Sou de um curral pequeno onde nunca me topo. Onde tudo é marcado na fala e nada é de fato verídico: tem se apenas um tecido a ser bordado na frente de casa esticando besteiras na cadeira de fio verde. Da frente, na rua, se vê o mundo que não é seu e nem me fale. Desse curralinho saí no ponto de abate pra ser frito, bem passado. Mas as vezes acho que soy loki e tenho estado mal aqui – a carne cura quando crua. Já tive bem pouco sucesso, mas decidi suspender esse processo e remeter ao primeiro momento. ando muito fraco. então me retiro do foco vou pro canto, no escuro e fico abaixado ao lado do muro: uma poesia agachada no escuro fazendo nada uma poesia que agachado escorregou no escuro uma poesia curral pequeno cercada de noite e aquele pasto escuro agachada um pequeno fazendo poesia.
sendo eu um mirrado, miúdo pequena faísca no escuro procuro sempre o foco. alguém de binóculo mira meu olho no buraco da janela. é difícil enxergar uma formiga (tente, tente outra vez) tropeçando na calçada em plena avenida anhanguera. caso não fosse tendido pro foco não ficasse de comparecer por aí apenas seria uma estrela cadente caindo indo demente durante um frenético dia de outubro.
Esquecer a sequência dos fatos, desorganizar as fotos pelo tom sépia dos retratos. O rosto amarelo gema, com o riso café coado. Costura de alta miragem: Passados intercalados num recorte sem ter colagem. Assim, ao seguir dos dias, despertar na futura cama de minh’automitologia.
Me ponho de pé sobre aquilo que desconheço na brasa do cimento fresco colo as placas de muro. Acredito que esses dias todos apolíticos ou patriarcarios foram líquidos. Caminho sobre a água considerando o meio do barco para dar o chute. Como tomaram rumos diversos quando os jarros eram diferentes. Guardei o ontem em um funil e depois deixei ir pelo vaso. Amigo, chegar é fácil. É só pegar pela primeira curva à direita, sem seta ou aviso vira bem rápido, à esquerda e três vezes no mesmo sentido. Alguém atravessando seu caminho? Use a buzina aos gritos. Aceita a cara na carne do outro: um só. Vira coisa no chão. Tenho líquido nos olhos nas veias e vasos. Mares imensos. Olha que nem falo do mar sou sem sal. Minhas linhas são dos homens, pois homem sou. Sou também da carne, mas esta é poesia pura que não se arrepia fácil.
Ta no corpo carne-âncora onde o tempo se escora. Deitado no fundo do pulso o pra sempre fetal desse agora. Serpente com cauda na boca presa aguda que preme e estoura. Superfície poluída de por dentro e de por fora. Ferida é fenda pro infinito. Anestesia às vezes demora.
Sou detento daquele agora e de dentro desse passado o futuro é uma demora e o aqui é um aquário. Feto feito em placenta estéril, na espera do esperma-espaço que fecunde um útero-tempo onde geste meu próximo estar. Ou me aborte num instante esse estado.
Descobrir-se ave que não voa rasa dona de uma só asa que nem bate plana. Chorar a própria mágoa inundar alagar água. Pra no fim compreender plena que o empenho estava errado: não foi feita pro vento, mono-asa é barbatana: construida só pro nado.
Olha
a manhã que sofre por acontecer tão cedo. Olha alguém desce suave de cima da memória sem corromper o fio da saudade. Olha que alguns já entregam o céu da boca ao chumbo. Não pode olhar apenas? Os outros que voam entre sentimentos nas folhas de papel. Não podes ver pela grande emoção se banhando a sua frente como felina que é Espera a velha e gorda mover demente assim verás que o horizonte é um quadro e o olhar lambuzado de batom e lágrima é o segundo lugar mais longe que uma grande emoção pode habitar. O outro é o peito.
Assim que o silĂŞncio esquece a sequela seca e a sequĂŞncia segue o peito espera pra espora escura ver se espalha ou desaparece.
Fortes emoções, umas doze ou dez, pegaram José desprevenido. Distraído vi que procurava o que provocou o som daquela grande explosão: duas libélulas em choque no ar ou o colapso de uma grande emoção? Dava de comer diariamente para os doze ou dez quando ficava horas ao telefone quando disse eu te amo aquela vez. José me olha de longe sendo despedaçado. Pobre José, mais pobre ainda porque apanha sozinho.