Revista Green Day

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ISSN 1 808-4753

ano 1 nº13 R$ 19,90

www.revistashowtime.com.br DST-13

GREEN DAY ROCK E ATITUDE!

E MAIS: • CURIOSIDADES • PERFIL • DISCOGRAFIA • ESPECIAL HISTÓRIA DO PUNK ROCK



editorial E

A

lgumas pessoas sabem desde muito cedo o que querem fazer da vida. Muitas ao tomarem conhecimento do que as move e as apaixona decidem ir em frente e tornar esse desejo em realidade. Alguns até sabem o que gostariam de fazer, mas às vezes falta uma certa dose de coragem e ousadia. Nem todos têm a sorte de descobrir cedo a que vieram nessa terra. E dos que sabem a que vieram, poucos chegam a concretizar os sonhos imaginados e embalados desde sempre. Sabendo disso tudo, a história de Billie Joe e Mike Dirnt, os fundadores do Green Day se torna ainda mais impressionante. Os dois rapazes se conheceram na cafeteria do colégio em que estudavam em Berkeley, Califórnia. Logo descobriram que tinham uma paixão em comum: a música. Não demorou muito para que começassem a se encontrar para compor algumas canções e fazer uma barulheira danada. Detalhe: os dois não tinham mais do que quatorze anos. Algum tempo depois, um baterista se uniu à banda e de tentativa em tentativa o Green Day gravou um EP, depois um disco, mudou de gravadora, ganhou prêmios e hoje já contabiliza mais de 14 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Nada mal para dois meninos precoces que sonhavam em ser astros do punk rock.

Essa edição narra um pouco da história e da carreira de uma das bandas de punk mais influentes da atualidade. Não deixe de conferir um perfil do grupo, a discografia e o arrasador desempenho na edição deste ano do Video Music Awards, premiação produzida pela MTV. Aumente o volume e boa diversão!

índice I

3 EDITORIAL

Bate-papo com o leitor

4 CURIOSIDADES

Curiosidades do Green Day

ED expediente Diretor Francisco Marciano

Editor Responsável Alexandre M. Monteiro

6 PERFIL Colaboradores Bruce Sixx, Carlos Primati, Camila Lopez, Luciana Pelliciari e Sergio Martorelli Foto Capa Warner

Editora Executiva Roberta M. Lança

Jornalista Responsável Laerte Brasil - Mtb 40573

Editor de Arte Belmiro Simões

Impressão Fotofacto - Fone: (0**11) 6919-1817

Produção Editorial Aspen Editora Ltda.

Dis t r ib u iç ã o e x c lu s iv a p a r a t o d o o país: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A R. Teodoro da Silva, 907 - Rio de Janeiro - RJ Fone: (0**21) 2195-3200.

Coordenador de Produção Leandro Moran Editoração Eletrônica Adriano Sales, Anderson Cavalheiro, Cristian Lança, Carlos Amaral e Wagner Cavalieri Tratamento de imagens Ricardo Canhoto

Revista Digital SHOWTIME (ISSN 18084753) é uma publicação mensal da Aspen Editora Ltda.- Rua Cel. Bento José de Carvalho, 144 - CEP 03516-010 - Vila Matilde - São Paulo - SP. Ano 1 - nº 13 - Novembro/2005. © Todos os direitos reservados.

As opiniões nos artigos assinados não são necessariamente as da revista, podendo até mesmo ser contrárias à mesma. Cartas à Revista Digital SHOWTIME ou seus editores supõem-se para publicação total ou parcial. Dúvidas, reclamações e sugestões: SAC - Serviço de Atendimento ao Cliente Tel: (0**11) 6651-6334 e-mail: sac@revistashowtime.com.br Site: www.revistashowtime.com.br

Punk Rock À Moda Californiana

8 DISCOGRAFIA 10 ESPECIAL

Uma Curta História do Punk Rock

erótico

14 DESTAQUE

Green Day - Pogo Paradise SHOWTIME

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C G curiosidades

Curiosidades do Green Day Clipe do Ano

Green Day - “Boulevard of Broken Dreams” Coldplay - “Speed of Sound” Gwen Stefani - “Hollaback Girl” Kanye West - “Jesus Walks” Snoop Dogg e Pharrell - “Drop It Like It’s Hot”

Escolha da Audiência

Green Day - “American Idiot”

Melhor clipe de grupo

Green Day - “Boulevard of Broken Dreams”

Na última edição de uma das premiações mais importantes da indústria fonográfica americana, o Green Day foi o destaque da noite. A cerimônia de premiação do Video Music Awards desse ano, realizada em Miami, Flórida, consagrou a banda de punk rock californiana e seu último álbum American Idiot.

Black Eyed Peas - “Don’t Phunk With My Heart”

Apesar da premiação ter sido dominada por shows dos astros do hip hop, o punk rock do Green Day roubou a cena. Ao todo, a banda levou para casa sete das oito estatuetas a que tinha sido indicada. Só perdeu o prêmio de Melhor direção de arte do vídeo American Idiot para What You Waiting For?, da platinada Gwen Stefani. Confira os prêmios da banda:

Green Day - “Boulevard of Broken Dreams”

Destiny’s Child com T.I & Lil’ Wayne - “Soldier” The Killers - “Mr. Brightside” U2 - “Vertigo”

Melhor clipe de rock Foo Fighters - “Best of You” The Killers - “Mr. Brightside” My Chemical Romance - “Helena” Weezer - “Beverly Hills”

Melhor direção

Green Day - “Boulevard of Broken Dreams” (Diretor: Samuel Bayer) Jennifer Lopez - “Get Right” (Diretor: Francis Lawrence e Diane Martel) Missy Elliott, Ciara e Fat Man Scoop - “Lose Control” (Diretor: Dave Meyers e Missy Elliott) White Stripes - “Blue Orchid” (Diretor: Floria Sigismondi) U2 - “Vertigo” (Diretor: Alex e Martin)

Melhor edição

Green Day - “Boulevard of Broken Dreams” Coldplay - “Speed of Sound” Foo Fighters - “Best of You” Gwen Stefani - “What You Waiting For?” Jennifer Lopez - “Get Right” Simple Plan - “Untitled”

Melhor fotografia

Green Day - “Boulevard of Broken Dreams” Coldplay - “Speed of Sound” Modest Mouse - “The Ocean Breathes Salty” Simple Plan - “Untitled” U2 - “Vertigo” White Stripes - “Blue Orchid” 4 SHOWTIME

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curiosidades C

Curiosidades * Originalmente o álbum Dookie era para ter se chamado Liquid Dookie.

* Billie Joe escreveu a canção Time of Your Life logo após terminar o relacionamento com uma namorada.

* Billie Joe sempre foi um garoto precoce. Aos cinco anos escreveu sua primeira canção, chamada Looking For Love.

* Aos onze anos ganhou sua primeira guitarra. Ele ainda tem o instrumento que chama carinhosamente de “blue”.

* Sobre o processo criativo, Billie Joe afirmou: “Estou sentado, sem fazer nada e, de repente, me ocorre a letra para uma canção. Aí começo a pensar nela. Não é nada espiritual ou algo assim”.

* Recentemente a Apple lançou uma capinha para o IPOD, com a arte do último disco da banda. Os fãs abastados já podem procurar o acessório que se chama Green Day American Idiot IPOD Case.

* Aos doze anos escreveu Why do You Want Him? uma canção em homenagem à mãe. Segundo Billie, ela tinha acabado de ser deixada por um namorado e estava passando por maus bocados. O menino, então, resolveu escrever uma música baseada na ruptura amorosa para tentar animá-la.

* A canção 2 Dollar Bill foi inspirada nos tempos de colégios de Billie Joe, quando ele vendia baseados a dois dólares.

SHOWTIME

5


G P perfil

-

PUNK ROCK

a MODA MODA CALIFORNIANA CALIFORNIANA a por Camila Lopez 6 SHOWTIME


perfil P

Amigos de infância, Billie Joe Armstrong e Mike Dirnt formaram a primeira banda quando tinham pouco mais de 14 anos de idade. Com Billie Joe na guitarra e vocais e Mike no baixo, os garotos montaram a Sweet Children. Os adolescentes californianos se reuniam com freqüência para tocar e compor. Em 1989, Billie Joe e Mike resolveram convidar um baterista para fazer parte do grupo. Com a chegada de Al Sobrante, o Sweet Children mudou de nome para Green Day. Nesse mesmo ano, a banda lançou 1,000 Hours, o primeiro EP, que para surpresa dos rapazes, foi muito bem recebido na badalada e pujante cena do punk rock californiano. O Green Day não faz um som necessariamente original, mas ao revisitar o punk feito na década de 70 por bandas como os Sex Pistols, o grupo iria, por sua vez, influenciar uma nova geração de músicos. Segundo o crítico Stephen Thomas Erlewine, depois do surgimento estonteante do Nirvana, o Green Day e Pearl Jam foram as bandas mais importantes a aparecer com força no cenário pós-grunge. O sucesso do EP abriu caminho para que a banda assinasse seu primeiro contrato com o selo Lookout, especializado em punk rock. Com sede em São Francisco, Califórnia, a pequena gravadora tinha uma grande reputação entre os fãs do punk. Em 1990 é lançado o primeiro álbum 1,039/Smoothed Out Slappy Hour. Pouco fotos: reprodução/warner

depois do lançamento do disco, que vendeu aproximadamente 30 mil cópias, o baterista Sobrante foi substituído por Tre Cool. Em 1992, após a turnê de divulgação do primeiro álbum, a banda lança Kerplunk, gravado em apenas cinco dias! O disco foi um tremendo sucesso e o desempenho da banda em shows e nas rádios despertou o interesse das grandes gravadoras. Decididos a conquistar o mainstream, o Green Day assinou um contrato com a gravadora Reprise e em 1994 lançou Dookie, o primeiro grande sucesso da banda. Dookie trazia hits como Basket Case, que permaneceu por cinco semanas no topo das paradas americanas. Para completar o ano glorioso, a banda foi convidada para tocar em Woodstock. O mega concerto ajudou ainda mais a tornar o Green Day conhecido e turbinou as vendas de Dookie. Além de Basket Case, When I Come Around estourou nas rádios. Resultado: em 1995 o disco já havia vendido mais de 8 milhões de cópias nos Estados Unidos e 2 milhões internacionalmente. Além do desempenho extraordinário nas vendas, Dookie recebeu o Grammy de Melhor Performance de Música Alternativa em 1994.

No ano seguinte, durante a turnê européia, a banda cancelou vários shows no velho continente, alegando exaustão. Longe dos palcos e das viagens, o Green Day passou o ano seguinte descansando e trabalhando na produção do novo disco. Nimrod foi lançado em 1997 e traz o megahit Time of Your Life. Apesar de não ter feito o sucesso estrondoso dos dois álbuns anteriores, muitos críticos consideravam esse o melhor disco da banda. Em 2000, após um longo período distante das paradas de sucesso a banda lançou Warning. Passada a empolgação de início de carreira, o Green Day tem apresentado trabalhos mais maduros e surpreendentes a cada novo álbum. O mais recente sucesso da banda, American Idiot, já vendeu milhares de cópias e foi coroado no último Video Music Awards, da MTV, (confira no Curiosidades). Enquanto isso, a canção Boulevard of Broken Dreams (não confundir com o clássico de Al Dubin e Harry Warren) figura no topo das paradas.

Em 1995 a banda lançou Insomniac, que fez um sucesso bem mais modesto que o disco anterior – vendeu dois milhões de cópias. Ainda assim o álbum emplacou mais uma canção no topo da parada americana: J.A.R. SHOWTIME

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D G discografia

GREEN DAY DISCOGRAFIA OFICIAL OFICIAL DISCOGRAFIA 1.039/ SMOOTHED OUT SLAPPY HOURS (1990)

1. AT THE LIBRARY 2. DON’T LEAVE ME 3. I WAS THERE 4. DISAPPEARING BOY 5. GREEN DAY 6. GOING TO PASALACQUA 7. 16 8. ROAD TO ACCEPTANCE 9. REST 10. THE JUDGES DAUGHTER 11. PAPER LANTERNS 12. WHY DO YOU WANT HIM? 13. 409 IN YOUR COFFEEMAKER

8 SHOWTIME

KERPLUNK

DOOKIE

1. 2000 LIGHT YEARS AWAY

1. BURNOUT

(1992)

2. ONE FOR THE RAZORBACKS

(1994)

2. HAVING A BLAST 3. CHUMP 4. LONGVIEW

3. WELCOME TO PARADISE

5. WELCOME TO PARADISE

4. CHRISTIE ROAD

6. PULLING TEETH

5. PRIVATE ALE

7. BASKET CASE

6. DOMINATED LOVE SLAVE

8. SHE

7. ONE OF MY LIES

10. WHEN I COME AROUND

8. 80 9. ANDROID 10. NO ONE KNOWS 11. WHO WROTE HOLDEN CAULFIELD?

14. KNOWLEDGE

12. WORDS I MIGHT HAVE ATE

15. 1,000 HOURS

13. SWEET CHILDREN

16. DRY ICE 17. ONLY OF YOU

14. BEST THING IN TOWN

18. THE ONE I WANT

15. STRANGELAND

19. I WANT TO BE ALONE

16. MY GENERATION

9. SASSAFRAS ROOTS 11. COMING CLEAN 12. EMENIUS SLEEPUS 13. IN THE END 14. F.O.D.


discografia D

INSOMNIAC 1. ARMATAGE SHANKS

INTERNATIONAL SUPERHITS!

2. BRAT

1. MARIA

1. AMERICAN IDIOT

2. POPROCKS & COKE

2. JESUS OF SUBURBIA

3. LONGVIEW

3. CITY OF THE DAMNED

4. WELCOME TO PARADISE

4. I DON’T CARE

5. BASKET CASE

5. DEARLY BELOVED

6. WHEN I COME AROUND

6. TALES OF ANOTHER BROKEN HOME

(1995)

3. STUCK WITH ME 4. GEEK STINK BREATH 5. NO PRIDE 6. BAB’S UVULA WHO? 7. 86 8. PANIC SONG 9. STUART AND THE AVE.

7. SHE

(2004)

7. HOLIDAY

10. BRAIN STEW

8. J.A.R. (JASON ANDREW RELVA)

11. JADED

9. GEEK STINK BREATH

8. BOULEVARD OF BROKEN DREAMS

12. WESTBOUND SIGN

10. BRAIN STEW

9. ARE WE WAITING

13. TIGHT WAD HILL

11. JADED

10. ST. JIMMY

14. WALKING CONTRADICTION

12. WALKING CONTRADICTION

11. GIVE ME NOVACAINE

13. STUCK WITH ME

12. SHE’S A REBEL

14. HITCHIN’ A RIDE

13. EXTRAORDINARY GIRL

15. GOOD RIDDANCE (TIME OF YOUR LIFE)

14. LETTERBOMB

(1997)

1. NICE GUYS FINISH LAST

16. REDUNDANT

15. WAKE ME UP WHEN SEPTEMBER ENDS

2. HITCHIN’ A RIDE

17. NICE GUYS FINISH LAST

16. THE DEATH OF ST. JIMMY

3. THE GROUCH

18. MINORITY

17. EAST 12TH ST.

4. REDUNDANT

19. WARNING

18. NOBODY LIKES YOU

5. SCATTERED

20. WAITING

19. ROCK AND ROLL GIRLFRIEND

6. ALL THE TIME

21. MACY’S DAY PARADE

20. WE’RE COMING HOME AGAIN

NIMROD.

7. WORRY ROCK 8. PLATYPUS (I HATE YOU) 9. UPTIGHT

21. WHATSERNAME

SHENANIGANS (2002)

10. LAST RIDE IN

1. SUFFOCATE

11. JINX

2. DESENSITIZED

12. HAUSHINKA

3. YOU LIED

13. WALKING ALONE

4. OUTSIDER

14. REJECT

5. DON’T WANNA FALL IN LOVE

15. TAKE BACK

6. ESPIONAGE

16. KING FOR A DAY

7. I WANT TO BE ON T.V.

17. GOOD RIDDANCE (TIME OF YOUR LIFE)

8. SCUMBAG

18. PROSTHETIC HEAD

WARNING: (2000)

1. WARNING 2. BLOOD, SEX AND BOOZE 3. CHURCH ON SUNDAY 4. FASHION VICTIM 5. CASTAWAY 6. MISERY 7. DEADBEAT HOLIDAY 8. HOLD ON 9. JACKASS 10. WAITING 11. MINORITY 12. MACY’S DAY PARADE fotos: reprodução/warner

(2001)

AMERICAN IDIOT

E 9. TIRED OF WAITING FOR YOU 10. SICK OF ME 11. ROTTING

12. DO DA DA

13. ON THE WAGON

14. HA HA YOUR DEAD

SHOWTIME

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greendayg g G E especial

UMA CURTA HISTÓRIA DO

PUNK ROCK por Sergio Martorelli

Para boa parte da molecada, todo esse hedonismo estava fora da realidade que o público vivia. Principalmente na época da guerra fria; enquanto os hippies caíam na real e desistiam de pedir pela Paz e o Amor, os punks surgiram gritando o caos que enfrentavam e dizendo que não existia futuro: “No future!” O punk quebrou as regras do som comercial, criando músicas com poucos acordes e letras que abordavam a realidade pobre de jovens desempregados e sem futuro. Eles criticavam o governo, a educação, os políticos, os impostos, a pobreza, o desemprego, a falta de perspectiva e outros problemas que todos nós conhecemos.

O

punk rock nasceu na Inglaterra, na primeira metade dos anos 70, basicamente para entrar em confronto direto com o rockarena da época. Já naqueles tempos, achava-se que grupos como Emerson, Lake & Palmer, Pink Floyd e Yes eram dinossauros ultrapassados, mais preocupados em se exibir durante shows altamente pirotécnicos, em solos de guitarra, bateria e teclados que duravam horas. Como resultado, o público deixava de curtir e dançar e tornava-se mero espectador de tanta pompa e circunstância.

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Em pouco tempo, bandas como Sex Pistols – que originalmente foi criada para vender roupas de fetiche de boutique de Malcolm McLaren – chamaram a atenção das grandes gravadoras, interessadas nesse novo som, feito por “drogados e garotos suburbanos”. Isso acarretou, em pouco tempo, numa imagem ruim do que o punk real transmitia. Muitos grupos foram cooptados para virarem ícones,

cifras para gravadoras. Só os Pistols foram sinceros ao lançarem um LP chamado “A Grande Farsa do Rock and Roll” e admitirem, vários anos depois, que só fizeram tudo por dinheiro. A década de 70 passava enquanto bandas como Ramones, The Clash (considerada traidora do movimento porque fez um comercial para uma marca de jeans) e outras caíam na mídia, enquanto outras fugiam do punk, fundiam-se com a discoteca e criavam o movimento “New Wave” – do qual o Blondie é um dos melhores exemplos. A década de 70 trouxe ainda os fanzines punks, começando pelo lendário “Sniffing Glue” (Cheirando Cola), que mostrava que um pessoal era capaz de produzir todo o seu material promocional sem precisar aparecer em revistas, usar camisas de lojas e pagar caro por discos e fitas. Assim, criou-se o lema D.I.Y. (Do It Yourself - Faça Você Mesmo). A Crass, hoje infelizmente esquecida, foi uma das mais importantes bandas DIY da Inglaterra, mostrando que o punk politizado e anarquista era possível, e que já estava na hora de peitar o Estado e suas vertentes. A banda causou um impacto terrível ao Reino Unido, sendo alvo de pauta de discussões no governo inglês que diziam: “Crass é um perigo. É uma das piores coisas da Inglaterra!”. fotos: reprodução


g greendaygr especial E

O PUNK NOS ANOS 80

integrante do Solucción, e ainda os obrigaram a comer merda. Resultado: durante o show, os punks latinos subiram ao palco, destruíram a aparelhagem, espancaram o pessoal do Exploited e o seu empresário aos gritos de “el fascismo no passará!”. A década de 80 trouxe um novo som, mais raivoso que o punk rock tradicional (ou “Punk 77”) de The Clash, Sex Pistols, Sham 69, Ramones, Television, Vibrators, The Jam e Uk Subs. Surgia assim o HARDCORE. O hardcore era um som mais direto, com batidas rápidas e letras mais politizadas e contestadoras, e foi um novo marco para o movimento que andava cambaleando desde 1978. Enquanto muitos gritavam “Punk's not dead!” (O Punk não está morto!), na Inglaterra surgiram bandas hardcore como The Exploited, Varukers, Discharge e outras que existem até hoje.

Aí foi que começaram os problemas. O The Exploited foi acusado, com provas gravadas, de suas atitudes fascistas onde o vocalista Wattie dizia que “odiava negros, filipinos, latinos e marroquinos”. Chegou a fazer show onde carecas (skinheads) mataram alguns punks num galpão. Se declararam partidários do National Front (movimento nazista inglês). No Brasil, o Exploited foi boicotado por anarcopunks quando Wattie declarou em rádio que odiava latinos. Ao tocar na fronteira com o México, a banda de abertura, a mexicana Solucción Mortal, foi visitá-los no camarim. Wattie espancou o vocalista e outro

Nos USA, o Dead Kennedys foi uma das bandas que mais marcaram época, com letras críticas e ácidas ao governo, à polícia e a forma americana de viver. Além disso, criaram um “hino” chamado “Nazi Punks, fuck off!”, contra o Exploited, seus inimigos declarados. Depois do término do DK, o vocal Jello Biafra montou o selo Alternative Tentacles e fez discos de poesias e discursos antifascistas gravados em palestras nas universidades para arrecadar fundos pro processo. Depois, ainda montou a banda LARD. Outras bandas americanas de HC seriam o MDC, Agnostic Front (que virou nazi), SOD (um projeto do Nuclear Assault), Crucifix, DOA e muitas outras. E entre os novos zines estavam a revista Maximum SHOWTIME

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greendayg g G E especial

Rock’n’roll (que foi boicotada pelos punks, que a consideravam ditadora da postura punk). Na Europa, nos países escandinavos (Finlândia, Suécia e Alemanha), surgiram bandas como Crude SS, Anticimex, Amebix, Rattus, Terveet Kadett, Rovsvett, Lama, Ristetyt e várias outras. No Brasil, muitas bandas surgiram nesta época: Ratos de Porão, Olho Seco, Cólera, Kaos 64, Desordeiros, Brigada do Ódio, Inocentes, Replicantes, Estágio Zero, Hino Mortal, Armagedom, WCKaos, Extermínio, Psykóze, Azilo Militar, Fogo Cruzado. etc. No Nordeste surgiam Karne Krua, Discarga Violenta, Amnésia, Fome, Estrago, Delinquentes, Condenados, AI-5, Disunidos, CU.S.P.E., HC-3, Terroristas, Grito Suburbano e outras. Infelizmente, muitas destas bandas não existem mais e apenas o

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Amnésia, Discarga Violenta e Cuspe continuam na cena alternativa. A DV recentemente acabou, mas relançou sua discografia completa em CD. Muitas dessas bandas foram sugadas pelo mercado ou largaram o movimento punk, vivendo apenas do nome. O Inocentes entrou, ainda na década de 80, para uma grande gravadora. O Olho Seco é distribuído por um selo de bandas nazistas na Europa. E os Ratos de Porão são odiados até hoje pelos mais radicais, pelo simples fato do carismático João Gordo ter virado figura fácil na MTV. Entre os zines conhecidos da década de 80 no Brasil existiam o ES-Punk, Buracaju, Grito Punk, 1992 (do Cólera, que possuía a gravadora Estúdios Vermelhos) e Ataque Frontal, entre outros. Apenas o Grito Punk existe, como uma revista punk anarquista.

fotos: reprodução


g greendaygr especial E

A DÉCADA DE 90 O s pu nks mud a ra m e evoluíram. Mais uma vez, o mercado sonoro abocanhou o hardcore e lançou bandas que apenas usavam a imagem do estilo, como Raimundos, DFC e Os Cabeloduro, para fazer letras bobas, sexistas e machistas que nada tinham a ver com a cena punk. Confrontando o HC comercial, muitas bandas aderiram ao grindcore, um som sujo, rápido e sem a mínima intenção de agradar. Curte quem gosta. Como também surgiu o crustcore, influenciado principalmente por bandas como Discharge e Terveet Kadet. Há também o loadfast, ou melhor, a total antimúsica feita por quem não sabe tocar ou faz por gostar. Citamos a 7MON, que chega a tocar 365 músicas em 19 minutos, e o Sore Throat. O movimento anarcopunk surgiu para tentar criar novas sa ídas diretas contra a homofobia (discriminação homossexual), xenofobia (discriminação a outros lugares, regiões, países), o armamento militar e policial, a violência urbana, a alienação da TV e da mídia, o racismo, a política profissional, a educação alienante, o capitalismo e a fama e tantas outras coisas. Muitos

são contra os anarcopunks por sua postura direta. Mas, eles estão procurando se organizar em encontros regionais, nacionais e internacionais, ações diretas, organizações de grupos e atividades culturais, sociais e beneficentes. Buscam uma forma de viver sem o estado e de maneira fraterna e libertária. A cena atualmente possui diversas distribuidoras, bandas, zines, ocupações (squats). e se organizam em encontros regionais e nacionais, inclusive um internacional em Salvador. Isso mostra que a cena punk está firme e trabalhando o que sempre propôs nas décadas anteriores.

SHOWTIME

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destaque e D destaq

Green Day Pogo Paradise [ por Bruce Sixx ]

Ao contrário do que algumas pessoas podem pensar, o Green Day não se transformou na grande banda da atualidade de uma hora para outra. A história do grupo está perto de completar vinte anos de estrada! Pode parecer espantoso, até inacreditável, mas o trio detonou seus primeiros acordes punks em 1987, quando o vocalista e guitarrista Billie Joe Armstrong e seu amigo baixista Mike Dirnt formaram o grupo The Sweet Children. O grupo mais tarde mudou o nome para Green Day e completou a formação definitiva com a entrada do baterista Tré Cool, ex-integrante do Lookouts. A história da banda, incluindo a infância e adolescência problemática de seus integrantes e seus primeiros anos de batalha em busca de gravadora e de locais para tocar, é contada em detalhes no documentário não-autorizado “Pogo Paradise”. A trajetória do grupo é revelada por depoimentos de antigos DJs de rádios de rock, jornalistas especializados no mercado musical e alguns colegas de bandas de punk rock que testemunharam a ascensão do Green Day. Um dos amigos mais antigos da banda, integrante do grupo Operation Ivy, revela que todas as bandas da época sofriam influências mútuas. O som do Green Day tem nítidas doses de Ramones e The Clash, curiosamente destilado com o formato pop dos Beatles e um bocado das bandas prediletas dos integrantes, incluindo Social Distortion, Hüsker Dü, Replacements e até Elvis Costello. O documentário acompanha a longa e crescente aceitação comercial do grupo, a partir de seu primeiro 14 4 SHOWTIME S

álbum ofi cial, lançado em 1990. O passo determinante para a conquista do sucesso nacional – e, por conseqüência, a consagração mundial – foi a assinatura de um contrato com a gravadora Reprise, que lançou o disco “Dookie” em fevereiro de 1994. Não demorou para que a MTV abraçasse aquela banda ligeiramente irreverente e com uma sonoridade ao mesmo tempo agressiva e tão agradável. O grunge chegava rapidamente ao seu ocaso e um novo estilo estava surgindo. O resto – como dizem – é história punk!

GREEN DAY - POGO PARADISE (EUA, 2004)

Tempo - 60 minutos.


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