bia leite
Choque de monstro: laços profanos I – interior/exterior; acrílica, óleo e spray sobre tela, díptico, 110 x 60 cm, 2017 II – sai hétero, acrílica e óleo sobre tela, 80 x 80 cm, 2017 III – guarda-costas de LGBTQ; acrílica, óleo e spray sobre tela, 90 x 90 cm, 2017 IV – o fascista, acrílica e óleo sobre tela, 80 x 80 cm, 2017 V – cara de viado chifre de bode; acrílica, óleo e spray sobre tela, 90 x 90 cm, 2017 VI – diabo por todas, acrílica e óleo sobre tela, 80 x 90 cm, 2017 VII – companheiras, acrílica e óleo sobre tela, 60 x 70 cm, 2017 VIII – algoz desalmado, acrílica e óleo sobre tela, 60 x 60 cm, 2017 IX – bruja, mi amor; acrílica e óleo sobre tela, 60 x 60 cm, 2017 X – é nois por nois, acrílica e óleo sobre tela, 60 x 60 cm, 2017 FIM Anexos: scanners do caderno, registros do processo criativo
Choque de monstro, laços profanos Um choque é o encontro dilacerante entre nósoutras. As filhas renegadas. As que são violentadas diariamente e criam a partir da resistência. Quando duas de nós nos deparamos com a presença da outra existe uma criação como nenhuma igual. Duas de nós em choque, em fricção, nos tornamos uníssonas. O resultado é de outro patamar, da ordem da monstruosidade. Criamos sim a partir do medo, da rejeição, da agressividade com que o mundo lida com nossos afetos. Somos monstras, é verdade. Devem nos temer. Porque a potência do que é renegado é sempre a da revolta, da rebelião. Se somos monstruosas, isso já não mais nos abala. Usamos da violência que representamos para nos afirmar e incomodar, mesmo. Pouco nos importam. Pouco nos importa. É tão massivo o choque entre monstros que gera a euforia, o pavor, o êxtase. Gera a mudança que não cabe nas normas. Somos bruxas, ervas-daninhas que quando queimadas se proliferam. Somos condenadas por trazermos fertilidade ao terreno estéril que reina no vosso mundo. Nossos laços são profanos. Nossa existência é profana e para nós é desfrute que o seja. E que assim seja.
rodrigo d’alcântara