégoire Sivan, 10 min, 2007) Santa Festa (La Saint Festin, Anne-Laure Daffis e Léo Marchand, 15 minutos, 2007) Vampz (Adrien Barbier, 4 minutos, 2005)

Nos Seus Braços (En tus Brazos, François-Xavier Goby, Édouard Jouret e Matthieu Landour, 5 minutos, 2006) Para que Serve o Amor? (A Quoi Ça Sert L’Amour?, Louis Clichy, 3 minutos, 2003) Siluetas (Silhouettes, Vincent Courbis-Poucet, Rémi Despret e Jean-David Solon, 6 minutos, 2006) Sinais de Vida (Signes de Vie, Arnaud Demuynck, 10 minutos, 2004) Uma História Vertebral (Une Histoire Vertébrale, Jéremy Clapin, 9 minutos, 2004)


JORNAL DOS 100 DIAS

O quadro (Le quadre) Jean-François Laguionie, 76 minutos, Bélgica, França, Suíça, 2011

África sobre o Sena (Afrique sur Seine) Mamadou Sarr e Pauline Vieyra, 21 minutos, França e Senegal, 1957

Zilomag Caetano Dias, 3 minutos e 06 segundos, Brasil, 2005

Mahaleo César Paes e Marie-Clémence, 100 minutos, França, 2005

Os Príncipes Negros de Saint-Germain-des-Prés (Les Princes noirs de Saint Germain-des-Prés) Ben Diogaye Beye, 14 minutos, França e Senegal, 1975

Canto doce, pequeno labirinto Caetano Dias, 18 minutos e 27 segundos, Brasil, 2006

Estrada para Ythaca Guto Parente, Luiz Pretti, Ricardo Pretti e Pedro Diógenes, 69 minutos, Brasil, 2010 Esse Amor que nos consome Allan Ribeiro, 80 minutos, Brasil, 2012 Doce Amianto Guto Parente e Uirá dos Reis, 70 minutos, Brasil, 2013 A Fuga da Mulher Gorila Felipe Bragança e Marina Meliande, 82 minutos, Brasil, 2009 Os Monstros Gustavo Spolidoro, 70 minutos, Brasil, 2009 Os Residentes Tiago Mata Machado, 120 minutos, Brasil, 2010 Boi Aruá Chico Liberato, 85 minutos, Brasil, 1984 As Hiper Mulheres Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, 80 minutos, Brasil, 2011 Nenette (Nénette) Nicolas Philibert, 70 minutos, França, 2010 Guerra e paz no jardim (Guerre et paix dans le potager) Jean-Yves Collet, 104 minutos, França, 2006 Além do infinito (Au-delá de l’infini) Werner Herzog, 77 minutos, Alemanha, Áustria, França e Grã-Bretanha, 2006

Paris é bonita (Paris c’est joli) Inoussa Ousseini, 23 minutos, França e Senegal, 1974

CICLO BIENAL EM TUNDE KELANI

Comboio da Canhoca Orlando Fortunato, 90 minutos, Angola, 1989

Maami Tunde Kelani, 92 minutos Nigéria, 2011

Caixa d’Água: Qui-Lombo é Esse? Everlane Moraes Santos, 12 minutos, Brasil, 2012

Arugba Tunde Kelani, 95 minutos, Nigéria, 2008

Cuba uma odissea africana (Cuba une odyssey africaine) Jihan El Tahri, 190 minutos, França, 2007 O regresso de um aventureiro (Le Retour d’un Aventurier) Moustapha Alassane, 34 minutos, França, 1966 Os cow-boys são negros (Les Cow-boys sont noirs) Serge-Henri Moati, 15 minutos, França, 1966 As estatuas também morrem (Les Statues meurent aussi) Alain Resnais e Chris Marker, 29 minutos, França, 1953 Fary a jumenta (Fary l’anesse) Mansour Sora Wade, 21 minutos, França e Senegal, 1989 Histórias que só existem quando lembradas Julia Murat, 98 minutos, Brasil, 2011

Girimunho Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina, 90 minutos, Brasil, 2011

Domitilla Zeb Ejiro, 94 minutos, Nigéria, 1996

Nisida, crescer na prisão (Nisida, grandir en prison) Laura Rastrelli, 100 minutos, França, 2006

Barakat! Djamila Sahraoui, 94 minutos, França, 2006 Lumumba Raoul Peck, 116 minutos, Alemanha, Bélgica e França, 2000 Jom Ababacar Makharam, 76 minutos, França e Senegal, 1981 Fad, Jal Safi Faye, 113 minutos, França e Senegal, 1979 Safrana ou o direito à palavra (Safrana ou le droit à la parole) Sidney Sokhona, 121 minutos, França e Mauritânia, 1978 A caça ao leão com arco (La chasse au Lion à l´arc) Jean Rouch, 80 minutos, França, 1965

CICLO BIENAL EM AGNÈS VARDA Cléo das 5 às 7 (Cléo de 5 à 7) Agnès Varda, 90 minutos, França, 1962 Uma canta, a outra não (L’une Chante, L’autre Pas) Agnès Varda, 120 minutos, França, 1976 Varda, todos os curtas (Varda, tous les courts) Agnès Varda, França Os catadores e eu (Les Glaneurs et la Glaneuse) Agnès Varda, 82 minutos, França, 2000

Sudoeste Eduardo Nunes, 100 minutos, Brasil, 2012

Viva Riva! Djo Munga, 94 minutos, Bélgica e França, 2010

Congo River Thierry Michel, 120 minutos, França, 2006

Saworoide Tunde Kelani, 105 minutos, Nigéria, 1999

Pacific Marcelo Pedroso de Noronha, 72 minutos, Brasil, 2009 Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now Ninho Moraes e Francisco César Filho, 76 minutos, Brasil, 2012 Terras Maya da Rin, 75 minutos, Brasil, 2009 Bicho geográfico Caetano Dias, 14 minutos, Brasil, 2010 1978, cidade submersa Caetano Dias, 16 minutos, Brasil, 2010 Oxalá Caetano Dias, 3 minutos e 50 segundos, Brasil, 2007 Águas Caetano Dias, 6 minutos e 45 segundos, Brasil, 2010

CICLO BIENAL EM JODOROWSKY Constelação Jodorowsky (Constellation Jodorowsky) Louis Mouchet, 87 minutos, Suíça e França, 1994 El Topo Alejandro Jodorowsky, 124 minutos, México, 1970 A Montanha Sagrada (The Holy Mountain) Alejandro Jodorowsky, 113 minutos, México, 1973 Duna (Dune) David Lynch, 162 minutos, EUA, 1984 Duna de Jodorowsky (Jodorowsky’s Dune) Frank Pavich, 90 minutos, EUA e França, 2013


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

FICHA TÉCNICA / 3ª BIENAL DA BAHIA GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA / GOVERNMENT OF THE STATE OF BAHIA Jaques Wagner SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA / BAHIA CULTURE SECRETARIAT

PINTORES / PAINTERS Ademir Ferreira dos Santos / Antonio Jorge Ferreira / Cid Eduardo Ferreira ELETRICISTAS / ELECTRICIANS

Jorge Bispo dos Santos / José de Assis Alecrim

Antônio Albino Canelas Rubim

COORDENAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS / PROJECT COORDINATION AND MANAGEMENT AND INSTITUTIONAL AFFAIRS Nara Pino

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA / INSTITUTE FOR ARTISTIC AND CULTURAL HERITAGE OF BAHIA

GESTÃO DE PROJETOS E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS / PROJECT MANAGEMENT AND INSTITUTIONAL AFFAIRS Paulo Victor Machado

Elisabete Gándara Rosa

COORDENAÇÃO DE PUBLICIDADE / MARKETING COORDINATION ASSESSOR DE T.I. / I.T.

Andrea Campodonico

Rafael Rêgo

3ª BIENAL DA BAHIA / 3rd BAHIA BIENNIAL

SECRETÁRIAS / SECRETARIES

DIREÇÃO GERAL / GENERAL MANAGEMENT

DIREÇÃO EDUCATIVA / EDUCATIONAL DIRECTION

Museu de Arte Moderna da Bahia

DIRETORA EDUCATIVA

DIREÇÃO ARTÍSTICA / ARTISTIC DIRECTION

PRODUÇÃO GERAL E GESTÃO DE PROJETOS EDUCATIVOS / GENERAL PRODUCTION AND EDUCATIONAL PROJECT MANAGEMENT Felipe Dias Rêgo

DIRETOR ARTÍSTICO / ARTISTIC DIRECTOR CURADORA-CHEFE / CHIEF CURATOR CURADOR-CHEFE / CHIEF CURATOR

Marcelo Rezende

CURADOR ADJUNTO / DEPUTY CURATOR

Fernando Oliva

ASSISTENTES DE CURADORIA / ASSISTANT CURATORS Anderson Cunha / Bianca Góis Barbosa / Carmen Palumbo / Carol Almeida / Daniel Sabóia / Giltanei Amorim / Laura Castro / Liane Heckert / Tiago Sant’Ana

Lopez e Vidal

COORDENAÇÃO DE PESQUISA DO MUSEU-ESCOLA LINA BO BARDI / RESEARCH COORDINATOR FOR THE MUSEUM-SCHOOL LINA BO BARDI Maria Ferreira CONSULTORIA PEDAGÓGICA/ PEDAGOGICAL CONSULTANT Priscila Lolata

Isa Trigo / Marcelo Faria /

ASSISTENTE DA SUPERVISÃO DA MEDIAÇÃO CULTURAL / MEDIATORS ASSISTANT SUPERVISOR Dominique Galvão de Jesus

Laize Reis

GESTÃO DE CONTRATOS / LEGAL AFFAIRS Larissa Uerba ASSISTENTE FINANCEIRO / ASSISTANT ACCOUNTANT ESTAGIÁRIAS FINANCEIRO / INTERNS ACCOUNTANT

SUPERVISÃO TÉCNICA MEDIAÇÃO CULTURAL DO MAM-BA / MEDIATORS TECHNICAL SUPERVISOR (MAM-BA) Luis Augusto Gonçalves Silva SUPERVISÃO MEDIAÇÃO CULTURAL DA 3ª BIENAL DA BAHIA / MEDIATORS SUPERVISOR (3rd BAHIA BIENNIAL) Lídice Araújo Mendes de Carvalho

Thiago Pilloni

ASSISTENTE EXECUTIVA / EXECUTIVE ASSISTANT

Luciana Pires Leila Cardoso / Lyana Perez

COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA / ADMINISTRATIVE AND FINANCIAL COORDINATION Sidnei Bastos COORDENAÇÃO DE RH / HUMAN RELATIONS

Rafael Martins

COORDENAÇÃO CURSO DE FORMAÇÃO DE MEDIADORES MAM-BA/UFBA / MAM-BA/UFBA MEDIATION TRAINING COURSE COORDINATION Mariela Brazón Hernández

Luciana Moniz

CONSULTORIA DE SISTEMAS E GESTÃO FINANCEIRA / SYSTEMS CONSULTING AND FINANCIAL MANAGEMENT Gina Leite

GERÊNCIA EXECUTIVA / EXECUTIVE MANAGER

Carolina Morena / Igor

PESQUISADORAS / RESEARCHERS Andreia Fabia Santos / Gabriela Fracassi de Oliveira / Mabell Fontes Silva / Paula Milena Lima / Rita Maria Fonseca Chaves / Samille Soares

DIREÇÃO EXECUTIVA / EXECUTIVE DIRECTION

ASSESSORIA JURÍDICA / LEGAL AFFAIRS

Lucas Lima

FOTÓGRAFO / PHOTOGRAPHER

Alejandra Muñoz

DIRETORA EXECUTIVA / EXECUTIVE DIRECTOR

Eliane Moniz de Aragão Simões

ASSISTENTES DE PRODUÇÃO / PRODUCTION ASSISTANTS Solares / Paloma Saraiva / Renata Soutomaior

Ayrson Heráclito

CURADORA ADJUNTA / DEPUTY CURATOR

/ EDUCATIONAL DIRECTOR

PRODUÇÃO / PRODUCTION

Ana Pato

Cristiane Moreira / Sandra Cristina de Jesus

Viviane Abreu

SUPERVISÃO PEDAGÓGICA DO MUSEU IMAGINÁRIO DO NORDESTE - FORMAS DE EDUCAÇÃO / PEDAGOGICAL SUPERVISION OF THE IMAGINARY MUSEUM OF THE NORTHEAST - FORMS OF EDUCATION Helena Magon COORDENAÇÃO DO PRIMEIRO GRUPO DE PESQUISA / COORDINATOR OF THE INITIAL RESEARCH GROUP Priscila Valente Lolata PESQUISADORAS / RESEARCHERS Ana Rizek / Clara Domingas / Janaína Chavier RELAÇÕES PÚBLICAS / PUBLIC RELATIONS

ASSISTENTES ADMINISTRATIVO / ADMINISTRATIVE ASSISTANTS Cardoso / Paula Andrade

Fernanda Franco / Ian

Ítala Herta

ASSISTENTE DA COORDENAÇÃO TÉCNICA / TECHNICAL COORDINATION ASSISTANT Marina Alfaya

MEDIADORES CULTURAIS 3ª BIENAL DA BAHIA - MAM-BA / MEDIATORS FOR THE 3rd BAHIA BIENNIAL Àlex Santos Cardoso / Amanda Vila Kruschewsky / Ana Beatriz Henriques Brandão / Ana Elisa Improta / Ana Paula Fiúza / Ana Paula Nobre / Ana Rachel Schimiti / Andreia Oliveira / Bernardo Santos / Camila Santos da Silva / Camila Souza / Carolina Albuquerque / Caroline Silva Souza / Daiana Soares / Daniel Almeida / Daniel Souza Lemos / Diana Paiva / Douglas Saturnino / Ednaldo Gonçalves Junior / Eliane Silveira Garcia / Eva Souza Trochsler / Evanny Dantas / Fernando Santos da Silva / Francisco Folle Beraldo / Gabriela Guedes Maia / Geisiane Cordeiro Ferreira / Gustavo Salgado Leal / Helaine Ornelas / Iandira Neves Barros / Isabela Santana / Jaison Santos da Conceição / James Barbosa Souza / Jéssica Maria Cordeiro / Jonatas Lopes / José Augusto Estrela Cordeiro / Jozias Almeida Cedraz / Karoline Santana Tavares / Laila Silva Fagundes / Laura Cardoso / Layla Gomes Angelim Silva / Leandro Estevam / Letícia da Silva Almeida / Liliane Souza / Lucas Pereira / Luciana Pimentel / Marcia Julieta Souza / Marcleia Santiago do Amor Divino / Maria Célia Pereira da Silva / Maria Lúcia Santos / Maria Terezinha Passo Noblat / Marisa Zulma / Michelle Pontes / Misma Ariane Dórea / Naasson Oliveira / Naira Rezende de Oliveira / Núbia Pinheiro / Patrícia Martins / Rafael Vasconcelos / Raquel Cardoso / Rebecca França / Rodrigo David / Romário Silva / Rose Souza Trochsler / Roseli Costa Rocha / Rosemary Fontes Bastos / Tâmara Lira / Tarciana Paim Ribeiro / Telma Lívia Costa / Thassya Luz / Tiago Costa Moreira / Ulisses Junior / Verônica Macedo / Virgínia Tertuliano / Wagner Oliveira / Yasmim Nogueira

COORDENAÇÃO DE MONTAGEM / ASSEMBLY COORDINATION Correia / Raquel Rocha

COORDENAÇÃO E PESQUISA DAS OFICINAS DO MAM-BA E DA BIENAL / RESEARCH AND COORDINATION OF MAM-BA’S AND BIENNALE’S WORKSHOPS Felix White Toro

COMPRA E LOGÍSTICA / PURCHASING AND LOGISTICS

Daniel Bastos

ASSISTENTE DE COMPRA E LOGÍSTICA / PURCHASING AND LOGISTICS ASSISTANT Michele Lima COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO / PRODUCTION COORDINATION

Fernanda Félix

ASSISTENTE DA COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO / PRODUCTION COORDINATION ASSISTANT Laís Araújo PRODUÇÃO EXECUTIVA / EXECUTIVE PRODUCTION Alana Silveira / Camila Farias / Inajara Diz / Juliana Freire / Talyta Singer ASSISTENTES DE PRODUÇÃO / PRODUCTION ASSISTANTS Carol Bomfim / Lara Rosa / Nany Lima / Tatiana Golsman COORDENAÇÃO TÉCNICA / TECHNICAL COORDINATION

Daiane Oliveira

Fernanda Borges / Gei

PRODUÇÃO DE MONTAGEM / ASSEMBLY PRODUCTION Fátima Passos / Guilherme Barsan / Marta Luna / Patrícia Bssa / Paulo Tosta / Vinícius Liberato TÉCNICOS DE MONTAGEM / ASSEMBLY TECHNICIANS

Agnaldo Santos / Jairo Morais

EQUIPE DE APOIO / SUPPORT TEAM Edy / Elcian Gabriel / Fernando Borges / Garlei Souza / Igor Albert Sampaio / Lazaro Luis Soares Sena / Marcus Vinicius de Carvalho Pereira / Melquesalém do Sacramento Santos / Sergio Luis Laurentino PRODUÇÃO DE MOBILIÁRIO / FURNITURE PRODUCTION Barsan / Marcus Vinicius de Carvalho Pereira MARCENEIROS / CARPENTERS

Gei Correia Rios / Guilherme

Marcos Antônio da Silva / Reinaldo Pereira da Silva

PROFESSORES DAS OFICINAS DO MAM-BA / WORKSHOP TEACHERS Claúdio Pinheiro / Evandro Sybine / Hilda Salomão / Marlice Almeida / Olga Goméz / Renato Fonseca / Rener Rama PROJETO PINTE NO MAM / PINTE NO MAM PROJECT

Maninho Abreu

ASSISTENTES DAS OFICINAS DO MAM-BA / WORKSHOP ASSISTANTS Antônio Bento / Carmen Mayan / Gabriel Arcanjo / José D’Hora / Raimundo Bento / Sebastião Ferreira / Valter Lopes ASSISTENTE DE COMUNICAÇÃO / COMMUNICATION ASSISTANT

Jamile Souza

ASSISTENTES ADMINISTRATIVOS / ADMINISTRATIVE ASSISTANTS Denise Fernandes / Keila Silva

Ana Cláudia Muniz /


JORNAL DOS 100 DIAS

DIREÇÃO EDITORIAL E DE COMUNICAÇÃO / EDITORIAL DIRECTION & COMMUNICATIONS

COORDENAÇÃO DE RESTAURO / RESTORATION COORDINATION

DIREÇÃO EDITORIAL (Conteúdo) E COMUNICAÇÃO / EDITORIAL DIRECTOR (Content) & CCO Eduardo Simantob

ASSISTENTES DE RESTAURO / RESTORATION ASSISTANTS Salvador / Rita Mota / Walfredo Neto

DIREÇÃO EDITORIAL (Arte) E COMUNICAÇÃO / EDITORIAL DIRECTOR (Art) & CCO Dinha Ferrero

SUPERVISÃO DOS MONITORES DE ACERVO / COLLECTION MONITORING MANAGEMENT Diogo Vasconcelos / Eduardo Moleiro / Emile Ribeiro / Erasto Lopes / Jackson Queiroz / José Mário de Jesus / Robson José de Jesus / Ricardo Santos / Sílvio Sérgio Silva

DESIGNERS / DESIGNERS

Alberto Gonçalves / Ana Clara Araújo

COORDENAÇÃO EDITORIAL / EDITORIAL COORDINATION

Andréa Lemos

PRODUTORA DE CONTEÚDO EDITORIAL / EDITORIAL PRODUCER COORDENAÇÃO AUDIOVISUAL / AUDIOVISUAL COORDINATION PRODUÇÃO AUDIOVISUAL / AUDIOVISUAL PRODUCTION

Hanna Nolasco Lara Carvalho

Tais Bichara

PRODUÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL E EDIÇÃO DE IMAGENS / VIDEO CONTENT & EDITING Rubens / Isbela Trigo FOTÓGRAFOS / PHOTOGRAPHERS

Caio

Alfredo Mascarenhas / Gillian Villa / Leonardo Pastor

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO EDITORIAL / EDITORIAL PRODUCTION COORDINATION Fonseca ASSISTENTE DE PRODUÇÃO / PRODUCTION ASSISTANT PRODUÇÃO GRÁFICA / GRAPHIC PRODUCTION

Valdete Moreira

Herbert Gomes

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E REPORTAGEM / PRESS RELATIONS & REPORTING Milena Albuquerque ASSESSORIA DE IMPRENSA / PRESS OFFICE

Noemi

Cátia

Antonio Moreno [Cia. de Comunicação]

COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO / COMMUNICATIONS COORDINATOR

Anne Pinto

Gess Alencar / Marcos William /

MAPA ESTILIZADO DO ESTADO DA BAHIA / Stylized map of the state of Bahia Obra de / work by Clara Domingas (Técnica mista / mixed media / stencil e / and urucum) DIREÇÃO MUSEOLÓGICA / MUSEOLOGICAL DIRECTION

COORDENAÇÃO MUSEOLÓGICA / MUSEOLOGICAL COORDINATION

Sandra

Rogério Sousa

COORDENAÇÃO BIBLIOTECÁRIA / LIBRARIAN COORDINATION

Vera Lucia Rodrigues

ASSISTENTES DE PRODUÇÃO DE BIBLIOTECA / LIBRARY ASSISTANTS Aldemiro Rodrigues Brandão / Fábio Vasquez / Nadiene Lopes / Raimundo Figueiredo

NÚCLEO ADMINISTRATIVO MAM-BA / MAM-BA ADMINISTRATIVE STAFF COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA / MANAGEMENT COORDINATION RECEPTIVO / RECEPTION STAFF

Dércio Santana Moreira

Antonieta Pontes

ALMOXARIFADO MAM-BA / MAM-BA STOCKROOM

Tânia Cristina Resurreição

Fernando Nascimento

Antônio Mascarenhas

SUPERVISÃO DE MANUTENÇÃO E LIMPEZA / CLEANING AND MAINTENANCE MANAGEMENT Alexsandro Muniz / Júlio César Santos CABOS DE TURMA / FOREMEN JARDINEIRO / GARDENERS

Antonio Moreira / Ramon Maciel Cláudio Pinheiro de Almeida

PEDREIROS / CONSTRUCTION WORKERS Inácio Santos COPA / KITCHEN

PESQUISA MUSEOLOGICA / MUSEOLOGICAL RESEARCH Daisy Santos / Etiennette Bosetto / Janaína Ilara / Priscila Leal / Priscila Povoas / Renata Cardoso ASSISTENTE DE MUSEOLOGIA / MUSEOLOGY ASSISTANT

MONITORES DE ACERVO / COLLECTION MONITORING Alda Sousa / Ana Caroline Reis / Andréa de Jesus / Áurea Santiago / Carmen Sena Celeste Melo / Edirlene Souza / Edmundo Galdino / Elioma Lima / Fabiana Vitório / Flávia Pedoroso / Giselle Almeida / Heloísa França / Ivonaide Costa / Ivonete Encarnação / Irlan Tripoli / Jamile Menezes / Lílian Balbino / Luiz Henrique Cruz / Luan Santos / Jaílson Queiroz / Jaqueline Sales / João Carlos Borges / Joilton Conceição / José Passos Jr. / Kátia Ribeiro / Luiz Augusto Sacramento / Márcio Ferreira / Maria Heloísa Lima / Maria Mel Santos / Maurício Mota / Nilton Cavalcanti / Paula Alves / Poliana Duarte / Rebeca Fonseca / Suelene Bonfim / Suria Seixas / Taiane Rosário / Tamires Carvalho / Valdeíldes Santos / Uildemberg Cardeal

ASSISTENTES DE JARDINAGEM / GARDENING ASSISTANTS

DIRETORA MUSEOLÓGICA E PESQUISA / MUSEOLOGICAL DIRECTOR & RESEARCH Regina Jesus

Alberto Ribeiro / Rafael

ASSISTENTES ADMINISTRATIVOS / ADMINISTRATIVE ASSISTANTS Lopes / Luis Costa

MÍDIAS SOCIAIS / SOCIAL MEDIA Blenda Tourinho PRODUÇÃO DE CONTEÚDO / CONTENT PRODUCTION Thuanne Silva / Thais Seixas

Maria Lúcia Lyrio

Antonio Lourenço de Jesus

Alex Ferreira / Francisco Vitório / José

Ângela Maria Pereira

TÉCNICOS DE LIMPEZA / CLEANERS Agnaldo José dos Santos / Arão de Paula Santos / Cleonice Reis Cerqueira / Crovis Alves Gama Jr. / Emanuel Rubens Oliveira / Estela Maria Santos / Jailson Souza Conceição / Jussara Reis Souza / Raimundo Jose dos Santos / Simarley de Jesus Dias / Sueli Conceição / Vera Lúcia Ferreira

EXPEDIENTE DIREÇÃO EDITORIAL / Editorial Director Marcelo Rezende

EDITORA ASSISTENTE / Editor Assistant Talyta Singer

EDITOR-CHEFE / Editor-In-Chief Eduardo Simantob

PESQUISA DE IMAGEM / Photo Editors Ana Clara Araújo / Hanna Nolasco / Liane Heckert / Talyta Singer

DIREÇÃO DE ARTE / Art Director Dinha Ferrero

REPORTAGEM / Reporter Cátia Milena Albuquerque

DESIGNERS / Designers Alberto Gonçalves / Ana Clara Araújo

REDATORES / Copywriters Blenda Tourinho / Marcos William

EDITORA / Editor Hanna Nolasco

REDATORES ASSISTENTES / Interns Gess Alencar / Thuanne Silva


29 DE MAIO A 7 DE SETEMBRO / 2014

AGRADECIMENTOS Os realizadores e todo o grupo responsável pela materialização da 3ª Bienal da Bahia gostariam de agradecer a todos os envolvidos no projeto, todos aqueles que das mais diferentes formas contribuíram para que suas ações fossem possíveis. AO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA À SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA AO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA À DIRETORIA DE MUSEUS (DIMUS) Um caro e especial agradecimento a todas as instituições e empresas colaboradoras: 18º Batalhão de Polícia Militar do Estado da Bahia A Tarde ACBEU Acervo da Laje Armazém Cenográfico Arno Schmidt Stiftung Arquivo Histórico Municipal Arquivo Público do Estado da Bahia Arte Digital Brasil Baluart Projetos Culturais Biblioteca Juracy Magalhães Jr. (Itaparica) Biblioteca Pública do Estado da Bahia Caixa Econômica Federal - Caixa Cultural Canal Eventos Casa da Música Casa dos Carneiros Centro Cultural Plataforma Centro de Cultura Alagoinhas Centro de Cultura Amélio Amorim (Feira de Santana) Centro de Cultura João Gilberto (Juazeiro) Centro Educacional Carneiro Ribeiro Escola Parque Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA (Feira de Santana) Cine Mais Saber (Cairu) Cine Manga Rosa (Mar Grande) Cine Sereia Cineclube AFAI (Itajuípe) Cineclube CDP – Cidade de Plástico (Ocupação Guerreira Zeferina) Cineclube Payayá – Associação da Ação Social e Preservação das Águas, Fauna e Flora da Chapada Norte (Jacobina) Cineclube Clã Periférico – Bairro da Paz Cineclube do Imaginário Cineclube Filhos do Sol (Heliópolis) Cineclube Imagens Itinerantes Cineclube Mário Gusmão (Cachoeira) Cineclube Oficina das Artes (Itaparica) Cineclube Professor Ralile (Caravelas/ Teixeira de Freitas) Cineclube REPROTAI Cineclube Tela em transe (Poções) Cineclube Urubucine Cineclube Vila Cinemateca da Embaixada da França - Institut Français Cipó Comunicação Interativa Comando Geral da Polícia Militar da Bahia Coordenação De Literatura – FUNCEB Departamento de Polícia Técnica do Estado da Bahia (SSP/BA) Desenbahia Difusão Cineclube Itapetinga (Itapetinga) Diretoria de Espaços Culturais da Secult Domus Embaixada da França no Brasil Escola de Belas Artes da UFBA Espaço Cultural Pierre Verger Espaço Imaginário (Rio de Contas) Faculdade de Arquitetura da UFBA Faculdade de Educação da UFBA Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Museologia (FFCH/UFBA) Fundação Casa dos Carneiros Fundação Cultural Do Estado Da Bahia (FUNCEB)

Fundação Gregório De Matos Fundação Hansen Bahia Fundação Instituto Sacatar Fundação Pedro Calmon Fundação Pierre Verger Gensa Gráfica GeoEng ICBA / Goethe-Institut Salvador Igreja do Santíssimo Sacramento do Pilar Igreja dos Aflitos Instituto de Ciências da Informação (ICI/UFBA) Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural) Iplotagem Comunicação Visual Levante Popular da Juventude Lopez&Vidal Advogados Mills Engenharia Mocamba – Centro de Agroecologia e Educação da Mata Atlântica (Itabuna) Mosteiro de São Bento Museu Afro-Brasileiro da UFBA Museu Carlos Costa Pinto Museu Casa Do Sertão Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA (MAE) Museu de Arte Moderna da Bahia Museu de Arte Sacra Museu Náutico da Bahia Orquestra Sinfônica Da Bahia (OSBA) Palacete das Artes Palácio Rio Branco Prefeitura de Itaparica Prefeitura Municipal De Vera Cruz Proext UFBA Reitoria Da Universidade Federal Da Bahia Sangalo Advogados Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia Solar Café Solar Ferrão Stedelijk Museum Teatro Castro Alves Teatro Jorge Amado Teatro Vila Velha Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá Terreiro Santa Bárbara / Nação Ketu TVE/IRDEB -Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia União dos Cineclubes Universidade Católica de Salvador (UCSAL) Universidade Estadual da Bahia (UNEB) Vitrine Filmes Alguns agradecimentos nominais: Adolfo Gomes Adriana Sousa Silva Adriel Figueiredo Alessandra Paulitti Alex Baradel Alex Esquivel Alícia Duhá Lose Angela Elisabeth Lühning Antônio Marcos Passos Arlete Cruz Augusta Cortial Augusto Albuquerque Bárbara A. Leal Saldanha Bárbara Alessandra Carlos Etchevarne Carmen Paternostro Carol Santana Celeste Puissant Celso Coelho Claudio Luiz Pereira Comunidade de Massaranduba Comunidade de Serra dos Correias Comunidade de Tijuco Cristiana Fernandes Dalva Tavares Dênia Gonçalves

Dimitri Ganzelevitch Dom Abade Emanoel D’Able do Amaral Dom Anselmo Rodrigues Dom João Batista Edwin Neves Elcimar Pereira da Boa Morte Emilae Sena Enderson Araujo Enéida Lima Eric Pereira Fátima Froes Felipe Tadeu Diniz Fidelis Tavares Frederico Mendonça Gedean Ribeiro Nascimento Gilsmara Moura Giovanni de Azevedo Graça Teixeira Itaberaba Sulz Lyra Ivana Lins Ivo Foguete Jaci Maria Ferraz Menezes Jaciara Cruz Acassio Jacira Primo Jaine Oliveira Jamile Menezes Janilda Ferreira Abreu Jaqueline Lima Jefferson Borges João José Reis Jorge Pithon Aguiar José Raimundo Carvalho José Roberto José Sergio de Carvalho Josete Batista Kênia Silva Leandro Cunha Lourenço Gimenes Luis Paulo Neiva Mãe Sarita Maria Sergio Mara Lúcia Carrett de Vasconcelos Marcelo Cunha Marcelo Maia Tilkian Marcio Meirelles Marcondes Dourado Marcos Benjamin Marcos Brazil Marcos Dutra Marcos Santos Maria Cristina Santos Maria Eugenia Boaventura Maria Teresa Matos Mariete Barbosa Maurício Barbosa Maurício Ferreira Miguel Carminatti Milena Britto Monique Evelle Nadjaí Araújo Negro Davi Nehle Franke Neuza Farias Ordep Serra Pasqualino Magnavita Paulo Costa Lima Paulo de Oliveira Neto, Paulo Rogério Perinho Regina Jehá Ribeiro Dias dos Santos Rita Rosado Rômulo Cravo Rose Lima Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva Ruth Marcellino da Motta Silveira Sergio Guerra Solange Farkas Suki Guimarães Taís Rocha Taylor Van Horne Tuca Pinheiro Tuzé de Abreu Ualex Bispo Urania Catarina


Arena Fonte Nova

NAZARÉ TORORÓ

GARCIA

Av . Jo

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SAÚDE

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BARRIS ng

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Terminal da Lapa

Terminal Barroquinha

POLITEAMA Av. Se

PELOURINHO

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Praça da Sé

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2 DE JULHO

Campo Grande

Praça Castro Alves

Praça Cairu MAM

COMÉRCIO

Mapa dos espaços da primeira temporada da 3a Bienal da Bahia em Salvador. Obra de Clara Domingas (Técnica mista: stencil e urucum)


GRAÇA Farol da Barra CANELA BARRA

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CO-REALIZAÇÃO

PRODUÇÕES


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