Lendas Japonesas Contadas por Ana M么nica Jaremenko
Ana Mônica Pereira de Freitas Jaremenko Organizadora
Lendas Japonesas
BLESSED® Ed. da Autora Goiânia, Goiás 2013
Copyright © 2013 by Ana Mônica Pereira de Freitas Jaremenko.
PEDIDOS: http://editorablessed.blogspot.com.br/.
ILUSTRAÇÃO DA CAPA: EIZAN, Kikugawa (Japão, 1787-1867). A cortesã Hanashiba, da casa Tamaya, lendo um livro, 1816-1818. Xilogravura. Museu Nacional de Etnologia, Leiden, Holanda. ®
Inclui CD com áudio em MP3 e e-Book APP Adobe Reader .
Jaremenko, Ana Mônica Pereira de Freitas, 1965Lendas japonesas. / Ana Mônica Pereira de Freitas Jaremenko (org.). – 1. ed. Inclui CD com ® áudio em MP3 e e-Book APP Adobe Reader . – Goiânia: BLESSED/Ed. da Autora, 2013. 33 p. il.
1. Literatura japonesa. 2. Folclore japonês. I. Título
SUMร RIO Dama Branca e Dama Amarela .................... Issum Boshi .................................................. Kaguya Hime ................................................ Momotaro ..................................................... Tanabata ......................................................
07 11 15 21 25
Fontes bibliogrรกficas ..................................... 31 Biografia ....................................................... 33
Dama Branca e Dama Amarela
“Crisântemos brancos”, detalhe da obra do artista Ito Jakuchu (1716-1800)
Contam que, em tempos idos, cresciam, lado a lado em uma campina, um crisântemo branco e outro amarelo. Certo dia, um velho jardineiro os viu e se apaixonou pela Dama Amarela. Ele lhe disse que, se ela quisesse acompanhá-lo, ele a faria mais bela do que já era. O jardineiro ainda argumentou que lhe daria comida delicada e lindas roupas. A Dama Amarela sentiu-se tão atraída pelo que o velho jardineiro lhe dizia que se esqueceu de sua irmã branca, consentindo em ser desenterrada e carregada nos braços para ser plantada no jardim de seu dono.
Depois que a Dama Amarela partiu, a Dama Branca chorou amargamente. Sua beleza singela havia sido desprezada e, pior que isso, viu-se forçada a permanecer sozinha no campo, sem ter mais a irmã, a quem era devotada a conversar. Dia após dia, mais bela ficava a Dama Amarela no jardim de seu senhor. Ninguém reconheceria agora a simples flor amarela do campo. Porém, embora suas pétalas fossem longas e curvas, e suas folhas limpas e tão bem cuidadas, ela às vezes se lembrava de sua irmã branca que ficou sozinha na campina e imaginava o que estaria fazendo para que suas longas e solitárias horas passassem. Certo dia, um capitão da vila veio ao jardim do velho jardineiro à procura de um crisântemo perfeito para ser desenhado no elmo de seu senhor. Informou que não desejava um belo crisântemo com muitas e longas pétalas. Queria um simples crisântemo branco de dezesseis pétalas. O velho jardineiro mostrou ao capitão a Dama Amarela, mas ele não gostou da flor e agradeceu, partindo em seguida. No caminho de casa, atravessou um campo onde viu a Dama Branca chorando. Ela contou a triste história de sua solidão ao capitão. Então, ele contou que havia visto a Dama Amarela e disse-lhe que ela não era nem metade tão bela quanto a branca flor que tinha diante dos olhos.
Ante essas palavras animadoras, a Dama Branca parou de chorar e quase arrancou seus pezinhos ao pular de alegria quando esse bom homem afirmou que a queria para o elmo de seu senhor. No instante seguinte, a Dama Branca, felicíssima, estava sendo transportada em um palanquim. Ao chegarem ao palácio do Daimyo1, todos elogiaram, sinceramente, sua admirável perfeição de forma. Grandes artistas vieram de longe e de perto, sentaram-se junto dela e a esboçaram com admirável perícia. Logo ela não precisou mais de espelho para se mirar, pois havia sua bela face branca presente em todos os mais preciosos bens do Daimyo. A Dama Branca, além de figurar na armadura do Daimyo, também foi retratada em seus estojos de laca, em seus travesseiros, colchas e mantos. Olhando para cima, podia ver o seu rosto entalhado em grandes painéis. Foi pintada de todas as maneiras possíveis, até boiando sobre a correnteza. Todo mundo concordava em que o branco crisântemo, com suas dezesseis pétalas, representava o mais belo elmo de todo o Japão.
1
Senhor feudal no Japão pré-moderno (séc. X – séc. XIX).
Enquanto a face feliz da Dama Branca era perpetuada nos bens do Daimyo, a face da Dama Amarela só transpirava tristeza. Havia florescido por si, sozinha, e sorvido os elogios dos visitantes com a mesma avidez com que bebia o orvalho sobre suas pétalas primorosamente curvas. No entanto, um dia, ela sentiu uma rigidez nos membros e percebeu o fim da exuberância de sua existência. A antiga cabeça orgulhosa pendeu e quando o velho jardineiro a viu, a arrancou do canteiro para jogá-la em meio a um monte de lixo.
“Crisântemos brancos”, detalhe da obra do artista Ito Jakuchu (1716-1800)
Autor Desconhecido
Issum Boshi Há muito, muito tempo, existia um casal que orava sempre por um filho. Um dia, o pedido foi atendido e nasceu um menino, tão
pequeno
polegar.
quanto
um
Chamaram-no
de
Issum Boshi. Apesar de ser muito
pequeno,
Issum
era
esperto e saudável e o casal agradeceu a oração atendida. Após alguns anos, Issum Boshi continuava do mesmo tamanho. Um dia, ele chegou perto de seus pais e disse: – Papai, mamãe, eu quero trabalhar e estudar. Vou à capital. Seus pais não gostaram muito da ideia, parecia perigosa demais para um pequeno garotinho. Mesmo preocupados, acabaram concordando e deram-lhe uma agulha de costura para servir de espada.
Menino Polegar.
Depois de se despedir de seus pais, Issum partiu, seguindo pelo rio ao lado de sua casa. Ele utilizava um owan2 como barco e um hashi3 como remo. Após uma longa e cansativa viagem, ele chegou à capital, que era grande e cheia de gente. Issum andava com cuidado, ele temia ser atropelado pelas pessoas que iam e vinham apressadas. Ele caminhou por um local calmo e avistou um grande castelo. – Aqui deve morar alguém muito importante. Quem sabe esta pessoa não pode me dar um emprego. Ele chamou alto por alguém e, quando um nobre senhor apareceu, não viu Issum. – Ei, cuidado! Assim você vai pisar em cima de mim. – Mas, quem é você? – perguntou o nobre. – Sou Issum Boshi e gostaria muito de trabalhar aqui. O nobre olhou para Issum e gostou do pequeno menino, ele parecia esperto e confiável. – Acho que você pode cuidar da princesa, minha filha.
2 3
Pequena tigela em cerâmica, utensílio da cozinha japonesa. Varetas utilizadas como talheres em países do Extremo Oriente, geralmente confeccionadas em bambu.
Assim, Issum passou a morar no castelo. Ele virava as páginas dos livros, carregava tintas de caneta e era adorado pela princesa. Ele também treinava a arte da espada, pois, um dia, Issum gostaria de ser um samurai. Quando chegou a primavera, a princesa resolveu visitar o templo Kyoumizu4. Seu pai ficou muito preocupado, pois havia rumores de que um horroroso Oni estava andando nas redondezas e seqüestrando belas garotas. O nobre senhor
pediu
que
alguns
de
seus
samurais
acompanhassem a princesa e Issum. Eles chegaram bem ao templo Kyoumizu e a princesa fez suas orações. Mas, na volta, ouviram gritos e gritos e, de repente, um enorme Oni5 apareceu e impediu o grupo de andar.
Os
samurais
olharam
para
o Oni,
fugiram
assustados e deixaram a princesa e Issum sozinhos. – Prepare-se, vou lutar contra você e defender a princesa – disse Issum, enquanto pegava sua agulha-espada. – Há, há, há, um ser minúsculo como você não pode me fazer mal algum.
4
Kiyomizu-dera,templo construído na encosta das montanhas, no distrito de Higashiyama, a leste de Kyoto, no Japão, ano de 780 d.C. 5 (鬼) Tipo de yōkai, ser sobrenatural do folclore japonês , variavelmente traduzido como, demônio, ogro e troll.
Logo após dizer isso, o Oni pegou Issum e o engoliu. Quando chegou no estômago daquela criatura, Issum começou a espetá-lo e espetá-lo. O Oni não agüentou de dor e, tossindo, jogou Issum para fora, que aproveitou o momento e furou os olhos do Oni. Gemendo de dor, o monstro fugiu correndo em direção à floresta. Na pressa, derrubou um pequeno objeto, era um martelo mágico. A princesa pegou o martelo e disse: – Issum, este é um objeto mágico! Ele realiza os desejos das pessoas. Você tem algum desejo? Quer joias e ouro? – Sim, tenho um desejo, mas não é este. Eu gostaria muito de crescer – falou Issum. Assim, a linda princesa pegou o martelo e bateu na cabeça de Issum, que cresceu, cresceu, cresceu e se tornou um lindo jovem. Eles voltaram ao castelo do nobre senhor e se casaram. Issum chamou seus pais para viverem juntos na capital. E todos viveram felizes, por muito tempo.
Autor Desconhecido
Kaguya Hime Há muito, muito tempo, existia
um
casal
de
velhinhos que viviam em uma casa no meio da floresta. Eles eram muito pobres e solitários, pois não tinham filhos para criar. O velhinho era conhecido pelo nome de Cortador de Bambus, pois, todos os dias, ele saía cedo para cortar bambus na floresta. Os dois faziam cestas e chapéus para vender e ganhar algum dinheiro. Um belo dia, enquanto estava na floresta, o velhinho avistou um broto de bambu que brilhava com uma luz muito intensa. Ele ficou espantado, pois, em anos e anos de trabalho, nunca havia visto algo como aquilo. Muito curioso, ele cortou o bambu e mal pôde acreditar no que viu. – Uma menina, uma menina! Tão pequena e tão linda, só pode ser um presente de Deus! Ele levou a pequena menina na palma de uma de suas mãos para casa. Ao ver a menina, a velhinha também ficou
Taketori Monogatari, O conto do cortador de bambu.
muito contente e eles resolveram que o nome dela seria Kaguya Hime, que significa Princesa Radiante. A partir daquele dia, o velhinho passou a encontrar outros bambus brilhantes na floresta. Mas, ao invés de uma menina, eles continham moedas de ouro. Assim, a vida do casal melhorou e eles não precisavam mais produzir cestos para sobreviver. Eles creditaram o milagre à chegada de sua linda filha. Kaguya Hime crescia muito rápido e, a cada dia, parecia mais bonita. Em apenas três meses, ela já tinha o tamanho de uma criança de oito anos. Ninguém poderia acreditar que uma pessoa tão bonita pertencesse a este mundo. Logo, os comentários sobre a beleza de Kaguya Hime se espalharam e vinham jovens de todos os cantos do país para conhecê-la. Todos queriam se casar com Kaguya, mas ela não queria se casar com ninguém. – Quero ficar ao lado de vocês dois – dizia a jovem para seus pais. Mas, cinco jovens nobres, de posições importantes, foram mais persistentes. Eles acamparam em frente à casa de Kaguya Hime e pediam uma chance a ela. Preocupado, o velhinho chamou Kaguya e disse:
– Minha filha, eu gostaria muito de ter você sempre por perto, mas acho justo que se case. Escolha um dentre os cinco rapazes que estão acampados aqui. Assim, a linda jovem decidiu: – Eu me casarei com aquele que me trouxer os seguintes
objetos
mágicos: um colar feito com os dragão;
olhos
de um
um vaso feito
com pedras dos deuses que nunca se quebra; um manto de pele de animal forrado de ouro; um galho que faz crescer pedras preciosas; um leque que brilha como a luz do sol; e uma concha que a andorinha põe junto com seus ovos. O velhinho levou os pedidos de Kaguya aos pretendentes acampados. Ele sabia que seria muito difícil conseguirem obter tais objetos. Qual não foi sua surpresa quando, ao final de alguns meses, todos os pretendentes trouxeram os presentes para Kaguya. Mas, quando eles foram obrigados a entregá-los à jovem, todos admitiram que os presentes eram falsos, pois conseguir os verdadeiros era uma missão muito difícil. E assim, nenhum deles obteve êxito.
Passaram quatro primaveras desde que Kaguya fora encontrada no broto de bambu. Porém, ela ficava mais triste a cada dia. Noite após noite, Kaguya Hime olhava para a lua, suspirando. Preocupado, o
velhinho
um
dia
perguntou: – Por que está tão triste, minha filha? – Eu gostaria de ficar aqui para sempre. Mas, logo devo retornar – disse a jovem. – Retornar? Mas, para onde? O seu lugar é aqui conosco, nunca deixaremos você partir – disse o pai aflito. – Este não é o meu reino, eu sou uma princesa do Reino da Lua e, na próxima lua cheia, meu povo virá me buscar. Muito assustados com a reveladora confissão de Kaguya Hime, os velhinhos decidiram pedir ajuda ao príncipe do reino onde viviam. O príncipe, então, enviou muitos guardas para vigiarem a casa do casal. Um verdadeiro exército foi formado.
No dia seguinte, a temida noite de lua cheia chegou. A casa estava
tão
vigiada
que
parecia
impossível
alguém
conseguir levar Kaguya Hime. De repente, uma enorme luz surgiu no céu, como se milhares de luas estivessem presentes ao mesmo tempo. A luz era tão intensa que ninguém enxergar
conseguiu a
carruagem
que descia, guiada por um grande cavalo alado e muitas vestidas.
pessoas
bem
Depois
de
algum tempo, quando a luz diminuiu, a carruagem já estava voando, em direção à lua. Kaguya Hime não estava mais presente, ela fora junto com a comitiva. Os velhinhos ficaram muito tristes, inconformados. Voltaram ao quarto de Kaguya e encontraram um potinho, presente da filha querida. Ela havia deixado um pó mágico, que garantiria a vida eterna para os dois. Mas, sem sua filha amada, os velhinhos não queriam viver para sempre. Eles recolheram todos os pertences de Kaguya e levaram para o monte mais alto do Japão. Lá, queimaram tudo, junto com o pó mágico deixado pela jovem. Uma fumacinha branca subiu ao céu naquele dia.
A montanha era o Monte Fuji 6. Dizem que, até hoje, é possível ver a fumacinha subindo e subindo...
Autor Desconhecido
6
A mais alta montanha da ilha de Honshu e de todo o Arquipélago do Japão.
Momotaro
Há muito tempo, em uma vila distante, vivia um casal de velhinhos. Num certo dia, o velhinho colhia gravetos de madeira na montanha e a velhinha
lavava
roupas
no
riacho. Enquanto esfregava as roupas, ela viu um pêssego enorme flutuando no rio e, com alguma dificuldade, conseguiu alcançá-lo. Ela carregou o pêssego para casa, parando diversas vezes no caminho para descansar. O velhinho chegou em casa no final da tarde e ficou muito contente quando viu o enorme pêssego. – Que lindo pêssego, parece delicioso! – disse o velhinho. Quando se preparavam para fatiá-lo, o pêssego se mexeu. – Esta vivo, está vivo! – disse a velhinha. De repente, um pequeno menino saiu de dentro do pêssego.
Estarrecidos,
O Menino Pêssego.
os
dois
ficaram
olhando
e
examinando. Como não tinham filhos, eles ficaram muito contentes e resolveram adotar o menino. Decidiram que seu nome seria Momotaro. O tempo passou e, quanto mais Momotaro crescia, mais saudável ficava. Numa certa noite, ele ouviu conversas sobre os Onis, monstros que atacavam as aldeias e assustavam os moradores locais. Ele ficou tão bravo que tomou uma decisão: iria à Ilha dos Onis para combatê-los. A princípio, seus pais ficaram muito assustados, mas gostaram de ver a coragem do filho. Apesar do medo que sentiam, os velhinhos prepararam diversos bolinhos, os kibi-dangos 7, para Momotaro levar na viagem. Na manhã seguinte, Momotaro partiu, levando consigo os kibi-dangos. No caminho, ele encontrou um cachorro. – Momotarosan, Momotarosan, por favor, dê-me um bolinho e eu irei com você enfrentar os Onis – disse o cachorro. Momotaro deu-lhe um kibi-dango e o cachorro partiu com ele. Mais adiante, encontraram um macaco. 7
Dango ou mochi é um bolinho de arroz servido como sobremesa no Japão. Kibi-dango é uma variação feita com um tipo diferente de farinha, em vez de arroz.
– Momotarosan, Momotarosan, o que você leva neste saquinho? – São kibi-dangos, os deliciosos bolinhos, os melhores do Japão. – Pode me dar um? Assim eu irei com vocês. E assim foi feito. Momotaro, o cachorro e o macaco seguiram o caminho juntos e, mais à frente, viram um faisão. Ele também pediu um kibi-dango e,
e
ganhou assim,
seguiram os quatro. Após uma longa jornada, eles chegaram ao mar. Remaram e remaram, enquanto o faisão voava e indicava o caminho, pois o céu estava escuro e coberto de nuvens. Quando chegaram à ilha dos Onis, tudo parecia assustador, os portões do castelo eram grandes e escuros, havia névoa e o dia estava acinzentado. O macaco, com toda sua agilidade, escalou o alto portão e o destrancou por dentro. Todos entraram no castelo e deram de cara com os horrendos Onis, que se levantaram e encararam os quatro aventureiros.
– Sou Momotaro e vim enfrentá-los. Travou-se então uma grande luta. O faisão voava e, com seu
bico
afiado,
feria
os
inimigos. O cachorro corria em volta do Onis e lutava com dentadas, enquanto o macaco utilizava suas unhas. Finalmente, após muita luta, companheiros derrotaram os Onis.
Momotaro
e
seus
– Nunca mais vamos invadir as aldeias e prejudicar os moradores, nós prometemos. Por favor, poupe nossas vidas – disse o chefe dos Onis. Compreensivo e bondoso, Momotaro perdoou os Onis. Em troca, o chefe ofereceu-lhe os tesouros que eles vinham roubando das aldeias, eram moedas de ouro, pedras preciosas e outros objetos de grande valor. Momotaro retornou para casa e, quando seus pais o viram, não puderam acreditar. Ele estava salvo e carregava um grande tesouro, que foi dividido entre todos os moradores da aldeia. Autor Desconhecido
Tanabata No Japão, através do céu estrelado de uma noite de verão, é possível avistar duas estrelas, em lados opostos: Altair e Vega. Dizem que estas duas estrelas foram, há muito tempo, um homem e uma mulher, que agora só se encontram uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês. A lenda a seguir é a história dos dois. Era uma vez um homem, chamado Mikeram 8. Um dia, quando voltada do trabalho e andava perto de um lago, avistou um manto preso a uma árvore. Era feito de tecidos finos, muito bonito e brilhante. – Que lindo manto! Deve valer uma fortuna – pensou o rapaz. Ele pegou o manto e guardou consigo. – Com licença senhor – ouviu alguém dizer enquanto se preparava para ir embora. – O senhor viu o meu manto, ele estava aqui, sobre esta árvore?
8
Altair e Vega, uma história de amor. Kengyu, o Pastor do Gado, também chamado de Hikoboshi (牽牛)
Mikeram mentiu: – Não, não vi nada parecido com um manto aqui. – Ai, como voltarei agora para o meu reino, acima das nuvens, sem meu manto eu não consigo – disse a jovem mulher. Ela se chamava Tanabata 9. Mikeram apaixonou-se pela linda mulher à primeira vista e tinha medo que, ao devolver o manto, ela partisse para longe. – Venha comigo, você pode ficar na minha casa enquanto não
encontra
seu
manto
sagrado. Eles se casaram e viveram juntos por alguns anos. Mas, Tanabata
olhava
para
as
estrelas todas as noites, ela tinha muita saudade de seu reino. Todos os dias, Mikeram saía para trabalhar e Tanabata ficava em casa, com os passarinhos. Um belo dia, ela viu um passarinho bicando algo no telhado, descobrindo, então o seu manto escondido.
9
Orihime, a Princesa Tecelã (織姫).
– Então foi Mikeram que pegou meu manto, ele sabia o tempo todo. Tanabata, então, decidiu partir. Vestiu seu manto e ia subindo, quando ouviu Mikeram gritando: – Você encontrou seu manto, me perdoe, não vá, eu te amo. Ao que Tanabata respondeu: – Se realmente me ama, faça mil pares de chinelos e enterre-os perto de um broto de bambu. Assim nós nos encontraremos novamente, eu estarei esperando. E Tanabata partiu voando. Assim, dia após dia e noite após noite, Mikeram produziu chinelos e mais chinelos. Quando finalmente conseguiu juntar mil pares, correu para um broto de bambu e os enterrou. De repente, o bambu cresceu e cresceu. Sem perder tempo, Mikeram subiu até as nuvens. Mas, quando chegou perto do topo, percebeu que não havia mais árvore para subir e ainda faltava um pouco para chegar ao topo. Na verdade, ele havia errado na conta, construíra somente 999 pares de chinelos.
– Tanabata, Tanabata,
me
ajude
eu,
a
subir,
sou
Mikeram. Tanabata ouviu os gritos do marido e correu para ajuda-lo. Quando
ele
finalmente
conseguir subir, os dois se abraçaram. Mas, de repente, ouviram um grito: – Quem é você? – perguntou Tentei 10, pai de Tanabata, a Mikeram. – Ele é meu marido e eu o amo – disse Tanabata. O pai não gostou nada de Mikeram. Ele era de outro reino e não servia para sua linda filha. – Para ficar aqui, meu rapaz, você terá que cumprir algumas tarefas. Está vendo aquelas cestas, eu quero que você plante todas as sementes que estão nelas. – Sim, senhor, farei isso – respondeu timidamente Mikeram.
10
O Senhor Celestial (天帝).
Havia milhares de sementes e, ao final de três dias, Mikeram plantara todas. – Mas, o que significa isso? Você plantou as sementes no campo errado – disse o pai, enfurecido. – Você terá que plantar todas novamente e rápido – ordenou. Pobre Mikeram, levaria anos para achar todas as sementes e plantá-las novamente. Foi então que Tanabata teve uma grande idéia: chamou seus pássaros de estimação e pediu para que eles achassem e replantassem todas sementes e que, se necessário, chamassem outros pássaros amigos para ajudarem na empreitada. Assim, o céu ficou coberto de pássaros, que cumpriram a tarefa. O pai de Tanabata mal pode acreditar no que viu. Logo pensou em outra tarefa difícil para Mikeram: ele deveria cuidar da plantação de melancias por três dias e três noites, sem comer ou beber nada. – Tome muito cuidado, Mikeram, melancias são frutas sagradas no meu reino – advertiu Tanabata. – Não coma uma sequer .Após dois longos e cansativos dias, Mikeram estava exausto, com muita fome e sede. Ele não resistiu e abriu
uma das milhares de melancia. De repente, uma enorme quantidade de ĂĄgua jorrou da melancia, como um rio turbulento, arrastando Mikeram para longe, muito longe do reino das estrelas e de Tanabata. A partir deste dia, Tanabata e Mikeram se encontram somente uma vez por ano, no dia 7 do sĂŠtimo mĂŞs. Nesta data, Tentei, pai de Tanabata, comovido pela tristeza da filha, convoca todos os pĂĄssaros do reino para formar uma grande ponte, promovendo, assim, o encontro entre Mikeram a Tanabata.
Autor Desconhecido
Fontes bibliográficas: DAMA BRANCA E DAMA AMARELA. In: Mundo-Nipo. Disponível em: http://www.mundo-nipo.com/culturajaponesa/mitos-e-lendas/20/04/2013/lendas-sobre-florescrisantemos-dama-branca-e-dama-amarela. Acesso em: 02 set. 2013. LENDAS JAPONESAS. In: Contos Covil do Orc: os Salões do Fogo agora têm um concorrente. Disponível em: http://contosdocovil.wordpress.com/category/lendas-semautoria/. Acesso em: 28 ago. 2013.
Biografia: Poeta,
cronista
histórias.
O
e
que
contadora me
de
fascina na
literatura é a metáfora, a possilibidade de viver o sonho, de conversar com o autor, independente do tempo e do espaço. É viajar e conhecer lugares, pessoas coisas e sabores sem sair do lugar. É viver a emoção à flor da pele em aventuras que seriam quase impossíveis de serem experimentadas em tempo real. A poesia surgiu cedo, ainda criança, saboreando a sonoridade das rimas e admirando o amor de meu avô poeta por minha avó, sua eterna namorada. Era música em tempos difíceis, desejo de pertencer àquela família. A Palavra apareceu nessa mesma época, porém sem revelação. Verso & Verbo, por algum tempo, perdi-os de vista.
Reencontrei-os mais tarde – primeiro o Verbo. O
verso trouxe amigos que rimam comigo desde a Oficina Literária da AGEPEL, em 2009. Contar histórias é uma forma de trazer outros leitores viajantes para essa emocionante aventura que é a literatura. Ana Mônica Jaremenko
DADOS DE IMPRESSÃO: Fontes: Arial, Arial Black, Chiller, Kristen ITC e Script T Bold. Capa: Papel Couche Brilhante 230g. Miolo: Papel Couche Brilhante 115g. Tamanhos de Fontes:: 10, 11,5, 12, 14,18, 54. Ilustrações: capturada na internet, royalt free. CD: áudio em MP3 e e-Book APP Adobe Reader®. Gráfica: impressora pessoal. Impresso no Brasil
Histórias fascinantes do folclore japonês cujas autorias se perderam no tempo e são de domínio público. Lendas que encantam leitores de diferentes faixas etárias há várias gerações, dentro e fora da Terra do Sol Nascente.