Revolução e Trotsky duas palavras que foram estigmatizadas . Quando falamos com as pessoas que nossa organização se chama Política Revolucionária e que nossa ideologia é trotskista é normal que as pessoas que não tem um convívio com o ativismo político construam no seu imaginário uma figura demonizada de nossas atividades. A mídia ajudou a estabelecer uma imagem negativa das palavras “revolução” e da palavra “trotskismo”. Isso não é gratuito, eles querem desqualificar essas duas ideias porque justamente nossos princípios confrontam o sistema econômico, político e policial do capitalismo e até do socialismo stalinista. Revolução. O conceito de Revolução está ligado com a ideia de transformação, No âmbito social e político a revolução supõe uma mudança de sistema. Como ocorreu na Rússia, no Chile ou em Cuba nos anos 60. A ideia de revolução amedronta a muitas pessoas, isso é curioso porque se bem a ideia de enfrentar um câmbio possa trazer receio no sentido que a partir de uma mudança possa acontecer algo violento ou desconhecido, na realidade ela deveria ser aceita como algo necessário e não como algo a ser temido. Mas é natural ao homem temer o câmbio. Só quando o homem compreende o imperativo de uma mudança ou quando chega a uma situação limite é que ele aceita a necessidade de uma ruptura, de uma separação. Então encara o esgotamento do passado e se impõe demolir a situação que o aprisiona se atirando na aventura de construir sua liberdade. A classe trabalhadora é que tem como missão histórica o protagonismo (segundo o marxismo) de mudar o mundo, mas é a sociedade como um todo que tem na realidade essa obrigação. Quando falamos de trabalhadores estamos falado das mulheres, os índios, os negros, os grupos LGTB, os artistas e os intelectuais . A ideia de revolução também foi dita no Brasil por militantes como Mario Pedrosa quando em 1981 numa entrevista para o jornal “O Pasquím” ele afirma o trabalho do intelectual é o de ser revolucionário, diz isto querendo afirmar que o trabalho do intelectual não pode ser um trabalho de gabinete, nem o deu livre pensador. Ele reivindicava um trabalho que estava conectado com o momento, algo que busca intervir , que busca tornar o mundo melhor, uma perspectiva política no sentido más profundo da palavra. O de Piazzolla revolucionou o tango
conceito de Revolução envolve a ideia de luta e também a ideia de uma mudança criativa, a ideia um acontecimento que realmente inaugure uma nova realidade. Por exemplo, podemos dizer que
Falo isto porque como vemos temos que sustentar este conceito, não podemos ocultar essa palavra, ao contrario precisamos falar da ideia de revolução até resignificar seu conteúdo e quebrar o preconceito por completo. O FIARI. Nestes dias se esta relançando a FIARI (Federação Internacional de Artistas Revolucionários Independentes). Lembrando que a antiga FIARI, organização internacional inaugurada em 1938, foi concebida como uma frente de artistas para se organizarem contra o fascismo. Na época as pessoas que faziam parte da FIARI entenderam que a arte só poderia se desenvolver se a gente mudasse o mundo. Eles pensaram que teriam que mexer na educação, no controle da cultura e também no lugar que ocupa a arte para que arte possa se desenvolver. O poeta André Bretón em um encontro com cineasta Luis Buñuel reflete sobre o tema dizendo que a arte no capitalismo tinha se transformado em uma mercancia para o mero entretenimento e distração, perdendo seu lugar transformador e provocador. Esta afirmação do Bretón a podemos verificar na vida da sociedade onde geralmente a relação com as artes é algo fora de qualquer transcendência. Se perdeu o poder transformador da experiência artística, vivemos em um mundo donde as pessoas a música normalmente ocupa um lugar secundário na escuta ,as pinturas meros objetos de decoração e as esculturas ocupam o lugar de bibelos. Esta nova iniciativa de reinaugurar a FIARI se criou a partir de um núcleo de artistas franceses, espanhóis, brasileiros e argentinos. Eu fui convidado para fazer parte de um grupo inicial. Foi escrito um texto inaugural e em determinado momento durante a troca de ideias foi questionada a inclusão da palavra revolução porque ela poderia afastar pessoas. O argumento era que alguns que se aproximassem da gente poderiam sentir receios de associar seu nome a um grupo que poderia ser identificado com a violência política. Eu escrevi uma resposta que
acabou determinando o final da discussão e confirmando a inclusão do conceito de “revolução” no texto oficial da nova FIARI. Aqui o texto: -Em relação ao conceito "revolucionário" eu concordo com ele como
sinônimo de mudança de sistema, como luta pelo socialismo, por um governo dos trabalhadores. Para mim o termo revolução é entendido como bandeira de luta contra o capitalismo, como sinônimo de mudança radical da realidade. Existe uma variante na esquerda que aceitaria a possibilidade de um convívio dentro dos limites do capitalismo ou pensa que poderíamos coexistir com a democracia burguesa. Esta mesma postura alimenta o senso comum ao afirmar que o socialismo ou o fascismo seriam extremos indesejáveis. Eu particularmente sou trotskista e luto por uma revolução. Resumindo se a gente não assumir a palavra revolução como a ideia de mudar um período histórico, ou a palavra luta como sinônimo de ação para construir esta obra, se optarmos por uma palavra mais leve que não inclua a ideia de mobilização e de confronto estaremos adiando a ideia de confirmar nossa postura de mudança do sistema, embora essa afirmação possa trazer alguma desconfiança temos que explicar que nossas ideias são determinadas, mas isso não tem nada a ver com violência, mas sim com a resolução de lutar por uma transformação total da ordem estabelecida, pela não aceitação passiva do mundo que nos rodeia. -0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-
A segunda palavra que comentamos que foi demonizada foi o nome de Trotsky
Ele foi apenas um homem de ação e um intelectual que liderou junto com Lênin a revolução russa e que depois criou uma resistência internacional em oposição ao Stalin (político responsável pela burocratização e a traição da revolução).
-0-0-0-0-0-0Alem de seu aporte como protagonista da revolução ele escreveu 3 teses importantes 1) A tese sobre o “desenvolvimento desigual e combinado”. 2) A tese sobre a “revolução permanente”. 3) E a tese sobre o “programa de transição”. 1) Tal vez um dos maiores aportes de Trotsky ao marxismo foi a teoria do “desenvolvimento desigual e combinado” esboçada em 1906. Onde ele descreve como nos países atrasados como a Rússia ,naquele momento, encontramos coexistindo fases distintas do desenvolvimento econômico da humanidade. Formas arcaicas junto com as mais modernas do capitalismo. Isto é: uma indústria desenvolvida junto a um sistema camponês ainda atrelado a um regime semi feudal. Este debate, cujas implicações políticas são evidentes levanta questões como esta: a revolução latino-americana, por exemplo, deve combater ao mesmo tempo os resíduos do regime semi feudal e os mecanismos do estado capitalista.
2) A revolução permanente em 1930
A “Revolução permanente” é um texto onde Trotsky fala da incapacidade da burguesia dos países atrasados para levar a cabo a revolução democrático-burguesa e onde também fala sobre a necessidade de internacionalizar a revolução. A primeira afirmação é importante no sentido de que o proletariado pode criar frentes com setores da burguesia porque esta em alguma circunstância histórica pode enfrentar o imperialismo, por exemplo, numa guerra ou na defesa da indústria nacional, mas temos que deixar claro a insuficiência da burguesia nacional para enfrentar o imperialismo até um ponto de esta luta se desdobrar numa queda do capitalismo. A internacionalização da revolução é evidente no sentido de que o socialismo esta enfrentando não só um sistema local, uma burguesia nacional situada em um território só, mas o Imperialismo que é um sistema que domina a economia do mundo todo a partir dos monopólios internacionais. Ao contrario o stalinismo apoia a postura de que possa existir o socialismo num só país.
3) E o Programa de Transição
O “ Programa de Transição” é um texto que foi escrito para a conferencia da Quarta Internacional onde Trotsky cria uma ponte entre as reivindicações imediatas e as que se encontram num horizonte revolucionário. Isto significa um programa que crie uma projeção entre , por exemplo, a luta por reivindicações de cunho “democrático burguesas” com reivindicações temporárias como, por exemplo, para combater o desemprego propor: a divisão das horas de trabalho entre todos os trabalhadores disponíveis com o mesmo salário; a apertura dos livros contáveis; o controle operário ou a nacionalização das fábricas que forem fechadas. Ou no caso atual do Brasil como a queda do governo Bolsonaro teria que estar atrelada a uma reivindicação que coloque em pauta a queda do sistema, como poderia ser o chamado a uma “Assembleia Constituinte” que não permita a reconstituição do tecido burguês como ocorreu na queda do Collor com a instauração do governo Itamar Franco que acabou pavimentando o programa neo liberal de FHC. Voltando ao nosso tema. Ainda assim tal vez a maior obra do Trotsky foi a criação da quarta Internacional que foi a reunião de todas as correntes revolucionarias num congresso a nível mundial que aconteceu em Paris em 1938 onde justamente o “programa de transição” foi o eixo de discussão deste congresso. Aqui outras obras escritas por Trotsky A revolução traída (1935). Onde Trotsky não só analisa a burocratização e os crimes do stalinismo ,mas antecipa os acontecimentos que, cinco décadas depois, lamentavelmente levariam à restauração do capitalismo e ao fim da URSS.
Literatura e Revolução (1924) Onde Trotsky analisa como a arte historicamente é o resultado do sistema político vigente. A partir desta afirmação ele cria a tese de que encontramos uma arte aburguesada, alienante no sentido de reproduzir ideias e valores da classe dominante. Ele opõe a tese de que com a revolução proletária teria que se construir uma arte muito mais democrática que reflita nos valores humanitários de uma nova sociedade.
Trotsky ainda escreveu uma autobiografia intitulada “Minha Vida”, “Escrito sobre sindicatos”, “os primeiros cinco anos da internacional comunista”, “Stalin o grande organizador de derrotas”e “A luta contra o fascismo na Alemanha”. Nas obras “Espanha, a vitoria era possível” e “Aonde vai a França” Trotsky analisa o fenômeno da frente ampla algo que é muito atual no momento político brasileiro. Também ele escreveu “A segunda guerra mundial” e “Escritos Latino Americanos” entre outros textos. Brasil No Brasil os primeiros trotskistas foram comunistas que romperam com o stalinismo e que começaram a se organizar a partir de 1928.
Os seguidores de Trotsky enfrentaram aos integralistas (fascistas) e aos próprios stalinistas que os trataram como traidores à revolução por ter denunciado a burocratização do estado russo a partir de 1925. E depois em 1939 porque Trotsky , a partir do pacto entre Stalin e Hitler, se coloca em contra da Rússia e da Alemanha, sendo cobrado a se posicionar a favor da União Soviética. Entre os primeiros trotskistas estava Mario Pedrosa, Rodolfo Coutinho e Livio Xavier que criticaram a política sindical do PCB e a falta de democracia interna do partido. A este grupo se somaram depois outros nomes como Benjamin Perét, Patrícia Rehder Galvão, mais conhecida pelo pseudônimo de Pagu e tantos outros. Assim as ideias trotskistas cresceram no Brasil e estão vivas em organizações como a nossa até agora. Em 1946 estes trotskistas traduziram obras de Trotsky ao português como é o caso do “Manifesto por uma Arte Revolucionaria” e independente que Trotsky escreveu com Bretón.
-0-0-0-0-0-0Conclusões : Temos que proteger o trotskismo como ferramenta para tirar de esta ideia todo o preconceito que foi colocado nele pelo discurso oficial do capitalismo e dos stalinistas. Alias este discurso oficial do mesmo modo que tenta desnaturalizar a ideia de revolução e aos trotskistas tenta hoje nos vender a ideia de que teríamos que ter maturidade para unificar forças e tirar um inimigo central , mesmo que pontualmente tenhamos que nos associar com setores com os quais não concordamos politicamente. Vamos a olhar este conceito de FRENTE AMPLA como um recurso de freio e desvio de um proceso revolucionário. Este tema com alguns exemplos historicos recentes vão ser abordados em uma outra reunião.