Simplesmente JUDÔ #15

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EDITORIAL A Simplesmente JUDÔ número 15 é uma compilação do judô na Olimpíada Tóquio 2020. Mais uma vez contamos com os competentes correspondentes e fotógrafos da FIJ e da Assessoria de Imprensa da CBJ, que resultou em um registro histórico desta competição que foi sensacional. Confira nas próximas páginas os detalhes de cada categoria de peso, no masculino e feminino. Utilizamos a mesma linha editori­ al do Mundial de Budapeste, com textos completos e em cada catego­ ria de peso um destaque dos judo­ cas brasileiros, e finalizamos com a

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estreia das disputas por equipes mistas, que foi um sucesso. Mantendo a tradição, homenage­ amos Rosicleia Campos, a capa desta edição, judoca de seleção, técnica e atualmente coordenadora da CBJ, também foi lembrada pela equipe da FIJ em uma matéria muito bacana e que fizemos questão de trazer para a revista. Nossa missão na revista Sim­ plesmente JUDÔ sempre será trazer informações sobre a modalidade on­ de quer que esteja acontecendo e dentro de nossas possibilidades. Simples assim. Boa leitura.


Por: Pedro Lasuen ­ Federação Internacional de Judô

Dizer que o judô voltou para casa é um eufemismo. Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram uma aventura inicial para mergulhar nas raízes de nossa arte. Judô é educação e valores; seu caráter esportivo vem depois. Voltar ao Japão foi redescobrir nosso passado e abra­ çar a alma de quem sempre nos acom­ panha, Jigoro Kano. O judô é um esporte olímpico des­ de 1964 e não foi por acaso porque os jogos foram realizados em Tóquio. O Japão pensou muito e bem e decidiu construir uma obra de arte, um recinto que já é famoso e faz parte da mística do judô. É chamado de Budokan. Ali se comemora o judô e só o judô, pois era um espaço sob medida em 1964, onde a tradição se encontra com o judô 04

competitivo moderno e agora está no­ vamente em foco. Competir no Budo­ kan foi se sentir dominado pelas façanhas daqueles que conquistaram as primeiras medalhas da nossa era olímpica ali. Voltamos para lá e faze­ mos isso de todo o planeta. 24 de julho representou o fim de uma viagem pelo deserto na forma de um vírus microscópico. Foi uma liberta­ ção e é normal que estivemos todos eufóricos e cheios de expectativa após cinco anos de espera, o último deles atroz para toda a humanidade. Os Jo­ gos Olímpicos são a certidão de óbito de um triste estado de espírito e a res­ posta do mundo às contingências do confinamento. O judô retornou em grande forma, com todos os seus cam­


peões e vontade de fazer história. Houve muitos candidatos e apenas 14 vencedores. Houve, é claro, a Sele­ ção Japonesa, aquela equipe prodigio­ sa que vai defender a honra de um país que deu ao mundo os segredos do nosso esporte. Lá esteve Teddy Ri­ ner, pronto para conquistar seu terceiro ouro, mas não, liderando um time fran­ cês que brilha de outra forma nas cate­ gorias femininas. Houve todos os continentes e também nossa equipe de refugiados, formada por aqueles que fugiram do horror e reconstruíram suas vidas graças ao judô; pessoas comuns que são os verdadeiros heróis do nos­ so mundo. Houve pratas e bronzes, mas a grande vitória foi estar lá, todos juntos e mais fortes, todos olímpicos. A 05

força do judô é fazer parte de um grupo que se expressa individualmente, mas nem sempre, às vezes, o indivíduo passa a fazer parte de uma equipe. Pela primeira vez, houve um tor­ neio de equipes olímpicas.Foi uma no­ vidade, mais uma que valeu a pena no Mundial. Valeu a pena assistir ao judo­ ca, dividindo o banco e torcendo pelos companheiros, liberando as emoções que normalmente guardam para si. A competição por equipes foi o culminar de uma festa global no melhor cenário possível, um estádio octogonal que respira judô por todos os lados e se o número 8 cair teremos a eternidade. Is­ so é olimpismo, isso é judô porque o legado de Kano está mais vivo do que nunca.


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley, Pedro Lasuen e Grace Goulding Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 ­ KRASNIQI Distria (KOS) 2 ­ TONAKI Funa (JPN) 3 ­ BILODID Daria (UKR) 3 ­ MUNKHBAT Urantsetseg (MGL) 5 ­ RISHONY Shira (ISR) 5 ­ COSTA Catarina (POR) 7 ­ LIN Chen­Hao (TPE) 7 ­ PARETO Paula (ARG) Lembraremos desde primeiro dia de com­ petição nos Jogos de Tóquio 2020 que, sim, o esporte e principalmente o esporte de alto ní­ vel podem ser vetores formidáveis ​​de desen­ volvimento e que apesar da situação de saúde global, os Jogos Olímpicos estão acon­ tecendo e nos oferecem momentos de inten­ so envolvimento esportivo. Lembraremos que descobrimos dois no­ vos campeões olímpicos. Quase deixamos de esperá­los, desde o adiamento dos Jogos, mas agora estão no lugar e são magníficos. Bravo para Distria KRASNIQI e Naohisa TA­ KATO. Hoje suas carreiras estão consagra­ das por um título olímpico, mas temos certeza que daqui a pouco, já será hora de retomar os treinos. Antes, muito antes disso, vamos celebrar o esporte, o judô e os valores que eles veiculam. Orgulhemo­nos do trabalho desenvolvido e olhemos já para um futuro que só pode ser mais brilhante. Lembraremos também que neste primeiro 08

dia de judô, nosso esporte atraiu os grandes nomes do mundo. O Presidente da França, Emmanuel Macron, esteve presente para ver a bela jornada de Luka MKHEIDZE, que ter­ minou no pódio e ofereceu a primeira meda­ lha à delegação francesa. O Presidente do Kosovo alegrou­se com o desempenho de Distria KRASNIQI. Ela agora é um dos gran­ des nomes do esporte, enquanto o primeiro­ ministro da Mongólia poderia parabenizar Urantsetseg MUNKHBAT por sua primeira medalha olímpica, um acréscimo especial a uma coleção que já inclui 4 medalhas mundi­ ais.

­48 kg: Cinco anos após Kelmendi, Distria KRASNIQI consolida ouro olímpico para Kosovo Claramente um pouco menos po­ derosa que sua oponente, Funa TO­ NAKI aproveitou todas as oportunidades para desequilibrar Dis­


tria KRASNIQI (KOS) e acompanhou cada ação em ne­waza. KRASNIQI que tinha estado à frente de todos ao longo do dia parecia um pouco tímida agora que estava competindo pelo ou­ ro, mas vinte segundos antes do final, como nada estava escrito no placar, ela executou um lindo uchi­mata, que colocou TANOKI em seu ombro para um waza­ari claro. É importante aqui sublinhar o de­ sempenho de ambas atletas e em par­ ticular de Distria KRASNIQI (KOS). Cinco anos atrás, Majlinda Kelmendi abriu as portas quando se tornou a pri­ meira medalhista olímpica para Kosovo e foi uma medalha de ouro. Aqui em Tóquio, a pequena federação Kosovan, em termos de números, está produzin­ do uma segunda campeã olímpica. A proporção é impressionante. Há uma escola de judô em Kosovo e esta não é a última vez que veremos seus incrí­ veis competidores. Distria KRASNIQI disse: " Esta é a segunda medalha olímpica na história do Kosovo. É a segunda medalha de ouro consecutiva no mesmo esporte: judô. Significa muito e espero que seja uma inspiração para as crianças, mas também espero não será a única em Tóquio. Espero que possamos trazer mais medalhas para casa. Fui a primei­ ra chance e aproveitei, mas não sou a única que está pronta. Há mais chan­ ces nos próximos dias. " Daria BILODID foi mais extrava­ gante quando conquistou seus dois tí­ tulos mundiais e, aparentemente, a quebra devido à pandemia não a aju­ dou a se manter no topo. Desde o iní­ cio do dia parecia cansada e à procura de energia mas é nos dias difíceis que se reconhece grandes campeões. Na disputa pela medalha de bronze Shira RISHONY parecia em posição de con­ trolar a luta desde o início e foi exata­ mente isso que ela fez até um erro fatal, que BILODID não largou, para derrubar RISHONY por ippon. As lágri­ 09

mas de BILODID no final foram prova­ velmente uma mistura de sentimentos. Ela estava triste porque claramente veio para a medalha de ouro, mas feliz por, apesar de todas as probabilidades, subir ao pódio olímpico pela primeira vez. Ela permanecerá com ­48kg no fu­ turo? Esta é sua decisão, mas já a vi­ mos na categoria superior. Ela terá um pouco de tempo para pensar sobre is­ so. Por enquanto, aproveite ser a pri­ meira medalhista de bronze dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. Daria Bilodid declarou: "No final, senti que não tinha forças. Estava psi­ cológica e fisicamente exausta, mas fiz de tudo para ganhar uma medalha. Po­ de parecer estranho, mas ainda não sinto alegria pela medalha. Minhas emoções ainda não estão prontas, mas posso dizer que lutar aqui, onde nas­ ceu o judô e no Budokan onde ganhei meu segundo título mundial, é algo muito especial." Catarina COSTA (POR) resistiu com determinação contra Urantsetseg MUNKHBAT (MGL), sonhando com a medalha de bronze, mas a lenda mon­ gol não lhe ofereceu a chance de co­ memorar quando ela aplicou uma técnica de kansetsu­waza para ganhar a primeira medalha olímpica dela na carreira impressionante. Esta é tam­ bém a primeira medalha da Mongólia perante o Primeiro­Ministro da Mongó­ lia, que esteve entre os convidados do dia. Daria BILODID foi a primeira em ação, em uma luta onde as competido­ ras tiveram morfologia totalmente dife­ rente, sendo a Funa TONAKI pequena e compacta, sendo a ucraniana muito mais alta que qualquer pessoa da cate­ goria. Parecia óbvio que o BILODID havia sido estudada cuidadosamente nos últimos meses e que os vídeos ha­ viam sido reproduzidos milhares de ve­ zes. BILODID precisa de um braço esquerdo forte sobre a cabeça de sua oponente. A missão de TONAKI era,


portanto, muito simples, bloquear aquele braço de passar por cima da cabeça e atacar antes de BILODID, com movimentos de ombro baixos, evi­ tando ir ao chão já que BILODID é bem conhecida por seu sangaku­jime. No fi­ nal do tempo normal, cada uma tinha um shido em seu nome e tudo ainda era possível. Parecendo cansada, BI­ LODID ainda parecia ser capaz de vencer aquela semifinal incrivelmente importante. Tendo mostrado um poder incrível ao longo das primeiras rodadas, Dirs­ tria KRASNIQI de Kosovo, que foi for­ temente apoiada por sua delegação, começou a semifinal com calma, mas com certeza para impor seu kumi­kata forte e marcar um primeiro waza­ari antes mesmo de metade da luta anteri­ or. À sua frente estava uma conhecida competidora do World Judo Tour, Urantsetseg MUNKHBAT (MGL), mas a ex­campeã mundial parecia total­ mente incapaz de encontrar a menor 10

oportunidade de lançamento. Assim, Dirstria KRASNIQI se classificou para a final para já oferecer a segunda meda­ lha olímpica ao seu país, após o título de Majlinda Kelmendi no Rio há cinco anos. Repescagem Shira RISHONY parecia mais rápi­ da em se levantar após o intervalo que se seguiu à sessão da manhã, um pou­ co mais alta que sua oponente, mas ainda não sendo capaz de realmente ganhar a vantagem. Com um shido ca­ da no final da competição, era hora do golden score e RISHONY precisou de apenas 18 segundos para marcar com um magnífico sasae­tsuri­komi­ashi pa­ ra um ippon claro, garantindo uma va­ ga na disputa pela medalha de bronze. No início do dia, a israelense foi derro­ tada nas quartas­de­final pelo Urant­ setseg MUNKHBAT (MGL). Apesar de duas primeiras competi­ ções realmente boas, a atual campeã


olímpica, Paula PARETO (ARG), teve seu sonho de um segundo título ser derrotado por Funa TONAKI (JPN) nas quartas­de­final, após uma combinação no estilo japonês de osae­komi­waza a shime­waza para ippon e uma leve dor de cotovelo para a argentina. No en­ tanto, após o intervalo, a campeão en­ frentou Catarina COSTA de Portugal pela possibilidade de continuar a so­ nhar com um pódio olímpico. A judoca portuguesa conseguiu o primeiro waza­ ari com um movimento do ombro e, apesar dos dois shidos que recolheu anteriormente, conseguiu manter a vantagem. Ao final da partida de repes­ cagem, as duas atletas se abraçaram longamente. Paula Pareto é a primeira atual campeã olímpica a perder o título em Tóquio e não chegará ao pódio, mas continua sendo uma campeã incrí­ vel, que é mais do que apenas uma ju­ doca, mas um modelo para a sociedade. Antes que todo o mundo do judô passe de uma geração para a pró­ xima, devemos aproveitar o nosso tem­ po para homenagear a incrível carreira da ex­campeã mundial e olímpica. Bra­ vo Paula! O primeiro ippon dos Jogos Olímpi­ cos de Tóquio 2020 teve a assinatura da brasileira Gabriela Chibana (48kg) que, em apenas 14 segundos de luta, encaixou o golpe perfeito na atleta do Malauí, Harriet Bomface, e avançou às oitavas­de­final. Em seguida, Chibana parou no ippon da kosovar Distria Krasniq, atual número um do mundo, e despediu­se dos Jogos antes da fase final. “Ali foi judô mesmo, não pensei, só entrei. Você estar nesse flow e se o 11

golpe sair é treino, saiu natural. Foi uma luta de cada vez. A primeira já ti­ nha passado e estava com o planeja­ mento para a segunda luta. Sabia que ela (Krasniq) era bem forte, de força mesmo, tentei movimentar melhor na luta, mas acabei caindo de ippon”, ex­ plicou Chibana ao sair do tatame. Ela, cuja família tem origens na ilha de Okinawa, Japão, destacou o privilé­ gio de poder competir no berço do Judô e de seus ancestrais. “A energia aqui é sempre boa, ain­ da mais no judô que é um esporte que tem sua origem no Japão. A gente tem todo respeito pelo Japão, pela cultura, pelo judô. É uma sensação muito boa, uma vibração diferente (estar na Budo­ kan). Agora, é um sentimento de dor que não sei quando vai reverter, por­ que é todo um esforço de uma vida pa­ ra estar aqui.” Essa foi a primeira participação olímpica de Gabriela Chibana compe­ tindo. Em Londres 2012 e no Rio 2016 ela integrou a delegação como atleta de apoio, ajudando na preparação das titulares olímpicas. Em 2020, Chibana sofreu uma lesão ligamentar no joelho e precisou passar por cirurgia, além de um longo processo de recuperação. Superando­se em cada treinamento e competição desde então, ela conse­ guiu a classificação olímpica com a úl­ tima vaga direta após o Mundial de Budapeste, deste ano, e carimbou o passaporte para Tóquio. Gabi é a segunda integrante da fa­ mília Chibana que representa o Brasil em Jogos Olímpicos. Em 2016, seu pri­ mo, Charles, foi o meio­leve do Brasil nos Jogos do Rio.


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley, Pedro Lasuen e Grace Goulding Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 ­ TAKATO Naohisa (JPN) 2 ­ YANG Yung Wei (TPE) 3 ­ SMETOV Yeldos (KAZ) 3 ­ MKHEIDZE Luka (FRA) 5 ­ TSJAKADOEA Tornike (NED) 5 ­ KIM Won Jin (KOR) 7 ­ LESIUK Artem (UKR) 7 ­ CHKHVIMIANI Lukhumi (GEO)

­60 kg: TAKATO abre a conta do judô japonês A final talvez não tenha sido a par­ tida mais emocionante do dia, mas sin­ ceramente os atletas têm uma desculpa, pois deram muito para che­ gar a esta última disputa e todo o dia foi maravilhoso em termos de ação, engajamento e vontade de dar tudo! Naohisa TAKATO (JPN) tinha um objetivo claro, abrir a conta das meda­ lhas de ouro japonesas na prova de judô e ele conseguiu. Não foi fácil, mas quem disse que seria? Ser campeão olímpico exige anos de treinamento. Hoje o Takato é o rei do mundo no pe­ so leve e nós o parabenizamos por is­ so. TAKATO Naohisa disse: " Ao con­ trário do que as pessoas possam pen­ sar, minha luta mais difícil não foi a final, nem mesmo a semifinal. Foram as quartas de final porque no Rio eu perdi naquela rodada e aqui em Tóquio 14

eu estava com muito medo antes do lu­ ta contra o georgiano. " Yung Wei YANG explicou: " Quan­ do acordei esta manhã, senti que che­ garia à final. Estou falando sério e sei que isso não é um sonho. É real e me sinto ótimo. " Tornike TSJAKADOEA (NED) terá alguns arrependimentos porque teve um dia muito bom no Budokan e esta­ va muito perto de subir ao pódio de medalhas. À sua frente estava um me­ dalhista olímpico de prata com experi­ ência neste nível de competição. No período de pontuação de ouro, o caza­ que marcou um waza­ari para adicio­ nar uma segunda medalha olímpica à sua lista de prêmios; um desempenho realmente forte. A questão do dia na segunda dis­ puta pela medalha de bronze era se Luka MKHEIDZE (FRA) havia se recu­ perado ou não de sua semifinal. A pri­ meira parte da prova, os habituais 4


minutos, provou que o francês estava pronto para lutar por uma medalha, provavelmente a primeira da delegação francesa nestes Jogos. Com apenas um shido no placar para KIM, foi, por­ tanto, mais um placar de ouro, onde KIM recebeu um segundo pênalti por passividade após pouco mais de dois minutos. Não há muitas oportunidades de ganhar uma medalha olímpica em uma carreira esportiva. Hoje foi a chance de MKHEIDZE de adicionar seu nome à longa lista de medalhistas franceses nos Jogos Olímpicos, mas para ser ho­ nesto, essa provavelmente não era a medalha mais esperada de uma dele­ gação que está particularmente ansio­ sa com suas mulheres e com Tedddy Riner, é claro. Para a seleção francesa, que tem lutado para tirar o melhor pro­ veito de seus homens, o resultado do primeiro dia dos Jogos é muito anima­ dor. MKHEIDZE merece sua medalha. Ele colocou todo o seu coração nisso e é isso que queremos ver, o que ama­ mos ver. Durante a maior parte do tempo normal de competição, Takato e SME­ TOV, cada um com coleções impressi­ onantes de medalhas internacionais, não ofereceram nada de especial, até alguns segundos antes do final, quan­ do o judoca japonês imobilizou seu oponente três vezes seguidas, mas to­ das as vezes , SMETOV foi capaz de escapar e muitas vezes de forma bas­ tante acrobática. Era a vez do placar de ouro do tricampeão mundial e me­ dalhista de prata carioca. Depois de mais de quatro minutos, eles ainda es­ tavam lutando para marcar, com um único shido possivelmente fazendo a diferença; TAKATO e SMETOV tendo dois shidos cada. Totalmente exaustos, buscavam ar e colocavam o máximo de energia em cada ataque e chegou o mais alto nível de trabalho de solo, pa­ ra alegria das delegações e oficiais presentes no local. Após 7 minutos e 2 15

segundos, quase incapaz de andar mais, foi TAKATO Naohisa que final­ mente encontrou um pouquinho de energia milagrosa para acertar um wa­ za­ari com um contra­ataque. Mais de onze minutos de judô intenso, onde os dois competidores dão tudo de si e nunca desistem; é isso que gostamos de ver e é isso que os Jogos trazem. Se Luka MKHEIDZE (FRA) não é desconhecido no World Judo Tour, de­ finitivamente não estava entre os favo­ ritos da competição pela manhã, mas aos poucos o francês ganhou confian­ ça e chegou à semifinal contra outro forasteiro, ainda que Yung Wei YANG (TPE) foi semeado. Os dois atletas es­ tavam muito ativos e, apesar de não terem pontuado em nenhum dos lados, chegaram ao período de pontuação de ouro sem nenhum shido em seus no­ mes. A pontuação de ouro ofereceu sequências de ne­waza incríveis nova­ mente, onde os atletas podem gastar muita energia entregando um show ex­ celente. Esta foi a saída de Luka MKHEIDZE (FRA), totalmente exausto, rendendo­se à pressão permanente imposta por YANG, que imobilizou o seu adversário para chegar à final, pa­ ra enfrentar outro campeão exausto. Em menos de um minuto, Tornike TSJAKADOEA (NED), marcou um belo ippon com um uchi­mata destro que não deu chance para Artem LESIUK (UKR) comprar uma passagem para a disputa pela medalha de bronze. Depois de alguns segundos parecia óbvio que a partida entre Lukhumi CHKHVIMIANI (GEO) e Won Jin KIM (KOR) não chegaria ao fim do tempo normal, pois os dois campeões eram perigosos com vários ataques, mas o relógio estava correndo e nada foi mar­ cado quando o gongo final ecoou no Nippon Budokan. Pontuação de ouro! Foi uma pontuação de ouro longa e muito disputada que testemunhamos. Após três minutos da prorrogação, CHKHVIMIANI tinha dois shidos em


seu nome e ainda estava se esforçan­ do para marcar, mas foi eventualmente após quase 4 minutos que KIM marcou um ippon excelente com seoi­nage. Recorde­se que o cabeça­de­chave Rovbert MSHVIDOBADZE (ROC), foi rapidamente derrotado por Tornike TS­ JAKADOEA, que se mostrou pronto no dia D e que outro competidor top de li­ nha, Francisco GARRIGOS (ESP), foi eliminado na sessão da manhã. Takabatake luta bem, mas para em campeão do Masters Eric, que também era estreante em Olimpíadas, venceu Soukphaxau Sithi­ sane, do Laos, com dois waza­ari (ip­ 16

pon) em sua primeira luta na Nippon Budokan. Nas oitavas­de­final, ele pre­ cisaria passar pelo sul­coreano Won Jin Kim, número 9 do ranking mundial e atual campeão do World Masters Doha 2021. Em luta equilibrada, Eric levou du­ as punições nos primeiros minutos, mas não recuou. Defendeu­se das en­ tradas do coreano e levou o combate ao tempo extra. O brasileiro chegou a jogar Kim, em lance que precisou de revisão da arbitragem de vídeo. A me­ sa não deu o waza­ari e, em seguida, Kim encaixou uma combinação de téc­ nicas de perna para projetar o brasilei­ ro por ippon e encerrar o combate.


"O coreano era um dos favoritos aqui. Apesar de ter perdido, eu já tinha feito duas lutas boas com ele e eu es­ tava bem confiante, preparado para fa­ zer até 10 minutos de golden score se fosse preciso. Ele começou bem, me forçou duas punições. Depois eu quase joguei ele, e ele quase me jogou, foi uma luta bem aberta", detalhou Taka­ batake. "Mas, judô é um esporte que em um segundo muda tudo. Agora é engolir isso hoje e torcer amanhã pela equipe que ainda tem bastante gente para lutar e estou bastante confiante nessa equipe, a gente vai trazer meda­ lha", projeta. Apesar da derrota precoce, Eric va­ lorizou muito a oportunidade de partici­ par dos Jogos Olímpicos pela primeira vez em sua carreira. Em 2016, ele lu­ tou pela vaga até o último momento 17

com Felipe Kitadai e não conseguiu se classificar. Para 2020, Eric buscou dar a volta por cima e manteve­se bem ranqueado ao longo do ciclo para ga­ rantir, finalmente, sua vaga e realizar o sonho olímpico. Experiência que ele le­ vará para sempre. "Eu lutei aqui em 2019, no Mundial, mas é outra competição, um clima dife­ rente. Pode não parecer, mas eu não fiquei nervoso nenhuma hora. Eu esta­ va muito feliz de estar aqui. Só pensa­ va nisso, que eu estava numa Olimpíada. Só quem lutou mesmo, só quem pisou ali sabe como é. Tudo eu vou levar como um sonho. Desde o momento que fui aclimatar em Hama­ matsu, até pisar na Vila, todo dia era um sonho. Isso aqui para mim é onde eu sempre quis estar, meu parque de diversões", brincou.


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Por: Nicolas Messner Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 ABE Uta (JPN) 2 BUCHARD Amandine (FRA) 3 GIUFFRIDA Odette (ITA) 3 GILES Chelsie (GBR) 5 KOCHER Fabienne (SUI) 5 PUPP Reka (HUN) 7 VAN SNICK Charline (BEL) 7 PARK Da­Sol (KOR)

Não se pode dizer que um Abe es­ tava ofuscando o outro, pois os dois já eram campeões mundiais antes do iní­ cio da competição. Ok, o irmão tem mais um título mundial do que sua ir­ mã, mas ambos estavam atrás do título olímpico e um pouco de sorte para fa­ zer as coisas direito. Eles lutaram no mesmo dia sob a cúpula do Nippon Bu­ dokan. A questão permanecia: eles conseguiriam a façanha de vencer os Jogos no mesmo dia. A resposta é obviamente sim. Este dia é histórico. Além da anedota, ver dois campeões do calibre Abe e Abe subirem ao pódio nos mesmos Jogos, no mesmo dia, é simbolicamente muito forte. Uta teve a oportunidade de nos contar o quanto admirava o irmão e que ele sempre foi um modelo para ela. Podemos afirmar esta noite que não existe mais um único modelo, mas sim dois modelos de técnica e tática, 20

além de dois mestres no desejo de re­ alizar e apresentar a melhor imagem do judô. E nesta noite o Japão ganha duas belas medalhas de ouro. De maneira mais geral, é o judô e o esporte que ganham a medalha de ouro por traba­ lho árduo, paixão e talento. Todo mundo gosta de estatísticas e curiosidades. É óbvio que 25 de julho de 2021 será para sempre o dia em que uma irmã e um irmão, Uta e Hifu­ mi, que se admiravam, tiveram a opor­ tunidade de se erguerem juntos para se tornarem campeões olímpicos. ­52kg: Prodigio ABE faz na Final de Tóquio Essa era a final esperada! Amandi­ ne Buchard, que é uma das únicas atletas a ter derrotado o astro japonês no World Judo Tour, e a ABE Uta, com o apoio de todo o Japão. Durante a pri­


meira metade, BUCHARD concentrou­ se perfeitamente em seu poderoso bra­ ço direito, que é com certeza sua arma mais poderosa e nos kumi­kata de ABE. Sem medo de entrar em contato, sem medo de lançar seu tokui­waza e sem medo de cair no chão, a potência francesa empurrou o Abe para ser pe­ nalizada com um primeiro shido por passividade. Em golden score e o primeiro ata­ que veio de ABE Uta, sem pontuação, mas um arrepio que percorreu o públi­ co. Os japoneses perderiam em casa sob a pressão permanente de BU­ CHARD ou a ABE acabaria encontran­ do a solução? A resposta exigiu uma longa espera, mas eventualmente ABE Uta bloqueou o kata­guruma de Bu­ chard e imediatamente a virou para prendê­la com uma imobilização inevi­ tável. Este era com certeza o plano, mas demorou muitos minutos para Abe aplicá­lo. Quando o fez, foi o momento certo e lhe deu o título olímpico. Se­ guiu­se um longo abraço entre as duas campeãs. Elas sabiam que eram as melhores naquele dia e que colocaram tudo no tatame. Foi uma bela final. Não, foi uma final incrível em termos de engajamento. Para isso é preciso ter duas grandes atletas. BUCHARD tem uma medalha de prata e deve es­ tar orgulhosa. ABE tem o OURO e ela merece, mais do que qualquer outra pessoa. Uta ABE disse: " Quando pergunta­ do se era mais difícil lutar ou ver meu irmão lutar, devo dizer que lutar na final foi muito mais difícil. Na final, o segre­ do era ser paciente e não cometer er­ ros e isso é porque eu ganhei. " Amandine BUCHARD disse: " Eu estava me sentindo ótima o dia todo, fazendo as coisas certas na hora certa. Na final, achei que ela estava um pou­ co assustada, eu senti exatamente as­ sim. Cometi um erro, apenas um, mas isso me custou o ouro. Estou orgulhosa da minha prata e garanto que não será 21

a última final entre nós dois. " Na primeira disputa pela medalha de bronze, Reka PUPP esperava poder concluir um lindo dia de judô com uma medalha no pescoço, mas Odette GIUFFRIDA, que participou da final dos Jogos Olímpicos do Rio e perdeu para Majlinda KELMENDI há cinco anos, desta vez concluiu a competição com uma vitória eventualmente impon­ do seu seoi­nage revertido, executado em uma manga, para conquistar uma segunda medalha em Jogos Olímpicos. Poucos atletas podem dizer que têm duas medalhas olímpicas, então para­ béns Odette. Mesmo sob pressão de KOCHER, Chelsie GILES foi a primeira a marcar, com um contra­ataque para um primei­ ro waza­ari, para assumir uma lideran­ ça forte no meio do caminho. A partida continuou mostrando uma KOCHER dominadora e uma GILES oportunista, mas a britânica marcou um segundo waza­ari com um de­ashi­barai inteli­ gente. Uma medalha de bronze para o Chelsie GILES e uma primeira meda­ lha para a Grã­Bretanha no judô em Tóquio. Chelsie GILES disse: "Este ano aprendi a não me subestimar. Esta ma­ nhã me senti muito bem. Cometi um pequeno erro nas quartas­de­final, mas depois consegui o bronze. O próximo passo é assistir a outras competições, especialmente meus companheiros de chá. " Se ontem havia lágrimas de alegria nos olhos do acampamento kosovar, elas estavam tingidas de tristeza hoje, com a saída na primeira rodada da atu­ al campeã olímpica, Majlinda Kelmen­ di. Campeã europeia e mundial e sobretudo a primeira medalha de ouro olímpica da história do seu jovem país, Majlinda é uma verdadeira heroína do desporto. Ao lado de sua compatriota Distria Krasniqi no topo do Panteão Olímpico ontem, desde o Rio, Majlinda nunca re­


cuperou o nível daquela época. Seme­ ada número 4 na competição, ela ainda esperava se recuperar em Tóquio, mas isso sem levar em conta a atuação da húngara Reza PUPP que no primeiro round arruinou todas as esperanças da campeã olímpica. Majlinda demorou muito para deixar o tatame porque pro­ vavelmente sabia que esta era uma de suas últimas aparições neste nível. A vida de um atleta de ponta é complica­ da e às vezes dolorosa, tanto mental quanto fisicamente. Em 2012, em Londres, Kelmendi foi rapidamente eliminada nas primeiras rodadas, mas quatro anos depois ela voltou como a vencedora. Hoje, o des­ tino é mais uma vez menos compla­ cente. Tudo isso aconteceu em menos de dez anos. Em última análise, é pou­ co, mas para uma competidora do cali­ bre da Kosovan, é uma eternidade dedicada ao judô, ao esporte e à in­ fluência de seu país. Driton Kuka, seu treinador, explicou alguns minutos depois: "Majlinda, obri­ gado pela vida! Você será para sempre campeã olímpica, mundial e europeia! Não fique triste hoje. Todo o trabalho e sacrifício, suor e sangue que você tem 22

pagou por você, por mim, nossas famí­ lias, por todo o nosso povo, recompen­ sou­o durante sua carreira. Não fique triste porque o ouro de Distria é de to­ da a nossa equipe. Não fique triste ho­ je, por favor. levante­se porque você nos deu tanta alegria! Vou permanecer orgulhoso de você até meu último sus­ piro. " Na metade do sorteio da ABE, não houve surpresa, pois a última favorita se classificou para enfrentar a meda­ lhista de prata do Rio 2016, Odette GUFFRIDA, da Itália. A semifinal co­ meçou com um ritmo impressionante sempre imposto pela ABE, que estava perto da finalização no chão, mas a ex­ periente GIUFFRIDA escapou. ABE e GIUFFRIDA chegaram ao final dos quatro minutos, sem pontuação e sem penalização, o que é raro o suficiente para ser sublinhado. Seguindo um pla­ no tático preciso baseado em ataques fortes, mas seguros, alguns deles no li­ mite do ataque falso, a italiana aplicou um pênalti ao adversário, o primeiro da partida, mas o flerte com o ataque falso deu a GIUFFRIDA a chance de ser sancionado uma primeira vez e depois uma segunda vez. Após três minutos


no período extra, ABE teve talvez a única oportunidade real da partida e ela não desperdiçou. Quando Kelmendi estava saindo do tatame, Amandine Buchard (FRA) pro­ vou que sua sementeira número um não foi apenas por acaso. Sem tremer um único segundo, ela se classificou para a semifinal de seus primeiros Jo­ gos Olímpicos. Há cinco anos ela não foi selecionada, mas desta vez está entre as melhores. Mais uma vez, de uma Olimpíada para a outra, muitas coisas podem mudar. À sua frente es­ tava a suíça Fabienne KOCHER, auto­ ra de uma largada perfeita no início da manhã, mas levou apenas 16 segun­ dos para Amandine BUCHARD marcar um ippon claro e rápido com seu movi­ mento especial, kata­guruma, na borda da área de competição. KOCHER esta­ va até sorrindo no final da partida ao perceber o quão rápido tudo se movia. Depois de uma primeira sessão muito boa e apesar da derrota nas quartas­de­final contra Fabienne KO­ CHER, Reka PUPP (HUN) enfrentou Da­Sol PARK, que eliminou Natalia KUZIUTINA no início do dia, para ter a chance de disputar uma medalha. No primeiro minuto, ela marcou com um uchi­mata aéreo para assumir a lide­ 23

rança. Ela então controlou o resto da luta com sequências de ne­waza muito inteligentes, onde ela estava perto de marcar, mas ao mesmo tempo foi ca­ paz de controlar o tempo sem ficar muito cansada. O Reka PUPP real­ mente fez um bom trabalho, combinan­ do ataques e táticas da melhor maneira possível. Chelsie GILES (GBR) confirmou sua boa forma nos últimos eventos do IJF World Judo Tour e ainda esteve presente no bloco final contra Charline VAN SNICK, um veterano do circuito, já que a belga foi medalhista de bronze em Londres 2012. Em placar de ouro , com um ko­uchi­gari muito oportunista, enquanto VAN SNICK fazia contra­ata­ que, GILES marcou ippon e a enviou para o concurso de medalha de bron­ ze. Larissa Pimenta foi a representante brasileira nesta categoria de peso Nessa categoria, o Brasil foi repre­ sentado por Larissa Pimenta, outra no­ vata em Jogos Olímpicos e revelação das equipes de base do judô brasileiro. Na estreia, Larissa superou Agata Pe­ renc, com um waza­ari no golden sco­ re, mas parou nas oitavas diante da campeã olímpica, Abe Uta.


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Por: Nicolas Messner Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 ABE Hifumi (JPN) 2 MARGVELASHVILI Vazha (GEO) 3 AN Baul (KOR) 3 CARGNIN Daniel (BRA) 5 SHMAILOV Baruch (ISR) 5 LOM­ BARDO Manuel (ITA) 7 GOMBOC Adrian (SLO) 7 YONDONPERENLEI Baskhuu (MGL) ­66 kg: ABE Hifumi espelha a vitória final de sua irmã Foram tantas as dúvidas a serem respondidas no início da final, pois ABE Uta já esperava nos bastidores com seu título. Se a irmã dele também teria sucesso era a questão principal e não demorou muito para obter uma resposta, pois Hifumi marcou um waza­ ari com seu o­soto­gari caseiro, seme­ lhante aos que ele usava ao longo do dia. Enquanto UTA pulava animada­ mente na borda do campo de jogo, tor­ cendo por seu irmão, Hifumi não cometeu nenhum erro e controlou MARGVELASHVILI até que ele final­ mente pudesse levantar os braços em vitória. Abe Hifumi disse: "O Budokan é o melhor lugar para o judô, então eu queria deixar o tatame orgulhoso. Eu citei, meu sonho se tornou realidade, e 26

é ainda melhor porque houve dois so­ nhos e ambos terminaram bem. É o maior momento dos meus 23 anos de vida. " MARGVELASHVILI declarou: " Abe é um grande campeão e merece seu ouro. Tentei ir passo a passo o dia to­ do. Tive sucesso com esse plano até a final. Lá, estava faltando alguma coisa. " A primeira disputa de medalhas de bronze foi vencida rapidamente por Baul AN (KOR), pontuando ippon con­ tra Manuel LOMBARDO (ITA), que não se juntará ao seu companheiro de equipe, GIUFFRIDA, no pódio. Tanto o italiano quanto o coreano vieram bus­ car a medalha de ouro e ambos devem estar decepcionados, mas no final do dia, vamos lembrar que Baul AN subiu ao pódio. Baul AN disse: "Que dia! Estou tão


cansado quanto no Rio e era tão difícil quanto 5 anos atrás." Na segunda disputa pela medalha de bronze, Daniel CARGNIN (BRA) marcou primeiro com um lançamento de braço não ortodoxo para um waza­ ari. Em seguida, Baruch SHMAILOV começou a colocar uma pressão incrí­ vel no adversário, que conseguiu man­ ter viva a vantagem e conquistou sua primeira medalha olímpica e a primeira medalha pela Seleção Brasileira. O técnico do CARGNIN declarou: “Melhoramos nos últimos 2 anos, mas perdemos medalhas em grandes even­ tos. O que tínhamos que fazer era me­ lhorar no aspecto competitivo. É por isso que estou tão feliz hoje. " A primeira parte do sorteio foi difí­ cil; os atletas sabiam disso. São os Jo­ gos Olímpicos e mesmo que haja menos competidores do que no Mundi­ al, por exemplo, a pressão é muito grande e não há como escapar. Você vence, continua, perde, tem que espe­ rar quatro, ou no caso três, mais anos até os próximos Jogos Olímpicos. Sendo o número um do mundo e cabeça­de­chave, Manuel LOMBARDO (ITA) achou que tinha boas chances de chegar à semifinal, mas isso sem o nú­ mero 13 do mundo Daniel CARGNIN (BRA), que rodada após rodada mos­ trou cada vez mais confiança. Cam­ peão Mundial Júnior em 2017, o Ir. IMO Azilian, campeão Pan­Americano do ano passado, provou ser uma das grandes ameaças da categoria. Não é LOMBARDO que dirá o contrário. Na semifinal, CARGNIN enfrentou a oposição do astro local e futuro herói Hifumi ABE, que teve várias lutas difí­ ceis durante a sessão da manhã, mes­ mo que o judoca japonês nunca parecesse em perigo. O fato é que em cada rodada ABE teve que enfrentar oponentes que mais tentavam não cair do que vencer. No entanto, ABE mos­ trou um incrível o­soto­gari de longa distância com a mão direita que mar­ 27

cou várias vezes. CARGNIN é outro ti­ po de oponente, tentando impor seu kumi­kata e um ritmo diferente, mas ABE estava obviamente pronto para enfrentar qualquer tipo de adversário e desta vez não precisou de ouro para entregar o ippon; Veio um seoi­nage para ele se juntar à irmã Uta, de longe, na final dos Jogos Olímpicos. Não houve surpresas na segunda metade do sorteio, com os dois primei­ ros classificados para a semifinal, Baul AN (KOR) com seu estilo coreano re­ verso seoi­nage e Vazha MARGVE­ LASHVILI que alinhou várias vitórias significativas. A surpresa veio da pró­ pria semifinal. Quando o período de pontuação de ouro começou, Baul AN parecia controlar o que podia ser con­ trolado e estava lenta mas seguramen­ te empurrando MARGVELASHVILI para ser penalizado, o que aconteceu duas vezes, mas em uma ação confu­ sa, o coreano tentou contra­atacar seu oponente, que O tinha antecipado per­ feitamente e quem rebateu o contra­ ataque para marcar um waza­ari ines­ perado que lhe abriu as portas da final. Estar na repescagem definitiva­ mente não era o objetivo de LOMBAR­ DO, mas ganhar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos é muito importan­ te. Para fazer isso, ele ainda teve que competir contra Baskhuu YONDONPE­ RENLEI (MGL). Em uma dura batalha para assumir a liderança, apenas shido foi distribuído até que YONDONPE­ RENLEI marcou um waza­ari na pontu­ ação de ouro, mas a pontuação foi cancelada após uma revisão de vídeo quando o mongol empurrou a perna, por baixo do cinto, para concluir sua técnica, que não é válido. Por esta in­ fração, foi penalizado pela terceira vez, oferecendo a vitória a LOMBARDO, que não esperava. A segunda partida de repescagem foi estrelada por Adrian GOMBOC (SLO), que esteve perto de ter o dia perfeito até as quartas­de­final. Para


acessar a disputa pela medalha de bronze, ele enfrentou Baruch SHMAI­ LOV (ISR), que também fez uma forte jornada pelas eliminatórias, até perder as quartas­de­final para o georgiano. Daniel Cargnin é bronze em Tóquio O judô brasileiro mantém sua tradi­ ção de subir ao pódio em todas as Olimpíadas desde Los Angeles 1984. Neste domingo, a Nippon Budokan foi o palco de uma exibição impecável do meio­leve brasileiro Daniel Cargnin que, em sua primeira participação olímpica, conquistou a medalha de bronze em Tóquio 2020. Ele venceu to­ das as três lutas das premliminares e só parou na semifinal diante do japo­ nês Abe Hifume, que se tornaria cam­ peão olímpico ao final do dia. Na luta pelo bronze, Cargnin projetou Baruch Shmailov, de Israel, e segurou o waza­ ari por dois minutos para faturar a me­ dalha. Essa foi a 23ª medalha do judô em Jogos Olímpicos. É o esporte olímpico em que o Brasil tem mais medalhas. A de Daniel, logo no segundo dia de competição, representa ainda o suces­ so no trabalho da CBJ nas categorias de base e no alto rendimento, integra­ do com os clubes e Federações, resul­ 28

tando num pódio olímpico de um judo­ ca que, no Rio 2016, foi apoio do titular olímpico e que, neste ciclo, foi traba­ lhado para chegar com chances reais de pódio nos Jogos. Com a medalha de bronze no berço do judô, Daniel Cargnin firma­se, hoje, como uma das grandes revelações do judô brasileiro para 2020. O caminho até o pódio Estreante em Jogos Olímpicos, Cargnin pisou no tatame histórico da Nippon Budokan com bastante confian­ ça e foi para cima de seus adversários. Na primeira luta, venceu o egípcio Mohamed Abdelmawgoud, número 14 do ranking, com um ipponzaço no Gol­ den score. Nas oitavas, encarou um adversá­ rio mais duro, o medalhista em mundi­ al, Denis Vieru, da Moldávia. Atento nos movimentos de defesa e agressi­ vo, Daniel encaixou a técnica de proje­ ção e marcou o waza­ari vencedor no tempo extra da luta. Nas quartas­de­final, o brasileiro encontrou um de seus maiores rivais, o italiano Manuel Lombardo, velho co­ nhecido dos tempos de seleção júnior. Lombardo foi vice­campeão mundial um mês atrás, em Budapeste, e che­


gou aos Jogos como número um do mundo. O retrospecto dos dois, porém, era favorável a Daniel que tinha uma vitória em uma luta com o italiano na fi­ nal do Grand Slam de Brasília, em 2019. Em Tóquio, novamente, Cargnin le­ vou a melhor. Não deu espaço para Lombardo lutar, impondo um ritmo ace­ lerado na luta e projetou o adversário a 10 segundos do fim do combate para garantir­se na semifinal em sua primei­ ra participação olímpica. Para chegar à decisão, Daniel pre­ cisará passaria pelo bicampeão mundi­ al Abe Hifume, do Japão. O brasileiro até começou bem o combate mas, em 29

um descuido, deu espaço para o golpe perfeito que colocou Abe na grande fi­ nal e jogou Cargnin para a disputa pelo bronze. Em sua última luta, o brasileiro en­ carou Baruch Shmailov, de Israel, e se motivou pelo retrospecto positivo con­ tra ele para sair vitorioso mais uma vez. Daniel marcou um waza­ari no se­ gundo minuto de luta e administrou bem a vantagem até o fim do combate para comemorar sua primeira medalha olímpica. O outro bronze do 66kg ficou com An Baul, da Coreia do Sul, que derrotou Lombardo. A prata ficou com Vazha Margvelashvili, da Geórgia, e o ouro foi para o anfitrião Abe Hifume.


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley, Pedro Lasuen e Grace Goulding Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 GJAKOVA Nora (KOS) 2 CYSIQUE Sarah Leonie (FRA) 3 YOSHIDA Tsukasa (JPN) 3 KLIMKAIT Jessica (CAN) 5 LIPARTELIANI Eteri (GEO) 5 KAJZER Kaja (SLO) 7 KOWALCZYK Julia (POL) 7 NELSON LEVON ISR)

­57 kg: GJAKOVA assina segunda medalha de ouro na final do Kosovo Dois estilos estavam em oposição assim que o primeiro hajime ecoou no Nippon Budokan. Com seu forte kumi­ kata canhoto, CYSIQUE parecia impor seu poder rapidamente, apesar de seu tamanho menor. Tentando desequili­ brar GJAKOVA com sua capacidade de se mover da direita para a esquerda com velocidade, CYSIQUE de repente cometeu um erro que lhe custou o títu­ lo. Na tentativa de arremessar, ela mergulhou de cabeça, o que é proibi­ do. O árbitro parou a partida e pediu a confirmação do replay e dos superviso­ res. A falta foi óbvia e CYSIQUE foi desclassificada, ao longo da final, mas logicamente quando se trata da segu­ rança dos atletas. Com a desclassificação CYSIQUE fica com a medalha de prata, enquanto 32

GJAKOVA assina seu nome em um segundo título para o Kosovo; um re­ sultado incrível para o país dos Balcãs. É um resultado que recompensa o tre­ mendo trabalho realizado por uma pe­ quena equipe de pessoas apaixonadas. Nora GJAKOVA disse: " Não foi o concurso mais bonito, mas não impor­ ta, o mais importante foi vencer. Quero agradecer a Majlinda. Ela começou o caminho, apoiou a todos nós. Sem o ouro de Distria o meu ouro, nunca aconteceria. " Majlinda Kelmendi declarou: " Eu vi todas as competições dela hoje. Desde a primeira eu pensei que hoje seria o dia dela", enquanto o treinador Driton Kuka disse: "Kuka: Kosovo é um país pequeno, mas uma grande nação de judô. " Sarah Leonie CYSIQUE declarou: "


Preciso ver as fotos porque não fiz na­ da de errado. Até pensei que ela fosse receber shido, então fiquei chocada quando o árbitro apontou para mim. Respeito a decisão, mas quero ver a ação novamente . " Eteri LIPARTELIANI pode ter espe­ rado um resultado melhor depois de um excelente dia de competição, mas YOSHIDA Tsukasa (JPN), que não chegou à final, apesar da expectativa, garantiu a medalha de bronze com dois waza­ari, para somar mais uma meda­ lha para os japoneses contagem. Demorou um pouco para Jessica KLIMKAIT (CAN) conseguir sorrir no­ vamente após sua derrota na semifinal. O início da luta pela medalha de bron­ ze foi tenso. Ela finalmente conseguiu um waza­ari com sua marca de seoi­ nage. Digamos que não fosse o metal esperado pela canadense, mas ainda é uma atuação forte para sua primeira participação nos Jogos. É também a primeira medalha olímpica feminina no judô do Canadá e esse também é um recorde que vale a pena registrar. Jessica KLIMKAIT disse: " Não direi que estou cansada desde Budapeste. Isso foi há seis semanas. Sem descul­ pas. Tudo foi definido aqui e eu estava pronta para vencer. Não sei o que aconteceu. " Nesta categoria era preciso estar entre os favoritos para ter esperança de entrar nas semifinais, já que foram os quatro primeiros colocados que ter­ minaram nas semifinais. Na metade superior do sorteio, a número um do mundo e recente cam­ peã mundial, Jessica KLIMKAIT (CAN), confirmou seu bom estado físico e mental de Budapeste há um mês, após ter derrotado, sem nenhum problema, Ivelina ILIEVA (BUL) e Julia KOWALCZYK (POL) durante as duas primeiras rodadas. A jornada foi um pouco mais difícil para a lutadora francesa Sarah Leonie CYSIQUE, que teve de passar por for­ 33

tes lutas, principalmente contra Eteri LIPARTELIANI nas quartas­de­final, que foi a primeira a fazer um waza­ari antes de CYSIQUE fazer dois gols. Mancando no final da partida, a judoca francesa certamente aproveitou a pau­ sa para se recuperar para aquela que foi uma das partidas mais importantes de sua carreira. É garantido que do seu lado Jessica KLIMKAIT queria provar que a escolha feita pelo Judô Canadá em trazê­la para Tóquio ao invés de Crista DEGUCHI foi a acertada. Assistimos a uma semifinal muito interessante do ponto de vista tático. Não foi espetacular, mas para os amantes do judô devem ter gostado. KLIMKAIT tinha seu plano tático em mente e ela o estava mantendo: mo­ vendo­se em grandes círculos e lan­ çando seu baixo nível de seoi­nage, mesmo que muitas vezes esteja no li­ mite da regra de ataque falso. Por ou­ tro lado, a francesa teve que se manter estritamente canhota e passar por cima da canadense quando esta estava de joelhos, para ir para o uchi­mata ou pa­ ra o contra­ataque na outra direção. Nenhum deles poderia lançar durante a prorrogação normal ou extra, mas fo­ ram aplicadas penalidades. Os dois primeiros a KLIMKAIT, pelos falsos ataques, e depois ao CYSIQUE pela passividade, que foi relativa, vendo o ritmo da partida. Na segunda metade do sorteio a semifinal reuniu Tsukasa YOSHIDA (JPN), que passou discretamente todas as rodadas preliminares sem muito ba­ rulho, com Nora GJAKOVA (KOS), su­ per motivada pela atuação de Distria Krasniqi no primeiro dia do torneio olímpico. Ela passou pelas primeiras partidas com facilidade e força. Quando a semifinal começou, pare­ cia que GJAKOVA poderia ter proble­ mas com o uchi­mata esquerdo perfeito dos japoneses, que fez a deco­ lagem Kosovan do tatame várias ve­ zes, mas GJAKOVA ainda estava lá no


período de pontuação de ouro e quan­ do ela lançou um ko­soto­gake do na­ da, ela jogou YOSHIDA para um waza­ari e o estádio de repente ficou quieto. Sim, pela segunda vez em três dias, Kosovo colocou um atleta na fi­ nal. Kelmendi pode se orgulhar de sua herança. Julia KOWALCZYK (POL) foi a executora de vários veteranos da cate­ goria hoje, que provavelmente partici­ param de seus últimos Jogos Olímpicos. Depois de Tóquio 2020, al­ guns atletas deixarão de competir no nível mais alto, enquanto uma nova ge­ ração de competidores mostrará seus rostos. É difícil citar todos os atletas que provaram estar entre os melhores jogadores da atual geração, que com certeza vão parar depois de Tóquio. Citemos Telma Monteiro (POR), Hed­ vig KARAKAS (HUN) e Miryam RO­ 34

PER (PAN), que deve ter pisado no ta­ tame olímpico pela última vez. O mais emblemático deste momento é Sabrina Filzmoser (AUT). O momento final de Sabrina foi muito comovente e as delegações e funcionários presentes não se engana­ ram quando Sabrina deixou o tatame do Nippon Budokan para a ovação do público; uma ovação digna da incrível carreira desta campeã. Ela participou pela primeira vez dos Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim, foi número um do mundo por um tempo, ganhou dois títu­ los europeus e duas medalhas de bronze mundiais. Hoje, Sabrina deixa o tatame de alto nível como Embaixado­ ra do Clima da IJF e foi recentemente eleita por seus pares como Presidente da Comissão de Atletas da IJF. Conti­ nuaremos a vê­la no mundo do judô, em uma posição diferente. Ela pode


ser agradecida por tudo que ela trouxe para o judô e por tudo que ela ainda está disposta a compartilhar com nos­ sa família de judô. Aquele momento em que a Sabrina saiu do tatame foi muito especial, para uma pessoa muito especial. Tiremos o chapéu, campeã! Assim, a KOWALCZYK polonêsa ainda estava presente na repescagem depois de ter sido derrotado pelo KLIMKAIT. Ela enfrentou Eteri LIPAR­ TELIANI (GEO). Demorou mais de 7 minutos (4 + 3) para LIPARTELIANI marcar um waza­ari para manter vivo seu sonho olímpico de medalha. Timna NELSON LEVY teve várias lutas duras durante a sessão da ma­ 35

nhã, mas conseguiu chegar à repesca­ gem na esperança de uma nova chan­ ce de medalha para a equipe de Israel, após a quinta colocação de RISHONY no primeiro dia dos Jogos. Ela enfren­ tou Kaja KAJZER, da Eslovênia, pelo acesso às disputas pela medalha de bronze. Com dois shidos em seu no­ me, a eslovena estava em uma posi­ ção corporal no golden score, quando NELSON LEVY cometeu um erro e foi jogada para waza­ari, destruindo sua última esperança de subir ao pódio. Na chave feminina do peso Leve (57kg), cuja atual campeã olímpica é a brasileira Rafaela Silva, o Brasil não te­ ve representantes nesta olimpíada.


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RESULTADOS FINAIS: 1 ONO Shohei (JPN) 2 SHAVDATUASHVILI Lasha (GEO) 3 TSEND­ OCHIR Tsogtbaatar (MGL) 3 AN Changrim (KOR) 5 ORUJOV Rustam (AZE) 5 MARGELIDON Arthur (CAN) 7 BUTBUL Tohar (ISR) 7 GJAKOVA Akil (KOS)

­73 kg: ONO, o Artista Sua 13ª posição no Ranking Mun­ dial está longe de mostrar o talento de ONO, que participa de poucas provas, mas quando o faz, faz bem e conquista medalhas de ouro com certa facilidade. Na final ele se deparou com Lasha SHAVDATUASHVILI (GEO), que tem uma das listas de prêmios mais im­ pressionantes do circuito. Campeão olímpico há oito anos em Londres e medalhista de bronze em 2016 no Rio, um peso acima, o georgiano mais uma vez conseguiu brigar pela final dos Jo­ gos Olímpicos. É muito difícil descrever o que aconteceu durante a partida final do dia. De um lado tínhamos a calma en­ carnada do campeão japonês, estável como uma rocha, que parece estar sempre no controle de suas emoções e do outro lado tínhamos um guerreiro incrível que não estava aqui para jogar 38

cartas, mas para vencer o melhor judo­ ca do momento. Teríamos adorado vê­ los durante horas, ficando cada vez mais exaustos, mas ainda de pé, por­ que nenhum deles é capaz de abrir mão do seu lugar na quadra central. Parecia que não era apenas ganhar o título que era importante para aqueles homens, mas se envolver na mais pura das batalhas de judô e vencer bem. ONO parecia impossível de jogar e SHAVDATUASHVILI era como um ga­ to com várias vidas, até aquele mo­ mento em que ONO fez o que sabe fazer de melhor, produzindo uma obra de arte. Aquele sasae­tsuri­komi­ashi explodiu do nada, como uma única pin­ celada de tinta preta no papel para de­ senhar um personagem japonês perfeito. Ono é um gigante, mas ele é um gigante porque tinha outro gigante do esporte na frente dele. Com a vitória concedida, ONO e SHAVDATUASHVI­


LI mostraram um profundo respeito um pelo outro e depois deixaram o tatame. Só então um sorriso apareceu no rosto de Ono. Ele fez isso! Ele é campeão olímpico pela segunda vez e nada pa­ rece poder detê­lo. Esperamos mais pinturas do artista no futuro. Ono Shohei disse: " Quando ga­ nhei meu primeiro título olímpico eu era jovem. Hoje, e depois de anos derro­ tando todo mundo, posso dizer que não foi fácil. Também estou muito feliz porque durante todos esses anos con­ segui ficar na minha categoria de peso, e isso também é uma conquista. " Kosei Inoue disse: " Ono é o me­ lhor judoca que já vi na minha vida. Ele é a combinação perfeita de força, pre­ cisão e técnica. " Lasha Shavdatuashvili disse: " Es­ tou um pouco decepcionado, é claro, mas Ono é o melhor judoca. Ele é tão forte e nunca comete erros. No final, is­ so é judô e somos iguais, cada um com duas mãos e duas pernas e as mes­ mas oportunidades . Vence o melhor. O meu caminho para a final foi difícil, mas sempre confio em mim e nunca desistirei. " Ele era um dos favoritos à medalha da manhã. Na verdade, Rustam ORU­ JOV (AZE) e AN Changrim (KOR) eram favoritos, mas um teve que se re­ tirar e foi ORUJOV; uma medalha de prata há cinco anos, mas derrotada aqui pelo coreano com um seoi­nage poucos segundos antes do gongo final. AN Changrim acrescenta mais uma medalha à contagem da Coreia, por ocasião dos Jogos Olímpicos de Tó­ quio em 2020. A segunda disputa de medalha de bronze poderia ser disputada entre Arthur MARGELIDON (CAN) e Tsogt­ baatar TSEND­OCHIR (MGL), já que ambos os atletas demonstraram gran­ de habilidade e capacidade de arre­ messo durante as primeiras rodadas. Foi TSEND­OCHIR quem se mostrou mais concentrado ao seguir imediata­ 39

mente para o solo após uma ação con­ fusa, com chave de braço para ippon e a segunda medalha de bronze para Mongólia. Às vezes, quando as coisas são muito conhecidas com antecedência e tudo já está escrito, torna­se meio de­ sinteressante, mas não é o caso do Shohei ONO (JPN). O nipônico cam­ peão olímpico carioca foi o primeiro ju­ doca a pisar no tatame na manhã da competição, quando o local ainda esta­ va totalmente silencioso. De olhos fe­ chados, caminhando lentamente para sentir o tapete, ONO estava pronto e provou ser isso mesmo nas primeiras partidas. Portanto, nunca é desinteressante assistir uma atuação de artista. ONO pode ser considerado o Michelangelo do judô ou o Leonardo da Vinci, princi­ palmente quando você vê o que ele é capaz de fazer diante de ORUJOV (AZE), que realmente tentou levar os japoneses ao limite, mas ninguém sabe onde estão esses limites. Em poucos segundos, ONO havia lançado ORU­ JOV duas vezes, cada vez com uma técnica impressionante. Na semifinal, o ONO enfrentou Tsogtbaatar TSEND­OCHIR por uma vaga na final. Na maior parte do tempo normal foi uma disputa muito equilibra­ da e isso deu origem a uma expectati­ va cada vez maior na arena. Quando ele vai jogar? Que técnica ele escolhe­ rá? Na verdade, não foi tão simples, já que o mongol havia se preparado ha­ bilmente e cancelado a maioria dos es­ forços de Ono. A segunda semifinal viu o novo campeão mundial de Budapeste, Lasha SHAVDATUASHVILI (GEO), en­ frentando AN Changrim (KOR), que te­ ve lutas realmente duras, incluindo uma primeira rodada contra o campeão olímpico de 2016 até ­66kg, Fabio BA­ SILE, e outros contra Khikmatillokh TU­ RAEV (UZB) e Tohar BUTBUL (ISR), mas em todos os casos o coreano en­


controu os recursos necessários para marcar um waza­ari libertador. A pegada de Cagey ocupou a maior parte dos primeiros 2 minutos e meio e, eventualmente, ambos foram penaliza­ dos. Não é surpreendente, porém, com os dois homens cientes do calibre do oponente. A poucos segundos do fim da luta, os dois judocas se abriram, procurando evitar a pressão do placar de ouro. Aos 45 segundos da prorroga­ ção, Shavdatuashvili deu seu ataque mais forte da luta, com um kata­guru­ ma, mas An estava pronto e defendeu perfeitamente. Na próxima troca, ele continuou a aumentar o nível de poder imposto, atacando primeiro e com uma pegada dominante. Em seguida, um seoi­nage baixo esquerdo e, em seguida, um sa­ crifício. Lasha fez de tudo para superar o coreano e valeu a pena, colocando Shavadtuashvili na segunda final olím­ pica de sua carreira e apenas um mês 40

depois de se tornar campeão mundial pela primeira vez. Rustam ORUJOV pensou que este seria o seu dia e que ele seria capaz de derrotar o rei ONO, mas não foi o caso. O azerbaijani deveria ter algo do que reclamar? Provavelmente, apenas aquele ONO está em outro planeta e isso é tudo. Na repescagem o ORU­ JOV conheceu Akil GJAKOVA (KOS) que provou que não só as mulheres se apresentam no Kosovo. Mais uma vez a partida foi dura e os atletas não con­ seguiram decidir o vencedor no tempo normal e tiveram que utilizar o período de pontuação de ouro, onde ORUJOV finalmente fez um waza­ari para ter mais uma chance de conquistar uma medalha olímpica após seu Rio segun­ do lugar há cinco anos. Para Arthur MARGELIDON (CAN) ainda poderia ser uma medalha de bronze, mas antes ele teria que enfren­ tar Tohar BUTBUL (ISR) Com dois wa­


za­ari, MARGELIDON garantiu uma vaga na disputa pela medalha de bron­ ze. Eduardo Katsuhiro Barbosa foi o representante do Brasil na categoria No terceiro dia das disputas olímpicas do judô, o Brasil foi representado no ta­ tame da Nippon Budokan pelo peso le­ ve Eduardo Katsuhiro Barbosa. Em sua estreia nos Jogos Olímpicos, o judoca brasileiro parou na primeira rodada, batendo na chave de braço aplicada pelo francês Guillaume Chaine. Katsuhiro chegou a projetar Chaine antes de levar a chave e o lance preci­ sou ser revisado pela arbitragem no ví­ deo replay. Os juízes não validaram o waza­ari que daria a vitória ao brasilei­ ro no Golden score e confirmaram a vi­ tória do francês com a finalização no braço. "Foi meio duvidoso, mas acreditei que tivesse sido um ponto ali. Foi um 41

milésimo de segundo que tirei a aten­ ção da luta pensando que fosse meu ponto, mas o judô é isso aí. Milésimo de segundo decide a luta",disse Eduardo. Natural de Registro, São Paulo, Dudu veio morar no Japão ainda crian­ ça e cresceu na cidade de Hamamat­ su, onde a seleção brasileira se hospedou para a fase de aclimatação antes dos Jogos. A conexão com o Ja­ pão e a oportunidade de lutar os Jogos Olímpicos na sua "segunda casa" é o que ele levará de melhor lembrança desses Jogos. "Cresci aqui no Japão, e lutar as Olimpíadas aqui foi muito especial para mim, é minha segunda casa. Queria voltar com a medalha no peito, não deu dessa vez, mas acredito que consegui trazer muita alegria para as pessoas que vêm me apoiando, amigos e pro­ fessores no Japão e no Brasil. Saio com a cabeça erguida", finalizou.


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley, Pedro Lasuen e Grace Goulding Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 AGBEGNENOU Clarisse (FRA) 2 TRSTENJAK Tina (SLO) 3 CENTRACCHIO Maria (ITA) 3 BEAUCHEMIN­PINARD Catherine (CAN) 5 FRANSSEN Juul (NED) 5 BARRIOS Anriquelis (VEN) 7 QUADROS Ketleyn (BRA) 7 OZDOBA­BLACH Ágata (POL)

­63 kg: Vingança de AGBEGNENOU para ganhar a final de OURO O fato é que uma partida entre Cla­ risse AGBEGNENOU (FRA) e Tina TRSTENJAK (SLO) não é incomum, já que as duas atletas dominaram a cate­ goria nos últimos anos. O fato é tam­ bém que se trata de uma revanche da final dos Jogos Olímpicos do Rio de 2016. TRSTENJAK seria capaz de rou­ bar o título novamente ou AGBEGNE­ NOU finalmente alcançaria o cume do Olimpo? A primeira em ação com um seoi­ nage perigoso foi TRSTENJAK, um ataque perfeitamente controlado pelos franceses, que na época estava perto de estrangular seu oponente, mas para uma fuga poderosa e determinada. O resto da partida foi igual, TRSTENJAK atacando sempre antes de AGBEGNE­ NOU, para forçá­la a ser penalizada e 44

ela foi penalizada, mas então foi a vez de TRSTENJAK receber dois shidos por falsos ataques. No golden score, AGBEGNENOU finalmente concluiu um dia de competição perfeito lançan­ do o melhor adversário. Há cinco anos, na mesma configuração, Clarisse per­ deu, mas desta vez a história é diferen­ te e as duais competidoras pareciam felizes no final. Uma para vencer e ou­ tra para assistir a alegria da primeira. Clarisse Agbegnenou disse: "Estou fazendo algumas coisas novas agora, como boxe e ioga, para me ajudar a melhorar diferentes aspectos do meu judô. Valeu a pena. Agora vou reservar um tempo para desfrutar das minhas medalhas, porque não descanso desde Budapeste. Depois disso, vou fazer uma longa pausa." Tina TRSTENJAK disse: " É um grande dia após 5 anos difíceis. Eu


queria a medalha de ouro, mas, ei, es­ tes são os Jogos Olímpicos. A prata é ótima!" Maria CENTRACCHIO (ITA) não estava entre as favoritas da categoria e com certeza não é a judoca mais des­ tacada da seleção italiana, mas é me­ dalhista de bronze olímpica após vencer Juul FRANSSEN (NED) nos pê­ naltis. Até agora ela conquistou meda­ lhas apenas duas vezes no Tour Mundial de Judô. Anriquelis BARRIOS (VEN) e Catherine BEAUCHEMIN­PINARD (CAN) se opuseram no segundo con­ curso de medalha de bronze. Um pe­ ríodo de pontuação de ouro foi necessário novamente para determinar o vencedor de uma partida disputada. A canadense precisou de pouco mais de três minutos de prorrogação para marcar um waza­ari libertador e con­ quistar a medalha de bronze. Catherine BEAUCHEMIN­PINARD disse: "Na semifinal, perdi contra os melhores. Depois da semifinal foi difícil me concentrar, mas consegui. Então, segui o plano de agarrar as mangas dela e não cometer erros." Maria CENTRACCHIO declarou: "Fui a última qualificada para os Jogos então decidi lutar sem pressão, só rela­ xada, para me divertir. Quando faço is­ so fico melhor! Foi assim que ganhei minha medalha de bronze". Na parte superior do sorteio não houve surpresa, pois Clarisse AGBEG­ NENOU (FRA), dominou todas as ro­ dadas preliminares, primeiro contra Sandrine BILLIET (CPV) e depois Juul FRANSSEN (NED). As quartas­de­final foram um teste muito bom para o pen­ tacampeão mundial. Ela claramente dominou a partida, mas teve que puxar um pouco mais de concentração, já que a judoca holandesa pode ser peri­ gosa a qualquer momento. Mesmo as­ sim, Clarisse controlou o combate perfeitamente, trazendo para a mesa um kata­guruma que não sabíamos 45

que ela era especialista, para enfrentar Catherine BEAUCHEMIN­PINARD (CAN) para ter acesso à final. Com uma ação oportunista com os pés, AG­ BEGNENOU marcou o primeiro waza­ ari, que seguiu várias sequências onde os franceses estavam claramente do­ minando. O resto da semifinal foi uma passagem só de ida para Clarisse che­ gar à segunda final olímpica consecuti­ va de sua carreira. A metade inferior do sorteio foi do­ minada por Tina TRSTENJAK (SLO), que fez uma jornada mais difícil do que AGBEGNENOU. A atual campeã olím­ pica conta com muitos recursos e, em­ bora comandada pelo waza­ari do venezuelano Anriquelis BARRIOS, conseguiu se classificar para a semifi­ nal, ao enfrentar Maria CENTRAC­ CHIO, uma das últimas chances da Itália de chegar ao pódio. Na verdade a Maria nem estava semeada, mas der­ rotou Agata OZDOBA­BLACH, que acabava de incomodar os fãs japone­ ses ao derrotar TASHIRO Miku. Tashi­ ro tornou­se, portanto, a primeira atleta local a não conseguir chegar ao pódio. No meio do caminho, TRSTENJAK co­ locou uma opção séria na final ao mar­ car um waza­ari com um lançamento de ombro oportunista, que ela garantiu ao derrubar CENTRACCHIO por ippon. Uma grande atuação novamente da atual campeã olímpica. Juul FRANSSEN, que não teve chance contra o poder de AGBEGNE­ NOU, enfrentou a oposição de uma ve­ terana no circuito, Ketleyn QUADROS (BRA), que já era medalhista de bronze olímpico em 2008 em Pequim. Para quem sabe como é difícil permanecer no mais alto nível, ver uma atleta que competiu em Pequim e ganhou a me­ dalha de bronze, o que significa que ela já era uma competidora de alto ní­ vel por vários anos antes daquela apresentação, e voltar a se apresentar 13 anos depois, em Tóquio, é incrível. Infelizmente para a hora, QUADROS,


que dominava a luta contra Juul FRANSSEN, foi derrotada pelas holan­ desas, que se classificaram para a dis­ puta pela medalha de bronze. Dois dos principais animadores da sessão da manhã, Anriquelis BARRI­ OS (VEN) e Agata OZDOBA­BLACH (POL), se encontraram para acessar a segunda partida pela medalha de bron­ ze e foi BARRIOS quem se classificou para ela depois de ter acertado um wa­ za­ari com o­ uchi­gari. Katleyn Quadors representou novamente o Brasil após 13 anos Treze anos depois de conquistar a primei­ ra medalha do judô feminino brasileiro, em Pequim 2008, Ketleyn Quadros retornou ao tatame olímpico nesta terça­feira, 27, e, mais uma vez, chegou entre as oito melhores de sua categoria. Em Tóquio, porém, a medalha 46

não veio, mas Ketleyn deixou o tatame orgu­ lhosa de sua trajetória. Ela venceu duas lutas nas preliminares ­ uma por fusen­gachi (au­ sência) e outra por ippon ­ mas, caiu nas quartas e na repescagem, fechando sua se­ gunda participação olímpica em sétimo lugar. “Difícil avaliar o que faltou neste momen­ to. Mas, o que me deixa contente é ter dado o meu melhor. Eu realmente me preparei muito. Os obstáculos enfrentados para estar aqui no período de pandemia e ainda assim ter os meus melhores resultados e vir para uma Olimpíada com condição de medalha me dei­ xam feliz. Foi uma jornada gigantesca, de muitas conquistas e eu tenho muito orgulho da caminhada. Óbvio que a gente numa com­ petição, se preparando durante anos, seria, pelo menos para finalizar com uma chave de ouro todo esse caminho em cima do pódio. O meu máximo não foi suficiente para estar em


cima do pódio. Mas dei o melhor que podia e isso me deixa tranquila, em paz”, avaliou Ke­ tleyn ao sair do tatame. Em Tóquio, a caminha da brasileira come­ çou com uma vitória inusitada em Jogos Olímpicos, por fusen­gachi, que é o W.O. do judô. Sua primeira adversária, Cergia David, de Honduras foi hospitalizada na véspera da competição por problemas intestinais e não teve condições de lutar. Nas oitavas­de­final, a Ketleyn fez um combate difícil com a mongol Ganchaik Bold e projetou a adversária duas vezes para avançar na chave. Em seguida, encarou a ca­ nadense Catherine Beauchemin­Pinard, em combate tenso na disputa pela melhor pega­ da. Ketleyn vinha bem na luta, mas acabou sendo projetada e imobilizada na sequência, o que deu à Pinard a vaga na semifinal. Com isso, a brasileira precisaria de uma vitória na repescagem contra a holandesa Jull 47

Franssen para se garantir na disputa por um dos bronzes da categoria. Ketleyn começou a disputa mais agressiva e forçou duas puni­ ções à holandesa, que recuperou­se na meta­ de da luta e empatou as punições. Em seguida, Franssen conseguiu imobilizar Ke­ tleyn para vencer a repescagem. O gosto amargo de chegar tão próximo da medalha fez a brasileira deixar o tatame ain­ da avaliando seu futuro na seleção. Vivendo a melhor fase de sua vida esportiva aos 34 anos, quando questionada sobre a possibili­ dade de esticar a carreira até Paris, Ketleyn não descartou nenhuma opção. “Porque não pensaria? A gente que é atleta de alto rendimento, pelo menos eu, eu não penso em fazer judô por hobby. Se eu continuar o caminho é esse, sempre buscar ser o melhor e estar dentro de uma Olimpíada com condição de medalha. Acredito que tudo pode acontecer”, disse.


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley, Pedro Lasuen e Grace Goulding Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 NAGASE Takanori (JPN) 2 MOLLAEI Saeid (MGL) 3 BORCHASHVILI Shamil (AUT) 3 CASSE Matthias (BEL) 5 GRIGALASHVILI Tato (GEO) 5 RESSEL Dominic (GER) 7 KHUBETSOV Alan (ROC) 7 BOLTABOEV Sharofiddin (UZB)

­81 kg: NAGAZE em ouro, MOLLAEI volta a uma final O que aconteceu nos ­81kg mais uma vez vai além do quadro esportivo. Toda a história do Saeid Mollaei come­ çou há dois anos aqui em Tóquio, por ocasião do Campeonato Mundial, quando o campeão mundial iraniano decidiu lutar pela liberdade. Desde en­ tão, Saeid tem lutado para voltar ao seu melhor nível e o mais extraordiná­ rio é que o fez no dia D, o dia com que sonhava. Nagase provavelmente não é o ju­ doca japonês mais espetacular, mas é eficiente. Demorando mais no preparo dos movimentos, ele é paciente e foi assim que trabalhou ao longo do dia e na final também. Por ter passado mais tempo no tatame do que MOLLAEI e especialmente no golden score, NA­ 50

GASE sabia o que fazer e a que horas. Com o tempo perfeito ele executou um tai­otoshi que mandou Saeid ao chão pela medalha de prata, enquanto NA­ GASE pegou o ouro. Nagase Takanori disse: " Não sei dizer qual foi a parte mais difícil de ho­ je. Todas as competições foram difíceis e estou feliz, mas exausto. " Saeid Mollaei disse: " 2 anos atrás eu disse que voltaria aqui e ganharia uma medalha olímpica. Sou um ho­ mem de palavra. Esta medalha é para minha família e para toda a família do judô. " As duas medalhas de bronze foram atribuídas a Shamil BORCHASHVILI com um waza­ari e um pin down para ippon, enquanto Matthias CASSE (BEL) marcou um belo ippon com um contra­ataque contra Tato GRIGA­


LASHVILI (GEO) para subir ao pódio. Matthias CASSE disse: "O Tato me derrotou na Europa e depois ganhei o Mundial contra ele. Hoje eu o derrotei na semifinal. Isso é esporte, vem e vai. " Tínhamos anunciado que a cate­ goria de 81kg masculino seria total­ mente imprevisível e isso estava correto. Não que seja porque o cam­ peão mundial Matthias CASSE (BEL) estava na semifinal, isso se tornou previsível, já que o belga teve primei­ ras rodadas muito desafiadoras e em qualquer momento poderia ter perdi­ do. É aí que você reconhece grandes campeões, algo que Matthias definiti­ vamente é. Quando os tempos são di­ fíceis, eles encontram a energia necessária para produzir a técnica vencedora. Quando CASSE foi jogado para waza­ari por Adrian GANDIA (PUR) no primeiro round, as coisas pareciam ruins para ele, mas ele vol­ tou e venceu, como fez novamente contra Robin PACEK (SWE) e Alan KHUBETSOV (ROC), para enfrentar em Takanori NAGASE (JPN) na semi­ final, que também teve que lutar para encontrar seu caminho nas rodadas preliminares. Na segunda metade do sorteio muitos nomes poderiam ter passado, como Tato GRIGALASHVILI (GEO), mas foi derrotado por Saeid MOLLAEI (MGL) que estava em chamas, che­ gando à semifinal. Todos sonhavam com uma semifinal entre ele e Sagi Muki (ISR), mas o campeão mundial de 2019 foi derrotado na segunda ro­ dada pela surpresa do dia, o austríaco Shamil BORCHASHVILI, que se jun­ tou ao MOLLAEI na semifinal, ainda que o austríaco não estava entre os favoritos da categoria. Foi exatamente assim que a categoria ficou nos últi­ mos anos, com diversos atletas aptos a vencer e estreantes aparecendo a cada evento. É Saeid MOLLAEI quem se classifi­ 51

ca para a final, depois de ter produzido dois movimentos no puro estilo Mollaei, que só ele pode executar, dois kata­gu­ ruma em duas formas diferentes. Depois da partida eliminatória que foi disputada na sessão da manhã, ape­ nas quatro atletas ainda estavam pre­ sentes na repescagem para ter mais uma chance de chegar ao pódio. Após quatro dias de competição, Alan KHU­ BETSOV foi o primeiro atleta do Comitê Olímpico Russo a conseguir uma me­ dalha, mas antes teve que enfrentar Dominic RESSEL (GER), que estava muito perto de eliminar o NAGASE nas quartas de final. Na sessão da manhã observamos muitos confrontos acirra­ dos, terminando com longos períodos de ouro em que força e força estavam envolvidas. RESSEL produziu uma das melhores e melhores técnicas contra KHUBETSOV e marcou ippon com um de­ashi­barai para entrar no concurso de medalha de bronze. A segunda partida de repescagem viu Sharofiddin BOLTABOEV (UZB), também em posição de conquistar a primeira medalha do Uzbequistão, quando o país estava entre os favoritos para pisar em vários podios e Tato GRIGALASHVILI, que provavelmente pensou ter feito a parte mais difícil con­ tra Saeid MOLLAEI na sessão da ma­ nhã quando o jogou para o waza­ari, mas isso sem contar com a capacidade do campeão mundial de Baku 2018, de transformar uma situação que parecia muito ruim em uma vitória clara. Essa é a magia do esporte e princi­ palmente do judô. Muitos especialistas concordaram que Tato GRIGALASHVI­ LI tinha todas as chances de derrotar Saeid MOLLAEI nas quartas­de­final e o primeiro minuto da luta provou que eles estavam certos, mas então o re­ presentante da Mongólia executou um kata­guruma quase perfeito para waza­ ari, seguido de alguns segundos de­ pois, por outro waza­ari em um contra­ ataque que apenas o campeão iraniano


pode fazer, com seu estilo pouco orto­ doxo. Talvez Tato estivesse muito confiante. Ser assim é necessário e bom e todos os campeões estão confi­ antes no que podem alcançar, mas há um limite que não devem ultrapassar. O georgiano ainda é jovem e vai aprender a lidar com isso. Se ele fizer isso, ele definitivamente será muito di­ fícil de derrotar no futuro. Tato GRIGALASHVILI foi o primei­ ro em ação a marcar um waza­ari com um o­uchi­gari para assumir a lideran­ ça, um waza­ari que Sharofiddin BOL­ TABOEV nunca conseguiu alcançar. Eduardo Yudy parou em campeão mundial Nesta categoria de peso, o Brasil foi representado pelo meio­médio Eduardo Yudy Santos, que teve uma primeira luta complicada com o cam­ peão mundial e número dois do ran­ king, Sagi Muki, de Israel. Yudy começou bem, com golpes de perna que desequilibraram Muki. No entanto, o israelense encaixou o golpe perfeito 52

e venceu o combate. “Infelizmente não consegui fazer o que eu queria fazer. Deixei muito ele fazer o jogo dele, na verdade. Eu esta­ va muito preocupado com o jogo dele e acabei ficando muito defensivo”, expli­ cou o brasileiro ao deixar o tatame em sua primeira participação olímpica. “Só tenho que agradecer mesmo. Fico mui­ to feliz com essa jornada para chegar aqui, mas na questão de resultado, de competição, tenho muitas coisas para corrigir. Primeiro, preciso errar menos. Meu ataque é forte. Então, tenho que colocar o adversário para se preocupar. Depois a parte física. Viemos num rit­ mo de competição muito forte e ficou um pouco difícil na questão de periodi­ zação. Estou triste pelo resultado, mas sou grato por tudo que aconteceu comi­ go até chegar aqui”. Yudy é filho de pais brasileiros, mas nasceu no Japão, em Ibaraki. Lutar em Tóquio, portanto, representando o Bra­ sil, teve um gosto especial para o atleta do Esporte Clube Pinheiros.


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley e Pedro Lasuen Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 ARAI Chizuru (JPN) 2 POLLERES Michaela (AUT) 3 TAIMAZOVA Madina (ROC) 3 VAN DIJKE Sanne (NED) 5 SCOCCIMARRO Giovanna (GER) 5 MATIC Barbara (CRO) 7 BELLANDI Alice (ITA) 7 TELTSIDOU Elisavet (GRE )

­70 kg: Pontuações ARAI pela sexta vez para a final do Japão Ela deve ter ficado exausta com a semi final sem fim, mas a já bicampeã mundial do Japão, ARAI Chizuru, con­ quistou a sexta medalha de ouro do país­sede, por ocasião dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Ela precisa­ va de apenas um único ko­soto­gake para ganhar o título, enquanto Michae­ la POLLERES (AUT) ganhou a prata. Arai Chizuru disse: " Este local não me inspira porque perdi nas prelimina­ res do Mundial 2019, mas mesmo que os últimos 2 anos tenham sido difíceis para mim, acreditei em mim mesma e fiquei orgulhosa de voltar. Concentrei­ me em fazer o meu melhor e funcio­ nou. Na semi final estrangulei meu oponente com apenas 3 dedos! " Michaela POLLERES disse: "Eu 56

estava um pouco nervosa esta manhã e tive lutas difíceis o dia todo. Mas eu estava me sentindo cada vez melhor depois de cada rodada. Agora eu tenho a medalha de prata e me sinto incrí­ vel." Contra todas as probabilidades, o vencedor da primeira luta pela medalha de bronze foi Madina TAIMAZOVA (ROC), que teve uma semi final incri­ velmente longa, mas ainda tinha ener­ gia suficiente para marcar um waza­ari e ganhar a primeira medalha para ROC em Tóquio e a primeira medalha olím­ pica de sua jovem carreira. No segun­ do concurso de medalha de bronze, outra longa pontuação de ouro foi ne­ cessária para designar a vencedora como Sanne VAN DIJKE (NED), que marcou um belo ippon com um uki­ goshi padrão.


A batalha entre Kim POLLING e Sanne VAN DIJKE durou meses na Holanda. Quem das duas conseguiria seu ingresso para os Jogos? Não foi até o Campeonato Mundial Hungria 2021, em junho, que a resposta foi de­ cidida. Então foi finalmente Sanne VAN DIJKE, medalhista mundial de bronze, que voou para o Japão em meados de julho, deixando a vencedora do Mundi­ al de Judô 2019 em casa. Visivelmente focada, totalmente motivada, a holandesa qualificou­se para a semifinal ao eliminar Gulnoza MATNIYAZOVA (UZB) e a italiana Ali­ ce BELLANDI. A lógica pode ter colo­ cado a recente campeã mundial Barbara Matic (CRO) em sua semi fi­ nal, mas ela foi eliminada pela austría­ ca Michaela POLLERES, claramente em forma e gostando de estar na estei­ ra da bela medalha de bronze de seu companheiro de equipe ontem na cate­ goria 81 kg, Shamil BORCHASHVILI. Com um waza­ari marcado de sumi­ gaeshi, POLLERES garantiu sua vaga na final, confirmando o efeito Yvonne Bönisch. Campeã olímpica em 2004, a treinadora alemã, depois de ter servido em Israel, foi nomeada técnica da Áus­ tria no final de 2020. Em poucos meses ela já impôs seu estilo e os dois meda­ lhistas da competição até agora são a prova disso. Na segunda semifinal encontramos a inevitável lutadora japonesa ARAI Chizuru, já bicampeã mundial, mas nunca classificada durante os Jogos Olímpicos. A representante do Comitê Olímpico Russo, Madina TAIMAZOVA, estava em condições de finalmente oferecer uma medalha à sua delega­ ção no judô, onde até agora nenhuma medalha foi conquistada por atletas da ROC no Budokan. Ao longo da sessão da manhã TAIMAZOVA movimentou li­ teralmente tudo o que estava pelo seu caminho, incluindo Maria BERNABEU (ESP), Maria PORTELA (BRA) e Elisa­ vet TELTSIDOU (GRE), que, na pri­ 57

meira volta, enviou uma das principais candidatas ao título, Margaux PINOT (FRA) de volta ao vestiário. Assistimos a uma das competições mais longas do torneio, pois demorou 12:41 de golden score para ARAI Chi­ zuru pontuar ippon com uma técnica de shime­waza. Mais de 16 minutos são extremamente longos e isso se deveu principalmente à incrível flexibilidade de Madina TAIMAZOVA, que escapou de muitas tentativas de arremessos e trabalhos no chão feitos pelos japone­ ses, torcendo seu corpo em todas as direções. O estrangulamento parecia ser a última opção disponível. A judoca japonesa não perdeu a chance de en­ trar na final e potencialmente adicionar mais um ouro à já impressionante cole­ ção japonesa, mas primeiro ela teve que lidar com a recuperação de uma luta tão longa. A equipe italiana pode ter esperado uma festa melhor nestes Jogos de Tó­ quio, ou pelo menos esperava por ela. Mas a competição é acirrada e, apesar de tudo, duas medalhas já se refugia­ ram no pescoço dos atletas transalpi­ nos. Uma nova oportunidade se apresentou a eles com a presença de Alice BELLANDI na repescagem. Ela enfrentou a atual campeã mundial, a croata Barbara Matic, um pouco abaixo do nível que exibiu em Budapeste há algumas semanas. Mais uma vez não foi uma partida fácil para a campeã mundial e ela teve que esperar o perío­ do de golden score para executar um o­uchi­gari perfeito para o ippon, per­ mitindo a entrada no concurso de me­ dalha de bronze. Vencedora do Grande Prêmio de Tashkent em 2019, Elisavet TELTSI­ DOU (GRE) enfrentou a Campeã Mun­ dial Júnior de 2017 Giovanna SCOCCIMARRO (GER) para entrar no concurso de medalha de bronze. De­ morou um longo período de golden score novamente para a alemã pontuar ippon com uma técnica koshi­waza.


Maria Portela não avançou Cabeça­de­chave no médio femini­ no, Portela teve uma primeira luta tran­ quila contra a representante do Time de Refugiados Olímpicos, Nigara Shaheen, vencendo­a por ippon em apenas 28 segundos de combate. Nas oitavas­de­final, a brasileira encarou Madina Taimazova, contra quem já havia lutado e vencido neste ano na final do Grand Slam de Tbilisi, na Geórgia. A luta foi muito parelha e estudada durante o tempo regulamen­ tar de quatro minutos, com as duas atletas levando uma punição por falta de combatividade. Sem pontuação no placar, o combate foi para o Golden score, o ponto de ouro, e, novamente, ambas foram punidas, dessa vez, por evitarem a pegada. No terceiro minuto, Maria conse­ guiu encaixar um golpe e projetou Tai­ mazova que chegou a tocar os ombros no chão, girou e caiu de frente. O lance precisou ser revisado pelo vídeo replay e os árbitros da mesa não validaram o ponto da brasileira. A luta seguiu indefinida até o déci­ mo minuto de golden score, com as 58

duas atletas já bastante desgastadas pelo longo combate. Taimazova arris­ cou algumas entradas e conseguiu, com isso, impor um volume suficiente de ataques para que a arbitragem pu­ nisse a brasileira por falta de combati­ vidade, encerrando, ali, o sonho de Portela buscar sua primeira medalha olímpica. Decepcionada, a brasileira deixou o tatame chorando e lamentou não ter conseguido evoluir na competição. “Não consegui seguir na competi­ ção. Mas, agradeço a Deus, primeira­ mente, por ter me permitido chegar até aqui. Foram muitos desafios ao longo da classificação olímpica. E agradeço a todos aqueles que estiveram comigo nesse período de preparação, se doan­ do cem por cento para que eu estives­ se aqui da melhor forma possível”, resumiu. Sobre as decisões da arbitragem em sua luta, Maria demonstrou verda­ deiro espírito olímpico, avaliando tecni­ camente as situações de luta, sobretudo o último shido que sacra­ mentou a vitória da adversária. "O árbitro, se a gente não define,


ele tem que definir. E quem tiver um pouco mais de iniciativa, vai levar. Não foi culpa dele. Eu tinha que ter sido mais agressiva, imposto mais o ritmo, por mais que não fosse efetiva, que foi o que ela fez e acabou levando. Acre­ dito que o que definiu, como a luta es­ tava muito longa, ela teve um pouquinho mais de iniciativa ali naque­ le final e eu acabei tomando a punição. Mas, estava muito parecida a luta. Eu percebi que ela estava um pouco mais desgastada do que eu, só que ainda assim ela estava colocando mais golpe do que eu, mesmo que sem efetivida­ de. Isso é como se ela tivesse dando um volume maior na luta, buscando mais a luta. E, por mais que eu que­ brasse bastante o volume dela, eu quase joguei duas vezes, ainda assim não foi suficiente”, explicou Portela, 59

que retornará ao tatame da Nippon Bu­ dokan no sábado, 31, para a competi­ ção por equipes mistas. “Agora quero ajudar a equipe para chegar no pódio. Sei que meu ponto é muito importante e o foco é esse, contribuir para que possamos evoluir na competição por­ que somos um time muito forte.” A derrota doída definida em deci­ sões difíceis da arbitragem, tanto nas punições, quanto na interpretação do waza­ari ou não, fez com que a brasi­ leira recebesse muitas mensagens de incentivo e indignação de fãs e da co­ munidade do judô por meio das redes sociais. Neste sentido, é importante es­ clarecer que, no judô, não existe a pos­ sibilidade de recurso, apelação, cancelamento ou mudança do resulta­ do decretado pela arbitragem em cima do tatame.


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley e Pedro Lasuen Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 BEKAURI Lasha (GEO) 2 TRIPPEL Eduard (GER) 3 BOBONOV Davlat (UZB) 3 TOTH Krisztian (HUN) 5 IGOLNIKOV Mikhail (ROC) 5 ZGANK Mihael (TUR) 7 SHERAZADISHVILI (Nikoloz (ESP) 7 VAN T ENDILI (ESP) 7 VAN TUR NED)

­90kg: BEKAURI espalha sua juven­ tude na final de Tóquio Esta foi definitivamente uma das lu­ tas mais esperadas do bloco final e co­ meçou imediatamente com um ritmo rápido, com uma mistura de seoi­nage invertido de TRIPPEL e baixo koshi­gu­ ruma de BEKAURI. Quando Lasha BE­ KAURI marcou um waza­ari, TRIPPEL sabia que seria difícil voltar. Ele tentou, mas o jovem georgiano conseguiu manter distância dos ataques do ale­ mão e, ao final de uma nova jornada de judô, tornou­se o novo campeão olímpico na categoria masculina até 90kg; um novo nome no topo do mun­ do pelos próximos três anos. Lasha BEKAURI disse: " Zurab Kakhabrishvili é o melhor médico do mundo porque há um mês em Buda­ peste machuquei gravemente meu om­ bro e estávamos com medo de Tóquio. 62

Graças a ele hoje me senti ótimo e pu­ de produzir meu melhor judô. Agora sou campeão olímpico. A vida é boa. " Eduard TRIPPEL disse: " Você sa­ be que eu sei que posso lançar, mas para fazer isso eu tenho que estar rela­ xado e aproveitar o que estou fazendo. Todo mundo estava nervoso esta ma­ nhã. Eu não! Considerei isso como uma competição normal, então eu gos­ tei muito. Por isso fiz um judô bom e a medalha de prata é o resultado de tudo isso ” . Ele soube assim que pousou nas costas que a competição havia acaba­ do e que, apesar de todos os esforços, ele não voltaria para casa com a me­ dalha preciosa. Mihael ZGANK (TUR) ficou muito desapontado. Já Davlat BOBONOV (UZB) sabia que tinha feito a melhor jogada possível, com um tai­ otoshi muito baixo, mandando uma on­


da de alegria pelas arquibancadas da delegação, onde toda a seleção uzbe­ que esperava pela primeira medalha. O dia foi longo, mas de repente, com mo­ mentos como aquele, parecia infinita­ mente mais curto. Na segunda disputa pela medalha de bronze, com seu kumi­kata canhoto, Mikhail IGOLNIKOV (ROC) incomodou muitos de seus oponentes durante o dia e TOTH (HUN) não foi exceção. O húngaro lutou durante a prorrogação normal e extra, mas aos poucos ele construiu algo e em uma última explo­ são de energia marcou um waza­ari para ganhar uma merecida medalha. Na categoria de ­90kg, participamos de duas competições. Na primeira, os favoritos Mikhail IGOLNIKOV (ROC) e Lasha BEKAURI (GEO) se afastaram dos demais para entrar na semifinal e na outra os azarões como Mihael ZGANK (TUR) e Eduard TRIPPEL (GER ) sobreviveu a um incrível jogo de eliminação. O atual campeão mun­ dial, Nikoloz SHERAZADISHVILI (ESP) foi estrangulado nas quartas­de­final, Davlat BOBONOV (UZB) não resistiu a 63

Lasha BEKAURI, Noel VAN T END (NED) e Ivan Felipe SILVA MORALES (CUB) sucumbiu à energia de Mihael ZGANK (TUR), enquanto TOTH Kriszti­ an (HUN) e Nemanja MAJDOV (SRB) também não conseguiram chegar às últimas quatro. A primeira semifinal, portanto, colo­ cou dois favoritos, Mikhail IGOLNIKOV (ROC), ainda capaz de ganhar uma medalha para os atletas da ROC e Lasha BEKAURI (GEO), claramente recuperado de sua lesão no ombro ob­ tida em Budapeste durante o Campeo­ nato Mundial de Equipes Mistas. Se tínhamos dúvidas sobre aquela lesão, temos a resposta, está tudo bem. BE­ KAURI se classificou para a final, com um único waza­ari que enviou IGOLNI­ KOV na luta pela medalha de bronze. Com apenas 21 anos, BEKAURI foi campeão mundial júnior e agora está em condições de conquistar o título olímpico. Na outra semifinal se enfrentaram Mihael ZGANK (TUR) e Eduard TRIP­ PEL (GER), com a garantia de que um dos grandes líderes da manhã ainda


estaria presente na final e este foi Edu­ ard TRIPPEL, que depois de outro ten­ so e o longo período de pontuação de ouro finalmente atingiu um waza­ari in­ certo até que foi claramente confirma­ do pelo vídeo. Se vários favoritos foram elimina­ dos durante a sessão da manhã, en­ contramos vários deles na repescagem também, incluindo três dos medalhistas do último Campeonato Mundial Hun­ gria 2021. Bicampeão mundial, Nikoloz SHE­ RAZADISHVILI (ESP) teve um início difícil com vários períodos de ouro e fi­ nalmente uma derrota para o adversá­ rio muitas vezes perigoso, contra quem ele admite ter dificuldade em competir, Mikhail IGOLNIKOV (ROC). Para conti­ nuar na esperança de uma medalha, o espanhol enfrentou Davlat BOBONOV (UZB), que foi uma das últimas chan­ ces do Uzbequistão de chegar ao pó­ dio. Estava escrito que não era o dia de SHERAZADISHVILI, pois ele teria 64

que se render a BOBONOV por uma vaga no concurso de medalha de bron­ ze. Na segunda partida de repesca­ gem, campeão mundial de 2019 e ven­ cedor do World Judo Masters nesta temporada, Noel VAN T END conhe­ ceu TOTH Krisztian (HUN), outro me­ dalhista mundial, e com um movimento de ombro acertou um waza­ari que lhe ofereceu a possibilidade de ganhar o bronze. É importante destacar que, após di­ as de domínio japonês, pela primeira vez desde o início do torneio olímpico, não houve nenhum atleta japonês pre­ sente no bloco final masculino, já que MUKAI Shoichiro foi eliminado por TOTH Krisztian nas primeiras rodadas. Macedo não avançou na competição

O brasileiro não conseguiram avan­ çar em sua chave. Macedo, que fez sua estreia em Jogos Olímpicos, caiu de ippon no primeiro combate contra Islam Bosbayev, do Cazaquistão.


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Por: Nicolas Messner Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 HAMADA Shori (JPN) 2 MALONGA Madeleine (FRA) 3 AGUIAR Mayra (BRA) 3 WAGNER Anna­Maria (GER) 5 YOON Hyunji (KOR) 5 ANTOMARCHI Kaliema (CUB) 7 STEENHUIS Guusje (NED) 7 BABINTSEVAksandra (Aleksandra ( ROC)

­78 kg: HAMADA do Japão esmaga todas as desafiadoras finais Mesmo com MALONGA sendo o número um do mundo e campeã mun­ dial de 2019 aqui em Tóquio, o que HAMADA mostrou durante as lutas é particularmente impressionante e trou­ xe motivos para os franceses ficarem um pouco assustados. Os especialistas diriam, antes do primeiro hajime, que MALONGA teve que se vigiar em ne­ waza e foi assim que caiu. Durante a primeira sequência no chão, HAMADA calmamente desdobrou a judoca fran­ cesa para imobilizá­la e ganhar o 7º tí­ tulo para o Japão, esmagando todas as adversárias. HAMADA Shori disse: "Senti­me muito bem por usar a contenção na fi­ nal e antes dos Jogos treinei muito ne­ waza. Lembrei­me da minha derrota contra o Malonga há 2 anos, então o 68

plano era não cometer o mesmo erro. Eu queria chegar perto e começar o ne­waza o mais rápido possível porque sabia que seria o ponto fraco dela. " Madeleine MALONGA disse: " Es­ tou muito decepcionada. Eu queria muito esse título. Ontem fiquei tão tris­ te por Pinot que hoje lutei por ela tam­ bém. Este ano perdi meu título mundial e agora tenho a prata de novo. É um ótimo resultado, mas não vou parar até conseguir o ouro olímpico. " No meio do caminho, Anna­Maria WAGNER (GER) acertou um waza­ari com um amplo uchi­mata, mas o mais difícil foi manter essa vantagem até o final, com um tornado cubano pela frente. A nova campeã mundial contro­ lou os kumi­kata de sua oponente até o último segundo e deixou sua alegria explodir com esta segunda medalha para a delegação alemã.


Na segunda disputa pela medalha de bronze, Mayra AGUIAR (BRA) con­ quistou sua terceira medalha nos Jo­ gos Olímpicos. Este é um resultado impressionante para a ex­campeã mundial que foi vítima de lesões nos últimos meses. Grandes campeãs nun­ ca desistem e hoje ela está de volta ao seu melhor nível para conquistar a se­ gunda medalha de bronze para a dele­ gação brasileira. Anna­Maria WAGNER disse: " Es­ tou muito feliz por terminar este dia com uma medalha, mesmo que procu­ rasse outra cor. Fiz isso no ataque, sempre à procura do ippon. " MAYRA AGUIAR: " É a melhor me­ dalha de toda a minha carreira. Depois de tudo o que aconteceu com as le­ sões e o Covid, esta medalha tem gos­ to de ouro. Agora posso voltar para casa feliz porque estou curtindo o judô de novo. " Madeleine MALONGA (FRA) era a favorita e parece que deu tudo certo, estando ela na semifinal, mas a verda­ de é que a sua quartas­de­final contra Kaliema ANTOMARCHI (CUB) foi su­ per apertada e poderia ter ido para o outro lado. As francesas, no período do golden score, encontraram energia pa­ ra marcar e ir ao encontro de YOON Hyunji (KOR), que derrotou a semea­ dora Guusje STEENHUIS (NED) pela vaga na final. Não houve uma semifinal real, já que a coreana foi penalizada três vezes rapidamente, a última por ter saído da área de competição, abrin­ do as portas da final para as francesas. Na outra semi final se enfrentaram as duas favoritas da segunda metade do sorteio. Anna­Maria WAGNER ven­ ceu o Campeonato Mundial na Hungria há um mês e meio. Sabendo que pode fazer de novo, ficou super motivada na manhã do torneio em Tóquio e depois de mais uma partida acirrada, contra Mayra AGUIAR, que está no circuito há muitos anos e hoje mostrou grande for­ ma, Wagner fez o que foi necessário. 69

Como todos os olhos estavam voltados para a outra competidora, as pessoas quase se esqueceram de ver que HA­ MADA Shori também se classificou pa­ ra a semifinal do Japão e, portanto, estava perto de trazer mais uma opor­ tunidade de medalha para o país­sede, que está cada vez mais fora de alcan­ ce em termos de medalhas. Impressionante é a palavra. Depois de pouco mais de um minuto, HAMA­ DA já havia criado várias oportunida­ des para marcar antes de concluir com um magistral juji­gatame para ippon. Após a derrota na semifinal contra o número um do mundo francês, Kalie­ ma ANTOMARCHI (CUB) ainda pode­ ria ganhar uma medalha se conseguisse passar Guusje STEE­ NHUIS (NED). Após 1 minuto e 34 se­ gundos do primeiro placar de ouro do bloco final, STEENHUIS marcou waza­ ari com um o­uchi­gari para entrar na disputa pela medalha de bronze. Foi o que ela pensou, mas o vídeo da arbi­ tragem cancelou o placar e as atletas continuaram por mais de dois minutos, o que mudou o resultado final, já que quem acabou pontuando foi a cubana, com um maciço soto­maki­komi para ippon e um grande sorriso se espalhou pelo rosto de ANTOMARCHI. Mesmo assim, houve uma luta pela medalha de bronze. A segunda repescagem viu Alek­ sandra BABINTSEVA, representando o Comitê Olímpico Russo e a duas vezes medalhista de bronze olímpica, Mayra AGUIAR do Brasil, se enfrentando para manter seu sonho olímpico vivo. Três shido contra BABINTSEVA e o resulta­ do era conhecido. Foi AGUIAR quem iria para o concurso de medalha de bronze. Mayra conquista seu terceiro pódio olímpi­ co

Mayra Aguiar (78kg) chegou, pela terceira vez consecutiva, ao pódio olímpico e de forma emocionante, na


madrugada desta quinta­feira, 29. De­ pois de vencer a primeira luta e cair nas quartas­de­final, a brasileira bus­ cou uma recuperação na repescagem, vencendo Aleksandra Babintseva (RUS) e, em seguida, imobilizou Yoon Hyunji, da Coreia do Sul, por 20 segun­ dos para assegurar sua terceira meda­ lha de bronze olímpica. O feito é inédito entre as atletas mulheres de es­ portes individuais do Brasil. A medalha vem dez meses após Mayra sofrer uma grave lesão no joe­ lho esquerdo que a fez passar por uma cirurgia e a afastou dos tatames até ju­ nho, quando lutou o Mundial, em Buda­ 70

peste. As incertezas e as dificuldades superadas pela lesão e pela pandemia trouxeram um peso maior à essa con­ quista para a atleta. “Nunca chorei tanto. Estava cho­ rando igual criança ali. É que está mui­ to entalado. Tudo o que eu vivi, foi muito tempo de superação, uma atrás da outra. E, hoje, poder concretizar com uma medalha é muito importante para mim. É a maior conquista que eu já tive em toda a minha carreira. Por tudo o que aconteceu, tudo o que vivi, poder estar com isso concretizado é muito gostoso, está sendo muito bom”, celebrou a atleta.


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RESULTADOS FINAIS: 1 WOLF Aaron (JPN) 2 CHO Guham (KOR) 3 ILIASOV Niiaz (ROC) 3 FONSECA Jorge (POR) 5 LIPARTELIANI Varlam (GEO) 5 ELNAHAS Shady (CAN) 7 FREY Karl­Richard (GER) 7 PALTCHIK Peter ( ISR)

­100 kg: WOLF atinge o topo da final do Olimpo Os dois finalistas provaram ser os homens mais estáveis ​do momento. Quase impossível de arremessar, com precisão com as mãos e em seus ata­ ques, a eletricidade entre esses titãs prometia ser épica. Por quatro minutos do tempo normal e mais de 5 minutos do golden score, os dois campeões se neutralizaram totalmente e nada pare­ cia diferenciá­los. A pena seria do juiz, já que ambos já haviam sido penaliza­ dos duas vezes? Não, porque depois de minutos e minutos de kumi­kata intenso, Aaron WOLF pôs fim ao suspense ao marcar um magnífico ippon com um o­uchi­gari perfeitamente executado. Quando um atleta é capaz de elevar seu nível co­ mo o WOLF fez por um minúsculo mo­ mento, ele produz lindos resultados. WOLF ganha seu primeiro ouro olímpi­ co e o 8º para o Japão. 74

Aaron WOLF disse: " Minha con­ dição física não estava boa hoje, mas estou feliz porque é o primeiro título para o Japão nesta categoria desde Sensei Inoue e estou duplamente feliz porque foi o último título importante conquistado na minha carreira, depois dos mundiais, do título asiático e do nacional japonês. Eu estava chorando no tatame por todos esses motivos. ” Jorge FONSECA é conhecido pela sua explosividade impressionante, mas também é conhecido por ter algumas dificuldades quando as lutas se prolon­ gam. Hoje, contra Shady ELNAHAS, ele enfrentou outro atleta explosivo que é capaz de competir por mais tempo, mas o bicampeão mundial garantiu o primeiro lugar no pódio olímpico após marcar no momento certo, menos de 30 segundos para o fim. O mais com­ plicado era manter essa vantagem, o que ele fez de maneira brilhante. Para­ béns Jorge, uma merecida medalha.


A segunda medalha de bronze foi para Niiaz ILIASOV representando o Comitê Olímpico Russo, que marcou um waza­ari contra Varlam LIPARTE­ LIANI (GEO), apesar de ele ter tentado de tudo para correr atrás de ILIASOV no final da partida, mas sem sucesso. Foi um emocionante ILIASOV quem saiu do tatame, conquistando uma se­ gunda medalha para o ROC e a primei­ ra para o time masculino. Jorge FONSECA disse: " Estou fe­ liz, mas sempre há um mas! Estava me sentindo ótimo e lutando tão bem como em Budapeste, até a semifinal quando tive cãibras nas mãos. Não conseguia fazer judô com tanta dor mas no final consegui obter o bronze, nada mal, na­ da mal." Desde a primeira partida, o nível exibido pelos homens de ­100kg foi in­ crível e várias finais em potencial acon­ teceram durante a sessão da manhã, finais que nunca acontecerão em Tó­ 75

quio, é claro, porque o sorteio é o que é. Mesmo assim, a primeira semifinal já era uma parada obrigatória entre Var­ lam LIPARTELIANI, que há muito tem­ po buscava o título olímpico, e o campeão mundial de 2017 Aaron WOLF (JPN). Infelizmente para LIPAR­ TELIANI, o LOBO, que esteve muito forte o dia todo, controlou perfeitamen­ te a semifinal, construindo seus ata­ ques passo a passo, executando no momento certo para acertar um waza­ ari. LIPARTELIANI continua sendo um dos atletas mais bem sucedidos e con­ sistentes de sua geração, apreciado dentro e fora do tatame e agora tam­ bém é membro da Comissão de Atletas da IJF. Na segunda semifinal encontramos o atual e bicampeão mundial Jorge FOJNSECA, que é sempre tão espeta­ cular, mesmo estando em apuros con­ tra Niiaz ILIASOV nas quartas­de­final. Ele teve que esperar até o período de


golden score para finalmente chegar à vitória. Quase tão espetacular, mas um pouco menos showman, CHO Guham (KOR) também se classificou para a semifinal, no que prometia ser uma partida explosiva. Foi explosivo, mas sem pontuação até 16 segundos do fi­ nal, quando bloqueado em um canto da área de combate, CHO estava obvi­ amente preparando um ataque e veio na forma de um ippon­seoi­nage ca­ nhoto, ganhando waza­ari . Por mais alguns segundos, FONSECA correu atrás de um CHO em fuga, que poderia então desfrutar de estar qualificado pa­ ra a primeira final olímpica de sua car­ reira. Fonseca seguiu para a disputa pela medalha de bronze. Shady ELNAHAS (CAN) e Peter PALTCHIK (ISR) foram jogadores de destaque nos últimos meses, atuando regularmente no circuito, mas era pre­ 76

ciso sair do tatame após a luta entre eles. Com 45 segundos do período de golden score, Shady ELNAHAS mar­ cou ippon com um o­uchi­gari que co­ meçou dentro da área de competição e terminou fora da zona de segurança. O ataque, totalmente válido, deu ao Ca­ nadá mais uma oportunidade de con­ quistar uma medalha. Vencedor do Grand Slam da Hun­ gria 2020, medalhista de bronze em Tel Aviv este ano e quinto no Campeo­ nato Europeu, Niiaz ILIASOV (ROC), que estava perto de derrubar o atual campeão mundial durante as rodadas preliminares, esteve presente na re­ pescagem contra o antigo bronze mun­ dial medalhista Karl­Richard FREY (GER), que hoje voltou a flertar com os melhores da categoria, mas não o sufi­ ciente para passar o ILIASOV, que venceu por waza­ari.


Buzacarini cai para campeão europeu

O Brasil foi representado por Rafa­ el Buzacarini, que lutava bem contra Toma Nikiforov, da Bélgica, mas caiu de waza­ari a 30 segundos do fim da luta. "Eu já tinha enfrentado ele. Minha estratégia era deixar a lutar seguir, ir longe, eu tinha recurso, tinha físico e estava preparado para ir longe. Na lu­ ta, eu até senti que ele estava cansan­ do, mas foi um momento ali que eu acabei errando, andando para cima e ele acertou um golpe. Tive que abrir no final da luta e acabei perdendo. Difícil. Foram cinco anos treinando, mesmo dentro das adversidades, treinando pa­ ra chegar mesmo que fossem dez mi­ nutos eu aguentar. Queria sair com a medalha”, lamentou Buzacarini. 77


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RESULTADOS FINAIS: 1 SONE Akira (JPN) 2 ORTIZ Idalys (CUB) 3 KINDZERSKA Iryna (AZE) 3 DICKO Romane (FRA) 5 XU Shiyan (CHN) 5 SAYIT Kayra (TUR) 7 ALTHEMAN Maria Suelen (BRA) 7 HAN Mijin (KOR)

+78kg: SONE Conclui Final da Co­ lheita Japonesa Foi uma final longa, com duas atle­ tas que se mostraram impossíveis de lançar o dia todo. De um lado tivemos a incrível experiência de Idalys ORTIZ (CUB) com quatro seleções olímpicas e quatro medalhas, incluindo as últimas três finais e do outro lado tivemos a jo­ vem SONE Akira. Como ninguém sabia como jogar, a decisão foi tomada nos pênaltis e SONE Akira conquistou a 9ª medalha de ouro para o Japão; uma colheita impressionante para o país an­ fitrião. Sone Akira disse: " Sou pequena para a categoria, então pensei em ten­ tar suportá­la no kumite. Foi difícil, mas consegui e estou muito longe de provar que é possível vencer com um corpo pequeno." Idalys ORTIZ disse: " Cuba veio aqui em busca de uma medalha. Feito! 80

É o quarto para mim e estou especial­ mente feliz porque muitas pessoas pensaram que eu estava acabada. Es­ ta medalha é a minha resposta. Traba­ lho muito, tenho experiência e foi fora de cogitação voltar para casa sem me­ dalha. Dedico esta medalha ao meu pai, que faleceu há 9 meses. " Podemos dizer que Iryna KIND­ ZERSKA (AZE) fez o que era preciso para subir ao pódio. Sem dar chance para sua oponente chinesa, ela cons­ truiu seus ataques perfeitamente para marcar dois waza­ari. Ela queria aque­ la medalha e ela conseguiu. Bravo, muito bem! A segunda disputa pela medalha de bronze foi facilmente vencida por Romane DICKO, que não escondeu que ficou decepcionada por não estar na final, mas esta medalha de bronze é um resultado fantástico para a jovem judoca francesa, de apenas 21 anos.


Ela está apenas no início de sua car­ reira. O próprio Teddy Riner começou seu reinado com a medalha de bronze olímpica em Pequim em 2008. Vamos esperar para ver o que vem a seguir para uma das atletas mais talentosas do circuito. Romane DICKO disse: " Não sei o que aconteceu na semi final. Estava esperando sua mudança, mas ela ain­ da o fez. Chorei muito, mas decidi lutar pelos meus companheiros de equipe porque uma medalha olímpica de bron­ ze é importante. Tenho 3 anos para me vingar e o tempo passa rápido." Iryna KINDZERSKA disse: " É a melhor medalha da minha carreira. Perdi o concurso de medalha de bron­ ze em Londres e me machuquei. Agora eu tenho! Vou dormir muito bem esta noite e depois vou sorrir por um ano. " Idalys ORTIZ é uma dessas atletas, já com um currículo incrível, que estará sempre presente quando for necessá­ rio. Campeã olímpica em 2012 em Londres, medalhista de prata quatro anos depois no Rio, também campeã mundial, voltou a chegar às semifinais em Tóquio. Essa longevidade, embora permaneça no mais alto nível, não é apenas excepcional, é inspiradora para gerações de atletas. Sempre temos muito prazer em ver a cubana no cir­ cuito. Os anos que passam não pare­ cem ter efeito sobre ela; Idalys ainda tem essa habilidade incrível de entrar em forma na hora certa. Foi o que fez na sessão da manhã, vencendo todos os adversários para enfrentar na semi­ final aquela de que todos falam há me­ ses, a francesa Romane DICKO. Esta também não decepcionou e todos que previam que ela seria a su­ cessora da campeã olímpica Rio 2016 Emilie Andeol balançaram a cabeça, ansiosos para ver se a ORTIZ voltaria a ser derrotada pelo contingente fran­ cês. Há meses Romane acende o es­ topim, encadeando vitórias com maestria, para se tornar uma das favo­ 81

ritas ao título olímpico. A atuação da ORTIZ na semifinal foi um modelo de técnica e tática. Ela controlou totalmen­ te o braço direito de sua jovem opo­ nente, que era incapaz de quebrar a distância. Então, pela primeira vez a cubana deixou DICKO levar seu kumi­ kata forte, mas foi para contra­atacar melhor e então ORTIZ marcou com uma demonstração de ura­nage, justa­ mente quando foi necessário e neutra­ lizou DICKO pelo resto da partida. A judoca francesa foi incapaz de respon­ der e não conseguiu. A segunda semifinal colocou a fina­ lista do World Judo Masters em Doha em janeiro passado, Iryna KINDZERS­ KA (AZE), contra o jovem judô prodígio japonês SONE Akira (JPN), que foi, há quase dois anos, o primeiro atleta no­ meado para o Equipe olímpica japone­ sa, depois de vencer o Campeonato Mundial de 2019 diante de sua torcida. Com um waza­ari e uma imobilização, SONE comprou seu ingresso para a primeira final olímpica de sua carreira. A atleta chinesa XU Shiyan e Maria Suelen ALTHEMAN (BRA) deveriam se encontrar na repescagem, mas devido a uma lesão a brasileira não pôde competir e, portanto, XU foi direto para a disputa pela medalha de bronze. A segunda partida de repescagem viu HAN Mijin (KOR) e SAYIT Kayra (TUR) competirem para ter a chance de ganhar a medalha de bronze mais tarde. SAYIT não demorou muito para jogar sua oponente por waza­ari e, em seguida, por ippon. Maria Suelen Altheman ficou em sé­ timo lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Depois de estrear com vitória nas oitavas­de­final, caiu nas quartas. Sue­ len sentiu o joelho ao tentar defender um golpe da Francesa Romane Dicko. Com muitas dores, a brasileira não conseguiu seguir na luta e foi removida


de maca do tatame após receber aten­ dimento do médico da seleção, Dr Gui­ lherme Garofo. Ainda no ginásio, Suelen foi avaliada e encaminhada pa­ ra a Policlínica da Vila Olímpica, onde os exames de imagem confirmaram uma lesão do ligamento patelar do joe­ lho esquerdo. Com isso, a brasileira não disputou a competição por equipes mistas, que aconteceu no dia seguinte. “A lesão aconteceu antes da queda. Houve uma disputa de força entre as duas. Esse tipo de lesão acontece com o movimento excêntrico, onde o atleta faz a força para esticar a perna enquanto ele está sofrendo uma outra força, no caso, da adversária, de dobrar o joelho. Não é uma lesão tão comum no judô. E não é a mesma que ela já teve, que foi de ligamento cruzado e de colateral. Essa é uma lesão diferente. Se for uma lesão cirúrgica é de quatro a seis meses de recuperação, muito parecido com lesão de ligamento cruzado. Ela estava, no momento, com bastante dor no joelho, incapaz de caminhar, então saiu na 82

maca. A gente medicou, fez gelo, ela estava com controle bom de dor, se sentindo já mais confortável, conseguiu dobrar o joelho até 90 graus e foi para a policlínica realizar os exames de imagens”, explicou o Dr. Garofo. Sem condições de luta, Suelen não se apresentou no tatame para a repescagem e, com isso, finalizou sua terceira participação olímpica em sétimo lugar A judoca Maria Suelen Altheman chegou ao Brasil em 02 de agosto, e foi operada em 04 de agosto, em São Paulo, pelo médico da seleção brasileira de judô, Dr. Guilherme Garofo. A cirurgia foi considerada um sucesso e a atleta recebeu alta na manhã da quinta­feira, 05. “A atleta foi submetida à reconstrução do ligamento patelar. O procedimento transcorreu sem intercorrências e a atleta teve alta hospitalar na manhã desta quinta­feira, 5, após realizar sua primeira sessão de fisioterapia”, explicou o Dr. Garofo.


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley, Pedro Lasuen e Grace Goulding Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1 KRPALEK Lukas (CZE) 2 TUSHISHVILI Guram (GEO) 3 RINER Teddy (FRA) 3 BASHAEV Tamerlan (ROC) 5 HARASAWA Hisayoshi (JPN) 5 KHAMMO Yakiv (UKR) 7 SILVA Rafael (BRA) 7 OLTIBOEV Bekmurod

+ 100kg: KRPALEK Dupla em Tóquio na Final da Categoria Mais Pesada Definitivamente, esse cenário não foi escrito com antecedência; aquele em que TUSHISHVILI parece assumir a liderança e KRPALEK é penalizado duas vezes. Mais um shido e a vitória seria para a Geórgia, mas é quando o esporte e o judô são incríveis. Em alguns segundos, KRPALEK acertou um waza­ari, que ele imediatamente seguiu no chão para derrubar seu oponente para ippon. Há cinco anos Lukas KRPALEK conquistou o título olímpico no Rio na categoria até 100kg. Hoje ele está novamente no topo do pódio, mas na divisão de pesos pesados. É sempre difícil ganhar uma medalha, mas ganhar duas medalhas de ouro em duas categorias diferentes é quase inacreditável, quase impossível. Nesse dia, Lukas KRPALEK tornou isso possível. 86

Lukas KRPALEK disse: "A parte mais difícil de hoje foi derrotar Harasawa. Ele me conhece bem e, como todos viram, a seleção japonesa se preparou muito bem para os Jogos. Fiquei muito aliviado por chegar à final. Tushushvili me derrotou duas vezes antes, tinha um plano e também era difícil, mas no final venci. Vou tentar fazer força para estar em Paris, mas agora só quero descansar." A primeira medalha de bronze foi conquistada, no final, por Teddy Riner. Não é a cor que ele escolheu, mas ganhar a quarta medalha em uma quarta Olimpíada é realmente impressionante. Durante a partida, HARASAWA parecia totalmente incapaz de impedir RINER de avançar e foi penalizado três vezes. A partir de agora, se Teddy Riner quiser bater o recorde de Nomura, terá que estar presente em Paris daqui a três anos.


A segunda medalha de bronze entre Yakiv KHAMMO (UKR) e Tamerlan BASHAEV (ROC), fechando um belo dia para o número um do mundo, apesar da derrota na semifinal. Teddy RINER disse: "É a medalha da coragem. Voltei de muito longe e não foi fácil. Meu treinador me motivou depois das quartas­de­final. Ele disse: divirta­se e pegue o bronze. Ok, não é o ouro, mas é ainda uma medalha olímpica. No final, estou um pouco frustrado, mas ainda feliz. Esses 5 anos foram tão difíceis, então não vou reclamar." Tamerlan BASHAEV disse, "Antes de enfrentar Teddy eu pensei 'ele é apenas um homem feito de ossos e carne.' O plano era ir para o golden score e esperar que ele se cansasse. Aí seu kumi ­kata ficaria menos forte e eu poderia encontrar uma oportunidade. Foi exatamente o que aconteceu. Aí eu perdi, o que foi frustrante, mas disse a mim mesmo que vou conseguir, por suposto, a medalha de bronze. " Digamos imediatamente que as semifinais não foram o que o público esperava. No mínimo, faltava um grande nome, o de Teddy RINER (FRA), que havia anunciado que estava em Tóquio para uma coisa, conquistar seu terceiro título olímpico e, portanto, alcançar e ultrapassar, pela inclusão de seu extenso catálogo de títulos mundiais, o grande Nomura, que finalmente poderá descansar, pelo menos por mais alguns anos, com seu histórico intocado. No entanto, as coisas começaram bem para o gigante francês, que por sua vez eliminou o austríaco Stephan HEGYI e depois o israelense Ou SASSON, que apareceu em grande forma, mesmo que os especialistas possam ter visto algumas pequenas hesitações e desequilíbrios surgindo em seus movimentos, o que seria prejudicial mais tarde. Na próxima rodada, RINER se 87

opôs ao representante da ROC, Tamerlan BASHAEV. O francês rapidamente mediu o adversário, bem menor que ele, e impôs sua guarda forte, levando BASHAEV a ser penalizado duas vezes, enquanto ele próprio foi penalizado apenas uma vez. Tudo, portanto, parecia bem encaminhado para RINER voltar à semifinal, mas seu treinador gritou com ele da beira do tatame, para ditar o ritmo para que o terceiro pênalti caísse rapidamente, o que o francês não parecia estar totalmente ciente de. Quando o período de pontuação de ouro começou, houve um ataque de ombro de BASHAEV, seguido por uma mudança imediata de direção e Riner se viu jogado de costas, por um waza­ ari que imediatamente encerrou seu sonho de terceiro título, pelo menos aqui em Tóquio. Chegará a hora de analisar essa derrota, mas por enquanto o que nos interessa são as semifinais, sabendo que após duas Olimpíadas de domínio total de Riner, teríamos um novo campeão olímpico esta noite. Tendo ultrapassado Riner, foi assim Tamerlan BASHAEV (ROC) que enfrentou o campeão mundial de 2018 Guram TUSHISHVILI (GEO), por uma vaga na final da primeira metade do sorteio. BASHAEV começou a semifinal deixando TUSHISHVILI controlá­lo totalmente. Do público ouvimos 'shido white' para o atleta da ROC, mas de repente, com um dos ataques do georgiano, BASHAEV contra­atacou para assumir a liderança. A um minuto do fim, TUSHISHVILI começou a realmente empurrar e marcar um primeiro waza­ ari com um koshi­waza, antes de concluir em grande estilo com um poderoso contra­ataque. Isso é o que chamamos de judô e uma vaga na final do TUSHISHVILI. No final do sorteio, HARASAWA Hisayoshi (JPN) teve dificuldade em se livrar de Yakiv KHAMMO (UKR) para


enfrentar o campeão olímpico de ­100kg, Lukas KRPALEK (CZE). Para ambos os homens as apostas eram altas, já que a ausência de Riner abriu novas possibilidades: para HARASAWA e Japão conquistarem o título dos pesos pesados ​que os iludiu por tantos anos e para os tchecos a possibilidade de criar um novo conto de fadas vencendo em duas categorias diferentes. Eventualmente, foi KRPALEK que caiu no tatame de exaustão e felicidade após um período de golden score de ouro de quatro minutos, que ele venceu contra HARASAWA, que então competiu pela medalha de bronze. A primeira competição de repescagem foi uma revanche de várias finais ou semifinais de grandes eventos entre Teddy RINER e Rafael SILVA. RINER não deixou chance para SILVA, aplicando uma técnica de sumi­ gaeshi depois de pouco tempo, marcando waza­ari, que ele seguiu 88

com um juji­gatame para ippon. Esses dois homens se conhecem e se respeitam. Estava acabado para Silva, mas para RINER havia um bronze. A segunda competição da repescagem entre Yakiv KHAMMO (UKR) e Bekmurod OLTIBOEV (UZB) foi mais original. A vitória foi para Yakiv KHAMMO com um impressionante eri­ seoi­nage que impulsionou OLTIBOEV para o teto do Nippon Budokan. Foi executado com perfeição, faltando apenas uma aterrissagem limpa nas costas. A jogada foi então premiada com waza­ari, que KHAMMO manteve até o final, para pagar sua entrada no concurso de medalha de bronze. O peso pesado brasileiros Rafael Silva “Baby” ficou em sétimo lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Rafael Silva estreou com vitória por ippon sobre Ushangi Kokauri, do Azerbaijão, e pegou Guram Tushishvili,


da Geórgia, nas quartas. Em luta amarrada, o adversário conseguiu impor mais ataques e, mesmo que sem efetividade, forçou três punições ao brasileiro. "Competição difícil. Eu sabia pelo quadrante que eu teria dificuldade com o georgiano, um histórico complicado contra ele. Senti bastante a questão de volume de pegada, ele se desvencilhando o tempo todo e eu não tive a oportunidade de botar muitos golpes”, detalhou Baby. Para buscar sua terceira medalha olímpica, Rafael Silva precisaria passar pelo bicampeão olímpico Teddy Riner, da França, na repescagem. A lenda do judô, decacampeão mundial, foi derrotado nas quartas­de­final pelo russo Tamerlan Bashaev, por um waza­ari. Baby tentou impor sua estratégia na luta, mas Riner conseguiu projetar o brasileiro e finalizou o combate com 89

uma chave de braço, avançando à disputa pelo bronze. Rafael encerrou, assim, sua terceira participação olímpica com um sétimo lugar. Ele já tinha dois bronzes dos Jogos de Londres 2012 e do Rio 2016. “A gente traçou com a Yuko (Fujii) e o Jun (Shinohara) de ir com a pegada cruzada. O Riner tem uma (pegada na) manga muito forte. Então, era evitar dele pegar na manga e, infelizmente, quando ele conseguiu pegar, fez o golpe, o mesmo que tinha usado em outras lutas, e era uma situação difícil de reverter”, lamentou o judoca brasileiro. “Dei meu máximo durante todo esse ciclo olímpico, uma vida toda dedicada ao judô, uma carreira construída no esporte, feliz por estar aqui. Mas não tem muito tempo para ficar remoendo o individual. Preciso me recuperar para dar o meu melhor na competição por equipe amanhã.”


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Por: Nicolas Messner, Jo Crowley, Pedro Lasuen e Grace Goulding Federação Internacional de Judô e Assessoria de Imprensa da CBJ Fotos: Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio

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RESULTADOS FINAIS: 1º França, 2º Japão, 3º Alemanha, 3º Israel 5º ROC, 5º

Holanda, 7º Brasil e 7º Mongólia.

Mais uma vez tudo foi escrito com antecedência, tudo menos a incrível, mas verdadeira história que a seleção francesa de judô acaba de escrever no último dia do torneio de judô dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. No papel, o Japão, em casa, tinha todas as cartas em mãos para encerrar seus Jogos em apoteose. Nada menos do que 9 cam­ peões olímpicos foram alistados na equipe e, no entanto, foi a França que ganhou o cobiçado troféu como a pri­ meira nação na história a ganhar o ou­ ro por equipe. Há 57 anos, os Jogos de Tóquio terminaram com a vitória de um gigan­ te holandês, Anton Geesink, que per­ mitiu que o judô entrasse plenamente na história do mundo. Hoje a história continua. Os Jogos de Tóquio 2020 fo­ ram dominados pelo Japão, isso é um fato inegável. 9 campeões olímpicos é inédito. 24 países no pódio da competi­ 92

ção individual. Porém, neste último dia, é a seleção francesa que subiu ao topo do pódio e pode fazer o hino nacional ressoar no estádio. Este título por equipes encerra uma magnífica semana de judô, com cam­ peões e medalhistas incríveis. No final do dia, vimos sorrisos iluminando ros­ tos. Não havia mais cansaço, não ha­ via mais estresse, apenas a alegria de ter comemorado a vitória no tatame e a vitória do judô nas dificuldades dos últi­ mos meses. Nosso esporte se recupe­ rou e se organizou para oferecer um show de altíssima qualidade. Parabéns a todos os atletas e organizadores. Sem você, tudo isso não teria sido pos­ sível. Domo arigatou gozaimasu! Não podemos deixar de dizer que o judô é um esporte individual praticado em equipe. Com isso queremos dizer que é impossível se tornar um grande judoca, mesmo um grande campeão,


se você não tiver a oportunidade de se desenvolver com uma equipe de par­ ceiros de treino e treinadores. A dimen­ são individual no judô existe, mas só existe por meio do grupo com o qual um atleta se identifica e ao qual perten­ ce. Portanto, não é surpreendente que as competições por equipes sempre te­ nham um sabor especial. A Federação Internacional de Judô queria e o mundo do judô sonhava com esse torneio Olímpico de Seleção Mis­ ta de Judô, que pela primeira vez fez sua entrada oficial nos Jogos Olímpi­ cos aqui em Tóquio e ninguém ficou desiludido porque desde as primeiras rodadas, o show foi lá e várias partidas poderiam ter sido o cartaz de uma final olímpica individual. O que vimos de tão incrível desde a manhã que tivemos arrepios? Para quem teve a sorte de estar presente no Nippon Budokan ou em frente à TV, a lista não pode ser exaustiva, pois fo­ ram tantos os destaques. Podemos ci­ tar alguns? Equipe França ­ 1ª • Desde o início, descobrimos a equipe de refugiados (EOR) que não se esqui­ vou da Alemanha e que exibiu com or­ gulho a bandeira da unidade e da ajuda mútua. • Na ronda seguinte, a mesma equipa alemã defrontou­se com a equipa dos sonhos japonesa, na qual apenas Mu­ kai Shoichiro não era campeão olímpi­ co. Ainda assim, após as duas primeiras lutas, a Alemanha vencia por 2 a 0, após as derrotas de Abe Uta e Ono Shohei. Aquele que parecia inven­ cível alguns dias atrás foi repentina­ mente derrubado por Igor Wandkte. Então o Japão voltou e venceu por 4 a 2, mas foi mais perto do que qualquer um poderia esperar. Todos os medalhistas • Saeid Mollaei alinhou­se com a equi­ pa da Mongólia. Contra a Alemanha, ele enfrentou a oposição de Eduard Trippel, medalhista de prata como ele, mas na categoria superior. Contra a 93

equipe ROC, ele enfrentou Mikhail Igol­ nikov, novamente lutando em uma ca­ tegoria acima da sua. Em ambos os casos, ele venceu com brio. • Israel lutou calorosamente contra a Itália e depois contra a França, com o resultado final a ser decidido através de um empate e um sorteio de ouro ex­ tra sorteado aleatoriamente. Margaux Pinot perdeu inicialmente para Gili Sharir, mas durante a revanche a fran­ cesa marcou um ippon libertador. Equipe Japão ­ 2ª • A Holanda começou mal com a nova derrota de Henk Grol para o Bekmurod Oltiboev (UZB), mas com as equipas empatadas, o empate para o marcador de ouro foi na mesma categoria de pe­ sos pesados. Desta vez, Grol ofereceu a vitória ao seu time. Na rodada se­ guinte foi mais uma vez quem deu a vi­ tória da Holanda sobre o Brasil ao derrotar Rafael Silva. • Depois de uma primeira luta perdida para surpresa de todos, Ono Shohei fi­ nalmente se redimiu executando um movimento perfeito contra o represen­ tante da ROC, Musa Mogushov. Teddy Riner jogando Aaron Wolf na final Então, aqui estão algumas das his­ tórias que um único dia de competição nos permitiu desfrutar. Ao longo da sessão da manhã, o nível de ruído au­ mentou um pouco e como o bloco final estava prestes a começar, podíamos esperar, apesar da ausência de públi­ co, um clima animado. Japão vs França ­70kg Chizuru ARAI vs Clarisse AGBEGNENOU ­90kg Shoichiro MU­ KAI vs Axel CLERGET + 70kg Akira SONE vs Romane DICKO + 90kg Aa­ ron WOLF vs Teddy RINER ­57kg Tsu­ kasa YOSHIDA vs Sarah Leonie CYSIQUE ­73kg Shoichhei ONO vs Guillaume CHIQUE ­73kg A final começou voando, um pri­ meiro ko­uchi­gari de esquerda para waza­ari marcado por Clarisse AG­


BEGNENOU, seguido por um contra­ ataque dos franceses para um segun­ do waza­ari. 1­0 para a França. Claris­ se é definitivamente a chefe. A segunda luta foi apenas sobre força e kumi­kata fortes entre Shoichiro MUKAI e Axel CLERGET. Os france­ ses fizeram uma partida tática perfeita para marcar um ippon importante no período do placar de ouro. 2­0 para a França. A terceira partida era a que se es­ perava no último dia de competição en­ tre Akira SONE e Romane DICKO, mas como a francesa foi derrotada pe­ lo Idalys ORTIZ, isso não aconteceu até hoje. Durante a primeira metade da competição, DICKO não se impressio­ nou com a campeã olímpica e impôs sua força. SONE foi bloqueado, sem uma resposta, mas ela encontrou o seu caminho para marcar um primeiro wa­ za­ari com seu o­uchi­gari, seguido na sequência seguinte com uma imobiliza­ ção para levá­lo para ippon e 2­1 para a França. Foi a vez de Teddy Riner pisar no tatame, contra o campeão olímpico de ­100kg Aaron WOLF. Se no início Ri­ ner parecia ser capaz de controlar a lu­ ta e forçar Lobo a ser penalizado duas vezes, lenta mas seguramente o judo­ 94

ca japonês estava ficando mais confi­ ante e foi capaz de perturbar o francês, mas no período do placar de ouro, Teddy Riner finalmente conseguiu um waza ­ari pelo terceiro ponto para a França. A próxima disputa poderá ser deci­ siva entre Tsukasa YOSHIDA e Sarah Leonie CYSIQUE, ambas medalhistas na prova individual. Imediatamente CY­ SIQUE apareceu mais nisso do que YOSHIDA e acertou um waza­ari. Ela seria capaz de suportar a pressão? A resposta foi sim, ela fez e eles fizeram! Isso foi absolutamente extraordinário. O Japão estava destinado a vencer, segundo todas as previsões. Como perderam a final, em casa com tantos campeões olímpicos alinhados? A França provou que um evento coletivo tem a ver com o espírito de equipe, a coesão e o fato de os indivíduos se co­ locarem a serviço do resultado coletivo. A França fez em 2021 o que Anton Ge­ esink fez em 1964 e desviou a balança das expectativas para o incrível. Para sempre, a França será a pri­ meira campeã olímpica por equipes mistas. Haverá outros no futuro, mas por enquanto eles são os campeões olímpicos, pois estavam cantando an­ tes da cerimônia de premiação. Claris­


se Agbegnenou é bicampeã olímpica em Tóquio e Teddy Riner é agora ofici­ almente três vezes campeão olímpico e tem tantos títulos olímpicos quanto Nomura Tadahiro. Todos os outros me­ dalhistas ou não medalhistas da com­ petição individual podem agora dizer que ganharam o ouro em Tóquio 2020. Clarisse Agbegnenou disse: " Esta manhã nos sentimos muito bem, está­ vamos relaxados, todos juntos, toca­ mos música. Foi legal e pensamos 'vamos buscar o ouro'. O bom desta competição é que se você falhar, o ti­ me irá te resgatar. Olha a Pinot, ela co­ meçou a perder e depois nos salvou. Quanto a mim, mesmo que eu esteja acostumada a treinar com gente ­70kg, isso é outra coisa. Tive que enfrentar o campeão olímpico Arai. Acho que es­ tou o auge da minha arte. Ganhei go­ los, foi simplesmente incrível. Vencemos o Japão no Japão, isso é o que chamamos de exceção francesa na França. " Margaux Pinot disse: " Aos 3­3, tive a sensação de que a minha categoria seria escolhida para a competição final e não fiquei feliz porque me senti mal e não fui capaz de jogar. Então, pela pri­ meira vez na competição, aumentei mi­ nha mão e pela primeira vez eu tentei uchi­mata. Eu me senti tão aliviado e também é como uma vingança pelo meu pobre torneio individual. Eu sou campeão olímpico. " Aaron Wolf disse: " O judoca fran­ cês foi hoje um pouco melhor do que nós. Com Teddy tentei atacar suas pernas e depois tentei mudar, mas não funcionou. Fiz o meu melhor, mas não consegui. " Kosei Inoue disse: "Tenho pena dos nossos adeptos e estou muito de­ siludido, mas a França tem uma gran­ de equipa e um super espírito de equipa. Dou os parabéns. Esta tam­ bém será uma boa experiência para nós, vamos aprender com isso." Concursos de medalha de bronze 95

Alemanha vs Holanda ­70kg Giovanna SCOCCIMARRO vs Sanne VAN DIJKE ­90kg Dominic RESSEL vs Noel VAN T END + 70kg Anna­Maria WAGNER vs Guusje STE­ ENHUIS + 90kg Karl­Richard FREY vs Henk GROL ­57kg Theresa STOLL vs Sanne VERHAGEN ­73kg SEIDL vs Sebastian Tornike TSJAKADOEA Com dois waza­ari e a vitória con­ tra Giovanna SCOCCIMARRO, Sanne VAN DIJKE trouxe o primeiro ponto pa­ ra a equipe Holanda. O campeão mun­ dial de 2019 Noel VAN T END já estava pisando no tapete para tentar ganhar um segundo ponto, mas depois de mais de 5 minutos no período de pontuação dourada e nada além de pê­ naltis no placar, Noel VAN T END foi penalizado pela terceira vez por passi­ vidade . 1­1. Anna­Maria WAGNER marcou o segundo ponto para a Alemanha, com um ura­nage lançado poucos segundos antes do final da partida. Os próximos no tatame foram Karl­Richard FREY e Henk GROL. O peso pesado holandês empatou com um contra­ataque. 2­2 Mais uma vez, o placar estava apertado entre Theresa STOLL e San­ ne VERHAGEN. O alemão marcou pri­ meiro, seguido pelos holandeses. Foi o STOLL quem finalmente marcou pela segunda vez, no período do placar de ouro, para oferecer o terceiro ponto à Alemanha. A próxima rodada pode ser decisiva ou não e realmente foi. Com a vitória de Sebastian SEIDL, a Alema­ nha marcou o quarto ponto que lhe deu a medalha de bronze. Time alemanha Anna­Maria Wagner disse: " Esta manhã decidimos esperar e não me alinhar para as primeiras rodadas. Fun­ cionou, então o concurso de medalha de bronze foi para mim como uma final e me senti revigorada. Meu braço dói, mas valeu a pena . Esta é uma equipe incrível. Nós nos apoiamos muito e a competição foi tão boa, estou orgulho­


so da equipe e da medalha ” . Israel vs ROC ­70kg Gili SHARIR vs Madina TAI­ MAZOVA ­90kg Sagi MUKI vs Mikhail IGOLNIKOV + 70kg Raz HERSHKO vs Aleksandra BABINTSEVA + 90kg Peter PALTCHIK vs Tamerlan BASHAEV ­57kg Timna NELSON LEVY vs Daria MOZBULETSKA73 Com um waza­ari registrado no score de ouro, Madina TAIMAZOVA deu o primeiro ponto à delegação ROC. Era hora do campeão mundial de 2019, Sagi Muki, entrar no tatame con­ tra Mikhail IGOLNIKOV em um esforço para igualar a linha de pontuação. O início da luta foi bastante difícil para Sagi Muki, que não encontrou solução contra os desafiadores kumi­kata de IGOLNIKOV. O israelense foi penaliza­ do duas vezes quando seu oponente ti­ nha apenas um shido em seu nome, mas com alguns segundos restantes encontramos novamente o campeão incrível que Sagi é e ele marcou um ip­ pon magnífico por 1­1. Os próximos no tatame foram Raz HERSHKO e Aleksandra BABINTSE­ VA. Não demorou muito para que HERSHKO conseguisse dois waza­ari e desse a liderança para Israel. 2­1. Com Peter PALTCHIK e Tamerlan 96

BASHAEV em seguida inferindo os ho­ lofotes, parecia que o ponto poderia fa­ cilmente ir para o ROC, mas PALTCHIK é um judoca poderoso, que não tem problemas em se envolver com qualquer oponente. A partida toda foi meio que um jogo de gato e rato, mas no final foi PALTCHIK quem mar­ cou um waza­ari no placar de ouro. 3­1 para Israel. Time israel A partida entre Timna NELSON LEVY e Daria MEZHETSKAIA come­ çou mal para Israel quando MEZHETS­ KAIA marcou um primeiro waza­ari, mas Timna NELSON LEVY estava em chamas o dia todo e mesmo sendo uma waza­ari atrás, ela continuou se esforçando para marcar dois waza­ari e que sua alegria e a do time de Israel explodam. Israel perdeu várias oportu­ nidades de chegar ao pódio durante a competição individual, mas hoje como uma equipe e como um grupo, que é exatamente o que os eventos de equi­ pe tratam, havia uma medalha de bron­ ze para Israel. Sagi Muki disse: “ Depois do tor­ neio individual, toda a mídia em Israel estava sobre nós porque não ganha­ mos uma medalha. Hoje estávamos tão unidos, tão convencidos de que po­


deríamos fazer isso e lutamos como leões porque acreditamos em nossas chances. " Brasil, 7º colocado O judô brasileiro ficou em sétimo lugar na inédita disputa por equipes mistas nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Na madrugada deste sábado, o time brasileiro encarou Holanda, nas quartas­de­final, e Israel, na repesca­ gem, e não conseguiu superar os ad­ versários. "A gente tem potencial, poderia chegar no lugar mais alto do pódio. Se­ ria um feito histórico na primeira vez da competição por equipes e estávamos com muita vontade. Mas eu sei que ca­ da um deu tudo de si", comentou May­ ra Aguiar, que venceu por ippon suas duas lutas ainda que fora de sua cate­ goria. "Estava com receio de lutar na categoria de cima, mas quando boto o quimono, o espírito competitivo fala mais alto. Consegui lutar bem, fui até o final. Mesmo dois shidôs atrás, fui pra cima e consegui o ippon. Na segunda o objetivo era ganhar de shidô, mas vi que tava boa a pegada e consegui jo­ gar de ippon." Para a prova por equipes, foram inscritos Larissa Pimenta (57kg), Ke­ tleyn Quadros (70kg), Maria Portela (70kg) e Mayra Aguiar (+70kg), no fe­ minino, Daniel Cargnin (73kg), Eduardo Katsuhiro (73kg), Eduardo Yudy (90kg), Rafael Macedo (90kg), Rafael Buzacarini (+90kg) e Rafael Silva (+90kg), entre os homens. Lesionada, Maria Suelen Altheman (+70kg) não te­ ve condições de lutar e foi substituída por Mayra, medalhista de bronze no meio­pesado nas disputas individuais. Além dela, sem representante no 57kg, o Brasil teve que improvisar com a meio­leve Larissa Pimenta, que lutou uma categoria acima da sua. Neste tipo de prova, cada equipe é for­ mada por até 6 atletas (o mínimo são 4), três homens (73kg, 90kg e +90kg) e três mulheres (57kg, 70kg e +70kg). Ganha o confronto a equipe que con­ 97

seguir fazer quatro vitórias primeiro. Se houver empate em 3 a 3, é sorteada uma das 6 categorias e os atletas re­ tornam ao tatame para uma luta extra com ponto de ouro (golden score). Quartas­de­final ­ Brasil 2 x 4 Holan­ da No primeiro confronto do dia, o Brasil conseguiu duas vitórias com os medalhistas olímpicos Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, no duelo contra a Ho­ landa. Nas outras quatro lutas, porém, Larissa Pimenta (57kg), Maria Portela (70kg), Rafael Macedo (90kg) e Rafael Silva (+90kg) não conseguiram passar por Sanne Verhagen (57kg), Sanne Van Dijke (70kg), Noel Van T End (90kg) e Henk Grol (+90kg), respecti­ vamente. Com a derrota, o Brasil caiu para a repescagem, onde enfrentará Israel, que perdeu nas quartas para a França. Repescagem ­ Brasil 2 x 4 Israel Precisando de uma vitória para buscar o bronze, o time brasileiro fez três alterações em relação ao primeiro confronto e veio para a disputa contra Israel com Eduardo Katsuhiro (73kg), Eduardo Yudy Santos (90kg) e Rafael Buzacarini (+90kg). Nos pesos femini­ nos, o Brasil repetiu Pimenta, Portela e Mayra. As únicas duas vitórias da equi­ pe brasileira vieram com Maria Portela, que imobilizou Gili Sharir, e Mayra Aguiar, que projetou a pesado Raz Hershko por ippon. Larissa Pimenta ainda forçou duas punições contra Timna Nelson­Levy, mas não suportou a diferença de força física lutando com uma judoca da categoria acima da sua e cedeu ao ippon no final do combate. Katsuhiro caiu nas punições frente a Tohar Butbul; Buzacarini bateu na cha­ ve de braço aplicada por Peter Palt­ chick e Yudy caiu de ippon para Li Kochman. O Brasil tem uma prata e dois bron­ zes nos Mundiais por Equipes mistas e buscava sua primeira medalha olímpi­ ca neste tipo de competição.


Por: Jo Crowley ­ Federação Internacional de Judô

De atleta a Treinadora Olímpica e Coordenadora Técnica da CBJ, não importa a função, Rosi Campos está sempre em destaque, in­ cluindo o site da FIJ. Rosicleia Campos, coordenadora da CBJ, conversou com a correspondente da FIJ, Jo Crowley, contando as dificuldades enfrentadas pela equipe para os Jogos Olímpicos de Tóquio. E a matéria foi publicada no site da FIJ com o merecido destaque e ficou ótima. Tanto que nos motivou a homenageá­la com a capa desta edição e reproduzir a matéria que poderão ler a seguir. De atleta a Treinadora Olímpica e Coordenadora Técnica da CBJ, não importa a função, Rosi Campos está sempre visível, atuando pró­ativamente na seleção brasileira, garantindo a in­ clusão e liderando a torcida. A posição dela é de grande responsabilidade e o período que antecedeu os Jogos Olím­ picos está longe de ter sido tranquilo. “Tem sido muito difícil, não só para o Brasil, mas para todos. Para nós, vi­ vemos muito longe da Europa e depois da pandemia quando o IJF World Tour começou novamente, a Europa era muito cara para nós, então tínhamos dois problemas: a situação global e também as implicações financeiras. Tudo o que pagamos é cerca de 7 ve­ zes mais do que o normal, quando le­ vamos em consideração os protocolos 98

de saúde e as taxas de câmbio e muito mais. Tínhamos que ter um plano mui­ to robusto e uma forma realista de nos prepararmos, especialmente com parte da equipe ainda precisando de pontos de qualificação. Em Tbilisi, um membro da equipe estava com o Covid, então tivemos que nos isolar na Turquia e não pudemos participar do grand slam. Tínhamos fei­ to duas bolhas, para homens e para mulheres, mas as bolhas se romperam com o transporte, pegando aviões, sem escolha a não ser serem misturadas, então foi muito ruim. Os atletas esta­ vam muito cansados ​de ficarem isola­ dos e não poderem sair. Tínhamos que pagar por tudo isso na Turquia. Depois tivemos que ir direto para Guadelajara para o Campeonato Pan­Americano. No ano passado tivemos sorte com o apoio de Portugal e lá ficámos 2 me­ ses e meio. Durante o campo de trei­ namento, Mayra dr lesionou e precisou de cirurgia. Sua primeira competição de volta foi o Campeonato Mundial e isso estava muito perto para um atleta olímpico. " “Imediatamente antes do Mundial tivemos um treinamento de campo bra­ sileiro, em Pindamonhangaba em São Paulo. Foi realizado em um grande ho­


tel com um dojo, ficando em uma bolha com exames regulares e protocolos claros. Todas as necessidades fisioló­ gicas, de massagem e nutricionais são atendidas lá, além do treinamento físi­ co. Foram três treinamentos de campo lá como parte da preparação para o Mundial e as Olimpíadas. Incluímos muitos juniores da sele­ ção brasileira na preparação para os Jogos Olímpicos e funcionou de forma brilhante. Eles se tornaram muito próxi­ mos dos membros da equipe sênior, especialmente da equipe olímpica. Os juniores cresceram, técnica e tatica­ mente. Precisávamos dos parceiros de treino e por isso ficou perfeito. Todas as decisões são tomadas em conjunto com os atletas, não apenas a CBJ. Temos um grupo de WhatsApp que inclui todos os treinadores do clu­ be e temos uma reunião online uma vez por semana. Discutimos o que os atletas estão fazendo quando voltam para casa dos campos de treinamento. O Comitê Olímpico Brasileiro deci­ diu que era muito arriscado treinar to­ dos juntos um pouco antes do Mundial e dos Jogos por causa da Covid, mas com uma boa comunicação ainda pu­ demos dar continuidade ao trabalho 99

feito nos acampamentos, com os judocas trabalhando duro em seus clu­ bes. Toda semana conversamos com as Federações, a equipe e os treinadores dos clubes. Cuidamos de cada detalhe para construir confiança e responsabili­ dade em todo o Brasil. Tenho muito or­ gulho de trabalhar nesta equipe. Acho que está tudo certo para os atletas conseguirem o que precisam. Temos agora a mesma provisão para homens e mulheres também, o que é muito me­ lhor do que no passado. " Daniel Cargnin lutou com grande coração e um forte grupo de apoio nas arquibancadas e ganhou uma inespe­ rada medalha de bronze no dia 2 em Tóquio. Em seguida, Mayra Aguiar superou uma montanha de desafios para ga­ nhar um extraordinário 3º bronze olím­ pico em tantos ciclos. Ambas as medalhas podem ser atribuídas, é cla­ ro, ao trabalho árduo dos atletas e de seus treinadores, mas também ao in­ crível espírito de toda a seleção brasi­ leira. Às vezes, a palavra 'família' é usada em demasia, mas, neste caso, é exatamente a palavra certa.



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